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Revista de Filosofia Ano lectivo
Ano VIII - N.º 1 2013/ 2014
Amor à Sabedoria
Escola Básica e Secundária Padre Manuel Álvares
14-03-2013
Isabel Marques
Ficha Técnica
Organização: Grupo 410 - Filosofia
Colaboração de Turmas: 5.º D-E; 7.º F; 8.º G-H; 10.º B-D-C; 11.º E; 12.º C; EFA ST 5&6.
Colaboradores: Ana Carolina; Alexandra Faria; Carina; Carlos Abreu; Diogo; Érica; Fáti-
ma Sousa, Graça Faria; Graça Magalhães; Inês Almeida; Isa Faria; Jéssica Abreu; Joa-
na; Laura; Leandro; Leandro Batista; Leontina Santos; Luís; Luís Freitas; Maria Luzia;
Maria Zita Abreu; Mariana; Martinho Macedo; Miguel; Milagros; Nuno; Sérgio; Sofia;
Trindade Camarata, Vítor e Virginie.
Capa: Isabel Marques
Revisão: Martinho Macedo e Luís Freitas
Revista de Filosofia Ano: VI Número: 1
Sumário
Página
• Editorial ……………………..…….………………………………………….…..…………03
• Alegoria da Caverna ….……………………………………………...…………………..04
• Reflexão sobre a relação entre a Ciência e o Homem ……………………………….. 06
• Preconceitos, Estereótipos e Representações Sociais ………………...……………...12
• Opinião Pública e Reflexão Crítica …...……………………………………...…………..13
• Liberdade ..……………………………………………..…………………………………...15
• O que é ser ético-moral? ……………………..………...……………………………….17
• Aborto …………………………………………………..…………………………………...21
• A Vida Que Podemos Salvar ….……..………………………………………………...…23
• Como contribuir para um mundo melhor? .………..…………………………………….25
• A inveja, um mal dos tempos de crise ………………….………………………………..27
• Quem se importa ………………….…………………………………………………..…..30
• Despertar para o nosso património natural ……..……………………….………….38
• Identidades e Patrimónios Culturais .…………………..………………………………...41
• 40.º Aniversário da Escola Básica e Secundária Padre Manuel Álvares ……....39
• Entrevista com a Leontina Santos ………………….……………….…………………..53
• Memórias de uma ex-aluna -Trindade Camarata ……………………………………....64
• Benção das capas ………………………………... ……………………………………....72
• Projeto A´s ………….……………………...…….…………………………………………75
• Ilustrações .………………..………….……………………………………………………80
• Desafios Lógicos .………………….……...…….…………………………………………89
• Sugestões culturais …………….….……...…….…………………………………………91
Página 3
Amor à Sabedoria
Editorial
Em primeiro lugar, quero agradecer em nome do Grupo de Filosofia o espe-
cial empenho de todos os colaboradores que possibilitou o Amor à Sabedoria.
O núcleo temático desta edição contempla Filosofia, Ética, Património, Ani-
versário da Escola, Ilustrações e Passatempos.
Desde a Antiguidade Clássica a metáfora da caverna tem desempenhado
um papel propedêutico muito fecundo na redescoberta das dimensões da nature-
za humana associada à emergência do pensar autónomo e radical.
Na ação humana vislumbra-se a relação entre teoria e prática e a responsa-
bilidade dos agentes na órbitra dos direitos e deveres, daqui as várias teorias filo-
sóficas sobre o livre arbítrio. O texto, O Anel de Giges, é um ponto de partida para
este horizonte temático.
Ampliando a interrogação a revista posiciona-nos diante da vida embrionária
e convivência social, sem descurar a necessidade de repensar o conceito de vida
antropocêntrico, dadas as alarmantes implicações ecológicas.
O alerta anterior encaminha-nos para as questões do património e da
memória, realidades que permanecem no presente estabelecendo uma ponte
entre a fluidez do presente à inacessibilidade do passado. São breves viagens
representadas nos beirais, telhados, chaminés, portas e janelas das habitações
construídas e nas memórias da Nossa Escola, que comemora quarenta anos de
existência, a partir das experiências de uma professora e de uma ex-aluna.
Esta retrospectiva pode reavivar determinados valores e energias para
transformar os problemas de indisciplina em oportunidades de desenvolvimento:
A forma como ensinarmos as nossas crianças a resolverem os seus conflitos,
definirá, em parte, o sonho e o bem estar da sociedade futura.
Mais importante que o início, só o percurso.
Martinho Macedo
Página 4
Alegoria da Caverna - educação da alma
A Alegoria da Caverna fala sobre a educação da alma humana. Platão
defende a possibilidade de cada ser humano descobrir o Bem verdadeiro.
Ao escrever a Alegoria da Caverna, Platão narra-nos a forma de viver habitual
do ser humano: os homens estão presos à arrogância, pensando que são os
donos da verdade, mas afinal há um deles que descobre a própria ignorân-
cia.
Para ter vontade de sair da caverna é necessário que cada ser humano
pense por si próprio e descubra as próprias dúvidas acerca do mundo, acerca
do que realmente sabe, acerca de si próprio.
A saída da ignorância é um trabalho individual, a partir da vontade de conhe-
cer a verdade e de ser uma pessoa correta, verdadeira.
Há situações que são exemplos desta forma de viver fechada na igno-
rância, como por exemplo, a corrupção, os assassinatos, os sequestros e
assaltos, o tráfico de seres humanos. As pessoas corruptas desviam o dinhei-
ro das empresas ou de alguém para terem mais poder ou para se vingarem de
algo que consideraram uma injustiça. Os assassinatos, sequestros e tráfico de
seres humanos envolvem, também, questões relacionadas ao poder, à neces-
sidade de se sentirem acima dos outros homens. No tráfico seja de quem for e
como for – mulheres crianças ou outros indefesos – é sempre o desrespeito
ao outro como ser humano, o uso do outro como se fosse um objeto manipu-
lável em função dos próprios interesses. Todas estas e tantas outras situa-
ções são o resultado da crença em valores ilusórios pois em nada dignificam
na verdade os que os praticam como Homens.
Platão mostra-nos claramente que se “alguém soltasse um deles e o for-
çasse a endireitar-se de repente, a voltar o pescoço, a andar e a voltar-se
para a luz, sentiria dor e o deslumbramento impedi-lo-ia de fixar os objetos
cujas sombras via outrora”. Isto significa que os seres humanos vivem com o
pensamento preso em hábitos que não questionam e quando a vida os leva a
procurar respostas que estão fora dos seus hábitos, a dor instala-se porque
há a
Página 5
Amor à Sabedoria
tentativa de manter as coisas como sempre foram, embora tal já não seja possível.
Inicia-se assim um novo percurso em direção à liberdade. A tomada de consciência
da ineficácia do antigo caminho por si alimenta a dor, mas ao mesmo tempo alimenta
a coragem de mudar de comportamento.
Assim, mesmo os criminosos, porque são seres inteligentes podem ‘acordar’ e
perceber que há outras formas de viver mais felizes. Claro que essa mudança é difí-
cil porque os hábitos estão enraizados na sua mente. Platão defende que, a pouco e
pouco, os prisioneiros de ideias erradas podem sair da antiga maneira de pensar e
modificarem as suas vidas.
Ricardo Davide Sousa Silva, nº 10596, 10º B - ano letivo 2013/14
Alegoria da Caverna - realidade ou ilusão?
A Alegoria da Caverna levanta um problema que hoje se mantém atual: será
que o que vemos ou percebemos da realidade é aquilo que realmente é ou será que
a perspetiva que alimentamos acerca da realidade não passa de uma ilusão?
O ser humano dá a ideia, muitas vezes, que prefere viver na sua própria ilusão,
porque é mais fácil viver no mundo da mentira do que aceitar a verdade. Escolher o
mais fácil, como esperar uma boa nota, sem trabalhar, é uma destas ilusões. Muitas
vezes, o ser humano resiste à verdade e fixa-se em ideias do senso-comum, sem
proceder a uma análise racional e crítica acerca do que acontece, acerca do que faz,
acerca do que pensa. Assim, deixa-se guiar pela rotina, crenças e tradições que
acredita serem intocáveis.
O preconceito, o orgulho, o medo, a vergonha e o ciúme, na maioria das vezes,
não deixam ver as coisas como realmente são e iludem - a quem se deixa iludir -
com ideias incorretas acerca da vida.
A filosofia tem o papel de ajudar-nos a re-orientar o nosso olhar em direção à
verdade e a libertarmo-nos do pseudo-saber, da mediocridade. Pensar por nós pró-
prios, procurar orientação para a existência, construir um projeto de vida, construir a
nossa identidade através do saber, conjugando conhecimentos com uma exigência
ética – racional é o dever de cada ser humano na sua caminhada no tempo.
Alexandra Maria Faria Serrão
10.ºB - ano letivo 2013/ 14
Página 6
Reflexão sobre a relação entre a Ciência e o Homem
“Mas o homem branco não presta atenção. Como poderia o espírito da Terra gostar do
homem branco? Onde quer que lhe toque, nela há-de deixar uma chaga.”
Tuiavii chefe da Tribo de Tiavéa
O Homem, prepotente e arrogante, é o primata do êxito absoluto. É o
conquistador por excelência, julgando, por isso, ser o soberano administrador
da Criação. Porém, interpreta tudo como mero objeto, obsequiado à domina-
ção do olhar.
Para este ser, que se crê civilizado, a Natureza é vista através de um olhar
mecânico e determinista, sendo, simplesmente, matéria bruta a aguardar para
ser manipulada.
Tudo o que encara é instrumento e meio para, descurando-se todos os
outros impulsos que completam a vida humana. Esta visão, simplista e reduto-
ra da realidade, na qual só o uso é critério de avaliação, conduziu imperceptí-
vel e infalivelmente, o Homem à encruzilhada em que se encontra extraviado.
O Homem ocidental, privilegiando o quantificável e o mensurável, encontra-se
condicionado pela ciência e pela técnica que o envolve, a qual determina o
seu modo de pensar e de interagir.
Para este Homem, é “uma exigência, do espírito humano (ocidental), ter
uma representação do mundo unificada e coerente” (François Jacob), outor-
gada pelo saber verificável, através do qual luta para se libertar das amarras
com que a Natureza aprisiona os outros animais. Por conseguinte, a ciência
investiga sem descanso os mistérios da Natureza e, a partir de uma conceção
redutora da realidade, uma vez que a submete a um esquema teórico univer-
sal que reduz a sua riqueza e diversidade à melancólica aplicação de leis
gerais, invariáveis e constantes, permite ao Homem compreender, explicar e
prever o desenrolar de fenómenos, o que lhe confere poder, porém ao preço
de reduzir o mundo a meras equações. A ciência, todavia, é um bem intrínse-
co. A aplicação prática dos conhecimentos científicos é que está a facultar ao
(continua)
Página 7
Amor à Sabedoria
Homem um controlo crescente das forças da Natureza e da mente humana, a fim de
nela produzir as transformações que julga necessárias, escapando ao determinismo
das leis naturais que sentenciaram a morte de outras civilizações.
O que move o “homem de ciência, animal para o qual só o supérfluo é necessá-
rio, a exemplo do técnico, é a sede de uma vontade de poder disfarçada em apetite
de saber.” (Ilya Prigogine e Isabelle Stengers). E, assim, em função de desejos capri-
chosos, impregna a sociedade de máquinas e de técnica fazendo com que se repro-
duza num crescente conjunto de coisas e relações, que inclui a utilização técnica do
Homem, o qual caminha, portanto, de olhos abertos para a escravidão.
O avanço da tecnociência, omnipresente no quotidiano, gerou sociedades forte-
mente industrializadas em que o modelo da racionalidade científica se impõe às pró-
prias relações humanas, originando novos formatos do universo cultural, novos valo-
res e códigos jurídicos.
Contudo, os controlos tecnológicos parecem ser a própria personificação da
Razão.
O Homem vive dominado e configurado pela ciência, a qual, com efeito, supre e
cumpre nas sociedades modernas o papel normativo e integrador que fora, outrora,
desempenhado pela religião. A ciência é, hoje, ao mesmo tempo produtora e produto
da sociedade.
A atualidade subsiste alimentada de factos científicos e técnicos que ritmam a
vida industrial, económica, social e política das nações. Todavia, a tecnociência tem
sido objeto de reflexões e controvérsias.
Uns realçam que dela jorra todo o progresso da humanidade; a libertação do
peso da tradição e do trabalho; os meios necessários à formação e emancipação do
Homem, ocupando, deste modo, um lugar mítico no imaginário dos indivíduos, à
semelhança de um deus que age de forma misteriosa.
Outros apedrejam-na, vendo nela a origem donde emanam todos os males.
A produtividade e a eficácia, apresentando-se inerentes à tecnociência; a capa-
cidade para disseminar comodidades, para transformar a destruição em construção,
reduziram a ameaça de alguns dos mais velhos flagelos do Homem, pondo ao seu
alcance a exploração do espaço interplanetário e a multiplicação da riqueza e dos
(continua)
Página 8
recursos disponíveis.
A tecnociência revolucionou a agricultura, duplicando a produção mun-
dial de grão entre 1959 e 1971. Mas pode ela continuar a alimentar a crescen-
te população mundial, sem causar danos inaceitáveis ao ambiente? Por outro
lado, de vez em quando, olhamos com nostalgia para um passado sem agita-
ção, sem ruído, sem contaminação, mas esquecemos o risco seriamente
maior de morte precoce que pairava sobre os nossos antepassados.
Agora, o laser assiste o cirurgião e bactérias reprogramadas pelo génio
genético fabricam substâncias que lutam contra o cancro; as conquistas da
investigação biomédica possibilitam dominar a fecundidade e conjeturar defi-
ciências.
A ciência poderá ser um espelho da Natureza, mas não um espelho pla-
no; pelo contrário, é curvo e distorcido pela visão do mundo daqueles que a
dominam. Hoje, como ontem, o bem-estar, tão prometido pela ciência e a téc-
nica, não foi mais que uma mera miragem, tendo sido acentuadas nos cora-
ções a ganância, a ansiedade e a frustração. A excessiva industrialização, a
transformação das pessoas em máquinas ou em números proporcionam um
poder crescente aos Estados e, por seu turno, à proliferação do trabalho
escravo.
Muitas vezes, às imagens públicas da tecnociência liga-se o desempre-
go, não o divertimento; a poluição, não a saúde; o aumento do controlo sobre
a vida, e não uma extensão da liberdade. O operário é obrigado a harmonizar-
se ao ritmo da sua máquina e a servi-la num ciclo que quebra o seu equilíbrio
fisiológico. A duração do trabalho não diminuiu. Os insetos tornam-se imunes
aos pesticidas e contaminam os seres vivos; os micróbios criam resistências.
As florestas recuam e os bosques transformados em parques de estaciona-
mento.
As tecnologias são usadas pelo poder político e económico para institu-
cionalizarem formas subtis de exploração dos indivíduos e dos povos.
Por detrás da abundância e do apelo ao consumo, esconde-se a intole-
rância face à diferença, o medo e o conformismo, como contraponto necessá-
rio à produtividade.
(continua)
Página 9
Amor à Sabedoria
Hoje, vivemos, igualmente, uma nova ameaça. Face à manipulação genética,
como não ver a tentação eugénica a perfilar-se no horizonte, a identidade da huma-
nidade a vacilar, o respeito à vida sacrificado às experiências e às manipulações ili-
mitadas?
Para alguns, o “princípio da ciência é realizar tudo o que é possível” (Francis
Bacon) contudo há cada vez mais cientistas e filósofos a afirmarem que “Há […] coi-
sas que era melhor não fazer” (Einstein). São raros os domínios em que não se colo-
cam questões que põem em causa os valores morais.
Nem tudo aquilo que é tecnicamente possível é moralmente admissível.
“Quanto mais sabemos tanto menos desse saber deve ser por nós aplica-
do.” (Manfred Eigen)
É necessário reclamar uma série de paragens. Paragem na possibilidade de
conhecimento pela interminável dissecação de animais; paragem desta inquieta e
frequente irracional vontade de experimentação, particularmente na área da manipu-
lação genética.
Porque o conhecimento dos mecanismos que presidem o desenvolvimento dos
seres vivos pode conduzir à tentação de se criar raças puras, exterminando-se os
menos aptos ou de se produzir indivíduos-máquinas, arruinando a capacidade de
opção e liberdade, característica da pessoa humana.
Porém, a oposição e a crítica são desencorajadas, e até banidas pelo sistema,
de forma dissimulada e subtil, que submetendo tudo e todos a critérios economicis-
tas, controla e domestica os indivíduos, reduzindo-os à condição de objetos e seres
anónimos sem alma. É, portanto, urgente e necessário restaurar o primado da ética
que não deve ser assunto apenas para os filósofos ou teólogos. O mundo da ciência
e da política deve participar numa reflexão coletiva sobre os limites dos poderes do
Homem sobre o Homem, sobre essa zona da pessoa onde deveria ser interdito
entrar. No entanto, não cabe apenas aos cientistas ou aos políticos estabelecer as
normas orientadoras da prática científica. Cabe a todos nós cidadãos apelar à res-
ponsabilidade das pessoas envolvidas na tomada dessas decisões.
A ciência e a técnica devem contribuir para a construção de uma sociedade
mais justa em que a igualdade e a fraternidade bem como a liberdade sejam mais do
(continua)
Página 10
que meras palavras; de uma sociedade sem classes, na qual todos os seres
humanos, elevados à categoria de co-proprietários dos meios de produção,
possam trabalhar em conjunto para garantir o bem-estar, a riqueza e a liber-
dade para todos os homens. Só assim, podemos perspetivar novos progres-
sos para o Homem e para a sociedade; metas socialmente aceites, que apon-
tem e promovam a responsabilidade do cientista, que encorajem o esclareci-
mento e a participação pública dos cidadãos no sentido do respeito pelos
direitos humanos, que afirmem e promovam a autonomia da ciência face a
instituições e movimentos totalitários que pretendam usar o poder para cir-
cunscrever a capacidade de intervenção cívica dos seres humanos, limitando-
os à condição de instrumentos ao serviço de interesses particulares. Porque,
a responsabilidade do Homem estende-se ao futuro e às outras espécies: a
sua responsabilidade é cósmica.
Existem “problemas [que] se referem ao conhecimento que [a ciência]
produz, à ação que determina, às sociedades que transforma. Esta ciência
libertadora traz ao mesmo tempo possibilidades terríveis de subjuga-
ção” (Edgar Morin).
A ciência, hoje, aparece como um corpo estranho no interior da cultura, cujo
crescimento canceroso prenuncia destruir a vida.
A corrupção da ciência, controlada pelo poder político e económico,
submete todos os valores aos seus interesses e desígnios, e continuará
enquanto existirem dirigentes que dediquem a vida à morte, o saber à igno-
rância, que ponham a cultura aos pés de quem a destrói e prostitui, dispostos
a lamber as botas ou a adorar o bezerro de ouro, para obterem trinta moedas
e comprarem aparelhos e homens.
Não nos iludamos:
A ciência não é detentora da verdade absoluta, como ela se julga. Por-
tanto, chegou a altura de exigir que ela se submeta a uma escolha democráti-
ca dos cidadãos, pois “nada é tão perigoso como a certeza de se ter razão,
nada causa tanta destruição como a obsessão duma verdade considerada
absoluta.” (François Jacob)
(continua)
Página 11
Amor à Sabedoria
A satisfação da necessidade de paz, de justiça, de felicidade, releva de esco-
lhas éticas e não do conhecimento científico.
É necessário que a cada passo reflitamos sobre o que fazemos. Vivemos atual-
mente numa era em que, como nunca até hoje, tantas ameaças convergiram sobre o
planeta, mas o inimigo não é outro senão nós próprios. Devíamos exigir e trabalhar
para que a ciência esteja ao serviço da paz e da distribuição justa dos seus benefí-
cios. Mas não… Não compreendo… E por isso pergunto-me: Até onde poderá ir o
Homem na sua ânsia de alargar o conhecimento? Quando existem coisas que não
foram criadas para serem conhecidas, mas sim contempladas.
Hoje continuo, portanto, a “[crer] nos sonhos, pois neles está escondida
a porta da eternidade” [Khalil Gibran]; hoje continuo, particularmente, a crer no
sonho de “um mundo onde sejamos socialmente iguais, humanamente diferen-
tes e totalmente livres”. [Rosa Luxemburgo]
Milagros
Página 12
Preconceitos, Estereótipos e Representações Sociais
Os preconceitos estão presentes no nosso dia a dia, acho que todos nós
temos preconceito de algo, por mais que digamos que não, existe e está presente,
penso que só nos damos conta que somos preconceituosos quando lidamos com
algum assunto.
Por exemplo, há dias apareceu-me um tipo à porta a pedir dinheiro para
uma criança que dizia ser sua filha e estava cancerosa. O indivíduo era de nacio-
nalidade romena, achei-o muito suspeito. Resumindo, não o ajudei, porque não sei
se é verdade ou não a história dele. O que ouço, normalmente, é que existem mui-
tas burlas, pessoas que se fazem passar por familiares de doentes com cancro ou
outro tipo de doenças, com o objetivo de extorquir dinheiro às pessoas. Nisto ouve-
se falar frequentemente e os cidadãos romenos são os que mais o fazem, aquelas
mafias de leste. Por isso por uns pagam todos, o preconceito está presente nesta
situação.
E se ouvimos dizer que determinada pessoa consome drogas, é traficante e
até mesmo chega a ser ladrão, a nossa atitude é pôr esta pessoa de lado e nem
olhar para ela. Aqui está presente a discriminação, o estereótipo. Aliás o filósofo
Sócrates mencionou isso, quando disse que o punham de parte por saber que
nada sabia, quando defendia a sua opinião, pensamento. O poder da discrimina-
ção existe muito no nosso dia-a-dia.
As diferentes representações sociais também estão presentes e existem
também preconceitos e estereótipos em relação a elas. Quantas vezes olhamos
para um indivíduo de outra religião ou crença e achamo-lo esquisito, isto porque
tem um tom de pele diferente, uma maneira de vestir diferente ou até mesmo por
ter outra religião. Outro assunto que está na atualidade é a homossexualidade,
antes era um tabu e hoje deixou de o ser, mas o preconceito e o estereótipo está
presente na maior parte das nossas opiniões, por mais que digamos não ter nada
contra, aceito-os perante a sociedade, mas quando na realidade existe um carinho
em público o preconceito fala mais alto e as nossas mentalidades não estão ainda
preparadas para tal ato.
Tal como nos é mostrado no filme Fahrenheit 451, também pode-se mudar
as mentalidades, pode-se ver as coisas de outro modo, o facto de Montag ser bom-
beiro e tinha por objetivo destruir todos os livros, acaba por se apaixonar pelos
mesmos, porque Clarisse o fez perceber que a mentalidade e a opinião sobre os
livros não era como pensavam. Este filme é uma pequena amostra de muitas men-
talidades fechadas que só têm olhos e foram educados para um determinado obje-
tivo e tudo o que possa ser alternativo que possa mudar ou fazer a diferença tem
que ser eliminado. Assim aconteceu com Sócrates. Ele foi um potencial revolucio-
nário das mentalidades e foi um alvo rápido a abater para que isso não aconteces-
se.
Resumindo, somos um povo preconceituoso, com uma mentalidade fechada
que, dificilmente, deixará de o ser enquanto não existir educação para tal.
Isa Faria, EFA ST 5&6
7 de janeiro de 2013
Escola Básica e Secundária Padre Manuel Álvares
Amor à Sabedoria Página 13
Opinião Pública e Reflexão Crítica
Hoje podemos assistir a uma exagerada e forçada influência televisiva,
pois é através desta que muitos formam a sua opinião e adotam estilos.
