Alterações de crescimento celular: hiperplasia, hipertrofia, atrofia e adaptação
1. Alterações de crescimento
Profa. Dra. Simone Gusmão Ramos
Departamento de Patologia e Medicina Legal / FMRP USP
RNM 4216 – PATOLOGIA NUTRICIONAL
2.
3. ADAPTAÇÃO, LESÃO E MORTE
Miócito normal
Miócito lesado
(reversível)
Miócito adaptado
(hipertrofia)
Morte celular
Adaptação:
resposta ao
aumento da carga
4. Respostas celulares à agressão
Natureza dos estímulos nocivos Resposta celular
Estímulos fisiológicos ou patológicos Adaptações celulares
Aumento da demanda Hiperplasia, hipertrofia
Redução do estímulo Hipoplasia, atrofia
Irritação crônica Metaplasia
Agressão celular Lesão celular
Aguda e transitória Tumefação celular, Esteatose
Progressiva e intensa Morte celular (necrose, apoptose)
Alterações metabólicas, genéticas ou adquiridas,
agressão crônica
Acúmulos intracelulares, calcificação
Lesão subletal cumulativa ao longo do tempo de
vida
Envelhecimento celular
6. HIPERPLASIA
• Consiste no aumento do número de células de um órgão ou parte
dele, por aumento da proliferação e/ou por diminuição da apoptose.
• Só acontece em órgãos que contém células com capacidade
replicativa.
• Órgão com aumento de volume e peso.
• Produção de fatores de crescimento, seus receptores e ativação de
rotas intracelulares de estímulo para a divisão celular.
• Tem que haver: suprimento sanguíneo adequado, integridade celular
e inervação.
• Concomitante com hipertrofia.
• Tem limite.
• É reversível após cessação do estímulo.
• Pode ser fisiológica ou patológica.
7. HIPERPLASIA
PATOLÓGICA
FISIOLÓGICA
Ação de hormônios ou fatores
de crescimento durante a
adolescência
Ação dos hormônios durante
a gravidez
Endométrio no ciclo
menstrual
Compensatória da
regeneração hepática
Hematopoiese na medula
óssea
Hiperplasia mamária
Hiperplasia endometrial
Hiperplasia prostática
Infecções virais na pele
Infecções parasitárias no
intestino delgado
Pólipo intestinal
Células adiposas na
obesidade
10. Prometeu, grego: Προμηθεύς. Filho de Jápeto (filho
de Urano e Gaia ) e irmão de Atlas, Epimeteu e Menoécio. Foi
um defensor da humanidade, conhecido por sua astuta
inteligência, responsável por roubar o fogo de Héstia e o dar
aos mortais. Zeus (que temia que os mortais ficassem tão
poderosos quanto os próprios deuses) teria então punido-o por
este crime, deixando-o amarrado a uma rocha por toda a
eternidade enquanto uma grande águia comia todo dia
seu fígado - que crescia novamente no dia seguinte.
Prometeu, Atlas e a Águia do Cáucaso (530 a.C).
Escola Grega. Figura em negro.
Museu do Vaticano (Vaticano).
David Rubens
A capacidaderegenerativado fígado é conhecida há milênios...
Hiperplasia fisiológica e/ou patológica
11. Fígado normal
Uma regeneração adequada do fígado depende da integridade do interstício de
sustentação de toda a estrutura que compõe o lóbulo hepático.
Se houver perda dessa estrutura, ex. hepatites crônicas, alcoolismo, pode haver
regeneração, mas os hepatócitos se agrupam em “nódulos regenerativos” que se tornam
pouco funcionais já que são praticamente excluídos da circulação normal do órgão,
causando paulatinamente insuficiência hepática.
Fígado com nódulos
regenerativos na
cirrose hepática.
Interstício do fígado
impregnado pela prata.
15. BÓCIO TIREOIDIANO
O Bócio surge quando a glândula da tireoide
aumenta de tamanho, formando uma espécie
de nódulo ou caroço na região do pescoço,
que se torna mais arredondado e mais largo
do que o normal. O bócio geralmente
consegue ser facilmente observado sem
grande dificuldade, e ele pode ser simétrico,
assimétrico, composto por um nódulo ou por
um conjunto deles, sendo nestes casos
conhecido como bócio nodular ou
multinodular.
