Este documento descreve um mini-curso sobre anarquismo e práticas comunitárias no campo com 8 horas de duração. Será ministrado por dois professores e abordará as teorias anarquistas de organização social, com foco no campo, além de diferentes práticas de organização aplicadas por camponeses. A primeira parte tratará de propostas anarquistas como as de Godwin, Stirner, Proudhon e outras escolas anarquistas.
9. A escola mutualista
• posição intermediária entre a E. individualista e a E. socialista. Acreditando que a
associação é apenas um meio para alcançar um fim, que será a liberdade individual.
É elaborado por Pierre Joseph Proudhon (1809-1865) sendo o primeiro filósofo a se
auto-intitulou como anarquista.
• A justiça era o motor de seu pensamento “A justiça é a estrela que governa a
sociedade, o pólo em torno do qual o mundo político gira, o princípio regulador de
todas as transações. Nada acontece entre os homens salvo em nome do direito,
sem a invocação da justiça “(PROUDHON apud WOODCOCK, 2002)
• Na obra “o que é propriedade? a propriedade é um roubo”. Karl Marx – que seria
seu maior inimigo no futuro – o descrevia como “um livro penetrante” e “o primeiro
exame decidido, vigoroso e científico sobre propriedade”. Para o título do livro o
próprio Proudhon já da a resposta: “é um Roubo!”. Explicando depois que o que
queria mostrar no livro era a soma dos abusos da propriedade privada como, por
exemplo, a exploração do trabalho, a concentração de riquezas, etc.,
11. • Portanto Proudhon defende que as terras deva ser um bem coletivo, onde todos
possam ter acesso na forma de posse, que viria através do trabalho, e não mais
por títulos de propriedade. No seu livro “o que é propriedade?” ele coloca
algumas proposições sobre o assunto, como:
• I - A posse individual é a condição da vida social; cinco mil anos de propriedade o
demonstram: a propriedade é o suicídio da sociedade. A posse está no direito; a
propriedade é contra o direito. Suprimam a propriedade conservando a posse; e
apenas por essa modificação no principio modificareis tudo nas leis, no governo,
na economia, nas instituições: expulsareis o mal da terra. II - Sendo igual para
todos o direito de ocupar, a posse varia com o número de possuidores; a
propriedade não pode formar-se. III - Sendo o efeito do trabalho também o
mesmo para todos a propriedade perde-se pela exploração estranha e pelo
arrendamento. IV - Resultando necessariamente todo o trabalho humano de uma
força colectiva toda a propriedade se torna, pela mesma razão, colectiva e
indivislvel: em termos mais precisos, o trabalho destrói a propriedade.
(PROUDHON, 1975, p. 246 – grifo do autor)
A escola mutualista
14. A Corrente Coletivista
• A corrente coletivista tem como principal representante Michael Bakunin
(1814-1876) que sempre procurou atividades e atos revolucionários,
abordando como seria a organização de uma sociedade futura dizia que é
preciso:
•
• “Organizar la sociedad de tal suerte que todo individuo, hombre o mujer, al
llegar a la vida, encuentre medios poco más o menos iguales para el
desenvolvimiento de sus diferentes facultades y para su utilización por el
trabajo; organizar una sociedad que al hacer imposible para todo individuo,
cualquiera que sea, la explotación del trabajo ajeno, no deje a cada uno
participar en el disfrute de las riquezas sociales, que en realidad no son
producidas nunca más que por el trabajo, sino en tanto que haya contribuido
directamente a producirlas mediante el suyo” (BAKUNIN, 2009, p. 23)
•
• Bakunin pregava a importância do federalismo, a extinção dos governos e
formação de associações livres agrícolas e industriais, porém diferindo da
proposta mutualista pelo fato de defender a coletivização dos meios de
produção, não aceitando ao menos a propriedade posse que Proudhon
aceitava.
15. • Bakunin defendia ainda a igualdade política, social e econômica entre os
sexos e a abolição do direito de herança:
•
• “en tanto que la herencia exista, habrá desigualdad económica
hereditaria, no desigualdad natural de los individuos, sino desigualdad
artificial de las clases-, y ésta se traducirá necesariamente siempre en la
desigualdad hereditaria del desenvolvimiento y de la cultura de las
inteligencias y continuará siendo la fuente y la consagración de todas las
desigualdades políticas y sociales. La igualdad del punto de partida al
comienzo de la vida para cada uno, en tanto que esa igualdad sea
dependiente de la organización económica y política de la sociedad, a fin
de que cada uno, hecha abstracción de las naturalezas diferentes, no sea
propiamente más que el hijo de sus obras, tal es el problema de la
justicia” (BAKUNIN, 2009, p. 23).
•
• Com isso Bakunin esperava que no futuro, o direito de cada homem fosse
igual à sua produção, portanto a posse dos frutos produzidos seria
individual, sendo esta uma das bases da corrente coletivista defendida
por ele, que poderíamos sintetizar na máxima: “De cada um, de acordo
com os seus meios; para cada um, de acordo com suas ações.”
•
A Corrente Coletivista
16. • A corrente Comunista é muito parecida com o anarquismo coletivista de Bakunin,
diferenciando-se no modo de distribuição das riquezas produzidas que, será “de acordo
com a necessidade de cada indivíduo”. É elaborada por Piotr Alexeevich Kropotkin
(1842-1921) que buscava no anarquismo aspectos positivos tentando assim constituir
idéias de construção de uma nova sociedade, tentando sempre comprovar a existência
da bondade no homem, usando sempre de um otimismo marcante.
• Segundo Woodcock (2002, p. 214) a originalidade do pensamento de Kropotkin, o
tornou o principal responsável pela mudança da teoria anarquista como “teoria séria e
idealista de transformação social, e não mais uma doutrina de violência de classes e de
destruição indiscriminada”.
• Kropotkin defende que os trabalhadores tem que buscar o “bem-estar para todos” que
se pautaria resumidamente em:
•
• “o direito de se apoderarem de toda a riqueza social; de tomar as casas e instalar-se
nelas conforme as necessidades da família; de tomar os víveres acumulados e de servir-
se deles de modo a conhecer o bem estar, depois de ter demasiadamente conhecido a
fome. Proclamam o seu direito a todas as riquezas – fruto do labor das gerações
passadas e presentes e usam delas de modo a conhecer o que são os altos gozos da
arte e da ciência, demasiado tempo açambarcados pelos burgueses. E afirmando o seu
direito ao bem-estar, declaram o seu direito de decidirem eles mesmos o que deve ser
esse bem-estar. O direito ao bem-estar é a possibilidade de viver como seres humanos
e criar os filhos para os fazer membros iguais duma sociedade superior à nossa”
(KROPOTKIN, 1953, p. 13).
A Corrente Comunista
17. • Para este fato ocorrer Kropotkin defende uma ampla expropriação das propriedades e
os bens de produção, acreditando que estes deveriam pertencer a comunidade, ou
seja, a todos.
•
• “sendo os meios de produção obra coletiva da humanidade, devem regressar a
coletividade humana. A apropriação pessoal não é justa nem proveitosa. Tudo é de
todos, visto que todos precisam de tudo, visto que todos tem trabalhado na medida
das suas forças, e que é materialmente impossível determinar a parte que poderia
pertencer a cada um na produção atual das riquezas” (KROPOTKIN, 1953, p. 7).
•
• Este fato se aproxima muito do que Bakunin defendia que era a posse coletiva desses
bens, porém para Kropotkin a posse individual dos frutos do trabalho contadas pelas
horas trabalhadas, não caberia em uma sociedade onde tudo é de todos, fazendo uma
crítica aos coletivistas:
•
• “não podemos admitir com os coletivistas que uma remuneração proporcional às
horas de trabalho fornecidas por cada um à produção das riquezas possa ser um ideal
ou mesmo um passo à frente para esse ideal. [...] o ideal coletivista nos parece
irrealizável numa sociedade que considerasse os instrumentos de produção como um
patrimônio comum. [...] o individualismo mitigado pelo sistema coletivista não poderia
existir ao lado do comunismo parcial da posse por todos do solo e dos instrumentos de
trabalho. Uma nova forma de posse requer uma nova forma de retribuição. Uma nova
forma de produção não poderia manter a antiga forma de consumo, como não poderia
acomodar-se às antigas formas de organização política” (Kropotkin, 1953, p. 14) .