Com isto o que quero dizer é que, por exemplo, a malta mais jovem era
viciada numa série de televisão “Morangos com Açúcar”. Na minha perspetiva
esta série tinha tudo menos de um programa educativo, abordavam temas
onde demonstravam como faziam as cenas. A juventude começou a adotar os
ensinamentos que esta série transmitia. Outro exemplo da televisão que faz
com que as pessoas adotem estilos é a casa dos segredos. A forma como
eles se vestem, o estilo do boné, dos blusões, dos óculos etc… Comecei a ver
a canalha toda com este estilo, até a minha sobrinha falava comigo para eu
ver se encontrava determinado artigo para ela usar. Como não sabia o nome
daquilo que para mim são óculos, bonés e blusões, para ela tinha um nome
estrangeiro face ao qual eu ficava “às aranhas”. Com isto o que quero dizer é
que a malta nova procura usar um estilo que viu numa figura pública, pois é
através destas figuras que as marcas de roupa vendem, porque elas adotam
estilos para transmitir aos outros. Até pode ser o estilo mais horroroso, mas
como fulano tal usou, diz-se que é moda e fica giro.
Outro ponto que antigamente era feio e gozado era o aparelho nos den-
tes, quando começou a aparecer na televisão figurinhas com os aparelhos às
cores, toda a malta também quis colocar um na dentuça independentemente
da idade. Por isso existe muita influência por parte da televisão, internet, revis-
tas etc…. Eis o peso da comunicação sobre a influência e estilo das pessoas.
Quando o Tuiavii, o chefe dos povos dos Mares do Sul, diz que homem
branco é ganancioso, porque só vê dinheiro à frente, ele tem toda a razão,
porque por detrás de uma série de coisas está um enorme interesse económi-
co.
Hoje em dia nada é verdadeiro e original, tudo é um estilo plagiado de
outros, até a mulher já não gosta do seu corpo necessita de plásticas para o
embelezar, vivemos numa sociedade onde o nosso próprio estilo não conta
para nada, mas sim o estilo e a opinião dos outros são sem dúvida a forma a
adotar.
Abaixo demonstro exemplos disso.
(continua)
Escola Básica e Secundária Padre Manuel Álvares
Página 14
Na imagem seguinte a fulana teve a necessidade de aumentar o peito e
rabo o que, na realidade, o seu exagero ficou ridículo.
Imagem extraída do site
http://www.novagente.pt/b8183b1/
mod_artigos_obj_moda.aspx?sid=f47f9ddd-ba79-4667-
a14b-7a81d0334b88&cntx=FoNyR%
2FZKavifnlZR0XI1KpAnF9Y-
LIQ8SG4dFYByZ1MmJwS8sH9eLdVN2IuSj3j36
Imagem extraída do site
http://
www.aceshowbiz.com/
events/Cali%20Swag%
20District/cali-swag-district-
11th-annual-bet-awards-
press-room-01.html
Este estilo é muito adotado atualmente, casaco basebol e boné estilo
americano, os óculos. Esta é uma linha adotado não só pela juventude como
também pelas figuras públicas.
Isa Faria, EFA ST 5&6
7 de janeiro de 2013
Amor à Sabedoria Página 15
LiberdadeLiberdadeLiberdade
Será o Homem realmente livre no seu
querer e agir? Haverá mesmo liberdade
ou será a liberdade da vontade uma ilu-
são? Como se pode provar a existência
da liberdade?
Na tentativa de encontrar respostas para estas
perguntas surgiram três teorias filosóficas: o deter-
minismo radical, o libertarismo e o determinismo moderado.
As duas primeiras são incompatibilitas pois não admitem a possibilidade de con-
ciliação entre a sermos livres e sermos constrangidos ou determinados a sermos
como somos. Pelo contrário a última é compatibilista pois afirma que é possível conci-
liar a liberdade de escolha com a existência de determinismos físicos que por exem-
plo operam sobre o nosso corpo, assim como todos os corpos do universo: somos
livres se agirmos sem constrangimentos internos e/ou externos que nos impeçam de
fazer o que queremos.
Defendemos que nascemos e vivemos livres: somos donos da vontade e quem
não o é, deveria sê-lo.
Na verdade, nada nos prende. Somos capazes de fazer as nossas escolhas gra-
ças à nossa capacidade de raciocinar e de deliberar e como tal não existem causas
do nosso passado que determinem as nossas ações. Nas múltiplas situações da Vida
temos possibilidade de escolha, alternativas que podemos descobrir pelo exercício da
razão. Deliberamos racionalmente e assumimos a responsabilidade sobre aquilo que
escolhemos fazer, em detrimento de outras possibilidades.
Se não tivéssemos alternativas, como poderíamos atribuir responsabilidade a
alguém? Como é que poderia haver mérito ou culpa? Se decidimos estudar em vez
de ir às compras, será que não temos mérito?
(continua)
Página 16
É claro que sim. Independentemente dos acontecimentos do passado, fomos nós,
como seres autónomos, que decidimos ir estudar e, por isso, tomamos uma decisão
responsável.
Como podemos condenar criminosos se a estes não for atribuída responsabilidade? Se
não houvesse responsabilidade a atribuir, não faria sentido a existência de tribunais.
Sendo assim, podemos afirmar que quem defende a teoria que recusa a responsa-
bilidade moral (determinismo radical) considera a existência de tribunais completamente
desnecessária.
Uma objeção que se coloca à defesa da existência da liberdade da vontade baseia-se
numa análise de caráter científico, argumentando que tal como evidencia a ciência ao
analisar os fenómenos naturais, tudo o que acontece é desencadeado por acontecimen-
tos anteriores.
Para dar resposta a esta objeção podemos afirmar que os seres humanos pos-
suem alma e esta transcende as leis da Natureza, dado que não é de natureza material.
Como tal defendemos que os seres humanos não estão sujeitos às Leis da Natureza,
como os outros sistemas físicos estão.
Defender a liberdade é defender a dignidade humana pois somos seres pensan-
tes, racionais e conscientes e por isso temos a possibilidade de escolher o que é verda-
deiramente bom. Mesmo coagidos pela eminência de consequências extremas como a
morte, ainda aí temos a possibilidade de escolha e podemos não ceder à pressão exer-
cida sobre nós.
Somos livres e seres responsáveis.
Maria Zita Abreu e Inês Almeida, 10ºB, ano letivo 2012/ 13
Fotografias de Gerard Castello Lopes
Amor à Sabedoria Página 17
Pensa na possibilidade de possuíres um anel
que te torna invisível
O que é um ser ético - moral?
O Anel de Giges
Platão
— Falar a favor da justiça, como sendo superior à injustiça, ainda não o ouvi a nin-
guém, como é meu desejo — pois desejava ouvir elogiá-la em si e por si. Contigo,
sobretudo, espero aprender esse elogio. Por isso, vou fazer todos os esforços por
exaltar a vida injusta; depois mostrar-te-ei de que maneira quero, por minha vez, ouvir-
te censurar a injustiça, e louvar a justiça. Mas vê se te apraz a minha proposta.
— Mais do que tudo — respondi —. Pois de que outro assunto terá mais prazer em
falar ou ouvir falar mais vezes uma pessoa sensata?
— Falas à maravilha — disse ele —. Escuta então o que eu disse que iria tratar pri-
meiro: qual a essência e a origem da justiça.
Dizem que uma injustiça é, por natureza um bem, e sofrê-Ia, um mal, mas que ser víti-
ma de injustiça é um mal maior do que o bem que há em cometê-Ia. De maneira que,
quando as pessoas praticam ou sofrem injustiças umas das outras, e provam de
ambas, lhes parece vantajoso, quando não podem evitar uma coisa ou alcançar a
outra, chegar a um acordo mútuo, para não cometerem injustiças nem serem vítimas
delas. Daí se originou o estabelecimento de leis e convenções entre elas e a designa-
ção de legal e justo para as prescrições da lei. Tal seria a génese e essência da justi-
ça, que se situa a meio caminho entre o maior bem — não pagar a pena das injustiças
— e o maior mal — ser incapaz de se vingar de uma injustiça.
(continua)
Página 18Página 18
Estando a justiça colocada entre estes dois extremos, deve, não preitear-se como
um bem, mas honrar-se devido à impossibilidade de praticar a injustiça. Uma vez
que o que pudesse cometê-Ia e fosse verdadeiramente um homem nunca aceita-
ria a convenção de não praticar nem sofrer injustiças, pois seria loucura. Aqui
tens, ó Sócrates, qual é a natureza da justiça, e qual a sua origem, segundo é voz
corrente.
Sentiremos melhor como os que observam a justiça o fazem contra vonta-
de, por impossibilidade de cometerem injustiças, se imaginarmos o caso seguin-
te. Dêmos o poder de fazer o que quiser a ambos, ao homem justo e ao injusto;
depois, vamos atrás deles, para vermos onde a paixão leva cada um. Pois bem!
Apanhá-lo-emos, ao justo, a caminhar para a mesma meta que o injusto, devido à
ambição, coisa que toda a criatura está por natureza disposta a procurar alcançar
como um bem; mas, por convenção, é forçada a respeitar a igualdade. E o poder
a que me refiro seria mais ou menos como o seguinte: terem a faculdade que se
diz ter sido concedida ao antepassado do Lídio [Giges]. Era ele um pastor que
servia em casa do que era então soberano da Lídia. Devido a uma grande tem-
pestade e tremor de terra, rasgou-se o solo e abriu-se uma fenda no local onde
ele apascentava o rebanho. Admirado ao ver tal coisa, desceu por lá e contem-
plou, entre outras maravilhas que para aí fantasiam, um cavalo de bronze, oco,
com umas aberturas, espreitando através das quais viu lá dentro um cadáver,
aparentemente maior do que um homem, e que não tinha mais nada senão um
anel de ouro na mão. Arrancou-lho e saiu. Ora, como os pastores se tivessem
reunido, da maneira habitual, a fim de comunicarem ao rei, todos os meses, o
que dizia respeito aos rebanhos, Giges foi lá também, com o seu anel. Estando
ele, pois, sentado no meio dos outros, deu por acaso uma volta ao engaste do
anel para dentro, em direcção à parte interna da mão, e, ao fazer isso, tornou-se
invisível para os que estavam ao lado, os quais falavam dele como se se tivesse
ido embora. Admirado, passou de novo a mão pelo anel e virou para fora o
engaste. Assim que o fez, tornou-se visível. Tendo observado estes factos, expe-
rimentou, a ver se o anel tinha aquele poder, e verificou que, se voltasse o engas-
te para dentro, se tornava invisível; se o voltasse para fora, ficava visível. Assim
senhor de si, logo tratou de ser um dos delegados que iam junto
(continua)
Página 19Amor à Sabedoria
do rei. Uma vez lá chegado, seduziu a mulher do soberano, e com o auxílio dela,
atacou-o e matou-o, e assim se assenhoreou do poder.
Se, portanto, houvesse dois anéis como este, e o homem justo pusesse um,
e o injusto outro, não haveria ninguém, ao que parece, tão inabalável que permane-
cesse no caminho da justiça, e que fosse capaz de se abster dos bens alheios e de
não lhes tocar, sendo-lhe dado tirar à vontade o que quisesse do mercado, entrar
nas casas e unir-se a quem lhe apetecesse, matar ou libertar das algemas a quem
lhe aprouvesse, e fazer tudo o mais entre os homens, como se fosse igual aos deu-
ses. Comportando-se desta maneira, os seus actos em nada difeririam dos do outro,
mas ambos levariam o mesmo caminho. E disto se poderá afirmar que é uma gran-
de prova de que ninguém é justo por sua vontade, mas constrangido, por entender
que a justiça não é um bem para si, individualmente, uma vez que, quando cada um
julga que lhe é possível cometer injustiças, comete-as. Efectivamente, todos os
homens acreditam que lhes é muito mais vantajosa, individualmente, a injustiça do
que a justiça. E pensam a verdade, como dirá o defensor desta argumentação. Uma
vez que, se alguém que se assenhoreasse de tal poder não quisesse jamais come-
ter injustiças, nem apropriar-se dos bens alheios, pareceria aos que disso soubes-
sem muito desgraçado e insensato. Contudo, haviam de elogiá-lo em presença uns
dos outros, enganando-se reciprocamente, com receio de serem vítimas de alguma
injustiça. Assim são, pois, estes factos.
Quanto à escolha, em si, entre as vidas de que estamos a falar, se conside-
rarmos separadamente o homem mais justo e o mais injusto, seremos capazes de
julgar correctamente. Caso contrário, não. Qual é então essa separação? É a
seguinte: nada tiremos, nem ao injusto em injustiça, nem ao justo em justiça, mas
suponhamos que cada um deles é perfeito na sua maneira de viver. Em primeiro
lugar, que o injusto faça como os artistas qualificados — como um piloto de primeira
ordem, ou um médico, repara no que é impossível e no que é possível fazer com a
sua arte, e mete ombros a esta tarefa, mas abandona aquela. E ainda, se vacilar
nalgum ponto, é capaz de o corrigir. Assim também o homem injusto deve meter
ombros aos seus injustos empreendimentos com correcção, passando despercebi-
do, se quer ser perfeitamente injusto. Em pouca conta deverá ter-se quem for apa-
nhado. Pois o supra-sumo da injustiça é parecer justo sem o ser. Dêmos, portanto,
(continua)
Página 20
ao homem perfeitamente injusto à mais completa injustiça; não lhe tiremos nada, mas
deixemos que, ao cometer as maiores injustiças, granjeie para si mesmo a mais
excelsa fama de justo, e, se acaso vacilar nalguma coisa, seja capaz de a reparar,
por ser suficientemente hábil a falar, para persuadir; e, se for denunciado algum dos
seus crimes, que exerça a violência, nos casos em que ela for precisa, por meio da
sua coragem e força, ou pelos amigos e riquezas que tenha granjeado. Depois de
imaginarmos uma pessoa destas, coloquemos agora mentalmente junto dele um
homem justo, simples e generoso, que, segundo as palavras de Ésquilo, não quer
parecer bom, mas sê-lo. Tiremos-lhe, pois, essa aparência. Porquanto, se ele parecer
justo, terá honrarias e presentes, por aparentar ter essas qualidades. E assim não
será evidente se é por causa da justiça, se pelas dádivas e honrarias, que ele é des-
se modo. Deve pois despojar-se de tudo, excepto a justiça, e deve imaginar-se como
situado ao invés do anterior. Que, sem cometer falta alguma, tenha a reputação da
máxima injustiça, a fim de ser provado com a pedra de toque em relação à justiça,
pela sua recusa a vergar-se ao peso da má fama e suas consequências. Que cami-
nhe inalterável até à morte, parecendo injusto toda a sua vida, mas sendo justo, a fim
de que, depois de terem atingido ambos o extremo limite, um da justiça, outro da
injustiça, se julgue qual deles foi o mais feliz.
— Céus! Meu caro Gláucon! — exclamei —. Com que vigor te empenhas em limpar
e avivar, como se fosse uma estátua, cada um dos dois homens, a fim de os subme-
ter a julgamento!
Platão
Tradução de Maria Helena da Rocha Pereira. Adaptação de Vítor João Oliveira. Reti-
rado de República. Lisboa: Gulbenkian, 4ª ed., 1983, pp. 55-60.
Página 21Amor à Sabedoria
ABORTO
Este texto tem como objectivo dar a conhecer a minha opinião perante este
tema e convencer os leitores que o aborto é algo absurdo.
O aborto ou interrupção da gravidez é a remoção ou expulsão prematura de um
embrião ou feto do útero, resultando na sua morte ou sendo por esta causada. Isto
pode ocorrer de forma espontânea ou induzida, provocando-se o fim da gestação, e
consequentemente o fim da actividade biológica do embrião ou feto, mediante uso
de medicamentos ou realização de cirurgias.
A discussão deste assunto é importante, pois é a vida humana que está em
jogo.
É o aborto moral?
Há duas respostas possíveis para este problema: o aborto é moral pois o feto é
parte do organismo materno e a mulher tem livre disposição de seu corpo e o aborto
não é uma prática moral porque todos os seres humanos têm o mesmo direito à
vida.
Eu defendo que o aborto não é moral porque todos os seres humanos têm o
mesmo direito à vida e os fetos são seres humanos. Matar deliberadamente quem
tem direito à vida é errado e o aborto consiste em matar fetos deliberadamente. Está
provado cientificamente que aos 40 dias já é possível detetar atividade cerebral atra-
vés de um EEG; às 12 semanas o feto demonstra já ter adquiridos aspetos reflexos
de comportamento como a sucção; por volta das 17 semanas reage a sons fortes,
bem como reage à voz da mãe; às 24 semanas as papilas gustativas parecem já es-
(continua)
Página 22
tar aptas a funcionar; às 28 semanas consegue abrir e fechar os olhos de forma
reflexa (piscar); às 30 semanas distingue a luz da escuridão e é capaz de seguir
um foco de luz apontado à barriga da mãe; já é capaz de agarrar o cordão umbili-
cal e outras partes do corpo intencionalmente e fechar a palma da mão à volta
delas.
Uma pessoa que defende que o aborto é uma prática moral defenderá que a mãe
deve poder decidir que rumo dar à situação, como em casa de violações, casos
de detecção de doenças graves no feto, ou se a gravidez prejudicar a saúde da
mãe, isto é, se houver risco de vida para a mãe no parto.
Responderei a esta objeção defendendo que os seres humanos, seres racionais
que são, têm de assumir as responsabilidades e arcar com as consequências,
sejam elas quais forem, sob pena de colocarem em risco a dignidade humana.
Racionalmente, não posso aceitar o assassínio de um ser humano.
Fátima Catarina Ferreira de Sousa, 10º D, ano letivo 2012 / 13
Imagem de:
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Amor à Sabedoria Página 23
A propósito do livro: A Vida Que Podemos Salvar, de Peter Singer
(Tradução de Vítor Guerreiro), Lisboa: Gradiva, 2011, 252 pp.
Será que temos a obrigação ética de ajudar quem vive na pobreza absoluta?
Antes de mais, considero que ajudar - seja, na pobreza ou na riqueza - é um dever
do cidadão civil.
O cidadão não só tem direitos como tem deveres e um deles é a entreajuda
ao outro. Esta questão faz-me pensar no quanto, por vezes, somos egoístas, mes-
mo sendo solidários. Com isto quero dizer que, tal como no texto que li, posso
estar a usufruir de bens que podia perfeitamente dispensar para ajudar alguém.
Por exemplo, quando compro uma tablete de chocolate ou até um sumo, não pen-
so que com aquele mesmo valor poderia matar a fome de algumas pessoas/
crianças dos países pouco desenvolvidos (pobres). Não penso que com a quanti-
dade de açúcar ingerida por mim numa tablete de chocolate pudesse fazer as delí-
cias de muitas pessoas. Não me posso considerar mau cidadão por isso, mas pos-
so começar a ter mais consciência dos meus atos e tornar-me um cidadão cada
vez melhor. Aliás, quando falamos em obrigação ética para com os outros penso
que não se deve referir só ao facto de sermos corretos em algumas situações,
como man-
(continua)
Página 24Página 24
dar alguns donativos de ajuda ou até mesmo quando somos voluntários em recolhas
de alimentos ou de outros tipos de mantimentos.
O que não podemos esquecer é que, hoje, mesmo estando na situação em
que estamos (crise económica), somos considerados ricos. Digo isto pelo seguinte:
nós estudantes do 10ºG, tivemos pelo menos 10 anos de escolaridade em que sem-
pre tivemos formação de forma gratuita, tivemos livros, cadernos, acompanhantes
nos estudos, etc, de forma abundante; enquanto noutros países nem sequer conse-
guem ter educação escolar; muitos nem sabem o que são línguas nem fazem ideia
que existem disciplinas. Nós somos egoístas no sentido em que temos tudo e não
damos o valor quando recusamos por exemplo ir a um apoio de determinada maté-
ria. Se todos nós enviássemos os nossos materiais usados para os países pobres,
tais como roupas ou calçados estávamos a contribuir para uma vida um pouco
melhor e acolhedora dos que lá vivem.
Por outro lado, sabemos que, muitas vezes, não há só falta de alimentos e de
formação escolar, como também não é possível sequer a higiene pessoal: nós
temos o privilégio de ter água potável e conseguimos mantermo-nos limpos e hidra-
tados, mas existem lugares em que nem é possível sequer beber água, quanto mais
tomar banho. Assim, com a falta de higiene e de boa alimentação começam a apa-
recer algumas doenças associadas tais como a malária, o sarampo e a varíola e
problemas na pele. Para além disso, precisamos de nos lembrarmos que, em muitos
lugares, os acessos aos hospitais ou postos de socorro/saúde não podem ser per-
corridos.
Considero que temos a obrigação ética de ajudar nestes sectores para comba-
ter a pobreza absoluta.
Como seres racionais que somos, devemos considerar importante este tema
pois faz parte do nosso Mundo: do Mundo Humano, mesmo distante fisicamente.
Temos a obrigação de ajudar a melhorar a qualidade de vida, até para a nossa
própria paz de espírito. Costuma-se dizer que quando praticamos o bem recebe-se
o bem.
Os textos de Peter Singer conseguiram pôr-me a refletir na questão inicialmen-
te apresentada: Será que temos a obrigação ética de ajudar quem vive na pobreza
absoluta?
(continua)
Página 25Amor à Sabedoria
O seu objetivo foi cumprido ao sensibilizar-me e fazer-me pensar nas minhas esco-
lhas, de modo a dar mais de mim para ajudar a reduzir a pobreza extrema que o
nosso mundo enfrenta hoje.
Não posso esquecer que nós somos o futuro: eu sou o futuro e posso ajudar a
melhorar o mundo.
Eu sou voluntário e continuarei a sê-lo!
Daniel Freitas, 10ºG, ano letivo 2012/ 13
Como contribuir para criar um mundo melhor ?
Sou uma cidadã e, como tal, tenho consciência dos meus direitos e deveres. Sou
muito jovem: tenho apenas 18 anos, mas, assim como todos, sonho com uma
sociedade mais justa, onde eu possa viver com a certeza de um futuro melhor.
Para contribuir para um mundo melhor, não é preciso grandes mudanças. Qualquer
pessoa pode fazer a sua parte edificando a sua vida em hábitos saudáveis. Econo-
mizar água e energia, reduzir o lixo e usar menos o carro são algumas maneiras
eficazes para diminuir a poluição, a sujidade e o gasto de energia.
(continua)
Página 26
A cidadania constrói-se diariamente nas pequenas ações, gestos que faze-
mos no quotidiano, para com os outros, com a natureza ou em favor do bem
comum. Se é importante e fundamental o respeito à Natureza, não é menos impor-
tante o respeito do Homem pelo Homem: cumprimentar as pessoas, saber ouvir,
respeitar a opinião dos outros, são atitudes que demonstram a nossa cidadania na
prática.
Ainda vivemos num mundo com muitas coisas erradas: ouvimos e vemos ati-
tudes de desrespeito à vida humana todos os dias, principalmente na televisão
sobre a violência, seja física, seja verbal, seja psicológica.
Muitas vezes, o desrespeito pela própria vida é assustador. A fuga pelas dro-
gas, pelo álcool, pelo uso de comprimidos para dormir, revelam a ânsia pela anes-
tesia, para não se ver o que é urgente mudar.
Respeitar e dignificar a vida humana é urgente! Ter em conta as opiniões e
ideias de cada um, pois todos nós temos virtudes e defeitos: unindo-nos, consegui-
remos melhorar a sociedade.
Como cidadã exerço um dever que me compete, pois cumpro com meu papel
de estudante.
Todas as pessoas de países e culturas diferentes podem entender-se, se a
sua preocupação com o que se passa no mundo for expressa em ações concretas.
A música é um meio possível de união. Vimos um vídeo na aula de Área de Inte-
gração que mostrava como o uso da música pode unir o mundo à volta de causas
internacionais. Todos cantavam e tocavam instrumentos, e ninguém criava juízos
de valor acerca das diferenças: se aquele era branco, preto, se era judeu, budista,
chinês, árabe. Todos estavam unidos e a colaborar juntos. Podiam ser baixinhos,
gordinhos, altos, magros. Naquele vídeo, cada um revelava-se com o que tinha de
melhor para dar: não havia uma pessoa melhor do que outra.
