2. Autopoiesis é uma palavra de origem grega formada
pela aglutinação dos termos αυτὸσ, que faz referência
ao que é próprio de cada um, e ποιεσισ, que significa
criação.
Como corrente de pensamento é uma teoria formulada
pelo médico e biólogo Humberto Maturana e pelo
psquiatra Francisco Varela. A teoria autopoiética
analisa o processo cognitivo a partir da biologia, da
linguagem e do meio ambiente.
3. A preocupação central da autopoiesis
não é exclusivamente a realidade e a
existência do mundo, mas a forma
como interpretamos o mundo e
compreendemos a realidade
4. Para exemplificar seu entendimento acerca do processo cognitivo,
Maturana e Varela usam como exemplo o experimento da
salamandra. A salamandra é um anfíbio com alto poder de
regeneração. Se cortamos sua cauda ela se regenera e, mais
espantoso, é que se cortamos seu nervo óptico, ele também se
regenera, ou seja, a salamandra recupera sua visão. Podemos, até
mesmo, retirar completamente seu olho e colocar de novo que o
nervo óptico se cicatriza e se regenera.
Porém, o mais interessante neste experimento é que ao giramos o
olho da salamandra em 180º e colocarmos um inseto em sua frente,
a salamandra lança sua língua para trás e erra sua pontaria. Isso
acontece porque ao girarmos o olho da salamandra a retina
posterior se desloca para frente ficando no lugar da anterior, e vice-versa;
da mesma forma que acontece com a retina superior que fica
embaixo e com a inferior que vai para cima.
O
5. A autopoiesis, diferentemente do entendimento
clássico acerca do "determinismo" como algo
exclusivamente determinante das coisas, vai
ressignificar este termo, retirando, por assim dizer,
o entendimento de que o fato de algo ser
determinado reduz, ou exclui, a possibilidade de
contingência.
Nesse sentido, a Autopoiesis vai chamar atenção
para o fato de que o homem, embora
biologicamente determinado, é autocriador de sua
própria realidade.
6. O SISTEMA OPERACIONALMENTE FECHADO DO
INDIVÍDUO E SUA AUTONOMIA
O fato de nós possuirmos uma estrutura biológica que se
realiza através de um sistema operacionalmente fechado
não retira nossa autonomia em relação ao modo pelo qual
apreendemos a realidade.
Disso se segue o exemplo dado por Maturana e Varela, no qual eles
lembram o caso de duas irmãs, de cinco e oito anos, que em 1922 foram
encontradas e retiradas de uma aldeia ao norte da Índia. Elas haviam sido
criadas por uma família de lobos e nunca, até o momento de serem
encontradas, tinham tido contato humano.
(...)
A menina de cinco anos morreu pouco tempo depois da separação de
sua família lupina e a de oito anos, embora tenha sobrevivido, nunca
assumiu hábitos completamente humanos, segundo depoimentos da
família que a resgatou. A resposta sobre isto, apresentada por
Maturana e Varela, explica que, embora biologicamente humanas,
elas adquiriram hábitos do meio em que viveram.
7. A SUSPENSÃO DAS CERTEZAS CINETÍFICAS E A CRENÇA
DA INFALIBILIDADE DA PERCEPÇÃO HUMANA
Entretanto, apesar de considerar a autonomia da vida, a
Autopoiesis irá suspender as certezas do modo como
apreendemos o mundo, lembrando sempre que nossa visão
particular não pode ser universalmente válida, pois “toda
reflexão produz um mundo. Sendo assim, é uma ação humana
realizada por alguém em particular, num lugar em particular”
(Maturana e Varela, 1995, p. 68).
Assim como, “não é o conhecimento, mas o conhecimento do
conhecimento o que nos compromete” (Ibid. p. 264), também
não é da autonomia que iremos duvidar, mas o problema que
esta autonomia pode causar, como nos levar a crer que somos
infalíveis em nosso modo de perceber as coisas.
8. BIBLIOGRAFIA:
DAVIES, P. C. W. Outros Mundos. Lisboa: Edições 70, 1970.
EINSTEIN, A. Como vejo o mundo. São Paulo: Ed. Nova Fronteira, 1981.
MATURANA, H.; VARELA, F. A árvore do conhecimento: as bases biológicas do
entendimento humano. Campinas, SP: Psy II, 1995.
_____- Cognição, ciência e vida cotidiana. Organização e tradução Cristina Magro e
Victor Paredes. Belo Horizonte, MG: Ed. UFMG, 2001.
_____- Transdisciplinaridade e cognição. In: 1º Encontro Catalisador do CETRANS
(org.) - Escola do Futuro - USP - Educação e transdisciplinaridade. Transcrito,
traduzido e editorado a partir da gravação feita na referida data. Itatiba, São Paulo -
Brasil: abril de 1999. Disponível
em: http://unesdoc.unesco.org/images/0012/001275/127511por.pdf - Acessado em:
12/04/2011
PATY, M. A física do século XX. Tradução: Pablo Mariconda. Aparecida, SP: Idéias
&Letras, 2009.