SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 4
Baixar para ler offline
1
www.balancedscorecard.pt www.metanoia.pt
1. A concorrência perfeita - Introdução
Uma pesquisa levou uma empresa, a empresa A, a desenvolver um novo produto, o produto ALFA, um
produto inovador e diferenciado e, a lançá-lo no mercado.
O lançamento foi um êxito e, assim, a empresa A fruto de ter arriscado, pôde gozar de um sucesso
comercial traduzido em vendas interessantes a um preço mais do que aliciante, 200€/unidade que lhe
assegurou margens, na diferença entre os custos e o preço de venda, acima dos 70%.
A empresa B, sempre atenta à evolução do mercado, reconheceu a boa jogada da empresa A e, por isso,
tratou de acelerar no mercado a introdução da sua versão do tal produto ALFA.
Assim, quando a empresa B finalmente lançou a sua versão do produto ALFA, para combater a força da
marca da empresa A, entretanto estabelecida, fê-lo a 190€/unidade.
A marca A sentiu o toque e, para minimizar estragos na sua quota de mercado, decidiu igualar o preço
da marca B.
Entretanto, as empresas C e D, após a confirmação do êxito do lançamento do produto ALFA pelas
empresas A e B, resolveram também reclamar a sua quota de mercado, lançando cada uma a sua
própria versão do produto A a um preço muito competitivo, 150€/unidade.
Iniciou-se uma guerra de preços, envolvendo as quatro empresas que levou o preço do produto ALFA
para um valor médio próximo dos 137€/unidade.
Entretanto, mais três empresas, a empresa E, a F e a G, resolveram também entrar no mercado com as
suas versões do produto ALFA, algo que fez com que o preço médio do produto ALFA caísse ainda mais
para os 128€/unidade. A esse preço a empresa A desistiu da sua produção, por considerar que o retorno
do capital investido já não era o mais adequado.
Durante algum tempo o mercado manteve-se nessa espécie de equilíbrio em que 6 empresas
competiam entre si, pelas vendas da versão de cada um do produto ALFA, com um retorno do capital
investido relativamente baixo.
Então, a empresa G resolve avançar com uma proposta de aquisição da empresa F para, tirando partido
do aumento do volume de produção, poder reduzir os custos, aproveitando economias de escala e
sendo mais competitiva pelo preço.
Tal acção fez baixar o preço médio para 120€/unidade e levou as empresas B e C a unirem-se para fazer
face à empresa G, acção que por sua vez levou o preço para os 118€/unidade.
O relato acima descreve, de certa forma o funcionamento de um mercado assente no modelo da
concorrência perfeita.
2
www.balancedscorecard.pt www.metanoia.pt
Qualquer livro de Economia não só descreve a concorrência perfeita como o modelo económico a
seguir, como associa a concorrência imperfeita a situações extremas, associadas a práticas monopolistas
formais, que devem ser evitadas num mercado que se quer livre.
Quais são os pressupostos em que assenta o modelo da concorrência perfeita?
A concorrência perfeita, considerada a estrutura ideal para o funcionamento de uma economia, concebe
o mercado como um espaço em que opera um grande número de vendedores/produtores/fornecedores
(de futuro usaremos a palavra fornecedor) e de compradores/clientes/consumidores (de futuro
usaremos a palavra cliente). Dessa forma, nenhum operador que actua no mercado, seja ele fornecedor
ou cliente, isoladamente, tem capacidade para influenciar quer a quantidade da oferta, quer o preço
que se atinge num estado de equilíbrio. Trata-se de um mercado atomizado em que os preços do
mercado formam-se livremente em função da relação entre a oferta e a procura, sem interferência
predominante de fornecedores ou clientes isolados.
Um mercado que segue o modelo da concorrência perfeita apresenta as seguintes características:
 Grande número de fornecedores e de clientes, incapazes de, isoladamente, influenciarem o
preço;
 Produtos homogéneos – não existe diferenciação entre os produtos oferecidos pelos
