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INTRODUÇÃO
Segundo a sua bibliografia, Lev Semenovich Vygotsky (2003, p. 115) é seu nome.
Nasceu em Orsha, próximo a Mensk, capital de Bielarus, país da antiga União Soviética, em
17 de novembro de 1896. Grande parte de sua vida viveu com sua família em Gomel. Sua
família era judia. Vygotsky era o segundo filho de oito irmãos. O pai trabalhava como chefe
de departamento de um banco, além de ser representante de uma companhia de seguros. A
mãe, apesar de ser professora, não trabalhava como tal.
Foram breves 34 anos, mas mudaram a história da psicologia e da educação. Lev
Vygotsky que durante muitos anos foi censurado em seu próprio país de origem, a Rússia, em
virtude do regime político totalitário de Stálin, ganhou o mundo apenas a partir do final dos
anos 1950 e início da década de 1960 quando algumas de suas obras foram traduzidas para o
inglês, o francês e o alemão e chegaram às universidades americanas e européias.
Sua carreira começou somente aos 21 anos e coincidiu com a Revolução Proletária
que mudou os alicerces da Rússia. Deve-se inclusive destacar que entre os fundamentos do
pensamento vygotskiano encontram-se as influências marxistas do materialismo histórico e
dialético. E é com base no método dialético que o pesquisador compôs as pesquisas que
realizou em sua tentativa de identificar as mudanças qualitativas do comportamento humano
em seu desenvolvimento e relação com o contexto social.
Além das claras influências marxistas em seu trabalho, Vygotsky teve contato com
expoentes de muitas outras áreas do conhecimento como os literatos Tolstoy, Bunin e
Dostoyevsky, os filósofos James, Hegel e Spinoza, especialistas em psicologia como Freud e
Pavlov, poetas como Blok, Pushkin e Tyuchev.
Sua formação e estudos primam pela riqueza e diversidade. Formou-se em Literatura e
Direito pela Universidade de Moscou, estudou História e Filosofia na Universidade Popular
de Shanyavskii e ainda fez cursos nas faculdades de Medicina de Kharkov e Moscou. Não
complementou as formações em História e Filosofia, tampouco em Medicina, mas encontrou
nesses cursos subsídios que precisava para desenvolver os estudos na área de psicologia.
Fica clara em sua formação, realizada entre o final da década de 1910 e início dos anos
1920 que Vygotsky estruturava seu conhecimento dentro de uma proposta interdisciplinar. A
riqueza de seu aprendizado e maturação intelectual permitia ao pesquisador desenvoltura e
brilho em diversas áreas do conhecimento: da poesia a medicina, da filosofia a psicologia, das
ciências sociais a lingüística, das artes a antropologia, da história a educação.
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Sua base familiar, estruturada em Orsha, na Bielo-Rússia, era forte o suficiente para
lhe proporcionar interesse e a dedicação aos estudos. Nascido em 17 de novembro de 1896,
Lev Semenovich Vygotsky tinha mãe educadora e seu pai trabalhando num banco e numa
companhia de seguros. Sua família, de origem judaica, era formada pelos pais e por mais sete
irmãos. As restrições que se aplicavam a comunidade judaica na Rússia e em outras partes do
mundo na virada do século XIX para o XX talvez expliquem a disposição de seus pais no
sentido de dar aos filhos uma formação sólida para que seus futuros pudessem viver dias
melhores.
Entre suas principais teorias e idéias destacamos:
 O processo de formação de conceitos remete às relações entre pensamento e
linguagem, a internalização mediada pela cultura e ao papel da escola na transmissão
de conhecimento.
 As chamadas funções psicológicas superiores como a memória e a linguagem são
construídas ao longo da história social do homem e de sua relação com o mundo. São
provenientes, portanto, de ações conscientes e intencionais dependentes de processos
de aprendizagem.
 Vygotsky acreditava que o conhecimento do homem é mediado, ou seja, construído a
partir de processos sócio históricos em que não há acesso direto aos objetos, mas a
recortes da realidade constituídos a partir de sistemas simbólicos elaborados pela
própria humanidade em sua história.
 É a linguagem que funciona como sistema simbólico representativo ao fornecer
conceitos, formas de organização do real e estruturar a mediação entre sujeito e objeto
dos conhecimentos.
 A cultura concede as pessoas os sistemas simbólicos representativos da realidade que
permitem a compreensão e interpretação do mundo real.
 São funções mentais o pensamento, a memória, a percepção e a atenção. O
pensamento tem como origem a motivação, a emoção, o afeto, o impulso, o interesse e
a necessidade.
 Há dois níveis de desenvolvimento segundo Vygotsky, o real e o potencial. O primeiro
refere-se ao que a criança consegue fazer por si própria enquanto o segundo
concretiza-se a partir da capacidade de aprender com as outras pessoas.
 A relação de distância entre o desenvolvimento real e o potencial cria as chamadas
zonas de desenvolvimento proximal (que refere-se a potencialidade de aprender ou
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ainda o vácuo que existe entre o que a criança pode aprender por si mesma e o que ela
pode fazer a partir da orientação e intervenção de um adulto).
 O desenvolvimento cognitivo é resultado do processo de internalização da interação
social com os subsídios provenientes da cultura.
 Segundo Vygotsky, os sujeitos não são apenas ativos, mas interativos porque seus
conhecimentos se estabelecem a partir das relações intra e interpessoais.
 Os conceitos de Vygotsky percebidos no contexto educacional nos permitem perceber
a escola como o local onde há intencionalidade na intervenção pedagógica e que isso
promove o processo de ensino-aprendizagem. Nesse ínterim o professor interfere
objetiva, intencional e diretamente na zona de desenvolvimento proximal.
 O estudante é percebido como aquele que aprende os valores, linguagem e o
conhecimento que seu grupo social produz a partir da interação com o outro, no caso,
o professor.
 A aprendizagem é entendida como fundamental ao crescimento, adaptação e
desenvolvimento dos processos de interação social dos estudantes.
Concluiu que as funções psicológicas superiores tem origens sócio-culturais e
dependem de processos psicológicos elementares, de origem biológica. Nesse ínterim é
importante destacar que para Vygotsky a apropriação de conhecimentos pelos seres humanos
é decorrente da interseção entre aspectos da história pessoal e social, ou seja, há uma clara
influência da família e da genética ao mesmo tempo em que, sem dúvida, somos também
resultantes do contexto sócio-histórico em que vivemos.
Sua obra teve continuidade após sua prematura morte em 1934 a partir do trabalho de
dois abnegados pesquisadores que colaboravam e participavam de seus projetos, Alexei
Leontiev e Alexander Luria. Os três estudiosos, liderados por Vygotsky, reuniam-se pelo
menos duas vezes por semana por períodos de até 6 horas.
De todo o seu tempo dedicado à pesquisa surgiram diversas teorias de reconhecido
valor e profundidade apresentadas ao mundo a partir de obras como: Os princípios da
educação social das crianças surdas-mudas (1925), O consciente como problema da
psicologia do comportamento (1925), A pedologia de crianças em idade escolar (1928),
Estudos sobre a história do comportamento (1930), Lições de psicologia (1932), Pensamento
e Linguagem (1934), entre outras.
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CAPÍTULO I – JOGOS COMO RECURSOS PEDAGÓGICOS
1.1 A importância dos Jogos na aprendizagem
Segundo o seu referencial de estudo, Vygostsky (2003, p. 76), faz uma análise da
atividade criadora, pois, para ele, é exatamente a atividade criadora que faz a espécie humana
projetar-se no futuro, modificando o presente e transformando a realidade. A imaginação se
manifesta em todos os aspectos da vida cultural, possibilitando a criação artística, cientifica e
técnica.
Compreendendo-se desse modo a criatividade, torna-se fácil reconhecer a relevância
de estimular a capacidade criadora no âmbito da educação escolar e o seu papel para o
desenvolvimento da criança.
Considera Vygotsky, que “a criação consiste em fazer algo novo, é fácil chegar à
conclusão de que todos podemos criar um maior ou menor grau e que a criatividade é
acompanhante permanente do desenvolvimento infantil”.
Nesse sentido, analisamos vários elementos importantes, vivenciados pelo autor russo,
que ajudam a esclarecer a construção de seu campo conceitual. As relações de Vygostsky com
a vanguarda artística soviética e a convicção de que o estudo dos fundamentos das artes estão
vinculados a pontos abordados por teorias psicológicas levam-nos a compreender o lugar que
confere à criatividade e por que defendeu, para a criança em idade escolar, a oportunidade do
exercício pleno da atividade artística.
Mediante estudos deste mestre, entendemos que seu foco na aprendizagem das
crianças seria através de brincadeiras como os jogos, pois bem sabemos que brincar é uma
manifestação que reflete a expressão cultural das diversas sociedades.
