O documento propõe uma reinvenção da escola com uma nova visão pedagógica centrada no desenvolvimento de competências através de projetos de aprendizagem. A escola organizaria o currículo em termos de competências básicas e especializadas e utilizaria problemas e projetos para desenvolvê-las de forma ativa. Professores atuariam como mentores e facilitadores e a tecnologia seria usada como ferramenta de aprendizagem e gestão.
1. Uma Nova Escola
para uma Nova Época
Eduardo Chaves
Presidente, Instituto Lumiar
Consultor, Microsoft Educação
Março de 2008
2. A Necessidade de uma Nova Escola
• O processo de mudanças nos últimos 60 anos (+/-)
• Dois tipos de mudanças
• Umas acontecem dentro de um paradigma e, portanto,
são pequenas, lentas, graduais, superficiais, incrementais
• Outras subvertem paradigmas e, portanto, são maiores,
rápidas, súbitas, profundas, sistêmicas
3. Menor, lenta,
gradual, superficial,
incremental
Maior, rápida,
súbita, profunda,
sistêmica
Dentro de um
paradigma:
próxima da
prática atual
Subverte o
paradigma:
distante da
prática atual
REFORMA
TRANSFORMAÇÃO
A Natureza da Mudança e a Linha da Inovação
Adaptado de David Hargreaves, Education Epidemic
–
–
+
+
4. Alternativa para a Educação Escolar
• Realizar mudanças dentro do atual paradigma da escola,
ficando próximos da prática atual, reformando aspectos
não-fundamentais da escola
• Mudar o paradigma, transformando, pela inovação, a
própria instituição escolar – reinventar a escola
5. A Reinvenção da Escola
• Para reinventar a escola, são necessárias:
• Uma nova visão pedagógica
• Um jeito de ver as coisas:
• Educação
• Aprendizado
• Escola
• Uma nova prática pedagógica (coerente com a visão)
• Um jeito de fazer as coisas:
• Currículo, metodologia, avaliação
• Novos papéis pedagógicos
• Uso da tecnologia
• Forma de gestão
6. Visão Pedagógica: Educação
• Processo de desenvolvimento humano
• Forma: busca transformar a incompetência, dependência
e irresponsabilidade originais na criança na competência,
autonomia e responsabilidade características do adulto
• Substância: busca levar a criança a definir um “projeto de
vida” e a se capacitar para transformá-lo em realidade,
pois o ser humano não é totalmente programado -- o que
ele se torna é, em parte, questão de escolha e capacidade
• Competência, autonomia e responsabilidade não surgem
naturalmente, como parte do processo de crescimento e
amadurecimento: precisam ser adquiridas (construídas)
• A aprendizagem é o mecanismo que a natureza escolheu
para desenvolvê-las
7. Visão Pedagógica: Aprendizagem
• Construção e expansão de capacidades
• Aprender é se tornar capaz de fazer o que antes não se
conseguia fazer (Peter Senge, A Quinta Disciplina)
• Assim, aprender é um processo ativo de construir e / ou
expandir capacidades (desenvolver competências), não
um processo passivo de assimilar e acumular informações
• O processo de aprendizagem envolve:
• Observar outras pessoas fazendo coisas
• Desejar fazer essas coisas
• Tentar fazer essas coisas
• Não conseguir e receber “feedback” e apoio
• Tentar novamente
• Alcançar sucesso – e, talvez, se tornar um “expert”
8. Visão Pedagógica: Escola
• Ambiente formal e dedicado de aprendizagem, criado a
partir da complexificação da vida em sociedade
• Apesar disso, ela deve integrar-se a outros ambientes de
aprendizagem – não formais e não dedicados – existentes
na sociedade: o lar, a comunidade, igrejas, bibliotecas,
clubes, esportes, artes, as várias mídias, etc.
