SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 4
Baixar para ler offline
1
O Mercador de coisa nenhuma
de António Torrado
adaptação teatral de Constantino Mendes Alves
Narrador 1 – Há muito, muito tempo, para Leste, em terras das Arábias, vivia um
comerciante famoso de tapetes de seu nome Abdul-Ben-Fari, tinha a sua loja no centro
da cidade de Abjul.
Abdul – Aqui, em Abjul, vivo tranquilamente dos meus negócios que enchem os meus
cofres e o meu coração de alegria.
Comprador 1- É mesmo bonito este tapete.
Abdul -Não encontra em toda a Arábia tapete como este.
Comprador 2 – Quanto custa este tapete?
Abdul - Por ser para si, 150 Ryais. Já com desconto.
Comprador 1 – E este enquanto fica?
Abdul – Deixe-me acabar este negócio primeiro, por favor.
Comprador 2 – Ofereço-lhe 100 Ryais, certo?
Abdul – Digamos 120 Ryais e faz-se o negócio.
Comprador 2 – Combinado.
Abdul – Para si, como o tapete é maior, 200 Ryais.
Comprador 1 – Noventa!
Abdul – Só, assim perco tanto, 150 Ryais?
Comprador 1 – E 130? Não dou nem mais um Ryal.
Abdul – Negócio fechado.
Narrador 2 – Mas, num dos recantos do seu coração alegre, alojara-se um espinho de
tristeza, que crescia e doía, às vezes.
Narrador 1 – Abdul-ben-Fari tinha um filho, Racib, quase um homem feito. Muito o
preocupava, Racib. Preocupava-o e afligia-o.
Racib – Tenho de levar estes tapetes (boceja e encosta-se, boceja várias vezes)
Comprador 3 – Hei! Quanto custa este tapete?
Racib – Tapete? (boceja) Deve haver um preço por aí…
Comprador 3 – Bom, virei noutra altura.
2
Racib – Terei de limpar este tapete, não será melhor para a semana?
Narrador 1 – Abdul que era filho, neto, bisneto, trineto de mercadores de tapetes não
compreendia porque o filho agia assim.
Abdul – Mal fecha a loja vai logo a correr, como se fugisse, correr, como se tivesse
acabado de ganhar liberdade. Para quê?
Vai atrás de Racib.
Abdul – Que está ele a fazer?
Racib escuta o chão ao pé de uma árvore.
Abdul – Que fazes?
Racib – Escuto o lento progredir das raízes através da terra ou o erguer dos caules.
Abdul – Mas isso é absurdo.
Racib – Agora conto as formigas de um carreiro, para ver se nenhuma está perdida.
Abdul – Que disparate!
Racib – Agora diverte-me falar para o fundo de um poço onde posso ouvir o eco das
minhas palavras. Quer ver?
Abdul – Brincadeira idiota! Alá deu-me um filho de cabeça ao vento. Que hei de eu
fazer?
Professor – Olhe que eu fui professor dele e reconheço-o como inteligente.
Vizinho 1 – E como ele é bondoso!
Comprador 4 – E como vendedor é muito amável!
Comprador 5 – Talvez não seja muito dotado para o negócio de tapetes…
Comprador 6 e 7 – Isso que importância tem?
Abdul – Tem, tem muita importância. Se eu não estiver atento é capaz de vender um
belo tapete de Cari- Chab como se fosse um trapo de esfregar candeias.
Vizinho 2 – Isso, pois, daria muito prejuízo!
Vizinho 3 – Seria a sua ruína Abdul.
Narrador 2 – Um dia, o mercador, depois de muito meditar, chamou o filho.
Abdul – Racib, como me parece que não gostas deste negócio de tapetes, toma este
dinheiro para aplicares no negócio que preferires. Vai para outra cidade, faz o que te
aprouver. Voltarás daqui a um ano, sempre quero saber se saberás fazer fortuna.