fornecedores. Os clientes podem, assim, adquirir o produto de qualquer fornecedor, com poucos
ou nenhuns sacrifícios associados a uma eventual troca de fornecedor;
 Empresas com estruturas mais ou menos semelhantes;
 Não existem barreiras à entrada no mercado, sejam de ordem económica ou legal. Por exemplo,
não existem direitos de propriedade ou patentes;
 Transparência do mercado – as informações sobre lucros, preços e quantidades são instantâneas
e conhecidas por todos os participantes no mercado;
 Os fornecedores e os clientes são “tomadores de preço”, sujeitam-se ao preço de mercado;
 Os fornecedores procuram maximizar o seu lucro e os clientes a sua satisfação ou benefício e,
para isso, todos agem de forma racional;
 O Estado não intervém – o Estado não intervém, deixa o mercado regular-se através da chamada
“mão invisível da concorrência”. Os preços são definidos pelo livre jogo da oferta e da procura.
Assim, o equilíbrio é sempre alcançado, no curto, no médio e no longo prazo.
Num mercado em concorrência perfeita não existem lucros anormais ou lucros extraordinários, mas
apenas os chamados lucros normais, que representam a remuneração implícita do empresário, igual à
rentabilidade média de mercado. As empresas tenderão a ser cada vez mais “iguais”, pois produzem
produtos semelhantes para clientes semelhantes, a preços semelhantes. As que não conseguem
acompanhar o ritmo saem do mercado.
Em concorrência perfeita, como o mercado é transparente, se existirem lucros extraordinários, isso
atrairá novos fornecedores para o mercado, já que não existem barreiras ao acesso. Com o aumento do
número de empresas no mercado e mantido constante o nível da procura, os preços tenderão a cair e,
consequentemente, também os lucros extraordinários, até que se retorne a uma situação onde só haja
lucros normais, cessando também a entrada de novas empresas nesse mercado
3
www.balancedscorecard.pt www.metanoia.pt
Abraçando o modelo da concorrência perfeita, é fácil perceber por que é que o preço passa a assumir o
papel central no posicionamento dos produtos e serviços de uma empresa. O preço é a única forma de
diferenciação. Assim, a eficiência passa a ser o bezerro dourado adorado acima de tudo. O preço mais
baixo é a alavanca fundamental para seduzir os clientes, que agem sempre de forma racional. É esta
religião da eficiência que um mercado onde impera a concorrência perfeita impera.
Assim, os crentes na concorrência perfeita propõem todas as medidas que contribuam para a redução
de custos pois acreditam na curva da oferta vs procura (aqui simplificada para uma relação linear):
Figura 1 A relação entre o preço e a procura
Por isso, se uma empresa quer aumentar a quantidade procurada, para poder vender mais, tem de
reduzir o preço:
Figura 2 O efeito da redução do preço no aumento da procura
Se baixar o preço para P2 a quantidade procurada no mercado aumentará para Q2. Assim, as empresas
com futuro são as que concentram os seus esforços na redução dos custos internos. Ao serem mais
eficientes, podem praticar preços mais baixos e aumentar a procura. O aumento da procura, devido ao
efeito de escala, reduz ainda mais os custos fixos unitários, o que reforça ainda mais a competitividade,
criando uma espiral virtuosa.
As receitas dos economistas, dos comentadores e dos políticos, são uma consequência natural e directa
desta visão do mercado como um local onde opera a concorrência perfeita.
4
www.balancedscorecard.pt www.metanoia.pt
Uma nota importante sobre a concorrência perfeita, haverá sempre a possibilidade de um potencial
concorrente aparecer do “nada” com um preço mais baixo. Algo que mexe com a quota de mercado de
todos os intervenientes estabelecidos, algo que pode fazer perigar a sobrevivência de todos os
intervenientes estabelecidos.
Carlos Pereira da Cruz
Promotor da concorrência imperfeita
www.metanoia.pt

