1. A suástica em São Paulo antes dos nazistas
Por Douglas Nascimento — 23/01/2014
Em 18 de abril de 1920 os principais jornais paulistanos, e
possivelmente muitos outros espalhados pelo Brasil, publicaram
esta misteriosa propaganda, com uma suástica estampada:
Se fosse publicado nos dias de hoje, este anúncio causaria repulso e
indignação, mas na época causou muita curiosidade. Afinal, o que
representava aquele emblema?
Alguns dias depois, em 22 de abril, outro anúncio seria publicado,
explicando o que tal desenho representava ao redor do mundo. O
texto, bastante curioso, dava explicações da origem histórica do
símbolo, mas nada ainda de dar detalhes ainda do que viria a ser a
razão daqueles anúncios.
2. E o mistério continuou mais alguns dias (será que alguém
comprava o jornal diariamente só para saber o desfecho
desta campanha publicitária?) até que no dia 27 de abril foi
revelado aos leitores do que se tratava aquele emblema.
3. Não se tratava de crença religiosa ou algo do gênero,
mas sim a marca (ou emblema como dizia no
anúncio) da empresa Anglo-Mexican Petroleum
Company ou, como conhecemos hoje, a Shell.
A empresa estava no Brasil desde 1913, mas foi na
década de 20 que ela realmente se expandiu por aqui,
instalando bombas de gasolina de rua e em garagens
de São Paulo e no restante do país. A publicidade
com a suástica era para fazer os produtos da
empresa ainda mais conhecidos por aqui.
4. O símbolo não se restringia a publicidade.
Estavam também presentes nos papéis timbrados
da empresa, nas embalagens e também em seu
maquinário, como as bombas de gasolina. Na
imagem abaixo, junto a outras marcas, podemos
observar alguns dos produtos da Anglo-
Mexican que ostentavam a suástica.
E nas duas imagens a seguir, o símbolo presente em duas
bombas de combustíveis. A primeira, em uma Rua de
Fortaleza, no Ceará, é a bomba de rua, que hoje ficam
nos postos de abastecimento. A segunda, menor, é a
bomba que ficava em garagens particulares espalhadas por
São Paulo e pelo Brasil.
5. Bomba antiga à venda em antiquário (clique na foto para ampliar)
O leitor pode estar se perguntando: A Anglo-Mexican era simpatizante
do nazismo? A resposta é não!
Em 1920 o símbolo ainda não era ligado ao regime nazista. Naquele
momento a suástica não tinha recebido a associação a algo tão terrível
e negativo para a humanidade e era até simpático adota-lo como um
emblema. Porém alguns anos mais tarde, com a crise da Alemanha pós
Primeira Guerra Mundial, o nazismo começaria a crescer e o símbolo
adotado por Adolf Hitler era justamente a suástica, que já estava
disseminada também pela empresa. Embora idêntica, a suástica
nazista tinha a orientação diferente desta, apontando para lado oposto.
Mesmo com os nazistas utilizando largamente a suástica desde a
segunda metade dos anos 20, a Anglo-Mexican manteve-a
como emblema da empresa. O símbolo só seria descartado com a
ascensão no nazismo ao poder, na Alemanha, em 1933. Neste mesmo
ano, a empresa voltaria aos principais jornais do Brasil para anunciar a
adoção de um novo símbolo, hoje também mundialmente conhecido: a
concha.
7. Era o fim da linha para a suástica na empresa e apenas o
início como símbolo marcante do nazismo e dos horrores
que viriam com a Segunda Guerra Mundial. O emblema
antigo é tão tabu que não há qualquer menção a ele no site
da empresa. Porém, acredito que a história foi feita para
ser contada e não escondida.
Fica a pergunta: Se não tivessem os nazistas adotado a
suástica, será que o símbolo estaria sendo utilizado até
hoje pela empresa? Comente.