3
Narrador 1 – Lá foi Racib para outra cidade. Como é que se iria arranjar? Que fazer
com aquela pequena fortuna? A bolsa com o dinheiro do pai pesava-lhe muito, mas ele
não se decidia.
Racib - E se eu… talvez…talvez…talvez…
Narrador 2 – No dia seguinte encheu duas vasilhas de água pura, transportou-as para
uma das ruas mais movimentadas da cidade e começou a apregoar…
Racib – Quem quer gotas de água? Quem quer gotas de água?
Comprador 8 – Gotas de água? Eu quero encher é uma bilha de água.
Comprador 9 – Encha-me este balde.
Racib – Só vendo gotas. Já viram a maravilha de uma gota de água, como brilha…
Comprador 10 – Só vende gotas?
Racib - …E como são belas ao cair!
Comprador 8 – Este rapaz está louco!
Comprador 9 -É um sonhador!
Comprador 10 – Este rapaz não tem a cabeça no lugar.
Narrador 1 – Nesse dia, Racib não fez negócio, nem no dia seguinte, nem nos outros
dias. Talvez fosse mais feliz noutra cidade.
Narrador 2 – E Racib correu muitas terras, tentando vender as gotas de água que
ninguém queria comprar.
Racib – Vou mudar de negócio. Vou vender grãos de areia.
Narrador 1 – Carregou duas grandes caixas de areia fina para as portas de uma cidade
e começou a apregoar…
Racib – Quem quer grãos de areia? Quem quer grãos de areia?
Comprador 1 – Quanto pedes pelas duas caixas?
Racib – Só vendo um grão de cada vez, senhor.
Comprador 2 – Grão a grão?
Racib – Sim cada grão é diferente do outro. Uns são azuis, outros verdes, outros
brancos, outros pretos…
Comprador 3 – Mas isso não tem jeito nenhum…
Racib – De que cor quer, senhor?
Comprador 1 – Eu vou-me já embora.
Comprador 2 – Nunca vi uma coisa assim.
4
Comprador 3 - É um mercador de coisa nenhuma!
Narrador 2 – E assim ficou conhecido: “Mercador de Coisa Nenhuma”
Narrador 1 – Que valor tinham gotas de água e grãos de areia? Para que serviam?
Ninguém gastava o seu rico tempo e o seu rico dinheiro a comprar tão insignificantes
artigos.
Narrador 2 – E a voz de Racib perdia-se como gota de água no meio do mar ou grão de
areia no deserto.
Racib – Vou mudar mais uma vez de mercadoria.
Narrador 1 – Instalou-se numa cidade, onde não era conhecido, e passou a vender,
sabem o quê? Nem mais nem menos do que sonhos. Só sonhos…
Grande senhor -Como fazes para ter sonhos à venda?
Racib – Durmo, grande senhor.
Grande senhor – Há tanto tempo que não consigo dormir e tanta falta me fazem os
sonhos. Conta-me um sonho.
Narrador 2 – Racib contou um lindo sonho, uma longa história que começava no meio,
voltava ao princípio e não tinha fim.
Grande senhor - Conta-me outro.
Narrador 1 – Muitas pessoas se tinham juntado à volta. Também elas queriam ter um
sonho só para elas, um belo sonho contado por Racib.
Narrador 2 – Teve sempre a casa cheia durante muitos meses. E, quando chegou o dia
de voltar para casa do pai, montou um camelo e, segurando firmemente uma pesada
bolsa cheia de dinheiro, tomou o caminho de casa.
Narrador 1 – Só não chegou a casa do pai, rico como o mais rico comerciante do
Oriente, porque durante o caminho, embalado pelo andar pausado do camelo,
adormeceu e sonhou.
Narrador 2 – No meio do sonho, abriu as mãos e a bolsa com o dinheiro perdeu-se no
deserto.