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

4 aula 9 - 4 procura e oferta (meu)
4   aula 9 - 4 procura e oferta (meu)4   aula 9 - 4 procura e oferta (meu)
4 aula 9 - 4 procura e oferta (meu)
Jenny Fortes
 
Aula 11 teoria da escolha do consumidor
Aula 11   teoria da escolha do consumidorAula 11   teoria da escolha do consumidor
Aula 11 teoria da escolha do consumidor
petecoslides
 
Concorrência imperfeita
Concorrência imperfeitaConcorrência imperfeita
Concorrência imperfeita
turma10ig
 
Mercados de concorrência perfeita e imperfeita
Mercados de concorrência perfeita e imperfeitaMercados de concorrência perfeita e imperfeita
Mercados de concorrência perfeita e imperfeita
turmainformaticadegestao
 
Economia aula 3 – a elasticidade e suas aplicações
Economia   aula 3 – a elasticidade e suas aplicaçõesEconomia   aula 3 – a elasticidade e suas aplicações
Economia aula 3 – a elasticidade e suas aplicações
Felipe Leo
 
Custos de Produção
Custos de ProduçãoCustos de Produção
Custos de Produção
Luciano Pires
 
Respostas Mankiw - Capítulo 23 (superior)
Respostas Mankiw - Capítulo 23 (superior)Respostas Mankiw - Capítulo 23 (superior)
Respostas Mankiw - Capítulo 23 (superior)
Luciano Pires
 
Aula 10 concorrência monopolística
Aula 10   concorrência monopolísticaAula 10   concorrência monopolística
Aula 10 concorrência monopolística
petecoslides
 

Mais procurados (20)

As forças de oferta e demanda dos mercados (técnico)
As forças de oferta e demanda dos mercados (técnico)As forças de oferta e demanda dos mercados (técnico)
As forças de oferta e demanda dos mercados (técnico)
 
4 aula 9 - 4 procura e oferta (meu)
4   aula 9 - 4 procura e oferta (meu)4   aula 9 - 4 procura e oferta (meu)
4 aula 9 - 4 procura e oferta (meu)
 
Economia industrial monopólio
Economia industrial monopólioEconomia industrial monopólio
Economia industrial monopólio
 
Aula 11 teoria da escolha do consumidor
Aula 11   teoria da escolha do consumidorAula 11   teoria da escolha do consumidor
Aula 11 teoria da escolha do consumidor
 
Estruturas de mercado - Macroeconomia e Microeconomia
Estruturas de mercado -  Macroeconomia e Microeconomia Estruturas de mercado -  Macroeconomia e Microeconomia
Estruturas de mercado - Macroeconomia e Microeconomia
 
Funcionamento do mercado: demanda e oferta
Funcionamento do mercado: demanda e ofertaFuncionamento do mercado: demanda e oferta
Funcionamento do mercado: demanda e oferta
 
Os 10 princípios básicos da economia
Os 10 princípios básicos da economiaOs 10 princípios básicos da economia
Os 10 princípios básicos da economia
 
Concorrência imperfeita
Concorrência imperfeitaConcorrência imperfeita
Concorrência imperfeita
 
Mercados de concorrência perfeita e imperfeita
Mercados de concorrência perfeita e imperfeitaMercados de concorrência perfeita e imperfeita
Mercados de concorrência perfeita e imperfeita
 
Oligopsónio do mercado de trabalho
Oligopsónio do mercado de trabalho Oligopsónio do mercado de trabalho
Oligopsónio do mercado de trabalho
 
Economia aula 3 – a elasticidade e suas aplicações
Economia   aula 3 – a elasticidade e suas aplicaçõesEconomia   aula 3 – a elasticidade e suas aplicações
Economia aula 3 – a elasticidade e suas aplicações
 
Fundamentos da teoria do consumidor1
Fundamentos da teoria do consumidor1Fundamentos da teoria do consumidor1
Fundamentos da teoria do consumidor1
 
Aula 6 monopólio
Aula 6   monopólioAula 6   monopólio
Aula 6 monopólio
 
Custos de Produção
Custos de ProduçãoCustos de Produção
Custos de Produção
 
Respostas Mankiw - Capítulo 23 (superior)
Respostas Mankiw - Capítulo 23 (superior)Respostas Mankiw - Capítulo 23 (superior)
Respostas Mankiw - Capítulo 23 (superior)
 
