Esta peça de teatro conta a história de uma estátua de um Príncipe Feliz que começa a chorar ao ver a miséria da cidade. Uma andorinha fica aos seus pés e o Príncipe pede-lhe que leve suas joias preciosas aos necessitados da cidade. Quando a andorinha morre de frio, o coração de chumbo do Príncipe se parte. No final, Deus leva a andorinha e o coração para o paraíso.
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O Príncipe Feliz
Adaptação teatral
Cena 1
Narrador 1: Numa antiga cidade do norte da europa, muito longe daqui,
erguia-se na praça central, numa alta coluna, uma linda estátua de um
príncipe.
Narrador 2: Chamavam-lhe “Príncipe Feliz”. Era revestida de finas folhas
de ouro e tinha por olhos duas brilhantes safiras; no punho da sua espada
cintilava um enorme rubi. Era por todos muito admirado.
Conselheiro 1: É belo como um cata-vento!
Conselheiro 2: Que esplendor, enaltece a nossa cidade!
Conselheiro 3: Uma obra eterna!
Conselheiro 1: Só não é muito útil!
Conselheiro 2: Na verdade não serve para muito!
Conselheiro 3: É uma estátua! Uma estátua é uma estátua!
Conselheiro 1 e 2: Uma estátua é uma estátua!
Mãe e filho, algures na praça.
Mãe: Porque não és tu como o Príncipe Feliz?
Filho: (chora) Mas eu quero! (chora) Porque sim! (chora)
Mãe: O Príncipe Feliz nunca se lembraria de chorar por coisa nenhuma.
Filho: (chora) eu quero o príncipe…
Mãe: Tu não sabes o que queres, olha o príncipe, achas que ele ia gostar
de te ver assim nesse estado?
Filho: Buáaaaaa! Eu quero um doce…
Mãe: Vamos!
Saem 4 garotos da escola com o seu professor de Matemática.
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Garotos: Parece um anjo!
Professor: Como o sabeis? Nunca vistes nenhum.
Homem só: Ainda bem que há no mundo quem seja inteiramente feliz!
Cena 2
Bando de andorinhas voa pelo espaço cénico.
Andorinhas: Vamos para Sul, onde o clima é melhor!
Andorinha 1: Rumo ao Egito!
Andorinha 2: Sobrevoaremos as grandes cataratas!
Andorinha 3: Como tenho saudades dos grandes hipopótamos…
Andorinha 4: e do grade deus Memnon que se senta no grande trono de
granito.
Andorinha 5: e os olhos verdes dos leões quando descem à margem do rio
para beberem?
Andorinha 6: e o seu rugido é mais forte do que o som das cataratas.
Andorinha 7: Agora vejo eu, falta uma de nós!
Andorinha 1: Ficou para trás enamorou-se de um junco.
Andorinha 2: Coitada, não percebeu que o bailado do junco era
provocado pelo vento.
Andorinha 3: O amor faz de nós por vezes verdadeiros idiotas.
Andorinha 4: Não podemos esperar por ela.
Andorinhas: Vamos, rumo ao Sul!
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Cena 3
Voa uma andorinha pela praça.
Andorinha: Já voo há tanto tempo, nunca mais encontrarei as minhas
amigas, terei de repousar algures.
- Ah! Uma cidade, com uma praça ao centro, uma estátua! No seu
pedestal há lugar para dormir esta noite.
Deita-se aos pés da estátua do Príncipe.
Andorinha: Tenho um quarto dourado.
Cai uma lágrima em cima da andorinha.
Andorinha: Mas…está a chover!
Outra lágrima cai.
Andorinha: será que vai chover muito?
Terceira lágrima cai.
Andorinha: Mas, donde? Não há nuvens, será que…Pois vem mesmo de
cima, aqui a estátua…
- Quem és tu?
Príncipe: Sou o Príncipe Feliz.
Andorinha: Porque choras então? Encharcaste-me por completo.
Príncipe: Quando eu era vivo e tinha um coração humano, não sabia o que
eram lágrimas, pois vivia no meu palácio onde era vedado o acesso à dor.
O jardim tinha enormes muros à sua volta, e era impossível saber o que se
passava para além deles. Vivia uma felicidade dourada, mas não real.