A Corrente Comunista
18. • Portanto Kropotkin acredita que o sistema salarial era uma das bases do capitalismo,
portanto acredita que quando um for superado o outro também o seria. Por isso que
Kropotkin defende a máxima: “De cada um de acordo com as suas possibilidades; e a
cada um de acordo com as suas necessidades” que seria a marca do anarquismo
comunista.
• A forma política como seria organizada a nova sociedade por Proudhon, Bakunin e
Kropotkin são bem próximas quem vêem a sociedade anarquista organizada em
comunas e federações.
• Kropotkin no seu livro Ajuda Mutua mostra vários exemplos da resistência de
camponeses que lutavam para continuar a viver em sistemas comunais de terras e
serviços, e outros que se uniam para melhorar nas suas produções:
•
• “Os fatos mostram [...] que onde os camponeses russos, com a ajuda de circunstâncias
favoráveis, são menos miseráveis do que a média, e quando encontram homens de
conhecimento e iniciativa entre seus vizinhos, a comunidade aldeã é a melhor forma
de introduzir diversos aperfeiçoamentos na agricultura e na vida da aldeia em seu
conjunto. Aqui, como em outros lugares, a ajuda mútua é um condutor do progresso
melhor do que a guerra de cada um contra todos [...]. Tudo o que se espera das
pessoas que vivem sob o sistema da comunidade aldeã é que todo tipo de trabalho
que entra, por assim dizer, na rotina da vida das aldeias (conservação de estradas e
pontes, represas, drenagem, fornecimento de água para irrigação, corte de madeira,
plantação de árvores etc.) seja feito por toda a comuna, assim como o arrendamento
da terra e a capina – mediante o trabalho dos velhos e dos jovens, dos homens e das
mulheres” (KROPOTKIN, 2009, p. 197).
A Corrente Comunista
19. • Comprovando este fato Kropotkin acredita que exista vida social em todos os níveis de
escala. (desde animais como insetos, aves e mamíferos assim como toda a humanidade
em todos seus estágios de desenvolvimento até hoje) afirmando que a ajuda mútua
não é um ideal ético, senão um fato cientificamente comprovado, e que este seria mais
importante para evolução das espécies do que a luta mútua defendida pelos neo-
darwinistas.
•
• mesmo que não conhecêssemos quaisquer outros fatos da vida animal além dos
relacionados às formigas e às térmites, já poderíamos concluir com segurança que a
ajuda mútua (que leva à confiança mútua, a primeira condição da coragem) e a
iniciativa individual (a primeira condição do progresso intelectual) são dois fatores
infinitamente mais importantes para a evolução do reino animal do que a luta de todos
contra todos. (KROPOTKIN, 2009, p. 27)
A Corrente Comunista
20. • Segundo Kropotkin hoje há muito desperdício com intermediários, objetos de luxo
e produção de coisas desnecessárias que são produzidas para aumentar o
consumismo sendo uma força de trabalho gasta sem necessidade. Portanto com a
instalação de uma sociedade anarquista os homens o tempo de trabalho poderia
ser diminuído, podendo as pessoas ter mais tempo para praticar atividades
culturais, já que o homem não vive só para suprir suas necessidades básicas, ele
também necessita de algo para exercitar sua mente, proporcionando assim
momentos prazerosos:
•
• Admitamos enfim que todos os adultos menos as mulheres ocupadas na educação
das crianças se obrigam a trabalhar cinco horas por dia, dos vinte ou vinte e dois
anos até os quarenta e cinco ou cinqüenta e que se empregam em ocupações à
sua escolha em qualquer dos ramos do trabalho humano considerado
“necessário”. Uma tal sociedade poderia em troca garantir o bem-estar de todos
os seus membros, - isto é, um bem-estar diversamente real do que hoje goza a
burguesia. – E cada trabalhador dessa sociedade disporia por outro lado pelo
menos de cinco horas diárias, que poderia consagrar à ciência, à arte e
necessidades individuais fora da categoria do “necessário” [...]. o homem não é
um ser que possa viver exclusivamente para comer, beber e procurar um abrigo.
Desde que tenha satisfeito as exigências materiais, as necessidades a que se possa
atribuir um caráter artístico se apresentarão tanto mais artísticas e ardentes.
(KROPOTKIN, 1953, p. 43-44)
A Corrente Comunista
22. • o uso comum da terra com trabalho individual que segundo TAVARES (2008) é
utilizada no mundo desde tempos imemoriais, exemplos: na Espanha –
“Montes Veciñais em Man Común” (Montes vizinhos de uso Comum) que
permite aos seus moradores o pastoreio, adubo, e outros aproveitamentos
secundários, onde a terra é um bem comum, indivisível. Acredita-se que este
tipo de ocupação tenha chegado a ser utilizado em 2/4 na Espanha no começo
do século XIX. (LEICEAGA apud TAVARES, 2008)
• Em Portugal o autor fala sobre os “baldios” que são terras de uso comum que
em 1935 ocupava cerca de 6% de todo território português. Hoje é usado por
camponeses que retiram a lenha, para uso de combustível, os matos, para
alimentação animal, madeira, saibro e pedras, para construções e utensílios
em geral, a água, para irrigação e transitoriamente a plantação de cereais e
batatas, sendo seu uso praticado pelos camponeses mais pobres. Atualmente
ocupam uma área de 400 mil hectares no continente. Porém em Portugal,
houve interferências do Banco Mundial com projetos de reflorestamento
atrapalhando e limitando o desenvolvimento costumeiro dos baldios, que
atualmente contam com 86 mil hectares da matas nacionais
• De acordo com Almeida apud Tavares (2008, p. 333) “Essa noção de terra de
uso comum é acompanhada de ‘elemento de identidade indissociável do
território ocupado e das regras de apropriação’, como é evidenciado na
heterogeneidade de suas denominações” (grifo do autor)
Uso comum da terra
23. • Por isso vamos encontrar várias nomenclaturas para as terras de uso comum
no Brasil, sendo elas: Terras de Preto; Terras de Santo; Terras dos Índios;
Terras de Herança; Terras Soltas ou Abertas também conhecidas como:
Pastos Comuns, Campos, Fundos de Pastos, Pastos Abertos, Feche de pastos e
Faxinais; e Terra Liberta.
• Tavares (2008) também fala das diferentes formas de terras de uso comum,
onde se destacam: o uso comum ligados aos interesses da comunidade, que
são, propriedades individuais e fundos do lote uso comum; Campos de
Altitude com uso basicamente sazonal, onde predomina o pastoreio; e uso
Cooperativos, formas de cooperativas pagas por uma taxa pelos
participantes.
• De acordo com CAMPOS apud TAVARES, 2008 temos também o uso comum
conjugando interesses internos e externos da comunidade, exemplos:
tropeiros, faxinais, coqueirais, castanhais, babaçuais e seringueiros.
• O mesmo autor cita também usos comum entre não proprietários, que são:
terras de índio, terras de negro e terras de santo já citadas anteriormente. E
usos comum dirigidos – que são voluntárias de “socialistas utópicos”, como
por exemplo a experiência Anarquista da Colônia Cecília.
Uso comum da terra
24. • especificamente sobre os faxinais do Estado do Paraná e sua gênese afirma:
• A hipótese que levanto na tese sobre a gênese dos faxinais no Paraná é de que
ela se encontra na aliança entre índios fugitivos do sistema de peonagem (das
missões ou reduções jesuíticas e dos aldeamentos), da escravidão (dos
bandeirantes paulistas) e dos negros africanos fugitivos, que se dispersaram e
não formaram quilombos, e se encontram nas matas de Araucárias no Estado
do Paraná. A junção da prática de terras de uso comum pelos índios, a prática
de criação de animais pelos escravos africanos, mais a prática de extração da
erva-mate por ambos os sujeitos sociais [...] constituíram os elementos
fundantes na construção dos faxinais no início do século XVII, que, ao longo do
tempo, recebeu a contribuição significativa dos imigrantes europeus,
principalmente dos camponeses originários do leste europeu (Ucrânia e
Polônia); e da fração dos camponeses que participaram da Guerra ou Revolta
do Contestado para a sua consolidação. (TAVARES, 2008, p. 382)
Os Faxinais
25. • Atualmente são compreendidos pela maioria dos autores como:
• “uma forma de organização econômica camponesa do sul do Brasil, cujo território se
constitui com base na conjunção de elementos ambientais, socioeconômicos, políticos e
culturais desde o início do século XVIII, caracterizado principalmente pelo uso de terra
comum e dos recursos naturais na forma de criadouros comuns ou comunitários”
(TAVARES, 2008, p. 569)
• Os Faxinais e Faxinalenses são entendido por Tavares como fração camponesa pois
possui uma relação não capitalista de produção, assentadas em três bases: 1) Terras de
uso comum no criadouro comunitário ou comum que são terras de criar e viver
constituídas por várias parcelas de terras contíguas de uso comum, assim como recursos
naturais nelas contidos; 2) Cercas das terras de uso comum no criadouro comunitário ou
comum, que delimitam o criadouro das terras agrícolas e as 3) Terras agrícolas de
propriedade privada e posses individuais (TAVARES, 2008).