Mesmo que o conceito de cultura tenha sofrido mudanças e mesmo que não haja um
acordo quanto ao que abrange, já que existem múltiplas concepções e visões, uma coisa não
mudou: brincar.
Algumas brincadeiras são universais, como brincar de roda ou jogar bola. Outras
podem ter o significado de rito de passagem, como se jogar do alto de uma árvore preso a um
cipó em sociedades tribais. Mas, em qualquer situação ou época, o desenvolvimento físico e
mental se faz presente e, mais do que isso, a criatividade e a diversão garantida.
Mas, brincar, mais do que diversão, é uma forma de interagir com a realidade,
principalmente para as crianças. É pela brincadeira que a criança recria, interpreta e estabelece
relações com o mundo em que vive.
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O brincar facilita o crescimento e, em conseqüência, promove a saúde. O não-brincar
em uma criança pode significar que ela esteja com algum problema, o que pode prejudicar seu
desenvolvimento. O mesmo pode-se dizer de adultos quando não brincam ou quando proíbem
ou inibem a brincadeira nas crianças, privando-as de momentos que são importantes em suas
vidas, e nas dos adultos também!
O histórico do jogo infantil tem como base fundamental toda experiência lúdica da
criança, e quando aqui falamos em jogo nos referimos a toda atividade recreativa que a
criança utiliza para brincar.
Em sua teoria Vygotsky também faz referência à imitação da realidade, porém o mais
importante é a imaginação da criança. Para Vygotsky a regra é a imaginação.
A brincadeira fornece, pois, ampla estrutura básica para mudanças da necessidade e
da consciência, criando um novo tipo de atitude em relação ao real. Nela aparecem a
ação na esfera imaginativa numa situação de faz-de-conta, a criação das intenções
voluntárias e a formação dos planos da vida real e das motivações volitivas,
constituindo-se, assim, no mais alto nível de desenvolvimento pré-escolar.
(Vygotsky, 1999, p.111).
Ao brincar a criança cria uma situação imaginária, com regras próprias. Vygotsky
considera que toda brincadeira ou jogo tem símbolo (imaginário) e regra. Inicialmente as
regras podem não estar explícitas, com a evolução da brincadeira estas passam a ser clara.
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CAPÍTULO II – ASPECTOS DO USO DO JOGO
2.1 Aspectos cognitivos do Jogo
Diante da constante evolução da humanidade, a criança também tem evoluído, e dessa
forma, necessita-se que sejam propostas condições para que ela se desenvolva de maneira que
os conhecimentos adquiridos sejam absorvidos, para que conseqüentemente, seu
desenvolvimento seja estabelecido de acordo com as necessidades educacionais vivenciadas.
Ao trabalhar com crianças da educação infantil, o educador possibilita que seus alunos
estabeleçam uma relação com o meio que os cerca, oportunizando o desenvolvimento, pois de
acordo com Vygotsky (1999, p.36) o desenvolvimento se dá entre o sujeito e o meio onde ele
está inserido, segundo este autor, o lúdico influencia enormemente o desenvolvimento da
criança, afirmando ainda que é através do jogo que a criança aprende a agir, sua curiosidade é
estimulada, adquire iniciativa e autoconfiança, proporciona o desenvolvimento da linguagem,
do pensamento e da concentração.
Vale ressaltar que o educador como profissional articulador do estímulo do
desenvolvimento educacional, priorize meios que propiciem o aprendizado, tendo como base
o desenvolvimento corporal, afetivo e cognitivo da criança, já que esses devem ocorrer
concomitantemente.
Os jogos podem ser empregados em uma variedade de propósitos dentro do contexto
de aprendizado. Um dos usos básicos muito importante é a possibilidade de
construir-se a autoconfiança. Outro é o incremento da motivação. [...] um método
eficaz que possibilita uma prática significativa daquilo que está sendo aprendido.
Até mesmo o mais simbólico dos jogos pode ser empregado para proporcionar
informações factuais, e praticar habilidades, conferindo destreza e competência.
(FERNANDES, 1995, p. 37).
Existe no uso dos jogos dois aspectos primordiais, um referente a afetividade expresso
durante a ação e outro referente aos aspectos cognitivos, no qual o jogo proporciona avanços
nos processos de aprendizagem e desenvolvimento.
Assim, enfatizaremos no momento o aspecto cognitivo do jogo, embasado no
referencial teórico de Vygotsky.
O desenvolvimento da espécie humana está baseado no aprendizado que, para
Vygotsky, sempre envolve interferência, direta ou indireta, de outros indivíduos e a
reconstrução pessoal da experiência e dos significados, Vygotsky dedicou-se a estudar o que
chamamos de funções psicológicas superiores ou processos mentais superiores, isto é, aquelas
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funções mentais mais complexas, típicas do ser humano, que envolvem o controle consciente
do comportamento, como percepção, atenção e memória, que não estão presentes no ser
humano desde o seu nascimento (as outras funções psíquicas elementares são aquelas que
representam os mecanismos mentais mais simples como as ações reflexas, as reações
automáticas ou os processos de associação simples).
Muitos de seus conceitos são importantes para o entendimento da aprendizagem
humana e conseqüentemente, muito contribuíram para a educação, enriquecendo as práticas
pedagógicas. Um dos conceitos cognitivos de Vygotsky é o conceito de mediação. Ele
substitui a idéia do simples estímulo-resposta, como proposta de aprendizagem, pela idéia de
um ato mais complexo, o ato mediado.
Quando uma criança exprime suas dificuldades para compreender, interpretar ou
manejar algum conhecimento novo, já não é apenas o professor que deve ser ativo e encontrar
a forma de motivar os alunos em relação ao problema, mas sim todos os integrantes do grupo
devem colaborar para que isso ocorra, através de jogos e atividades lúdicas.
Se o método é ativo, ou seja, ao aprender algo a criança participa de uma atividade
concreta, essa mesma atividade pode tornar evidente sua dificuldade, assim a compreensão
dos passos pode colaborar para a realização de uma nova atividade articulando aprendizagem
e desenvolvimento. À medida que a criança vai construindo os significados, pode usar as
palavras para nomeá-los.
Esforços para que a criança realize uma aprendizagem ativa, que resultem em
estruturas de pensamento e conseqüentemente, em instrumentos de assimilação do
conhecimento. As palavras terão em tal processo de aprendizagem, a função de fixar esse
conhecimento que será construído gradualmente pela criança à medida que experimentar suas
hipóteses. Embora a linguagem não seja um fator determinante do pensamento, se for
utilizada ao lado da maturação biológica e da experiência com objetos, constituirá um
importante elemento para a construção mental do real.
A mediação seria um processo de intervenção de um elemento intermediário numa
relação, ou seja, a relação deixa de ser direta e passa a ser mediada por esse elemento. A
mediação se caracteriza como a relação de homem com o mundo e com outros homens,
“é de fundamental importância justamente porque é através deste processo que as
funções psicológicas superiores, especificamente humanas, se desenvolvem.” Para
Vygotsky há dois elementos básicos responsáveis por essa mediação: “o
instrumento, que tem a função de regular as ações sobre os objetos e o signo, que
regula as ações sobre o psiquismo das pessoas.” (REGO, 2000, p.50).
11
As aprendizagens não acontecem de forma espontânea, mas dependem da interferência
do professor ou de algum colega, que sirva como mediador entre o conteúdo e a
aprendizagem.
A representação, por exemplo, permite a criança evocar o significado (objetos,
pessoas, acontecimentos, etc.) por intermédio de significantes (imagens, palavras, etc.). A
inteligência conceptual, característica das crianças nas séries iniciais do Ensino Fundamental,
possibilita o uso de signos ou palavras para referi-se a significados como conceitos de classe,
série, número de objetos.
O amadurecimento do ser humano depende da intervenção do ambiente, mas isso
acontecerá apenas em ambientes onde há momentos de significativos desenvolvimentos. Não
existe indivíduo desvinculado de seu meio cultural. As aprendizagens não acontecem de
forma espontânea, mas dependem da interferência do professor ou de algum colega, que sirva
como mediador entre o conteúdo e a aprendizagem.
Espaço potencial, espaço lúdico, relaxado, apresentando informações onde o educando
esteja pronto para recriá-las, apropriar de conteúdos relevantes de forma criativa, singular,
segundo suas concepções e necessidades.
Nesta direção Oliveira (1999, p.78) completa:
Na concepção que Vygotsky tem do ser humano, portanto, a inserção do indivíduo
num determinado ambiente cultural é parte essencial de sua própria constituição
enquanto pessoa. É impossível pensar o ser humano privado do contato com um
grupo cultural, que lhe fornecerá os instrumentos e signos que possibilitarão o
desenvolvimento das atividades humanas. O aprendizado, nesta concepção, é o
processo fundamental para a construção do ser humano. O desenvolvimento da
espécie está, pois, baseado no aprendizado que, para Vygotsky, sempre envolve a
interferência, direta ou indireta, de outros indivíduos e a reconstrução pessoal da
experiência e dos significados.
