SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 7
Diálogos Évora-Coimbra: Seminários de Jovens Licenciados em História
- As Inquirições de 1258 no Julgado de “Meleres” – slide um
Bomdia caroscolegase bomdia carosparticipantesdestesdiálogosentreÉvoraeCoimbra.Querocomeçar
poragradecerpeloconviteparaaquiestar.Agradeçotambémamaravilhosaintroduçãosobreomeupercurso
académico. Para começar é necessário dizer que este trabalho foi desenvolvido no âmbito da unidade
curricular de Seminário,da Licenciatura em História da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.
Foiorientado e realizado paraa DoutoraMaria Alegria Fernandes Marques.Otítulo do meu trabalho é «As
Inquiriçõesde1258 noJulgado de“Meleres”».Vouiniciar estaapresentaçãoexplicandooporquêdestetítulo.
Bem,primeiro porquenestetrabalho falo sobreas Inquirições que D.Afonso III realizou em 1258.Segundo,
pois,a vila de Melres,na altura destasinquirições erachamada de“Meleres”.Porqueé queescolhiestetema?
Na verdade,o tema das inquirições foi-me recomendado pela minha orientadora e não vi problemas em
pesquisarmaissobreessasfontes,vistoquenuncatinha trabalhadocomelas. Fiqueiatésurpreendidaquando
vi que Melres teria sido um Julgado e não apenas uma vila. É necessário explicar que eu escolhi este lugar
pois, é a terra onde vivo até hoje. Para mim, perceber as minhas raízes é deveras importante,perceberde
onde venho e consequentemente para onde vou.
Índice – slide 2.
Estado da arte – slide 3.
Com a pandemia mundialque tem vindo a afetar o mundo nos últimos tempos foram-se colocando várias
barreiras a todos nós queestudamos,que investigamos e que trabalhamos diariamente,seja em queárea for.
Foi um pouco difícil arranjar fontes e material com o qual trabalhar, mas foi um dos desafios que me
determineia ultrapassar.O ser humano tem esta capacidade de adaptação que me espanta muitas vezes.
Para a realização deste trabalho é importante mencionar as principais fontes e estudos que utilizei. A
principal fonte que usei como base para este estudo foi um documento que está integrado na compilação
intitulada como “Portugaliae Monumenta Historica – A saeculo octavo post christum usque ad quintum
decimum” (volume um, fascículos IV e V segunda alçada, páginas 626 e 627. – Julgado de Meleres).
Empregueitambém o “Elucidário das palavras,termos e frases que em Portugalantigamente se usaram e
que hoje regularmente se ignoram”de FreiJoaquim de SantaRosa Viterbo,este para compreender melhoro
significado das palavras e elementos que estavam na fonte acima mencionada.
Slide4: Com a recomendação do Doutor ManuelJoaquim Correia Soares servi-me dos livros “OForalde
Gaia de 1255 – um texto e a sua época” de Gonçalves Guimarães,José António Afonso e RaúlSolla Prata,
“Da Lusitânia a Portugal – dois mil anos de história” de Diogo Freitas do Amarale, por último, “Da terra
de Mellores a que agora chamamMerles”de ManuelJoaquim Correia Soares.Oprimeiro livro ajudou-me a
perceber o contexto da cidade do Porto aquando dos anos anteriores às Inquirições,o segundo deu-me um
contexto geral sobre o reinado de D. Afonso III, o monarca que terá promulgado estas inquirições. Já o
último livro mencionado foi utilizado para perceber o quadro sociopolítico de Melres.
Para estudar as inquirições de uma maneira mais aprofundadalivários artigos da Doutora Iria Gonçalves,
como por exemplo, o artigo Espaços Silvestres para animais selvagens, no noroeste de Portugal com as
inquirições de 1258, e Por terras de Entre-Douro-E-Minho com as inquirições de D. Afonso III.
Do Doutor José Augusto de Sottomayor-Pizarro retireiinformações de alguns dos seus artigos sobre as
inquirições, como por exemplo,“Para o estudo da fiscalidade régia em Portugal - As inquirições gerais dos
séculos XIII e XIV” e “Aristocracia e mosteiros na Rota do Românico”.
Ainda para perceber as inquirições e estudos sobreestasusufruídos vários artigos quese encontramnuma
coletânea intitulada “Inquirir na Idade Média:espaços,protagonistas e poderes (sécs.XII-XIV),Tributo a
Luís Krus” editada por Amélia Aguiar Andrade e por João Luís Inglês Fontes.
Por último é importante dizer que para uma mais sólida e aprofundada informaçãosobre o reinado de D.
Afonso III recorrià “História de Portugal– A monarquia feudal”da direção e coordenação do DoutorJosé
Mattoso.
O trabalho sobre as inquirições régias em Portugal tem sido marcado,principalmente, por dois ou três
nomes.Os que mais se destacaram,a meu ver, foram Luís Krus, Iria Gonçalves e, ainda, José Augusto de
Sottomayor Pizarro. Ainda há muita coisa por ver porque há Inquirições para muitas terras e que ainda não
foram vistas. A novidade historiográfica deste trabalho é a de que ainda ninguém tinha estudado as
Inquirições em Melres na sua totalidade.
Metodologia – Slide 5
Este tema foiescolhido após uma sugestãoda DoutoraMaria Alegria Fernandes Marques.Dissera-meque
era um tema que ainda tinha muita coisa por estudar. Aquandodo início deste trabalho,depois da escolha
do tema, era importante procurar uma fonte que o suportasse. Ora depois de conversar com a minha
orientadora,estadisse-meparaprocurarnacoletâneadetextosdaHistóriadePortugal,intitulada Portugaliae
MonumentaHistorica.Disse-mequeeupoderiaencontrarestafonte online,eapartirdaícomeceia procurar.
Conseguiencontrá-la no sítio da internet da Biblioteca Nacionalde Portugal.Após terlido o documento que
falava sobre as inquirições em Melres foi necessário traduzi-lo, para assim fazer uma melhor análise do
mesmo. Tentei traduzir a fonte, porém ainda havia algumas palavras e frases que não me faziam muito
sentido.Por isto, pediajuda à minha orientadora e ela corrigiu-me a tradução.De seguida tinha chegado a
altura de analisar a fonte.Para isto recorri,como já mencionei,à ajuda do “Elucidário”de Viterbo para uma
melhor compreensão de algumas palavras e medidas mencionadas no texto.
Recorri ainda ao auxílio do Doutor Manuel Joaquim Correia Soares,que é um estudante da história de
Melresjáhá alguns anos.Esteajudou-mecomainterpretaçãododocumentoeforneceu-memaisdocumentos
e informações que me ajudaram a perceber melhor a história da nossa vila.
Uma das coisas que também foinecessário estudar foramos lugares e oslimites do termoantigo de Melres.
Isto para tentar perceberse os lugares que estãoreferidos nas Inquiriçõesainda hoje fariam parte desta vila.
Para isto, recorri a um trabalho topográfico de António dos Santos Ferreira que se encontra na Junta de
Freguesia.Vim a perceberque aquilo que anteriormente eram lugares importantes,hoje sãoapenas ruas,isto
somente nalguns casos.
Por último foi necessário começar a ler bibliografia sobre este tema para depois começar a escrever este
trabalho.
As Inquirições – Caraterização – slide 6.
Antes de começar a falar nas Inquirições em si é importante caraterizara principalfonte que serve de base
para este trabalho.Estafonte quese encontra em Portugaliae Monumenta Historica é uma fonte manuscrita
e tem como nome Inquirições.Foitranscrita entre os séculos XIX e XX e é uma transcrição do original em
latim, que está hoje na torre do tombo, ambas estão de livre acesso online.
O que foram então estas inquirições? Segundo o dicionário, inquirição, é o ato ou efeito de inquirir, de