Os Faxinais
26. • Quanto as práticas sociais dos faxinalenses em suma:
• “O criadouro comunitário é onde o camponês faxinalense vive seu cotidiano, expresso
na divisão do trabalho, na “peleia” diária com os animais criados a solta –
complementação da dieta alimentar, cuidar dos animais doentes – e depois parte para
trabalhar nas terras de planta, que ficam até 10 km de distância do criadouro. É onde
são feitas as combinações da ajuda mútua – mutirão/puxirão, e a troca de dias entre
vizinhos, compadres afilhados e parentes – que se estabelece pela consciência da
independência engedrada pelas condições de vida comum, pelo espaço das terras de
uso comum partilhado; e pelas relações de vizinhança, compadrio e parentesco. É
também o espaço das manifestações culturais – festas religiosas e pagãs.
Compreendendo que são esses elementos – práticas sociais – que configuram as
relações econômicas, sociais e culturais do modo de vida do campesinato faxinalense.
É através dessas relações que o camponês faxinalense sabe e sente quem é “de
dentro”, quem pertence ao seu mundo” (TAVARES, 2008, p. 690)
•
• Conflitos sociais, culturais e ambientais vem ocorrendo com a chegada na década de
30 do século XX de madeireiros industriais, pecuaristas, e agricultores capitalistas, pois
estes muitas vezes tentam grilar terras que são do uso dos faxinalenses, ou por não
cercarem corretamente suas terras havendo invasões de animais dos faxinalenses em
suas propriedades, e também pelo acesso ao uso dos recursos hídricos e agroflorestais
destas regiões. Em resposta os camponeses faxinalenses vem construindo uma luta
pela resistência através de processos de identidade política e jurídica com
movimentos sociais que buscam uma estratégia se consolidação de solidariedade
entre estes povos.
Os Faxinais
27. • Outra prática que podemos citar é a de cooperação e ajuda mútua em
comunidades religiosas que desde o século XIII surgem movimentos de
contestação da ordem vigente buscando um cristianismo primitivo, ou
reformas de contestação a Igreja baseadas na cooperação e ajuda mútua
baseadas nos escritos da bíblia e das palavras de Deus.
• No Brasil esta prática foi vivenciada na Colônia Varpa constituída da
imigração leta para o Brasil no período 1922/23, onde foram adquiridos cerca
de 2.100 alqueires de terras em Tupã-SP. Em um primeiro momento existiam
cerca de 453 pessoas no local, um ano depois este número sobe para 2.223
pessoas.
• De acordo com VALIESSEF apud MARCOS (1996) a bordo navio vindo para o
Brasil foi organizado um CAIXA COMUM onde contribuía aqueles que podiam,
que na chegada ao novo país de esperança de melhoria de vida se revelaria
de suma importância nos primeiros meses de sobrevivência.
Colônia Varpa
28. • Enquanto a medição da gleba não se concluía, os imigrantes letos construíram
acomodações comuns trabalhando a terra coletivamente. Por meio de
assembléias foi instituído vários cargos administrativos para aqueles que se
“encaixavam” melhor nas funções. Quanto a Religião, era formada na sua grande
maioria de protestantes da Igreja Batista, que formava o alicerce da
comunidade. Tudo que era feito estava baseado nos escritos da bíblia e na
vontade de Deus”.
• A Divisão das terras foram classificadas em lotes: Agrícolas, Profissional,
Urbano, com diferentes tamanhos e localidades, escolhendo os primeiros os que
mais arrecadaram para o caixa-comum no navio. Com as terras divididas as
atividades econômicas em VARPA eram bem diversificada, com setores:
primário, secundário e terciário. Suas principais atividades eram: Agropecuária,
Madeira, Sericicultura e transportes.
• Com a política de miscigenação do governo nas décadas de 60 e 70 do século XX
acentua-se a entrada de Brasileiros, instala-se: Bares, casas de jogos,
policiamento, etc. o que influencia na comunidade, e pouco a pouco perde a
suas bases e sua essência.
Colônia Varpa
29. • De acordo com MULATINHO (1982) fora fundada em 20 de julho de 1929,
contando com 350 integrantes alojados em 290 alqueires de terra, para as viúvas,
órfãos de guerra, solteiros sem recursos, etc. que não tinham como dedicarem-se
a seus lotes individualmente, sendo parte da Colonia Varpa, porém com estrutura
e modo de vida diferenciado.
• A Comunidade tinha como base a religião e a etnia. Sua administração tinha um
presidente mais sete membros da diretoria com assembléias realizadas
Mensalmente e/ou Quinzenalmente onde vários assuntos eram discutidos e
decididos. Para entrar na comunidade era necessário praticar a mesma religião. E
tinha uma estrutura de casas de madeira, serraria, moinho, oficina, engenho,
tipografia, enfermaria, cozinha, refeitório, escola missionária, templo.
• Existia ainda uma tipografia que funcionara como imprensa com fins de
evangelização, e o trabalho consistia em oito horas diárias, com atividades
religiosas e culturais a noite.
• Sua economia e culturas plantadas tinha como base a Subsistência; Pecuária;
Avicultura; Apicultura; Mandioca; açucar; algodão; psicultura; hortifruticultura,
sendo o trabalho e o consumo feitos de acordo com as possibilidades e
necessidades de cada um. Na comunidade circulou durante 10 anos moeda
própria, sendo extinta qundo um agente do governo os indicaram a possibilidade
de falsificação.
Comunidade Palma
30. • Para MULATINHO (1982) Palma se encaixa como economia de modo Comunista.
• o modo de vida buscado segundo modelos de sociedades primitivas cristãs, segundo o
membro fundador, o professor Ronis que fala sobre o ideal comunitário dos letões:
• “...trabalhariam cada um fielmente no seu setor, comendo todos a mesma comida à
mesa, tendo seus cultos diários à noite para refrigério de suas almas. Viveriam todos
em amor e para o bem comum, servindo o Senhor da maneira como Ele mesmo o
revelasse, no decorrer do tempo, até a sua segunda vinda, não tendo preocupações
com problemas materiais. Entenderam que assim corresponderiam melhor ao
chamamento divino que cada um sentiu no seu intimo quando deixou a sua pátria e
migrou para o Brasil. Especialmente a idéia da segunda vinda de cristo levou alguns a
buscar o modo de vida dos primitivos cristãos em Jerusalém, quando ninguém
considerava nada como seu próprio, para que todos tivessem o necessário para a sua
manutenção e ninguém padecesse carência alguma” (RONIS apudMULATINHO, 1982)
• Podemos perceber neste relato a o apelo em uma possível - e esperada por eles –
“segunda vinda de cristo” onde estes vivendo sobre os seus “mandamentos”, teriam
lugar garantido no paraíso.
• Hoje, onde existia a comunidade Palma, hoje é uma colônia de férias voltada para o
turismo ecológico. Contudo, este é mais um exemplo que comprova a possibilidade da
existência de uma vida em comum.
Comunidade Palma
31. • Criada em 1889 Cecilia em Palmeira no PR, marcou o coroamento de um percurso
traçado por Giovanni ROSSI, seu idealizador escreveu sua utopia “Un comune
socialista”, onde descrevia uma propriedade em um povoado imaginário, após a sua
conversão em comunismo anarquista.
• De lá até o fim da sua vida perseguiu a realização de tal ideal, através: de apelos para
jornais anarquistas; defendia o experimentalismo
• As terras foram doadas pelo governo monárquico de D. Pedro II, pressionado pelos
fazendeiros escravocatas da época - falta de mão-de-obra com o fim da escravatura,
então o governo criou núcleos de colonização, esperando que a experiência de Rossi
falhasse e seus integrantes servissem de mão-de-obra para estas fazendas.