Neste momento analisamos o aspecto cognitivo do uso dos jogos em sala de aula e sua
importância para os processos de aprendizagem e desenvolvimento. Percebemos assim, que o
jogo atua na zona de desenvolvimento proximal realizando um intercâmbio entre a zona de
desenvolvimento real, a qual abrange as aprendizagens já consolidadas, à zona de
desenvolvimento potencial, que representa as aprendizagens que ainda vão se consolidar.
Nesta perspectiva, o jogo é fundamental para que os processos de desenvolvimento se
efetivem, resultando em saltos nos processos de aprendizagem e desenvolvimento, pois um
está relacionado e articulado ao outro.
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2.2 Aspectos afetivos do Jogo
Ao desenvolver em sala de aula um trabalho com jogos está não só desenvolvendo os
aspectos cognitivos das crianças, mas passando também a enfatizar os aspectos afetivos que
são resgatados durante um momento lúdico (jogos e brincadeiras).
Ao relatarmos sobre aprendizagem, desenvolvimento, processos de interação,
educação escolar não podemos deixar de mencionar sobre a vontade de aprender, o desejo em
buscar e realizar a construção do conhecimento o acreditamos que pode ser resgatado através
dos jogos em sua dimensão afetiva.
Sucesso e fracasso escolar estão diretamente relacionados com essa vontade de
aprender. A educação escolar deve objetivar manter seus alunos em situação de constantes
aprendizagens, mas muitas vezes a correria do dia-a-dia acaba por abafar esse processo e
torna o prazer pelo aprender cada vez mais complicado, deixando espaço para o fracasso na
aprendizagem.
No entendimento de Rego (2000, p.80), podemos analisar que:
É interessante observar que, para Vygotsky, o ensino sistemático não é o único fator
responsável por alargar horizontes na zona de desenvolvimento proximal. Ele
considera o brinquedo uma importante fonte de promoção de desenvolvimento.
Afirma que, apesar do brinquedo não ser o aspecto predominante da infância, ele
exerce uma enorme influencia no desenvolvimento infantil.
Para trabalhar com os jogos em todas as suas dimensões, tanto cognitivas quanto
afetivas, temos que traçar e definir os objetivos que se quer alcançar, para não ficar um
momento solto e sem significado dentro da sala de aula.
Estamos então, interligando a educação escolar com a apropriação de conhecimentos,
o que resultaria em processos de aprendizagem e desenvolvimento. Assim ao trabalharmos
com os aspectos afetivos que norteiam o processo de aprendizagem poderemos buscar através
de atividades significativas o sucesso escolar.
De acordo com Weiss (2000, p. 23) os “aspectos emocionais estariam ligados ao
desenvolvimento afetivo e sua relação com a construção do conhecimento e a expressão deste
através da produção escolar. Remete aos aspectos inconscientes envolvidos no ato de
aprender.”
Ao ensinar com carinho e respeito às individualidades e potencialidades estaremos
mais próximo de prevenir os fracassos escolares. É ampliar a saúde educacional, é dar sentido
ao que é realmente significante para quem quer aprender.
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Aos educadores envolvidos com o processo de aprendizagem cabe resgatar em nas
crianças o gosto pelo aprender, à vontade pela busca de conhecimento. Consideramos que
através de jogos isso se processaria mais facilmente. Observar a criança como um sujeito
pensante, orgânico, corporal, intelectual e simbólico é ponto de partida para uma nova
concepção de aprendizagem, aquela que realmente buscará o sucesso.
Investigar, pesquisar, propor e mediar situações de jogos em sala de aula ocasionaria
momentos de afetividade entre a criança e o aprender, tornando a aprendizagem formal mais
significativa e prazerosa.
Um aspecto da educação escolar que proporcionaria o sucesso escolar é o resgate do
jogo, proporcionando um ambiente de amor, nas relações entre criança, conhecimento, meio,
aprendizagem e educadores. Trabalhar com a dimensão lúdica é muito mais do que brincar
com as crianças é proporcionar espaços onde seus desejos e sentimentos, ou seja, sua
afetividade esteja presente, o que proporcionaria para a aprendizagem um significado ainda
maior.
Para Ronca e Terzi (1995, p. 96) o movimento lúdico proporciona compreender os
limites e as possibilidades da assimilação de novos conhecimentos pela criança. Esta situação
“desenvolve a função simbólica e a linguagem, e trabalha com os limites existentes entre o
imaginário e o concreto e vai conhecendo e interpretando os fenômenos a sua volta.”
Quem ensina e que aprende possuem as mesmas características, como: organismo,
inteligência, desejo e corpo, ambos se relacionando entre si e com a aprendizagem que se dá
na interação dos corpos com a aprendizagem.
A interação e os processos de construção dos conhecimentos adquiridos são
fundamentais para alcançarmos o significado da educação escolar para as crianças, levando ao
prazer pelo aprender quando se deparam ao domínio do estudado. E, o uso dos jogos pode
auxiliar todo esse processo, tanto no aspecto cognitivo quanto no aspecto afetivo.
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CAPÍTULO III – JOGOS NO ENSINO-APRENDIZAGEM
3.1 A importância do conhecimento, pelos professores, dos objetivos dos Jogos
A intervenção pedagógica enfatizada por Vygotsky, não pressupõe a educação
tradicional, em que o professor assume uma postura autoritária, interferindo e subestimando a
capacidade do aluno, que por sua vez assume o papel de mero espectador, ao contrário,
Vygotsky aposta na construção e re-elaboração que o aluno é capaz de fazer, quando convive
com seu grupo cultural.
A convivência com grupos de pessoas possibilita a criança a observar, comparar,
imitar, a fim de que ela mesma, a partir do outro, crie possibilidades de ampliar sua
capacidade e conseqüentemente expandir o seu desenvolvimento.
Partindo do princípio de que as crianças, principalmente as mais novas, possuem um
comportamento determinado pelas ações concretas, Vygotsky toma o brinquedo como um
elemento indispensável no desenvolvimento e aprendizagem infantil, isto porque, é nas
brincadeiras, mais precisamente aquelas de “faz de conta” que se possibilita elaborar uma
Zona de Desenvolvimento Proximal.
No magistério de Vigotsky (1999, p. 65), ao brincar, a criança transporta-se do mundo
real para o imaginário, e na representação da realidade, separa o objeto de seu significado,
exercício que estimula a criança livrar-se das operações concretas.
Adultos e crianças, professores e alunos podem conferir às palavras significado e
sentido diferentes. Desta forma, os sujeitos mais experientes, ao interagirem com as crianças,
estimulam-nas não só na apropriação da linguagem, como também na sua expansão,
possibilitando, assim, a elaboração de sentidos particularizados, que dependem da vivência
infantil e da obtenção de significados mais objetivos e abrangentes.
As interações sociais na perspectiva sócio-histórica permitem pensar um ser humano
em constante construção e transformação que, mediante as interações sociais, conquista e
confere novos significados e olhares para a vida em sociedade e os acordos grupais.
Assim, a interação de membros mais experientes com menos experientes de uma dada
cultura é parte essencial da abordagem vygotskiana, especialmente quando vinculada ao
conceito de internalização: é ao longo do processo interativo que as crianças aprendem como
abordar e resolver problemas variados.
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É por meio do processo de internalização que as crianças começam a desempenhar
suas atividades sob orientação e guia de outros e, paulatinamente, aprendem a resolvê-las de
forma independente.
Ao valorizarmos as interações, não estamos esquecendo que a sala de aula tem papéis que
precisam estar bem-definidos, mas também queremos reforçar que estes papéis não estão
rigidamente constituídos, ou seja, o professor vai, sim, ensinar o seu aluno, mas este poderá
aprender também com os colegas mais experientes ou que tiverem vivências diferenciadas.
Ao professor caberá, ao longo do processo, aglutinar todas as questões que apareceram e
sistematizá-las de forma a garantir o domínio de novos conhecimentos por todos os seus alunos.
A importância do jogo nesse processo educativo e social adquire importância ao pensar
no desenvolvimento e aprendizagem da criança como sujeito que se expressa e se insere no
mundo,criando, ampliando repertórios que alimentam a imaginação, que agem e retroagem
sobre a sociedade e sobre a cultura.
O jogo explora o pensamento divergente, mobiliza a busca de novas soluções, de
possibilidades alternativas, de caminhos não convencionais, e leva à construção de um
percurso de investigação da forma própria e única de expressão e criação que caracteriza cada
ser humano.
A análise dos dados permite considerar que, apesar de constituir-se em um processo
inovador, que exige tolerância para com as diferenças, mobilização para novas atualizações
por parte dos professores, um dos sentidos da educação inclusiva insere-se na perspectiva de
construção de uma sociedade que convive com a diversidade.
As imagens, as verbalizações dos professores participantes da pesquisa assinalam para
esse sentido.
