1. NOTA DE APOIO AOS PROFESSORES
DA REDE PÚBLICA ESTADUAL PARANAENSE
Os alunos do Programa de Pós-Graduação de Letras da Universidade Federal do
Paraná vêm a público manifestar seu apoio à causa dos professores da Rede Pública do
Estado do Paraná, e seu repúdio à violência ocorrida em frente à Assembleia Legislativa
nos últimos dias (28 e 29 de abril de 2015). Consideramos tais atos antidemocráticos,
frutos de uma postura autoritária. A educação deveria ser a prioridade em nosso país,
diante de tantas questões a serem abordadas e resolvidas, e não desrespeitada e
desconsiderada, como tem acontecido. Estamos aqui para mostrar que os defensores da
educação não se deixarão silenciar por tal postura.
Qualquer texto sobre a violência cometida pelo governo do Estado do Paraná
contra os professores em frente à Assembleia Legislativa extrapola nossa capacidade de
qualificá-las, à medida que se intensificaram as agressões. Palavras e discursos – com
que se pedia o debate, solução democrática – obtiveram bombas e balas como resposta.
A propósito, o que são ‘palavras’? O que são ‘discursos’? Do que e por que se
faz literatura, ideologia, texto? Essas questões, entre outras, são perseguidas por nós,
acadêmicos do Programa de Pós-Graduação em Letras da UFPR. Entretanto, para além
disso, nossa preocupação chega à responsabilidade social da formação de professores e
ao uso da linguagem para legitimar ações violentas.
Quanto à responsabilidade social, é nosso dever manifestar apoio irrestrito a
todos os professores que estiveram nessas manifestações (lembrando que são também
do interesse de outras categorias). Nada justifica as ações truculentas contra aqueles que
estavam dando aula de cidadania!
Aos futuros professores: sabemos que a tendência, o sentimento imediato, é a
desistência, a recusa à carreira. Fica o desafio: tirar dessa experiência a motivação
necessária, desta vez provocada infelizmente pela indignação. O único caminho para
evitarmos mais atos como esses (que não tendem a cessar) é defender a educação,
mesmo que, por mais que estudemos, esteja extremamente difícil compreender e
justificar tais confrontos, no nível a que chegaram.
Quanto às ações violentas legitimadas pelos discursos da polícia e da mídia,
analisemos dados empíricos:
2. 1) A ação policial foi justificada pela mídia como defesa contra “black-blocs”,
“infiltrados”, “baderneiros”. Qualquer um que esteve presente nas manifestações e/ou
que assistiu os vídeos amplamente divulgados em redes sociais, sabe que a ação da
polícia não foi uma defesa.
2) Alguns jornais apresentaram chamadas como “Professores e policiais entram em
confronto”. Façamos um ajuste nos agentes: “policiais entraram em confronto com
professores” ou, mais adequadamente de acordo com os que estavam presentes nas
manifestações, “policiais ATACARAM professores”.
3) Já houve atos como esse na história dos governos brasileiro e paranaense. Que os
leitores não se esqueçam dessas intertextualidades.
Ressaltamos a necessidade de análise crítica sobre o discurso da grande mídia, bem
como a importância do debate político dentro das instituições de ensino. A atenção
política geral deve preceder as discussões partidárias, e uma observação cuidadosa do
painel de votação do projeto na ALEP demonstra isso.
Nós, como cidadãos brasileiros, repudiamos as ações violentas por parte do governo
paranaense e da polícia, que deveria proteger os manifestantes, e não os atacar. Utilizar
“black-blocs” como justificativa não tem lógica, posto que se a violência tivesse
surgido da multidão, seria ainda assim motivo para a polícia exercer de fato sua função
de proteção.
Por essas e tantas outras preocupações (indignações, lamentações, repúdio), nós, alunos
do Programa de Pós-Graduação em Letras da UFPR, manifestamos total apoio e
solidariedade aos professores do Estado do Paraná.
Marília Costa Pessanha Lara
Representante Discente
Rebeca Pinheiro Queluz
Representante Discente
Curitiba, 30 de abril de 2015.