• A comunidade primeiramente com um barracão construído pelos integrantes com
dormitórios e refeitório, mais tarde passou-se a construir casas para as famílias, A
preparação da terra para o cultivo também era feito coletivamente.
Colônia Cecília
32. • “Não se trata de estabelecer, como e qual será precisamente, e nos seus mínimos
detalhes, a sociedade do devir; nem também se deve acreditar ser possível resolver a
questão social através de fazendas socialistas. Não, o devir será o que será, e a questão
social será resolvida pelas necessidades invasoras, pelo desenvolver-se irresistível do
espírito humano em todas as suas manifestações. [...] Mas para influenciar multidões, é
necessário que estas provas sejam dadas próximas, tanto que possam ser verificadas
com os próprios olhos. [...] se transformará em aspiração popular.” (ROSSI)
• Dois anos após o início da colônia, Rossi viaja para Itália fazendo propaganda, tentando
angariar fundos e convocando pessoas que queiram fazer parte da experiência no
Brasil. As práticas de Rossi provocou discussões entre outras correntes anarquistas que
acreditavam que perdia-se tempo em fazer experiências ao invés de buscar fazer a
revolução propriamente dita, e de que os experimentalistas se fechassem para sí
esquecendo-se do restante da sociedade. Principalmente de Malatesta.
• Rossi responde a Malatesta em 1893 com seu livro “Cecília, Comunita anarchica
sperimentale. Un'episodio d'amore nella Colonia 'Cecília'” reafirmando a liberdade de
escolha e de diferentes idéias dentro de um mesmo movimento buscando um mesmo
objetivo que era a revolução social.
Colônia Cecília
33. • A experiência continuou chegando a 300 integrantes. Como Rossi não tinha um
planejamento prévio sobre o futuro, não tinha como evitar o ingresso de pessoas “de
fora” da causa anarquista. Muitos viam a oportunidade de ser proprietários de terra,
tentando criar funções hierárquicas, contudo o grupo – sete famílias – que não se
identificou saiu da comunidade levando consigo o que consideravam “seus pertences”.
• A nova etapa reavivou o espírito anarquista tentando reestabeler o ideal comunitário:
• “é necessário produzir para satisfazer as necessidades básicas. Muito trabalho e muitas
dificuldades: este é o cotidiano. Como alternativa à complementação do trabalho na
colônia alguns colonos se revezam no trabalho nas estradas que o Estado constrói.
• Com os desfalques e pouca ajuda, a pobreza era reinante, e a liberdade ia perdendo
espaço para o egoísmo quando alguns sacavam comida escondida dos armazéns e aos
poucos a colônia foi sendo minada. Além disso havia tensão entre integrantes
camponeses e não camponeses, e que levou a crise final em 1894.
• Mesmo com o fim da Colônia Cecília, Rossi não admite seu fracasso, defendendo que
conseguiu provar a existência de uma vida em comum enquanto durou a comunidade.
Rossi nunca defendeu a total igualdade na colônia, pois ele acreditava na diferença de
cada um, pautada na liberdade do indivíduo. Os trabalhos eram feitos conforme a
possibilidade de cada um, e sua produção era livre para cada indivíduo desfrutar
conforme suas necessidades.
Colônia Cecília
34. • Em 1922 a empresa Nippon Rikko Kai organizou-se a fundação de "uma colônia modelo
na América do Sul para fixação de emigrantes, oferecendo-lhes o apoio e a segurança“ .
“O núcleo chamaria-se ‘Aliança’, que tem o significado de ‘dar as mãos’ – sugerindo
cooperação mútua”. Formando em 1927 um total de 7.200 alqueires - distritos da 1ª, 2ª
e 3ª Alianças. Atividades: avicultura; café, e o cultivo de hortaliças e legumes
• Rikko Kai, preparava os imigrantes antes de imigrar ideais: 4H e do GAT (Gozar a Terra):
• “[as] iniciais em inglês de Head, cabeça, significando a inteligência, o pensamento; Heart,
o coração, o amor, o sentimento; Hand, mão, o trabalho; e Health, saúde, o vigor físico’
[...] GAT ‘apego à terra, isto é, amar a terra e se fixar nela e extrair dela o maior proveito
possível; viver uma vida tranqüila; aprender meios práticos de proceder às culturas
racionais, mediante adubação; racionalizar a distribuição de braços, contando inclusive
com os braços domésticos; obter, na medida do possível, auto-suficiência de tudo que for
preciso; cuidar da saúde, pois ela é a base de todas as atividades”
• diferenciado em quase todos aspectos ao restante da imigração japonesa - irá se
desenvolver nesses imigrantes características peculiares que possibilitarão, com outros
fatores – inclusive a chegada de Issamu Yuba a região – a criação da Comunidade Yuba.
Comunidade Sinsei e Comunidade Yuba...
Núcleo de colonização japonesa das Alianças
35. Comunidade Sinsei e Comunidade Yuba...
O início... A vinda de Issamu Yuba
• base filosófica – Roussea; Leon Tolstoi e Mushanokoji, ideais de vida coletiva campesina
• Em 1926 com notícias de consolidação das Alianças aliada às dificuldades econômicas
familiares e seu sonho libertário, Issamu Yuba e família migram para o Brasil
• Desde sua chegada Yuba já se destacava na região – introdutor do baseball no Brasil
• Em 1933 Issamu Yuba com um companheiro, esteve visitando a Comunidade Palma,
para estudar e vivenciar a vida em comum, em vistas de colocar seu ideal em prática
• Dois anos depois, em 1935 Issamu Yuba enfim consegue por seu ideal em prática, com
sua família e alguns poucos amigos adquire uma área de 40 alqueires no bairro de
Formosa, - Guaraçaí SP, com o lema “Criação de uma nova cultura” deu inicio as
atividade da “Fazenda Yuba” pautada na ideologia de “Cultivar, rezar e amar as artes”
• Existem muitas imagens sobre ele, porque eu ouço muitas histórias, e cada um enxerga
de uma forma [...]. tem muita gente que vê ele como um Deus, perto de um Deus, né? e
tem gente que não gostava dele. [...] Mas tem uma coisa que todo mundo fala que é
igual, é que ele atraía muita gente, ele tinha uma força que atraía as pessoas [...]
36.
37. • No início eram somente a família de Yuba e mais meia dúzia de amigos, sempre com
Issamu Yuba no comando, tomando todas as decisões administrativa e financeira
• Com o tempo a Comunidade Yuba se firma, contando com dormitórios para solteiros,
casas para famílias, barracão que servia de cozinha, sala de jantar, festas e reuniões,
banheiros coletivos, etc. A língua oficial era a japonesa. Os membros se dividiam para
fazer vários serviços como cozinhar, plantar, ensinar as crianças, cuidar da saúde da
comunidade, etc. Além desses serviços, também se dedicavam a esportes, peças
teatrais, música, dança, além de discussões sobre filosofia e política (MARCOS, 1996).
• Yuba colocou em prática, no final dos anos 30, um projeto pioneiro no interior do
estado de São Paulo que era o trabalho com avicultura poedeira, tendo grande
aceitação e sucesso, já que esse tipo de produção “garantiria, ao mesmo tempo, o
fornecimento dos ovos, das galinhas e também do adubo orgânico (esterco), o qual
deveria ser aplicado à terra já gasta com a produção de café e algodão, devolvendo-lhe
assim a fertilidade, condição necessária para a fixação do camponês no campo
• integrando a Associação de Jovens San Sei Ren (Sangyo Seinen Renmei - Organização
dos Moços da Cooperativa). No entanto, a falta de planejamento na forma de conduzir
os negócios, Yuba levou à crise a San Sei Ren.
Comunidade Yuba... Antes da divisão
38. • Durante a segunda guerra a comunidade recebe um grande numero de pessoas
•
• No início dos anos 50 a comunidade chega ao seu auge, contado com cerca de 250 -
300 integrantes e sendo a maior granja da América do Sul, com mais de 220.000 aves
e uma produção diária de 30.000 ovos, sendo Issamu Yuba chamado de “O Rei das
Galinhas” pela revista “O Cruzeiro” (SILVA, 1988; MARCOS, 1996; YAZAKI (2003); BARTABURU, 2010)
• Yuba transportava ovos para São Paulo, de uma distância de 600 km, por via
ferroviária e mais tarde rodoviária, o que ia contra a lógica econômica da época.