Modelos de Cournot e Bertrand
Modelos de Cournot e BertrandModelos de Cournot e Bertrand
Modelos de Cournot e Bertrand
 
A Demanda e a Oferta
A Demanda e a OfertaA Demanda e a Oferta
A Demanda e a Oferta
 
Microeconomia
MicroeconomiaMicroeconomia
Microeconomia
 
Aula 10 concorrência monopolística
Aula 10   concorrência monopolísticaAula 10   concorrência monopolística
Aula 10 concorrência monopolística
 
Rendimentos à escala
Rendimentos à escalaRendimentos à escala
Rendimentos à escala
 

Semelhante a 1. A concorrência perfeita - Introdução

AULA_PRECIFICACAO_UNIESP
AULA_PRECIFICACAO_UNIESPAULA_PRECIFICACAO_UNIESP
AULA_PRECIFICACAO_UNIESP
Lais Carvalho
 
Vicente (shin chan)
Vicente (shin chan)Vicente (shin chan)
Vicente (shin chan)
turma10ig
 
Aula 04 administração de novos negócios
Aula 04   administração de novos negóciosAula 04   administração de novos negócios
Aula 04 administração de novos negócios
Katia Gomide
 
Aula_ Estrutura de Mercado_Concorrência, Monopolio e Oligopolio (1).pptx
Aula_ Estrutura de Mercado_Concorrência, Monopolio e Oligopolio (1).pptxAula_ Estrutura de Mercado_Concorrência, Monopolio e Oligopolio (1).pptx
Aula_ Estrutura de Mercado_Concorrência, Monopolio e Oligopolio (1).pptx
mercadofinanceiro
 
Mercado de Concorrência Monopolística
Mercado de Concorrência MonopolísticaMercado de Concorrência Monopolística
Mercado de Concorrência Monopolística
Marta Jorge
 

Semelhante a 1. A concorrência perfeita - Introdução (20)

Eco5
Eco5Eco5
Eco5
 
Resumo p1 economia mariusa
Resumo p1  economia   mariusaResumo p1  economia   mariusa
Resumo p1 economia mariusa
 
Decisão da empresa monopolista
Decisão da empresa monopolistaDecisão da empresa monopolista
Decisão da empresa monopolista
 
28106966 aulas-de-fundamentos-de-economia
28106966 aulas-de-fundamentos-de-economia28106966 aulas-de-fundamentos-de-economia
28106966 aulas-de-fundamentos-de-economia
 
AULA_PRECIFICACAO_UNIESP
AULA_PRECIFICACAO_UNIESPAULA_PRECIFICACAO_UNIESP
AULA_PRECIFICACAO_UNIESP
 
Júlio melo
Júlio meloJúlio melo
Júlio melo
 
Concorencia imperfita
Concorencia imperfitaConcorencia imperfita
Concorencia imperfita
 
Estruturas de mercado
Estruturas de mercadoEstruturas de mercado
Estruturas de mercado
 
3estruturasdemercado
3estruturasdemercado3estruturasdemercado
3estruturasdemercado
 
Vicente (shin chan)
Vicente (shin chan)Vicente (shin chan)
Vicente (shin chan)
 
Como Formar o Preço de Vendas de Um Produto
Como Formar o Preço de Vendas de Um ProdutoComo Formar o Preço de Vendas de Um Produto
Como Formar o Preço de Vendas de Um Produto
 
Mercados de concorrência perfeita 1
Mercados de concorrência perfeita 1Mercados de concorrência perfeita 1
Mercados de concorrência perfeita 1
 
Concorrencia imperfeita
Concorrencia imperfeitaConcorrencia imperfeita
Concorrencia imperfeita
 
Resumo de Economia 10 ano - Estruturas dos Mercados
Resumo de Economia 10 ano - Estruturas dos Mercados Resumo de Economia 10 ano - Estruturas dos Mercados
Resumo de Economia 10 ano - Estruturas dos Mercados
 
Aula 04 administração de novos negócios
Aula 04   administração de novos negóciosAula 04   administração de novos negócios
Aula 04 administração de novos negócios
 
Dinâmida dos negocios
Dinâmida dos negociosDinâmida dos negocios
Dinâmida dos negocios
 