perguntar ou procurar colher informações sobre.Outra definição,e esta talvez mais correta neste contexto,
é, no plural (inquirições). São inquéritos mandados fazer por reis (e não só) para averiguar a propriedade
régia e os direitos que o reitem sobre as terras, e se elas foram ou não usurpadas pela nobreza ou clero.
Em termos concretos, tratar-se-ia de um instrumento pelo qual os enviados do rei se deslocavam por
determinadas regiões do reino para inquirir sobre temas que interessavam à Coroa. Normalmente,o foco
incidia sobre bens e direitos que, supostamente,teriam sido usurpados por outros poderes,prejudicando a
jurisdição régia.
Nos locais determinados para se fazer a inquirição reuniam-se testemunhas que seriam questionadas pelos
enviados régios com o propósito de realizar um levantamento,através da memória dos questionados,que
permitisse esclarecer sobre os direitos em questão.
É significativo dizer que as inquirições de D. Afonso III não foram as primeiras. As Inquisitiones
conheceram o seu momento fundacionalcom D. Afonso II,em 1220, depois com D. Afonso III tomaram
uma dimensão maior em 1258, englobando mais locais. Segundo José Augusto de Sottomayor-Pizarro «D.
Afonso II perguntara “o que tinha” em 1220 e “o que tinham todos” indagou D. Afonso III, em 1258».1
Estes inquéritos tiveram um caráter geral e eram mais extensivas geograficamente e, por isso, foram
designados por Inquirições Gerais.
Estas inquirições são uma nascente de informações e de conhecimento sobre os mais variados assuntos,e
há até quem as considere como os censos dos tempos medievais.
As inquirições foram adquirindo cada vez mais um papel fulcral como elemento informativo para o
entendimento do século XIII.
Contextualização – slide 7.
Numa época em que, tanto as ordens monásticas, a nobreza e os leigos queriam afirmar o seu poder a
partir da posse de terras,o monarca viu a necessidadede centralizar o seupoder.Entre osséculos XIIa XIV
deu-se a conquista total do que agora é o território português e várias tentativas de diferentes reis de
afirmaremoseupoder.Foinestecontexto,etambémnodatentativadelimitaroavançodopoderdanobreza,
dos senhores e da Igreja, que nasceram as Inquirições em Portugal. 2
Será a partir do século XIII que se inaugura uma nova fase de administração do território, durante os
reinados de Afonso II a Afonso III,lançando-se as bases para a implantação de uma administração central
1 In Aristocraciaemosteirosna RotadoRomânico,JoséAugusto deSottomayor-Pizarro.2014, Centro deEstudos do Românico
e do Território, página 35.
2 NaEuropa,pelo menos na Inglaterra de Guilherme I, já teriamsido realizadasno ano de 1086 comarealização do Domesday
Book.
forteeburocrática,e queenfraqueceráosdomíniossenhoriaisperanteaafirmaçãoincontestáveldasoberania
régia.
A construçãodoterritórioagoranacionale ofim daReconquista,como alargamentodefinitivodafronteira
até ao Algarve em 1249,impuseram a necessidade de Afonso IIIavaliar a verdadeira conjuntura doterritório
e reestruturar o sistema de formaa garantir a autoridade régia e garantir a vigilância da gestão centralsobre
as delimitações regionais e locais.
Foi devido ao facto de que os monarcas davam bastantes privilégios e concediam terras aos nobres,que o
rei D. Afonso II de Portugal começou por fazer as “inquirições gerais”. Isto seria uma estratégia para o rei
conseguir controlar melhor aquilo que possuía, o que era dele de verdade. Estas primeiras inquirições
declaravam que qualquer tipo de doação que tivesse sido feita por antecessores do monarca teriam de ser
decretadas ou aprovadas por este. Já as inquirições gerais de D. Afonso III passavam pela verificação, no
próprio local,de quais seriam as terras do reie as que estavam em posse imprópria do Clero e da Nobreza.
Foi numa conjuntura conflituosa que terão sido empreendidas as Inquirições de 1258, reivindicando o
monarca que os Bispos e todos os senhores das terras demonstrassema jurisdição daquilo que enunciavam
ser seu. Esta decisão custou-lhe a excomunhão por parte de certos Bispos. Foi através desta decisão de
promover Inquirições Gerais que o monarca recuperou boa parte das terras da Coroa que tinham sido
ilegitimamente ocupadas pelo clero, pela nobreza e por alguns funcionários régios.
Com o caráter “geral” de que se revestem,tais inquéritos precisam de ser vistos,em Portugal, como uma
decisão original de D. Afonso II na conjuntura da sua política rigorosa de consolidação e centralização da
autoridade régia, bem como de um maior controlo das fontes de financiamento da coroa.
As Inquirições Gerais de 1258 - Como se organizaram? – slide 8.
Como nasceram estas inquirições? Quais foram os objetivos destas? Chegaram a ter resultados? Quais
foram as principais reações a estes inquéritos?
As viagens que D.Afonso III fez pelo reino,assim comoos relatos dos seusmordomos,mostraram-lheque
tinha uma indispensável urgência de conter a contínua apropriação de privilégios reais por aristocráticos,
presbíteros,ordensmonásticas e principalmente por ordens militares.Para reparar estas perdas aperfeiçoou
e estendeu geograficamente o métodoque já tinha sido utilizado por Afonso IIde fazerinquirições gerais.O
monarca estruturou “cinco alçadas,que começaram a recolheras informações nos locais por onde passavam
entre abril e Junho de 1258 e que terminaram o seu trabalho antes do fim do mesmo ano.”3
As cinco alçadas dividiam-se assim: a primeira seria a alçada de Entre Cavado e Minho, a segunda a de
Entre Douro e Ave,a terceira em Seia,Gouveia,Bispados de Lamego e Viseu,até ao Douro,a quarta Entre
DouroeTâmega,Bragançae seusTermoseporfim aquinta seriaa de EntreCavadoeAve,Barroso,Chaves,
dividindo pelo Rio Tâmega.
As inquirições eram então efetuadas por comissões de inquérito nomeadas pelo rei,as chamadas alçadas,
compostas por pessoas eclesiásticas e seculares,emnúmerovariável. Este comitê inquiria os homensbons,o
pároco e os vizinhos ou habitantes desse concelho para tentar compreender de quem seriam realmente as
terras:se do rei, se dos nobres ou do clero. Ao averiguarem que as terras não teriam sido usurpadas,em
3 “História de Portugal” direção de José Mattoso – segundo volume – “A Monarquia feudal”, pág. 139.
nome do rei confirmavam o direito de posse. Como o inquiridor era, geralmente, um valido do rei que
desconhecia a zona,eram convocados localmente os "homens bons".Os questionários erampré-definidos e
as declarações dos inquiridos eram registadas segundo a hierarquia: juiz, pároco, vizinhos.
De que constava esse inquérito? Pergunta-sede quemé a igreja,quem tem nela o direito de indicar abade,
quelugaresabrange,aquempertencemtaislugares,dequemodoostinhamadquiridoe,sempre,quedireitos
neles detém o senhor rei.
Foisempreuminstrumentodeumaprogressivacentralizaçãodopoderrégionoquadrodoconfrontoentre
a Coroa e os grupos sociais privilegiados.
As Inquirições identificaram muitos abusos e usurpações do património real,tendo sido criadas leis para
evitar que esta situação se repetisse.Por esta razão devem ter resultado protestos por parte de quem foi
afetado, o que fez com que se começasse a formar uma forte oposição cada vez mais intensa.