3.2 Tipos de brincadeiras e jogos pedagógicos: aspectos no desenvolvimento infanto-
juvenil
Para Vygotsky, o desenvolvimento da atividade intelectual ocorre com a participação
ativa da linguagem. A partir do momento em que a realidade é substituída por signos e
símbolos, a vida mental se inicia e o indivíduo passa a modificar ativamente a situação
estimuladora. O homem reflete o mundo e toma consciência dele de diferentes modos a cada
etapa do desenvolvimento, baseando-se no significado das palavras. Para ele, a aprendizagem
e o desenvolvimento estão inter-relacionados desde o primeiro dia de vida da criança.
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Em situações de brincadeira, Vygotsky (1988, p. 54), acredita que os jogos são condutas
que imitam ações reais e não apenas ações sobre objetos ou uso de objetos substituídos. O ato
lúdico, para ele, começa aproximadamente entre os dois ou três anos através das relações
sociais, pois através de jogos de papéis a criança cria uma situação imaginária incorporando
elementos do contexto cultural adquiridos por meio da interação e da comunicação.
Os jogos educativos apresentados adiante são trabalhados de forma interdisciplinar no
dia-a-dia das salas de aula; onde essa metodologia foi experienciada e efetuou-se a interação
entre os conteúdos de língua portuguesa (palavras-geradoras) e de matemática (os algoritmos
e as operações matemáticas), pois como já vimos, é através destes jogos que as práticas desses
educadores vêm se confirmando como uma experiência de sucesso.
A seguir, descrevemos alguns tipos de jogos educativos, utilizados como recurso didático
no processo educativo da formação e alfabetização de educadores e educandos:
 Telefone sem fio: é uma brincadeira que pode ser usada por adultos quando estão em
fase de alfabetização. Trabalha a “palavra-geradora” (Método Paulo Freire).
 Caixa Curiosa: é uma caixa que tem dois cortes, um maior e um menor. Dentro dessa
caixa podemos colocar um objeto e trabalhar o seu nome como “palavra-geradora”,
em seguida suas famílias para a formação de novas palavras.
 Quebra-cabeça: é um jogo que trabalha sílabas, nomes ou palavras e pode se tornar
fácil ou difícil de acordo com seu grau de dificuldade, como: o número de peças que o
compõem, o tipo de recorte e os detalhes das peças.
 Dominós: tem a finalidade de trabalhar ou identificar sílabas e formar novas palavras.
Eles podem ser compostos de nome com nome; nome com sílabas iniciais; sílabas
com sílabas.
 Dados: podem servir para o alfabetizador trabalhar sílabas, letras, nomes e palavras,
aplicando dinâmicas na sala de aula.
 Trabalhando com sílabas móveis: é importante o manuseio de sílabas móveis na
formação e descoberta de novas palavras, antes de registrá-las. As atividades com
sílabas móveis poderão ser trabalhadas através dos seguintes jogos:
 Segredo: são envelopes que contenham palavras em sílabas para os alunos montarem.
Ele pode ser trabalhado individualmente ou em grupos, mas nenhum pode olhar as
palavras do outro. Em seguida, podem-se trabalhar as famílias das palavras formadas e
registrá-las.
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 Jogo do mico: é um jogo com 27 cartas de baralho, sendo que 26 cartas são sílabas
que formam palavras e 1 carta é com o desenho do mico. Este jogo é para ser jogado
em grupos de 3 jogadores e tem a finalidade de formar palavras com as sílabas que
estão nas cartas.
 Construindo palavras: são cartões com diversas sílabas que são distribuídas para os
grupos que forem formados. Quando os grupos formarem todas as palavras possíveis,
irão socializar com o restante da turma.
 Jogo das sílabas: são cartelas numeradas e fichas com sílabas que são distribuídas aos
educandos em grupo, no qual os alfabetizadores falam a sílaba e o número onde ela
deve ser colocada. É muito parecido com o bingo de sílabas. O grupo que completar
toda cartela ajudará aos demais concluir o jogo.
 Bingos: é um jogo no estilo do anterior, sendo que neste o alfabetizador entrega
somente as cartelas e sorteia as fichas. Pode-se trabalhar as sílabas no Bingo de
Sílabas, as letras no Bingo de Letras, as palavras no Bingo com Palavras e os nomes
no Bingo de Nomes.
 Jogo da memória: é um jogo que precisa ter pelo menos 20 pares de cartão e um
vocábulo que faça parte do cotidiano do aluno. É um recurso didático-pedagógico de
alto alcance na alfabetização, pois os alunos constroem a escrita e a leitura, utilizam o
seu esquema de assimilação, identificam as semelhanças entre letras, sílabas, palavras
e desenhos. Existem variados tipos de jogos da memória, como por exemplo: Desenho
x Palavra, Palavra x Palavra, Palavra x Letra inicial, Letra minúscula x Letra
maiúscula, Letra cursiva x Letra de imprensa, Nomes dos alunos x Nomes dos alunos,
Palavra x Nº de sílaba, entre outros.
 Rima com palavra-geradora: é um jogo que trabalha a rima através da palavra-
geradora, no qual o educador fala a palavra-geradora aos educandos e eles criam rima
para a palavra.
 Que nome é esse? – é uma dinâmica de jogo para ser utilizada na identificação dos
nomes, na qual o alfabetizador distribui cartões com as sílabas iniciais ou finais dos
próprios nomes dos educandos e pede para que eles procurem a(s) sílaba(s) restante(s)
dentro de uma caixa que contem todas as sílabas que faltam misturadas. Quem
conseguir formar o seu nome primeiro ajudará aos demais a formar os seus nomes
também. Em seguida, o educador trabalhará as famílias do nome e formará novas
palavras.
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CONCLUSÃO
Acreditamos que os jogos educativos constituem-se num recurso pedagógico de
reconhecido valor na construção da escrita e da leitura, além de propiciar o desenvolvimento
intelectual e social dos educandos.
O jogo em sala de aula é uma proposta pedagógica que propicia também a relação
entre parceiros e/ou grupos, e facilita o processo de alfabetização com palavras-geradoras. Os
jogos representam sempre uma situação-problema a ser resolvida pelos educandos, e a
solução deve ser construída por eles mesmos, de forma criadora e inteligente.
A brincadeira revela-se como um instrumento de extrema relevância para o
desenvolvimento da criança. Sendo uma atividade normal da fase infantil, merece atenção e
envolvimento. A infância é uma fase que marca a vida do individuo e o brincar nunca deve
ser deixado de lado, mas, pelo contrário, deve ser estimulado, já que é responsável pelo
auxílio nas evoluções psíquicas.
Os estudos de Vygotsky contribuíram muito para a construção de conhecimentos
acerca do desenvolvimento infantil e para as noções de brinquedo nesse desenvolvimento,
trabalhando com a noção de que o brincar satisfaz certas necessidades da criança e que essas
necessidades são distintas em cada fase da criança, pois vão mudando no decorrer de sua
maturação. Com isso, o brincar toma novos contornos, modificando-se, também, para atender
às novas necessidades que vão surgindo no contexto da criança.
O crescimento da criança vai evidenciar que, por meio do brinquedo, ela liberta seu
pensamento para que não fique estritamente ligado aos estímulos perceptuais.
Ela consegue imaginar uma situação, desligando-se do mundo material, concreto do
qual tem contato, desenvolvendo assim capacidade de se desprender do real significado do
objeto, (da madeira, por exemplo), podendo imaginá-lo como um boneco.
Nesse momento, o pedaço de madeira passa a ter outro sentido, indo além do seu
aspecto e significado concreto.
A relação entre o desenvolvimento, o brincar e a mediação são primordiais para a
construção de novas aprendizagens. Existe uma estreita vinculação entre as atividades lúdicas
e as funções psíquicas superiores, assim pode-se afirmar a sua relevância sócio-cognitiva para
a educação infantil.
19
As atividades lúdicas podem ser o melhor caminho de interação entre os adultos e as
crianças e entre as crianças entre si para gerar novas formas de desenvolvimento e de
reconstrução de conhecimento.
O educador também tem um papel importante neste processo quando procura
relacionar jogos com as necessidades dos educandos e com os objetivos e conteúdos didático-
pedagógicos que pretendem alcançar.
20
REFERÊNCIAS
FERNÁNDEZ, A. A inteligência aprisionada: abordagem psicopedagógica clínica da
criança e sua família. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 1990.
OLIVEIRA, M. K. Vygotsky: aprendizado e desenvolvimento, um processo sócio-histórico.
4.ed. São Paulo: Scipione, 1999.
REGO, T. C. Vygotsky: uma perspectiva histórico-cultural da educação. 10. ed. Petrópolis:
Vozes, 2000.
RONCA, P. A. C.; TERZI, C. A. A aula operatória e a construção do conhecimento. 9. ed.
