O documento discute os riscos da disseminação de informações não verificadas nas redes sociais, que podem levar a um "hiato social" e divisões. Também alerta para os perigos do domínio dos algoritmos de IA se não houver equilíbrio ético na sociedade. Defende o diálogo, a credibilidade na ciência e a importância das relações sociais reais para a saúde mental.
1. É necessária a volta dos formadores de opinião - Humanidade versus
Máquinas Inteligentes
Maria da Penha Boina Dalvi
Me: Engenharia de Gestão do Conhecimento
Me. Gestão da Informação nas Organizações
Esp. Esta�s�ca e Sistemas de Informação nas Organizações
É certo que um pouco de ciência faz bem para a saúde mental; entretanto, devemos estar preparados
para sermos rejeitados quando não aceitarmos ser influenciados.
Estamos na era em que os algoritmos permitem argumentação eloquente, contudo, sobressai a
informação enfadonha e vazia que não permite contraponto, mesmo que se tenha razões lógicas para um
discurso mais incisivo, uma comunicação perfeita, Entretanto, informação é comunicação por uma só via.
Segundo Ricardo Noseda, "Comunicação não é ato, mas processo pelo qual o indivíduo entra em cooperação
mental com outro até que ambos alcancem uma consciência comum – Informação, pelo contrário, é qualquer
transcrição unilateral da mensagem de um emissor a um receptor – A irradiação da mensagem sem retorno
de diálogo, proveniente de informantes centralizados, não pode ser identificada com a coatividade
intrassubjetiva característica da comunicação".
A comunicação só é perfeita se for face a face e, sendo o humano ser sociável, por conseguinte, tem
necessidade de ser parte viva e a�va de qualquer que seja o contexto e que, a tecnologia não seja uma regalia
para monopolizar a informação.
O que estamos vendo na verdade é uma sociedade líquida, com poucos seres pensantes criando
conteúdos fidedignos, genuínos e, uma enormidade de pessoas que ganharam espaço e voz no mundo virtual
que, de forma isolada, está criando e consumindo conteúdos incapazes de validar qualquer �po de
argumento aos quais são direcionados e, de tal maneira, criarão e consumirão cada vez mais informação sem
a devida sele�vidade. Os algoritmos inteligentes veiculam ao indivíduo solução de consumo de informação
que o acondiciona em uma bolha para tudo que ele transparece desejar consumir, pois deixa ves�gios das
suas caracterís�cas de consumo pelo meio virtual. A par�r de tais atributos receberá informação que irá lhe
sa�sfazer e agradar literalmente, levando-o a acreditar que o seu mundo, diante do seu consumo paira toda
a verdade daquilo que já acreditava anteriormente, se consolidando cada vez mais como um ser quase
perfeito. É inegável que não existe nada mais empolgante na vida em não se ter de enfrentar o contraditório.
É o absolu�smo que trás uma sensação de poder. Mas, havemos de admi�r que é um poder diante do
isolamento e no acalento dos desejos pessoais, dessa forma, desobriga dos compromissos e da solidariedade,
o que pode levar à exclusão e à marginalização por recorrer ao pertencimento de grupos vulneráveis que são
capazes que desenvolver uma miopia para o que é democracia e jus�ça social.
Diante dessas considerações não se pode esquecer do “hiato social” que já estamos vivenciando. O
hiato social acontece quando as pessoas se distanciam do contato pessoal e preferem se comunicar por meio
de disposi�vos eletrônicos. Isso tem levado a uma diminuição do convívio social face a face, com
consequências nega�vas para a saúde mental e emocional das pessoas.
Uma das principais causas do hiato social é a informação imperfeita. Com a facilidade de acesso a
informações e no�cias por meio das redes sociais e outras plataformas online, as pessoas acabam
consumindo informações muitas vezes imprecisas ou tendenciosas, que podem gerar conflitos e divisões
sociais. Além disso, a falta de contato pessoal e de empa�a pode levar a uma maior intolerância e à
propagação de preconceitos e discursos de ódio.