- Agora que estou morto posso ver a fealdade e miséria de toda a cidade.
Chamavam-me príncipe feliz, mas será o prazer sinónimo de felicidade?
Andorinha: E estás então muito triste…
Príncipe: Mesmo com coração de chumbo não posso deixar de verter
lágrimas por tudo o que de feio veja nesta cidade.
Andorinha: Voarei à tua volta, com isso distrair-te-ás.
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Príncipe: Ouve, querida andorinha, lá longe, há uma casa pobre, nela uma
costureira trabalha intensamente nos vestidos de baile das donzelas do
palácio, está cansada, e o seu filho, deitado na cama, doente, suspira por
uma laranja. A mãe só tem água do rio para lhe dar e, por isso chora.
- Andorinha, leva este rubi, da minha espada àquela mulher, será mais
preciso com ela do que aqui comigo.
Andorinha: Não posso, caro príncipe esperam-me no Egito.
Príncipe: Mas andorinha, querida andorinha, não tens coração, vais deixar
aquela mulher morrer de cansaço e de dor pelo filho doente?
Andorinha: Aqui está muito frio. No entanto ficarei mais uma noite e serei
tua mensageira.
Narrador: E lá foi a andorinha num voo rasante junto aos telhados das
casas, entrou pela janela da costureira e deixou cair o rubi na mesa de
costura. A mulher quando reparou em tal preciosa joia ficou subitamente
contente, pois agora podia socorrer o seu filho, levando-o ao médico, e
podia comprar alimentos para os dois saciarem a sua fome.
Costureira, dirigindo-se ao seu filho: Filho, aconteceu uma coisa
verdadeiramente milagrosa, encontrei sobre a mesa de costura esta
valiosa safira!
Filho, com voz arrastada, mas com um tom de súbita esperança: Mãe!
Poderemos alimentar-nos!
Costureira: Poderei levar-te finalmente a um médico, alguém com a sua
bondade, trouxe-nos de novo a esperança.
Andorinha regressando: curiosa, sinto um calor no peito, mesmo com o
frio da noite.
Príncipe: É porque praticaste uma boa ação.
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Cena 4
Chegou-se à noite seguinte.
Príncipe: Andorinha, ainda aí estás?
Andorinha: Sim, preparo-me para a minha longa viagem, será
absolutamente necessária.
Príncipe: Mas, não vês como eu, ao longe, naquele sótão, um rapaz, que
tenta acabar a sua peça de teatro, mas quase desfalece de fome e de frio?
Andorinha: Príncipe, não me desafies novamente, estou preparando-me
para a minha viagem.
Príncipe: Andorinha, querida andorinha, sentes como eu, eu sei, faz-me
este favor, tira-me de um olho uma safira e voa até aquele sótão,
deixando lá a joia para o rapaz conseguir aquecer-se, alimentar-se e pagar
o aluguer do quarto, não vês como está desesperado?
Andorinha: Querido príncipe não posso fazer semelhante coisa, tirar-te
um olho?
Príncipe: Andorinha faz o que te mando, aquele rapaz está a desfalecer.
Andorinha: Ficarei então mais uma noite, serei tua mensageira.
Narrador: E a andorinha mais uma vez, no seu belo voo sobre a cidade
adormecida, encontra o sótão do jovem escritor. Entra por um pequeno
buraco no telhado e colocou a pedra preciosa, mesmo ao lado do rapaz
adormecido com a cabeça entre as mãos.
Jovem escritor, acordando: Tive a sensação que alguém entrou no meu
quarto. Oh! Mas o que é isto? Brilha como uma estrela, brilha como uma
joia! Por certo será alguém que admira o meu trabalho. Poderei de novo
restabelecer-me e acabar a minha peça. Bem-haja quem fez este nobre
gesto.
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Cena 5
Voo da andorinha na praça.
Andorinha: Venho dizer-te adeus.
Príncipe: Andorinha, querida andorinha, não queres ficar mais uma noite
comigo?
Andorinha: É inverno, será muito difícil para mim, viver aqui nesta cidade
do norte.
Príncipe: Olha lá ao longe, no fim da praça, aquela pequena vendedora de
fósforos, deixou cair a sua escassa mercadoria na água de uma poça,
quando chegar a casa o seu pai irá ralhar-lhe e se calhar bater-lhe. Tira a
outra safira do meu outro olho e leva-lha.