Conseguiremos fazer um mundo melhor! Conseguiremos ultrapassar guerras,
injustiças, desigualdades, se o quisermos. Para isso: cada um precisa de fazer a
sua parte!
Virginie, 10ºC, ano letivo 2013 / 14
Página 27Amor à Sabedoria
A inveja, mal dos tempos de crise
O trigo e o joio
Há um traço comum a muitas formas de mal-estar que afligem a nossa
sociedade e poderiam ser evitadas: a necessidade urgente de reeducar as nos-
sas paixões e sentimentos. Uma paixão que precisa especialmente de ser ree-
ducada é a inveja, uma das mais negativas e devastadoras em todas as cultu-
ras, muito perigosa em tempos de crise. Diferentemente da nossa, as culturas
do passado conheciam os desastrosos danos produzidos pela inveja não cuida-
da e mal gerida e tinham por isso desenvolvido uma ética capaz de a orientar
para o bem ou, pelo menos, de contê-la. A regra de ouro – ‘faz aos outros o que
gostarias que fosse feito a ti’ – pode também ser lida como eficaz tratamento
preventivo da inveja. Não por acaso é posta na Bíblia no centro da primeira fra-
ternidade-fratricídio de Caim.
A nossa civilização, no entanto, tem muita dificuldade em compreender a
inveja. Confunde-a, por exemplo, com uma ideia errada de competição (ser
melhor do que os outros), que chega a ser apresentada como único caminho
para orientar para o bem comum a natureza invejosa da pessoa. A inveja escon-
de-se frequentemente por detrás das crescentes invocações da meritocracia ou
seja do nosso mérito e do demérito (ou “má sorte”) dos outros. Não a reconhece-
mos em denúncias ou querelas e assim não definimos regras para a bloquear à
nascença e gerir de modo diferente demasiados processos evidentemente
‘invejosos’, que absorvem imensas energias morais e económicas de cidadãos e
tribunais. Não a vemos por detrás da corrida ao “consumo posicional”, que con-
duz a endividamentos para chegar ao nível de consumo de colegas e vizinhos,
uma inveja social que a publicidade tende a amplificar e o mercado a aproveitar
para vender as suas mercadorias e produzir infelicidade, mesmo se aumentam o
PIB – eliminar a componente do PIB produzida pela inveja seria um passo
essencial rumo à quantificação do bem-estar real de um país.
(continua)
Página 28
E no entanto a inveja é muito simples de identificar: é sofrer com o bem do outro e alegrar-se
com o seu mal e depois agir para criar esse mal ou reduzir esse bem. Em alemão há uma
palavra (schadenfreude) que exprime exatamente esse sentimento negativo que pode nas-
cer quando alguém nos comunica uma má notícia que lhe diz respeito. Para que porém se
caia no vício e frequentemente do vício se passe ao dano e até ao crime, é necessário que a
paixão gere ações. Não é o simples “desejo” das “coisas alheias” a violar o nono mandamen-
to. É o que nos sugere também o significado do verbo hebraico hamad: no Decálogo traduzi-
mo-lo com “desejar”, mas a sua semântica indica a atitude de quem delibera agir para obter
o que deseja (o mal). Na realidade, sabemo-lo muito bem, se um sentimento ou um mau
pensamento não é combatido à nascença, mais tarde ou mais cedo traduz-se também em
obras, palavras, omissões.
Na inveja há depois um fundamental mecanismo de reciprocidade negativa. Porque
sei, tendo-o experimentado em mim mesmo em circunstâncias semelhantes, que tu estás a
experimentar inveja pelo meu sucesso, encontro uma alegria suplementar em contar-te as
minhas vitórias (e, analogamente, em silenciar as minhas desventuras). Geram-se assim tris-
tes males relacionais em espiral, de que todos os dias somos protagonistas e espetadores,
círculos viciosos que só poderão ser invertidos pela presença de pessoas magnânimas. As
pessoas magnânimas, ou seja anti-invejosas, são um dom de valor imenso para uma comu-
nidade porque, diferentemente dos invejosos, em vez de atenuar alegrias e amplificar sofri-
mentos, multiplicam alegrias e reduzem sofrimentos. Mas não é possível ser anti-invejoso e
magnânimo sem uma profunda vida espiritual e, para tal, um constante exercício do ágape –
quer o eros quer a philia podem produzir inveja; só o ágape é naturalmente anti-invejoso. A
família é, ou deveria ser, o principal lugar onde se desenrola o jogo de espelhos virtuoso da
anti-inveja. Uma das maiores formas de pobreza do nosso tempo é a de tanta gente que não
tem pessoas anti-invejosas com quem partilhar as grandes desventuras e as grandes ale-
grias da existência.
Além disso, como já recordava Aristóteles, a inveja não se desenvolve em relação a
todos, mas apenas para com os nossos pares. Entre estudantes não se é invejoso dos pro-
fessores, mas dos colegas. Não se invejava o imperador, nem o patrão. Para com os
‘superiores’ surgem outros sentimentos: raiva, admiração, imitação e a esperança de ser um
dia como eles. O ciclista ainda amador não inveja o grande campeão, mas sim aquele que
fica à sua frente numa corrida. Não se invejam os pais, mas os irmãos. Um sinal inequívoco
de inveja é a síndrome do “mesmo se …”, isto é aquela nota negativa com a qual o invejoso
termina todas as apreciações de um colega ou amigo (“é uma excelente pessoa, mesmo se
…”). As sociedades de castas (desde as civilizações antigas às grandes empresas capitalis-
tas) são também uma tentativa de limitar a expansão da inveja.
(continua)
Página 29Amor à Sabedoria
Aliás, o ideal de toda a sociedade hierárquica perfeita é a construção de organizações
sociais nas quais os pares existam o menos possível, de modo que cada um tenha apenas
superiores e inferiores, com passagens de status bem disciplinadas. Os seres humanos têm
dificuldade não tanto em comandar ou obedecer, mas em relacionarem-se positivamente
com os seus pares. Mas na realidade, quando nos confrontamos com os nossos pares que
sentimos melhores do que nós, juntamente com a possível inveja surge também frequente-
mente a estima e o desejo de cooperação. Não seria difícil encontrar uma base biológica e
evolutiva para ambos os sentimentos. Quando um meu par alcança uma melhoria e estamos
num contexto estático, onde o ‘bolo’ é fixo e um só, aquela sua vantagem pode facilmente
traduzir-se numa minha desvantagem, num “jogo de soma zero” (no qual os ganhos são
iguais às perdas). E aqui desencadeiam-se o sentimento e muitas vezes as ações da inveja.
Mas na realidade as relações sociais que são objetivamente um “jogo de soma zero” são
apenas uma pequena minoria. A vida em comum, quando funciona, é na verdade uma gran-
de fábrica cooperativa, um conjunto de relações de vantagem mútua para crescer em con-
junto. A inveja cultivada faz-nos então perder muitas ocasiões de vantagem recíproca, por-
que nos leva a ler subjetivamente o mundo como um contínuo confronto destrutivo e em riva-
lidade com os outros, e não como um conjunto de oportunidades de reciprocidade. É por
isso que muito frequentemente o desenvolvimento da inveja é um mau atalho perante um
relacionamento no qual não fomos capazes de ver e encontrar uma boa reciprocidade. A
inveja é por vezes uma estima que não amadureceu por falta de magnanimidade e trabalho
sobre nós mesmos para chegar àquela excelência e auto-estima que se pode oferecer como
dom ao outro.
Nos tempos de crise, infelizmente, acentua-se a tendência para ler os relacionamentos
com os outros em termos de rivalidade e inveja, como jogos de soma zero. As crises alimen-
tam invejas, e são por elas alimentadas, porque a incerteza e o pessimismo impelem a olhar
com rivalidade quem está ao lado. É pois em tempos de crise que a educação à anti-
inveja, à magnanimidade, à estima dos nossos pares é particularmente preciosa,
como sempre a começar pela família e pela escola para chegar às instituições
(desde o sistema fiscal até aos esquemas de incentivo nas empresas), que podem
alimentar o joio da inveja ou gerar o trigo da cooperação.
Luigino Bruni, Avvenire 30.06.2013
http://www.avvenire.it/Commenti/Pagine/ilgranoeilloglio.aspx
Página 30
“Quem se importa”, de Mara Mourão
“Mais que um documentário, um movimento que inspira os indivíduos a serem transfor-
madores.”
Não nos resignemos. O caminho é a excelência…
Porque em nós reside a coragem e a esperança relativamente a Portugal; em nós resi-
de a força da mudança.
Tenhamos a capacidade de trabalhar em rede…
Não nos fechemos em nós mesmos…
Reflexão
Um filme para quem acredita que pode mudar o mundo…
O documentário inicia com cenários de guerra, doença, excesso populacional, polui-
ção, lixo e pobreza extremas.
A indiferença, a apatia e a ignorância constituem os atuais piores inimigos do
Homem… e ninguém parece importar-se…
A maioria dos seres humanos vive apenas tentando sobreviver e a remanescente par-
cela vive perdida por entre distrações, bombardeada por informações, desconectada de sen-
tido.
O Homem vive acreditando que os problemas são impossíveis de resolução. Mas será
que ainda somos capazes de nos importar?
Não estamos aqui para aproveitar, simplesmente, a vida, como se alguém tivesse con-
cebido o mundo e fôssemos apenas convidados. Nós não somos convidados, somos criado-
res.
O ser humano é criador da sua própria vida, do seu próprio mundo. O Homem faz e
cria a história. No entanto, antes de criar o seu mundo, o Homem deveria de imaginar que
tipo de mundo quer, porque a consciência precede os factos e antes de mais temos que ima-
ginar e saber e só depois ir mais além do que achamos ser possível.
O mundo transpõe agora um período difícil. O preço dos alimentos e do petróleo cres-
(continua)
Página 31Amor à Sabedoria
ce exponencialmente; decorrem guerras e conflitos. Talvez por uma perda de fé nas lideran-
ças e na respetiva integridade…
Assim, pensemos no que há de bom: energias limpas; formas de conexão. E através
de uma consciência crescente, o Homem quererá ver um mundo melhor e aprenderá que os
conflitos, o apego ao passado e a muitos confortos não são tão relevantes e podem ser dei-
xados de lado.
É uma questão elementar de estilo de vida. Como vivemos neste planeta? Que respon-
sabilidade impomos a nós mesmos?
Se respondermos a estas questões, criaremos a consciência de que se vivermos e
agirmos de certo modo, estaremos lesando alguém, quando não deveria atingir a vida do
próximo.
Todos nós podemos, contudo, trazer mudanças positivas para algum confim do plane-
ta.
Todos podem mudar o mundo… Basta dizer basta e não ficar acomodado… Basta
dizer basta e fazer; e fundar…
Não importa o número de beneficiados, mas o sentimento que se esconde…
Qualquer pessoa pode ser um empreendedor social, não é nenhuma bênção divina.
Simplesmente é necessário que o Homem se consciencialize do seu poder de transfor-
mação.
A partir de qualquer sector, qualquer confim do planeta, é possível que surjam iniciati-
vas que possam mudar o rumo da História. É, apenas, necessário que o Homem reconheça
que o conhecimento de um índio ou de uma mulher de uma comunidade tradicional é tão
fundamental como o criado por um grande cientista num grande laboratório.
Um empreendedor social é aquele que vê esperança onde outros não a vêem; que vê
possibilidades onde não existem; que vê espaços entre uma coisa e outra.
Um empreendedor social é um visionário: tem imaginação, esperança; é infinitamente
prático e detalhista. Ser empreendedor não é ter a capacidade de gerenciar, nem a aptidão
de fazer acontecer ou de liderar; ser empreendedor é saber quais os rumos que a sociedade
deve tomar e fazer tal acontecer. Todos temos responsabilidade e, por um mundo melhor,
temos que participar.
Não imaginam a ausência de dignidade que a pobreza pode criar… Temos que ver se,
(continua)
Página 32
como seres humanos, temos uso para alguém. Temos que querer fazer mais…
É impossível pensar num problema global cuja solução não seja, pelo menos, parcial-
mente global.
Pela primeira vez na história da Humanidade, sente-se a ameaça. E não temos mais
tempo… O consumo, a produção de lixo e de desperdício já estão exagerados. O aqueci-
mento global já é facto…
Se o Homem não mudar, o planeta o varrerá…
O planeta é, hoje, um carro a alta velocidade rumo ao abismo. Precisamos desacelerar
e mudar completamente. Se todas as comunidades não reaprenderem a ética de cuidado
caminharemos eminentemente para a autodestruição…
Podemos recuperar aéreas totalmente degradadas…
Cada pequeno problema comunitário é resultado de todos os factores que envolvem a
comunidade. Assim, para desenvolver é preciso mover tudo do mínimo…
É preciso o contacto, estar com a comunidade…
Todos temos coisas a colaborar. Contrapartidas e obrigações mútuas. Precisamos de
uma realidade de parceria.
Todos podemos ser transformadores.
Basta envolver a comunidade em todos os trabalhos de modo a que tome as rédeas do
poder e possa conduzir o seu próprio desenvolvimento. Basta considerar os pobres como
cidadãos capazes e fornecer os instrumentos para que se desenvolvam, encarando-os como
irmãos.
Basta que o Governo e os empreendedores se unam, com visão estratégica de escala.
O crescimento do Sector Cidadão é uma nova esperança para a sociedade, para a
Humanidade e para o mundo.
Mas só se não se isolar em si mesmo…
O ponto crítico para o crescimento dos criadores de mudança e do Sector Cidadão é o
consequente alistamento com outros sectores.
As mudanças não funcionam quando isoladas do governo ou quando isoladas do mun-
do corporativo.
Existe esperança no mundo se criarmos uma geração de transformadores que vêem o
que existe de bom em todos os lugares da sociedade; que investem, ordenam e mobilizam,
como uma força de mudança.
(continua)
Página 33Amor à Sabedoria
É necessário pensar fora da caixa. Os desafios de hoje são diferentes dos de ontem.
Assim como não serão iguais aos de amanhã. É necessária a habilidade de fazer os indiví-
duos se envolverem. Um Homem não pode decidir por outro; nem pode ajudar se não
conhece os problemas do próximo.
É necessário angariar dinheiro, mas com vista a melhorar a sociedade do outro e aten-
dendo ao facto de que quando a felicidade se direciona só para um lado se torna exploração.
É necessário compreender que o prazer de um Homem é o de outro, que quando um
Homem ganha, o seu irmão também.
O problema é, por conseguinte, a herança de um mundo compartimentado, sectoriza-
do. O Homem precisa de procurar uma convergência, um novo modelo de gestão de empre-
sas, que nasça socialmente responsável, porque os governos atuais não privilegiam a felici-
dade, a força voluntária de um corpo.
Quando se observa os indicadores de desenvolvimento de um país o principal indica-
dor de como um cidadão contribui ao bem-estar é através da PEA – população economica-
mente ativa, a qual reconhece o povo entre os 15-64 anos de idade. Não existe um indicador
que afirme a um menino de 4, 8 ou 12 anos que o que faz contribui para o bem-estar do
país. Por conseguinte, foi criado um novo indicador – população ambientalmente ativa, que
reconhece o todo.
O consumo originou um estado de alerta para o sustento da vida humana. E a causa é
a incoerência, a incapacidade de pensar, de sentir, de dizer e de fazer de modo alinhado e
no tempo. O Homem vive pensando, dizendo e fazendo coisas completamente diferentes.
E sem coerência social alimenta-se a indiferença, a mentira e a violência.
É necessário guiar as comunidades locais no sentido de que resolvam os problemas
humanitários, independentemente da ajuda estrangeira.
Mas o maior problema é a falta de fé, de imaginação e de esperança. Não se acredita
ser possível.
Mas como intervir? Qual a forma mais eficiente?
É necessário conhecer. Não somos um não-alguma-coisa.
Cidadania é importar-se, é organizar, é fazer.
Sem uma sociedade civil pulsante, a Humanidade encontra-se extraviada numa encru-
zilhada sem saída.
(continua)
Página 34
Quando o ser humano pensa em mudança surge logo a ideia de grandes milagres, grandes
somas de recursos.
Não precisamos de grandes tecnologias.
Com o que já se sabe, com o que já está à disposição, o mundo é passível de transfor-
mação. Uma transformação que termine com a falta de saber, a ignorância, a falta de oportu-
nidade e de acesso.
Ideias são coisas que devemos libertar.
Se quer fazer mudança, deve abrir mão de qualquer direito autoral porque o objetivo é
embutir as ideias nas estruturas dos sistemas.
O importante é, pois, descontaminar o mundo dos processos antinaturais de privatiza-
ção do pensamento, das ideias de solução. Porque, afinal, somos o canal para que se insta-
lem no mundo.
De algo mínimo pode despontar um proceder totalmente novo; ações pequenas podem
somar muito mais rapidamente do que se pensa; os Homens podem realmente transformar
um sistema.
Qualquer território é portador de desenvolvimento.
A pobreza não é uma sentença inexorável de Deus. A pobreza pode ser eliminada do
mundo uma vez que não faz parte da sociedade humana; esta é artificialmente imposta.
E algo artificial sempre pode ser arrancado.
A crise atual verifica-se não devido à falta de recursos, mas à inadequada distribuição
dos mesmos. Os Homens trabalham exclusivamente para si mesmos. Quando é necessário
dar as mãos e colaborar; terminar com o individualismo, os abusos e a exploração; olhar do
ponto de vista ambientalista; fazer mais com menos; incrementar a partilha e a cooperação,
por uma sociedade proativa.
A crise, no sentido salutífero, é então útil para a diminuição do consumismo, da polui-
ção, do materialismo, do egoísmo e do altivismo.
Não é nada com a semente, o problema é que se não dá a base para que possa cres-
cer.
Muito do que somos e do que temos é consequência das condições onde nascemos.
Reconhecer, respeitar e meditar sobre esse facto torna natural o pensar sobre o outro
que nasceu sob circunstâncias que não propiciaram que fosse tão bem sucedido quanto
muitos de nós conseguimos ser.
(continua)
Página 35Amor à Sabedoria
Os pobres querem ser tratados como parceiros de negócio. Querem que nós sejamos
os seus investidores, numa relação de dignidade mútua.
E, na verdade, são os pequenos passos que se somam e fazem o mundo girar numa
direção. Busquemos, então, esse sentido e façamos disso o nosso trabalho de todo o dia.
O manifestar de amor e respeito, de forma majestosa, é o maior dom que pode ter.
Se uma criança tem todos os brinquedos e nenhum vestígio de amor, não funciona. A
mesma coisa para os adultos… Os bens materiais são medidas indiretas de sucesso na
vida; são as sombras da caverna.
Tornamo-nos aquisitivos ou materialistas porque nunca estimularam as nossas mentes
a nível inteletual, emocional e espiritual. Pensamos, assim, uma criança como tola se não vê
beleza numa montanha ou numa estrela, e como normal se não vê beleza nas leis e cone-
xões invisíveis da Natureza…
Estamos a bloquear parte dos nossos cérebros…
Existe uma fonte infinita de alegria e entretenimento, absolutamente gratuita. Existe um
descomunal potencial nas crianças que não estamos nutrindo.
A verdadeira raiz da pobreza material é a inteletual.
Aprendamos, de uma vez por todas, que “nem tudo o que conta pode ser contado e,
ainda, que nem tudo o que pode ser contado conta” [Einstein].
Direitos por si só não conferem uma vida interessante e significativa. É preciso que nos
sintamos participantes e com amor; que nos sintamos contribuidores. Ter um olhar livre de
dogmas…Todos têm capacidades…
É necessário libertar o potencial humano em seres vistos como incapazes, deficientes
ou irrecuperáveis.
Fazer parte da solução e não do problema.
Aprender a cuidar do outro, a entender a sua experiência.
Ter a habilidade de imaginar como o outro se sente. Só assim resolveremos conflitos,
pelo altruísmo, através da ética de cuidado; pela humanidade que ainda existe em nós.
Não temos o direito de desistir de uma criança…
É necessário reciprocidade, preocupações compartilhadas, um futuro compartilhado.
Não é preciso muito para inspirar uma pessoa a ser o que realmente é. Faça da
mudança um caminho a ser seguido.
(continua)
Página 36
Não peça permissão. Simplesmente faça!
É possível acabar com os maiores problemas da Humanidade.
O mundo dos transformadores será verdadeiramente igual, ético e respeitoso. O que
importa não é o resultado, mas quem nos tornamos durante a jornada. Sintamo-nos úteis e
válidos.
Sejamos uma Humanidade criativa, inventiva, inovadora, ativa, empreendedora, tenaz,
verdadeira cidadã.
Lembremo-nos das nossas maiores aspirações e tragamos as nossas dádivas de amor
para o altar da Humanidade. Não somos seres isolados, mas seres permanentemente
conectados, em mistério e encanto, com este Universo, com a comunidade e com o outro.
Milagros
“Existem dois tipos de pessoas.
As que falam e as que agem. Procuro estar no segundo grupo, dado que no primeiro
há já muita concorrência.” (Indira Gandhi)
O mundo será melhor quando eu for melhor…
Não fiquemos à espera…
É necessário instigar a ação individual e coletiva; apontar novos caminhos e formar
agentes ativos na construção de um mundo melhor que detenha um olhar ético.
É necessário encarar os grandes problemas do mundo como oportunidades e não
como obstáculos intransponíveis.
É necessário ter vontade de metamorfosear o mundo, numa ação social e transforma-
dora que melhore contextos sociais, ambientais, económicos, políticos e humanos.
Tenhamos a alegria de usufruir uma missão de vida, visões e soluções de futuro, para
um mundo sustentável e justo.
É necessário pensar as necessidades da sociedade; abandonar a apatia e o imobilis-
mo para agir; criar respostas inovadoras capazes não só de mudar a sociedade em redor,
mas também de causar um impacto social para que possam transformar-se em políticas
públicas pelo mundo; é necessário revolucionar o processo “criativo-destrutivo” do capitalis-
mo, pelo desenvolver de novas tecnologias ou do aperfeiçoamento de uma antiga – o real
papel da inovação; é necessário alcançar o bem-estar coletivo e transformar a realidade em
todo o mundo.
Milagros
Página 37Amor à Sabedoria
Tanto Mar
Sei que estás em festa, pá
Fico contente
E enquanto estou ausente
Guarda um cravo para mim
Eu queria estar na festa, pá
Com a tua gente
E colher pessoalmente
Uma flor do teu jardim
Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei também quanto é preciso, pá
Navegar, navegar
Lá faz primavera, pá
Cá estou doente
Manda urgentemente
Algum cheirinho de alecrim
Chico Buarque
* Letra original, vetada pela censura; gravação editada
apenas em Portugal, em 1975.
As Gaivotas
As gaivotas voam no ar
os alunos na sala a trabalhar
até o toque soar
ninguém vai parar.
Voar é aprender
a estudar,
a ler,
a escrever,
a multiplicar,
para podermos crescer.
O pai e a mãe a trabalhar
para nos sustentar
é nosso dever ajudar
para com eles partilhar.
As gaivotas pairam no ar
a dançar sem cansar
e o meu poema a rimar
com palavras de encantar.
Miguel Ângelo Faria Silva,
Turma: 5ºE,Nº:17
Página 38
Despertar para o nosso património natural
Vivemos numa Ilha povoada de plantas e com extensas zonas verdes.
Temos uma floresta considerada pela UNESCO reserva da biosfera, floresta essa
designada pela Laurissilva. Eu jamais imaginaria que dentro desta floresta existiria
milhares de plantas medicinais e plantas existentes a nível mundial. Quando olha-
va para essas mesmas plantas, considerava-as como monda, destinada apenas ao
consumo animal. Mas depois da caminhada que realizámos na Fajã da Nogueira,
na freguesia do Faial, percebi e foi-nos apresentada cada planta e qual a sua fun-
ção em termos medicinais. A partir desse momento a minha mentalidade mudou.
Com base neste trabalho fiquei a conhecer melhor as plantas e para que fins medi-
cinais se destinam.