As Inquirições de 1258 no Julgado de “Meleres” – slide 9.
É a partir desta fonte que se sabe hoje o que a população de Melres teria de pagar de foro ao rei, as
obrigações que o povo teria de cumprir para assim terem a proteção do monarca.
O objetivo deste trabalho foio de tentar perceber o que é que foramestas inquirições no medievojulgado
de Melres,o que aquise plantava,o que aqui se colhia, o que aqui existia no século XIII. Na análise dividi
as inquirições em categorias, como por exemplo,quem foram as testemunhas,quais os termos da vila na
altura,os lugares, o número de casais,a quem pertencem e o que paga cada um.O que a vila paga, de foro
e os seus tempos de pagamentos.As igrejas e os seus patronos e as produções das terras e a sua paisagem
local.
Nas inquirições de Melres Paio Pais4 disse que a igreja de Santa Maria de Melres era do senhor reie disse
também que o bispo do Porto constituiu nessa igreja prior (terá escolhido João Simões,que era clérigo do
rei) pela presença/apresentação do senhor rei.
Às Inquiriçõesrealizadasnojulgadode“Meleres”responderamsobjuramentoPaioPais,o capelãodaigreja
de Santa Maria de Melres, um pároco ou um monge desta vila, chamado Pelágio/Paio.
Os limites traçados no período medievalatravessaram ostempos e com pequenas nuances nalguns pontos,
correspondemna atualidade à freguesia da Lomba,e à freguesia de Melres.Os limites da “villa” de Melres,
expostosnasInquiriçõesde1258demonstraramque estenome(“Meleres”)seincluíaefetivamentenaprópria
“villa”, como na paróquia.Este nome,Melreshoje em dia,é a transformação deMellares que significa terras
de mel e que foi evoluindo ao longo do tempo.
No que toca aos limites da vila, as Inquirições de 1258 no julgado de Meleres,dizem-nos que pelo menos
duas pessoas conheciam minimamente ostérminosdesta.Uma dessas pessoas seria o capelão.Este disse que
aquilo que sabe sobre estes limites foio que ouviu dizer,muitas vezes,ao seu paie avós.Já Pelágio/Paio,o
monge apresentou um outrotrajetono que toca aos limites desta vila.E,ao contrário do capelão,que ouviu
falar sobre os limites, o monge terá dito isto porque viu e fez o itinerário.
4 Este seria o capelão da Igreja de Santa Maria de Melres.
Outros lugares que pertenceriam ao julgado de Melres,e que, inclusive, pagavam foro seriam o lugar de
Melres,a vila de Vilarinho, Vale Travessos (que agora é apenas uma rua), Sante, Lavercos e Carvalheira.
Estes últimos três pertencem hoje à freguesia da Lomba.
Neste documento das inquirições há a indicação de que no julgado de Meleres existiriam 52 casais e que
estes seriam todos da Coroa.Cada casalera obrigadoa pagar um soldo por pedida do mordomobem como
um mole de linho de estiva, um quarteiro de pão de eiradega e um puçal de vinho.
Quando foi perguntado (Paio Pais) se neste termo entrava alguém que lhe “filhe”, ou seja,que tenha ali
terras ou casais sem que se saiba a legitimidade, este disse que o mosteiro de Paço de Sousa teria ali quatro
casais e que este não seria o único caso.Segundo este,o mosteirode SãoJoão de Alpendurada teria também
ali três casais. Referiu que João Martins de Ataíde tinha ali, com seus irmãos,cinco casais. O mosteiro de
Canedo tinha ali três casais e Estêvão Ermiges de Teixeira seria também donode um casal.Há ainda outros
casos,mas não há tempo de os referir a todos. Nenhum destes casais fazia qualquer tipo de foro ao Senhor
Rei e o capelão não fazia ideia de como é que estes casais foram parar às mãos destes acima referidos.
Questionado como sabe tudo o que declarou, disse que viu e testemunhou.
Estes inquéritos dão-nos ainda a informação sobre as pessoas que alitrabalhavam,talvez estesnomes que
nos aparecem sejam os nomes dos homens de João Martins de Ataíde.
O capelão,interrogado,disse que dão anualmente ao senhor rei,de renda,um morabitino de foro.Os 52
casais deMelresteriamdedardeforoaorei,anualmente40morabitinos(velhos)derenda. Dissequesempre
viu ser dado este foro desta maneira.
Pelas festas mais importantes da vila,como a festade Nataldo senhor,o Pentecostes e a festade S.Miguel
dão certas quantias de bens, como trigo, bragal e ovos e também uma quantia em dinheiro.
O inquirido disse ainda que dão colheita. Davam fogaças, vinho, galinhas…
Sobre o rio Douro,disse que todos os barcos que pescassemno termo de Melresdeveriam dar até ao mês
de março meia quarta parte de quantos sáveis e de quantas lampreias alipescassem.Daquele mêsde março
até meados de maio dariam a terça parte de dia e a quarta parte de noite. A partir de meados de maio não
davam nada.Isto talvez fossedestamaneira porquedepois de maio já não existiam tantos sáveis e lampreias
como no mês anterior.
Conclusões – slide 10.
Esta foie será sempre uma fonte relevante de imensariquezae inesgotávelde conhecimentos,tem uma
abrangência incalculável. Um dos aspetos mais fascinantes das inquirições é o da versatilidade das suas
informações.É uma fonte essencialpara o estudode temasde ordem militar,institucional,político-
administrativa,jurídico-socialou económica.
Transbordam sobrea população,a propriedade,a senhorialização,a história da nobreza,malfeitoria e
violência numa determinada região.Funcionam,igualmente comofonte paraperceber os conflitos que
opunham o Reià Igreja.São hoje,por estas razões,um dos instrumentos mais preciosos ao trabalho dos
medievalistas portugueses,pela sua riquezadocumentale patrimonial. São importantes para a história local
e/ou regional,para a arqueologia ou até para a toponímia.
Um grupo privilegiado de fontes,que são as Inquirições régias,são não só significativas pelo valor do seu
assunto, mas também porque se repetiram em variadas ocasiões ao longo dos séculos XIII e XIV,
possibilitando, assim, uma análise evolutiva daquela dinâmica. Para os séculos XII-XIV, poucas fontes
poderãoombrearcomasInquiriçõesGeraisemtermosevolutivosecomparativosaolongodeumacronologia
tão alargada, sobre um mesmo território. É, de facto, uma fonte única!
Um dos entraves que, por vezes,se coloca é a dificuldade de interpretação desta fonte. Devido a erros
ocasionais,cometidosaquandodassucessivastransladaçõesdadocumentação,encontram-se,notexto,alguns
obstáculos à interpretação das informações registadas pela alçada régia, como a existência de construções
sintáticas incorretas e de ocasionais saltos textuais, impossíveis de remediar.5~
Concluindo este trabalho,há que dizer queas Inquirições forame continuam a ser,de facto,um elemento
bastante importante para estudar umaparteda história de determinadas vilas e concelhos.Semesta fonteeu
não teria conseguido fazer este trabalho e,penso que,poresta razão,é fundamentalcontinuarmos a estudar
esta fonte preciosa e repleta de informações de todo o tipo.
Sem esta fonte os habitantes de Melres não poderiam,ou melhor dizendo,não conseguiriam apurar o que
realmente se teria passado nesse lugar ao longo da história. Apesar de representarem apenas o reflexo do
século XIII nesta vila, as inquirições foram importantes,pois deixaram-nos algum tipo de informação,por
muito escassa que seja.
5 “Os julgados de Lanhoso, São João de Rei e Vieira em meados do século XIII – O testemunho das
Inquirições de 1258”, Hugo Nuno Aguiar Barcelos, pág. 1.