Estamos vivenciando o hiato social nos nossos pequenos grupos sociais, como família, amigos e
colegas de trabalho. Quando antes u�lizávamos as plataformas virtuais de comunicação informalmente,
exis�a uma conexão brilhante na amistosidade e que se pode até colocar como infan�lidade quando ainda
se brincava. As relações admi�am uma demonstração de confiança, de hones�dade e de verdades dos
pensamentos contraditórios e chegava-se pela comunicação e diálogo a um equilíbrio das interpretações para
um obje�vo fim. Hoje a verdade se consolidou como uma ameaça, pelo fato de se ter normalizado o consumo
do que é inverídico, pois as bolhas da informação recebidas já estão consolidadas e, nesse mundo espectral
individual e ou no mesmo cole�vo, cada pessoa e ou grupo passou a entender o seu mundo como verdade
única, não conseguindo mais se abstrair da sua redoma.
2. O controle pelo medo que historicamente dominou a sociedade, que nunca desapareceu totalmente,
mas que agora voltou com muita força; medo do não pertencimento, medo do erro, medo de perder o
emprego, medo de falar a verdade e ser contrariado, medo de se posicionar poli�camente, medo de falar
poque pode ofender, medo de falar por não saber mais o que é ou não poli�camente correto, medo da
economia sufocar financeiramente, medo de não ter o sucesso que o outro conquistou e, assim existem
milhares de exemplos do medo e, portanto, passamos a viver uma vida sem iden�dade, somos um factoide
de nós mesmos, uma persona definida por uma sociedade diluída e uma versão contrária a nossa verdadeira
e ainda nos curvamos diante dos sofistas e da ignorância.
A falta de uma estrutura mais rígida capaz de contemplar o equilíbrio de condutas pode comprometer
toda a humanidade, principalmente com os avanços a que estamos assis�ndo nos algoritmos de inteligência
ar�ficial (IA).
É atormentador saber o humano cria soluções incríveis e ao mesmo tempo, problemas assombrosos.
Os bene�cios que trazem a IA são incontestáveis como a o�mização de processos, o desenvolvimento de
novas tecnologias e o aprimoramento da tomada de decisões em diversas áreas de organizações e empresas.
No entanto, a IA também apresenta riscos e perigos para a humanidade, que devem ser levados em
consideração.
O que assusta na evolução da IA é a intensão de uso por indivíduos ou organizações com obje�vos
nega�vos.
Já estamos numa sociedade líquida e em um hiato social, vivendo sob o domínio do medo,
consternados, fazendo vigília da própria sombra, negando a ciência e a educação e agora com IA tomando e
gorando espaços na sociedade, que segundo Harari ...podendo subs�tuir muitos trabalhadores manuais por
máquinas e subs�tuir muitos trabalhadores intelectuais por algoritmos...
Quiçá não seria o momento crucial em se pensar novamente na sociedade líquida na qual as relações
sociais são voláteis e efêmeras? Esta ocorrência acontece em grande parte devido à rapidez das mudanças
tecnológicas e à crescente globalização, que tornam as fronteiras nacionais e culturais cada vez mais tênues.
Possivelmente existe dificuldade em se perceber os acontecimentos na estrutura social como um todo
universal. Para se evitar mais sofrimento, hoje e futuro à sociedade, pensar em ins�gar à dialogicidade para
princípios é�cos seria por uma boa razão, principalmente por serem aplicáveis a todas as pessoas, em todas
as culturas - que devem ser adaptados e reinterpretados à luz das diferenças culturais - , e em todas as épocas,
independentemente das diferenças religiosas ou polí�cas. Desta forma, uma possível releitura da sociedade
apoiado ao universalismo da é�ca possibilitaria bom diagnós�co para reequilibrar a saúde mental e social da
humanidade em associação com a u�lização dos algoritmos e máquinas
Acreditar na inteligência humana, na socialização �sica real, no semelhante como ser verdadeiro,
divergente em opiniões e nas suas diferenças como um todo, saber ouvi-los e aceitá-los e, também sermos
escutados e aceitos, além do fundamental que é a credibilidade na ciência que pode nos ajudar a desenvolver
uma compreensão mais precisa e profunda do mundo ao nosso redor, permi�ndo-nos descobrir novos
métodos de tratamento de doenças, por exemplo, ou desenvolver tecnologias que tornem nossa vida mais
fácil e confortável. Dessa forma, um pouco de ciência pode ser benéfico para nossa saúde mental, ao nos dar
mais autonomia e controle sobre nossas vidas.