Com a recolha de dados fotográficos e apontamentos, elaborámos uma ati-
vidade onde incluía também essas mesmas plantas observadas na caminhada,
mas também outras plantas que pesquisámos através da internet com o objetivo
de localizarmos plantas existentes e não existentes na região e a sua origem, se
fazem ou não parte da Macaronésia (Açores, Madeira e Canárias).
Com esta atividade, aprendi algo mais sobre plantas, e o que podemos fazer
com elas, nem imaginaria que existem milhões de espécies que são benéficas para
a saúde e algumas delas têm origem nos confins do mundo.
Abaixo apresento o registo fotográfico da nossa atividade integradora.
(continua)
Escola Básica e Secundária Padre Manuel Álvares
Página 39Amor à Sabedoria
Na Caminhada na Fajã da
Nogueira-Faial, percurso
em busca de plantas medi-
cinais.
Algumas espécies encontra-
das na caminhada
(continua)
Página 40
Preparação para apresentação
da nossa atividade ao público
Chegada da nossa convidada
Eng. Graça Mateus
A minha apresentação das
plantas da caminhada
Página 41Amor à Sabedoria
Momento em que a nossa con-
vidada Eng. Graça Mateus ini-
ciou a sua palestra
Esta foi mais uma das nossas
atividades integradoras em que
foi fundamental ver em termos
globais a origem das plantas
medicinais. Aprendi muito.
Isa Faria, EFA ST5&6, 2012/2013
5 de março de 2013
Identidades e Patrimónios Culturais
As casas madeirenses atuais já não são idênticas às casas que antigamente
se construíam, isto porque, como podemos analisar mais à frente nas imagens que
tirei às casas antigas, estas tinham muita semelhança em certos traços gerais e
pormenores, tais como telhados, beirais, janelas, portas, chaminés, pátios e tam-
bém na sua estrutura, tanto interior como exterior.
Foram-se adaptando novos estilos de casas vindas do exterior, ou seja, tra-
zidos por emigrantes, de tal modo que consegue-se distinguir qual a casa de um
residente madeirense e de um emigrante madeirense. Isto aplica-se em casas
construídas mais ou menos há dez anos ou mais, porque as atuais já são adapta-
das aos novos estilos e qualquer um que tenha investimento pode obter uma.
Abaixo podemos analisar vários pormenores semelhantes e também pode-
mos ver outros aspetos que embelezavam as residências.
(continua)
Escola Básica e Secundária Padre Manuel Álvares
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Telhados, beirais, figuras ilustrativas, portas, janelas, varandas, chaminés
etc…
Figuras Ilustrativas:
Há quem pense que estas figuras têm um significado, mas outros dizem que
apenas eram para enfeitar os beirais. Fiz algumas pesquisas junto de pessoas
mais velhas e estas não me souberam responder se tinha ou não, significado estas
figuras. Apenas relataram-me que, antigamente, era moda o seu uso.
(continua)
Amor à Sabedoria Página 43
(continua)
Página 44Página 44
Estas são algumas das figuras que podemos encontrar nas residências
madeirenses. Podemos ver que existem vários tipos de imagens expostas em
habitações espalhadas pela ilha.
Telhados e beirais:
Os telhados e os beirais são muito semelhantes, também podemos
encontrar telhados diferentes, mais modernos, de certa forma conseguimos per-
ceber quais são os antigos e quais são os mais modernos.
(continua)
Página 45Amor à Sabedoria
(continua)
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(continua)
Amor à Sabedoria Página 47
Estas imagens são a demonstração de vários tipos de telhados e beirais
existentes na ilha da madeira, muitos são idênticos. Aqui apenas retratamos alguns
deles.
Portas e janelas:
Outro aspeto nas casas madeirenses é a ilustração de portas e janelas com
vidros coloridos. Um exemplo que encontrei numa rua onde existiam várias casas
pertencentes à mesma família mas cada uma delas tinha um formato diferente,
estas procuravam não repetir a forma das outras casas.
(continua)
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Outro pormenor que encontramos nas casas madeirenses são os fingimentos ou molduras
que contornam as portas e as janelas, esquinas e contornos de beirais, uns simples, outros traba-
lhados. E também as varandas e portões exteriores.
(continua)
Página 49Amor à Sabedoria
(continua)
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Página 51Amor à Sabedoria
Chaminés:
As chaminés são muito idênticas mas mesmo assim encontram-se vários tipos de forma-
tos, de terra para terra podemos ver que nem todas as construções são iguais. Em particular a
Ilha da Madeira possuiu uma arquitetura fascinante nos seus moldes, o facto é que as chami-
nés prismáticas são bastante utilizadas se bem que também sejam utilizadas formas que tam-
bém são fundamentais.
(continua)
Página 52
Isa Faria, EFA ST5&6
Amor à Sabedoria Página 53
40.º Aniversário da Escola Básica e Secundária Padre Manuel Álvares
Entrevista com Leontina Santos
17 de fevereiro de 2014
O espírito de Fernão Capelo Gaivota
A Escola Básica Secundária Padre Manuel Álvares celebra 40 anos de exis-
tência. Foi fundada, formalmente, no ano lectivo de 1973/1974, tendo como primei-
ro director o professor e escultor Francisco Simões. A propósito do quadragésimo
aniversário da Escola vou entrevistar a professora Leontina Santos, discípula ativa
do espírito precursor da instituição, inspirado na obra de Richard Bach - Fernão
Capelo Gaivota.
Entrevistador: Muito boa tarde, senhora professora. Vamos iniciar esta entrevista
recordando algumas experiências significativas que foram compondo a sua biogra-
fia. Pode ser? Há quanto tempo abraçou o espírito de Fernão Capelo Gaivota?
Como foi a descoberta da vocação do ensino?
Prof.ª Leontina: Boa tarde. O meu nome é Leontina Silva Santos e tenho cinquen-
ta e quatro anos. As qualificações académicas foram conquistadas de forma gra-
dual e com muita dedicação. Alcancei o grau de mestre na área da Filosofia pela
Universidade de Braga, extensão do Funchal. Em 1981, nesta escola, iniciei a ativi-
dade docente, antes de possuir a formação universitária. O percurso académico foi
realizado a trabalhar e a estudar simultaneamente.
Quanto às experiências, elas são muitas e diversificadas. Umas são de
ordem privada e familiar, outras de ordem profissional. Inicialmente, no Ensino
Diurno, comecei pelo Segundo Ciclo, seguido do Terceiro Ciclo onde estive menos
tempo e, claro, a maior parte do tempo foi partilhado com os alunos do nível
Secundário. Também passei pela experiência dos vários programas do Ensino
Nocturno nos diferentes níveis, desde o Ensino Recorrente até aos atuais Cursos
de Educação e Formação (CEF) e Cursos de Educação e Formação de Adultos
(EFA).
(continua)
Página 54
Ao longo destes anos desenvolvi várias atividades e desempenhei múltiplas
funções dentro da escola. Entre aquelas que mais interessam para este momento,
as de ordem profissional, são de realçar: o papel de animadora de diferentes clu-
bes, abrangendo o teatro, a natureza, aos projectos com as crianças, por exemplo,
A Filosofia para Crianças; o acompanhamento nas saídas de Visitas de Estudo,
dentro e fora da Região Autónoma da Madeira (RAM); a lecionação enriquecedora
nos diferentes níveis escolares; o facto de ter sido Orientadora de Estágios; o
desempenho da função de Coordenadora dos Directores de Turma e, em última
instância, o momento em que fui Presidente da Escola durante dois anos. Tem
sido um leque de experiências que me deixa confortável em relação ao ensino por-
que muita coisa não é nova e, ao mesmo tempo, uma atitude crítica em relação a
muitas outras.
Entrevistador: Foi uma descoberta exigente mas recompensadora, assente na
dedicação e no espírito de missão. Em 1973/1974 emergiu a Escola Básica e
Secundária Padre Manuel Álvares e o professor escultor Francisco Simões como
primeiro Director. A professora Leontina conheceu esta personalidade?
Prof.ª Leontina: Evidentemente. Francisco Simões foi uma figura ímpar que mar-
cou todos os alunos, especialmente, os primeiros alunos que frequentaram esta
escola, por ter sido o impulsionador e o motivador para que a escola funcionasse
nesse ano, em 1973/1974.
Apesar da instituição não apresentar as melhores condições materiais, ele
achou oportuno começar desde logo as actividades lectivas para evitar que a esco-
la perdesse muitos alunos. Eu seria uma daquelas que teria ficado sem a escolari-
dade, na medida em que não tinha as condições para dar continuidade aos estu-
dos noutro local mais longínquo. Tendo consciência da realidade precária das
famílias e do facto de muitas crianças já terem iniciado o primeiro ano ou terem fei-
to a Telescola, logo sem condições para continuarem, Francisco Simões decidiu
abraçar este projecto e lançou-o de uma forma inédita.
Em 1973/1974, antes de ocorrer a Revolução do 25 de Abril, podemos dizer
que o concelho de Ribeira Brava foi pioneiro, por desenvolver uma atitude de liber-
dade, respeito, tolerância e diversidade que, olhando hoje, parece inconcebível
que se pudesse ter feito isso antes da Revolução do 25 de Abril, mas aconteceu.
(continua)
Amor à Sabedoria Página 55
Eu tive a felicidade de ter sido uma dessas alunas e de ter partilhado com Francis-
co Simões o espírito e a visão de Fernando Capelo Gaivota. Nessa época era cha-
mada de Leontina Gaivota, tal como todas as outras colegas e, desse modo, foi
injectado no espírito dos jovens o gosto, a missão, o esforço e o trabalho, dentro e
fora da escola, por um futuro melhor. Acho fundamental que se voltasse a renovar
e incentivar todos esses valores nos nossos jovens.
Entrevistador: Deduzo das suas palavras a necessidade de reorientar os jovens
no caminho de uma liberdade mais dinâmica e responsável. Como aluna desta
escola, quais são as memórias dessa passagem? Como era o clima escolar, as
aulas, enfim, quais foram os traços mais salientes dessa época?
Prof.ª Leontina: Isso mesmo. Ora, o que eu gostaria de referir, essencialmente,
era o gosto por aprender que animava todos os alunos que frequentavam a escola.
A escolaridade não era obrigatória, por isso os que cá estavam eram aqueles que
queriam, aqueles que insistiram com os familiares, tal como eu que chorei e bradei
para voltar para a escola e que, assim, aproveitavam ao máximo tudo aquilo que a
escola tinha para oferecer. Também não havia a concorrência de outros meios
para chegar determinado tipo de informação. Efectivamente, a escola tinha um
papel privilegiado nessa época que presentemente não tem. Hoje ela tem fortes
concorrentes, sobretudo do mundo audiovisual.
Nesse tempo vivia-se verdadeiramente um espírito de gosto, de interesse e
de motivação por aprender. Tudo e todos tinham a aprender e a ensinar e este foi
o grande lema de Francisco Simões. Todos os colaboradores de cá de dentro, des-
de o senhor João, o antigo agricultor que cuidava da horta, grande mestre e pro-
fessor sem escolaridade, foi professor dos professores e de todos os alunos. Essa
motivação fez com que todos os alunos se empenhassem em manter, em construir
e criar a própria escola.
Começámos por ter quatro salas e cinco turmas. Uma turma ficava sempre
ao relento. Havia uma disputa entre as turmas para ver quem conquistava primei-
ramente o espaço de cada sala. Nas primeiras semanas nem cadeiras havia, ape-
nas o tecto e o abrigar do vento porque não havia imobiliário. Foi uma alegria enor-
me os carros chegarem com cadeiras e mesas. Nós ajudamos a descarregar o
material e de seguida montamos as salas. São dias e memórias inesquecíveis.
(continua)
Página 56
Depois, todo o percurso, dentro e fora da escola, motivado e muito trabalhado
pelo professor Francisco Simões, professor da disciplina de desenho (hoje com a
designação de EVT) que sempre nos ensinou e incentivou a enquadrar o contexto
social em que estávamos inseridos. Lembro-me que uma das primeiras aulas foi
subir até a zona do pico e, a partir do miradouro, tivemos de desenhar a planta da
vila da Ribeira Brava porque ele defendia que a escola não podia estar desenraiza-
da do seu meio. Esta iniciativa invulgar foi uma experiência nova para essa época.
E neste espírito nasce o dia da Escola, o dia seis de maio, porque é o aniversário
da fundação do Concelho da Ribeira Brava.
Depois destas práticas surgiram tantos teóricos, pedagogos, livros e ensina-
mentos que nos vêm dizer que a escola deve estar em sintonia com o contexto
social onde está inserida. Mas ele não dizia, fazia. E por essa razão saímos vila
abaixo: decoramos paredes e aconteceram aulas em qualquer espaço, onde fos-
sem possíveis as aprendizagens, quer sentados na esplanada do café ou no adro
da igreja, quer pintando as muralhas do mercado que as pessoas mais conhecedo-
ras bem se recordam. Apesar de já ter sido demolido e restaurado, agora, o merca-
do já não apresenta qualquer vestígio dessas pinturas. Foi assim que também se
fez da vila a Escola, pois qualquer meio é condição de possibilidade de aprendiza-
gem. Quando Francisco Simões regressou à Ribeira Brava, passados muitos anos,
o professor ficou muito chocado ao encontrar a escola rodeada por uma vedação
enorme, o que contraria, naturalmente, o espírito de escola como continuidade com
o meio social. Claro que as realidades são diferentes, a realidade social actual ofe-
rece outros perigos aos adolescentes e outras motivações que levou à colocação
da cerca, mas, realmente, o espírito que se viveu na altura é qualquer coisa que
deixa uma saudade enorme.
Entrevistador: Pois, os agentes educativos é que fazem o espírito da escola ape-
sar das adversidades. Neste contexto, a Escola Básica e Secundária Padre Manuel
Álvares celebra, no dia 6 de maio de 2014, o seu quadragésimo aniversário, como
professora, qual é para si o significado desta data? Pode referir algumas dificulda-
des e desafios da sua carreira profissional?
Prof.ª Leontina: Sou realmente uma pessoa apaixonada pela história desta Escola
e já o demonstrei em várias circunstâncias, nomeadamente quando exerci a função
(continua)
Amor à Sabedoria Página 57
de presidente. Nessa altura tentei agregar os antigos alunos e, a partir de então,
passámos a fazer do seis de maio a data do jantar das antigas “Gaivotas”. Nesse
primeiro encontro marcou presença o Francisco Simões que se dignou vir à Madei-
ra.
No ano seguinte fazíamos vinte e cinco anos da existência da Escola e foi
decidido assinalar essa data com um pequeno compêndio de algumas memórias,
com a colaboração de vários professores da altura e antigos alunos. Foi possível,
grande parte com a participação do professor escultor Francisco Simões, compor
um pequeno compêndio que realmente perdura até aos nossos dias e, algumas
vezes, utilizado como objeto para agraciar quem nos visita. Fico um pouco desa-
pontada por não ter havido mais iniciativas para perpetuar a memória dos melho-
res ambientes escolares, os verdadeiros ambientes escolares.
Nos anos posteriores seguiu-se a destruição de muitos vestígios que marca-
vam e assinalavam os documentos vivos da história desta Escola. Hoje, entra-se
na nossa Escola e ela parece uma escola igual a todas as outras porque se apaga-
ram as pegadas, os elos e o espírito reinante nas primeiras “Gaivotas”. Ainda resis-
tem duas frases nas fachadas da entrada devido ao esforço que fiz, há uns anos
(continua)
Página 58
atrás, para que se mantivessem essas frases de Fernão Capelo Gaivota1
. Sobrevi-
ve alguns pequenos vestígios como o nome da Rua das Sombras e a Avenida das
Gaivotas, mas a grande maioria das pinturas desapareceram e, infelizmente, o
novo protótipo da Escola até quer apagar o nome Padre Manuel Álvares que, mais
uma vez, visa suprimir os vestígios da cultura de uma determinada realidade.
O Padre Manuel Álvares, filho ilustre desta terra, é uma grande figura da Lín-
gua Portuguesa, comparável com aos grandes escritores como Luís de Camões,
cuja obra se divulgou mundo além. E agora até se pretende ignorar semelhante fei-
to, apagando o seu nome de uma instituição tão importante numa comunidade
como é a Escola. Para mim, o quadragésimo aniversário deve ser assinalado com
toda a pompa e circunstância, não só por respeito à memória do passado mas,
sobretudo, para reavivar determinados valores que possam tocar, sensibilizar e vol-
tar a despertar o gosto pela Escola.
Entrevistador: A Escola vive das suas referências, da sua história e identidade pró-
prias. No ano passado foi apresentado o projecto de uma nova escola secundária.
Parece que apenas os concelhos de Ribeira Brava e Porto Santo foram os únicos
que não renovaram as escolas secundárias. Qual é a sua opinião sobre esta pro-
messa?
Prof.ª Leontina: Ora, uma escola nova! Não sei se será uma escola nova ou serão
apenas paredes novas. Muitas vezes uma escola nova reporta-se apenas a salas,
mesas e cadeiras novas. Eu sonhava, sempre sonhei que a Ribeira Brava voltaria a
ser pioneira em termos escolares como já foi há quarenta anos atrás, com uma
“Escola Nova”. Fomos exemplo para os pedagogos, fomos exemplo para os pro-
fessores do ensino básico do continente, mais do que para os da Madeira, infeliz-
mente.
Fiquei um pouco dececionada por saber que a mudança passará pela renova-
ção das paredes. Vamos continuar com a mesma circunstância de que existem dis-
ciplinas que vão ter de ser administradas, repetidamente, fora daqui, caso da Edu-
1 - “Estão cegos? Não conseguirão ver? Não se aperceberão da glória que será quando aprendermos
realmente a voar? Não me interessa o que eles pensam. Mostrar-lhes-ei o que é voar.”
“Tu tens a liberdade de ser tu próprio, o teu verdadeiro eu, aqui e agora; nada se pode interpor no teu caminho.
Essa é a lei da Grande Gaivota, a lei que é.
- Queres dizer que posso voar?
- Quero dizer que és livre?.” (Richard Bach, Fernão Capelo Gaivota)
(continua)
Amor à Sabedoria Página 59
cação Física, colocando os alunos em situações desagradáveis como as situações
de chuva e mau tempo, os perigos rodoviários, entre outros. Além disso, ainda não
conheço o interior deste projecto, mas se se repetir o que tem vindo a acontecer
com as últimas construções escolares, esta será mais um copy e paste (copiar e
colar) igual a tantos outros, sem qualquer caraterística que a diferencie.
Gostaria que a minha escola tivesse capacidade para agregar os alunos num
só turno, que não houvesse dois turnos a funcionar porque isso nunca produz bons
efeitos. Não há medida alguma que o Ministério venha a implementar, que vá dar o
fruto pretendido nas condições em que nós trabalhamos, numa escola a três tur-
nos, onde a funcionária tem de controlar os espaços e esgueirar-se, durante cinco
minutos, para poder fazer a limpeza ou poder arejar uma sala. Este é um dos
vários problemas. A questão essencial é que a escola deveria disponibilizar uma
oferta diversificada aos alunos e isso só é possível quando trabalhamos apenas
num turno. Num segundo turno, os alunos escolheriam entre as diversas atividades
extracurriculares aquelas que pretendiam frequentar sem qualquer tipo de cons-
trangimento.
O ideal seria conceber atividades para aqueles que têm mais limitações no
processo de aprendizagem e outras iniciativas mais exigentes para aqueles que
têm um ritmo de aprendizagem mais avançado. A Escola pode ser uma fonte de
enriquecimento dentro dessa natureza, permitindo, essencialmente, que a equipa
docente tivesse a possibilidade de ter momentos de trabalho interdisciplinar, pois,
só assim se obtém os verdadeiros frutos no ensino. Este ensino compartimentado,
esta dificuldade dos professores se reunirem e, sempre que o fazem, tem de ser
em horários pós-laborais, traduz, de facto, a desmotivação e o prejuízo para a vida
profissional de qualquer docente. Um professor que entre na escola às oito, com
aulas na parte da manhã e na parte da tarde, e depois ainda tem uma reunião às
dezanove ou às vinte horas, evidentemente que a sua motivação para trabalhar é
nula, antes pelo contrário, sente-se cansado e revoltado, como é óbvio. Assim, não
vamos a lugar nenhum.
Entrevistador: Muito interessante a sua visão da nova escola. Antes do imóvel
urge promover um diálogo alargado sobre as ideias quem devem orientar a cons-
trução, a organização e a vida da futura Escola Secundária do concelho. Agora, no
(continua)
Página 60
papel de presidente da escola, tendo presente a sua experiência, quais foram os
aspetos mais relevantes?
Prof.ª Leontina: Muito bem, a minha passagem pela direção desta Escola não foi
uma experiência inédita, pois já tinha assumido funções no Conselho Diretivo da
Escola Básica da Ponta do Sol. Mas, no caso concreto destes dois anos à frente
desta Escola, o que mais me desagradou foi realmente o excesso de burocracia.
Em muitos casos, o cargo de direção da escola cinge-se muito mais ao papel
de um funcionário a executar tarefas burocráticas do que propriamente a assumir a
função de direção, sobretudo nas circunstâncias em que a escola se encontrava:
superlotada, na altura com quase dois mil alunos, com problemas disciplinares que
se avizinhavam, desde então vividos com uma certa gravidade. Uma das coisas em
que me empenhei, com o apoio do Conselho Pedagógico e outros meios, foi a
implementação de um Regulamento Interno onde pudesse travar essa escalada de
indisciplina, entretanto, barrado com a questão da legislação em termos gerais e
com o Estatuto do Estudante. Certas coisas não foram possíveis de desenvolver, o
que me contrariou um pouco e me desmotivou para continuar à frente da escola.
Contribuiu também uma grande razão que foi o meu envolvimento num outro proje-
to social, onde mais direta e facilmente consigo chegar às pessoas, sem tanta inter-
posição burocrática, como é o caso do ensino em Portugal.
Entrevistador: Portanto, a burocracia suga a energia vital das pessoas e das insti-
tuições. Uma escola viva e social exige disciplina e desburocratização por parte das
direções. Rodando um pouco o ponteiro indagador, tem alguma ideia sobre o novo
modelo de avaliação da classe docente?
Prof.ª Leontina: Relativamente ao novo modelo, creio que é mais um modelo.
Modelos perfeitos de avaliação julgo que não existem, mas este é mais um para
preencher papel e mostrar à opinião pública que existe um modelo de avaliação.
Não me sinto confortável a tecer algumas críticas porque também não tenho o
modelo alternativo que me diga: deve ser desta ou daquela maneira com clareza,
com exactidão, objectivamente. No entanto, penso que ele deveria ser sentido mais
por dentro, que perpassasse o tecido escolar, e não devesse ficar à mercê, exclusi-
vamente, de um professor para tecer a avaliação.
(continua)
Amor à Sabedoria Página 61
Nesse processo deveriam constar, antes de mais, os dados recolhidos em
Conselho de Turma, onde mais claramente se manifesta a dinâmica pedagógica
que um professor implementa dentro de uma sala com os seus alunos, do que sim-
plesmente uma avaliação assente num documento escrito, em linguagem pedagó-
gica e didáctica muito correta, mas de facto pouco ou nada avalia. E assistir a uma
ou duas aulas também poderá ser igual a quase nada, comparativamente à avalia-
ção consciente do trabalho complexo do professor.
Talvez fosse mais exequível e rigorosa uma grelha onde o professor fosse
registando o seu processo de trabalho ao longo do ano com algumas metas, uma
ferramenta não excessivamente pormenorizada nem burocrática. O parecer deve-
ria contemplar as informações dos outros colegas de grupo e dos Conselhos de
Turma, que resultaria numa avaliação feita por uma equipa e não apenas a visão
de uma pessoa. Acho que o modelo vigente, centrado num só avaliador e apoiado
num documento descritivo ou em duas aulas assistidas deixa muito a desejar.
Entrevistador: Na realidade parece um modelo de avaliação demasiado redutor,
quer na forma como no conteúdo. Avançando agora para o mundo da política,
segundo julgo saber, também teve uma breve passagem por esta área da ação
humana. Como agente política o que lhe apraz recordar sobre o centenário do con-
celho de Ribeira Brava2
? Quais foram as transformações mais marcantes e o que
nos deve fazer correr?
