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ENLOUQUECENDO O SUBJÉTIL: A NARRATIVA VISUAL
DE EXTREMELY LOUD & INCREDIBLY CLOSE
Fernanda Borges1
ABSTRACT: This work aims to show how the narration of the novel Extremely loud &
incredibly close, written by Jonathan Safran Foer, maddens his subjetil, according to the
concepts of Jacques Derrida, i.e., how this narration through images – cheating language, as
Roland Barthes explains - subverts the traditional support of literature to tell a story beyond
the limits of the words. The writing is realized also through photographs, drawings, silent
white pages, pictures in sequence. Thus, the subjetil is not only an intermediate to the
transposition, to the translation, but a creative part of the work because it is valued as an
object, as an artifact. Jonathan Safran Foer in Extremely loud & incredibly close turns the
book an art object, which can gather photography and cinema in its pages.
KEYWORDS: Visual narrative, hybridism, Jonathan Safra Foer
RESUMO: Este trabalho tem como objetivo evidenciar como a narração do romance
Extremely loud & incredibly close, de Jonathan Safran Foer, enlouquece seu subjétil, de
acordo com os conceitos de Jacques Derrida, ou seja, como a narração através de imagens –
trapaceando a língua, conforme explicita Roland Barthes –, subverte o suporte tradicional da
literatura ao contar uma história ultrapassando os limites da palavra. A escritura realiza-se
também por meio de fotografias, de desenhos, de páginas brancas silenciosas, de imagens em
sequência. Dessa forma, o subjétil não é somente o intermediário da transposição, da
tradução, mas parte criativa da obra ao ser valorizado como objeto, como artefato. Jonathan
Safran Foer, em Extremely loud & incredibly close, torna o livro um objeto de arte, que pode
reunir a fotografia e o cinema em seu interior.
PALAVRAS-CHAVE: Narrativa visual, hibridismo, Jonathan Safran Foer
Este trabalho tem como objetivo evidenciar como a narração do romance Extremely
loud & incredibly close, de Jonathan Safran Foer, enlouquece seu subjétil, de acordo com os
conceitos de Jacques Derrida, ou seja, como a narração através de imagens –trapaceando a
língua, conforme explicita Roland Barthes –, subverte o suporte tradicional da literatura ao
                                                            
1
 Doutoranda em Teoria da Literatura na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do
Sul (PUCRS).
 
contar uma história ultrapassando os limites da palavra. Nesse romance, Foer ultrapassa o
formato tradicional do livro a partir da utilização de diversos recursos visuais para expressar a
subjetividade e a observação aguçada do menino Oskar Schell. Como narrador, o sensível
garoto de nove anos que perdeu o pai nos incidentes de 11 de setembro descreve a sua busca
por informações sobre uma chave encontrada entre os pertences de seu pai. Assim, a procura
pelo objeto a que a chave pertence constitui-se como o processo psicológico de Oskar na
superação de um trauma. O romance conta ainda com mais dois narradores, os avós paternos
do menino, os quais relatam suas experiências durante a Segunda Guerra Mundial e suas
histórias de vida, estabelecendo uma conexão entre os dois acontecimentos traumáticos na
trajetória da família Schell.
As histórias de Oskar e de seus avós são narradas também através de imagens, de
fotografias e a partir de uma disposição textual peculiar. Ao longo da obra, diversas imagens
colecionadas pelo garoto ou fotografadas por ele ilustram o seu modo de pensar e de agir. O
leitor é aproximado visualmente do universo do narrador, tendo um retrato das pessoas e dos
lugares visitados por ele durante sua busca pelo significado da chave. O menino Oskar Schell
trapaceia a língua ao inserir-nos em seu universo visual, utilizando-se de artimanhas infantis,
e não por isso menos maduras. Em aula pronunciada em janeiro de 1977, Roland Barthes
afirma:
Mas a nós, que não somos nem cavaleiros da fé nem super-homens, só resta, por
assim dizer, trapacear com a língua, trapacear a língua. Essa trapaça salutar, essa
esquiva, esse logro magnífico que permite ouvir a língua fora do poder, no esplendor
de uma revolução permanente da linguagem, eu a chamo, quanto a mim: literatura.
(BARTHES, 2007, p. 16)
O autor enfatiza o trabalho de deslocamento sobre a língua, o jogo textual estabelecido
pela literatura: “(...) o texto é o próprio aflorar da língua, e porque é no interior da língua que
a língua deve ser combatida, desviada: não pela mensagem de que ela é o instrumento, mas
pelo jogo das palavras de que ela é o teatro”. (Op.cit., p. 16) Logo, se devemos trapacear a
língua de seu interior, para que haja renovação e inovação na literatura e, consequentemente,
nos estudos literários, e se “toda imagem é, de certo modo, uma narrativa” (Op.cit., p. 37), por
constituir-se enquanto texto e ser permeada pela metalinguagem, trapacear a língua é também
narrar fotografando, fotografar narrando.