“Além dos ovos, passaram a vender pintainhos, gaiolas, esterco, madeira retirada da
comunidade e, mais tarde, as aves fora da fase de postura, comercializadas como aves
de corte”. (MARCOS, 1996, p. 80)
• Contudo Issamu Yuba continuava “pecando” no seu senso de finanças. Levando a
comunidade várias vezes à falência.
• Criação da Sociedade agrícola Guaraçaí
• em 1956, o Banco América do Sul decreta a falência da Sociedade Agrícola de
Guaraçaí. “De acordo com a resolução da referida reunião, os integrantes da
comunidade deveriam sair das terras, deixando ali todas as benfeitorias e pertences,
inclusive os de uso pessoal” (Marcos, 1996, p. 86)
Comunidade Yuba... Antes da divisão
39. • Diante desta situação, o então Prefeito do Município de Guaraçaí-SP, e também um de
seus credores, José Marques, convidando-os para transferirem-se para sua fazenda em
Guaraçaí-SP - a Fazenda 320 (MARCOS, 1996, p. 86)
• Quando Issamu Yuba retornou de São Paulo e ficou sabendo do ocorrido, desaprovou
a atitude de seus companheiros convocou uma reunião extraordinária, onde defendeu
a idéia de que deveriam sair da fazenda e voltar para as terras da comunidade.
• Issamu Yuba pediu que aqueles que com ele concordassem levantassem suas mãos.;
metade dos membros da comunidade (que possuía cerca de 200 pessoas na época),
permanecessem com as mãos abaixadas.
• Aqueles que concordaram com Issamu Yuba, acomodaram-se, inicialmente, em uma
área emprestada nas Alianças, trabalhando em terras arrendadas na própria região.
Após oito meses da separação, Yuba recebe de um amigo da Primeira Aliança uma
gleba de terras de 10 alqueires para que a comunidade pudesse fixar-se e reiniciar
novamente suas atividades (MARCOS, 1996).
• Já aqueles que não acompanharam Issamu Yuba, ficaram nas terras de José Marques,
onde logo decidiram fazer algumas reuniões, decidindo-se continuar vivendo em
comunidade, fundando assim a Comunidade Sinsei
Comunidade Yuba... Antes da divisão
40. • após a cisão do grupo, a parte dissidente juntou-se e fizeram reuniões decidindo que a
forma de organização da nova comunidade que ali estava nascendo, seria a mais
democrática possível, decidi-se que qualquer problema que surgisse teria de ser
enfrentado e tentado sua solução nas reuniões.
• A nova forma de composição e prática da comunidade concordando com Marcos
(1996) tem relação com o anarco-comunismo proposto por Kropotkin.
• Indo para as terras de José Marques – então prefeito de Guaraçaí – ficando em casas
cedidas por este, vivendo duas ou até três famílias em alguns casos numa mesma casa.
Trabalhavam na colheita de café, com conselho do administrador da fazenda – Sr.
Manoel Rodrigues Marques - para que economizasse o máximo possível, dando uma
pequena parte em dinheiro semanal para os trabalhadores, que mal dava para a
subsistência de suas famílias.
• Passado cinco anos trabalhando na fazenda 320, os membros da comunidade juntam
suas economias e compram uma gleba de 10 alqueires em Guaraçaí – SP, construção
de galpões e de gaiolas para trabalhar com avicultura. saíram da fazenda levando
apenas seus pertences e suas economias provindas dos produtos vendidos
particularmente. (MARCOS, 1996)
Comunidade Sinsei
41. • Em suas próprias terras A organização interna da Comunidade Sinsei para manter uma
base de liberdade e respeito mútuo consiste segundo MARCOS (1996) no tripé:
Assembléia, Religião e Caixa comum.
• A assembléia é uma reunião entre os membros da comunidade para discutir e decidir
assuntos diversos: A diretoria consistia nos cargos de: Presidente, Vice-Presidente,
Secretário, Vice-Secretário, Tesoureiro e Vice-Tesoureiro, com mandato de um ano,
porém não mudava em nada a participação de todos
• A religião é um importante fator de coesão do grupo. O reverendo Shinobu Mori
realiza cultos semanais na comunidade e no bairro das Alianças
• Já o Caixa comum são contas bancárias onde é depositado o dinheiro provindo das
vendas da comunidade, e de onde sai o dinheiro para quitar seus compromissos. Fica
sob responsabilidade do tesoureiro que procura sempre manter com saldo positivo,
cumprindo e suprindo as necessidades do grupo. Existe o almoxarifado onde ficam
bens de primeira necessidade de onde podem ser retiradas mercadorias pelos
moradores da comunidade. Outros bens podem ser adquiridos em lojas na cidade por
seus integrantes, onde posteriormente é acertado pelo tesoureiro em data já
combinada com a loja.
Comunidade Sinsei
42. • Atividades de Produção: Avicultura Poedeira - escolhida a principal, por já terem
conhecimento, por ter uma integração com outras atividades, e por ter um mercado
considerado seguro; A Roça também de extrema importância de onde é retirada 70%
de recursos para a reprodução da comunidade – nela estão inseridos a fruticultura, a
horticultura, e a cultura de cereais; A Sericicultura que é a terceira cultura de maior
importância; A Pecuária Leiteira para o auto-consumo; A Suinocultura onde é
consumido o produto e comercializado o excedente.
• Nas Atividades de Serviço estão inseridas: A cozinha – preparo de shoyu, missô, sabão,
limpeza de louças, preparo das refeições, etc. Atividades Gerais – apoio e preparo de
produtos para comercialização, atividades de limpeza, roupas, salão e faxina geral,
costuras; Serviços Gerais – reparos em maquinários e demais instalações
• As Atividades de Comercialização, temos as Vendas no Atacado para mercados, hotéis,
distribuidoras e ao CEAGESP. Já as Vendas no Varejo é feita diretamente na
comunidade, em feiras públicas e numa quitanda/mercearia da própria comunidade
localizada no município de Ilha Solteira.
• Já as Atividades de Cultura e Lazer consiste principalmente em: Educação – aulas para
os jovens, assinatura de Jornais e Revistas; Festividades – como o Natal, Ano Novo,
Casamentos, Aniversários da comunidade e de seus integrantes, Filmes, recreações fora
da comunidade, “Pic Nics”, etc.
Comunidade Sinsei
43. • a comunidade Sinsei, vem passando por um processo de desmembramento e saída
de alguns de seus integrantes desde a década de 1970, se intensificando nas décadas
seguintes, estes por sua vez, saem tanto pra estudar, pra trabalhar como empregados
no Brasil ou no Japão (dekasseguis), sendo a causa principal desta saída, o conflito
entre gerações, onde os mais velhos receosos desde os tempos da comunidade Yuba,
de passar por dificuldades, barram e não levam em conta as idéias e projetos de
modificação/inovação, que propõem os mais jovens. Porém em alguns casos há o
retorno de alguns que foram trabalhar e/ou tentar a vida fora da comunidade e não
se adequaram ao modo da sociedade vigente. Há também casos de pessoas que
saíram e obtiveram êxito econômico e material fora da comunidade, como aquisição
de casas, carros, etc.
• Em visita de campo ocorrida em Outubro de 2009 - 2010, podemos ver que algumas
instalações e culturas estavam sendo desativadas ou diminuídas a sua intensidade,
dado o pequeno numero de integrantes (18) e de poucos jovens. A comunidade no
momento estava com dois funcionários contratados, assalariados, para ajudar em
serviços gerais da comunidade, fatos que não apagam dos integrantes a utopia da
produção comunitária.
Comunidade Sinsei
44. • manteve-se sendo comandada por Issamu Yuba, que continuou investindo na
avicultura como principal atividade da comunidade.
• Em 1961 insere-se na comunidade o casal de artistas Hissao e Akiko Ohara, ele escultor
ela bailarina. Com isso o balé passa a ser praticado de uma forma mais profissional,
• Em 1976, num acidente automobilístico, Issamu Yuba vem a falecer e a partir de então
a comunidade passou a ser lideradapor seu filho primogênito, Tetsuhiko Yuba,
• como Tetsuhiko era menos autoritário que Issamu algumas transformações foram se
processando, fato que ocorre até hoje. A comunidade deixou de ter uma administração
com poder centralizado, vindo existir assim a constituição de “outros poderes”
• Houve uma maior diversificação na produção
• a atividade principal de produção passou a ser a fruticultura da goiaba.