Prof.ª Leontina: Como não consigo ficar parada, também fiz a experiência de par-
ticipar de outra forma na sociedade, embora a docência também seja uma forma
de contributo social. A política permite uma interferência mais direta na realidade
social. Ao longo de quatro anos, um mandato, participei como vereadora, não a
tempo inteiro, apenas com assento nas reuniões, mas que me deu realmente uma
noção de como é que funciona a máquina por detrás daquilo que nós, munícipes,
nos apercebemos da realidade. Não gostaria de detalhar pormenores dessa fase
para não ferir susceptibilidades. E não dei continuidade por falta de perfil da minha
pessoa para encaixar no sistema como estava montado.
Mas, olhando para o seis de maio, eu vivo-o muito mais como professora do
que como munícipe. O seis de maio é, efetivamente, o dia do concelho de Ribeira
2 - O Concelho de Ribeira Brava foi criado a 6 de maio de 1914, graças às iniciativas do visconde Francisco
Correia de Herédia (1852-1918).
(continua)
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Revista de Filosofia: Pensando o mundo

  • 1. Revista de Filosofia Ano lectivo Ano VIII - N.º 1 2013/ 2014 Amor à Sabedoria Escola Básica e Secundária Padre Manuel Álvares 14-03-2013 Isabel Marques
  • 2. Ficha Técnica Organização: Grupo 410 - Filosofia Colaboração de Turmas: 5.º D-E; 7.º F; 8.º G-H; 10.º B-D-C; 11.º E; 12.º C; EFA ST 5&6. Colaboradores: Ana Carolina; Alexandra Faria; Carina; Carlos Abreu; Diogo; Érica; Fáti- ma Sousa, Graça Faria; Graça Magalhães; Inês Almeida; Isa Faria; Jéssica Abreu; Joa- na; Laura; Leandro; Leandro Batista; Leontina Santos; Luís; Luís Freitas; Maria Luzia; Maria Zita Abreu; Mariana; Martinho Macedo; Miguel; Milagros; Nuno; Sérgio; Sofia; Trindade Camarata, Vítor e Virginie. Capa: Isabel Marques Revisão: Martinho Macedo e Luís Freitas Revista de Filosofia Ano: VI Número: 1 Sumário Página • Editorial ……………………..…….………………………………………….…..…………03 • Alegoria da Caverna ….……………………………………………...…………………..04 • Reflexão sobre a relação entre a Ciência e o Homem ……………………………….. 06 • Preconceitos, Estereótipos e Representações Sociais ………………...……………...12 • Opinião Pública e Reflexão Crítica …...……………………………………...…………..13 • Liberdade ..……………………………………………..…………………………………...15 • O que é ser ético-moral? ……………………..………...……………………………….17 • Aborto …………………………………………………..…………………………………...21 • A Vida Que Podemos Salvar ….……..………………………………………………...…23 • Como contribuir para um mundo melhor? .………..…………………………………….25 • A inveja, um mal dos tempos de crise ………………….………………………………..27 • Quem se importa ………………….…………………………………………………..…..30 • Despertar para o nosso património natural ……..……………………….………….38 • Identidades e Patrimónios Culturais .…………………..………………………………...41 • 40.º Aniversário da Escola Básica e Secundária Padre Manuel Álvares ……....39 • Entrevista com a Leontina Santos ………………….……………….…………………..53 • Memórias de uma ex-aluna -Trindade Camarata ……………………………………....64 • Benção das capas ………………………………... ……………………………………....72 • Projeto A´s ………….……………………...…….…………………………………………75 • Ilustrações .………………..………….……………………………………………………80 • Desafios Lógicos .………………….……...…….…………………………………………89 • Sugestões culturais …………….….……...…….…………………………………………91
  • 3. Página 3 Amor à Sabedoria Editorial Em primeiro lugar, quero agradecer em nome do Grupo de Filosofia o espe- cial empenho de todos os colaboradores que possibilitou o Amor à Sabedoria. O núcleo temático desta edição contempla Filosofia, Ética, Património, Ani- versário da Escola, Ilustrações e Passatempos. Desde a Antiguidade Clássica a metáfora da caverna tem desempenhado um papel propedêutico muito fecundo na redescoberta das dimensões da nature- za humana associada à emergência do pensar autónomo e radical. Na ação humana vislumbra-se a relação entre teoria e prática e a responsa- bilidade dos agentes na órbitra dos direitos e deveres, daqui as várias teorias filo- sóficas sobre o livre arbítrio. O texto, O Anel de Giges, é um ponto de partida para este horizonte temático. Ampliando a interrogação a revista posiciona-nos diante da vida embrionária e convivência social, sem descurar a necessidade de repensar o conceito de vida antropocêntrico, dadas as alarmantes implicações ecológicas. O alerta anterior encaminha-nos para as questões do património e da memória, realidades que permanecem no presente estabelecendo uma ponte entre a fluidez do presente à inacessibilidade do passado. São breves viagens representadas nos beirais, telhados, chaminés, portas e janelas das habitações construídas e nas memórias da Nossa Escola, que comemora quarenta anos de existência, a partir das experiências de uma professora e de uma ex-aluna. Esta retrospectiva pode reavivar determinados valores e energias para transformar os problemas de indisciplina em oportunidades de desenvolvimento: A forma como ensinarmos as nossas crianças a resolverem os seus conflitos, definirá, em parte, o sonho e o bem estar da sociedade futura. Mais importante que o início, só o percurso. Martinho Macedo
  • 4. Página 4 Alegoria da Caverna - educação da alma A Alegoria da Caverna fala sobre a educação da alma humana. Platão defende a possibilidade de cada ser humano descobrir o Bem verdadeiro. Ao escrever a Alegoria da Caverna, Platão narra-nos a forma de viver habitual do ser humano: os homens estão presos à arrogância, pensando que são os donos da verdade, mas afinal há um deles que descobre a própria ignorân- cia. Para ter vontade de sair da caverna é necessário que cada ser humano pense por si próprio e descubra as próprias dúvidas acerca do mundo, acerca do que realmente sabe, acerca de si próprio. A saída da ignorância é um trabalho individual, a partir da vontade de conhe- cer a verdade e de ser uma pessoa correta, verdadeira. Há situações que são exemplos desta forma de viver fechada na igno- rância, como por exemplo, a corrupção, os assassinatos, os sequestros e assaltos, o tráfico de seres humanos. As pessoas corruptas desviam o dinhei- ro das empresas ou de alguém para terem mais poder ou para se vingarem de algo que consideraram uma injustiça. Os assassinatos, sequestros e tráfico de seres humanos envolvem, também, questões relacionadas ao poder, à neces- sidade de se sentirem acima dos outros homens. No tráfico seja de quem for e como for – mulheres crianças ou outros indefesos – é sempre o desrespeito ao outro como ser humano, o uso do outro como se fosse um objeto manipu- lável em função dos próprios interesses. Todas estas e tantas outras situa- ções são o resultado da crença em valores ilusórios pois em nada dignificam na verdade os que os praticam como Homens. Platão mostra-nos claramente que se “alguém soltasse um deles e o for- çasse a endireitar-se de repente, a voltar o pescoço, a andar e a voltar-se para a luz, sentiria dor e o deslumbramento impedi-lo-ia de fixar os objetos cujas sombras via outrora”. Isto significa que os seres humanos vivem com o pensamento preso em hábitos que não questionam e quando a vida os leva a procurar respostas que estão fora dos seus hábitos, a dor instala-se porque há a
  • 5. Página 5 Amor à Sabedoria tentativa de manter as coisas como sempre foram, embora tal já não seja possível. Inicia-se assim um novo percurso em direção à liberdade. A tomada de consciência da ineficácia do antigo caminho por si alimenta a dor, mas ao mesmo tempo alimenta a coragem de mudar de comportamento. Assim, mesmo os criminosos, porque são seres inteligentes podem ‘acordar’ e perceber que há outras formas de viver mais felizes. Claro que essa mudança é difí- cil porque os hábitos estão enraizados na sua mente. Platão defende que, a pouco e pouco, os prisioneiros de ideias erradas podem sair da antiga maneira de pensar e modificarem as suas vidas. Ricardo Davide Sousa Silva, nº 10596, 10º B - ano letivo 2013/14 Alegoria da Caverna - realidade ou ilusão? A Alegoria da Caverna levanta um problema que hoje se mantém atual: será que o que vemos ou percebemos da realidade é aquilo que realmente é ou será que a perspetiva que alimentamos acerca da realidade não passa de uma ilusão? O ser humano dá a ideia, muitas vezes, que prefere viver na sua própria ilusão, porque é mais fácil viver no mundo da mentira do que aceitar a verdade. Escolher o mais fácil, como esperar uma boa nota, sem trabalhar, é uma destas ilusões. Muitas vezes, o ser humano resiste à verdade e fixa-se em ideias do senso-comum, sem proceder a uma análise racional e crítica acerca do que acontece, acerca do que faz, acerca do que pensa. Assim, deixa-se guiar pela rotina, crenças e tradições que acredita serem intocáveis. O preconceito, o orgulho, o medo, a vergonha e o ciúme, na maioria das vezes, não deixam ver as coisas como realmente são e iludem - a quem se deixa iludir - com ideias incorretas acerca da vida. A filosofia tem o papel de ajudar-nos a re-orientar o nosso olhar em direção à verdade e a libertarmo-nos do pseudo-saber, da mediocridade. Pensar por nós pró- prios, procurar orientação para a existência, construir um projeto de vida, construir a nossa identidade através do saber, conjugando conhecimentos com uma exigência ética – racional é o dever de cada ser humano na sua caminhada no tempo. Alexandra Maria Faria Serrão 10.ºB - ano letivo 2013/ 14
  • 6. Página 6 Reflexão sobre a relação entre a Ciência e o Homem “Mas o homem branco não presta atenção. Como poderia o espírito da Terra gostar do homem branco? Onde quer que lhe toque, nela há-de deixar uma chaga.” Tuiavii chefe da Tribo de Tiavéa O Homem, prepotente e arrogante, é o primata do êxito absoluto. É o conquistador por excelência, julgando, por isso, ser o soberano administrador da Criação. Porém, interpreta tudo como mero objeto, obsequiado à domina- ção do olhar. Para este ser, que se crê civilizado, a Natureza é vista através de um olhar mecânico e determinista, sendo, simplesmente, matéria bruta a aguardar para ser manipulada. Tudo o que encara é instrumento e meio para, descurando-se todos os outros impulsos que completam a vida humana. Esta visão, simplista e reduto- ra da realidade, na qual só o uso é critério de avaliação, conduziu imperceptí- vel e infalivelmente, o Homem à encruzilhada em que se encontra extraviado. O Homem ocidental, privilegiando o quantificável e o mensurável, encontra-se condicionado pela ciência e pela técnica que o envolve, a qual determina o seu modo de pensar e de interagir. Para este Homem, é “uma exigência, do espírito humano (ocidental), ter uma representação do mundo unificada e coerente” (François Jacob), outor- gada pelo saber verificável, através do qual luta para se libertar das amarras com que a Natureza aprisiona os outros animais. Por conseguinte, a ciência investiga sem descanso os mistérios da Natureza e, a partir de uma conceção redutora da realidade, uma vez que a submete a um esquema teórico univer- sal que reduz a sua riqueza e diversidade à melancólica aplicação de leis gerais, invariáveis e constantes, permite ao Homem compreender, explicar e prever o desenrolar de fenómenos, o que lhe confere poder, porém ao preço de reduzir o mundo a meras equações. A ciência, todavia, é um bem intrínse- co. A aplicação prática dos conhecimentos científicos é que está a facultar ao (continua)
  • 7. Página 7 Amor à Sabedoria Homem um controlo crescente das forças da Natureza e da mente humana, a fim de nela produzir as transformações que julga necessárias, escapando ao determinismo das leis naturais que sentenciaram a morte de outras civilizações. O que move o “homem de ciência, animal para o qual só o supérfluo é necessá- rio, a exemplo do técnico, é a sede de uma vontade de poder disfarçada em apetite de saber.” (Ilya Prigogine e Isabelle Stengers). E, assim, em função de desejos capri- chosos, impregna a sociedade de máquinas e de técnica fazendo com que se repro- duza num crescente conjunto de coisas e relações, que inclui a utilização técnica do Homem, o qual caminha, portanto, de olhos abertos para a escravidão. O avanço da tecnociência, omnipresente no quotidiano, gerou sociedades forte- mente industrializadas em que o modelo da racionalidade científica se impõe às pró- prias relações humanas, originando novos formatos do universo cultural, novos valo- res e códigos jurídicos. Contudo, os controlos tecnológicos parecem ser a própria personificação da Razão. O Homem vive dominado e configurado pela ciência, a qual, com efeito, supre e cumpre nas sociedades modernas o papel normativo e integrador que fora, outrora, desempenhado pela religião. A ciência é, hoje, ao mesmo tempo produtora e produto da sociedade. A atualidade subsiste alimentada de factos científicos e técnicos que ritmam a vida industrial, económica, social e política das nações. Todavia, a tecnociência tem sido objeto de reflexões e controvérsias. Uns realçam que dela jorra todo o progresso da humanidade; a libertação do peso da tradição e do trabalho; os meios necessários à formação e emancipação do Homem, ocupando, deste modo, um lugar mítico no imaginário dos indivíduos, à semelhança de um deus que age de forma misteriosa. Outros apedrejam-na, vendo nela a origem donde emanam todos os males. A produtividade e a eficácia, apresentando-se inerentes à tecnociência; a capa- cidade para disseminar comodidades, para transformar a destruição em construção, reduziram a ameaça de alguns dos mais velhos flagelos do Homem, pondo ao seu alcance a exploração do espaço interplanetário e a multiplicação da riqueza e dos (continua)
  • 8. Página 8 recursos disponíveis. A tecnociência revolucionou a agricultura, duplicando a produção mun- dial de grão entre 1959 e 1971. Mas pode ela continuar a alimentar a crescen- te população mundial, sem causar danos inaceitáveis ao ambiente? Por outro lado, de vez em quando, olhamos com nostalgia para um passado sem agita- ção, sem ruído, sem contaminação, mas esquecemos o risco seriamente maior de morte precoce que pairava sobre os nossos antepassados. Agora, o laser assiste o cirurgião e bactérias reprogramadas pelo génio genético fabricam substâncias que lutam contra o cancro; as conquistas da investigação biomédica possibilitam dominar a fecundidade e conjeturar defi- ciências. A ciência poderá ser um espelho da Natureza, mas não um espelho pla- no; pelo contrário, é curvo e distorcido pela visão do mundo daqueles que a dominam. Hoje, como ontem, o bem-estar, tão prometido pela ciência e a téc- nica, não foi mais que uma mera miragem, tendo sido acentuadas nos cora- ções a ganância, a ansiedade e a frustração. A excessiva industrialização, a transformação das pessoas em máquinas ou em números proporcionam um poder crescente aos Estados e, por seu turno, à proliferação do trabalho escravo. Muitas vezes, às imagens públicas da tecnociência liga-se o desempre- go, não o divertimento; a poluição, não a saúde; o aumento do controlo sobre a vida, e não uma extensão da liberdade. O operário é obrigado a harmonizar- se ao ritmo da sua máquina e a servi-la num ciclo que quebra o seu equilíbrio fisiológico. A duração do trabalho não diminuiu. Os insetos tornam-se imunes aos pesticidas e contaminam os seres vivos; os micróbios criam resistências. As florestas recuam e os bosques transformados em parques de estaciona- mento. As tecnologias são usadas pelo poder político e económico para institu- cionalizarem formas subtis de exploração dos indivíduos e dos povos. Por detrás da abundância e do apelo ao consumo, esconde-se a intole- rância face à diferença, o medo e o conformismo, como contraponto necessá- rio à produtividade. (continua)
  • 9. Página 9 Amor à Sabedoria Hoje, vivemos, igualmente, uma nova ameaça. Face à manipulação genética, como não ver a tentação eugénica a perfilar-se no horizonte, a identidade da huma- nidade a vacilar, o respeito à vida sacrificado às experiências e às manipulações ili- mitadas? Para alguns, o “princípio da ciência é realizar tudo o que é possível” (Francis Bacon) contudo há cada vez mais cientistas e filósofos a afirmarem que “Há […] coi- sas que era melhor não fazer” (Einstein). São raros os domínios em que não se colo- cam questões que põem em causa os valores morais. Nem tudo aquilo que é tecnicamente possível é moralmente admissível. “Quanto mais sabemos tanto menos desse saber deve ser por nós aplica- do.” (Manfred Eigen) É necessário reclamar uma série de paragens. Paragem na possibilidade de conhecimento pela interminável dissecação de animais; paragem desta inquieta e frequente irracional vontade de experimentação, particularmente na área da manipu- lação genética. Porque o conhecimento dos mecanismos que presidem o desenvolvimento dos seres vivos pode conduzir à tentação de se criar raças puras, exterminando-se os menos aptos ou de se produzir indivíduos-máquinas, arruinando a capacidade de opção e liberdade, característica da pessoa humana. Porém, a oposição e a crítica são desencorajadas, e até banidas pelo sistema, de forma dissimulada e subtil, que submetendo tudo e todos a critérios economicis- tas, controla e domestica os indivíduos, reduzindo-os à condição de objetos e seres anónimos sem alma. É, portanto, urgente e necessário restaurar o primado da ética que não deve ser assunto apenas para os filósofos ou teólogos. O mundo da ciência e da política deve participar numa reflexão coletiva sobre os limites dos poderes do Homem sobre o Homem, sobre essa zona da pessoa onde deveria ser interdito entrar. No entanto, não cabe apenas aos cientistas ou aos políticos estabelecer as normas orientadoras da prática científica. Cabe a todos nós cidadãos apelar à res- ponsabilidade das pessoas envolvidas na tomada dessas decisões. A ciência e a técnica devem contribuir para a construção de uma sociedade mais justa em que a igualdade e a fraternidade bem como a liberdade sejam mais do (continua)
  • 10. Página 10 que meras palavras; de uma sociedade sem classes, na qual todos os seres humanos, elevados à categoria de co-proprietários dos meios de produção, possam trabalhar em conjunto para garantir o bem-estar, a riqueza e a liber- dade para todos os homens. Só assim, podemos perspetivar novos progres- sos para o Homem e para a sociedade; metas socialmente aceites, que apon- tem e promovam a responsabilidade do cientista, que encorajem o esclareci- mento e a participação pública dos cidadãos no sentido do respeito pelos direitos humanos, que afirmem e promovam a autonomia da ciência face a instituições e movimentos totalitários que pretendam usar o poder para cir- cunscrever a capacidade de intervenção cívica dos seres humanos, limitando- os à condição de instrumentos ao serviço de interesses particulares. Porque, a responsabilidade do Homem estende-se ao futuro e às outras espécies: a sua responsabilidade é cósmica. Existem “problemas [que] se referem ao conhecimento que [a ciência] produz, à ação que determina, às sociedades que transforma. Esta ciência libertadora traz ao mesmo tempo possibilidades terríveis de subjuga- ção” (Edgar Morin). A ciência, hoje, aparece como um corpo estranho no interior da cultura, cujo crescimento canceroso prenuncia destruir a vida. A corrupção da ciência, controlada pelo poder político e económico, submete todos os valores aos seus interesses e desígnios, e continuará enquanto existirem dirigentes que dediquem a vida à morte, o saber à igno- rância, que ponham a cultura aos pés de quem a destrói e prostitui, dispostos a lamber as botas ou a adorar o bezerro de ouro, para obterem trinta moedas e comprarem aparelhos e homens. Não nos iludamos: A ciência não é detentora da verdade absoluta, como ela se julga. Por- tanto, chegou a altura de exigir que ela se submeta a uma escolha democráti- ca dos cidadãos, pois “nada é tão perigoso como a certeza de se ter razão, nada causa tanta destruição como a obsessão duma verdade considerada absoluta.” (François Jacob) (continua)
  • 11. Página 11 Amor à Sabedoria A satisfação da necessidade de paz, de justiça, de felicidade, releva de esco- lhas éticas e não do conhecimento científico. É necessário que a cada passo reflitamos sobre o que fazemos. Vivemos atual- mente numa era em que, como nunca até hoje, tantas ameaças convergiram sobre o planeta, mas o inimigo não é outro senão nós próprios. Devíamos exigir e trabalhar para que a ciência esteja ao serviço da paz e da distribuição justa dos seus benefí- cios. Mas não… Não compreendo… E por isso pergunto-me: Até onde poderá ir o Homem na sua ânsia de alargar o conhecimento? Quando existem coisas que não foram criadas para serem conhecidas, mas sim contempladas. Hoje continuo, portanto, a “[crer] nos sonhos, pois neles está escondida a porta da eternidade” [Khalil Gibran]; hoje continuo, particularmente, a crer no sonho de “um mundo onde sejamos socialmente iguais, humanamente diferen- tes e totalmente livres”. [Rosa Luxemburgo] Milagros
  • 12. Página 12 Preconceitos, Estereótipos e Representações Sociais Os preconceitos estão presentes no nosso dia a dia, acho que todos nós temos preconceito de algo, por mais que digamos que não, existe e está presente, penso que só nos damos conta que somos preconceituosos quando lidamos com algum assunto. Por exemplo, há dias apareceu-me um tipo à porta a pedir dinheiro para uma criança que dizia ser sua filha e estava cancerosa. O indivíduo era de nacio- nalidade romena, achei-o muito suspeito. Resumindo, não o ajudei, porque não sei se é verdade ou não a história dele. O que ouço, normalmente, é que existem mui- tas burlas, pessoas que se fazem passar por familiares de doentes com cancro ou outro tipo de doenças, com o objetivo de extorquir dinheiro às pessoas. Nisto ouve- se falar frequentemente e os cidadãos romenos são os que mais o fazem, aquelas mafias de leste. Por isso por uns pagam todos, o preconceito está presente nesta situação. E se ouvimos dizer que determinada pessoa consome drogas, é traficante e até mesmo chega a ser ladrão, a nossa atitude é pôr esta pessoa de lado e nem olhar para ela. Aqui está presente a discriminação, o estereótipo. Aliás o filósofo Sócrates mencionou isso, quando disse que o punham de parte por saber que nada sabia, quando defendia a sua opinião, pensamento. O poder da discrimina- ção existe muito no nosso dia-a-dia. As diferentes representações sociais também estão presentes e existem também preconceitos e estereótipos em relação a elas. Quantas vezes olhamos para um indivíduo de outra religião ou crença e achamo-lo esquisito, isto porque tem um tom de pele diferente, uma maneira de vestir diferente ou até mesmo por ter outra religião. Outro assunto que está na atualidade é a homossexualidade, antes era um tabu e hoje deixou de o ser, mas o preconceito e o estereótipo está presente na maior parte das nossas opiniões, por mais que digamos não ter nada contra, aceito-os perante a sociedade, mas quando na realidade existe um carinho em público o preconceito fala mais alto e as nossas mentalidades não estão ainda preparadas para tal ato. Tal como nos é mostrado no filme Fahrenheit 451, também pode-se mudar as mentalidades, pode-se ver as coisas de outro modo, o facto de Montag ser bom- beiro e tinha por objetivo destruir todos os livros, acaba por se apaixonar pelos mesmos, porque Clarisse o fez perceber que a mentalidade e a opinião sobre os livros não era como pensavam. Este filme é uma pequena amostra de muitas men- talidades fechadas que só têm olhos e foram educados para um determinado obje- tivo e tudo o que possa ser alternativo que possa mudar ou fazer a diferença tem que ser eliminado. Assim aconteceu com Sócrates. Ele foi um potencial revolucio- nário das mentalidades e foi um alvo rápido a abater para que isso não aconteces- se. Resumindo, somos um povo preconceituoso, com uma mentalidade fechada que, dificilmente, deixará de o ser enquanto não existir educação para tal. Isa Faria, EFA ST 5&6 7 de janeiro de 2013 Escola Básica e Secundária Padre Manuel Álvares
