Samuel Pessoa - Anatomia da Desaceleração Recente da Economia
O Instituto Brasileiro de Economia (IBRE), da Fundação Getulio Vargas (FGV), realizou, no dia 19 de setembro de 2014, o seminário internacional A América Latina e as Novas Condições Econômicas Mundiais.
O evento abordou a questão das perspectivas latinoamericanas diante das mudanças impostas, entre outros fatores, pela desaceleração da China e pela gradual normalização da política monetária dos EUA.
O encontro foi organizado em três painéis, que incluiram desde estudos de casos nacionais — Argentina, Brasil, Chile, Colômbia e México — a apresentações mais abrangentes da economia da região como um todo ou parte dela.
Confira as fotos do evento e mais informações no site do FGV/IBRE: http://bit.ly/YdyhyL
RAE-Revista de Administração de Empresas (Journal of Business Management), 20...
FGV / IBRE - Anatomia da Desaceleração Recente da Economia
1. América Latina
Anatomia da Desaceleração Recente da
Economia
Samuel Pessoa | 2014
A AMÉRICA LATINA
E AS NOVAS CONDIÇÕES
ECONÔMICAS MUNDIAIS
seminário
2. Superintendência Adjunta de Inflação
ANATOMIA DA DESACELERAÇÃO RECENTE DA ECONOMIA Nova matriz econômica ou contrato social?
Samuel Pessoa
A América Latina e o Novo Estágio da Economia Mundial
Ibre-FGV, Rio de Janeiro
19 de setembro de 2014
3. Superintendência Adjunta de Inflação
ROTEIRO
1.Exercício de decomposição e fatos estilizados
2.Duas agendas na formulação da política econômica nos últimos 20 anos:
1.Contrato social da redemocratização
1.Baixa poupança e baixa resposta da poupança a episódios de crescimento
2.Ensaio nacional desenvolvimentista
3.O mundo não explica o freio do brasil
4.Conclusão
4. Superintendência Adjunta de Inflação
EXERCÍCIOS DE DECOMPOSIÇÃO
•A aceleração do crescimento de FHC para Lula é um fenômeno de produtividade
•A desaceleração do crescimento no quadriênio de Dilma é 80% um fenômeno de produtividade
•Houve queda na produtividade do capital e forte desaceleração da taxa de crescimento da produtividade do trabalho
•Consideramos série de horas trabalhadas construída a partir do cruzamento da PME com as PNADs
5. Superintendência Adjunta de Inflação
EXERCÍCIOS DE DECOMPOSIÇÃO
PIB PTF Horas
Capital em
uso
1982-1994 2,5 -0,1 1,0 1,6
-4,9 41,5 63,4
1995-2002 2,3 0,2 1,0 1,0
10,2 45,1 44,7
2003-2010 3,9 1,6 1,0 1,4
39,9 25,3 34,8
2011-2013 1,9 0,0 0,3 1,6
0,6 16,3 83,1
D(Dilma-Lula) -2,0 -1,6 -0,7 0,2
78,2 34,0 -12,2
PIB – Produto Interno Bruto
PTF – Produtividade Total dos Fatores
6. Superintendência Adjunta de Inflação
EXERCÍCIOS DE DECOMPOSIÇÃO
PTFProdutividade do TrabalhoProdutividade do Capital1982-1994-0,10,3-0,5-2743741995-20020,20,20,09732003-20101,61,20,474262011-20130,00,8-0,76721-6621D(Dilma-Lula)-1,6-0,4-1,126,973,1
7. Superintendência Adjunta de Inflação
EXERCÍCIOS DE DECOMPOSIÇÃO
PIBProdutividade do TrabalhoPOJornada1982-19942,50,62,4-0,624,599,8-24,21995-20022,30,41,9-0,117,985,1-3,02003-20103,92,12,1-0,354,153,9-8,02011-20131,91,41,0-0,470,449,4-19,8D(Dilma-Lula)-2,0-0,8-1,2-0,138,258,33,5
8. Superintendência Adjunta de Inflação
EXERCÍCIOS DE DECOMPOSIÇÃO
HorasPOJornada1982-19941,92,4-0,6132-321995-20021,91,9-0,1104-42003-20101,82,1-0,3117-172011-20130,61,0-0,4167-67D(Dilma-Lula)-1,2-1,2-0,194,35,7
9. Superintendência Adjunta de Inflação
EXERCÍCIOS DE DECOMPOSIÇÃO
PIBProdutividade do CapitalCapitalUtilização1982-19942,5-1,03,00,5-40,8120,820,01995-20022,30,02,4-0,10,7105,8-6,52003-20103,90,92,30,822,657,519,92011-20131,9-1,63,8-0,2-84,8194,9-10,1D(Dilma-Lula)-2,0-2,51,5-1,0127-7649
10. Superintendência Adjunta de Inflação
EXERCÍCIOS DE DECOMPOSIÇÃO