São Paulo: Edesplan, 1995.
VYGOTSKY. Pensamento e linguagem. SP, Martins Fontes, 1988.
______. A formação social da mente. Martins Fontes, 1999.
______. Psicologia pedagógica. Porto Alegre: Artmed, 2003.
WEISS, M. L. Psicopedagogia clínica: uma visão diagnóstica dos problemas de
aprendizagem escolar. 7.ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2000.

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A importância dos jogos na aprendizagem segundo Vygotsky

  • 1. 4 INTRODUÇÃO Segundo a sua bibliografia, Lev Semenovich Vygotsky (2003, p. 115) é seu nome. Nasceu em Orsha, próximo a Mensk, capital de Bielarus, país da antiga União Soviética, em 17 de novembro de 1896. Grande parte de sua vida viveu com sua família em Gomel. Sua família era judia. Vygotsky era o segundo filho de oito irmãos. O pai trabalhava como chefe de departamento de um banco, além de ser representante de uma companhia de seguros. A mãe, apesar de ser professora, não trabalhava como tal. Foram breves 34 anos, mas mudaram a história da psicologia e da educação. Lev Vygotsky que durante muitos anos foi censurado em seu próprio país de origem, a Rússia, em virtude do regime político totalitário de Stálin, ganhou o mundo apenas a partir do final dos anos 1950 e início da década de 1960 quando algumas de suas obras foram traduzidas para o inglês, o francês e o alemão e chegaram às universidades americanas e européias. Sua carreira começou somente aos 21 anos e coincidiu com a Revolução Proletária que mudou os alicerces da Rússia. Deve-se inclusive destacar que entre os fundamentos do pensamento vygotskiano encontram-se as influências marxistas do materialismo histórico e dialético. E é com base no método dialético que o pesquisador compôs as pesquisas que realizou em sua tentativa de identificar as mudanças qualitativas do comportamento humano em seu desenvolvimento e relação com o contexto social. Além das claras influências marxistas em seu trabalho, Vygotsky teve contato com expoentes de muitas outras áreas do conhecimento como os literatos Tolstoy, Bunin e Dostoyevsky, os filósofos James, Hegel e Spinoza, especialistas em psicologia como Freud e Pavlov, poetas como Blok, Pushkin e Tyuchev. Sua formação e estudos primam pela riqueza e diversidade. Formou-se em Literatura e Direito pela Universidade de Moscou, estudou História e Filosofia na Universidade Popular de Shanyavskii e ainda fez cursos nas faculdades de Medicina de Kharkov e Moscou. Não complementou as formações em História e Filosofia, tampouco em Medicina, mas encontrou nesses cursos subsídios que precisava para desenvolver os estudos na área de psicologia. Fica clara em sua formação, realizada entre o final da década de 1910 e início dos anos 1920 que Vygotsky estruturava seu conhecimento dentro de uma proposta interdisciplinar. A riqueza de seu aprendizado e maturação intelectual permitia ao pesquisador desenvoltura e brilho em diversas áreas do conhecimento: da poesia a medicina, da filosofia a psicologia, das ciências sociais a lingüística, das artes a antropologia, da história a educação.
  • 2. 5 Sua base familiar, estruturada em Orsha, na Bielo-Rússia, era forte o suficiente para lhe proporcionar interesse e a dedicação aos estudos. Nascido em 17 de novembro de 1896, Lev Semenovich Vygotsky tinha mãe educadora e seu pai trabalhando num banco e numa companhia de seguros. Sua família, de origem judaica, era formada pelos pais e por mais sete irmãos. As restrições que se aplicavam a comunidade judaica na Rússia e em outras partes do mundo na virada do século XIX para o XX talvez expliquem a disposição de seus pais no sentido de dar aos filhos uma formação sólida para que seus futuros pudessem viver dias melhores. Entre suas principais teorias e idéias destacamos:  O processo de formação de conceitos remete às relações entre pensamento e linguagem, a internalização mediada pela cultura e ao papel da escola na transmissão de conhecimento.  As chamadas funções psicológicas superiores como a memória e a linguagem são construídas ao longo da história social do homem e de sua relação com o mundo. São provenientes, portanto, de ações conscientes e intencionais dependentes de processos de aprendizagem.  Vygotsky acreditava que o conhecimento do homem é mediado, ou seja, construído a partir de processos sócio históricos em que não há acesso direto aos objetos, mas a recortes da realidade constituídos a partir de sistemas simbólicos elaborados pela própria humanidade em sua história.  É a linguagem que funciona como sistema simbólico representativo ao fornecer conceitos, formas de organização do real e estruturar a mediação entre sujeito e objeto dos conhecimentos.  A cultura concede as pessoas os sistemas simbólicos representativos da realidade que permitem a compreensão e interpretação do mundo real.  São funções mentais o pensamento, a memória, a percepção e a atenção. O pensamento tem como origem a motivação, a emoção, o afeto, o impulso, o interesse e a necessidade.  Há dois níveis de desenvolvimento segundo Vygotsky, o real e o potencial. O primeiro refere-se ao que a criança consegue fazer por si própria enquanto o segundo concretiza-se a partir da capacidade de aprender com as outras pessoas.  A relação de distância entre o desenvolvimento real e o potencial cria as chamadas zonas de desenvolvimento proximal (que refere-se a potencialidade de aprender ou
  • 3. 6 ainda o vácuo que existe entre o que a criança pode aprender por si mesma e o que ela pode fazer a partir da orientação e intervenção de um adulto).  O desenvolvimento cognitivo é resultado do processo de internalização da interação social com os subsídios provenientes da cultura.  Segundo Vygotsky, os sujeitos não são apenas ativos, mas interativos porque seus conhecimentos se estabelecem a partir das relações intra e interpessoais.  Os conceitos de Vygotsky percebidos no contexto educacional nos permitem perceber a escola como o local onde há intencionalidade na intervenção pedagógica e que isso promove o processo de ensino-aprendizagem. Nesse ínterim o professor interfere objetiva, intencional e diretamente na zona de desenvolvimento proximal.  O estudante é percebido como aquele que aprende os valores, linguagem e o conhecimento que seu grupo social produz a partir da interação com o outro, no caso, o professor.  A aprendizagem é entendida como fundamental ao crescimento, adaptação e desenvolvimento dos processos de interação social dos estudantes. Concluiu que as funções psicológicas superiores tem origens sócio-culturais e dependem de processos psicológicos elementares, de origem biológica. Nesse ínterim é importante destacar que para Vygotsky a apropriação de conhecimentos pelos seres humanos é decorrente da interseção entre aspectos da história pessoal e social, ou seja, há uma clara influência da família e da genética ao mesmo tempo em que, sem dúvida, somos também resultantes do contexto sócio-histórico em que vivemos. Sua obra teve continuidade após sua prematura morte em 1934 a partir do trabalho de dois abnegados pesquisadores que colaboravam e participavam de seus projetos, Alexei Leontiev e Alexander Luria. Os três estudiosos, liderados por Vygotsky, reuniam-se pelo menos duas vezes por semana por períodos de até 6 horas. De todo o seu tempo dedicado à pesquisa surgiram diversas teorias de reconhecido valor e profundidade apresentadas ao mundo a partir de obras como: Os princípios da educação social das crianças surdas-mudas (1925), O consciente como problema da psicologia do comportamento (1925), A pedologia de crianças em idade escolar (1928), Estudos sobre a história do comportamento (1930), Lições de psicologia (1932), Pensamento e Linguagem (1934), entre outras.
  • 4. 7 CAPÍTULO I – JOGOS COMO RECURSOS PEDAGÓGICOS 1.1 A importância dos Jogos na aprendizagem Segundo o seu referencial de estudo, Vygostsky (2003, p. 76), faz uma análise da atividade criadora, pois, para ele, é exatamente a atividade criadora que faz a espécie humana projetar-se no futuro, modificando o presente e transformando a realidade. A imaginação se manifesta em todos os aspectos da vida cultural, possibilitando a criação artística, cientifica e técnica. Compreendendo-se desse modo a criatividade, torna-se fácil reconhecer a relevância de estimular a capacidade criadora no âmbito da educação escolar e o seu papel para o desenvolvimento da criança. Considera Vygotsky, que “a criação consiste em fazer algo novo, é fácil chegar à conclusão de que todos podemos criar um maior ou menor grau e que a criatividade é acompanhante permanente do desenvolvimento infantil”. Nesse sentido, analisamos vários elementos importantes, vivenciados pelo autor russo, que ajudam a esclarecer a construção de seu campo conceitual. As relações de Vygostsky com a vanguarda artística soviética e a convicção de que o estudo dos fundamentos das artes estão vinculados a pontos abordados por teorias psicológicas levam-nos a compreender o lugar que confere à criatividade e por que defendeu, para a criança em idade escolar, a oportunidade do exercício pleno da atividade artística. Mediante estudos deste mestre, entendemos que seu foco na aprendizagem das crianças seria através de brincadeiras como os jogos, pois bem sabemos que brincar é uma manifestação que reflete a expressão cultural das diversas sociedades. Mesmo que o conceito de cultura tenha sofrido mudanças e mesmo que não haja um acordo quanto ao que abrange, já que existem múltiplas concepções e visões, uma coisa não mudou: brincar. Algumas brincadeiras são universais, como brincar de roda ou jogar bola. Outras podem ter o significado de rito de passagem, como se jogar do alto de uma árvore preso a um cipó em sociedades tribais. Mas, em qualquer situação ou época, o desenvolvimento físico e mental se faz presente e, mais do que isso, a criatividade e a diversão garantida. Mas, brincar, mais do que diversão, é uma forma de interagir com a realidade, principalmente para as crianças. É pela brincadeira que a criança recria, interpreta e estabelece relações com o mundo em que vive.