  • 13. Amor à Sabedoria Página 13 Opinião Pública e Reflexão Crítica Hoje podemos assistir a uma exagerada e forçada influência televisiva, pois é através desta que muitos formam a sua opinião e adotam estilos. Com isto o que quero dizer é que, por exemplo, a malta mais jovem era viciada numa série de televisão “Morangos com Açúcar”. Na minha perspetiva esta série tinha tudo menos de um programa educativo, abordavam temas onde demonstravam como faziam as cenas. A juventude começou a adotar os ensinamentos que esta série transmitia. Outro exemplo da televisão que faz com que as pessoas adotem estilos é a casa dos segredos. A forma como eles se vestem, o estilo do boné, dos blusões, dos óculos etc… Comecei a ver a canalha toda com este estilo, até a minha sobrinha falava comigo para eu ver se encontrava determinado artigo para ela usar. Como não sabia o nome daquilo que para mim são óculos, bonés e blusões, para ela tinha um nome estrangeiro face ao qual eu ficava “às aranhas”. Com isto o que quero dizer é que a malta nova procura usar um estilo que viu numa figura pública, pois é através destas figuras que as marcas de roupa vendem, porque elas adotam estilos para transmitir aos outros. Até pode ser o estilo mais horroroso, mas como fulano tal usou, diz-se que é moda e fica giro. Outro ponto que antigamente era feio e gozado era o aparelho nos den- tes, quando começou a aparecer na televisão figurinhas com os aparelhos às cores, toda a malta também quis colocar um na dentuça independentemente da idade. Por isso existe muita influência por parte da televisão, internet, revis- tas etc…. Eis o peso da comunicação sobre a influência e estilo das pessoas. Quando o Tuiavii, o chefe dos povos dos Mares do Sul, diz que homem branco é ganancioso, porque só vê dinheiro à frente, ele tem toda a razão, porque por detrás de uma série de coisas está um enorme interesse económi- co. Hoje em dia nada é verdadeiro e original, tudo é um estilo plagiado de outros, até a mulher já não gosta do seu corpo necessita de plásticas para o embelezar, vivemos numa sociedade onde o nosso próprio estilo não conta para nada, mas sim o estilo e a opinião dos outros são sem dúvida a forma a adotar. Abaixo demonstro exemplos disso. (continua) Escola Básica e Secundária Padre Manuel Álvares
  • 14. Página 14 Na imagem seguinte a fulana teve a necessidade de aumentar o peito e rabo o que, na realidade, o seu exagero ficou ridículo. Imagem extraída do site http://www.novagente.pt/b8183b1/ mod_artigos_obj_moda.aspx?sid=f47f9ddd-ba79-4667- a14b-7a81d0334b88&cntx=FoNyR% 2FZKavifnlZR0XI1KpAnF9Y- LIQ8SG4dFYByZ1MmJwS8sH9eLdVN2IuSj3j36 Imagem extraída do site http:// www.aceshowbiz.com/ events/Cali%20Swag% 20District/cali-swag-district- 11th-annual-bet-awards- press-room-01.html Este estilo é muito adotado atualmente, casaco basebol e boné estilo americano, os óculos. Esta é uma linha adotado não só pela juventude como também pelas figuras públicas. Isa Faria, EFA ST 5&6 7 de janeiro de 2013
  • 15. Amor à Sabedoria Página 15 LiberdadeLiberdadeLiberdade Será o Homem realmente livre no seu querer e agir? Haverá mesmo liberdade ou será a liberdade da vontade uma ilu- são? Como se pode provar a existência da liberdade? Na tentativa de encontrar respostas para estas perguntas surgiram três teorias filosóficas: o deter- minismo radical, o libertarismo e o determinismo moderado. As duas primeiras são incompatibilitas pois não admitem a possibilidade de con- ciliação entre a sermos livres e sermos constrangidos ou determinados a sermos como somos. Pelo contrário a última é compatibilista pois afirma que é possível conci- liar a liberdade de escolha com a existência de determinismos físicos que por exem- plo operam sobre o nosso corpo, assim como todos os corpos do universo: somos livres se agirmos sem constrangimentos internos e/ou externos que nos impeçam de fazer o que queremos. Defendemos que nascemos e vivemos livres: somos donos da vontade e quem não o é, deveria sê-lo. Na verdade, nada nos prende. Somos capazes de fazer as nossas escolhas gra- ças à nossa capacidade de raciocinar e de deliberar e como tal não existem causas do nosso passado que determinem as nossas ações. Nas múltiplas situações da Vida temos possibilidade de escolha, alternativas que podemos descobrir pelo exercício da razão. Deliberamos racionalmente e assumimos a responsabilidade sobre aquilo que escolhemos fazer, em detrimento de outras possibilidades. Se não tivéssemos alternativas, como poderíamos atribuir responsabilidade a alguém? Como é que poderia haver mérito ou culpa? Se decidimos estudar em vez de ir às compras, será que não temos mérito? (continua)
  • 16. Página 16 É claro que sim. Independentemente dos acontecimentos do passado, fomos nós, como seres autónomos, que decidimos ir estudar e, por isso, tomamos uma decisão responsável. Como podemos condenar criminosos se a estes não for atribuída responsabilidade? Se não houvesse responsabilidade a atribuir, não faria sentido a existência de tribunais. Sendo assim, podemos afirmar que quem defende a teoria que recusa a responsa- bilidade moral (determinismo radical) considera a existência de tribunais completamente desnecessária. Uma objeção que se coloca à defesa da existência da liberdade da vontade baseia-se numa análise de caráter científico, argumentando que tal como evidencia a ciência ao analisar os fenómenos naturais, tudo o que acontece é desencadeado por acontecimen- tos anteriores. Para dar resposta a esta objeção podemos afirmar que os seres humanos pos- suem alma e esta transcende as leis da Natureza, dado que não é de natureza material. Como tal defendemos que os seres humanos não estão sujeitos às Leis da Natureza, como os outros sistemas físicos estão. Defender a liberdade é defender a dignidade humana pois somos seres pensan- tes, racionais e conscientes e por isso temos a possibilidade de escolher o que é verda- deiramente bom. Mesmo coagidos pela eminência de consequências extremas como a morte, ainda aí temos a possibilidade de escolha e podemos não ceder à pressão exer- cida sobre nós. Somos livres e seres responsáveis. Maria Zita Abreu e Inês Almeida, 10ºB, ano letivo 2012/ 13 Fotografias de Gerard Castello Lopes
  • 17. Amor à Sabedoria Página 17 Pensa na possibilidade de possuíres um anel que te torna invisível O que é um ser ético - moral? O Anel de Giges Platão — Falar a favor da justiça, como sendo superior à injustiça, ainda não o ouvi a nin- guém, como é meu desejo — pois desejava ouvir elogiá-la em si e por si. Contigo, sobretudo, espero aprender esse elogio. Por isso, vou fazer todos os esforços por exaltar a vida injusta; depois mostrar-te-ei de que maneira quero, por minha vez, ouvir- te censurar a injustiça, e louvar a justiça. Mas vê se te apraz a minha proposta. — Mais do que tudo — respondi —. Pois de que outro assunto terá mais prazer em falar ou ouvir falar mais vezes uma pessoa sensata? — Falas à maravilha — disse ele —. Escuta então o que eu disse que iria tratar pri- meiro: qual a essência e a origem da justiça. Dizem que uma injustiça é, por natureza um bem, e sofrê-Ia, um mal, mas que ser víti- ma de injustiça é um mal maior do que o bem que há em cometê-Ia. De maneira que, quando as pessoas praticam ou sofrem injustiças umas das outras, e provam de ambas, lhes parece vantajoso, quando não podem evitar uma coisa ou alcançar a outra, chegar a um acordo mútuo, para não cometerem injustiças nem serem vítimas delas. Daí se originou o estabelecimento de leis e convenções entre elas e a designa- ção de legal e justo para as prescrições da lei. Tal seria a génese e essência da justi- ça, que se situa a meio caminho entre o maior bem — não pagar a pena das injustiças — e o maior mal — ser incapaz de se vingar de uma injustiça. (continua)
  • 18. Página 18Página 18 Estando a justiça colocada entre estes dois extremos, deve, não preitear-se como um bem, mas honrar-se devido à impossibilidade de praticar a injustiça. Uma vez que o que pudesse cometê-Ia e fosse verdadeiramente um homem nunca aceita- ria a convenção de não praticar nem sofrer injustiças, pois seria loucura. Aqui tens, ó Sócrates, qual é a natureza da justiça, e qual a sua origem, segundo é voz corrente. Sentiremos melhor como os que observam a justiça o fazem contra vonta- de, por impossibilidade de cometerem injustiças, se imaginarmos o caso seguin- te. Dêmos o poder de fazer o que quiser a ambos, ao homem justo e ao injusto; depois, vamos atrás deles, para vermos onde a paixão leva cada um. Pois bem! Apanhá-lo-emos, ao justo, a caminhar para a mesma meta que o injusto, devido à ambição, coisa que toda a criatura está por natureza disposta a procurar alcançar como um bem; mas, por convenção, é forçada a respeitar a igualdade. E o poder a que me refiro seria mais ou menos como o seguinte: terem a faculdade que se diz ter sido concedida ao antepassado do Lídio [Giges]. Era ele um pastor que servia em casa do que era então soberano da Lídia. Devido a uma grande tem- pestade e tremor de terra, rasgou-se o solo e abriu-se uma fenda no local onde ele apascentava o rebanho. Admirado ao ver tal coisa, desceu por lá e contem- plou, entre outras maravilhas que para aí fantasiam, um cavalo de bronze, oco, com umas aberturas, espreitando através das quais viu lá dentro um cadáver, aparentemente maior do que um homem, e que não tinha mais nada senão um anel de ouro na mão. Arrancou-lho e saiu. Ora, como os pastores se tivessem reunido, da maneira habitual, a fim de comunicarem ao rei, todos os meses, o que dizia respeito aos rebanhos, Giges foi lá também, com o seu anel. Estando ele, pois, sentado no meio dos outros, deu por acaso uma volta ao engaste do anel para dentro, em direcção à parte interna da mão, e, ao fazer isso, tornou-se invisível para os que estavam ao lado, os quais falavam dele como se se tivesse ido embora. Admirado, passou de novo a mão pelo anel e virou para fora o engaste. Assim que o fez, tornou-se visível. Tendo observado estes factos, expe- rimentou, a ver se o anel tinha aquele poder, e verificou que, se voltasse o engas- te para dentro, se tornava invisível; se o voltasse para fora, ficava visível. Assim senhor de si, logo tratou de ser um dos delegados que iam junto (continua)
  • 19. Página 19Amor à Sabedoria do rei. Uma vez lá chegado, seduziu a mulher do soberano, e com o auxílio dela, atacou-o e matou-o, e assim se assenhoreou do poder. Se, portanto, houvesse dois anéis como este, e o homem justo pusesse um, e o injusto outro, não haveria ninguém, ao que parece, tão inabalável que permane- cesse no caminho da justiça, e que fosse capaz de se abster dos bens alheios e de não lhes tocar, sendo-lhe dado tirar à vontade o que quisesse do mercado, entrar nas casas e unir-se a quem lhe apetecesse, matar ou libertar das algemas a quem lhe aprouvesse, e fazer tudo o mais entre os homens, como se fosse igual aos deu- ses. Comportando-se desta maneira, os seus actos em nada difeririam dos do outro, mas ambos levariam o mesmo caminho. E disto se poderá afirmar que é uma gran- de prova de que ninguém é justo por sua vontade, mas constrangido, por entender que a justiça não é um bem para si, individualmente, uma vez que, quando cada um julga que lhe é possível cometer injustiças, comete-as. Efectivamente, todos os homens acreditam que lhes é muito mais vantajosa, individualmente, a injustiça do que a justiça. E pensam a verdade, como dirá o defensor desta argumentação. Uma vez que, se alguém que se assenhoreasse de tal poder não quisesse jamais come- ter injustiças, nem apropriar-se dos bens alheios, pareceria aos que disso soubes- sem muito desgraçado e insensato. Contudo, haviam de elogiá-lo em presença uns dos outros, enganando-se reciprocamente, com receio de serem vítimas de alguma injustiça. Assim são, pois, estes factos. Quanto à escolha, em si, entre as vidas de que estamos a falar, se conside- rarmos separadamente o homem mais justo e o mais injusto, seremos capazes de julgar correctamente. Caso contrário, não. Qual é então essa separação? É a seguinte: nada tiremos, nem ao injusto em injustiça, nem ao justo em justiça, mas suponhamos que cada um deles é perfeito na sua maneira de viver. Em primeiro lugar, que o injusto faça como os artistas qualificados — como um piloto de primeira ordem, ou um médico, repara no que é impossível e no que é possível fazer com a sua arte, e mete ombros a esta tarefa, mas abandona aquela. E ainda, se vacilar nalgum ponto, é capaz de o corrigir. Assim também o homem injusto deve meter ombros aos seus injustos empreendimentos com correcção, passando despercebi- do, se quer ser perfeitamente injusto. Em pouca conta deverá ter-se quem for apa- nhado. Pois o supra-sumo da injustiça é parecer justo sem o ser. Dêmos, portanto, (continua)
  • 20. Página 20 ao homem perfeitamente injusto à mais completa injustiça; não lhe tiremos nada, mas deixemos que, ao cometer as maiores injustiças, granjeie para si mesmo a mais excelsa fama de justo, e, se acaso vacilar nalguma coisa, seja capaz de a reparar, por ser suficientemente hábil a falar, para persuadir; e, se for denunciado algum dos seus crimes, que exerça a violência, nos casos em que ela for precisa, por meio da sua coragem e força, ou pelos amigos e riquezas que tenha granjeado. Depois de imaginarmos uma pessoa destas, coloquemos agora mentalmente junto dele um homem justo, simples e generoso, que, segundo as palavras de Ésquilo, não quer parecer bom, mas sê-lo. Tiremos-lhe, pois, essa aparência. Porquanto, se ele parecer justo, terá honrarias e presentes, por aparentar ter essas qualidades. E assim não será evidente se é por causa da justiça, se pelas dádivas e honrarias, que ele é des- se modo. Deve pois despojar-se de tudo, excepto a justiça, e deve imaginar-se como situado ao invés do anterior. Que, sem cometer falta alguma, tenha a reputação da máxima injustiça, a fim de ser provado com a pedra de toque em relação à justiça, pela sua recusa a vergar-se ao peso da má fama e suas consequências. Que cami- nhe inalterável até à morte, parecendo injusto toda a sua vida, mas sendo justo, a fim de que, depois de terem atingido ambos o extremo limite, um da justiça, outro da injustiça, se julgue qual deles foi o mais feliz. — Céus! Meu caro Gláucon! — exclamei —. Com que vigor te empenhas em limpar e avivar, como se fosse uma estátua, cada um dos dois homens, a fim de os subme- ter a julgamento! Platão Tradução de Maria Helena da Rocha Pereira. Adaptação de Vítor João Oliveira. Reti- rado de República. Lisboa: Gulbenkian, 4ª ed., 1983, pp. 55-60.
  • 21. Página 21Amor à Sabedoria ABORTO Este texto tem como objectivo dar a conhecer a minha opinião perante este tema e convencer os leitores que o aborto é algo absurdo. O aborto ou interrupção da gravidez é a remoção ou expulsão prematura de um embrião ou feto do útero, resultando na sua morte ou sendo por esta causada. Isto pode ocorrer de forma espontânea ou induzida, provocando-se o fim da gestação, e consequentemente o fim da actividade biológica do embrião ou feto, mediante uso de medicamentos ou realização de cirurgias. A discussão deste assunto é importante, pois é a vida humana que está em jogo. É o aborto moral? Há duas respostas possíveis para este problema: o aborto é moral pois o feto é parte do organismo materno e a mulher tem livre disposição de seu corpo e o aborto não é uma prática moral porque todos os seres humanos têm o mesmo direito à vida. Eu defendo que o aborto não é moral porque todos os seres humanos têm o mesmo direito à vida e os fetos são seres humanos. Matar deliberadamente quem tem direito à vida é errado e o aborto consiste em matar fetos deliberadamente. Está provado cientificamente que aos 40 dias já é possível detetar atividade cerebral atra- vés de um EEG; às 12 semanas o feto demonstra já ter adquiridos aspetos reflexos de comportamento como a sucção; por volta das 17 semanas reage a sons fortes, bem como reage à voz da mãe; às 24 semanas as papilas gustativas parecem já es- (continua)
  • 22. Página 22 tar aptas a funcionar; às 28 semanas consegue abrir e fechar os olhos de forma reflexa (piscar); às 30 semanas distingue a luz da escuridão e é capaz de seguir um foco de luz apontado à barriga da mãe; já é capaz de agarrar o cordão umbili- cal e outras partes do corpo intencionalmente e fechar a palma da mão à volta delas. Uma pessoa que defende que o aborto é uma prática moral defenderá que a mãe deve poder decidir que rumo dar à situação, como em casa de violações, casos de detecção de doenças graves no feto, ou se a gravidez prejudicar a saúde da mãe, isto é, se houver risco de vida para a mãe no parto. Responderei a esta objeção defendendo que os seres humanos, seres racionais que são, têm de assumir as responsabilidades e arcar com as consequências, sejam elas quais forem, sob pena de colocarem em risco a dignidade humana. Racionalmente, não posso aceitar o assassínio de um ser humano. Fátima Catarina Ferreira de Sousa, 10º D, ano letivo 2012 / 13 Imagem de: http://api.ning.com/fles/5Y36hMbSNo*ko6p4jdd7aRvm0M9dZ5BKnoz ZYirlmdgjn6*fWw*vnIq55Io7HSNiL26P3y1BYnYqjD5LA 2PZBprD*UKt702a/aborto.jpg
  • 23. Amor à Sabedoria Página 23 A propósito do livro: A Vida Que Podemos Salvar, de Peter Singer (Tradução de Vítor Guerreiro), Lisboa: Gradiva, 2011, 252 pp. Será que temos a obrigação ética de ajudar quem vive na pobreza absoluta? Antes de mais, considero que ajudar - seja, na pobreza ou na riqueza - é um dever do cidadão civil. O cidadão não só tem direitos como tem deveres e um deles é a entreajuda ao outro. Esta questão faz-me pensar no quanto, por vezes, somos egoístas, mes- mo sendo solidários. Com isto quero dizer que, tal como no texto que li, posso estar a usufruir de bens que podia perfeitamente dispensar para ajudar alguém. Por exemplo, quando compro uma tablete de chocolate ou até um sumo, não pen- so que com aquele mesmo valor poderia matar a fome de algumas pessoas/ crianças dos países pouco desenvolvidos (pobres). Não penso que com a quanti- dade de açúcar ingerida por mim numa tablete de chocolate pudesse fazer as delí- cias de muitas pessoas. Não me posso considerar mau cidadão por isso, mas pos- so começar a ter mais consciência dos meus atos e tornar-me um cidadão cada vez melhor. Aliás, quando falamos em obrigação ética para com os outros penso que não se deve referir só ao facto de sermos corretos em algumas situações, como man- (continua)
  • 24. Página 24Página 24 dar alguns donativos de ajuda ou até mesmo quando somos voluntários em recolhas de alimentos ou de outros tipos de mantimentos. O que não podemos esquecer é que, hoje, mesmo estando na situação em que estamos (crise económica), somos considerados ricos. Digo isto pelo seguinte: nós estudantes do 10ºG, tivemos pelo menos 10 anos de escolaridade em que sem- pre tivemos formação de forma gratuita, tivemos livros, cadernos, acompanhantes nos estudos, etc, de forma abundante; enquanto noutros países nem sequer conse- guem ter educação escolar; muitos nem sabem o que são línguas nem fazem ideia que existem disciplinas. Nós somos egoístas no sentido em que temos tudo e não damos o valor quando recusamos por exemplo ir a um apoio de determinada maté- ria. Se todos nós enviássemos os nossos materiais usados para os países pobres, tais como roupas ou calçados estávamos a contribuir para uma vida um pouco melhor e acolhedora dos que lá vivem. Por outro lado, sabemos que, muitas vezes, não há só falta de alimentos e de formação escolar, como também não é possível sequer a higiene pessoal: nós temos o privilégio de ter água potável e conseguimos mantermo-nos limpos e hidra- tados, mas existem lugares em que nem é possível sequer beber água, quanto mais tomar banho. Assim, com a falta de higiene e de boa alimentação começam a apa- recer algumas doenças associadas tais como a malária, o sarampo e a varíola e problemas na pele. Para além disso, precisamos de nos lembrarmos que, em muitos lugares, os acessos aos hospitais ou postos de socorro/saúde não podem ser per- corridos. Considero que temos a obrigação ética de ajudar nestes sectores para comba- ter a pobreza absoluta. Como seres racionais que somos, devemos considerar importante este tema pois faz parte do nosso Mundo: do Mundo Humano, mesmo distante fisicamente. Temos a obrigação de ajudar a melhorar a qualidade de vida, até para a nossa própria paz de espírito. Costuma-se dizer que quando praticamos o bem recebe-se o bem. Os textos de Peter Singer conseguiram pôr-me a refletir na questão inicialmen- te apresentada: Será que temos a obrigação ética de ajudar quem vive na pobreza absoluta? (continua)
  • 25. Página 25Amor à Sabedoria O seu objetivo foi cumprido ao sensibilizar-me e fazer-me pensar nas minhas esco- lhas, de modo a dar mais de mim para ajudar a reduzir a pobreza extrema que o nosso mundo enfrenta hoje. Não posso esquecer que nós somos o futuro: eu sou o futuro e posso ajudar a melhorar o mundo. Eu sou voluntário e continuarei a sê-lo! Daniel Freitas, 10ºG, ano letivo 2012/ 13 Como contribuir para criar um mundo melhor ? Sou uma cidadã e, como tal, tenho consciência dos meus direitos e deveres. Sou muito jovem: tenho apenas 18 anos, mas, assim como todos, sonho com uma sociedade mais justa, onde eu possa viver com a certeza de um futuro melhor. Para contribuir para um mundo melhor, não é preciso grandes mudanças. Qualquer pessoa pode fazer a sua parte edificando a sua vida em hábitos saudáveis. Econo- mizar água e energia, reduzir o lixo e usar menos o carro são algumas maneiras eficazes para diminuir a poluição, a sujidade e o gasto de energia. (continua)
  • 26. Página 26 A cidadania constrói-se diariamente nas pequenas ações, gestos que faze- mos no quotidiano, para com os outros, com a natureza ou em favor do bem comum. Se é importante e fundamental o respeito à Natureza, não é menos impor- tante o respeito do Homem pelo Homem: cumprimentar as pessoas, saber ouvir, respeitar a opinião dos outros, são atitudes que demonstram a nossa cidadania na prática. Ainda vivemos num mundo com muitas coisas erradas: ouvimos e vemos ati- tudes de desrespeito à vida humana todos os dias, principalmente na televisão sobre a violência, seja física, seja verbal, seja psicológica. Muitas vezes, o desrespeito pela própria vida é assustador. A fuga pelas dro- gas, pelo álcool, pelo uso de comprimidos para dormir, revelam a ânsia pela anes- tesia, para não se ver o que é urgente mudar. Respeitar e dignificar a vida humana é urgente! Ter em conta as opiniões e ideias de cada um, pois todos nós temos virtudes e defeitos: unindo-nos, consegui- remos melhorar a sociedade. Como cidadã exerço um dever que me compete, pois cumpro com meu papel de estudante. Todas as pessoas de países e culturas diferentes podem entender-se, se a sua preocupação com o que se passa no mundo for expressa em ações concretas. A música é um meio possível de união. Vimos um vídeo na aula de Área de Inte- gração que mostrava como o uso da música pode unir o mundo à volta de causas internacionais. Todos cantavam e tocavam instrumentos, e ninguém criava juízos de valor acerca das diferenças: se aquele era branco, preto, se era judeu, budista, chinês, árabe. Todos estavam unidos e a colaborar juntos. Podiam ser baixinhos, gordinhos, altos, magros. Naquele vídeo, cada um revelava-se com o que tinha de melhor para dar: não havia uma pessoa melhor do que outra. Conseguiremos fazer um mundo melhor! Conseguiremos ultrapassar guerras, injustiças, desigualdades, se o quisermos. Para isso: cada um precisa de fazer a sua parte! Virginie, 10ºC, ano letivo 2013 / 14