AULA ESTRUTURAS DE MERCADO (1).ppt
AULA ESTRUTURAS DE MERCADO (1).pptAULA ESTRUTURAS DE MERCADO (1).ppt
AULA ESTRUTURAS DE MERCADO (1).ppt
 
Aula_ Estrutura de Mercado_Concorrência, Monopolio e Oligopolio (1).pptx
Aula_ Estrutura de Mercado_Concorrência, Monopolio e Oligopolio (1).pptxAula_ Estrutura de Mercado_Concorrência, Monopolio e Oligopolio (1).pptx
Aula_ Estrutura de Mercado_Concorrência, Monopolio e Oligopolio (1).pptx
 
SLIDES-SEM 1_CRITICA MARSHALLIANA_24_1.pdf
SLIDES-SEM 1_CRITICA MARSHALLIANA_24_1.pdfSLIDES-SEM 1_CRITICA MARSHALLIANA_24_1.pdf
SLIDES-SEM 1_CRITICA MARSHALLIANA_24_1.pdf
 
Mercado de Concorrência Monopolística
Mercado de Concorrência MonopolísticaMercado de Concorrência Monopolística
Mercado de Concorrência Monopolística
 

Mais de Carlos da Cruz

Dotcom unwrapping experience_packaging_survey_2014
Dotcom unwrapping experience_packaging_survey_2014Dotcom unwrapping experience_packaging_survey_2014
Dotcom unwrapping experience_packaging_survey_2014
Carlos da Cruz
 
Descrição do serviço educação
Descrição do serviço   educaçãoDescrição do serviço   educação
Descrição do serviço educação
Carlos da Cruz
 
Arte em vez de produção em massa
Arte em vez de produção em massaArte em vez de produção em massa
Arte em vez de produção em massa
Carlos da Cruz
 
2. implicações da concorrência perfeita
2. implicações da concorrência perfeita2. implicações da concorrência perfeita
2. implicações da concorrência perfeita
Carlos da Cruz
 
Capítulo 1 O exemplo do calçado
Capítulo 1 O exemplo do calçadoCapítulo 1 O exemplo do calçado
Capítulo 1 O exemplo do calçado
Carlos da Cruz
 

Mais de Carlos da Cruz (20)

Dotcom unwrapping experience_packaging_survey_2014
Dotcom unwrapping experience_packaging_survey_2014Dotcom unwrapping experience_packaging_survey_2014
Dotcom unwrapping experience_packaging_survey_2014
 
Contexto
ContextoContexto
Contexto
 
Arte
ArteArte
Arte
 
Intro spc 1
Intro spc 1Intro spc 1
Intro spc 1
 
R1502gccq
R1502gccqR1502gccq
R1502gccq
 
Descrição do serviço educação
Descrição do serviço   educaçãoDescrição do serviço   educação
Descrição do serviço educação
 
Arte em vez de produção em massa
Arte em vez de produção em massaArte em vez de produção em massa
Arte em vez de produção em massa
 
2. implicações da concorrência perfeita
2. implicações da concorrência perfeita2. implicações da concorrência perfeita
2. implicações da concorrência perfeita
 
Ecossistema
EcossistemaEcossistema
Ecossistema
 
Capítulo 1 O exemplo do calçado
Capítulo 1 O exemplo do calçadoCapítulo 1 O exemplo do calçado
Capítulo 1 O exemplo do calçado
 
Industria 4.0
Industria 4.0Industria 4.0
Industria 4.0
 
Samsys2013diadocliente
Samsys2013diadoclienteSamsys2013diadocliente
Samsys2013diadocliente
 
Workshop2012 01
Workshop2012 01Workshop2012 01
Workshop2012 01
 
Parte 7
Parte 7Parte 7
Parte 7
 
Parte 6
Parte 6Parte 6
Parte 6
 
O que começar a fazer na próxima segunda-feira para executar a estratégia?
O que começar a fazer na próxima segunda-feira para executar a estratégia?O que começar a fazer na próxima segunda-feira para executar a estratégia?
O que começar a fazer na próxima segunda-feira para executar a estratégia?
 