Andorinha: Ficarei então mais uma noite, mas não posso arrancar-te o
outro olho, ficarias completamente cego.
Príncipe: Andorinha, andorinha, querida andorinha, faz o que te mando.
Narrador: E Mais uma vez a andorinha voou pela praça até encontrar a
pequena rapariga chorosa pelo seu infortúnio.
Vendedora de fósforos: Um pedaço de cristal, tão belo! Vou já para casa
para o dar aos meus pobres pais!
Cena 6
Andorinha: Agora estás cego, ficarei para sempre junto de ti.
Príncipe: Não querida andorinha tens de seguir para o Egito.
Andorinha: Ficarei sempre contigo.
Andorinha adormece aos pés do príncipe.
Narrador: Todo o dia a andorinha esteve pousada no ombro do príncipe,
contando-lhe histórias que tinha visto em terras estranhas.
Príncipe: Contas-me histórias maravilhosas, querida andorinha, mas ainda
mais maravilhoso que tudo é o sofrimento dos homens e das mulheres.
Voa sobre a minha cidade, andorinha e diz-me o que vês.
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Narrador: Então a andorinha voou ainda uma outra vez sobre a cidade e
com olhos de ver viu os ricos a divertirem-se nas suas sumptuosas
moradias e os pobres sentados aos portões, procurando uma esmola.
Andorinha regressa.
Príncipe: Estou coberto de ouro fino, tens de tirá-lo folha a folha e dá-lo
aos pobres.
Narrador: Folha após folha de fino ouro arrancou a andorinha, até que o
príncipe ficou feio e negro. Folha após folha de fino ouro levou aos
pobres, e as faces das criancinhas ganhavam cor e elas riam e brincavam
nas ruas.
Crianças: Temos pão! Temos pão! Temos pão!
Cena 7
Narrador: Por fim chegou a neve, e depois da neve, o gelo. Toda a gente
se vestia de peles, estava um frio de “rachar”. A pobre andorinha cada vez
tinha mais frio, e acabou por reconhecer que ia morrer. Mal teve forças
para voar mais uma vez para perto do príncipe.
Andorinha: Adeus, querido príncipe, deixas-me beijar a tua mão?
Príncipe: Ainda bem que partes para o Egito.
Andorinha: Não é para o Egito que vou.
Beija na face o príncipe.
Andorinha: Vou para a casa da morte.
Desfalece junto aos pés do príncipe.
Narrador: Nesse instante ouviu-se um estalido dentro da estátua, como se
alguma coisa se tivesse quebrado. E realmente o coração de chumbo
tinha-se partido em dois.
Narrador 2: Na manhã seguinte o presidente da câmara e os seus
vereadores passeavam pela praça.
Presidente: Santo Deus! Que miserável aspeto tem o Príncipe!
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Vereadores: Na verdade, que aspeto! Onde já se viu, que príncipe tão
deselegante! Mau aspeto! Mau aspeto!
Presidente: Parece um mendigo!
Vereadores: Perdeu as joias, que mendigo, verdadeiro mau aspeto,
verdadeiro mau aspeto.
Narrador 2: Então fundiram a estátua num forno e o Presidente convocou
o conselho geral para aprovar uma nova estátua.
Presidente: Temos de construir uma nova estátua
Vereadores: Claro, uma nova estátua!
Presidente: E a nova estátua será a minha!
Vereadores, um por um: Não, a minha!
Narrador 2: Da última vez que ouvi falar deles ainda discutiam o mesmo
tema. Na fundição os trabalhadores encontraram um coração de chumbo
que resistia ao fogo.
Trabalhador 1: Parece um coração.
Trabalhador 2: Seja o que for, não se funde, está visto.
Trabalhador 3: Deita-se fora, vai para o lixo.
Narrador 2: Então um dia, Deus diz a um dos seus anjos.
Cena 8
Deus: Trouxeste-me as duas coisas mais preciosas que encontraste na
cidade?
Anjo: Este coração de chumbo e esta andorina morta.
Deus: Escolheste bem, no paraíso esta avezinha cantará eternamente e na
cidade de ouro o príncipe adorar-me-á.
FIM