Capital em usoCapitalUtilização1982-19943,53,00,586141995-20022,32,4-0,1107-72003-20103,12,30,874262011-20133,63,8-0,2105-5D(Dilma-Lula)0,51,5-1,0281-181
11. Superintendência Adjunta de Inflação
EXERCÍCIOS DE DECOMPOSIÇÃO
PO POP PIA/POP PEA/PIA PO/PEA
1982-1994 2,4 1,9 0,5 0,4 -0,3
78,4 19,9 15,3 -13,6
1995-2002 1,9 1,5 0,7 0,2 -0,4
77,2 36,6 8,3 -22,1
2003-2010 2,1 1,1 0,4 0,4 0,2
53,9 19,0 17,8 9,2
2011-2013 1,0 0,8 0,5 -1,2 0,9
84,9 49,8 -125,0 90,3
D(Dilma-Lula) -1,2 -0,3 0,1 -1,6 0,7
28,4 -6,3 135,5 -57,6
PO – População ocupada
POP – População Total
PIA – População em idade ativa
PEA – População economicamente ativa
12. Superintendência Adjunta de Inflação
DUAS AGENDAS NA FORMULAÇÃO DA POLÍTICA ECONÔMICA: Contrato social de redemocratização
•Toda e evidência da ciência política recente é que o sistema político brasileiro é funcional
•Trata-se de presidencialismo multipartidário com presidente muito forte:
–Veto total e parcial
–Decide a forma de processamento de PLs:
•Urgência e urgência urgentíssima
–Orçamento autorizativo
•A força do presidente faz com que ele consiga impor sua agenda ao congresso e, portanto, explica a funcionalidade do sistema
•Não decai em tirania pois há mecanismo de controle:
–Judiciário independente e imprensa livre
–Órgão de Estado independentes: Polícia Federal, ministério público, TCU e CGU
•Democracia funcional em uma sociedade muito desigual faz com que o eleitor mediano vote a favor da elevação da carga tributária
13. Superintendência Adjunta de Inflação
DUAS AGENDAS NA FORMULAÇÃO DA POLÍTICA ECONÔMICA: Contrato social de redemocratização
•O sistema político brasileiro é funcional
•Democracia em sociedades muito desiguais faz com que a escolha social seja pró redistribuição e aumento da carga tributária
–O eleitor mediano tem renda muito menor do que a renda média
–Ele vota por aumento das transferências
•O contrato social faz com que o crescimento econômico seja variável residual, a agenda da sociedade é equidade
15. Superintendência Adjunta de Inflação
TESTE EMPÍRICO: EFEITO DO CRESCIMENTO NA TAXA DE POUPANÇA Estudo do FMI, World Economic Outlook de Abril de 2014
•O estudo estimou a seguinte equação:
•푇푃푖푡=퐸퐹푖+휌푇푃푖,푡−1+훽푔푖푡+휖푖푡
•푇푃푖푡− é a taxa de poupança na i-ésima economia no t- ésimo instante
•퐸퐹푖− é a o efeito fixo da i-ésima economia
•푔푖푡− é a taxa de crescimento da i-ésima economia no t- ésimo instante
•휖푖푡− é a taxa de poupança na i-ésima economia no t-ésimo instante
DUAS AGENDAS NA FORMULAÇÃO DA POLÍTICA ECONÔMICA: Contrato social de redemocratização
16. Superintendência Adjunta de Inflação
TESTE EMPÍRICO: EFEITO DO CRESCIMENTO NA TAXA DE POUPANÇA
•O estudo encontrou do FMI 휌=0,76 e 훽=0,2 푎 0,3
•Refizemos o exercício de FMI para uma amostra bem maior, 188 países ante 45 do estudo do FMI, e o efeito do crescimento não parece ser robusto
•No entanto, quando no concentramos em uma amostra menor obtivemos resultados bem próximos
DUAS AGENDAS NA FORMULAÇÃO DA POLÍTICA ECONÔMICA: Contrato social de redemocratização
17. Superintendência Adjunta de Inflação
TESTE EMPÍRICO: EFEITO DO CRESCIMENTO NA TAXA DE
POUPANÇA
FE (within) regression with AR(1) disturbanNceusmber of obs = 1219
Group variable: pais Number of groups = 30
------------------------------------------------------------------------------
Poupança Coef. Std. Err. t P>|t| [95% Conf. Interval]
-------------+----------------------------------------------------------------
Poupança(-1) 0,82 0,02 47,94 0,00 0,78 0,85
Crescimento 0,21 0,02 11,88 0,00 0,18 0,25
Constante 3,54 0,29 12,22 0,00 2,97 4,11
-------------+----------------------------------------------------------------
DUAS AGENDAS NA FORMULAÇÃO DA POLÍTICA ECONÔMICA:
Contrato social de redemocratização
18. Superintendência Adjunta de Inflação