A narração da história ultrapassa a disposição tradicional do que concebemos como
romance ao trazer ao leitor fragmentos do álbum de Oskar e algumas fotografias feitas por
ele. Tais imagens demonstram como o menino se inscreve no mundo, pois se constituem
como uma seleção do narrador daquilo que se inscreve nele. Desse modo, as diversas
imagens, retiradas da internet e impressas por ele de acordo com o seu interesse, bem como as
diversas fotografias que fazem parte de seu álbum particular durante a peregrinação em busca
do segredo por trás da chave, constituem o foco principal deste trabalho por contribuírem para
pensarmos um tipo de narrativa que se constitui pela incorporação de elementos visuais, não
somente como ilustração do narrado, mas como parte da narração.
 
Figura 4: Foto que registra uma das visitas realizadas por Oskar
Ainda, essa característica de narrativa imagética dá-se a partir do reflexo visual na
disposição do texto dos conteúdos narrados. Quando o menino escuta atrás da porta a
conversa entre sua mãe e seu terapeuta, a narrativa demonstra visualmente o que é apreendido
por Oskar no diálogo.
 
Figura 5: Texto fragmentado que reproduz o que é ouvido por Oskar.
As inovações tipográficas, ou a ausência delas, também revelam o trauma vivenciado
pelo avô do protagonista durante a Segunda Guerra Mundial. Após presenciar bombardeios
nazistas e a morte de sua família, Thomas Schell não pronuncia uma única palavra sequer. A
comunicação através da escrita, por meio de um pequeno caderno que a personagem carrega
consigo, é refletida na disposição textual do livro, que praticamente reproduz as páginas
escritas por Thomas. Com uma frase em cada lado da folha, ele se comunica de modo sucinto
e ágil na maioria das vezes, e tal procedimento é retratado visualmente no romance.
 
Figura 6: Caderno de Thomas Schell.
Seus momentos de silêncio, as ausências de suas respostas, são representados por
páginas em branco; suas mãos escritas à caneta também são retratadas, suas cartas em um
inglês pouco formal têm as palavras sublinhadas e circuladas por Oskar, como constituintes
da narrativa, como narração e descrição no romance.
 
Figura 7: Mãos de Thomas Schell
E o ápice desta justaposição de gêneros diferentes – cartas, fotografias, figuras, textos
de revista – está no desfecho da obra, na aceitação de Oskar da perda de seu pai e na
iluminação da memória. O cinema é popularmente reconhecido como a arte que pode reunir
todas as demais, unindo-as em um contexto comum. Através da utilização de um “cinema de
bolso”, como também são conhecidos os flip books, a partir da organização e justaposição de
imagens em movimento, Oskar encerra a narração de sua trajetória em busca do segredo da
chave e ilustra um princípio de compreensão para a perda do pai. Alterando a lei da
gravidade, da ordem dos acontecimentos, o menino monta o seu pequeno filme, em que o
corpo que cai do topo de uma das torres do World Trade Center faz o movimento inverso,
emergindo do solo ao céu em segurança. A pequena história contada através de imagens ao
término do livro, além de representar uma tentativa de superação da dor, realiza uma fusão de
alguns meios em que as histórias se fazem presentes e podem ser narradas, ampliando a
concepção tradicional de que dispúnhamos do livro como objeto e mídia. Foer, em Extremely
loud & incredibly close, torna o livro um objeto de arte, que pode reunir a fotografia e o
cinema em seu interior.
 
Figura 9: Fragmento do flip book feito por Oskar.
Quanto à aproximação entre literatura e artes visuais, de acordo com a Semiótica, a
possibilidade de diálogo entre as áreas ocorre devido à ideia de que um filme, uma pintura,
uma fotografia, também se constituem como texto, como uma unidade de discurso passível de
leitura e análise. Considera-se que “todo texto se constrói como mosaico de citações, todo
texto é absorção e transformação de um outro texto.” (KRISTEVA, 1974, p.64) Assim toda
obra literária se constrói como uma rede de influências e relações com textos literários
preexistentes e com sistemas de significação não-literários, como as linguagens visuais ou a
música. Daí a importância de seu estudo: “A verdade literária como a verdade histórica, só
pode constituir-se na multiplicidade dos textos e das escritas – na intertextualidade.”
(JENNY,1979, p.47)
A comparação e análise entre duas ou mais artes envolve basicamente critérios
estéticos. A transposição de um texto em outro, de um sistema em outro, dialoga
automaticamente com a obra original, ou primeiro sistema, e tal relação por si só constitui-se
como valor estético: “o autor pode se servir da palavra de outrem, para nela inserir um sentido
novo, conservando sempre o sentido que a palavra já possui.” (KRISTEVA, 1974, p.72) O
acréscimo só é possível porque previamente semelhanças são consideradas, porque todas as
artes podem imiscuir-se umas nas outras por serem instrumentos de expressão humana.
A partir da reflexão semiológica no que concerne à imagem, Christian Metz aponta
que o estatuto analógico e a iconicidade das artes visuais compartilham muitas vezes o
estatuto linguístico, verbal, por ambos constituírem-se como objetos discursivos.