  • 27. Página 27Amor à Sabedoria A inveja, mal dos tempos de crise O trigo e o joio Há um traço comum a muitas formas de mal-estar que afligem a nossa sociedade e poderiam ser evitadas: a necessidade urgente de reeducar as nos- sas paixões e sentimentos. Uma paixão que precisa especialmente de ser ree- ducada é a inveja, uma das mais negativas e devastadoras em todas as cultu- ras, muito perigosa em tempos de crise. Diferentemente da nossa, as culturas do passado conheciam os desastrosos danos produzidos pela inveja não cuida- da e mal gerida e tinham por isso desenvolvido uma ética capaz de a orientar para o bem ou, pelo menos, de contê-la. A regra de ouro – ‘faz aos outros o que gostarias que fosse feito a ti’ – pode também ser lida como eficaz tratamento preventivo da inveja. Não por acaso é posta na Bíblia no centro da primeira fra- ternidade-fratricídio de Caim. A nossa civilização, no entanto, tem muita dificuldade em compreender a inveja. Confunde-a, por exemplo, com uma ideia errada de competição (ser melhor do que os outros), que chega a ser apresentada como único caminho para orientar para o bem comum a natureza invejosa da pessoa. A inveja escon- de-se frequentemente por detrás das crescentes invocações da meritocracia ou seja do nosso mérito e do demérito (ou “má sorte”) dos outros. Não a reconhece- mos em denúncias ou querelas e assim não definimos regras para a bloquear à nascença e gerir de modo diferente demasiados processos evidentemente ‘invejosos’, que absorvem imensas energias morais e económicas de cidadãos e tribunais. Não a vemos por detrás da corrida ao “consumo posicional”, que con- duz a endividamentos para chegar ao nível de consumo de colegas e vizinhos, uma inveja social que a publicidade tende a amplificar e o mercado a aproveitar para vender as suas mercadorias e produzir infelicidade, mesmo se aumentam o PIB – eliminar a componente do PIB produzida pela inveja seria um passo essencial rumo à quantificação do bem-estar real de um país. (continua)
  • 28. Página 28 E no entanto a inveja é muito simples de identificar: é sofrer com o bem do outro e alegrar-se com o seu mal e depois agir para criar esse mal ou reduzir esse bem. Em alemão há uma palavra (schadenfreude) que exprime exatamente esse sentimento negativo que pode nas- cer quando alguém nos comunica uma má notícia que lhe diz respeito. Para que porém se caia no vício e frequentemente do vício se passe ao dano e até ao crime, é necessário que a paixão gere ações. Não é o simples “desejo” das “coisas alheias” a violar o nono mandamen- to. É o que nos sugere também o significado do verbo hebraico hamad: no Decálogo traduzi- mo-lo com “desejar”, mas a sua semântica indica a atitude de quem delibera agir para obter o que deseja (o mal). Na realidade, sabemo-lo muito bem, se um sentimento ou um mau pensamento não é combatido à nascença, mais tarde ou mais cedo traduz-se também em obras, palavras, omissões. Na inveja há depois um fundamental mecanismo de reciprocidade negativa. Porque sei, tendo-o experimentado em mim mesmo em circunstâncias semelhantes, que tu estás a experimentar inveja pelo meu sucesso, encontro uma alegria suplementar em contar-te as minhas vitórias (e, analogamente, em silenciar as minhas desventuras). Geram-se assim tris- tes males relacionais em espiral, de que todos os dias somos protagonistas e espetadores, círculos viciosos que só poderão ser invertidos pela presença de pessoas magnânimas. As pessoas magnânimas, ou seja anti-invejosas, são um dom de valor imenso para uma comu- nidade porque, diferentemente dos invejosos, em vez de atenuar alegrias e amplificar sofri- mentos, multiplicam alegrias e reduzem sofrimentos. Mas não é possível ser anti-invejoso e magnânimo sem uma profunda vida espiritual e, para tal, um constante exercício do ágape – quer o eros quer a philia podem produzir inveja; só o ágape é naturalmente anti-invejoso. A família é, ou deveria ser, o principal lugar onde se desenrola o jogo de espelhos virtuoso da anti-inveja. Uma das maiores formas de pobreza do nosso tempo é a de tanta gente que não tem pessoas anti-invejosas com quem partilhar as grandes desventuras e as grandes ale- grias da existência. Além disso, como já recordava Aristóteles, a inveja não se desenvolve em relação a todos, mas apenas para com os nossos pares. Entre estudantes não se é invejoso dos pro- fessores, mas dos colegas. Não se invejava o imperador, nem o patrão. Para com os ‘superiores’ surgem outros sentimentos: raiva, admiração, imitação e a esperança de ser um dia como eles. O ciclista ainda amador não inveja o grande campeão, mas sim aquele que fica à sua frente numa corrida. Não se invejam os pais, mas os irmãos. Um sinal inequívoco de inveja é a síndrome do “mesmo se …”, isto é aquela nota negativa com a qual o invejoso termina todas as apreciações de um colega ou amigo (“é uma excelente pessoa, mesmo se …”). As sociedades de castas (desde as civilizações antigas às grandes empresas capitalis- tas) são também uma tentativa de limitar a expansão da inveja. (continua)
  • 29. Página 29Amor à Sabedoria Aliás, o ideal de toda a sociedade hierárquica perfeita é a construção de organizações sociais nas quais os pares existam o menos possível, de modo que cada um tenha apenas superiores e inferiores, com passagens de status bem disciplinadas. Os seres humanos têm dificuldade não tanto em comandar ou obedecer, mas em relacionarem-se positivamente com os seus pares. Mas na realidade, quando nos confrontamos com os nossos pares que sentimos melhores do que nós, juntamente com a possível inveja surge também frequente- mente a estima e o desejo de cooperação. Não seria difícil encontrar uma base biológica e evolutiva para ambos os sentimentos. Quando um meu par alcança uma melhoria e estamos num contexto estático, onde o ‘bolo’ é fixo e um só, aquela sua vantagem pode facilmente traduzir-se numa minha desvantagem, num “jogo de soma zero” (no qual os ganhos são iguais às perdas). E aqui desencadeiam-se o sentimento e muitas vezes as ações da inveja. Mas na realidade as relações sociais que são objetivamente um “jogo de soma zero” são apenas uma pequena minoria. A vida em comum, quando funciona, é na verdade uma gran- de fábrica cooperativa, um conjunto de relações de vantagem mútua para crescer em con- junto. A inveja cultivada faz-nos então perder muitas ocasiões de vantagem recíproca, por- que nos leva a ler subjetivamente o mundo como um contínuo confronto destrutivo e em riva- lidade com os outros, e não como um conjunto de oportunidades de reciprocidade. É por isso que muito frequentemente o desenvolvimento da inveja é um mau atalho perante um relacionamento no qual não fomos capazes de ver e encontrar uma boa reciprocidade. A inveja é por vezes uma estima que não amadureceu por falta de magnanimidade e trabalho sobre nós mesmos para chegar àquela excelência e auto-estima que se pode oferecer como dom ao outro. Nos tempos de crise, infelizmente, acentua-se a tendência para ler os relacionamentos com os outros em termos de rivalidade e inveja, como jogos de soma zero. As crises alimen- tam invejas, e são por elas alimentadas, porque a incerteza e o pessimismo impelem a olhar com rivalidade quem está ao lado. É pois em tempos de crise que a educação à anti- inveja, à magnanimidade, à estima dos nossos pares é particularmente preciosa, como sempre a começar pela família e pela escola para chegar às instituições (desde o sistema fiscal até aos esquemas de incentivo nas empresas), que podem alimentar o joio da inveja ou gerar o trigo da cooperação. Luigino Bruni, Avvenire 30.06.2013 http://www.avvenire.it/Commenti/Pagine/ilgranoeilloglio.aspx
  • 30. Página 30 “Quem se importa”, de Mara Mourão “Mais que um documentário, um movimento que inspira os indivíduos a serem transfor- madores.” Não nos resignemos. O caminho é a excelência… Porque em nós reside a coragem e a esperança relativamente a Portugal; em nós resi- de a força da mudança. Tenhamos a capacidade de trabalhar em rede… Não nos fechemos em nós mesmos… Reflexão Um filme para quem acredita que pode mudar o mundo… O documentário inicia com cenários de guerra, doença, excesso populacional, polui- ção, lixo e pobreza extremas. A indiferença, a apatia e a ignorância constituem os atuais piores inimigos do Homem… e ninguém parece importar-se… A maioria dos seres humanos vive apenas tentando sobreviver e a remanescente par- cela vive perdida por entre distrações, bombardeada por informações, desconectada de sen- tido. O Homem vive acreditando que os problemas são impossíveis de resolução. Mas será que ainda somos capazes de nos importar? Não estamos aqui para aproveitar, simplesmente, a vida, como se alguém tivesse con- cebido o mundo e fôssemos apenas convidados. Nós não somos convidados, somos criado- res. O ser humano é criador da sua própria vida, do seu próprio mundo. O Homem faz e cria a história. No entanto, antes de criar o seu mundo, o Homem deveria de imaginar que tipo de mundo quer, porque a consciência precede os factos e antes de mais temos que ima- ginar e saber e só depois ir mais além do que achamos ser possível. O mundo transpõe agora um período difícil. O preço dos alimentos e do petróleo cres- (continua)
  • 31. Página 31Amor à Sabedoria ce exponencialmente; decorrem guerras e conflitos. Talvez por uma perda de fé nas lideran- ças e na respetiva integridade… Assim, pensemos no que há de bom: energias limpas; formas de conexão. E através de uma consciência crescente, o Homem quererá ver um mundo melhor e aprenderá que os conflitos, o apego ao passado e a muitos confortos não são tão relevantes e podem ser dei- xados de lado. É uma questão elementar de estilo de vida. Como vivemos neste planeta? Que respon- sabilidade impomos a nós mesmos? Se respondermos a estas questões, criaremos a consciência de que se vivermos e agirmos de certo modo, estaremos lesando alguém, quando não deveria atingir a vida do próximo. Todos nós podemos, contudo, trazer mudanças positivas para algum confim do plane- ta. Todos podem mudar o mundo… Basta dizer basta e não ficar acomodado… Basta dizer basta e fazer; e fundar… Não importa o número de beneficiados, mas o sentimento que se esconde… Qualquer pessoa pode ser um empreendedor social, não é nenhuma bênção divina. Simplesmente é necessário que o Homem se consciencialize do seu poder de transfor- mação. A partir de qualquer sector, qualquer confim do planeta, é possível que surjam iniciati- vas que possam mudar o rumo da História. É, apenas, necessário que o Homem reconheça que o conhecimento de um índio ou de uma mulher de uma comunidade tradicional é tão fundamental como o criado por um grande cientista num grande laboratório. Um empreendedor social é aquele que vê esperança onde outros não a vêem; que vê possibilidades onde não existem; que vê espaços entre uma coisa e outra. Um empreendedor social é um visionário: tem imaginação, esperança; é infinitamente prático e detalhista. Ser empreendedor não é ter a capacidade de gerenciar, nem a aptidão de fazer acontecer ou de liderar; ser empreendedor é saber quais os rumos que a sociedade deve tomar e fazer tal acontecer. Todos temos responsabilidade e, por um mundo melhor, temos que participar. Não imaginam a ausência de dignidade que a pobreza pode criar… Temos que ver se, (continua)
  • 32. Página 32 como seres humanos, temos uso para alguém. Temos que querer fazer mais… É impossível pensar num problema global cuja solução não seja, pelo menos, parcial- mente global. Pela primeira vez na história da Humanidade, sente-se a ameaça. E não temos mais tempo… O consumo, a produção de lixo e de desperdício já estão exagerados. O aqueci- mento global já é facto… Se o Homem não mudar, o planeta o varrerá… O planeta é, hoje, um carro a alta velocidade rumo ao abismo. Precisamos desacelerar e mudar completamente. Se todas as comunidades não reaprenderem a ética de cuidado caminharemos eminentemente para a autodestruição… Podemos recuperar aéreas totalmente degradadas… Cada pequeno problema comunitário é resultado de todos os factores que envolvem a comunidade. Assim, para desenvolver é preciso mover tudo do mínimo… É preciso o contacto, estar com a comunidade… Todos temos coisas a colaborar. Contrapartidas e obrigações mútuas. Precisamos de uma realidade de parceria. Todos podemos ser transformadores. Basta envolver a comunidade em todos os trabalhos de modo a que tome as rédeas do poder e possa conduzir o seu próprio desenvolvimento. Basta considerar os pobres como cidadãos capazes e fornecer os instrumentos para que se desenvolvam, encarando-os como irmãos. Basta que o Governo e os empreendedores se unam, com visão estratégica de escala. O crescimento do Sector Cidadão é uma nova esperança para a sociedade, para a Humanidade e para o mundo. Mas só se não se isolar em si mesmo… O ponto crítico para o crescimento dos criadores de mudança e do Sector Cidadão é o consequente alistamento com outros sectores. As mudanças não funcionam quando isoladas do governo ou quando isoladas do mun- do corporativo. Existe esperança no mundo se criarmos uma geração de transformadores que vêem o que existe de bom em todos os lugares da sociedade; que investem, ordenam e mobilizam, como uma força de mudança. (continua)
  • 33. Página 33Amor à Sabedoria É necessário pensar fora da caixa. Os desafios de hoje são diferentes dos de ontem. Assim como não serão iguais aos de amanhã. É necessária a habilidade de fazer os indiví- duos se envolverem. Um Homem não pode decidir por outro; nem pode ajudar se não conhece os problemas do próximo. É necessário angariar dinheiro, mas com vista a melhorar a sociedade do outro e aten- dendo ao facto de que quando a felicidade se direciona só para um lado se torna exploração. É necessário compreender que o prazer de um Homem é o de outro, que quando um Homem ganha, o seu irmão também. O problema é, por conseguinte, a herança de um mundo compartimentado, sectoriza- do. O Homem precisa de procurar uma convergência, um novo modelo de gestão de empre- sas, que nasça socialmente responsável, porque os governos atuais não privilegiam a felici- dade, a força voluntária de um corpo. Quando se observa os indicadores de desenvolvimento de um país o principal indica- dor de como um cidadão contribui ao bem-estar é através da PEA – população economica- mente ativa, a qual reconhece o povo entre os 15-64 anos de idade. Não existe um indicador que afirme a um menino de 4, 8 ou 12 anos que o que faz contribui para o bem-estar do país. Por conseguinte, foi criado um novo indicador – população ambientalmente ativa, que reconhece o todo. O consumo originou um estado de alerta para o sustento da vida humana. E a causa é a incoerência, a incapacidade de pensar, de sentir, de dizer e de fazer de modo alinhado e no tempo. O Homem vive pensando, dizendo e fazendo coisas completamente diferentes. E sem coerência social alimenta-se a indiferença, a mentira e a violência. É necessário guiar as comunidades locais no sentido de que resolvam os problemas humanitários, independentemente da ajuda estrangeira. Mas o maior problema é a falta de fé, de imaginação e de esperança. Não se acredita ser possível. Mas como intervir? Qual a forma mais eficiente? É necessário conhecer. Não somos um não-alguma-coisa. Cidadania é importar-se, é organizar, é fazer. Sem uma sociedade civil pulsante, a Humanidade encontra-se extraviada numa encru- zilhada sem saída. (continua)
  • 34. Página 34 Quando o ser humano pensa em mudança surge logo a ideia de grandes milagres, grandes somas de recursos. Não precisamos de grandes tecnologias. Com o que já se sabe, com o que já está à disposição, o mundo é passível de transfor- mação. Uma transformação que termine com a falta de saber, a ignorância, a falta de oportu- nidade e de acesso. Ideias são coisas que devemos libertar. Se quer fazer mudança, deve abrir mão de qualquer direito autoral porque o objetivo é embutir as ideias nas estruturas dos sistemas. O importante é, pois, descontaminar o mundo dos processos antinaturais de privatiza- ção do pensamento, das ideias de solução. Porque, afinal, somos o canal para que se insta- lem no mundo. De algo mínimo pode despontar um proceder totalmente novo; ações pequenas podem somar muito mais rapidamente do que se pensa; os Homens podem realmente transformar um sistema. Qualquer território é portador de desenvolvimento. A pobreza não é uma sentença inexorável de Deus. A pobreza pode ser eliminada do mundo uma vez que não faz parte da sociedade humana; esta é artificialmente imposta. E algo artificial sempre pode ser arrancado. A crise atual verifica-se não devido à falta de recursos, mas à inadequada distribuição dos mesmos. Os Homens trabalham exclusivamente para si mesmos. Quando é necessário dar as mãos e colaborar; terminar com o individualismo, os abusos e a exploração; olhar do ponto de vista ambientalista; fazer mais com menos; incrementar a partilha e a cooperação, por uma sociedade proativa. A crise, no sentido salutífero, é então útil para a diminuição do consumismo, da polui- ção, do materialismo, do egoísmo e do altivismo. Não é nada com a semente, o problema é que se não dá a base para que possa cres- cer. Muito do que somos e do que temos é consequência das condições onde nascemos. Reconhecer, respeitar e meditar sobre esse facto torna natural o pensar sobre o outro que nasceu sob circunstâncias que não propiciaram que fosse tão bem sucedido quanto muitos de nós conseguimos ser. (continua)
  • 35. Página 35Amor à Sabedoria Os pobres querem ser tratados como parceiros de negócio. Querem que nós sejamos os seus investidores, numa relação de dignidade mútua. E, na verdade, são os pequenos passos que se somam e fazem o mundo girar numa direção. Busquemos, então, esse sentido e façamos disso o nosso trabalho de todo o dia. O manifestar de amor e respeito, de forma majestosa, é o maior dom que pode ter. Se uma criança tem todos os brinquedos e nenhum vestígio de amor, não funciona. A mesma coisa para os adultos… Os bens materiais são medidas indiretas de sucesso na vida; são as sombras da caverna. Tornamo-nos aquisitivos ou materialistas porque nunca estimularam as nossas mentes a nível inteletual, emocional e espiritual. Pensamos, assim, uma criança como tola se não vê beleza numa montanha ou numa estrela, e como normal se não vê beleza nas leis e cone- xões invisíveis da Natureza… Estamos a bloquear parte dos nossos cérebros… Existe uma fonte infinita de alegria e entretenimento, absolutamente gratuita. Existe um descomunal potencial nas crianças que não estamos nutrindo. A verdadeira raiz da pobreza material é a inteletual. Aprendamos, de uma vez por todas, que “nem tudo o que conta pode ser contado e, ainda, que nem tudo o que pode ser contado conta” [Einstein]. Direitos por si só não conferem uma vida interessante e significativa. É preciso que nos sintamos participantes e com amor; que nos sintamos contribuidores. Ter um olhar livre de dogmas…Todos têm capacidades… É necessário libertar o potencial humano em seres vistos como incapazes, deficientes ou irrecuperáveis. Fazer parte da solução e não do problema. Aprender a cuidar do outro, a entender a sua experiência. Ter a habilidade de imaginar como o outro se sente. Só assim resolveremos conflitos, pelo altruísmo, através da ética de cuidado; pela humanidade que ainda existe em nós. Não temos o direito de desistir de uma criança… É necessário reciprocidade, preocupações compartilhadas, um futuro compartilhado. Não é preciso muito para inspirar uma pessoa a ser o que realmente é. Faça da mudança um caminho a ser seguido. (continua)
  • 36. Página 36 Não peça permissão. Simplesmente faça! É possível acabar com os maiores problemas da Humanidade. O mundo dos transformadores será verdadeiramente igual, ético e respeitoso. O que importa não é o resultado, mas quem nos tornamos durante a jornada. Sintamo-nos úteis e válidos. Sejamos uma Humanidade criativa, inventiva, inovadora, ativa, empreendedora, tenaz, verdadeira cidadã. Lembremo-nos das nossas maiores aspirações e tragamos as nossas dádivas de amor para o altar da Humanidade. Não somos seres isolados, mas seres permanentemente conectados, em mistério e encanto, com este Universo, com a comunidade e com o outro. Milagros “Existem dois tipos de pessoas. As que falam e as que agem. Procuro estar no segundo grupo, dado que no primeiro há já muita concorrência.” (Indira Gandhi) O mundo será melhor quando eu for melhor… Não fiquemos à espera… É necessário instigar a ação individual e coletiva; apontar novos caminhos e formar agentes ativos na construção de um mundo melhor que detenha um olhar ético. É necessário encarar os grandes problemas do mundo como oportunidades e não como obstáculos intransponíveis. É necessário ter vontade de metamorfosear o mundo, numa ação social e transforma- dora que melhore contextos sociais, ambientais, económicos, políticos e humanos. Tenhamos a alegria de usufruir uma missão de vida, visões e soluções de futuro, para um mundo sustentável e justo. É necessário pensar as necessidades da sociedade; abandonar a apatia e o imobilis- mo para agir; criar respostas inovadoras capazes não só de mudar a sociedade em redor, mas também de causar um impacto social para que possam transformar-se em políticas públicas pelo mundo; é necessário revolucionar o processo “criativo-destrutivo” do capitalis- mo, pelo desenvolver de novas tecnologias ou do aperfeiçoamento de uma antiga – o real papel da inovação; é necessário alcançar o bem-estar coletivo e transformar a realidade em todo o mundo. Milagros
  • 37. Página 37Amor à Sabedoria Tanto Mar Sei que estás em festa, pá Fico contente E enquanto estou ausente Guarda um cravo para mim Eu queria estar na festa, pá Com a tua gente E colher pessoalmente Uma flor do teu jardim Sei que há léguas a nos separar Tanto mar, tanto mar Sei também quanto é preciso, pá Navegar, navegar Lá faz primavera, pá Cá estou doente Manda urgentemente Algum cheirinho de alecrim Chico Buarque * Letra original, vetada pela censura; gravação editada apenas em Portugal, em 1975. As Gaivotas As gaivotas voam no ar os alunos na sala a trabalhar até o toque soar ninguém vai parar. Voar é aprender a estudar, a ler, a escrever, a multiplicar, para podermos crescer. O pai e a mãe a trabalhar para nos sustentar é nosso dever ajudar para com eles partilhar. As gaivotas pairam no ar a dançar sem cansar e o meu poema a rimar com palavras de encantar. Miguel Ângelo Faria Silva, Turma: 5ºE,Nº:17
  • 38. Página 38 Despertar para o nosso património natural Vivemos numa Ilha povoada de plantas e com extensas zonas verdes. Temos uma floresta considerada pela UNESCO reserva da biosfera, floresta essa designada pela Laurissilva. Eu jamais imaginaria que dentro desta floresta existiria milhares de plantas medicinais e plantas existentes a nível mundial. Quando olha- va para essas mesmas plantas, considerava-as como monda, destinada apenas ao consumo animal. Mas depois da caminhada que realizámos na Fajã da Nogueira, na freguesia do Faial, percebi e foi-nos apresentada cada planta e qual a sua fun- ção em termos medicinais. A partir desse momento a minha mentalidade mudou. Com base neste trabalho fiquei a conhecer melhor as plantas e para que fins medi- cinais se destinam. Com a recolha de dados fotográficos e apontamentos, elaborámos uma ati- vidade onde incluía também essas mesmas plantas observadas na caminhada, mas também outras plantas que pesquisámos através da internet com o objetivo de localizarmos plantas existentes e não existentes na região e a sua origem, se fazem ou não parte da Macaronésia (Açores, Madeira e Canárias). Com esta atividade, aprendi algo mais sobre plantas, e o que podemos fazer com elas, nem imaginaria que existem milhões de espécies que são benéficas para a saúde e algumas delas têm origem nos confins do mundo. Abaixo apresento o registo fotográfico da nossa atividade integradora. (continua) Escola Básica e Secundária Padre Manuel Álvares
  • 39. Página 39Amor à Sabedoria Na Caminhada na Fajã da Nogueira-Faial, percurso em busca de plantas medi- cinais. Algumas espécies encontra- das na caminhada (continua)