Mais conteúdo relacionado

Semelhante a Diálogos Évora-Coimbra

A_HERANCA_TEMPLARIA_EM_PORTUGAL_MEMORIA.pdf
A_HERANCA_TEMPLARIA_EM_PORTUGAL_MEMORIA.pdfA_HERANCA_TEMPLARIA_EM_PORTUGAL_MEMORIA.pdf
A_HERANCA_TEMPLARIA_EM_PORTUGAL_MEMORIA.pdfPAULORICARDO879601
 
HISTORIA DAS OPERAÇÕES ESPECIAIS DA PMPR
HISTORIA DAS OPERAÇÕES ESPECIAIS DA PMPRHISTORIA DAS OPERAÇÕES ESPECIAIS DA PMPR
HISTORIA DAS OPERAÇÕES ESPECIAIS DA PMPRSERGIO DE MELLO QUEIROZ
 
Caçadores de história
Caçadores de históriaCaçadores de história
Caçadores de históriaUrano Andrade
 
Nótulas sobre o carlismo hispânico
Nótulas sobre o carlismo hispânicoNótulas sobre o carlismo hispânico
Nótulas sobre o carlismo hispânicoindexbonorvm
 
A importância dos forais
A importância dos foraisA importância dos forais
A importância dos foraisLicinio Borges
 
Lopes, m s (2002) da descoberta ao saber
Lopes, m s (2002) da descoberta ao saberLopes, m s (2002) da descoberta ao saber
Lopes, m s (2002) da descoberta ao saberAndre Bezerra Lins
 
Crónica de D. Pedro I - parte de uma trilogia.pptx
Crónica de D. Pedro I - parte de uma trilogia.pptxCrónica de D. Pedro I - parte de uma trilogia.pptx
Crónica de D. Pedro I - parte de uma trilogia.pptxAntonioCoito1
 
Jb news informativo nr. 0430
Jb news   informativo nr. 0430Jb news   informativo nr. 0430
Jb news informativo nr. 0430JB News
 
Memorial do Convento: o tempo histórico
Memorial do Convento: o tempo históricoMemorial do Convento: o tempo histórico
Memorial do Convento: o tempo históricomariacel
 
Os princípios da comunicação
Os princípios da comunicaçãoOs princípios da comunicação
Os princípios da comunicaçãoRoberta Scheibe
 
Povoamento do Município de Ermo, SC
Povoamento do Município de Ermo, SCPovoamento do Município de Ermo, SC
Povoamento do Município de Ermo, SCBrenner Cardoso
 
Crónica de D. João I de Fernão Lopes
Crónica de D. João I de Fernão LopesCrónica de D. João I de Fernão Lopes
Crónica de D. João I de Fernão LopesGijasilvelitz 2
 
Revisão 6 ano 1 trim parcial b
Revisão   6 ano 1 trim parcial bRevisão   6 ano 1 trim parcial b
Revisão 6 ano 1 trim parcial bCarlos Zaranza
 

Semelhante a Diálogos Évora-Coimbra (20)

A_HERANCA_TEMPLARIA_EM_PORTUGAL_MEMORIA.pdf
A_HERANCA_TEMPLARIA_EM_PORTUGAL_MEMORIA.pdfA_HERANCA_TEMPLARIA_EM_PORTUGAL_MEMORIA.pdf
A_HERANCA_TEMPLARIA_EM_PORTUGAL_MEMORIA.pdf
 
HISTORIA DAS OPERAÇÕES ESPECIAIS DA PMPR
HISTORIA DAS OPERAÇÕES ESPECIAIS DA PMPRHISTORIA DAS OPERAÇÕES ESPECIAIS DA PMPR
HISTORIA DAS OPERAÇÕES ESPECIAIS DA PMPR
 
Caçadores de história
Caçadores de históriaCaçadores de história
Caçadores de história
 
Rfc43 artigo8
Rfc43 artigo8Rfc43 artigo8
Rfc43 artigo8
 
Introdução ao estudo da história
Introdução ao estudo da históriaIntrodução ao estudo da história
Introdução ao estudo da história
 
Nótulas sobre o carlismo hispânico
Nótulas sobre o carlismo hispânicoNótulas sobre o carlismo hispânico
Nótulas sobre o carlismo hispânico
 
Renascimento
RenascimentoRenascimento
Renascimento
 
A épica medieval portuguesa
A épica medieval portuguesaA épica medieval portuguesa
A épica medieval portuguesa
 
Karnal
KarnalKarnal
Karnal
 
Quinhentismo no brasil
Quinhentismo no brasilQuinhentismo no brasil
Quinhentismo no brasil
 
A importância dos forais
A importância dos foraisA importância dos forais
A importância dos forais
 
Lopes, m s (2002) da descoberta ao saber
Lopes, m s (2002) da descoberta ao saberLopes, m s (2002) da descoberta ao saber
Lopes, m s (2002) da descoberta ao saber
 
Crónica de D. Pedro I - parte de uma trilogia.pptx
Crónica de D. Pedro I - parte de uma trilogia.pptxCrónica de D. Pedro I - parte de uma trilogia.pptx
Crónica de D. Pedro I - parte de uma trilogia.pptx
 
Jb news informativo nr. 0430
Jb news   informativo nr. 0430Jb news   informativo nr. 0430
Jb news informativo nr. 0430
 
Memorial do Convento: o tempo histórico
Memorial do Convento: o tempo históricoMemorial do Convento: o tempo histórico
Memorial do Convento: o tempo histórico
 
Os princípios da comunicação
Os princípios da comunicaçãoOs princípios da comunicação
Os princípios da comunicação
 
Povoamento do Município de Ermo, SC
Povoamento do Município de Ermo, SCPovoamento do Município de Ermo, SC
Povoamento do Município de Ermo, SC
 
Crónica de D. João I de Fernão Lopes
Crónica de D. João I de Fernão LopesCrónica de D. João I de Fernão Lopes
Crónica de D. João I de Fernão Lopes
 
Estudo introdutório
Estudo introdutórioEstudo introdutório
Estudo introdutório
 
Revisão 6 ano 1 trim parcial b
Revisão   6 ano 1 trim parcial bRevisão   6 ano 1 trim parcial b
Revisão 6 ano 1 trim parcial b
 

Mais de Historiando

Apendice Gramatical-11 ano
Apendice Gramatical-11 anoApendice Gramatical-11 ano
Apendice Gramatical-11 anoHistoriando
 
Toxicodependência
ToxicodependênciaToxicodependência
ToxicodependênciaHistoriando
 
Trabalho de natação
Trabalho de nataçãoTrabalho de natação
Trabalho de nataçãoHistoriando
 
Os princípios do treino
Os princípios do treinoOs princípios do treino
Os princípios do treinoHistoriando
 
Sinais de proibição
Sinais de proibiçãoSinais de proibição
Sinais de proibiçãoHistoriando
 
Sistema digestivo - alimentação
Sistema digestivo - alimentaçãoSistema digestivo - alimentação
Sistema digestivo - alimentaçãoHistoriando
 
Presente de subjuntivo
Presente de subjuntivoPresente de subjuntivo
Presente de subjuntivoHistoriando
 
Oraciones temporales
Oraciones temporalesOraciones temporales
Oraciones temporalesHistoriando
 
Milio deporte xxx
Milio deporte xxxMilio deporte xxx
Milio deporte xxxHistoriando
 