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Pede-(Instruções) Prova Exploratória de Dislexia Específica
Pede-(Instruções) Prova Exploratória de Dislexia EspecíficaPede-(Instruções) Prova Exploratória de Dislexia Específica
Pede-(Instruções) Prova Exploratória de Dislexia EspecíficaAna Paula Santos
 
Livro - Ponto de vista - Ana Maria mMachado/Ziraldo
Livro - Ponto de vista - Ana Maria mMachado/ZiraldoLivro - Ponto de vista - Ana Maria mMachado/Ziraldo
Livro - Ponto de vista - Ana Maria mMachado/ZiraldoRenata Grechia
 
Anexo 8 (5ªsessão)texto descritivo ficha de trabalho
Anexo 8 (5ªsessão)texto descritivo  ficha de trabalhoAnexo 8 (5ªsessão)texto descritivo  ficha de trabalho
Anexo 8 (5ªsessão)texto descritivo ficha de trabalhoTelma Sá
 
118 ficha de avaliação do 3.º período
118 ficha de avaliação do 3.º período118 ficha de avaliação do 3.º período
118 ficha de avaliação do 3.º períodoCrescendo EAprendendo
 
A princesa e a ervilha - Questionário
A princesa e a ervilha - QuestionárioA princesa e a ervilha - Questionário
A princesa e a ervilha - Questionáriomlccloureiro
 
A princesa e o sapo em a higiene corporal
A princesa e o sapo em a higiene corporalA princesa e o sapo em a higiene corporal
A princesa e o sapo em a higiene corporalRafael Víctor
 
Orçamento e Reperage
Orçamento e ReperageOrçamento e Reperage
Orçamento e Reperageclaudiowww
 
Ficha a princesa e a ervilha pdf
Ficha a princesa e a ervilha pdfFicha a princesa e a ervilha pdf
Ficha a princesa e a ervilha pdflasalete marques
 
Modelo de teste português
Modelo de teste portuguêsModelo de teste português
Modelo de teste portuguêsMafalda Portas
 
Uma aventura literária 2013 texto original - o menino e o cão - rúben 4ºe
Uma aventura literária 2013   texto original - o menino e o cão - rúben 4ºeUma aventura literária 2013   texto original - o menino e o cão - rúben 4ºe
Uma aventura literária 2013 texto original - o menino e o cão - rúben 4ºetecaromeugil
 
Seja a diferença mensagem
Seja a diferença mensagemSeja a diferença mensagem
Seja a diferença mensagemjosihy
 
Atividade de matematica sobre o livro: Números, Bichos e Flores - 2° ano
Atividade de matematica sobre o livro: Números, Bichos e Flores - 2° anoAtividade de matematica sobre o livro: Números, Bichos e Flores - 2° ano
Atividade de matematica sobre o livro: Números, Bichos e Flores - 2° anoAndrea Alves
 

Mais procurados (20)

Pede-(Instruções) Prova Exploratória de Dislexia Específica
Pede-(Instruções) Prova Exploratória de Dislexia EspecíficaPede-(Instruções) Prova Exploratória de Dislexia Específica
Pede-(Instruções) Prova Exploratória de Dislexia Específica
 
Livro - Ponto de vista - Ana Maria mMachado/Ziraldo
Livro - Ponto de vista - Ana Maria mMachado/ZiraldoLivro - Ponto de vista - Ana Maria mMachado/Ziraldo
Livro - Ponto de vista - Ana Maria mMachado/Ziraldo
 
Anexo 8 (5ªsessão)texto descritivo ficha de trabalho
Anexo 8 (5ªsessão)texto descritivo  ficha de trabalhoAnexo 8 (5ªsessão)texto descritivo  ficha de trabalho
Anexo 8 (5ªsessão)texto descritivo ficha de trabalho
 
118 ficha de avaliação do 3.º período
118 ficha de avaliação do 3.º período118 ficha de avaliação do 3.º período
118 ficha de avaliação do 3.º período
 