  • 40. Página 40 Preparação para apresentação da nossa atividade ao público Chegada da nossa convidada Eng. Graça Mateus A minha apresentação das plantas da caminhada
  • 41. Página 41Amor à Sabedoria Momento em que a nossa con- vidada Eng. Graça Mateus ini- ciou a sua palestra Esta foi mais uma das nossas atividades integradoras em que foi fundamental ver em termos globais a origem das plantas medicinais. Aprendi muito. Isa Faria, EFA ST5&6, 2012/2013 5 de março de 2013 Identidades e Patrimónios Culturais As casas madeirenses atuais já não são idênticas às casas que antigamente se construíam, isto porque, como podemos analisar mais à frente nas imagens que tirei às casas antigas, estas tinham muita semelhança em certos traços gerais e pormenores, tais como telhados, beirais, janelas, portas, chaminés, pátios e tam- bém na sua estrutura, tanto interior como exterior. Foram-se adaptando novos estilos de casas vindas do exterior, ou seja, tra- zidos por emigrantes, de tal modo que consegue-se distinguir qual a casa de um residente madeirense e de um emigrante madeirense. Isto aplica-se em casas construídas mais ou menos há dez anos ou mais, porque as atuais já são adapta- das aos novos estilos e qualquer um que tenha investimento pode obter uma. Abaixo podemos analisar vários pormenores semelhantes e também pode- mos ver outros aspetos que embelezavam as residências. (continua) Escola Básica e Secundária Padre Manuel Álvares
  • 42. Página 42 Telhados, beirais, figuras ilustrativas, portas, janelas, varandas, chaminés etc… Figuras Ilustrativas: Há quem pense que estas figuras têm um significado, mas outros dizem que apenas eram para enfeitar os beirais. Fiz algumas pesquisas junto de pessoas mais velhas e estas não me souberam responder se tinha ou não, significado estas figuras. Apenas relataram-me que, antigamente, era moda o seu uso. (continua)
  • 43. Amor à Sabedoria Página 43 (continua)
  • 44. Página 44Página 44 Estas são algumas das figuras que podemos encontrar nas residências madeirenses. Podemos ver que existem vários tipos de imagens expostas em habitações espalhadas pela ilha. Telhados e beirais: Os telhados e os beirais são muito semelhantes, também podemos encontrar telhados diferentes, mais modernos, de certa forma conseguimos per- ceber quais são os antigos e quais são os mais modernos. (continua)
  • 45. Página 45Amor à Sabedoria (continua)
  • 47. Amor à Sabedoria Página 47 Estas imagens são a demonstração de vários tipos de telhados e beirais existentes na ilha da madeira, muitos são idênticos. Aqui apenas retratamos alguns deles. Portas e janelas: Outro aspeto nas casas madeirenses é a ilustração de portas e janelas com vidros coloridos. Um exemplo que encontrei numa rua onde existiam várias casas pertencentes à mesma família mas cada uma delas tinha um formato diferente, estas procuravam não repetir a forma das outras casas. (continua)
  • 48. Página 48Página 48 Outro pormenor que encontramos nas casas madeirenses são os fingimentos ou molduras que contornam as portas e as janelas, esquinas e contornos de beirais, uns simples, outros traba- lhados. E também as varandas e portões exteriores. (continua)
  • 49. Página 49Amor à Sabedoria (continua)
  • 51. Página 51Amor à Sabedoria Chaminés: As chaminés são muito idênticas mas mesmo assim encontram-se vários tipos de forma- tos, de terra para terra podemos ver que nem todas as construções são iguais. Em particular a Ilha da Madeira possuiu uma arquitetura fascinante nos seus moldes, o facto é que as chami- nés prismáticas são bastante utilizadas se bem que também sejam utilizadas formas que tam- bém são fundamentais. (continua)
  • 53. Amor à Sabedoria Página 53 40.º Aniversário da Escola Básica e Secundária Padre Manuel Álvares Entrevista com Leontina Santos 17 de fevereiro de 2014 O espírito de Fernão Capelo Gaivota A Escola Básica Secundária Padre Manuel Álvares celebra 40 anos de exis- tência. Foi fundada, formalmente, no ano lectivo de 1973/1974, tendo como primei- ro director o professor e escultor Francisco Simões. A propósito do quadragésimo aniversário da Escola vou entrevistar a professora Leontina Santos, discípula ativa do espírito precursor da instituição, inspirado na obra de Richard Bach - Fernão Capelo Gaivota. Entrevistador: Muito boa tarde, senhora professora. Vamos iniciar esta entrevista recordando algumas experiências significativas que foram compondo a sua biogra- fia. Pode ser? Há quanto tempo abraçou o espírito de Fernão Capelo Gaivota? Como foi a descoberta da vocação do ensino? Prof.ª Leontina: Boa tarde. O meu nome é Leontina Silva Santos e tenho cinquen- ta e quatro anos. As qualificações académicas foram conquistadas de forma gra- dual e com muita dedicação. Alcancei o grau de mestre na área da Filosofia pela Universidade de Braga, extensão do Funchal. Em 1981, nesta escola, iniciei a ativi- dade docente, antes de possuir a formação universitária. O percurso académico foi realizado a trabalhar e a estudar simultaneamente. Quanto às experiências, elas são muitas e diversificadas. Umas são de ordem privada e familiar, outras de ordem profissional. Inicialmente, no Ensino Diurno, comecei pelo Segundo Ciclo, seguido do Terceiro Ciclo onde estive menos tempo e, claro, a maior parte do tempo foi partilhado com os alunos do nível Secundário. Também passei pela experiência dos vários programas do Ensino Nocturno nos diferentes níveis, desde o Ensino Recorrente até aos atuais Cursos de Educação e Formação (CEF) e Cursos de Educação e Formação de Adultos (EFA). (continua)
  • 54. Página 54 Ao longo destes anos desenvolvi várias atividades e desempenhei múltiplas funções dentro da escola. Entre aquelas que mais interessam para este momento, as de ordem profissional, são de realçar: o papel de animadora de diferentes clu- bes, abrangendo o teatro, a natureza, aos projectos com as crianças, por exemplo, A Filosofia para Crianças; o acompanhamento nas saídas de Visitas de Estudo, dentro e fora da Região Autónoma da Madeira (RAM); a lecionação enriquecedora nos diferentes níveis escolares; o facto de ter sido Orientadora de Estágios; o desempenho da função de Coordenadora dos Directores de Turma e, em última instância, o momento em que fui Presidente da Escola durante dois anos. Tem sido um leque de experiências que me deixa confortável em relação ao ensino por- que muita coisa não é nova e, ao mesmo tempo, uma atitude crítica em relação a muitas outras. Entrevistador: Foi uma descoberta exigente mas recompensadora, assente na dedicação e no espírito de missão. Em 1973/1974 emergiu a Escola Básica e Secundária Padre Manuel Álvares e o professor escultor Francisco Simões como primeiro Director. A professora Leontina conheceu esta personalidade? Prof.ª Leontina: Evidentemente. Francisco Simões foi uma figura ímpar que mar- cou todos os alunos, especialmente, os primeiros alunos que frequentaram esta escola, por ter sido o impulsionador e o motivador para que a escola funcionasse nesse ano, em 1973/1974. Apesar da instituição não apresentar as melhores condições materiais, ele achou oportuno começar desde logo as actividades lectivas para evitar que a esco- la perdesse muitos alunos. Eu seria uma daquelas que teria ficado sem a escolari- dade, na medida em que não tinha as condições para dar continuidade aos estu- dos noutro local mais longínquo. Tendo consciência da realidade precária das famílias e do facto de muitas crianças já terem iniciado o primeiro ano ou terem fei- to a Telescola, logo sem condições para continuarem, Francisco Simões decidiu abraçar este projecto e lançou-o de uma forma inédita. Em 1973/1974, antes de ocorrer a Revolução do 25 de Abril, podemos dizer que o concelho de Ribeira Brava foi pioneiro, por desenvolver uma atitude de liber- dade, respeito, tolerância e diversidade que, olhando hoje, parece inconcebível que se pudesse ter feito isso antes da Revolução do 25 de Abril, mas aconteceu. (continua)
  • 55. Amor à Sabedoria Página 55 Eu tive a felicidade de ter sido uma dessas alunas e de ter partilhado com Francis- co Simões o espírito e a visão de Fernando Capelo Gaivota. Nessa época era cha- mada de Leontina Gaivota, tal como todas as outras colegas e, desse modo, foi injectado no espírito dos jovens o gosto, a missão, o esforço e o trabalho, dentro e fora da escola, por um futuro melhor. Acho fundamental que se voltasse a renovar e incentivar todos esses valores nos nossos jovens. Entrevistador: Deduzo das suas palavras a necessidade de reorientar os jovens no caminho de uma liberdade mais dinâmica e responsável. Como aluna desta escola, quais são as memórias dessa passagem? Como era o clima escolar, as aulas, enfim, quais foram os traços mais salientes dessa época? Prof.ª Leontina: Isso mesmo. Ora, o que eu gostaria de referir, essencialmente, era o gosto por aprender que animava todos os alunos que frequentavam a escola. A escolaridade não era obrigatória, por isso os que cá estavam eram aqueles que queriam, aqueles que insistiram com os familiares, tal como eu que chorei e bradei para voltar para a escola e que, assim, aproveitavam ao máximo tudo aquilo que a escola tinha para oferecer. Também não havia a concorrência de outros meios para chegar determinado tipo de informação. Efectivamente, a escola tinha um papel privilegiado nessa época que presentemente não tem. Hoje ela tem fortes concorrentes, sobretudo do mundo audiovisual. Nesse tempo vivia-se verdadeiramente um espírito de gosto, de interesse e de motivação por aprender. Tudo e todos tinham a aprender e a ensinar e este foi o grande lema de Francisco Simões. Todos os colaboradores de cá de dentro, des- de o senhor João, o antigo agricultor que cuidava da horta, grande mestre e pro- fessor sem escolaridade, foi professor dos professores e de todos os alunos. Essa motivação fez com que todos os alunos se empenhassem em manter, em construir e criar a própria escola. Começámos por ter quatro salas e cinco turmas. Uma turma ficava sempre ao relento. Havia uma disputa entre as turmas para ver quem conquistava primei- ramente o espaço de cada sala. Nas primeiras semanas nem cadeiras havia, ape- nas o tecto e o abrigar do vento porque não havia imobiliário. Foi uma alegria enor- me os carros chegarem com cadeiras e mesas. Nós ajudamos a descarregar o material e de seguida montamos as salas. São dias e memórias inesquecíveis. (continua)
  • 56. Página 56 Depois, todo o percurso, dentro e fora da escola, motivado e muito trabalhado pelo professor Francisco Simões, professor da disciplina de desenho (hoje com a designação de EVT) que sempre nos ensinou e incentivou a enquadrar o contexto social em que estávamos inseridos. Lembro-me que uma das primeiras aulas foi subir até a zona do pico e, a partir do miradouro, tivemos de desenhar a planta da vila da Ribeira Brava porque ele defendia que a escola não podia estar desenraiza- da do seu meio. Esta iniciativa invulgar foi uma experiência nova para essa época. E neste espírito nasce o dia da Escola, o dia seis de maio, porque é o aniversário da fundação do Concelho da Ribeira Brava. Depois destas práticas surgiram tantos teóricos, pedagogos, livros e ensina- mentos que nos vêm dizer que a escola deve estar em sintonia com o contexto social onde está inserida. Mas ele não dizia, fazia. E por essa razão saímos vila abaixo: decoramos paredes e aconteceram aulas em qualquer espaço, onde fos- sem possíveis as aprendizagens, quer sentados na esplanada do café ou no adro da igreja, quer pintando as muralhas do mercado que as pessoas mais conhecedo- ras bem se recordam. Apesar de já ter sido demolido e restaurado, agora, o merca- do já não apresenta qualquer vestígio dessas pinturas. Foi assim que também se fez da vila a Escola, pois qualquer meio é condição de possibilidade de aprendiza- gem. Quando Francisco Simões regressou à Ribeira Brava, passados muitos anos, o professor ficou muito chocado ao encontrar a escola rodeada por uma vedação enorme, o que contraria, naturalmente, o espírito de escola como continuidade com o meio social. Claro que as realidades são diferentes, a realidade social actual ofe- rece outros perigos aos adolescentes e outras motivações que levou à colocação da cerca, mas, realmente, o espírito que se viveu na altura é qualquer coisa que deixa uma saudade enorme. Entrevistador: Pois, os agentes educativos é que fazem o espírito da escola ape- sar das adversidades. Neste contexto, a Escola Básica e Secundária Padre Manuel Álvares celebra, no dia 6 de maio de 2014, o seu quadragésimo aniversário, como professora, qual é para si o significado desta data? Pode referir algumas dificulda- des e desafios da sua carreira profissional? Prof.ª Leontina: Sou realmente uma pessoa apaixonada pela história desta Escola e já o demonstrei em várias circunstâncias, nomeadamente quando exerci a função (continua)
  • 57. Amor à Sabedoria Página 57 de presidente. Nessa altura tentei agregar os antigos alunos e, a partir de então, passámos a fazer do seis de maio a data do jantar das antigas “Gaivotas”. Nesse primeiro encontro marcou presença o Francisco Simões que se dignou vir à Madei- ra. No ano seguinte fazíamos vinte e cinco anos da existência da Escola e foi decidido assinalar essa data com um pequeno compêndio de algumas memórias, com a colaboração de vários professores da altura e antigos alunos. Foi possível, grande parte com a participação do professor escultor Francisco Simões, compor um pequeno compêndio que realmente perdura até aos nossos dias e, algumas vezes, utilizado como objeto para agraciar quem nos visita. Fico um pouco desa- pontada por não ter havido mais iniciativas para perpetuar a memória dos melho- res ambientes escolares, os verdadeiros ambientes escolares. Nos anos posteriores seguiu-se a destruição de muitos vestígios que marca- vam e assinalavam os documentos vivos da história desta Escola. Hoje, entra-se na nossa Escola e ela parece uma escola igual a todas as outras porque se apaga- ram as pegadas, os elos e o espírito reinante nas primeiras “Gaivotas”. Ainda resis- tem duas frases nas fachadas da entrada devido ao esforço que fiz, há uns anos (continua)
  • 58. Página 58 atrás, para que se mantivessem essas frases de Fernão Capelo Gaivota1 . Sobrevi- ve alguns pequenos vestígios como o nome da Rua das Sombras e a Avenida das Gaivotas, mas a grande maioria das pinturas desapareceram e, infelizmente, o novo protótipo da Escola até quer apagar o nome Padre Manuel Álvares que, mais uma vez, visa suprimir os vestígios da cultura de uma determinada realidade. O Padre Manuel Álvares, filho ilustre desta terra, é uma grande figura da Lín- gua Portuguesa, comparável com aos grandes escritores como Luís de Camões, cuja obra se divulgou mundo além. E agora até se pretende ignorar semelhante fei- to, apagando o seu nome de uma instituição tão importante numa comunidade como é a Escola. Para mim, o quadragésimo aniversário deve ser assinalado com toda a pompa e circunstância, não só por respeito à memória do passado mas, sobretudo, para reavivar determinados valores que possam tocar, sensibilizar e vol- tar a despertar o gosto pela Escola. Entrevistador: A Escola vive das suas referências, da sua história e identidade pró- prias. No ano passado foi apresentado o projecto de uma nova escola secundária. Parece que apenas os concelhos de Ribeira Brava e Porto Santo foram os únicos que não renovaram as escolas secundárias. Qual é a sua opinião sobre esta pro- messa? Prof.ª Leontina: Ora, uma escola nova! Não sei se será uma escola nova ou serão apenas paredes novas. Muitas vezes uma escola nova reporta-se apenas a salas, mesas e cadeiras novas. Eu sonhava, sempre sonhei que a Ribeira Brava voltaria a ser pioneira em termos escolares como já foi há quarenta anos atrás, com uma “Escola Nova”. Fomos exemplo para os pedagogos, fomos exemplo para os pro- fessores do ensino básico do continente, mais do que para os da Madeira, infeliz- mente. Fiquei um pouco dececionada por saber que a mudança passará pela renova- ção das paredes. Vamos continuar com a mesma circunstância de que existem dis- ciplinas que vão ter de ser administradas, repetidamente, fora daqui, caso da Edu- 1 - “Estão cegos? Não conseguirão ver? Não se aperceberão da glória que será quando aprendermos realmente a voar? Não me interessa o que eles pensam. Mostrar-lhes-ei o que é voar.” “Tu tens a liberdade de ser tu próprio, o teu verdadeiro eu, aqui e agora; nada se pode interpor no teu caminho. Essa é a lei da Grande Gaivota, a lei que é. - Queres dizer que posso voar? - Quero dizer que és livre?.” (Richard Bach, Fernão Capelo Gaivota) (continua)
  • 59. Amor à Sabedoria Página 59 cação Física, colocando os alunos em situações desagradáveis como as situações de chuva e mau tempo, os perigos rodoviários, entre outros. Além disso, ainda não conheço o interior deste projecto, mas se se repetir o que tem vindo a acontecer com as últimas construções escolares, esta será mais um copy e paste (copiar e colar) igual a tantos outros, sem qualquer caraterística que a diferencie. Gostaria que a minha escola tivesse capacidade para agregar os alunos num só turno, que não houvesse dois turnos a funcionar porque isso nunca produz bons efeitos. Não há medida alguma que o Ministério venha a implementar, que vá dar o fruto pretendido nas condições em que nós trabalhamos, numa escola a três tur- nos, onde a funcionária tem de controlar os espaços e esgueirar-se, durante cinco minutos, para poder fazer a limpeza ou poder arejar uma sala. Este é um dos vários problemas. A questão essencial é que a escola deveria disponibilizar uma oferta diversificada aos alunos e isso só é possível quando trabalhamos apenas num turno. Num segundo turno, os alunos escolheriam entre as diversas atividades extracurriculares aquelas que pretendiam frequentar sem qualquer tipo de cons- trangimento. O ideal seria conceber atividades para aqueles que têm mais limitações no processo de aprendizagem e outras iniciativas mais exigentes para aqueles que têm um ritmo de aprendizagem mais avançado. A Escola pode ser uma fonte de enriquecimento dentro dessa natureza, permitindo, essencialmente, que a equipa docente tivesse a possibilidade de ter momentos de trabalho interdisciplinar, pois, só assim se obtém os verdadeiros frutos no ensino. Este ensino compartimentado, esta dificuldade dos professores se reunirem e, sempre que o fazem, tem de ser em horários pós-laborais, traduz, de facto, a desmotivação e o prejuízo para a vida profissional de qualquer docente. Um professor que entre na escola às oito, com aulas na parte da manhã e na parte da tarde, e depois ainda tem uma reunião às dezanove ou às vinte horas, evidentemente que a sua motivação para trabalhar é nula, antes pelo contrário, sente-se cansado e revoltado, como é óbvio. Assim, não vamos a lugar nenhum. Entrevistador: Muito interessante a sua visão da nova escola. Antes do imóvel urge promover um diálogo alargado sobre as ideias quem devem orientar a cons- trução, a organização e a vida da futura Escola Secundária do concelho. Agora, no (continua)
  • 60. Página 60 papel de presidente da escola, tendo presente a sua experiência, quais foram os aspetos mais relevantes? Prof.ª Leontina: Muito bem, a minha passagem pela direção desta Escola não foi uma experiência inédita, pois já tinha assumido funções no Conselho Diretivo da Escola Básica da Ponta do Sol. Mas, no caso concreto destes dois anos à frente desta Escola, o que mais me desagradou foi realmente o excesso de burocracia. Em muitos casos, o cargo de direção da escola cinge-se muito mais ao papel de um funcionário a executar tarefas burocráticas do que propriamente a assumir a função de direção, sobretudo nas circunstâncias em que a escola se encontrava: superlotada, na altura com quase dois mil alunos, com problemas disciplinares que se avizinhavam, desde então vividos com uma certa gravidade. Uma das coisas em que me empenhei, com o apoio do Conselho Pedagógico e outros meios, foi a implementação de um Regulamento Interno onde pudesse travar essa escalada de indisciplina, entretanto, barrado com a questão da legislação em termos gerais e com o Estatuto do Estudante. Certas coisas não foram possíveis de desenvolver, o que me contrariou um pouco e me desmotivou para continuar à frente da escola. Contribuiu também uma grande razão que foi o meu envolvimento num outro proje- to social, onde mais direta e facilmente consigo chegar às pessoas, sem tanta inter- posição burocrática, como é o caso do ensino em Portugal. Entrevistador: Portanto, a burocracia suga a energia vital das pessoas e das insti- tuições. Uma escola viva e social exige disciplina e desburocratização por parte das direções. Rodando um pouco o ponteiro indagador, tem alguma ideia sobre o novo modelo de avaliação da classe docente? Prof.ª Leontina: Relativamente ao novo modelo, creio que é mais um modelo. Modelos perfeitos de avaliação julgo que não existem, mas este é mais um para preencher papel e mostrar à opinião pública que existe um modelo de avaliação. Não me sinto confortável a tecer algumas críticas porque também não tenho o modelo alternativo que me diga: deve ser desta ou daquela maneira com clareza, com exactidão, objectivamente. No entanto, penso que ele deveria ser sentido mais por dentro, que perpassasse o tecido escolar, e não devesse ficar à mercê, exclusi- vamente, de um professor para tecer a avaliação. (continua)
  • 61. Amor à Sabedoria Página 61 Nesse processo deveriam constar, antes de mais, os dados recolhidos em Conselho de Turma, onde mais claramente se manifesta a dinâmica pedagógica que um professor implementa dentro de uma sala com os seus alunos, do que sim- plesmente uma avaliação assente num documento escrito, em linguagem pedagó- gica e didáctica muito correta, mas de facto pouco ou nada avalia. E assistir a uma ou duas aulas também poderá ser igual a quase nada, comparativamente à avalia- ção consciente do trabalho complexo do professor. Talvez fosse mais exequível e rigorosa uma grelha onde o professor fosse registando o seu processo de trabalho ao longo do ano com algumas metas, uma ferramenta não excessivamente pormenorizada nem burocrática. O parecer deve- ria contemplar as informações dos outros colegas de grupo e dos Conselhos de Turma, que resultaria numa avaliação feita por uma equipa e não apenas a visão de uma pessoa. Acho que o modelo vigente, centrado num só avaliador e apoiado num documento descritivo ou em duas aulas assistidas deixa muito a desejar. Entrevistador: Na realidade parece um modelo de avaliação demasiado redutor, quer na forma como no conteúdo. Avançando agora para o mundo da política, segundo julgo saber, também teve uma breve passagem por esta área da ação humana. Como agente política o que lhe apraz recordar sobre o centenário do con- celho de Ribeira Brava2 ? Quais foram as transformações mais marcantes e o que nos deve fazer correr? Prof.ª Leontina: Como não consigo ficar parada, também fiz a experiência de par- ticipar de outra forma na sociedade, embora a docência também seja uma forma de contributo social. A política permite uma interferência mais direta na realidade social. Ao longo de quatro anos, um mandato, participei como vereadora, não a tempo inteiro, apenas com assento nas reuniões, mas que me deu realmente uma noção de como é que funciona a máquina por detrás daquilo que nós, munícipes, nos apercebemos da realidade. Não gostaria de detalhar pormenores dessa fase para não ferir susceptibilidades. E não dei continuidade por falta de perfil da minha pessoa para encaixar no sistema como estava montado. Mas, olhando para o seis de maio, eu vivo-o muito mais como professora do que como munícipe. O seis de maio é, efetivamente, o dia do concelho de Ribeira 2 - O Concelho de Ribeira Brava foi criado a 6 de maio de 1914, graças às iniciativas do visconde Francisco Correia de Herédia (1852-1918). (continua)