Parte 4
Parte 4Parte 4
Parte 4
 
Preparar 1 de abril
Preparar 1 de abrilPreparar 1 de abril
Preparar 1 de abril
 
Alinhar operações e recursos com a estratégia
Alinhar operações e recursos com a estratégiaAlinhar operações e recursos com a estratégia
Alinhar operações e recursos com a estratégia
 
Qual é a proposta de valor
Qual é a proposta de valorQual é a proposta de valor
Qual é a proposta de valor
 

1. A concorrência perfeita - Introdução

  • 1. 1 www.balancedscorecard.pt www.metanoia.pt 1. A concorrência perfeita - Introdução Uma pesquisa levou uma empresa, a empresa A, a desenvolver um novo produto, o produto ALFA, um produto inovador e diferenciado e, a lançá-lo no mercado. O lançamento foi um êxito e, assim, a empresa A fruto de ter arriscado, pôde gozar de um sucesso comercial traduzido em vendas interessantes a um preço mais do que aliciante, 200€/unidade que lhe assegurou margens, na diferença entre os custos e o preço de venda, acima dos 70%. A empresa B, sempre atenta à evolução do mercado, reconheceu a boa jogada da empresa A e, por isso, tratou de acelerar no mercado a introdução da sua versão do tal produto ALFA. Assim, quando a empresa B finalmente lançou a sua versão do produto ALFA, para combater a força da marca da empresa A, entretanto estabelecida, fê-lo a 190€/unidade. A marca A sentiu o toque e, para minimizar estragos na sua quota de mercado, decidiu igualar o preço da marca B. Entretanto, as empresas C e D, após a confirmação do êxito do lançamento do produto ALFA pelas empresas A e B, resolveram também reclamar a sua quota de mercado, lançando cada uma a sua própria versão do produto A a um preço muito competitivo, 150€/unidade. Iniciou-se uma guerra de preços, envolvendo as quatro empresas que levou o preço do produto ALFA para um valor médio próximo dos 137€/unidade. Entretanto, mais três empresas, a empresa E, a F e a G, resolveram também entrar no mercado com as suas versões do produto ALFA, algo que fez com que o preço médio do produto ALFA caísse ainda mais para os 128€/unidade. A esse preço a empresa A desistiu da sua produção, por considerar que o retorno do capital investido já não era o mais adequado. Durante algum tempo o mercado manteve-se nessa espécie de equilíbrio em que 6 empresas competiam entre si, pelas vendas da versão de cada um do produto ALFA, com um retorno do capital investido relativamente baixo. Então, a empresa G resolve avançar com uma proposta de aquisição da empresa F para, tirando partido do aumento do volume de produção, poder reduzir os custos, aproveitando economias de escala e sendo mais competitiva pelo preço. Tal acção fez baixar o preço médio para 120€/unidade e levou as empresas B e C a unirem-se para fazer face à empresa G, acção que por sua vez levou o preço para os 118€/unidade. O relato acima descreve, de certa forma o funcionamento de um mercado assente no modelo da concorrência perfeita.
  • 2. 2 www.balancedscorecard.pt www.metanoia.pt Qualquer livro de Economia não só descreve a concorrência perfeita como o modelo económico a seguir, como associa a concorrência imperfeita a situações extremas, associadas a práticas monopolistas formais, que devem ser evitadas num mercado que se quer livre. Quais são os pressupostos em que assenta o modelo da concorrência perfeita? A concorrência perfeita, considerada a estrutura ideal para o funcionamento de uma economia, concebe o mercado como um espaço em que opera um grande número de vendedores/produtores/fornecedores (de futuro usaremos a palavra fornecedor) e de compradores/clientes/consumidores (de futuro usaremos a palavra cliente). Dessa forma, nenhum operador que actua no mercado, seja ele fornecedor ou cliente, isoladamente, tem capacidade para influenciar quer a quantidade da oferta, quer o preço que se atinge num estado de equilíbrio. Trata-se de um mercado atomizado em que os preços do mercado formam-se livremente em função da relação entre a oferta e a procura, sem interferência predominante de fornecedores ou clientes isolados. Um mercado que segue o modelo da concorrência perfeita apresenta