A princesa e a ervilha - Questionário
A princesa e a ervilha - QuestionárioA princesa e a ervilha - Questionário
A princesa e a ervilha - Questionário
 
O príncipe sapo
O príncipe sapoO príncipe sapo
O príncipe sapo
 
O coelho que não era de páscoa
O coelho que não era de páscoaO coelho que não era de páscoa
O coelho que não era de páscoa
 
A princesa e o sapo em a higiene corporal
A princesa e o sapo em a higiene corporalA princesa e o sapo em a higiene corporal
A princesa e o sapo em a higiene corporal
 
Flamingo
FlamingoFlamingo
Flamingo
 
Ficha de avaliação texto
Ficha de avaliação textoFicha de avaliação texto
Ficha de avaliação texto
 
Orçamento e Reperage
Orçamento e ReperageOrçamento e Reperage
Orçamento e Reperage
 
Um Livro é Um Amigo
Um Livro é Um AmigoUm Livro é Um Amigo
Um Livro é Um Amigo
 
Casos de leitura
Casos de leituraCasos de leitura
Casos de leitura
 
Poema livro
Poema   livroPoema   livro
Poema livro
 
Ficha a princesa e a ervilha pdf
Ficha a princesa e a ervilha pdfFicha a princesa e a ervilha pdf
Ficha a princesa e a ervilha pdf
 
Modelo de teste português
Modelo de teste portuguêsModelo de teste português
Modelo de teste português
 
Sequencia didática
Sequencia didática Sequencia didática
Sequencia didática
 
Uma aventura literária 2013 texto original - o menino e o cão - rúben 4ºe
Uma aventura literária 2013   texto original - o menino e o cão - rúben 4ºeUma aventura literária 2013   texto original - o menino e o cão - rúben 4ºe
Uma aventura literária 2013 texto original - o menino e o cão - rúben 4ºe
 
Seja a diferença mensagem
Seja a diferença mensagemSeja a diferença mensagem
Seja a diferença mensagem
 
Atividade de matematica sobre o livro: Números, Bichos e Flores - 2° ano
Atividade de matematica sobre o livro: Números, Bichos e Flores - 2° anoAtividade de matematica sobre o livro: Números, Bichos e Flores - 2° ano
Atividade de matematica sobre o livro: Números, Bichos e Flores - 2° ano
 

Mais de Constantino Alves

Mais de Constantino Alves (20)

Contos
ContosContos
Contos
 
A casa da Mosca Fosca
A casa da Mosca FoscaA casa da Mosca Fosca
A casa da Mosca Fosca
 
Sombras chinesas
Sombras chinesasSombras chinesas
Sombras chinesas
 
O gato e o escuro atividades
O gato e o escuro atividadesO gato e o escuro atividades
O gato e o escuro atividades
 
História da Carochinha
História da CarochinhaHistória da Carochinha
História da Carochinha
 
O gato e o escuro
O gato e o escuroO gato e o escuro
O gato e o escuro
 
A menina que detestava livros
A menina que detestava livrosA menina que detestava livros
A menina que detestava livros
 
A Princesa que bocejava Actividades
A Princesa que  bocejava ActividadesA Princesa que  bocejava Actividades
A Princesa que bocejava Actividades
 
A noite dos animais inventados
A noite dos animais inventadosA noite dos animais inventados
A noite dos animais inventados
 
Uma aventura
Uma aventuraUma aventura
Uma aventura
 
O senhor do seu nariz (adaptação teatral)
O senhor do seu nariz (adaptação teatral)O senhor do seu nariz (adaptação teatral)
O senhor do seu nariz (adaptação teatral)
 
Os monstros
Os monstrosOs monstros
Os monstros
 
As estórias cá dentro da cabeça
As estórias cá dentro da cabeçaAs estórias cá dentro da cabeça
As estórias cá dentro da cabeça
 
O pato patareco do daniel adalberto
O pato patareco do daniel adalbertoO pato patareco do daniel adalberto
O pato patareco do daniel adalberto
 