TESTE EMPÍRICO: EFEITO DO CRESCIMENTO NA TAXA DE POUPANÇA
•O estudo não explora o impacto de diferenças do efeito fixo sobre a taxa de poupança no longo prazo:
•푇푃푖푡=퐸퐹푖+휌푇푃푖,푡−1+훽푔푖푡+휖푖푡
•Logo, longo prazo:
•푇푃푖= 퐸퐹푖+훽푔푖 1−휌
DUAS AGENDAS NA FORMULAÇÃO DA POLÍTICA ECONÔMICA: Contrato social de redemocratização
19. Superintendência Adjunta de Inflação
TESTE EMPÍRICO: EFEITO DO CRESCIMENTO NA TAXA DE POUPANÇA
Efeito fixo da regressão de painel para os diversos países: diferença estática entre Brasil e China de 2,57 p.p. do PIB, o que pode significar diferença no longo prazo de 8 a 14 p.p. do PIB
20. Superintendência Adjunta de Inflação
TESTE EMPÍRICO: EFEITO DO CRESCIMENTO NA TAXA DE POUPANÇA
•Além da poupança ser baixa o contrato social da redemocratização faz com que a resposta da poupança e episódios de crescimento não seja forte o suficiente o que limite a continuidade do episódio
•Exercício simples de simulação de qual seria a resposta da poupança que resulta de nossa estimativa para o período recente de crescimento
•Resultado: a poupança teria crescido um pouco mais do que cresceu e teria, em seguida com a desaceleração rencente da economia, reduzido menos do que reduziu-se
DUAS AGENDAS NA FORMULAÇÃO DA POLÍTICA ECONÔMICA: Contrato social de redemocratização
21. Superintendência Adjunta de Inflação
TESTE EMPÍRICO: EFEITO DO CRESCIMENTO NA TAXA DE POUPANÇA
DUAS AGENDAS NA FORMULAÇÃO DA POLÍTICA ECONÔMICA: Contrato social de redemocratização
22. Superintendência Adjunta de Inflação
DUAS AGENDAS NA FORMULAÇÃO DA POLÍTICA ECONÔMICA: Ensaio Nacional Desenvolvimentista
•Em 2009, como resposta à crise econômica adotou-se nova agenda na formulação da política econômica
•O ensaio nacional desenvolvimentista consiste em colocar o Estado no centro da direção da natureza do processo de desenvolvimento econômico
–Elevado intervencionismo direto do Estado sobre o espaço econômico
–Note que este intervencionismo não necessariamente significa elevada carga tributária
–Elevada carga tributária é inerente à construção de um Estado de Bem Estar Social
23. Superintendência Adjunta de Inflação
DUAS AGENDAS NA FORMULAÇÃO DA POLÍTICA ECONÔMICA: Ensaio Nacional Desenvolvimentista – Medidas
1.Alteração no regime de câmbio flutuante para fortemente administrado. Por algum tempo vigorou e vigora regime de câmbio fixo
2.Maior tolerância com a inflação
3.Adoção recorrente de artifícios para atingir a meta de superávit primário, reduzindo a transparência da política fiscal, além de fortíssima redução do superávit primário
4.Controle de preços para tentar conter a inflação. Isto é visível, por exemplo, nos combustíveis e na política de desoneração tributária, além das tarifas de eletricidade e de transporte coletivo público
5.Adotar teorias heterodoxas com relação ao processo de formação dos juros reais na economia (equilíbrio múltiplo e/ou que o impacto do juro sobre a atividade depende da variação deste e não do nível) e, em função deste entendimento, baixar “na marra” a taxa básica de juros
6.Expansão do papel do BNDES na intermediação do investimento, com forte discricionariedade em relação aos favorecidos
7.Tendência a fechar a economia ao comércio internacional
8.Direcionamento da política de desoneração tributária a alguns setores ou bens, em vez de estendê-la de forma equitativa a todos os setores produtivos
24. Superintendência Adjunta de Inflação
DUAS AGENDAS NA FORMULAÇÃO DA POLÍTICA ECONÔMICA: Ensaio Nacional Desenvolvimentista – Medidas
9.Aumento do papel do Estado e da Petrobras no setor de petróleo;
10.Intervenção desastrada no setor elétrico para baixar as tarifas e antecipar a renovação das concessões