  • 5. 8 O brincar facilita o crescimento e, em conseqüência, promove a saúde. O não-brincar em uma criança pode significar que ela esteja com algum problema, o que pode prejudicar seu desenvolvimento. O mesmo pode-se dizer de adultos quando não brincam ou quando proíbem ou inibem a brincadeira nas crianças, privando-as de momentos que são importantes em suas vidas, e nas dos adultos também! O histórico do jogo infantil tem como base fundamental toda experiência lúdica da criança, e quando aqui falamos em jogo nos referimos a toda atividade recreativa que a criança utiliza para brincar. Em sua teoria Vygotsky também faz referência à imitação da realidade, porém o mais importante é a imaginação da criança. Para Vygotsky a regra é a imaginação. A brincadeira fornece, pois, ampla estrutura básica para mudanças da necessidade e da consciência, criando um novo tipo de atitude em relação ao real. Nela aparecem a ação na esfera imaginativa numa situação de faz-de-conta, a criação das intenções voluntárias e a formação dos planos da vida real e das motivações volitivas, constituindo-se, assim, no mais alto nível de desenvolvimento pré-escolar. (Vygotsky, 1999, p.111). Ao brincar a criança cria uma situação imaginária, com regras próprias. Vygotsky considera que toda brincadeira ou jogo tem símbolo (imaginário) e regra. Inicialmente as regras podem não estar explícitas, com a evolução da brincadeira estas passam a ser clara.
  • 6. 9 CAPÍTULO II – ASPECTOS DO USO DO JOGO 2.1 Aspectos cognitivos do Jogo Diante da constante evolução da humanidade, a criança também tem evoluído, e dessa forma, necessita-se que sejam propostas condições para que ela se desenvolva de maneira que os conhecimentos adquiridos sejam absorvidos, para que conseqüentemente, seu desenvolvimento seja estabelecido de acordo com as necessidades educacionais vivenciadas. Ao trabalhar com crianças da educação infantil, o educador possibilita que seus alunos estabeleçam uma relação com o meio que os cerca, oportunizando o desenvolvimento, pois de acordo com Vygotsky (1999, p.36) o desenvolvimento se dá entre o sujeito e o meio onde ele está inserido, segundo este autor, o lúdico influencia enormemente o desenvolvimento da criança, afirmando ainda que é através do jogo que a criança aprende a agir, sua curiosidade é estimulada, adquire iniciativa e autoconfiança, proporciona o desenvolvimento da linguagem, do pensamento e da concentração. Vale ressaltar que o educador como profissional articulador do estímulo do desenvolvimento educacional, priorize meios que propiciem o aprendizado, tendo como base o desenvolvimento corporal, afetivo e cognitivo da criança, já que esses devem ocorrer concomitantemente. Os jogos podem ser empregados em uma variedade de propósitos dentro do contexto de aprendizado. Um dos usos básicos muito importante é a possibilidade de construir-se a autoconfiança. Outro é o incremento da motivação. [...] um método eficaz que possibilita uma prática significativa daquilo que está sendo aprendido. Até mesmo o mais simbólico dos jogos pode ser empregado para proporcionar informações factuais, e praticar habilidades, conferindo destreza e competência. (FERNANDES, 1995, p. 37). Existe no uso dos jogos dois aspectos primordiais, um referente a afetividade expresso durante a ação e outro referente aos aspectos cognitivos, no qual o jogo proporciona avanços nos processos de aprendizagem e desenvolvimento. Assim, enfatizaremos no momento o aspecto cognitivo do jogo, embasado no referencial teórico de Vygotsky. O desenvolvimento da espécie humana está baseado no aprendizado que, para Vygotsky, sempre envolve interferência, direta ou indireta, de outros indivíduos e a reconstrução pessoal da experiência e dos significados, Vygotsky dedicou-se a estudar o que chamamos de funções psicológicas superiores ou processos mentais superiores, isto é, aquelas
  • 7. 10 funções mentais mais complexas, típicas do ser humano, que envolvem o controle consciente do comportamento, como percepção, atenção e memória, que não estão presentes no ser humano desde o seu nascimento (as outras funções psíquicas elementares são aquelas que representam os mecanismos mentais mais simples como as ações reflexas, as reações automáticas ou os processos de associação simples). Muitos de seus conceitos são importantes para o entendimento da aprendizagem humana e conseqüentemente, muito contribuíram para a educação, enriquecendo as práticas pedagógicas. Um dos conceitos cognitivos de Vygotsky é o conceito de mediação. Ele substitui a idéia do simples estímulo-resposta, como proposta de aprendizagem, pela idéia de um ato mais complexo, o ato mediado. Quando uma criança exprime suas dificuldades para compreender, interpretar ou manejar algum conhecimento novo, já não é apenas o professor que deve ser ativo e encontrar a forma de motivar os alunos em relação ao problema, mas sim todos os integrantes do grupo devem colaborar para que isso ocorra, através de jogos e atividades lúdicas. Se o método é ativo, ou seja, ao aprender algo a criança participa de uma atividade concreta, essa mesma atividade pode tornar evidente sua dificuldade, assim a compreensão dos passos pode colaborar para a realização de uma nova atividade articulando aprendizagem e desenvolvimento. À medida que a criança vai construindo os significados, pode usar as palavras para nomeá-los. Esforços para que a criança realize uma aprendizagem ativa, que resultem em estruturas de pensamento e conseqüentemente, em instrumentos de assimilação do conhecimento. As palavras terão em tal processo de aprendizagem, a função de fixar esse conhecimento que será construído gradualmente pela criança à medida que experimentar suas hipóteses. Embora a linguagem não seja um fator determinante do pensamento, se for utilizada ao lado da maturação biológica e da experiência com objetos, constituirá um importante elemento para a construção mental do real. A mediação seria um processo de intervenção de um elemento intermediário numa relação, ou seja, a relação deixa de ser direta e passa a ser mediada por esse elemento. A mediação se caracteriza como a relação de homem com o mundo e com outros homens, “é de fundamental importância justamente porque é através deste processo que as funções psicológicas superiores, especificamente humanas, se desenvolvem.” Para Vygotsky há dois elementos básicos responsáveis por essa mediação: “o instrumento, que tem a função de regular as ações sobre os objetos e o signo, que regula as ações sobre o psiquismo das pessoas.” (REGO, 2000, p.50).
  • 8. 11 As aprendizagens não acontecem de forma espontânea, mas dependem da interferência do professor ou de algum colega, que sirva como mediador entre o conteúdo e a aprendizagem. A representação, por exemplo, permite a criança evocar o significado (objetos, pessoas, acontecimentos, etc.) por intermédio de significantes (imagens, palavras, etc.). A inteligência conceptual, característica das crianças nas séries iniciais do Ensino Fundamental, possibilita o uso de signos ou palavras para referi-se a significados como conceitos de classe, série, número de objetos. O amadurecimento do ser humano depende da intervenção do ambiente, mas isso acontecerá apenas em ambientes onde há momentos de significativos desenvolvimentos. Não existe indivíduo desvinculado de seu meio cultural. As aprendizagens não acontecem de forma espontânea, mas dependem da interferência do professor ou de algum colega, que sirva como mediador entre o conteúdo e a aprendizagem. Espaço potencial, espaço lúdico, relaxado, apresentando informações onde o educando esteja pronto para recriá-las, apropriar de conteúdos relevantes de forma criativa, singular, segundo suas concepções e necessidades. Nesta direção Oliveira (1999, p.78) completa: Na concepção que Vygotsky tem do ser humano, portanto, a inserção do indivíduo num determinado ambiente cultural é parte essencial de sua própria constituição enquanto pessoa. É impossível pensar o ser humano privado do contato com um grupo cultural, que lhe fornecerá os instrumentos e signos que possibilitarão o desenvolvimento das atividades humanas. O aprendizado, nesta concepção, é o processo fundamental para a construção do ser humano. O desenvolvimento da espécie está, pois, baseado no aprendizado que, para Vygotsky, sempre envolve a interferência, direta ou indireta, de outros indivíduos e a reconstrução pessoal da experiência e dos significados. Neste momento analisamos o aspecto cognitivo do uso dos jogos em sala de aula e sua importância para os processos de aprendizagem e desenvolvimento. Percebemos assim, que o jogo atua na zona de desenvolvimento proximal realizando um intercâmbio entre a zona de desenvolvimento real, a qual abrange as aprendizagens já consolidadas, à zona de desenvolvimento potencial, que representa as aprendizagens que ainda vão se consolidar. Nesta perspectiva, o jogo é fundamental para que os processos de desenvolvimento se efetivem, resultando em saltos nos processos de aprendizagem e desenvolvimento, pois um está relacionado e articulado ao outro.