A conquista de ceuta 1415
A conquista de ceuta 1415A conquista de ceuta 1415
A conquista de ceuta 1415
 
Imagens da vida quotidiana na Idade Medieval
Imagens da vida quotidiana na Idade MedievalImagens da vida quotidiana na Idade Medieval
Imagens da vida quotidiana na Idade Medieval
 
As aventuras de pinóquio teste
As aventuras de pinóquio testeAs aventuras de pinóquio teste
As aventuras de pinóquio teste
 
Jogo do Coelhinho Branco
Jogo do Coelhinho BrancoJogo do Coelhinho Branco
Jogo do Coelhinho Branco
 
regras do jogo "O Coelhinho Branco"
regras do jogo "O Coelhinho Branco"regras do jogo "O Coelhinho Branco"
regras do jogo "O Coelhinho Branco"
 
Jogo do castelo verde
Jogo do castelo verdeJogo do castelo verde
Jogo do castelo verde
 

Último

Slides Lição 5, Betel, Ordenança para uma vida de vigilância e oração, 2Tr24....
Slides Lição 5, Betel, Ordenança para uma vida de vigilância e oração, 2Tr24....Slides Lição 5, Betel, Ordenança para uma vida de vigilância e oração, 2Tr24....
Slides Lição 5, Betel, Ordenança para uma vida de vigilância e oração, 2Tr24....LuizHenriquedeAlmeid6
 
Música Meu Abrigo - Texto e atividade
Música   Meu   Abrigo  -   Texto e atividadeMúsica   Meu   Abrigo  -   Texto e atividade
Música Meu Abrigo - Texto e atividadeMary Alvarenga
 
Literatura Brasileira - escolas literárias.ppt
Literatura Brasileira - escolas literárias.pptLiteratura Brasileira - escolas literárias.ppt
Literatura Brasileira - escolas literárias.pptMaiteFerreira4
 
Slides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptx
Slides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptxSlides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptx
Slides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 
Noções de Farmacologia - Flávia Soares.pdf
Noções de Farmacologia - Flávia Soares.pdfNoções de Farmacologia - Flávia Soares.pdf
Noções de Farmacologia - Flávia Soares.pdflucassilva721057
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...azulassessoria9
 
VARIEDADES LINGUÍSTICAS - 1. pptx
VARIEDADES        LINGUÍSTICAS - 1. pptxVARIEDADES        LINGUÍSTICAS - 1. pptx
VARIEDADES LINGUÍSTICAS - 1. pptxMarlene Cunhada
 
A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.
A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.
A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.silves15
 
Construção (C)erta - Nós Propomos! Sertã
Construção (C)erta - Nós Propomos! SertãConstrução (C)erta - Nós Propomos! Sertã
Construção (C)erta - Nós Propomos! SertãIlda Bicacro
 
Portfolio_Trilha_Meio_Ambiente_e_Sociedade.pdf
Portfolio_Trilha_Meio_Ambiente_e_Sociedade.pdfPortfolio_Trilha_Meio_Ambiente_e_Sociedade.pdf
Portfolio_Trilha_Meio_Ambiente_e_Sociedade.pdfjanainadfsilva
 
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docxMapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docxBeatrizLittig1
 
DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -
DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -
DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -Aline Santana
 
A poesia - Definições e Característicass
A poesia - Definições e CaracterísticassA poesia - Definições e Característicass
A poesia - Definições e CaracterísticassAugusto Costa
 
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptx
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptxDiscurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptx
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptxferreirapriscilla84
 
Libras Jogo da memória em LIBRAS Memoria
Libras Jogo da memória em LIBRAS MemoriaLibras Jogo da memória em LIBRAS Memoria
Libras Jogo da memória em LIBRAS Memorialgrecchi
 