(...) a semiologia da imagem se fará ao lado da semiologia dos objetos linguísticos
(e por vezes em intersecção com ela, pois muitas mensagens são mistas: não se trata
apenas das imagens cujo conteúdo manifesto comporta menções escritas, mas
igualmente das estruturas linguísticas que estão, subterrâneas à obra, na própria
imagem, assim como figuras visuais que, em troca, contribuem para informar a
estrutura das línguas). (METZ, 1973, p. 9)
A semiologia da imagem, portanto, convive com pressupostos da semiologia geral, ou
seja, é um sistema comunicativo absorvido pela cultura e em constante diálogo com ela. Metz
também afirma que a língua pode estar em torno da imagem, na legenda que a acompanha,
por exemplo; e também “por baixo” dela, constituindo comentários críticos ou sua
significação. Muitas artes ditas como “visuais”, o cinema falado e mesmo imagens com
legendas, são na verdade textos mistos, híbridos, formados por vários sistemas. Entretanto,
independentemente disso, a metalinguagem acaba por se fazer presente em todos esses
sistemas.
Frequentemente, refletir sobre a imagem não consiste em produzir imagens, mas sim
em produzir palavras. Nesta situação, pode-se perceber (e é a reação mais difundida)
um clássico fenômeno de metalinguagem: a língua serve de metalinguagem às mais
diversas linguagens-objeto, e mesmo aquelas que não são linguísticas. Pode-se
igualmente (e é a posição de Jean-Louis Schefer) dar uma interpretação mais radical
à questão, e então deslocar a língua para a escrita: a imagem só existe pelo que aí se
lê. Mas a verdade, nos dois casos, é que a semiologia do visual não é essencialmente
uma atividade visual. Mais uma razão para o reino das imagens se recusar a fechar-
se em si mesmo (= mito da pureza visual). (op.cit, p. 17)
É majoritariamente através da linguagem verbal que expressamos opiniões,
pensamentos e sentimentos acerca de uma obra. Externar uma perspectiva crítica e subjetiva,
ao defrontarmo-nos com o objeto artístico, exige esse tipo de articulação por ser o meio que
utilizamos em nossa comunicação usual. Por mais que a arte reflita a si mesma através de
releituras de obras já produzidas ou através da influência entre artistas, para o público leigo,
são as palavras que possibilitam, na maioria das vezes, a expressão da emoção estética. Como
exemplo da interligação entre os sistemas semióticos e de sua permeação pela linguagem
verbal, Metz enfatiza a multiplicidade da pintura.
[...] um quadro é uma imagem, mas não é apenas isto; ou antes, a imagem, nele, é
intimamente atravessada por mil configurações que, ao mesmo tempo, nos levam
muito longe dela e nos introduzem em seu núcleo; até um certo ponto, o quadro não
é outra coisa senão a leitura que dele se faz: narração, descrição, cenário. (op.cit, p.
15)
Mesmo nas artes visuais não-figurativas, a leitura da obra está presente, o que já
caracteriza seu hibridismo. Além disso, cabe ressaltar, ante uma perspectiva histórica, que a
fusão entre as linguagens visual e verbal faz parte dos limiares do conhecimento e da arte,
uma vez que os remete aos hieróglifos egípcios, às cerâmicas gregas, aos ideogramas
chineses, às iluminuras nos manuscritos, à arte renascentista, à obra de William Blake, à
poesia visual simbolista, aos movimentos de vanguarda e, contemporaneamente, às obras de
Jonathan Safran Foer, por exemplo.
Dessa forma, a presença de visualidade na literatura demonstra os limiares
interartísticos e as características lúdicas de alguns textos. Assim como a literatura utiliza a
iconicidade, as artes visuais também utilizam a linguagem verbal, a saber, nas colagens
cubistas e futuristas repletas de palavras recortadas, constituintes da obra não somente por seu
significado, mas sobretudo por sua presença visual.Tais colagens questionam a arte como
representação da realidade, pois aquela torna-se concepção, e não simplesmente imitação. Do
mesmo modo, o processo criativo passa a fazer parte da obra de arte, assim como seu produto
final.
Analisando a obra de Antonin Artaud, Jacques Derrida recupera da terminologia da
pintura o conceito de subjétil, mencionado por Artaud em algumas de suas cartas.
Originalmente designando um suporte, uma superfície utilizada pelas artes plásticas, como a
tela ou o gesso, e que dá materialidade à obra, o subjétil é reinventado e atualizado na
abordagem realizada pelo teórico argelino na análise dos textos do poeta. O mote apontado
por Derrida para o início da discussão é a afirmação de Artaud de que o subjétil o havia
traído, uma vez que era prática do autor desenhar em suas cartas, e a traição do subjétil o
havia impedido de expressar-se do modo pretendido.
Primeiramente, um desenho pode fazer parte de uma carta; o que é totalmente
diferente de acompanhá-la. Incorpora-se a ela, já que se encontra separado somente
a título de “parte rasgada”. Depois, pode-se entender trair num sentido muito
particular: faltar à promessa, renegar o projeto, subtrair-se ao controle, mas de modo
a revelar a verdade assim traída. Traduzi-la e arrastá-la para a luz do dia. A traição
do subjétil teria tornado o desenho “demasiado revelador”, de uma verdade tão
insuportável que Artaud julgou necessário destruir-lhe o suporte. Este se mostrou
mais forte do que ele, e, por não ter dominado o rebelde, Artaud o teria arrancado.”