• Assim a escola deixará de ser um gueto e passará a ser
parte da vida e da experiência dos alunos – através de sua
integração com esses outros ambientes mais amplos (e,
talvez, mais eficazes) de aprendizagem que já fazem parte
da vida e da experiência dos alunos
9. Prática Pedagógica: “Mosaico”
• Ferramenta para integrar currículo, metodologia e
avaliação
• Currículo (o que aprender):
• Base: Competências e habilidades, não matérias escolares
• Foco: Construção de capacidade, desenvolvimento de
competências e habilidades
• Metodologia (como aprender):
• Ativa, foco em solução de problemas, baseada em projetos
• Avaliação (como aferir a aprendizagem):
• Forma: Baseada na observação constante do aluno, não
em testes e exames
• Foco: Centrada no desenvolvimento de competências , não
na posse de informações
10. Currículo: Matriz de Competências
• Competência:
• Capacidade de nível muito alto de mobilizar habilidades,
informações (conhecimentos), valores, e atitudes para
que produzam desempenho de alto nível, e com certa
naturalidade, nas ações que exigidas dentro de uma área
específica de atuação
• Competências básicas e especializadas :
• Básicas: exigidas para o mister de viver, enquanto tal, num
dado contexto sócio-histórico
• Especializadas: requeridas para projetos de vida específicos
• Exemplo: leitura e escrita são competências básicas hoje –
na Idade Média eram competências especializadas
11. Currículo: Matriz de Competências
• No currículo da Educação Básica (K-12), a ênfase deve
recair sobre o desenvolvimento de competências básicas
• Entretanto, crianças têm interesses e talentos diferentes
que devem ser respeitados (liberdade de aprender)
• Assim, não precisam desenvolver todas as competências
básica, nem desenvolver as competências escolhidas no
mesmo nível de profundidade
• A escola, de comum acordo com os pais, deve ajudar os
alunos a escolher áreas de concentração
• “Liberdade de aprender”: escolha de onde concentrar os
esforços, respeitadas as “competências inegociáveis”
12. Currículo: Matriz de Competências
• Uma forma de organizar as competências básicas é usar
os “Quatro Pilares da Educação” da UNESCO como mega-
competências e empregar as inteligências múltiplas de
Gardner como conjuntos de competências
• As mega-competências seriam:
• Pessoais (aprender a ser)
• Interpessoais (aprender a conviver, a viver junto)
• Cognitivas (aprender a saber, aprender a adquirir novas
competências sem necessidade da escola)
• Ativas (aprender a fazer, a agir, a empreender)
13. Currículo: Matriz de Competências
• Em quase todos os níveis da Educação Básica todas
essas categorias estão envolvidas
• Exemplo: no primeiro ciclo da Educação Fundamental
(idades 6-8) temos:
• Uma “sub-matriz” composta de competências de todas
as quatro mega-competências
• E, debaixo delas, competências verbais, numéricas,
lógicas, espaciais, musicais, artísticas (outras artes),
esportivas, interpessoais…
14. Currículo: Matriz de Competências
• Diferença entre escola democrática e escola libertária
(ou “laissez-faire”)
• A escola democrática deve respeitar a liberdade de
aprender do aluno, mas não pode abrir mão de sua
responsabilidade, como escola, de definir quais são
as competências cuja aprendizagem é inegociável
15. Metodologia: Problemas e Projetos
• A raça humana evoluiu enfrentando e solucionando
problemas
• Alguns probremas foram intelectuais: sua solução veio
na forma de teorias…
• Foi assim que surgiram a filosofia e a ciência (“pura”)
• Outros problemas foram práticos: sua solução veio na
forma de métodos, procedimentos, notações ou
ferramentas, instrumentos, equipamentos, etc.
• Foi assim que a ciência aplicada e a tecnologia evoluíram:
mesmo nossas linguagens e instituições são tecnologia
• Um projeto é uma tentativa deliberada e sistemática de
solucionar um problema: teórico ou prático
16. Metodologia: Problemas e Projetos
• O maior problema que qualquer pessoa enfrenta é
como viver sua vida
• Infelizmente, as escolas tradicionais dão muito pouca
atenção a esse problema
• O resultado é que aquilo que os alunos fazem na escola
não tem virtualmente nenhuma relevância para o seu
projeto de vida (ver o filme “Céu de Outubro”)
• Para enfrentar esse maior problema de todos os alunos
precisam praticar em problemas menores – mas mesmo
esses precisam ser relacionados aos seus interesses e,
oportunamente, ao seu projeto de vida
17. Metodologia: Problemas e Projetos
• Dois princípios que governam a aprendizagem através
de projetos
• Há sempres múltiplas formas de aprender algo – i.e., de
desenvolver uma competência
• Quando tentamos deliberadamente aprender algo, nós,
em regra, aprendemos várias outras coisas ao lado
• Por causa desses dois princípios, é possível deixar que
os alunos escolham os projetos que lhes interessam –
i.e., que correspondem a problemas que eles gostariam
de solucionar – e, ao mesmo tempo, ter certeza de que,
com a orientação correta, eles vão aprender, também, o
que precisam aprender, como sub-produtos
18. Metodologia: Problemas e Projetos
• A escola democrática não fica esperando que os alunos
encontrem problemas que gostariam de solucionar: ela
lhes oferece uma ampla escolha de problemas que eles
podem selecionar em diferentes áreas
• Para fazer isso a escola deve manter um rico Banco de
Projetos – em que são descritas as competências que
cada um envolvido em cada projeto vai desenvolver –
com o nome das pessoas que podem oferecê-los
• Os projetos oferecidos são renovados periodicamente,
dando aos alunos ampla oportunidade de escolher, sob
a orientação dos profissionais pedagógicos e dos pais,