O bócio pode ter diversas causas, mas é
comum surgir quando surgem distúrbios no
funcionamento da tireoide, como
o hipertireoidismo ou hipotireoidismo, sendo
por isso recomendado consultar um
endocrinologista logo que possível, para que
possa investigar e tratar o problema.
16. HIPERTROFIA
É o aumento dos constituintes estruturais e das funções celulares resultando em aumento
volumétrico das células e dos órgãos afetados.
Para que ocorra hipertrofia:
a) fornecimento de O2 e nutrientes deve suprir o aumento de exigência das
células;
b) as células devem ter suas organelas e sistemas enzimáticos íntegros;
c) se dependem de estimulação nervosa devem ter a inervação conservada.
A hipertrofia pode ser fisiológica ou patológica.
A fisiológica ocorre em certos órgãos e em determinadas fases da vida como fenômenos
programados (ex. hipertrofia uterina na gravidez).
A patológica não é programada e surge por estímulos variados:
(1) hipertrofia do miocárdio (sobrecarga de volume – insuficiência valvar, shunts - ou
de pressão – hipertensão arterial sistêmica, estenose valvar);
(2) hipertrofia da musculatura esquelética (atletas ou trabalhadores que fazem
grande esforço físico);
(3) hipertrofia da musculatura lisa de órgãos ocos ou a montante de um
obstáculo (neoplasias, infecções parasitárias, obstrução urinária);
(4) hipertrofia dos neurônios (neurônios mioentéricos a montante da obstrução,
neurônios motores no hemisfério contralateral da lesão) e,
(5) hipertrofia dos hepatócitos (ex. barbitúricos – hipertrofia do REL).
17. Tecidos e órgãos hipertróficos mostram aumento de volume e peso.
Arquitetura básica inalterada mas com maior volume de sangue e
linfa.
Muitas vezes coexiste hiperplasia, especialmente quando há
sobrecarga de trabalho. Quando atingem determinado volume podem
se dividir ou estimular células tronco.
Quando as células não se dividem podem levar a poliploidia
(aumento do material genético). No miocárdio, os estímulos atuam
em numerosos genes que codificam diversas proteínas entre elas:
fatores de crescimento, receptores de fatores de crescimento e
proteínas estruturais.
É reversível; cessado o estímulo a célula volta ao normal.
Órgãos que sofreram hiperplasia e hipertrofia regridem por apoptose.
Na sobrecarga prolongada do miocárdio, as células hipertrofiadas
sofrem apoptose e podem contribuir para a insuficiência do órgão.
21. Os cornetos, ou conchas nasais,
são estruturas das paredes
laterais do nariz, composta por
mucosa, tecido esponjoso e
osso, que servem para aquecer
e umidificar o ar em sua
passagem pela cavidade nasal.
Hipertrofia/hiperplasia patológicas
22.
23. Ginecomastia
Ginecomastia é uma condição
masculina resultante da hipertrofia das
glândulas mamárias.
Costuma aparecer em meninos de
treze ou quatorze anos, como
consequência das alterações
hormonais da puberdade. Nesses
casos, as mamas crescem por
períodos de seis meses ou menos,
para depois retornar ao tamanho
normal. Em cerca de 5% das vezes,
entretanto, a hipertrofia persiste até a
vida adulta.
Crescimento exagerado das mamas é
mais frequente em homens mais
velhos. Ao exame físico, um a dois
terços daqueles com mais de 70 anos
apresentam uma ou as duas mamas
aumentadas.
Não confundir com obesidade:
aumento das mamas por gordura.
24. HIPERTROFIA CARDÍACA/
ESTENOSE CALCIFICADA DA VÁLVULA AÓRTICA
Espessura habitual do
ventrículo esquerdo:
Até 1,5 cm.
Válvula aórtica normal
Depósitos de
sais de cálcio na
face aórtica nos
folhetos
Estenose
calcificada
da aorta
28. Mais de metade dos homens com mais de 60 anos tem aumento da próstata.
Esta condição é denominada hiperplasia prostática benigna (HPB) ou
hipertrofia benigna da próstata. O sintoma mais comum da HPB é a vontade de
urinar com mais frequência, inclusive durante à noite.