  • 9. 12 2.2 Aspectos afetivos do Jogo Ao desenvolver em sala de aula um trabalho com jogos está não só desenvolvendo os aspectos cognitivos das crianças, mas passando também a enfatizar os aspectos afetivos que são resgatados durante um momento lúdico (jogos e brincadeiras). Ao relatarmos sobre aprendizagem, desenvolvimento, processos de interação, educação escolar não podemos deixar de mencionar sobre a vontade de aprender, o desejo em buscar e realizar a construção do conhecimento o acreditamos que pode ser resgatado através dos jogos em sua dimensão afetiva. Sucesso e fracasso escolar estão diretamente relacionados com essa vontade de aprender. A educação escolar deve objetivar manter seus alunos em situação de constantes aprendizagens, mas muitas vezes a correria do dia-a-dia acaba por abafar esse processo e torna o prazer pelo aprender cada vez mais complicado, deixando espaço para o fracasso na aprendizagem. No entendimento de Rego (2000, p.80), podemos analisar que: É interessante observar que, para Vygotsky, o ensino sistemático não é o único fator responsável por alargar horizontes na zona de desenvolvimento proximal. Ele considera o brinquedo uma importante fonte de promoção de desenvolvimento. Afirma que, apesar do brinquedo não ser o aspecto predominante da infância, ele exerce uma enorme influencia no desenvolvimento infantil. Para trabalhar com os jogos em todas as suas dimensões, tanto cognitivas quanto afetivas, temos que traçar e definir os objetivos que se quer alcançar, para não ficar um momento solto e sem significado dentro da sala de aula. Estamos então, interligando a educação escolar com a apropriação de conhecimentos, o que resultaria em processos de aprendizagem e desenvolvimento. Assim ao trabalharmos com os aspectos afetivos que norteiam o processo de aprendizagem poderemos buscar através de atividades significativas o sucesso escolar. De acordo com Weiss (2000, p. 23) os “aspectos emocionais estariam ligados ao desenvolvimento afetivo e sua relação com a construção do conhecimento e a expressão deste através da produção escolar. Remete aos aspectos inconscientes envolvidos no ato de aprender.” Ao ensinar com carinho e respeito às individualidades e potencialidades estaremos mais próximo de prevenir os fracassos escolares. É ampliar a saúde educacional, é dar sentido ao que é realmente significante para quem quer aprender.
  • 10. 13 Aos educadores envolvidos com o processo de aprendizagem cabe resgatar em nas crianças o gosto pelo aprender, à vontade pela busca de conhecimento. Consideramos que através de jogos isso se processaria mais facilmente. Observar a criança como um sujeito pensante, orgânico, corporal, intelectual e simbólico é ponto de partida para uma nova concepção de aprendizagem, aquela que realmente buscará o sucesso. Investigar, pesquisar, propor e mediar situações de jogos em sala de aula ocasionaria momentos de afetividade entre a criança e o aprender, tornando a aprendizagem formal mais significativa e prazerosa. Um aspecto da educação escolar que proporcionaria o sucesso escolar é o resgate do jogo, proporcionando um ambiente de amor, nas relações entre criança, conhecimento, meio, aprendizagem e educadores. Trabalhar com a dimensão lúdica é muito mais do que brincar com as crianças é proporcionar espaços onde seus desejos e sentimentos, ou seja, sua afetividade esteja presente, o que proporcionaria para a aprendizagem um significado ainda maior. Para Ronca e Terzi (1995, p. 96) o movimento lúdico proporciona compreender os limites e as possibilidades da assimilação de novos conhecimentos pela criança. Esta situação “desenvolve a função simbólica e a linguagem, e trabalha com os limites existentes entre o imaginário e o concreto e vai conhecendo e interpretando os fenômenos a sua volta.” Quem ensina e que aprende possuem as mesmas características, como: organismo, inteligência, desejo e corpo, ambos se relacionando entre si e com a aprendizagem que se dá na interação dos corpos com a aprendizagem. A interação e os processos de construção dos conhecimentos adquiridos são fundamentais para alcançarmos o significado da educação escolar para as crianças, levando ao prazer pelo aprender quando se deparam ao domínio do estudado. E, o uso dos jogos pode auxiliar todo esse processo, tanto no aspecto cognitivo quanto no aspecto afetivo.
  • 11. 14 CAPÍTULO III – JOGOS NO ENSINO-APRENDIZAGEM 3.1 A importância do conhecimento, pelos professores, dos objetivos dos Jogos A intervenção pedagógica enfatizada por Vygotsky, não pressupõe a educação tradicional, em que o professor assume uma postura autoritária, interferindo e subestimando a capacidade do aluno, que por sua vez assume o papel de mero espectador, ao contrário, Vygotsky aposta na construção e re-elaboração que o aluno é capaz de fazer, quando convive com seu grupo cultural. A convivência com grupos de pessoas possibilita a criança a observar, comparar, imitar, a fim de que ela mesma, a partir do outro, crie possibilidades de ampliar sua capacidade e conseqüentemente expandir o seu desenvolvimento. Partindo do princípio de que as crianças, principalmente as mais novas, possuem um comportamento determinado pelas ações concretas, Vygotsky toma o brinquedo como um elemento indispensável no desenvolvimento e aprendizagem infantil, isto porque, é nas brincadeiras, mais precisamente aquelas de “faz de conta” que se possibilita elaborar uma Zona de Desenvolvimento Proximal. No magistério de Vigotsky (1999, p. 65), ao brincar, a criança transporta-se do mundo real para o imaginário, e na representação da realidade, separa o objeto de seu significado, exercício que estimula a criança livrar-se das operações concretas. Adultos e crianças, professores e alunos podem conferir às palavras significado e sentido diferentes. Desta forma, os sujeitos mais experientes, ao interagirem com as crianças, estimulam-nas não só na apropriação da linguagem, como também na sua expansão, possibilitando, assim, a elaboração de sentidos particularizados, que dependem da vivência infantil e da obtenção de significados mais objetivos e abrangentes. As interações sociais na perspectiva sócio-histórica permitem pensar um ser humano em constante construção e transformação que, mediante as interações sociais, conquista e confere novos significados e olhares para a vida em sociedade e os acordos grupais. Assim, a interação de membros mais experientes com menos experientes de uma dada cultura é parte essencial da abordagem vygotskiana, especialmente quando vinculada ao conceito de internalização: é ao longo do processo interativo que as crianças aprendem como abordar e resolver problemas variados.
  • 12. 15 É por meio do processo de internalização que as crianças começam a desempenhar suas atividades sob orientação e guia de outros e, paulatinamente, aprendem a resolvê-las de forma independente. Ao valorizarmos as interações, não estamos esquecendo que a sala de aula tem papéis que precisam estar bem-definidos, mas também queremos reforçar que estes papéis não estão rigidamente constituídos, ou seja, o professor vai, sim, ensinar o seu aluno, mas este poderá aprender também com os colegas mais experientes ou que tiverem vivências diferenciadas. Ao professor caberá, ao longo do processo, aglutinar todas as questões que apareceram e sistematizá-las de forma a garantir o domínio de novos conhecimentos por todos os seus alunos. A importância do jogo nesse processo educativo e social adquire importância ao pensar no desenvolvimento e aprendizagem da criança como sujeito que se expressa e se insere no mundo,criando, ampliando repertórios que alimentam a imaginação, que agem e retroagem sobre a sociedade e sobre a cultura. O jogo explora o pensamento divergente, mobiliza a busca de novas soluções, de possibilidades alternativas, de caminhos não convencionais, e leva à construção de um percurso de investigação da forma própria e única de expressão e criação que caracteriza cada ser humano. A análise dos dados permite considerar que, apesar de constituir-se em um processo inovador, que exige tolerância para com as diferenças, mobilização para novas atualizações por parte dos professores, um dos sentidos da educação inclusiva insere-se na perspectiva de construção de uma sociedade que convive com a diversidade. As imagens, as verbalizações dos professores participantes da pesquisa assinalam para esse sentido. 3.2 Tipos de brincadeiras e jogos pedagógicos: aspectos no desenvolvimento infanto- juvenil Para Vygotsky, o desenvolvimento da atividade intelectual ocorre com a participação ativa da linguagem. A partir do momento em que a realidade é substituída por signos e símbolos, a vida mental se inicia e o indivíduo passa a modificar ativamente a situação estimuladora. O homem reflete o mundo e toma consciência dele de diferentes modos a cada etapa do desenvolvimento, baseando-se no significado das palavras. Para ele, a aprendizagem e o desenvolvimento estão inter-relacionados desde o primeiro dia de vida da criança.