IMPERATIVO AFIRMATIVO Y COLOCACIÓN DE LOS PRONOMBRES
IMPERATIVO AFIRMATIVO Y COLOCACIÓN DE LOS PRONOMBRESIMPERATIVO AFIRMATIVO Y COLOCACIÓN DE LOS PRONOMBRES
IMPERATIVO AFIRMATIVO Y COLOCACIÓN DE LOS PRONOMBRESHistoriando
 
IIsabel Allende
IIsabel Allende IIsabel Allende
IIsabel Allende Historiando
 

Mais de Historiando (20)

Mambo y Limbo
Mambo y LimboMambo y Limbo
Mambo y Limbo
 
Apendice Gramatical-11 ano
Apendice Gramatical-11 anoApendice Gramatical-11 ano
Apendice Gramatical-11 ano
 
Toxicodependência
ToxicodependênciaToxicodependência
Toxicodependência
 
Ópio
ÓpioÓpio
Ópio
 
Trabalho de natação
Trabalho de nataçãoTrabalho de natação
Trabalho de natação
 
Acomodação
AcomodaçãoAcomodação
Acomodação
 
Os princípios do treino
Os princípios do treinoOs princípios do treino
Os princípios do treino
 
A Natação
A NataçãoA Natação
A Natação
 
A natação
A nataçãoA natação
A natação
 
Sinais de proibição
Sinais de proibiçãoSinais de proibição
Sinais de proibição
 
Sistema digestivo - alimentação
Sistema digestivo - alimentaçãoSistema digestivo - alimentação
Sistema digestivo - alimentação
 
Presente de subjuntivo
Presente de subjuntivoPresente de subjuntivo
Presente de subjuntivo
 
Pau gasol
Pau gasolPau gasol
Pau gasol
 
Oraciones temporales
Oraciones temporalesOraciones temporales
Oraciones temporales
 
Milio deporte xxx
Milio deporte xxxMilio deporte xxx
Milio deporte xxx
 
Los pasados
Los pasadosLos pasados
Los pasados
 
La música
La músicaLa música
La música
 
Isabel allende
Isabel allendeIsabel allende
Isabel allende
 
IMPERATIVO AFIRMATIVO Y COLOCACIÓN DE LOS PRONOMBRES
IMPERATIVO AFIRMATIVO Y COLOCACIÓN DE LOS PRONOMBRESIMPERATIVO AFIRMATIVO Y COLOCACIÓN DE LOS PRONOMBRES
IMPERATIVO AFIRMATIVO Y COLOCACIÓN DE LOS PRONOMBRES
 
IIsabel Allende
IIsabel Allende IIsabel Allende
IIsabel Allende
 

Último

DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -
DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -
DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -Aline Santana
 
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!Ilda Bicacro
 
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...IsabelPereira2010
 
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envio
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envioManual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envio
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envioManuais Formação
 
Rotas Transaarianas como o desrto prouz riqueza
Rotas Transaarianas como o desrto prouz riquezaRotas Transaarianas como o desrto prouz riqueza
Rotas Transaarianas como o desrto prouz riquezaronaldojacademico
 
Atividades sobre Coordenadas Geográficas
Atividades sobre Coordenadas GeográficasAtividades sobre Coordenadas Geográficas
Atividades sobre Coordenadas Geográficasprofcamilamanz
 
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdfPROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdfMarianaMoraesMathias
 
Atividade - Letra da música Esperando na Janela.
Atividade -  Letra da música Esperando na Janela.Atividade -  Letra da música Esperando na Janela.
Atividade - Letra da música Esperando na Janela.Mary Alvarenga
 
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim RangelDicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim RangelGilber Rubim Rangel
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...azulassessoria9
 
Noções de Farmacologia - Flávia Soares.pdf
Noções de Farmacologia - Flávia Soares.pdfNoções de Farmacologia - Flávia Soares.pdf
Noções de Farmacologia - Flávia Soares.pdflucassilva721057
 
Portfolio_Trilha_Meio_Ambiente_e_Sociedade.pdf
Portfolio_Trilha_Meio_Ambiente_e_Sociedade.pdfPortfolio_Trilha_Meio_Ambiente_e_Sociedade.pdf
Portfolio_Trilha_Meio_Ambiente_e_Sociedade.pdfjanainadfsilva
 
2° ano_PLANO_DE_CURSO em PDF referente ao 2° ano do Ensino fundamental
2° ano_PLANO_DE_CURSO em PDF referente ao 2° ano do Ensino fundamental2° ano_PLANO_DE_CURSO em PDF referente ao 2° ano do Ensino fundamental
2° ano_PLANO_DE_CURSO em PDF referente ao 2° ano do Ensino fundamentalAntônia marta Silvestre da Silva
 
Aula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdf
Aula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdfAula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdf
Aula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdfFernandaMota99
 
ENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdf
ENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdfENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdf
ENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdfLeloIurk1
 
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptxPedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptxleandropereira983288
 
Construção (C)erta - Nós Propomos! Sertã
Construção (C)erta - Nós Propomos! SertãConstrução (C)erta - Nós Propomos! Sertã
Construção (C)erta - Nós Propomos! SertãIlda Bicacro
 
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de..."É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...Rosalina Simão Nunes
 
GÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - Cartum
GÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - CartumGÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - Cartum
GÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - CartumAugusto Costa
 

Último (20)

DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -
DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -
DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -
 
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!
Rota das Ribeiras Camp, Projeto Nós Propomos!
 
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
 
Bullying, sai pra lá
Bullying,  sai pra láBullying,  sai pra lá
Bullying, sai pra lá
 
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envio
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envioManual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envio
Manual da CPSA_1_Agir com Autonomia para envio
 
Rotas Transaarianas como o desrto prouz riqueza
Rotas Transaarianas como o desrto prouz riquezaRotas Transaarianas como o desrto prouz riqueza
Rotas Transaarianas como o desrto prouz riqueza
 
Atividades sobre Coordenadas Geográficas
Atividades sobre Coordenadas GeográficasAtividades sobre Coordenadas Geográficas
Atividades sobre Coordenadas Geográficas
 
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdfPROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
PROGRAMA DE AÇÃO 2024 - MARIANA DA SILVA MORAES.pdf
 
Atividade - Letra da música Esperando na Janela.
Atividade -  Letra da música Esperando na Janela.Atividade -  Letra da música Esperando na Janela.
Atividade - Letra da música Esperando na Janela.
 
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim RangelDicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
 
Noções de Farmacologia - Flávia Soares.pdf
Noções de Farmacologia - Flávia Soares.pdfNoções de Farmacologia - Flávia Soares.pdf
Noções de Farmacologia - Flávia Soares.pdf
 
Portfolio_Trilha_Meio_Ambiente_e_Sociedade.pdf
Portfolio_Trilha_Meio_Ambiente_e_Sociedade.pdfPortfolio_Trilha_Meio_Ambiente_e_Sociedade.pdf
Portfolio_Trilha_Meio_Ambiente_e_Sociedade.pdf
 
2° ano_PLANO_DE_CURSO em PDF referente ao 2° ano do Ensino fundamental
2° ano_PLANO_DE_CURSO em PDF referente ao 2° ano do Ensino fundamental2° ano_PLANO_DE_CURSO em PDF referente ao 2° ano do Ensino fundamental
2° ano_PLANO_DE_CURSO em PDF referente ao 2° ano do Ensino fundamental
 
Aula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdf
Aula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdfAula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdf
Aula de História Ensino Médio Mesopotâmia.pdf
 
ENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdf
ENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdfENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdf
ENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdf
 
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptxPedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
 