que projetos vão contratar
19. Avaliação: O Porfólio de Aprendizagem
• O Portfólio de Aprendizagem do Aluno deve, a qualquer
tempo, para cada aluno:
• Sua avaliação inicial, que mapeia as competências que já
possui ao entrar na escola nas várias mega-competências
• Uma indicação de seus interesses, talentos especiais e
eventuais fraquezas – com vistas à oportuna definição de
sua projeto de vida, e, portanto, das áreas em que ele
poderá desejar concentrar sua atenção (ou evitar))
• As competências desenvolvidas em cada projeto de que
ele participou
• As competências desenvolvidas em atividades extra-
curriculares em que ele se envolveu, em especial na
Assembléia da Escola
20. Novos Papéis Pedagógicos
• O professor da escola convencional é “dividido em dois”
na nova escola:
• Um atua como mentor, conselheiro e orientador para um
grupo de alunos de um mesmo ciclo de estudos (3-5, 6-8,
9-11, 12-14 anos), e permanece com eles enquanto eles
estiverem naquele ciclo: ele é profissional pedagógico
permanente e em tempo integral
• Outro atua como facilitador da aprendizagem, elaborando
ou supervisionando projetos de aprendizagem, garantindo
que os alunos participem dos projetos que contratam e
aprendam o que se espera nos projetos: ele não é um
profissional permamente nem em tempo integral, sendo
requisitado à medida da necessidade
21. Novos Papéis Pedagógicos: O Mentor
• O primeiro dos dois profissionais tem as seguintes
atribuições na área pedagógica:
• Fazer a avaliação inicial do aluno que vai ficar sob sua
responsabilidade e cuidado
• Supervisionar o aluno o tempo todo, dando-lhe as boas
vindas diariamente, servindo de contato para qualquer
eventualidade, interagindo e dialogando com ele sobre
suas atividades, e entregando-o aos pais no final do dia
• Avaliar formalmente o aluno a cada dois meses com base
em suas observações, nas discussões e conversas com o
aluno, e nos relatórios de avaliação de seu desempenho
nos projetos contratados
22. Novos Papéis Pedagógicos: O Mestre
• O segundo dos dois profissionais pedagógicos tem as
seguintes atribuições:
• Planejar, desenvolver, cadastrar e coordenar projetos de
aprendizagem voltados para os alunos
• Assegurar-se de que os alunos que participem de seus
projetos façam as atividades que se comprometeram
realizar, quando contrataram o projeto
• Assegurar-se de que os alunos aprendem o que devem
quando participam das atividades dos projetos, i.e., que
desenvolvem as competências que a participação no
projeto prevê que desenvolvam
23. A Tecnologia
• A tecnologia tem duas funções pedagógicas essenciais
na nova escola:
• Ferramenta de aprendizagem
• Ferramenta de gestão da aprendizagem
24. Tecnologia: Ferramenta de Aprendizagem
• Pressuposto: cada aluno deve ter acesso ao seu próprio
computador, sempre que necessário
• Objetivos do uso:
• Buscar informações (pesquisa)
• Armazenar e organizar informações (gestão)
• Analisar e avaliar informações (reflexão crítica)
• Aplicar informações na solução de problemas (ação)
• Compartilhar informações (comunicação unidirecional)
• Discutir e interagir com mentores , mestres e colegas
(diálogo e discussão crítica)
• Foco: sua aprendizagem, seu desenvolvimento, isto é, a
definição e o desenvolvimento de seu projeto de vida
25. Tecnologia: Gestão da Aprendizagem
• As duas principais ferramentas aqui são:
• O Mosaico Digital (Digital Mosaic)
• O Portal da Aprendizagem (Learning Gateway)
26. Tecnologia: O Mosaico Digital
• O Mosaico Digital é um software que permite e facilita a
integração dos seguintes componentes pedagógicos:
• Matriz de Competências
• Banco de Projetos
• Portfólio de Aprendizagem dos Alunos
• O Mosaico Digital automaticamente faz conexões entre
os projetos de aprendizagem e as competências que são
desenvolvidas através deles e entre o as atividades dos
alunos nos projetos com as competências inegociáveis e
com aquelas exigidas para seu projeto de vida
• O Mosaico Digital apresenta, a cada momento, uma
fotografia do desenvolvimento do aluno
27. Tecnologia: O Portal da Aprendizagem
• O Portal da Aprendizagem é o Sistema de Informações,
Comunicação e Gestão de Documentos da escola
• Ele é voltado para suprir as necessidades da direção da
escola, dos mentores e mestres, dos alunos e dos seus
pais
• Cada usuário tem acesso que lhe permite visualizar as
informações e atividades que lhe dizem respeito
• Os pais visualizam as informações acerca dos projetos
que estão sendo e serão oferecidos, informações de
seus filhos que estes definem como públicas, bem como
informações de natureza geral de seu interesse
28. A Forma de Gestão Democrática
• Para desenvolver as competências necessárias para
atuar como cidadãos nums sociedade democrática,
os alunos precisam atuar democraticamente dentro
da escola: a Assembléia Geral possibilita isso
• Todo mundo que deseja participa – a pauta é feita com
indicações de todos e é distribuída antecipadamente
• A Assembléia é o forum para discutir qualquer questão
relacionada à vida em comum e é deliberativa
• A Assembléia deve lidar também com questões relativas
à disciplina – normas e punições
• A Assembléia não é só ferramenta de gestão: também é
local importante de aprendizagem para os alunos
29. Observações Finais
• A escola do futuro precisa:
• Ser integrada à vida e democrática
• Levar a sério diferenças e interesses individuais
• Respeitar a liberdade de aprender dos alunos
• Dar atenção personalizada aos alunos
• Ao mesmo tempo, garantir que os alunos desenvolvem as
competências e as habilidades que a sociedade do Século
XXI requer e espera deles