as seguintes características:  Grande número de fornecedores e de clientes, incapazes de, isoladamente, influenciarem o preço;  Produtos homogéneos – não existe diferenciação entre os produtos oferecidos pelos fornecedores. Os clientes podem, assim, adquirir o produto de qualquer fornecedor, com poucos ou nenhuns sacrifícios associados a uma eventual troca de fornecedor;  Empresas com estruturas mais ou menos semelhantes;  Não existem barreiras à entrada no mercado, sejam de ordem económica ou legal. Por exemplo, não existem direitos de propriedade ou patentes;  Transparência do mercado – as informações sobre lucros, preços e quantidades são instantâneas e conhecidas por todos os participantes no mercado;  Os fornecedores e os clientes são “tomadores de preço”, sujeitam-se ao preço de mercado;  Os fornecedores procuram maximizar o seu lucro e os clientes a sua satisfação ou benefício e, para isso, todos agem de forma racional;  O Estado não intervém – o Estado não intervém, deixa o mercado regular-se através da chamada “mão invisível da concorrência”. Os preços são definidos pelo livre jogo da oferta e da procura. Assim, o equilíbrio é sempre alcançado, no curto, no médio e no longo prazo. Num mercado em concorrência perfeita não existem lucros anormais ou lucros extraordinários, mas apenas os chamados lucros normais, que representam a remuneração implícita do empresário, igual à rentabilidade média de mercado. As empresas tenderão a ser cada vez mais “iguais”, pois produzem produtos semelhantes para clientes semelhantes, a preços semelhantes. As que não conseguem acompanhar o ritmo saem do mercado. Em concorrência perfeita, como o mercado é transparente, se existirem lucros extraordinários, isso atrairá novos fornecedores para o mercado, já que não existem barreiras ao acesso. Com o aumento do número de empresas no mercado e mantido constante o nível da procura, os preços tenderão a cair e, consequentemente, também os lucros extraordinários, até que se retorne a uma situação onde só haja lucros normais, cessando também a entrada de novas empresas nesse mercado
  • 3. 3 www.balancedscorecard.pt www.metanoia.pt Abraçando o modelo da concorrência perfeita, é fácil perceber por que é que o preço passa a assumir o papel central no posicionamento dos produtos e serviços de uma empresa. O preço é a única forma de diferenciação. Assim, a eficiência passa a ser o bezerro dourado adorado acima de tudo. O preço mais baixo é a alavanca fundamental para seduzir os clientes, que agem sempre de forma racional. É esta religião da eficiência que um mercado onde impera a concorrência perfeita impera. Assim, os crentes na concorrência perfeita propõem todas as medidas que contribuam para a redução de custos pois acreditam na curva da oferta vs procura (aqui simplificada para uma relação linear): Figura 1 A relação entre o preço e a procura Por isso, se uma empresa quer aumentar a quantidade procurada, para poder vender mais, tem de reduzir o preço: Figura 2 O efeito da redução do preço no aumento da procura Se baixar o preço para P2 a quantidade procurada no mercado aumentará para Q2. Assim, as empresas com futuro são as que concentram os seus esforços na redução dos custos internos. Ao serem mais eficientes, podem praticar preços mais baixos e aumentar a procura. O aumento da procura, devido ao efeito de escala, reduz ainda mais os custos fixos unitários, o que reforça ainda mais a competitividade, criando uma espiral virtuosa. As receitas dos economistas, dos comentadores e dos políticos, são uma consequência natural e directa desta visão do mercado como um local onde opera a concorrência perfeita.
  • 4. 4 www.balancedscorecard.pt www.metanoia.pt Uma nota importante sobre a concorrência perfeita, haverá sempre a possibilidade de um potencial concorrente aparecer do “nada” com um preço mais baixo. Algo que mexe com a quota de mercado de todos os intervenientes estabelecidos, algo que pode fazer perigar a sobrevivência de todos os intervenientes estabelecidos. Carlos Pereira da Cruz Promotor da concorrência imperfeita www.metanoia.pt