• comercializada tanto in natura, com a CEAGESP em São Paulo, quanto industrializada,
como geléia produzidas pela indústria da Cooperativa e parte era entregue às
indústrias ARISCO, ETTI, CICA, etc pela própria cooperativa.
Comunidade Yuba – pós divisão
45. • conta com cerca de 57 pessoas divididas em 26 famílias, tendo poucos solteiros.
• Todos vivem numa área de aproximadamente 50 alqueires e a língua oficial continua
sendo a japonesa,
• Os moradores da Comunidade fizeram questão de citá-la como sendo uma “grande
família”, portanto não sendo necessária a criação de leis para reger o dia-a-dia,
• A comunidade é inteiramente rural e continua praticando o princípio de cooperação
mútua nas diversas atividades desenvolvidas, tendo como base o pensamento e a
ideologia do fundador da comunidade Issamu Yuba, o tripé: trabalho, arte e religião.
Comunidade Yuba – Atualmente
46. • Dados populacionais da comunidade
Comunidade Yuba - atualmente
Tabela 7: População por faixa etária da Comunidade Yuba – 2010
Classificação Faixa de idade
Nº de pessoas Porcentagem
H M total
Crianças 0 – 11 3 1 4 7%
Jovens 12 – 25 5 4 9 15,8%
Adultos (a) 26 – 50 7 6 13 22,8%
Adultos (b) 51 – 60 5 6 11 19,3%
Adultos (a+b) 26 – 60 12 12 24 42,1%
Idosos 61 ou mais 7 13 20 35,1%
Total 27 30 57 100%
47. • Crianças e jovens:
• Mirandópolis 13,4% e 26,6%
• Comunidade Yuba: 7% e 15,8%
• Média de idade:
• Mirandópolis: aproximadamente 32 anos.
• Bairro das alianças : 48,5 anos
• Comunidade Yuba : 49,2 anos.
• Pessoas com mais de 60 anos:
• Mirandópolis 11,9% (2007)
• bairro das alianças 34,4% (2008)
• Comunidade Yuba com 35,1% (2010).
Comunidade Yuba
48. • FUNCIONAMENTO INTERNO DA COMUNIDADE
•
• O tripé: Trabalho, Arte (cultura) e Religião
•
• Issamu Yuba antes de fundar a comunidade já pensou em por em prática
desde a fundação da “Fazenda Yuba” em 1935, Issamu Yuba já criou a
comunidade com a intenção de se basear no tripé: trabalho, arte e religião
•
• A ideologia de seu criador foi a base de constituição da identidade de seus
integrantes, praticada em seus 75 anos de existência, e que ainda hoje se
mantém em plena vivência na comunidade. Todos integrantes com quem
conversamos nos trabalhos de campo ressaltam a importância do tripé como
a base de sustentação, prática e vivencia da comunidade, tendo importância
igual na comunidade como nos atesta as palavras do atual presidente da
associação, Luiz Tsuneo Yuba:
•
• “O tripé: trabalho, cultura e religião é a base da comunidade né, se um é mais
curto do que o outro, cai né”.
•
Comunidade Yuba
49. • 3.3.3 TRABALHO
• Aspectos gerais do trabalho
• O trabalho na Comunidade na sua grande maioria é feito por pessoas especializadas
em determinadas produções, cada um – ou grupo
• 3.3.3.5 Divisão das tarefas
• A divisão das tarefas não é determinada por ninguém, mas as crianças que completam
o 6º ano escolar (11-12 anos) já são enviadas, na sua maioria, para a colheita, poda e
seleção da goiaba e manga. Todavia, se futuramente a pessoa quiser mudar de
ocupação, é livre para isto,
• A própria pessoa [escolhe a tarefa], ninguém vai forçar alguém ficar em algum lugar,
logicamente todo mundo ajuda todo mundo, se alguém está precisando de ajuda pede,
ai a gente vai lá, se a gente estiver desocupado e querer trabalhar em algum lugar é
responsável.
• Varia muito, é flexível [...] Todas pessoas tem condições de fazer todos os serviços, se
vai fazer bem feito, ai vai depender de cada pessoa, cada pessoa que está no seu cargo
é responsável, [...] Quem gosta e tem mais jeito, tem o dom, vai trabalhar no que gosta,
na cozinha homem que gosta de fazer comida faz, [...] não é rígido, né. Como é tudo
família, então vai quem tem mais jeito pra isso, [...] ninguém determina, sabe.
•
Comunidade Yuba
50. • 3.3.3.1 Jornada de trabalho
• Na grande parte das funções – exceto das cozinheiras – a jornada de trabalho é feita de
segunda a sábado, quando é feito o anúncio de que as refeições estão à mesa ao som
de um berrante às 6:45 da manhã e às 7:45 os trabalhadores saem para seus afazeres.
O almoço e a sobremesa são servidos na barracão da cozinha comum (Figura 13) das
12:00 às 14:00, e o jantar é servido às 19:00. Entre estes períodos a alimentação é livre
para as pessoas que quiserem comer frutas, pão, chá, sucos, etc, podendo se servir à
vontade.
• 3.3.3.2 Funcionários
• A comunidade conta com um funcionário fixo. Brasileiro, trabalha com registro em
carteira com carga horária semanal de 44 hs. E diaristas quando necessário
• 3.3.3.3 “Turistas”
• A comunidade recebe pessoas de diversos lugares e idades que ficam um período
trabalhando e vivenciando o dia-a-dia da comunidade, e que durante este período tem
tratamento parecido com os dos membros da comunidade tendo quase os mesmos
direitos e obrigações Na sua grande maioria são jovens Japoneses que fazem
intercambio do Japão para o Brasil e que ficam na comunidade por um período que
varia de 1 a 3 meses
Comunidade Yuba
51. • Atividades de serviços
• 3.3.3.3 Cozinha são divididas em dois grupos compostos por duas pessoas cada: o
grupo das cozinheiras e o grupo das auxiliares, que por sua vez se revezam
semanalmente entrre estas atividades. O serviço da cozinha conta ainda com o auxílio
de três senhoras idosas que trabalham fixas com o grupo das auxiliares.
• 3.3.3.4 Limpeza
• Já a limpeza das casas são feitas pelas próprias famílias, já dos banheiros comunitários
e do ofurô é de responsabilidade de uma integrante, porém sempre recebe ajuda de
outras integrantes da comunidade para fazer este serviço.
• Ofurô
• O Ofurô é uma espécie de sauna – banho - Existe uma pessoa, que também faz parte da
cozinha responsável pelo corte da lenha acendimento do fogo todos os dias
• 3333 Roupas
• A lavanderia é comunitária. As roupas de integrantes de famílias já constituídas são de
responsabilidade de cada esposa que lava e passa.
• Para os solteiros e visitantes, existe uma pessoa responsável pelas roupas pessoais e de
cama, porém esta pessoa sempre recebe ajuda de outras mulheres que ajudam a lavar
e passar. As crianças também ajudam na hora da retirada das roupas do varal.
Comunidade Yuba
52. • Atividades de produção
• Para entendermos melhor as atividades de produção na comunidade dividimos em
produção para consumo interno e vendas externas. Constatando que, tudo que é
vendido para fora também é consumido na comunidade, porém a maioria dos
produtos que são produzidos para o consumo interno não são vendidos para fora.
• Consumo Interno
• Os produtos para consumo interno são: arroz; feijão; carvão, pão, sabão, lingüiça,
shoyu; o leite; iogurte; café; o adubo orgânico para as plantações em geral; o porco
que também é criado na comunidade; a avicultura poedeira que serve também para
o corte; legumes e verduras produzidas em uma horta; cana-de-açúcar para o gado;
milho; as frutas produzidas para venda que também são consumidas como manga e
goiaba e, por fim, a cerâmica que parte vendida e outra para uso da Comunidade.
• vale destacar que de acordo com as entrevistas eles produzem cerca de 60% de tudo
que é consumido na comunidade ou fabricam produtos com ingredientes comprados
de fora como o pão e o macarrão por exemplo, comprando somente produtos
industrializados como : farinha de trigo, açúcar, óleo, roupas, materiais de trabalho.
Comunidade Yuba
53. • Vendas externas
• são: gado; goiaba, manga, abobrinha, abóbora paulista; quiabo; geléias e doces;
cogumelos shiitake; pimenta; milho verde, que é comprado de terceiros e empacotado
e vendido para fora; cerâmicas e, esporadicamente, alguns porcos.