(DERRIDA, 1998, p. 24)
   
Constituindo-se como parte da escrita, como texto, os desenhos de Artaud, por
exemplo, “enlouquecem” o subjétil, pois o transgridem, agridem-no, fazem-no suportar o que
nele não é usual. Derrida afirma que o poeta “nunca escreve sobre seus desenhos e pinturas,
mas antes diretamente neles. O subjétil deve ser levado à loucura, sem obedecer às regras
convencionais de sentido ou de referência, sem o intuito da comunicação, da linguagem
utilitária. Enlouquecer o subjétil é ultrapassar e estraçalhar as fronteiras entre as artes e seus
suportes, habitar o limiar, uma vez que, segundo Artaud, a pintura, e a arte de um modo geral,
é grande ao emocionar o ouvido ao mesmo tempo que o olho, ou seja, ao unir todos os nossos
sentidos na emoção estética. Desse modo, a pintura deve ser mais que pintar, e a literatura,
mais que escrever simplesmente, pois a arte é plural em si.
Para enlouquecer o subjétil, portanto, é preciso negar, retalhar, destruir e reconstruir
noções tidas como tradicionais ou convencionais, as quais incutem docilidade ao artista e à
sua criação, como afirma Artaud.
Esse desenho como todos os meus outros desenhos não é o de um homem que não
sabe desenhar, mas o de um homem que abandonou o princípio do desenho e que
quer desenhar na sua idade, na minha, como se nunca houvesse aprendido nada por
princípio, por lei ou por arte, mas unicamente pela experiência do trabalho, e eu
deveria dizer não – instantânea mas instante, quero dizer imediatamente merecida.
Merecida em relação a todas as forças que no tempo e no espaço contrapõem-se ao
trabalho manual, e não somente manual mas nervoso e físico da criação. (op.cit, p.
78)
Negar a tradição, nesse caso, é perceber na pintura não apenas as tintas, os objetos, os
suportes materiais; é perceber no desenho o que há além do traçado; na literatura, além da
narração, da disposição linear das palavras. Desvencilhar-se da tradição é perceber que a arte
está além de suas convenções, está na sua expressão, e esta nunca é estritamente coesa ou
homogênea, mas heterogênea e plural, manifesta nos limiares das artes. Assim, “(...) era
necessário descartar-se de uma linguagem de palavras sem espaço e sem desenho, da
‘literatura’ dos escritores, para deixar nascer uma nova linguagem: nova partida para uma
língua na qual escritura, música, cor e desenho não se afastariam mais um do outro.” (op.cit,
p. 95)
Tais características também podem ser percebidas na obra de Jonathan Safran Foer,
uma vez que “enlouquece” o subjétil ao ser escrita além das palavras. A escritura realiza-se
também por meio de fotografias, de desenhos, de páginas brancas silenciosas, de imagens em
sequência, de recortes. Dessa forma, o subjétil não é somente o intermediário da transposição,
da tradução, mas parte criativa da obra ao ser valorizado como objeto, como artefato.
Artaud magistralmente esclarece e abarca a teoria ao refletir sobre sua obra.
Esse desenho é uma tentativa séria de dar vida e existência àquilo que até hoje
jamais foi recebido na arte, a dilapidação do subjétil, a inabilidade lastimável das
formas que desmoronam em torno de uma ideia depois de ter por tantas eternidades
estafado para reunir-se a ela. A página está suja e defeituosa, o papel amassado, as
personagens desenhadas pela consciência de uma criança. (op.cit, p. 96)
A página foi incendiada e deve continuar sendo, literalmente, não apenas
metaforicamente. E Derrida completa: “O suporte é ‘posto em movimento e recortado em
figura’ pelas coisas que o ‘penetram’. E, no entanto, deve continuar heterogêneo a tudo o que
recebe (...) bastante amorfo para tomar sobre si todas as formas”. (op.cit, p. 111) Desafiar os
limites da tradição, apagar as fronteiras interartísticas, escrever no limiar da literatura, da arte
visual: eis o que o subjétil permite que façamos levando-o à loucura.
Os limiares da criação artística na obra de Jonathan Safran Foer, o trânsito e o
imbricamento de discursos, constituem-se como os pilares do estudo aqui proposto, uma vez
que a abordagem interdisciplinar enfatiza as zonas limiares que ultrapassam fronteiras
instituídas e inauguram, desse modo, uma nova perspectiva para os estudos literários e
artísticos, centrada no hibridismo dos textos e no contato entre palavra e imagem.
BIBLIOGRAFIA
BARTHES, Roland. Artaud: escrita/figura. In: ______. Inéditos, vol.2: Crítica. Tradução
Ivone Castilho Benedetti. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
BARTHES, Roland. Aula. Tradução de Leyla Perrone-Moisés. São Paulo: Cultrix, 2007.
DERRIDA, Jacques. Enlouquecer o subjétil. Tradução Geraldo Gerson de Souza. São Paulo:
UNESP, 1998.
FOER, Jonathan Safran. Extremely loud & incredibly close. London: Penguin Books, 2006.
JENNY, Laurent. A estratégia da forma. In: Intertextualidades. Coimbra: Livraria Almedina,
1979.
KRISTEVA, Julia. Introdução à semanálise. Tradução Lúcia Helena França Ferraz. São
Paulo: Perspectiva, 1974.