Construção (C)erta - Nós Propomos! Sertã
Construção (C)erta - Nós Propomos! SertãConstrução (C)erta - Nós Propomos! Sertã
Construção (C)erta - Nós Propomos! Sertã
 
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de..."É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
 
GÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - Cartum
GÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - CartumGÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - Cartum
GÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - Cartum
 

Diálogos Évora-Coimbra

  • 1. Diálogos Évora-Coimbra: Seminários de Jovens Licenciados em História - As Inquirições de 1258 no Julgado de “Meleres” – slide um Bomdia caroscolegase bomdia carosparticipantesdestesdiálogosentreÉvoraeCoimbra.Querocomeçar poragradecerpeloconviteparaaquiestar.Agradeçotambémamaravilhosaintroduçãosobreomeupercurso académico. Para começar é necessário dizer que este trabalho foi desenvolvido no âmbito da unidade curricular de Seminário,da Licenciatura em História da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Foiorientado e realizado paraa DoutoraMaria Alegria Fernandes Marques.Otítulo do meu trabalho é «As Inquiriçõesde1258 noJulgado de“Meleres”».Vouiniciar estaapresentaçãoexplicandooporquêdestetítulo. Bem,primeiro porquenestetrabalho falo sobreas Inquirições que D.Afonso III realizou em 1258.Segundo, pois,a vila de Melres,na altura destasinquirições erachamada de“Meleres”.Porqueé queescolhiestetema? Na verdade,o tema das inquirições foi-me recomendado pela minha orientadora e não vi problemas em pesquisarmaissobreessasfontes,vistoquenuncatinha trabalhadocomelas. Fiqueiatésurpreendidaquando vi que Melres teria sido um Julgado e não apenas uma vila. É necessário explicar que eu escolhi este lugar pois, é a terra onde vivo até hoje. Para mim, perceber as minhas raízes é deveras importante,perceberde onde venho e consequentemente para onde vou. Índice – slide 2. Estado da arte – slide 3. Com a pandemia mundialque tem vindo a afetar o mundo nos últimos tempos foram-se colocando várias barreiras a todos nós queestudamos,que investigamos e que trabalhamos diariamente,seja em queárea for. Foi um pouco difícil arranjar fontes e material com o qual trabalhar, mas foi um dos desafios que me determineia ultrapassar.O ser humano tem esta capacidade de adaptação que me espanta muitas vezes. Para a realização deste trabalho é importante mencionar as principais fontes e estudos que utilizei. A principal fonte que usei como base para este estudo foi um documento que está integrado na compilação intitulada como “Portugaliae Monumenta Historica – A saeculo octavo post christum usque ad quintum decimum” (volume um, fascículos IV e V segunda alçada, páginas 626 e 627. – Julgado de Meleres). Empregueitambém o “Elucidário das palavras,termos e frases que em Portugalantigamente se usaram e que hoje regularmente se ignoram”de FreiJoaquim de SantaRosa Viterbo,este para compreender melhoro significado das palavras e elementos que estavam na fonte acima mencionada. Slide4: Com a recomendação do Doutor ManuelJoaquim Correia Soares servi-me dos livros “OForalde Gaia de 1255 – um texto e a sua época” de Gonçalves Guimarães,José António Afonso e RaúlSolla Prata, “Da Lusitânia a Portugal – dois mil anos de história” de Diogo Freitas do Amarale, por último, “Da terra de Mellores a que agora chamamMerles”de ManuelJoaquim Correia Soares.Oprimeiro livro ajudou-me a perceber o contexto da cidade do Porto aquando dos anos anteriores às Inquirições,o segundo deu-me um contexto geral sobre o reinado de D. Afonso III, o monarca que terá promulgado estas inquirições. Já o último livro mencionado foi utilizado para perceber o quadro sociopolítico de Melres. Para estudar as inquirições de uma maneira mais aprofundadalivários artigos da Doutora Iria Gonçalves, como por exemplo, o artigo Espaços Silvestres para animais selvagens, no noroeste de Portugal com as inquirições de 1258, e Por terras de Entre-Douro-E-Minho com as inquirições de D. Afonso III.
  • 2. Do Doutor José Augusto de Sottomayor-Pizarro retireiinformações de alguns dos seus artigos sobre as inquirições, como por exemplo,“Para o estudo da fiscalidade régia em Portugal - As inquirições gerais dos séculos XIII e XIV” e “Aristocracia e mosteiros na Rota do Românico”. Ainda para perceber as inquirições e estudos sobreestasusufruídos vários artigos quese encontramnuma coletânea intitulada “Inquirir na Idade Média:espaços,protagonistas e poderes (sécs.XII-XIV),Tributo a Luís Krus” editada por Amélia Aguiar Andrade e por João Luís Inglês Fontes. Por último é importante dizer que para uma mais sólida e aprofundada informaçãosobre o reinado de D. Afonso III recorrià “História de Portugal– A monarquia feudal”da direção e coordenação do DoutorJosé Mattoso. O trabalho sobre as inquirições régias em Portugal tem sido marcado,principalmente, por dois ou três nomes.Os que mais se destacaram,a meu ver, foram Luís Krus, Iria Gonçalves e, ainda, José Augusto de Sottomayor Pizarro. Ainda há muita coisa por ver porque há Inquirições para muitas terras e que ainda não foram vistas. A novidade historiográfica deste trabalho é a de que ainda ninguém tinha estudado as Inquirições em Melres na sua totalidade. Metodologia – Slide 5 Este tema foiescolhido após uma sugestãoda DoutoraMaria Alegria Fernandes Marques.Dissera-meque era um tema que ainda tinha muita coisa por estudar. Aquandodo início deste trabalho,depois da escolha do tema, era importante procurar uma fonte que o suportasse. Ora depois de conversar com a minha orientadora,estadisse-meparaprocurarnacoletâneadetextosdaHistóriadePortugal,intitulada Portugaliae MonumentaHistorica.Disse-mequeeupoderiaencontrarestafonte online,eapartirdaícomeceia procurar. Conseguiencontrá-la no sítio da internet da Biblioteca Nacionalde Portugal.Após terlido o documento que falava sobre as inquirições em Melres foi necessário traduzi-lo, para assim fazer uma melhor análise do mesmo. Tentei traduzir a fonte, porém ainda havia algumas palavras e frases que não me faziam muito sentido.Por isto, pediajuda à minha orientadora e ela corrigiu-me a tradução.De seguida tinha chegado a altura de analisar a fonte.Para isto recorri,como já mencionei,à ajuda do “Elucidário”de Viterbo para uma melhor compreensão de algumas palavras e medidas mencionadas no texto. Recorri ainda ao auxílio do Doutor Manuel Joaquim Correia Soares,que é um estudante da história de Melresjáhá alguns anos.Esteajudou-mecomainterpretaçãododocumentoeforneceu-memaisdocumentos e informações que me ajudaram a perceber melhor a história da nossa vila. Uma das coisas que também foinecessário estudar foramos lugares e oslimites do termoantigo de Melres. Isto para tentar perceberse os lugares que estãoreferidos nas Inquiriçõesainda hoje fariam parte desta vila. Para isto, recorri a um trabalho topográfico de António dos Santos Ferreira que se encontra na Junta de Freguesia.Vim a perceberque aquilo que anteriormente eram lugares importantes,hoje sãoapenas ruas,isto somente nalguns casos. Por último foi necessário começar a ler bibliografia sobre este tema para depois começar a escrever este trabalho. As Inquirições – Caraterização – slide 6.