  • 13. 16 Em situações de brincadeira, Vygotsky (1988, p. 54), acredita que os jogos são condutas que imitam ações reais e não apenas ações sobre objetos ou uso de objetos substituídos. O ato lúdico, para ele, começa aproximadamente entre os dois ou três anos através das relações sociais, pois através de jogos de papéis a criança cria uma situação imaginária incorporando elementos do contexto cultural adquiridos por meio da interação e da comunicação. Os jogos educativos apresentados adiante são trabalhados de forma interdisciplinar no dia-a-dia das salas de aula; onde essa metodologia foi experienciada e efetuou-se a interação entre os conteúdos de língua portuguesa (palavras-geradoras) e de matemática (os algoritmos e as operações matemáticas), pois como já vimos, é através destes jogos que as práticas desses educadores vêm se confirmando como uma experiência de sucesso. A seguir, descrevemos alguns tipos de jogos educativos, utilizados como recurso didático no processo educativo da formação e alfabetização de educadores e educandos:  Telefone sem fio: é uma brincadeira que pode ser usada por adultos quando estão em fase de alfabetização. Trabalha a “palavra-geradora” (Método Paulo Freire).  Caixa Curiosa: é uma caixa que tem dois cortes, um maior e um menor. Dentro dessa caixa podemos colocar um objeto e trabalhar o seu nome como “palavra-geradora”, em seguida suas famílias para a formação de novas palavras.  Quebra-cabeça: é um jogo que trabalha sílabas, nomes ou palavras e pode se tornar fácil ou difícil de acordo com seu grau de dificuldade, como: o número de peças que o compõem, o tipo de recorte e os detalhes das peças.  Dominós: tem a finalidade de trabalhar ou identificar sílabas e formar novas palavras. Eles podem ser compostos de nome com nome; nome com sílabas iniciais; sílabas com sílabas.  Dados: podem servir para o alfabetizador trabalhar sílabas, letras, nomes e palavras, aplicando dinâmicas na sala de aula.  Trabalhando com sílabas móveis: é importante o manuseio de sílabas móveis na formação e descoberta de novas palavras, antes de registrá-las. As atividades com sílabas móveis poderão ser trabalhadas através dos seguintes jogos:  Segredo: são envelopes que contenham palavras em sílabas para os alunos montarem. Ele pode ser trabalhado individualmente ou em grupos, mas nenhum pode olhar as palavras do outro. Em seguida, podem-se trabalhar as famílias das palavras formadas e registrá-las.
  • 14. 17  Jogo do mico: é um jogo com 27 cartas de baralho, sendo que 26 cartas são sílabas que formam palavras e 1 carta é com o desenho do mico. Este jogo é para ser jogado em grupos de 3 jogadores e tem a finalidade de formar palavras com as sílabas que estão nas cartas.  Construindo palavras: são cartões com diversas sílabas que são distribuídas para os grupos que forem formados. Quando os grupos formarem todas as palavras possíveis, irão socializar com o restante da turma.  Jogo das sílabas: são cartelas numeradas e fichas com sílabas que são distribuídas aos educandos em grupo, no qual os alfabetizadores falam a sílaba e o número onde ela deve ser colocada. É muito parecido com o bingo de sílabas. O grupo que completar toda cartela ajudará aos demais concluir o jogo.  Bingos: é um jogo no estilo do anterior, sendo que neste o alfabetizador entrega somente as cartelas e sorteia as fichas. Pode-se trabalhar as sílabas no Bingo de Sílabas, as letras no Bingo de Letras, as palavras no Bingo com Palavras e os nomes no Bingo de Nomes.  Jogo da memória: é um jogo que precisa ter pelo menos 20 pares de cartão e um vocábulo que faça parte do cotidiano do aluno. É um recurso didático-pedagógico de alto alcance na alfabetização, pois os alunos constroem a escrita e a leitura, utilizam o seu esquema de assimilação, identificam as semelhanças entre letras, sílabas, palavras e desenhos. Existem variados tipos de jogos da memória, como por exemplo: Desenho x Palavra, Palavra x Palavra, Palavra x Letra inicial, Letra minúscula x Letra maiúscula, Letra cursiva x Letra de imprensa, Nomes dos alunos x Nomes dos alunos, Palavra x Nº de sílaba, entre outros.  Rima com palavra-geradora: é um jogo que trabalha a rima através da palavra- geradora, no qual o educador fala a palavra-geradora aos educandos e eles criam rima para a palavra.  Que nome é esse? – é uma dinâmica de jogo para ser utilizada na identificação dos nomes, na qual o alfabetizador distribui cartões com as sílabas iniciais ou finais dos próprios nomes dos educandos e pede para que eles procurem a(s) sílaba(s) restante(s) dentro de uma caixa que contem todas as sílabas que faltam misturadas. Quem conseguir formar o seu nome primeiro ajudará aos demais a formar os seus nomes também. Em seguida, o educador trabalhará as famílias do nome e formará novas palavras.
  • 15. 18 CONCLUSÃO Acreditamos que os jogos educativos constituem-se num recurso pedagógico de reconhecido valor na construção da escrita e da leitura, além de propiciar o desenvolvimento intelectual e social dos educandos. O jogo em sala de aula é uma proposta pedagógica que propicia também a relação entre parceiros e/ou grupos, e facilita o processo de alfabetização com palavras-geradoras. Os jogos representam sempre uma situação-problema a ser resolvida pelos educandos, e a solução deve ser construída por eles mesmos, de forma criadora e inteligente. A brincadeira revela-se como um instrumento de extrema relevância para o desenvolvimento da criança. Sendo uma atividade normal da fase infantil, merece atenção e envolvimento. A infância é uma fase que marca a vida do individuo e o brincar nunca deve ser deixado de lado, mas, pelo contrário, deve ser estimulado, já que é responsável pelo auxílio nas evoluções psíquicas. Os estudos de Vygotsky contribuíram muito para a construção de conhecimentos acerca do desenvolvimento infantil e para as noções de brinquedo nesse desenvolvimento, trabalhando com a noção de que o brincar satisfaz certas necessidades da criança e que essas necessidades são distintas em cada fase da criança, pois vão mudando no decorrer de sua maturação. Com isso, o brincar toma novos contornos, modificando-se, também, para atender às novas necessidades que vão surgindo no contexto da criança. O crescimento da criança vai evidenciar que, por meio do brinquedo, ela liberta seu pensamento para que não fique estritamente ligado aos estímulos perceptuais. Ela consegue imaginar uma situação, desligando-se do mundo material, concreto do qual tem contato, desenvolvendo assim capacidade de se desprender do real significado do objeto, (da madeira, por exemplo), podendo imaginá-lo como um boneco. Nesse momento, o pedaço de madeira passa a ter outro sentido, indo além do seu aspecto e significado concreto. A relação entre o desenvolvimento, o brincar e a mediação são primordiais para a construção de novas aprendizagens. Existe uma estreita vinculação entre as atividades lúdicas e as funções psíquicas superiores, assim pode-se afirmar a sua relevância sócio-cognitiva para a educação infantil.
  • 16. 19 As atividades lúdicas podem ser o melhor caminho de interação entre os adultos e as crianças e entre as crianças entre si para gerar novas formas de desenvolvimento e de reconstrução de conhecimento. O educador também tem um papel importante neste processo quando procura relacionar jogos com as necessidades dos educandos e com os objetivos e conteúdos didático- pedagógicos que pretendem alcançar.
  • 17. 20 REFERÊNCIAS FERNÁNDEZ, A. A inteligência aprisionada: abordagem psicopedagógica clínica da criança e sua família. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 1990. OLIVEIRA, M. K. Vygotsky: aprendizado e desenvolvimento, um processo sócio-histórico. 4.ed. São Paulo: Scipione, 1999. REGO, T. C. Vygotsky: uma perspectiva histórico-cultural da educação. 10. ed. Petrópolis: Vozes, 2000. RONCA, P. A. C.; TERZI, C. A. A aula operatória e a construção do conhecimento. 9. ed. São Paulo: Edesplan, 1995. VYGOTSKY. Pensamento e linguagem. SP, Martins Fontes, 1988. ______. A formação social da mente. Martins Fontes, 1999. ______. Psicologia pedagógica. Porto Alegre: Artmed, 2003. WEISS, M. L. Psicopedagogia clínica: uma visão diagnóstica dos problemas de aprendizagem escolar. 7.ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2000.