METZ, Christian. Além da Analogia, a Imagem. In: METZ, Christian (et al). A análise das
imagens. Tradução de Luís Costa Lima e Priscila Vianna de Siqueira. Petrópolis: Vozes,
1973.

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ENLOUQUECENDO O SUBJÉTIL: A NARRATIVA VISUAL DE EXTREMELY LOUD & INCREDIBLY CLOSE

  • 1. ENLOUQUECENDO O SUBJÉTIL: A NARRATIVA VISUAL DE EXTREMELY LOUD & INCREDIBLY CLOSE Fernanda Borges1 ABSTRACT: This work aims to show how the narration of the novel Extremely loud & incredibly close, written by Jonathan Safran Foer, maddens his subjetil, according to the concepts of Jacques Derrida, i.e., how this narration through images – cheating language, as Roland Barthes explains - subverts the traditional support of literature to tell a story beyond the limits of the words. The writing is realized also through photographs, drawings, silent white pages, pictures in sequence. Thus, the subjetil is not only an intermediate to the transposition, to the translation, but a creative part of the work because it is valued as an object, as an artifact. Jonathan Safran Foer in Extremely loud & incredibly close turns the book an art object, which can gather photography and cinema in its pages. KEYWORDS: Visual narrative, hybridism, Jonathan Safra Foer RESUMO: Este trabalho tem como objetivo evidenciar como a narração do romance Extremely loud & incredibly close, de Jonathan Safran Foer, enlouquece seu subjétil, de acordo com os conceitos de Jacques Derrida, ou seja, como a narração através de imagens – trapaceando a língua, conforme explicita Roland Barthes –, subverte o suporte tradicional da literatura ao contar uma história ultrapassando os limites da palavra. A escritura realiza-se também por meio de fotografias, de desenhos, de páginas brancas silenciosas, de imagens em sequência. Dessa forma, o subjétil não é somente o intermediário da transposição, da tradução, mas parte criativa da obra ao ser valorizado como objeto, como artefato. Jonathan Safran Foer, em Extremely loud & incredibly close, torna o livro um objeto de arte, que pode reunir a fotografia e o cinema em seu interior. PALAVRAS-CHAVE: Narrativa visual, hibridismo, Jonathan Safran Foer Este trabalho tem como objetivo evidenciar como a narração do romance Extremely loud & incredibly close, de Jonathan Safran Foer, enlouquece seu subjétil, de acordo com os conceitos de Jacques Derrida, ou seja, como a narração através de imagens –trapaceando a língua, conforme explicita Roland Barthes –, subverte o suporte tradicional da literatura ao                                                              1  Doutoranda em Teoria da Literatura na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).  
  • 2. contar uma história ultrapassando os limites da palavra. Nesse romance, Foer ultrapassa o formato tradicional do livro a partir da utilização de diversos recursos visuais para expressar a subjetividade e a observação aguçada do menino Oskar Schell. Como narrador, o sensível garoto de nove anos que perdeu o pai nos incidentes de 11 de setembro descreve a sua busca por informações sobre uma chave encontrada entre os pertences de seu pai. Assim, a procura pelo objeto a que a chave pertence constitui-se como o processo psicológico de Oskar na superação de um trauma. O romance conta ainda com mais dois narradores, os avós paternos do menino, os quais relatam suas experiências durante a Segunda Guerra Mundial e suas histórias de vida, estabelecendo uma conexão entre os dois acontecimentos traumáticos na trajetória da família Schell. As histórias de Oskar e de seus avós são narradas também através de imagens, de fotografias e a partir de uma disposição textual peculiar. Ao longo da obra, diversas imagens colecionadas pelo garoto ou fotografadas por ele ilustram o seu modo de pensar e de agir. O leitor é aproximado visualmente do universo do narrador, tendo um retrato das pessoas e dos lugares visitados por ele durante sua busca pelo significado da chave. O menino Oskar Schell trapaceia a língua ao inserir-nos em seu universo visual, utilizando-se de artimanhas infantis, e não por isso menos maduras. Em aula pronunciada em janeiro de 1977, Roland Barthes afirma: Mas a nós, que não somos nem cavaleiros da fé nem super-homens, só resta, por assim dizer, trapacear com a língua, trapacear a língua. Essa trapaça salutar, essa esquiva, esse logro magnífico que permite ouvir a língua fora do poder, no esplendor de uma revolução permanente da linguagem, eu a chamo, quanto a mim: literatura. (BARTHES, 2007, p. 16) O autor enfatiza o trabalho de deslocamento sobre a língua, o jogo textual estabelecido pela literatura: “(...) o texto é o próprio aflorar da língua, e porque é no interior da língua que a língua deve ser combatida, desviada: não pela mensagem de que ela é o instrumento, mas pelo jogo das palavras de que ela é o teatro”. (Op.cit., p. 16) Logo, se devemos trapacear a língua de seu interior, para que haja renovação e inovação na literatura e, consequentemente, nos estudos literários, e se “toda imagem é, de certo modo, uma narrativa” (Op.cit., p. 37), por constituir-se enquanto texto e ser permeada pela metalinguagem, trapacear a língua é também narrar fotografando, fotografar narrando. A narração da história ultrapassa a disposição tradicional do que concebemos como romance ao trazer ao leitor fragmentos do álbum de Oskar e algumas fotografias feitas por ele. Tais imagens demonstram como o menino se inscreve no mundo, pois se constituem como uma seleção do narrador daquilo que se inscreve nele. Desse modo, as diversas
  • 3. imagens, retiradas da internet e impressas por ele de acordo com o seu interesse, bem como as diversas fotografias que fazem parte de seu álbum particular durante a peregrinação em busca do segredo por trás da chave, constituem o foco principal deste trabalho por contribuírem para pensarmos um tipo de narrativa que se constitui pela incorporação de elementos visuais, não somente como ilustração do narrado, mas como parte da narração.   Figura 4: Foto que registra uma das visitas realizadas por Oskar Ainda, essa característica de narrativa imagética dá-se a partir do reflexo visual na disposição do texto dos conteúdos narrados. Quando o menino escuta atrás da porta a conversa entre sua mãe e seu terapeuta, a narrativa demonstra visualmente o que é apreendido por Oskar no diálogo.