  • 3. Antes de começar a falar nas Inquirições em si é importante caraterizara principalfonte que serve de base para este trabalho.Estafonte quese encontra em Portugaliae Monumenta Historica é uma fonte manuscrita e tem como nome Inquirições.Foitranscrita entre os séculos XIX e XX e é uma transcrição do original em latim, que está hoje na torre do tombo, ambas estão de livre acesso online. O que foram então estas inquirições? Segundo o dicionário, inquirição, é o ato ou efeito de inquirir, de perguntar ou procurar colher informações sobre.Outra definição,e esta talvez mais correta neste contexto, é, no plural (inquirições). São inquéritos mandados fazer por reis (e não só) para averiguar a propriedade régia e os direitos que o reitem sobre as terras, e se elas foram ou não usurpadas pela nobreza ou clero. Em termos concretos, tratar-se-ia de um instrumento pelo qual os enviados do rei se deslocavam por determinadas regiões do reino para inquirir sobre temas que interessavam à Coroa. Normalmente,o foco incidia sobre bens e direitos que, supostamente,teriam sido usurpados por outros poderes,prejudicando a jurisdição régia. Nos locais determinados para se fazer a inquirição reuniam-se testemunhas que seriam questionadas pelos enviados régios com o propósito de realizar um levantamento,através da memória dos questionados,que permitisse esclarecer sobre os direitos em questão. É significativo dizer que as inquirições de D. Afonso III não foram as primeiras. As Inquisitiones conheceram o seu momento fundacionalcom D. Afonso II,em 1220, depois com D. Afonso III tomaram uma dimensão maior em 1258, englobando mais locais. Segundo José Augusto de Sottomayor-Pizarro «D. Afonso II perguntara “o que tinha” em 1220 e “o que tinham todos” indagou D. Afonso III, em 1258».1 Estes inquéritos tiveram um caráter geral e eram mais extensivas geograficamente e, por isso, foram designados por Inquirições Gerais. Estas inquirições são uma nascente de informações e de conhecimento sobre os mais variados assuntos,e há até quem as considere como os censos dos tempos medievais. As inquirições foram adquirindo cada vez mais um papel fulcral como elemento informativo para o entendimento do século XIII. Contextualização – slide 7. Numa época em que, tanto as ordens monásticas, a nobreza e os leigos queriam afirmar o seu poder a partir da posse de terras,o monarca viu a necessidadede centralizar o seupoder.Entre osséculos XIIa XIV deu-se a conquista total do que agora é o território português e várias tentativas de diferentes reis de afirmaremoseupoder.Foinestecontexto,etambémnodatentativadelimitaroavançodopoderdanobreza, dos senhores e da Igreja, que nasceram as Inquirições em Portugal. 2 Será a partir do século XIII que se inaugura uma nova fase de administração do território, durante os reinados de Afonso II a Afonso III,lançando-se as bases para a implantação de uma administração central 1 In Aristocraciaemosteirosna RotadoRomânico,JoséAugusto deSottomayor-Pizarro.2014, Centro deEstudos do Românico e do Território, página 35. 2 NaEuropa,pelo menos na Inglaterra de Guilherme I, já teriamsido realizadasno ano de 1086 comarealização do Domesday Book.
  • 4. forteeburocrática,e queenfraqueceráosdomíniossenhoriaisperanteaafirmaçãoincontestáveldasoberania régia. A construçãodoterritórioagoranacionale ofim daReconquista,como alargamentodefinitivodafronteira até ao Algarve em 1249,impuseram a necessidade de Afonso IIIavaliar a verdadeira conjuntura doterritório e reestruturar o sistema de formaa garantir a autoridade régia e garantir a vigilância da gestão centralsobre as delimitações regionais e locais. Foi devido ao facto de que os monarcas davam bastantes privilégios e concediam terras aos nobres,que o rei D. Afonso II de Portugal começou por fazer as “inquirições gerais”. Isto seria uma estratégia para o rei conseguir controlar melhor aquilo que possuía, o que era dele de verdade. Estas primeiras inquirições declaravam que qualquer tipo de doação que tivesse sido feita por antecessores do monarca teriam de ser decretadas ou aprovadas por este. Já as inquirições gerais de D. Afonso III passavam pela verificação, no próprio local,de quais seriam as terras do reie as que estavam em posse imprópria do Clero e da Nobreza. Foi numa conjuntura conflituosa que terão sido empreendidas as Inquirições de 1258, reivindicando o monarca que os Bispos e todos os senhores das terras demonstrassema jurisdição daquilo que enunciavam ser seu. Esta decisão custou-lhe a excomunhão por parte de certos Bispos. Foi através desta decisão de promover Inquirições Gerais que o monarca recuperou boa parte das terras da Coroa que tinham sido ilegitimamente ocupadas pelo clero, pela nobreza e por alguns funcionários régios. Com o caráter “geral” de que se revestem,tais inquéritos precisam de ser vistos,em Portugal, como uma decisão original de D. Afonso II na conjuntura da sua política rigorosa de consolidação e centralização da autoridade régia, bem como de um maior controlo das fontes de financiamento da coroa. As Inquirições Gerais de 1258 - Como se organizaram? – slide 8. Como nasceram estas inquirições? Quais foram os objetivos destas? Chegaram a ter resultados? Quais foram as principais reações a estes inquéritos? As viagens que D.Afonso III fez pelo reino,assim comoos relatos dos seusmordomos,mostraram-lheque tinha uma indispensável urgência de conter a contínua apropriação de privilégios reais por aristocráticos, presbíteros,ordensmonásticas e principalmente por ordens militares.Para reparar estas perdas aperfeiçoou e estendeu geograficamente o métodoque já tinha sido utilizado por Afonso IIde fazerinquirições gerais.O monarca estruturou “cinco alçadas,que começaram a recolheras informações nos locais por onde passavam entre abril e Junho de 1258 e que terminaram o seu trabalho antes do fim do mesmo ano.”3 As cinco alçadas dividiam-se assim: a primeira seria a alçada de Entre Cavado e Minho, a segunda a de Entre Douro e Ave,a terceira em Seia,Gouveia,Bispados de Lamego e Viseu,até ao Douro,a quarta Entre DouroeTâmega,Bragançae seusTermoseporfim aquinta seriaa de EntreCavadoeAve,Barroso,Chaves, dividindo pelo Rio Tâmega. As inquirições eram então efetuadas por comissões de inquérito nomeadas pelo rei,as chamadas alçadas, compostas por pessoas eclesiásticas e seculares,emnúmerovariável. Este comitê inquiria os homensbons,o pároco e os vizinhos ou habitantes desse concelho para tentar compreender de quem seriam realmente as terras:se do rei, se dos nobres ou do clero. Ao averiguarem que as terras não teriam sido usurpadas,em 3 “História de Portugal” direção de José Mattoso – segundo volume – “A Monarquia feudal”, pág. 139.