Atividades sobre Coordenadas Geográficas
Atividades sobre Coordenadas GeográficasAtividades sobre Coordenadas Geográficas
Atividades sobre Coordenadas Geográficasprofcamilamanz
 
Bullying - Texto e cruzadinha
Bullying        -     Texto e cruzadinhaBullying        -     Texto e cruzadinha
Bullying - Texto e cruzadinhaMary Alvarenga
 
Considere a seguinte situação fictícia: Durante uma reunião de equipe em uma...
Considere a seguinte situação fictícia:  Durante uma reunião de equipe em uma...Considere a seguinte situação fictícia:  Durante uma reunião de equipe em uma...
Considere a seguinte situação fictícia: Durante uma reunião de equipe em uma...azulassessoria9
 
GÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - Cartum
GÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - CartumGÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - Cartum
GÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - CartumAugusto Costa
 
Aula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdf
Aula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdfAula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdf
Aula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdfFernandaMota99
 

Último (20)

Slides Lição 5, Betel, Ordenança para uma vida de vigilância e oração, 2Tr24....
Slides Lição 5, Betel, Ordenança para uma vida de vigilância e oração, 2Tr24....Slides Lição 5, Betel, Ordenança para uma vida de vigilância e oração, 2Tr24....
Slides Lição 5, Betel, Ordenança para uma vida de vigilância e oração, 2Tr24....
 
Música Meu Abrigo - Texto e atividade
Música   Meu   Abrigo  -   Texto e atividadeMúsica   Meu   Abrigo  -   Texto e atividade
Música Meu Abrigo - Texto e atividade
 
Literatura Brasileira - escolas literárias.ppt
Literatura Brasileira - escolas literárias.pptLiteratura Brasileira - escolas literárias.ppt
Literatura Brasileira - escolas literárias.ppt
 
Slides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptx
Slides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptxSlides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptx
Slides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptx
 
Noções de Farmacologia - Flávia Soares.pdf
Noções de Farmacologia - Flávia Soares.pdfNoções de Farmacologia - Flávia Soares.pdf
Noções de Farmacologia - Flávia Soares.pdf
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
 
VARIEDADES LINGUÍSTICAS - 1. pptx
VARIEDADES        LINGUÍSTICAS - 1. pptxVARIEDADES        LINGUÍSTICAS - 1. pptx
VARIEDADES LINGUÍSTICAS - 1. pptx
 
A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.
A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.
A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.
 
Construção (C)erta - Nós Propomos! Sertã
Construção (C)erta - Nós Propomos! SertãConstrução (C)erta - Nós Propomos! Sertã
Construção (C)erta - Nós Propomos! Sertã
 
Portfolio_Trilha_Meio_Ambiente_e_Sociedade.pdf
Portfolio_Trilha_Meio_Ambiente_e_Sociedade.pdfPortfolio_Trilha_Meio_Ambiente_e_Sociedade.pdf
Portfolio_Trilha_Meio_Ambiente_e_Sociedade.pdf
 
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docxMapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
 
DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -
DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -
DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -
 
A poesia - Definições e Característicass
A poesia - Definições e CaracterísticassA poesia - Definições e Característicass
A poesia - Definições e Característicass
 
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptx
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptxDiscurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptx
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptx
 
Libras Jogo da memória em LIBRAS Memoria
Libras Jogo da memória em LIBRAS MemoriaLibras Jogo da memória em LIBRAS Memoria
Libras Jogo da memória em LIBRAS Memoria
 
Atividades sobre Coordenadas Geográficas
Atividades sobre Coordenadas GeográficasAtividades sobre Coordenadas Geográficas
Atividades sobre Coordenadas Geográficas
 
Bullying - Texto e cruzadinha
Bullying        -     Texto e cruzadinhaBullying        -     Texto e cruzadinha
Bullying - Texto e cruzadinha
 
Considere a seguinte situação fictícia: Durante uma reunião de equipe em uma...
Considere a seguinte situação fictícia:  Durante uma reunião de equipe em uma...Considere a seguinte situação fictícia:  Durante uma reunião de equipe em uma...
Considere a seguinte situação fictícia: Durante uma reunião de equipe em uma...
 
GÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - Cartum
GÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - CartumGÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - Cartum
GÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - Cartum
 
Aula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdf
Aula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdfAula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdf
Aula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdf
 

O Mercador de coisa nenhuma

  • 1. 1 O Mercador de coisa nenhuma de António Torrado adaptação teatral de Constantino Mendes Alves Narrador 1 – Há muito, muito tempo, para Leste, em terras das Arábias, vivia um comerciante famoso de tapetes de seu nome Abdul-Ben-Fari, tinha a sua loja no centro da cidade de Abjul. Abdul – Aqui, em Abjul, vivo tranquilamente dos meus negócios que enchem os meus cofres e o meu coração de alegria. Comprador 1- É mesmo bonito este tapete. Abdul -Não encontra em toda a Arábia tapete como este. Comprador 2 – Quanto custa este tapete? Abdul - Por ser para si, 150 Ryais. Já com desconto. Comprador 1 – E este enquanto fica? Abdul – Deixe-me acabar este negócio primeiro, por favor. Comprador 2 – Ofereço-lhe 100 Ryais, certo? Abdul – Digamos 120 Ryais e faz-se o negócio. Comprador 2 – Combinado. Abdul – Para si, como o tapete é maior, 200 Ryais. Comprador 1 – Noventa! Abdul – Só, assim perco tanto, 150 Ryais? Comprador 1 – E 130? Não dou nem mais um Ryal. Abdul – Negócio fechado. Narrador 2 – Mas, num dos recantos do seu coração alegre, alojara-se um espinho de tristeza, que crescia e doía, às vezes. Narrador 1 – Abdul-ben-Fari tinha um filho, Racib, quase um homem feito. Muito o preocupava, Racib. Preocupava-o e afligia-o. Racib – Tenho de levar estes tapetes (boceja e encosta-se, boceja várias vezes) Comprador 3 – Hei! Quanto custa este tapete? Racib – Tapete? (boceja) Deve haver um preço por aí… Comprador 3 – Bom, virei noutra altura.
  • 2. 2 Racib – Terei de limpar este tapete, não será melhor para a semana? Narrador 1 – Abdul que era filho, neto, bisneto, trineto de mercadores de tapetes não compreendia porque o filho agia assim. Abdul – Mal fecha a loja vai logo a correr, como se fugisse, correr, como se tivesse acabado de ganhar liberdade. Para quê? Vai atrás de Racib. Abdul – Que está ele a fazer? Racib escuta o chão ao pé de uma árvore. Abdul – Que fazes? Racib – Escuto o lento progredir das raízes através da terra ou o erguer dos caules. Abdul – Mas isso é absurdo. Racib – Agora conto as formigas de um carreiro, para ver se nenhuma está perdida. Abdul – Que disparate! Racib – Agora diverte-me falar para o fundo de um poço onde posso ouvir o eco das minhas palavras. Quer ver? Abdul – Brincadeira idiota! Alá deu-me um filho de cabeça ao vento. Que hei de eu fazer? Professor – Olhe que eu fui professor dele e reconheço-o como inteligente. Vizinho 1 – E como ele é bondoso! Comprador 4 – E como vendedor é muito amável! Comprador 5 – Talvez não seja muito dotado para o negócio de tapetes… Comprador 6 e 7 – Isso que importância tem? Abdul – Tem, tem muita importância. Se eu não estiver atento é capaz de vender um belo tapete de Cari- Chab como se fosse um trapo de esfregar candeias. Vizinho 2 – Isso, pois, daria muito prejuízo! Vizinho 3 – Seria a sua ruína Abdul. Narrador 2 – Um dia, o mercador, depois de muito meditar, chamou o filho. Abdul – Racib, como me parece que não gostas deste negócio de tapetes, toma este dinheiro para aplicares no negócio que preferires. Vai para outra cidade, faz o que te aprouver. Voltarás daqui a um ano, sempre quero saber se saberás fazer fortuna.