  • 4.   Figura 5: Texto fragmentado que reproduz o que é ouvido por Oskar. As inovações tipográficas, ou a ausência delas, também revelam o trauma vivenciado pelo avô do protagonista durante a Segunda Guerra Mundial. Após presenciar bombardeios nazistas e a morte de sua família, Thomas Schell não pronuncia uma única palavra sequer. A comunicação através da escrita, por meio de um pequeno caderno que a personagem carrega consigo, é refletida na disposição textual do livro, que praticamente reproduz as páginas escritas por Thomas. Com uma frase em cada lado da folha, ele se comunica de modo sucinto e ágil na maioria das vezes, e tal procedimento é retratado visualmente no romance.   Figura 6: Caderno de Thomas Schell. Seus momentos de silêncio, as ausências de suas respostas, são representados por páginas em branco; suas mãos escritas à caneta também são retratadas, suas cartas em um
  • 5. inglês pouco formal têm as palavras sublinhadas e circuladas por Oskar, como constituintes da narrativa, como narração e descrição no romance.   Figura 7: Mãos de Thomas Schell E o ápice desta justaposição de gêneros diferentes – cartas, fotografias, figuras, textos de revista – está no desfecho da obra, na aceitação de Oskar da perda de seu pai e na iluminação da memória. O cinema é popularmente reconhecido como a arte que pode reunir todas as demais, unindo-as em um contexto comum. Através da utilização de um “cinema de bolso”, como também são conhecidos os flip books, a partir da organização e justaposição de imagens em movimento, Oskar encerra a narração de sua trajetória em busca do segredo da chave e ilustra um princípio de compreensão para a perda do pai. Alterando a lei da gravidade, da ordem dos acontecimentos, o menino monta o seu pequeno filme, em que o corpo que cai do topo de uma das torres do World Trade Center faz o movimento inverso, emergindo do solo ao céu em segurança. A pequena história contada através de imagens ao término do livro, além de representar uma tentativa de superação da dor, realiza uma fusão de alguns meios em que as histórias se fazem presentes e podem ser narradas, ampliando a concepção tradicional de que dispúnhamos do livro como objeto e mídia. Foer, em Extremely loud & incredibly close, torna o livro um objeto de arte, que pode reunir a fotografia e o cinema em seu interior.
  • 6.   Figura 9: Fragmento do flip book feito por Oskar. Quanto à aproximação entre literatura e artes visuais, de acordo com a Semiótica, a possibilidade de diálogo entre as áreas ocorre devido à ideia de que um filme, uma pintura, uma fotografia, também se constituem como texto, como uma unidade de discurso passível de leitura e análise. Considera-se que “todo texto se constrói como mosaico de citações, todo texto é absorção e transformação de um outro texto.” (KRISTEVA, 1974, p.64) Assim toda obra literária se constrói como uma rede de influências e relações com textos literários preexistentes e com sistemas de significação não-literários, como as linguagens visuais ou a música. Daí a importância de seu estudo: “A verdade literária como a verdade histórica, só pode constituir-se na multiplicidade dos textos e das escritas – na intertextualidade.” (JENNY,1979, p.47) A comparação e análise entre duas ou mais artes envolve basicamente critérios estéticos. A transposição de um texto em outro, de um sistema em outro, dialoga automaticamente com a obra original, ou primeiro sistema, e tal relação por si só constitui-se como valor estético: “o autor pode se servir da palavra de outrem, para nela inserir um sentido novo, conservando sempre o sentido que a palavra já possui.” (KRISTEVA, 1974, p.72) O acréscimo só é possível porque previamente semelhanças são consideradas, porque todas as artes podem imiscuir-se umas nas outras por serem instrumentos de expressão humana.