Próstata
Bexiga
Pode levar à hipertrofia da musculatura lisa da bexiga pelo aumento do esforço
para eliminar a urina.
Hipertrofia da musculatura lisa da bexiga
29. ATROFIA/ HIPOTROFIA
• Redução quantitativa dos componentes estruturais e das
funções celulares, resultando em diminuição do volume das
células e dos órgãos atingidos.
• Em grego antigo: a-trofia significa carência de alimento.
• Pode ser fisiológica ou patológica.
• Pode ser sistêmica ou localizada.
• Lembrem-se: congenitamente pouco desenvolvido –
hipoplasia; nunca desenvolvido – aplasia; sem orifício –
atresia; involução se superpõe a atrofia.
30. Deleção celular – algumas células se tornam obsoletas ou dispensáveis
e são induzidas a cometer suicídio = morte programada ou apoptose. Essa ordem
sofre uma certa hierarquia: então células mais especializadas morrem primeiro.
Ex: glândulas perdem o epitélio primeiramente.
Encolhimento celular – seria uma diminuição dos componentes
celulares. Mais comum
proteólise por duas vias:
no músculo esquelético. Normalmente recorre a
via fagossomo-lisossomo (autofagocitose) e via
ubiquitina- proteassomo ATP-dependente (colocar em português!).
NEM TODOS OS MECANISMOS ESTÃO COMPLETAMENTE ESCLARECIDOS.
MECANISMOS DE ATROFIA
• Fisiológica: desenvolvimento fetal; perda de função (timo); útero e mamas no puerpério; senilidade.
• Patológica: inanição (deficiência nutricional); desuso (braço engessado); compressão (pressão por
lesão expansiva); obstrução vascular (hipotrofia renal); substâncias tóxicas (chumbo); hormônios
(senilidade) ; inervação (poliomielite) e inflamações crônicas.
31. • Diminuição da função: membro engessado.
• Inanição: geral, cérebro e células adiposas.
• Suprimento sanguíneo inadequado: órgãos internos, especialmente
rins e cérebro.
• Pressão local: tumores.
• Oclusão de um ducto: rins, testículos pós-vasectomia, pâncreas.
• Hormônios: glândulas endócrinas, hormônios tróficos.
• Idade avançada: diminuição da massa muscular e de órgãos vitais.
• Desnervação:poliomielite.
• Agentes tóxicos e drogas: medula óssea.
• Mecanismos imunológicos: gastrite atrófica na anemia perniciosa.
• Condições sem germes: camundongos germ-free.
• Inflamação crônica: pancreatite crônica.
CAUSAS DE ATROFIA
34. Gastrite crônica
Pancreatite crônica
http://ar.utmb.edu/webpath/ http://anatpat.unicamp.br/
Pâncreas normal
Mucosa gástrica normal
Observem a
altura das
glândulas na
mucosa gástrica
normal em
comparação com
o achatamento e
tortuosidade das
glândulas na
gastrite crônica.
Observem o
parênquima
pancreático normal (ao
lado) em comparação
com a perda de
glândulas com
substituição por fibrose
e infiltrado inflamatório
crônico na pancreatite
crônica. FIBROSE
35. MODULAÇÃO E METAPLASIA
Alterações fenotípicas a estímulos ambientais são comuns nas
células.
Células podem ligar ou desligar genes, mudar sua função,
adaptar-se ao meio ambiente.
Que tipos de alterações occorem:
Modulação: termo introduzido por biologistas e se refere a
alterações fenotípicas leves e reversíveis.
Metaplasia: termo cunhado por Virchow que significa
reposição de células de um tipo por um outro tipo de célula ;
também (potencialmente) reversível.
36. MODULAÇÃO
Pode ocorrer em qualquer tipo de célula em algumas
horas e não requer divisão celular.
Não é uma alteração considerada patológica mas
uma adaptação transitória a diferentes necessidades
e/ou estímulos.