  • 3. 3 Narrador 1 – Lá foi Racib para outra cidade. Como é que se iria arranjar? Que fazer com aquela pequena fortuna? A bolsa com o dinheiro do pai pesava-lhe muito, mas ele não se decidia. Racib - E se eu… talvez…talvez…talvez… Narrador 2 – No dia seguinte encheu duas vasilhas de água pura, transportou-as para uma das ruas mais movimentadas da cidade e começou a apregoar… Racib – Quem quer gotas de água? Quem quer gotas de água? Comprador 8 – Gotas de água? Eu quero encher é uma bilha de água. Comprador 9 – Encha-me este balde. Racib – Só vendo gotas. Já viram a maravilha de uma gota de água, como brilha… Comprador 10 – Só vende gotas? Racib - …E como são belas ao cair! Comprador 8 – Este rapaz está louco! Comprador 9 -É um sonhador! Comprador 10 – Este rapaz não tem a cabeça no lugar. Narrador 1 – Nesse dia, Racib não fez negócio, nem no dia seguinte, nem nos outros dias. Talvez fosse mais feliz noutra cidade. Narrador 2 – E Racib correu muitas terras, tentando vender as gotas de água que ninguém queria comprar. Racib – Vou mudar de negócio. Vou vender grãos de areia. Narrador 1 – Carregou duas grandes caixas de areia fina para as portas de uma cidade e começou a apregoar… Racib – Quem quer grãos de areia? Quem quer grãos de areia? Comprador 1 – Quanto pedes pelas duas caixas? Racib – Só vendo um grão de cada vez, senhor. Comprador 2 – Grão a grão? Racib – Sim cada grão é diferente do outro. Uns são azuis, outros verdes, outros brancos, outros pretos… Comprador 3 – Mas isso não tem jeito nenhum… Racib – De que cor quer, senhor? Comprador 1 – Eu vou-me já embora. Comprador 2 – Nunca vi uma coisa assim.
  • 4. 4 Comprador 3 - É um mercador de coisa nenhuma! Narrador 2 – E assim ficou conhecido: “Mercador de Coisa Nenhuma” Narrador 1 – Que valor tinham gotas de água e grãos de areia? Para que serviam? Ninguém gastava o seu rico tempo e o seu rico dinheiro a comprar tão insignificantes artigos. Narrador 2 – E a voz de Racib perdia-se como gota de água no meio do mar ou grão de areia no deserto. Racib – Vou mudar mais uma vez de mercadoria. Narrador 1 – Instalou-se numa cidade, onde não era conhecido, e passou a vender, sabem o quê? Nem mais nem menos do que sonhos. Só sonhos… Grande senhor -Como fazes para ter sonhos à venda? Racib – Durmo, grande senhor. Grande senhor – Há tanto tempo que não consigo dormir e tanta falta me fazem os sonhos. Conta-me um sonho. Narrador 2 – Racib contou um lindo sonho, uma longa história que começava no meio, voltava ao princípio e não tinha fim. Grande senhor - Conta-me outro. Narrador 1 – Muitas pessoas se tinham juntado à volta. Também elas queriam ter um sonho só para elas, um belo sonho contado por Racib. Narrador 2 – Teve sempre a casa cheia durante muitos meses. E, quando chegou o dia de voltar para casa do pai, montou um camelo e, segurando firmemente uma pesada bolsa cheia de dinheiro, tomou o caminho de casa. Narrador 1 – Só não chegou a casa do pai, rico como o mais rico comerciante do Oriente, porque durante o caminho, embalado pelo andar pausado do camelo, adormeceu e sonhou. Narrador 2 – No meio do sonho, abriu as mãos e a bolsa com o dinheiro perdeu-se no deserto.