  • 7. A partir da reflexão semiológica no que concerne à imagem, Christian Metz aponta que o estatuto analógico e a iconicidade das artes visuais compartilham muitas vezes o estatuto linguístico, verbal, por ambos constituírem-se como objetos discursivos. (...) a semiologia da imagem se fará ao lado da semiologia dos objetos linguísticos (e por vezes em intersecção com ela, pois muitas mensagens são mistas: não se trata apenas das imagens cujo conteúdo manifesto comporta menções escritas, mas igualmente das estruturas linguísticas que estão, subterrâneas à obra, na própria imagem, assim como figuras visuais que, em troca, contribuem para informar a estrutura das línguas). (METZ, 1973, p. 9) A semiologia da imagem, portanto, convive com pressupostos da semiologia geral, ou seja, é um sistema comunicativo absorvido pela cultura e em constante diálogo com ela. Metz também afirma que a língua pode estar em torno da imagem, na legenda que a acompanha, por exemplo; e também “por baixo” dela, constituindo comentários críticos ou sua significação. Muitas artes ditas como “visuais”, o cinema falado e mesmo imagens com legendas, são na verdade textos mistos, híbridos, formados por vários sistemas. Entretanto, independentemente disso, a metalinguagem acaba por se fazer presente em todos esses sistemas. Frequentemente, refletir sobre a imagem não consiste em produzir imagens, mas sim em produzir palavras. Nesta situação, pode-se perceber (e é a reação mais difundida) um clássico fenômeno de metalinguagem: a língua serve de metalinguagem às mais diversas linguagens-objeto, e mesmo aquelas que não são linguísticas. Pode-se igualmente (e é a posição de Jean-Louis Schefer) dar uma interpretação mais radical à questão, e então deslocar a língua para a escrita: a imagem só existe pelo que aí se lê. Mas a verdade, nos dois casos, é que a semiologia do visual não é essencialmente uma atividade visual. Mais uma razão para o reino das imagens se recusar a fechar- se em si mesmo (= mito da pureza visual). (op.cit, p. 17) É majoritariamente através da linguagem verbal que expressamos opiniões, pensamentos e sentimentos acerca de uma obra. Externar uma perspectiva crítica e subjetiva, ao defrontarmo-nos com o objeto artístico, exige esse tipo de articulação por ser o meio que utilizamos em nossa comunicação usual. Por mais que a arte reflita a si mesma através de releituras de obras já produzidas ou através da influência entre artistas, para o público leigo, são as palavras que possibilitam, na maioria das vezes, a expressão da emoção estética. Como exemplo da interligação entre os sistemas semióticos e de sua permeação pela linguagem verbal, Metz enfatiza a multiplicidade da pintura. [...] um quadro é uma imagem, mas não é apenas isto; ou antes, a imagem, nele, é intimamente atravessada por mil configurações que, ao mesmo tempo, nos levam
  • 8. muito longe dela e nos introduzem em seu núcleo; até um certo ponto, o quadro não é outra coisa senão a leitura que dele se faz: narração, descrição, cenário. (op.cit, p. 15) Mesmo nas artes visuais não-figurativas, a leitura da obra está presente, o que já caracteriza seu hibridismo. Além disso, cabe ressaltar, ante uma perspectiva histórica, que a fusão entre as linguagens visual e verbal faz parte dos limiares do conhecimento e da arte, uma vez que os remete aos hieróglifos egípcios, às cerâmicas gregas, aos ideogramas chineses, às iluminuras nos manuscritos, à arte renascentista, à obra de William Blake, à poesia visual simbolista, aos movimentos de vanguarda e, contemporaneamente, às obras de Jonathan Safran Foer, por exemplo. Dessa forma, a presença de visualidade na literatura demonstra os limiares interartísticos e as características lúdicas de alguns textos. Assim como a literatura utiliza a iconicidade, as artes visuais também utilizam a linguagem verbal, a saber, nas colagens cubistas e futuristas repletas de palavras recortadas, constituintes da obra não somente por seu significado, mas sobretudo por sua presença visual.Tais colagens questionam a arte como representação da realidade, pois aquela torna-se concepção, e não simplesmente imitação. Do mesmo modo, o processo criativo passa a fazer parte da obra de arte, assim como seu produto final. Analisando a obra de Antonin Artaud, Jacques Derrida recupera da terminologia da pintura o conceito de subjétil, mencionado por Artaud em algumas de suas cartas. Originalmente designando um suporte, uma superfície utilizada pelas artes plásticas, como a tela ou o gesso, e que dá materialidade à obra, o subjétil é reinventado e atualizado na abordagem realizada pelo teórico argelino na análise dos textos do poeta. O mote apontado por Derrida para o início da discussão é a afirmação de Artaud de que o subjétil o havia traído, uma vez que era prática do autor desenhar em suas cartas, e a traição do subjétil o havia impedido de expressar-se do modo pretendido. Primeiramente, um desenho pode fazer parte de uma carta; o que é totalmente diferente de acompanhá-la. Incorpora-se a ela, já que se encontra separado somente a título de “parte rasgada”. Depois, pode-se entender trair num sentido muito particular: faltar à promessa, renegar o projeto, subtrair-se ao controle, mas de modo a revelar a verdade assim traída. Traduzi-la e arrastá-la para a luz do dia. A traição do subjétil teria tornado o desenho “demasiado revelador”, de uma verdade tão insuportável que Artaud julgou necessário destruir-lhe o suporte. Este se mostrou mais forte do que ele, e, por não ter dominado o rebelde, Artaud o teria arrancado.” (DERRIDA, 1998, p. 24)    