• 3.3.2.7 Comercialização da Produção Comunitária
• até pouco tempo era feita somente com o CEASA – CEAGESP no município de São
Paulo – onde era pago pelos produtos cerca de metade do valor que é pago pelos
mercados. Contudo por volta de 2003/2004 os responsáveis pela comercialização do
produto na época – viram que um vizinho vendia seus produtos direto para mercados
da região, então começaram a fazer os contatos com mercados para tentar vender seus
produtos a um preço maior. Com essa mudança seus produtos tiveram um acréscimo
de valor, e as saídas, e o valor das receitas melhoraram muito.
Comunidade Yuba
Cidade/
Estabelecimento /
quantidade
Mercad
o
Quitand
a
Atacado
Restau
-
rante
Total/ Município
Dracena 7 2 1 1 11
Junqueirópolis 2 2 - - 4
Tupi Paulista 3 1 - - 4
Total/
Estabelecimento
12 5 1 1 Total Geral /
Estabeleciment
o 19
54. • 3.3.6 ATIVIDADES CULTURAIS
• Fazendo parte do tripé das bases ideológicas do criador da comunidade Issamu Yuba as
atividades culturais tem um significado de extrema importância pelos integrantes da
comunidade, todos os integrantes com o qual conversamos fizeram questão de frisar a
importâncias da prática das atividades culturais, porém não como obrigação mas pelo
prazer e gosto de praticar determinada atividade.
• atividade cultural tem um sentido de lhes dar uma identidade como sendo parte
integrante da comunidade Yuba, a maioria faz questão de frisar que “se não existisse a
cultura não iria ser a comunidade Yuba”.
• ainda geram renda para a comunidade, geralmente recebendo cachês das
apresentações que fazem durante o ano.
• são feitas geralmente em horários estipulados a noite, porém no tempo livre entre uma
atividade e outra ou quando estão de folga.
• Os integrantes da comunidade dedicam-se às artes tendo um campo bem diversificado
Comunidade Yuba
55. • 3.3.6.1 O Museu “Osamu Sato” contém peças
• Memorial “Kitahara Wako”protótipo da primeira casa residencial nas alianças está
sendo usado para arquivar os documentos importantes, fotos, livros e algumas peças
da colonização japonesa nas alianças e da própria comunidade, sendo aberto para o
conhecimento das pessoas que visitam a comunidade.
• O local serve também como escritório de Masakatsu Yazaki, que fica responsável pela
organização e arquivamento desses documentos
• 3.3.6.3 As Cerâmicas : são feitas por uma pessoa, a artista cuida de todas as etapas
• 3.3.6.4 A confecção de Móveis: geralmente é feito por um integrante da comunidade
que gosta de mexer com o ofício, as peças feitas para uso no dia-a-dia da comunidade.
• 3.3.6.5 Esculturas Em Granito eram feitas por Hisao Ohara – falecido em 1989 Suas
obras foram apresentadas em vários lugares inclusive na Bienal em São Paulo, e ganhou
vários prêmios. Existe um jardim ao ar livre onde estão expostas suas artes. Em Rochas
e madeira: Outra artista que já fez exposições em museus de São Paulo é Renata
Katsue Yuba. Ela se dedica a fazer uma arte de “pedras em madeira” Além das
esculturas Renata Yuba se destaca como cantora lírica, cantando em alguns momentos
nas apresentações do balé e do teatro yuba.
•
Comunidade Yuba
56. • Livros: por Renata Yuba “Katsue e seus contos” em 1993 e “A frondosa árvore de
Hama”
• Masakatsu Yazaki, está escrevendo um livro há quatro anos sobre o histórico da
imigração japonesa para o Brasil e Alianças
• Nos Esportes: o que predomina é o baseball
• O Hay Kay: Segundo Lima (2004) o Hay Kay é um tipo de poema japones
• As Leituras: são feitas nos momentos de folga. A Biblioteca da Comunidade) possui
mais de 10.000 exemplares com a maioria escrita em japonês, sobre diversos assuntos,
• existem dois televisores onde um está ligado aos canais brasileiros os canais japoneses
existem também várias fitas de vídeos e DVD’s com conteúdos que vão desde as
apresentações do balé da Comunidade, até jogos de baseball e filmes, estes na sua
maioria em língua japonesa que são enviados do Japão por parentes e amigos.
• As Aulas de Japonês: para as crianças até os 7 anos de idade
• Pintura de quadros e desenhos feitos pelos jovens em idade escolar e pelas crianças
• As aulas de Coral são ministradas às terças e quintas-feiras participam crianças, jovens
e adultos, que se apresentam em locais e datas festivas
Comunidade Yuba
57. • Os instrumentos musicais: piano, violinos, violoncelos, clarinete, flautas, acordeon e
violão, são tocados durante todo o tempo de folga dos integrantes, cada um toca
aquele que melhor se identifique. As aulas, são ministradas por integrantes da
comunidade ou por professores contratados para este fim.
• O balé principal atividade cultural onde participam a maior parte dos integrantes da
comunidade, aquela que projeta o nome da comunidade nacional e internacionalmente
• Até o ano de 2010 as apresentações já passam de 860 recebendo vários prêmios
chamando a atenção pela técnica, diversificação e originalidade.
• O Teatro: As apresentações do Teatro acontecem na própria comunidade nos dias 25 e
30 de dezembro como parte das comemorações do Natal e Ano Novo pela
comunidade.
• Festejos de Natal e Ano Novo acontecem no barracão do teatro da comunidade nos
dias 25 e 30 de dezembro, com apresentação de musicas, danças e o teatro da
comunidade e de convidados
• Outros eventos culturais exemplos: comemoração dos 100 anos da imigração japonesa
• inauguração do ponto de cultura “cultivar a arte”
• lançamento do livro “Yuba” da fotógrafa Lucille Kanzawa onde a comunidade é
apresentada em um ensaio fotográfico
Comunidade Yuba
58. • 3.3.7 A RELIGIÃO
• A Religião é mais uma base do tripé do ideal de Issamu Yuba, sendo praticado pelos
seus integrantes livremente na Comunidade, independente da opção. A maioria é
constituída por protestantes. Sempre antes das refeições, é convocado um minuto de
oração por Katsuo Takimoto de formação cristã com a prática do itadakimasu que ‘eu
humildemente recebo’”, começando a reza com a palavra mokuto que quer dizer
“silêncio”. Logo após é feito um minuto de silêncio para que cada um fique livre para
fazer as orações individuais e no término de um minuto é proferido o naore, termo que
indica o fim da reza.
• Acreditamos que essa base comum para com os preceitos cristãos fortaleçam os laços
familiares de amizades e também facilite o perdão dado para aqueles moradores da
comunidade que possam por ventura se desentender com outros integrantes, ou que
vêem coisas erradas sem tirar satisfação com o próximo. O desapego a certos bens
materiais e a vida entregue ao trabalho e ao outro como forma de recompensa divina
após a morte também pode estar presente no pensamento de muitos membros da
comunidade. Portanto o desenvolvimento e a sustentação da comunidade durante
esses seus 75 anos de existência se deve também a religião.
•
Comunidade Yuba
59. • Para além do Tripé...
• ADMINISTRAÇÃO
• Desde o inicio das atividades da Comunidade Yuba em 1935, seu idealizador e criador
Issamu Yuba é quem tinha total controle em termos administrativos e financeiros da
comunidade, fato que durou até sua morte em 1976.
• Após este fato quem assumiu seu lugar foi seu filho primogênito Tetsuhiko Yuba que
também tinha total controle em termos administrativos e financeiros da comunidade,
sendo o único com poder de decisão nos rumos da comunidade.
• Após a morte de Tetsuhiko em 2003 é criada a Associação Comunidade Yuba dirigida
por uma diretoria: Presidente – Tesoureiro e Secretário que dividem os serviços
administrativos da comunidade.
• De 2003 até hoje houve poucas modificações nos cargos da associação
• Com isso houve uma maior descentralização de poder, onde antes ficava somente nas
mãos de uma pessoa, e hoje a diretoria decide a maioria dos rumos da comunidade –
do seu dia-a-dia.
• Porém quando há uma decisão muito importante que afetará o dia-a-dia da
comunidade é convocada assembléia geral onde todos tem o direito da palavra, onde
ocorrem as decisões em conjunto.