11.Uso dos bancos públicos de forma muito arriscada com vistas a baixar “na marra” o spread bancário
12.Dificuldade ideológica em relação ao emprego do setor privado na oferta de serviços de utilidade pública e infraestrutura em geral
13.Adoção indiscriminada da política de conteúdo nacional e de estímulo à produção local sem a preocupação com o custo de oportunidade dos recursos sociais. Em certa medida, trata-se de reedição da lei ‘do similar nacional’, que tem como um dos resultados mais visíveis a criação de forte capacidade ociosa na indústria automobilística
•Minha interpretação é que a queda do crescimento da produtividade é fruto dos impactos negativos do ensaio nacional desenvolvimentista sobre o desempenho da economia
•Ou seja, da mesma forma que a aceleração sob Lula é fruto da maturação das reformas institucionais do governo FHC e do primeiro mandato do governo Lula a queda recente é fruto da alteração do regime de política econômica que houve a partir de 2009
25. Superintendência Adjunta de Inflação
O MUNDO NÃO EXPLICA O FREIO DO BRASIL
•Há intenso debate público sobre a natureza da desaceleração da economia brasileira
•Os analistas que avaliam serem corretas as medidas associada ao ensaio nacional desenvolvimentista alegam que a desaceleração econômica resulta da redução do crescimento mundial
•Dois argumentos, penso eu, tornam difícil esta avaliação:
–A economia brasileira é das economias mais fechadas que há
–Os termos de troca ainda estão em nível muito elevado do ponto de vista histórico
26. Superintendência Adjunta de Inflação
O MUNDO NÃO EXPLICA O FREIO DO BRASIL A desaceleração da economia mundial e latino-americana foi muito menor
DIFDIF-DIF1982-19941995-20022003-20102011-2014D(Dilma-Lula) %%%%pontospontosEconomia mundial3343-54América Latina3243-66Argentina2-185-262-196XBolívia2346143209 Brasil2242-201-135 Chile654573139 Colômbia425546112 Costa Rica5454-579 República Dominicana 3664-152-86 Equador3246158224 El Salvador3322673 Guatemala24341783 Haiti-2304394460 Honduras3343-93-27 Jamaica3010-759 México222368134 Nicarágua-1435163229 Panamá24810229295 Paraguai314577143 Peru0366-4026 Trinidad e Tobago-2760-548-482XUruguai3055-4422 Venezuela1054-112-46 DIF c/ mundo (pontos)-91-1119-137DIF c/ AL (pontos)-512-9-144*X se a perda de desempenho relativamente à média da América Latina foi maior do que a brasileira. Taxas médias de crescimento para o períodoTamanho relativo da desaceleração*
27. Superintendência Adjunta de Inflação
O MUNDO NÃO EXPLICA O FREIO DO BRASIL Economia muito fechada
(X+M)/Y(X+M)/Y com controlesRanking Abertura país i- Ranking PIB país i ** ArgentinaARG0.41-0.41-14BolíviaBOL0.830.0219BrasilBRA0.25-0.52-14ChileCHL0.72-0.121ColômbiaCOL0.39-0.36-20Costa RicaCRI0.79-0.4116República Dominicana DOM0.60-0.583EquadorECU0.66-0.230El SalvadorSLV0.75-0.637GuatemalaGTM0.65-0.314HaitiHTI0.69-0.3821HondurasHND1.160.2424JamaicaJAM0.85-- MéxicoMEX0.640.02-3NicaráguaNIC0.980.1023PanamáPAN1.410.2823ParaguaiPRY0.970.1423PeruPER0.53-0.27-8Trinidade e TobagoTTO0.92-- UruguaiURY0.55-0.444VenezuelaVEN0.50-0.30-8
29. Superintendência Adjunta de Inflação
CONCLUSÃO
•Muito provavelmente a desaceleração recente da economia brasileira, 80% fenômeno de produtividade, já resulta dos impactos deletérios da ‘nova matriz econômica’ sobre a eficiência da economia
•A adoção da ‘nova matriz econômica’ é fruto de ideologia e não da economia política
•Se for revertida no próximo governo é possível colocar a economia crescendo a 3% ao ano
•Para acelerar ainda mais o crescimento será preciso rever o contrato social de redemocratização de forma a ser possível aumentar a poupança doméstica
•Trata-se de agenda para o futuro