  • 9. Constituindo-se como parte da escrita, como texto, os desenhos de Artaud, por exemplo, “enlouquecem” o subjétil, pois o transgridem, agridem-no, fazem-no suportar o que nele não é usual. Derrida afirma que o poeta “nunca escreve sobre seus desenhos e pinturas, mas antes diretamente neles. O subjétil deve ser levado à loucura, sem obedecer às regras convencionais de sentido ou de referência, sem o intuito da comunicação, da linguagem utilitária. Enlouquecer o subjétil é ultrapassar e estraçalhar as fronteiras entre as artes e seus suportes, habitar o limiar, uma vez que, segundo Artaud, a pintura, e a arte de um modo geral, é grande ao emocionar o ouvido ao mesmo tempo que o olho, ou seja, ao unir todos os nossos sentidos na emoção estética. Desse modo, a pintura deve ser mais que pintar, e a literatura, mais que escrever simplesmente, pois a arte é plural em si. Para enlouquecer o subjétil, portanto, é preciso negar, retalhar, destruir e reconstruir noções tidas como tradicionais ou convencionais, as quais incutem docilidade ao artista e à sua criação, como afirma Artaud. Esse desenho como todos os meus outros desenhos não é o de um homem que não sabe desenhar, mas o de um homem que abandonou o princípio do desenho e que quer desenhar na sua idade, na minha, como se nunca houvesse aprendido nada por princípio, por lei ou por arte, mas unicamente pela experiência do trabalho, e eu deveria dizer não – instantânea mas instante, quero dizer imediatamente merecida. Merecida em relação a todas as forças que no tempo e no espaço contrapõem-se ao trabalho manual, e não somente manual mas nervoso e físico da criação. (op.cit, p. 78) Negar a tradição, nesse caso, é perceber na pintura não apenas as tintas, os objetos, os suportes materiais; é perceber no desenho o que há além do traçado; na literatura, além da narração, da disposição linear das palavras. Desvencilhar-se da tradição é perceber que a arte está além de suas convenções, está na sua expressão, e esta nunca é estritamente coesa ou homogênea, mas heterogênea e plural, manifesta nos limiares das artes. Assim, “(...) era necessário descartar-se de uma linguagem de palavras sem espaço e sem desenho, da ‘literatura’ dos escritores, para deixar nascer uma nova linguagem: nova partida para uma língua na qual escritura, música, cor e desenho não se afastariam mais um do outro.” (op.cit, p. 95) Tais características também podem ser percebidas na obra de Jonathan Safran Foer, uma vez que “enlouquece” o subjétil ao ser escrita além das palavras. A escritura realiza-se também por meio de fotografias, de desenhos, de páginas brancas silenciosas, de imagens em sequência, de recortes. Dessa forma, o subjétil não é somente o intermediário da transposição, da tradução, mas parte criativa da obra ao ser valorizado como objeto, como artefato.
  • 10. Artaud magistralmente esclarece e abarca a teoria ao refletir sobre sua obra. Esse desenho é uma tentativa séria de dar vida e existência àquilo que até hoje jamais foi recebido na arte, a dilapidação do subjétil, a inabilidade lastimável das formas que desmoronam em torno de uma ideia depois de ter por tantas eternidades estafado para reunir-se a ela. A página está suja e defeituosa, o papel amassado, as personagens desenhadas pela consciência de uma criança. (op.cit, p. 96) A página foi incendiada e deve continuar sendo, literalmente, não apenas metaforicamente. E Derrida completa: “O suporte é ‘posto em movimento e recortado em figura’ pelas coisas que o ‘penetram’. E, no entanto, deve continuar heterogêneo a tudo o que recebe (...) bastante amorfo para tomar sobre si todas as formas”. (op.cit, p. 111) Desafiar os limites da tradição, apagar as fronteiras interartísticas, escrever no limiar da literatura, da arte visual: eis o que o subjétil permite que façamos levando-o à loucura. Os limiares da criação artística na obra de Jonathan Safran Foer, o trânsito e o imbricamento de discursos, constituem-se como os pilares do estudo aqui proposto, uma vez que a abordagem interdisciplinar enfatiza as zonas limiares que ultrapassam fronteiras instituídas e inauguram, desse modo, uma nova perspectiva para os estudos literários e artísticos, centrada no hibridismo dos textos e no contato entre palavra e imagem. BIBLIOGRAFIA BARTHES, Roland. Artaud: escrita/figura. In: ______. Inéditos, vol.2: Crítica. Tradução Ivone Castilho Benedetti. São Paulo: Martins Fontes, 2004. BARTHES, Roland. Aula. Tradução de Leyla Perrone-Moisés. São Paulo: Cultrix, 2007. DERRIDA, Jacques. Enlouquecer o subjétil. Tradução Geraldo Gerson de Souza. São Paulo: UNESP, 1998. FOER, Jonathan Safran. Extremely loud & incredibly close. London: Penguin Books, 2006. JENNY, Laurent. A estratégia da forma. In: Intertextualidades. Coimbra: Livraria Almedina, 1979. KRISTEVA, Julia. Introdução à semanálise. Tradução Lúcia Helena França Ferraz. São Paulo: Perspectiva, 1974.
  • 11. METZ, Christian. Além da Analogia, a Imagem. In: METZ, Christian (et al). A análise das imagens. Tradução de Luís Costa Lima e Priscila Vianna de Siqueira. Petrópolis: Vozes, 1973.