Comunidade Yuba
60. • Inclusão de moradores vindos de fora
• A vinda de pessoas de fora, ou seja, que não são nascidas na comunidade, e que
tenham a intenção de fixar moradia na comunidade é um assunto delicado. Todos
integrantes com quem conversamos afirmam que a comunidade é aberta a todos,
desde que se adéqüem ao “sistema Yuba” de vivência.
• Contudo, nos trabalhos de campo vimos uma grande presença de moradores que
vieram do Japão fixando moradia definitiva na comunidade
• desde a criação da comunidade ainda não houve nenhum caso de pessoas vindas de
fora, de outras nacionalidades (que não seja a japonesa) fazerem parte do quadro
efetivo e definitivo da comunidade.
• Um caso recente de tentativa de inserção de um brasileiro para fixar moradia na
ocorreu quando um brasileiro (vindo do sul – decendencia alemã) casou-se com uma
integrante da comunidade (filha do presidente) porém se fizeram sete assembléias e a
decisão final foi da não permanencia do casal dentro da comunidade
• Tendo em vista essa decisão da comunidade percebe-se que não há uma abertura para
pessoas vindas de fora, e que não seja de descendência ou propriamente japonesa de
fixar moradia na comunidade. Pessoas de outras descendências/nacionalidades são
aceitas para passar um tempo na comunidade, tendo a mesma vivência do dia-a-dia da
comunidade , porém nunca em definitivo, somente como “turistas”.
Comunidade Yuba
61. • 3.3.5 “CAIXA-COMUM”
• O “caixa-comum” é uma conta bancária, em que é depositada o dinheiro provindo das
vendas da maioria das produções da Comunidade , e de onde é retirado o dinheiro para
pagar contas e para cumprir os compromissos firmados com terceiros.
• responsabilidade do tesoureiro. Ele é quem faz o controle do dinheiro que entra e que
sai na Comunidade. E decide o que pode ou não ser comprado... No dia-a-dia.
• Já as coisas que requerem um gasto de dinheiro um pouco maior (como compra de um
maquinário novo, ou viagens para o Japão por exemplo) é decidido em reunião com a
diretoria. Porém em assembléia geral feita todo ano na comunidade a movimentação
do caixa-comum é apresentado para os demais integrantes da comunidade.
• o “caixa-comum” existe e funciona, porém com alguns problemas, pois após a morte de
Issamu Yuba foram-se constituindo outros “caixas” individuais. Isto ocorreu quando
algumas pessoas foram tendo total controle sobre o dinheiro provindo das vendas
destes produtos, contribuindo assim somente esporadicamente para o caixa-comum.
• Quanto as aposentadorias, cada aposentado fica com o valor total para gastar com o
que quiser
Comunidade Yuba
62. • Melhorias
• através dos relatos todos afirmaram que depois da criação da associação e da mudança
do sistema administrativo houve uma melhoria em todos os aspectos.
• Administração menos centralizada: com a criação da associação é a diretoria
(presidente, tesoureiro e secretário) na maioria das vezes, é que decidem em conjunto
os rumos da comunidade, conversando e discutindo idéias, fato que não existia antes
com Issamu e Tetsuhiko.
• Abertura maior para os jovens: conforme depoimentos podemos perceber uma maior
abertura e participação dos jovens nos rumos da comunidade com alguns inclusive
fazendo parte de cargos na diretoria.
• Maior entrada de dinheiro: com a mudança da comercialização que antes era feita
para sacolões como CEASA – CEAGESP, para ser vendida diretamente para
supermercados e quitandas, a renda provinda dessas vendas aumentaram.
• Maior número de pessoas que recebem aposentadoria: o numero de pessoas que
recebem aposentadorias na comunidade é de cerca de 15 idosos, e esse dinheiro é de
posse exclusiva do aposentado podendo gastar onde considera melhor.
Comunidade Yuba
63. • FUTURO estratégias
• Em conversa com o tesoureiro da comunidade ele nos informou que em breve a
comunidade irá instalar uma pequena industria de fazer polpa, doce caseiro e
alimentos em conserva:
• A mudança na maneira de retribuição pelo trabalho também já é um assunto que foi
levantado por Flávio Yuba:
• ...tava pensando assim, na industria de polpa pagar um salário, salário mínimo né. E
porcentagem né, pagar porcentagem pra pessoa que produz né.
• Compra e revenda
• Devido a diminuição de jovens e consequentemente o aumento de pessoas mais velhas
vivendo na comunidade acaba gerando um menor emprego na força de trabalho.
Portanto, outra estratégia que nos chama a atenção é a compra de produtos para a
revenda como é o caso do abacaxi, limão e milho verde.
Comunidade Yuba
64. • A COMUNIDADE YUBA COMO RESISTÊNCIA
• Histórico dos dados populacionais da comunidade em comparação com seu entorno
Comunidade Yuba
Tabela 1: Evolução populacional da mesorregião de Araçatuba
Ano Urbana Rural Total Variação(%
) Rural
1970 292032 189700 481723 -
1980 384836 106556 491392 - 43,82
1991 505417 72193 577610 - 32,24
2000 580749 54790 635539 - 24,10
2007 610046 51136 661183 - 6,66
Tabela 2: Evolução populacional do município de Mirandópolis
Ano Urbana Rural Total Variação (%)
Rural
1950 5563 21403 26866 -
1960 8554 17276 25830 - 19,28
1970 12295 11254 23549 - 34,85
1980 13973 7557 21530 - 32,85
1991 19476 4957 24433 - 34,40
2000 22287 3649 25936 - 26,38
2007 22258 3271 25849 - 10,35
65. Comunidade Yuba
Tabela 3: Evolução populacional de origem
japonesa e/ou descendentes no Bairro das
Alianças*
Ano Total Variação (%)
1934 4120 -
1938 5161 25,26
1941 5400 4,63
1950 4879 - 9,64
1960 5081 4,14
1970 3788 - 25,44
1980 2928 - 22,70
1993 775 - 73,53
2001 644 - 16,90
2003 625 - 2,95
2008 509 - 18,56
Tabela 4: Evolução populacional da Comunidade
Yuba
Ano
Total de
habitantes
Variação (%)
1935 25 -
1950 250 (auge) 900
1956 200* - 20,0
1960 110** - 45,0
1970 105*** - 4,54
1980 100 - 4,76
1992 90 - 10,0
1998 80 - 11,11
2003 69 - 13,75
2006 61 - 11,59
2010 57 -6,55
67. • A perda da população rural em 37 anos (1970-2007) na mesorregião de Araçatuba foi
de 73,04%. Comparado com o mesmo período a Comunidade Yuba perdeu 41,90% de
sua população.
• No município de Mirandópolis essa perda em 57 anos (1950-2007) foi de 84,71%. No
mesmo período a Comunidade Yuba perdeu 75,60% de seus integrantes, lembrando
que este período remete ao auge da comunidade.
• No bairro das Alianças perdeu-se em 67 anos (1941-2008) 90,57% da população, Já a
comunidade Yuba no período de seu auge (1950) até hoje (2010) passados 61 anos
perdeu 77,20% de seus integrantes.
• se levarmos em conta somente o período pós-divisão da Comunidade Yuba a perda de
população em 55 anos (1960-2011) foi de 48,18% ficando muito abaixo das regiões
comparados que praticamente no mesmo período ficaram com: Mesorregião (73,04%);
Mirandópolis (81,06%); Alianças (89,98%).
• EM TODOS OS CASOS A COMUNIDADE YUBA TEVE UMA MENOR PERDA DE
POPULAÇÃO
Comunidade Yuba
68. “E será ainda pelo trabalho em comum da terra que as sociedades
libertarias acharão de novo a sua unidade e [...] podendo desde já
conceber a solidariedade, esse poder imenso que centuplica a energia e
as forças criadoras do homem, a sociedade nova marchará à conquista
do futuro com todo o vigor da mocidade [...] procurando no próprio seio
precisões e gostos a satisfazer, a sociedade assegurará largamente a
vida e o bem-estar a cada um dos seus membros, ao mesmo tempo que
a satisfação moral que dá o trabalho livremente escolhido e livremente
executado a alegria de poder viver sem esbarrar na vida dos outros.
Inspirados numa nova audácia alimentada pelo sentimento de
solidariedade, todos marcharão juntos à conquista dos altos gozos do
saber e da criação artística”
Kropotkin em A Conquista do Pão