As células permanecem reconhecíveis como
membro da família, ou seja, da linhagem.
37. Dissertação de mestrado de aluna do
DPML: inserção de um pino em forma
de cogumelo na aorta de ratos Wistar
para simular uma placa aterosclerótica
e propiciar turbilhonamento com
formação de trombo local e posterior
sedimentação dos componentes do
trombo antes e após o pino.
Abaixo vejam que o colorido e a seta
mostram o local da estenose da aorta
com consequente turbilhonamento do
fluxo sanguíneo no doppler diminuindo
para restituição da passagem do
sangue após 30 dias de experimento
(letra D).
38. Células modulam em resposta a fatores solúveis (vitaminas, citocinas) ou
à natureza do substrato (quando em cultura!).
Trombo formado após a
colocação do pino.
Trombo
PDGF
PDGF: fator estimulador de plaquetas presente
no trombo que estimulou as células musculares
lisas da parede da aorta a sofrerem modulação
da forma contrátil para uma forma sintética
(miofibroblastos) e migrarem para o trombo.
A. Célula muscular lisa (SMC)migrando
através da lâmina elástica interna
(IEL) da camada média para a íntima.
B. Células musculares lisas após a
migração para a camada íntima da
aorta onde estava o trombo. EC:
célula endotelial. ECM; matriz
extracelular.
Trombo organizado após a migração
dos miofibroblastos e deposição de
matriz extracelular e colágeno.
Trombo organizado
40. ALTERAÇÕES PRECURSORAS NO
CÂNCER DE PULMÃO
Epitélio normal
Epitélio normal
Metaplasia escamosa
Displasia
Leve
Moderada
Grave
Carcinoma in situ
Carcinoma invasivo
Normal
Metaplasia escamosa
41. ESÔFAGO DE BARRETT
O esôfago de Barrett (EB) é uma condição patológica adquirida,
caracterizada pela substituição do epitélio estratificado pavimentoso
do esôfago por epitélio colunar especializado do tipo intestinal.
Ocorre em pacientes com doença do refluxo gastroesofágico de
longa duração, sendo que outros agentes etiológicos têm sido
investigados nos últimos anos, incluindo obesidade, alguns tipos de
alimento e alimentação rica em nitritos e nitratos. Identificada à
endoscopia digestiva alta como mucosa do tipo colunar, sendo que,
ao exame histopatológico, as biópsias demonstram a presença de
metaplasia intestinal. Geralmente, o EB encontra-se acima da junção
esofagogástrica em extensões variáveis. A identificação endoscópica
do EB pode ser difícil, especialmente no EB curto, por não haver
limites anatômicos que definam a região do esfíncter inferior do
esôfago.
A importância biológica do EB é o risco para câncer. Cerca de 10%
dos pacientes portadores de EB desenvolvem adenocarcinoma no
terço inferior do esôfago. Estudos de carcinogênese demonstram que
a displasia é a etapa que precede o aparecimento da neoplasia em
nível macroscópico. Corresponde, histologicamente, à neoplasia em
localização intra-epitelial. Caracteriza-se por atipias celulares
confinadas ao epitélio, sem invasão da membrana basal. O
diagnóstico de displasia é baseado em alterações citológicas e
estruturais.
No tratamento de pacientes com esôfago de Barrett, podemos
considerar duas finalidades, o efeito sobre o epitélio metaplásico,
tanto no sentido de limitar sua progressão quanto no de promover
sua regressão, e a prevenção do desenvolvimento do
adenocarcinoma. Para tal, dois tipos de tratamento são utilizados: o
clínico, que emprega inibidores de bomba de prótons, e o cirúrgico
que seria o fundo-plicatura. Ainda é preciso salientar a ausência de
trabalhos bem conduzidos que comparem os tratamentos clínico e
cirúrgico, mas é imprescindível que o tratamento comece o quanto
antes, pois pode fazer diferença em um melhor prognóstico. Muito
importante, também, é a vigilância endoscópica em todas as
modalidades de tratamento.
Projeto Diretrizes - Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva. Disponível em:
http://sobed.org.br/wp-content/uploads/2013/10/EsofagodeBarrett.pdf