  • 5. nome do rei confirmavam o direito de posse. Como o inquiridor era, geralmente, um valido do rei que desconhecia a zona,eram convocados localmente os "homens bons".Os questionários erampré-definidos e as declarações dos inquiridos eram registadas segundo a hierarquia: juiz, pároco, vizinhos. De que constava esse inquérito? Pergunta-sede quemé a igreja,quem tem nela o direito de indicar abade, quelugaresabrange,aquempertencemtaislugares,dequemodoostinhamadquiridoe,sempre,quedireitos neles detém o senhor rei. Foisempreuminstrumentodeumaprogressivacentralizaçãodopoderrégionoquadrodoconfrontoentre a Coroa e os grupos sociais privilegiados. As Inquirições identificaram muitos abusos e usurpações do património real,tendo sido criadas leis para evitar que esta situação se repetisse.Por esta razão devem ter resultado protestos por parte de quem foi afetado, o que fez com que se começasse a formar uma forte oposição cada vez mais intensa. As Inquirições de 1258 no Julgado de “Meleres” – slide 9. É a partir desta fonte que se sabe hoje o que a população de Melres teria de pagar de foro ao rei, as obrigações que o povo teria de cumprir para assim terem a proteção do monarca. O objetivo deste trabalho foio de tentar perceber o que é que foramestas inquirições no medievojulgado de Melres,o que aquise plantava,o que aqui se colhia, o que aqui existia no século XIII. Na análise dividi as inquirições em categorias, como por exemplo,quem foram as testemunhas,quais os termos da vila na altura,os lugares, o número de casais,a quem pertencem e o que paga cada um.O que a vila paga, de foro e os seus tempos de pagamentos.As igrejas e os seus patronos e as produções das terras e a sua paisagem local. Nas inquirições de Melres Paio Pais4 disse que a igreja de Santa Maria de Melres era do senhor reie disse também que o bispo do Porto constituiu nessa igreja prior (terá escolhido João Simões,que era clérigo do rei) pela presença/apresentação do senhor rei. Às Inquiriçõesrealizadasnojulgadode“Meleres”responderamsobjuramentoPaioPais,o capelãodaigreja de Santa Maria de Melres, um pároco ou um monge desta vila, chamado Pelágio/Paio. Os limites traçados no período medievalatravessaram ostempos e com pequenas nuances nalguns pontos, correspondemna atualidade à freguesia da Lomba,e à freguesia de Melres.Os limites da “villa” de Melres, expostosnasInquiriçõesde1258demonstraramque estenome(“Meleres”)seincluíaefetivamentenaprópria “villa”, como na paróquia.Este nome,Melreshoje em dia,é a transformação deMellares que significa terras de mel e que foi evoluindo ao longo do tempo. No que toca aos limites da vila, as Inquirições de 1258 no julgado de Meleres,dizem-nos que pelo menos duas pessoas conheciam minimamente ostérminosdesta.Uma dessas pessoas seria o capelão.Este disse que aquilo que sabe sobre estes limites foio que ouviu dizer,muitas vezes,ao seu paie avós.Já Pelágio/Paio,o monge apresentou um outrotrajetono que toca aos limites desta vila.E,ao contrário do capelão,que ouviu falar sobre os limites, o monge terá dito isto porque viu e fez o itinerário. 4 Este seria o capelão da Igreja de Santa Maria de Melres.
  • 6. Outros lugares que pertenceriam ao julgado de Melres,e que, inclusive, pagavam foro seriam o lugar de Melres,a vila de Vilarinho, Vale Travessos (que agora é apenas uma rua), Sante, Lavercos e Carvalheira. Estes últimos três pertencem hoje à freguesia da Lomba. Neste documento das inquirições há a indicação de que no julgado de Meleres existiriam 52 casais e que estes seriam todos da Coroa.Cada casalera obrigadoa pagar um soldo por pedida do mordomobem como um mole de linho de estiva, um quarteiro de pão de eiradega e um puçal de vinho. Quando foi perguntado (Paio Pais) se neste termo entrava alguém que lhe “filhe”, ou seja,que tenha ali terras ou casais sem que se saiba a legitimidade, este disse que o mosteiro de Paço de Sousa teria ali quatro casais e que este não seria o único caso.Segundo este,o mosteirode SãoJoão de Alpendurada teria também ali três casais. Referiu que João Martins de Ataíde tinha ali, com seus irmãos,cinco casais. O mosteiro de Canedo tinha ali três casais e Estêvão Ermiges de Teixeira seria também donode um casal.Há ainda outros casos,mas não há tempo de os referir a todos. Nenhum destes casais fazia qualquer tipo de foro ao Senhor Rei e o capelão não fazia ideia de como é que estes casais foram parar às mãos destes acima referidos. Questionado como sabe tudo o que declarou, disse que viu e testemunhou. Estes inquéritos dão-nos ainda a informação sobre as pessoas que alitrabalhavam,talvez estesnomes que nos aparecem sejam os nomes dos homens de João Martins de Ataíde. O capelão,interrogado,disse que dão anualmente ao senhor rei,de renda,um morabitino de foro.Os 52 casais deMelresteriamdedardeforoaorei,anualmente40morabitinos(velhos)derenda. Dissequesempre viu ser dado este foro desta maneira. Pelas festas mais importantes da vila,como a festade Nataldo senhor,o Pentecostes e a festade S.Miguel dão certas quantias de bens, como trigo, bragal e ovos e também uma quantia em dinheiro. O inquirido disse ainda que dão colheita. Davam fogaças, vinho, galinhas… Sobre o rio Douro,disse que todos os barcos que pescassemno termo de Melresdeveriam dar até ao mês de março meia quarta parte de quantos sáveis e de quantas lampreias alipescassem.Daquele mêsde março até meados de maio dariam a terça parte de dia e a quarta parte de noite. A partir de meados de maio não davam nada.Isto talvez fossedestamaneira porquedepois de maio já não existiam tantos sáveis e lampreias como no mês anterior. Conclusões – slide 10. Esta foie será sempre uma fonte relevante de imensariquezae inesgotávelde conhecimentos,tem uma abrangência incalculável. Um dos aspetos mais fascinantes das inquirições é o da versatilidade das suas informações.É uma fonte essencialpara o estudode temasde ordem militar,institucional,político- administrativa,jurídico-socialou económica. Transbordam sobrea população,a propriedade,a senhorialização,a história da nobreza,malfeitoria e violência numa determinada região.Funcionam,igualmente comofonte paraperceber os conflitos que opunham o Reià Igreja.São hoje,por estas razões,um dos instrumentos mais preciosos ao trabalho dos medievalistas portugueses,pela sua riquezadocumentale patrimonial. São importantes para a história local e/ou regional,para a arqueologia ou até para a toponímia.
  • 7. Um grupo privilegiado de fontes,que são as Inquirições régias,são não só significativas pelo valor do seu assunto, mas também porque se repetiram em variadas ocasiões ao longo dos séculos XIII e XIV, possibilitando, assim, uma análise evolutiva daquela dinâmica. Para os séculos XII-XIV, poucas fontes poderãoombrearcomasInquiriçõesGeraisemtermosevolutivosecomparativosaolongodeumacronologia tão alargada, sobre um mesmo território. É, de facto, uma fonte única! Um dos entraves que, por vezes,se coloca é a dificuldade de interpretação desta fonte. Devido a erros ocasionais,cometidosaquandodassucessivastransladaçõesdadocumentação,encontram-se,notexto,alguns obstáculos à interpretação das informações registadas pela alçada régia, como a existência de construções sintáticas incorretas e de ocasionais saltos textuais, impossíveis de remediar.5~ Concluindo este trabalho,há que dizer queas Inquirições forame continuam a ser,de facto,um elemento bastante importante para estudar umaparteda história de determinadas vilas e concelhos.Semesta fonteeu não teria conseguido fazer este trabalho e,penso que,poresta razão,é fundamentalcontinuarmos a estudar esta fonte preciosa e repleta de informações de todo o tipo. Sem esta fonte os habitantes de Melres não poderiam,ou melhor dizendo,não conseguiriam apurar o que realmente se teria passado nesse lugar ao longo da história. Apesar de representarem apenas o reflexo do século XIII nesta vila, as inquirições foram importantes,pois deixaram-nos algum tipo de informação,por muito escassa que seja. 5 “Os julgados de Lanhoso, São João de Rei e Vieira em meados do século XIII – O testemunho das Inquirições de 1258”, Hugo Nuno Aguiar Barcelos, pág. 1.