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Ficha de Avaliação LP_8
Nome: ________________________________________________________ Data: _____________
GRUPO I – PARTE A
O Tombo da Lua
Mário de Carvalho, Caso do Beco das Sardinheiras, Lisboa, 1ªed., Contra-Regra, 1982
1
Uma ocasião, quando desapareceu a Lua, eu estava lá e sei contar tudo. Não me lembro da idade
que então tinha e já na altura me não lembrava. Certo é que a noite estava muito quente e
repassada de azul, assim de tinta– sóe dizer-se– e a Lua tinha-se quieta, redonda e branca,
brilhante como lhe competia. Provavelmente, o Zé Metade cantava o fado, postado à soleira da
5
porta, enquanto acabava um saquinho de tremoços. O Zé Metade é assim chamado desde que lhe
aconteceu aquela infelicidade: quis separar o Manecas Canteiro do Mota Cavaleiro quando eles se
envolveram à facada na Esquina dos Eléctricos, por causa de uma questão, segundo uns política,
segundo outros de saias. Ambos usavam grandes navalhas sevilhanas e o Zé caiu-lhes
mesmo a meio dos volteios. Ali ficou cortado em dois, sem conserto, busto para um lado, o resto
10
para o outro. Daí por diante ficou conhecido por Zé Metade, arrasta-se num caixote de madeira
com rodinhas e deu-lhe para cantar todas as manhãs um fado melancólico e muito sentido: Ai a
profunda desgraça! Em que me viste ó’nhamãiiii...
Pois nesta altura, com tudo assim quieto e a fazer olho para dormir, que o Andrade da Mula 1 se
chegou à janela e disse: “lá a calari...” e depois remirou em volta a ver se alguém lhe ligava, o
15
que não aconteceu. Após, olhou para o Céu e bocejou um destes bocejos do tamanho de uma
casa, escancarando muito a bocarra que era considerada uma das mais competitivas 2 da zona
oriental. E então aconteceu aquilo da Lua. Deslocou-se um bocadinho, assim como quem se
desequilibrou, entrou a descer devagar, ressaltou numa ponta de nuvem que por ali pairava feita
parva, e foi enfiar-se inteirinha na boca do Andrade que só fez “gulp” e esbugalhou os olhos muito.
20
No sítio da Lua, lá no astro, ficou um vinco esbranquiçado como dobra em papel de seda que
logo se apagou e o céu tornou-se bem liso e escorreito. O Beco ficou um tudo ou nada mais escuro
e um gato passou a correr, pardo, da cor dos outros. Diz o Zé Metade, no fim de uma estrofe: -
Ina cum caraças! Vai o Andrade lá de cima e atira o maior arroto que jamais se ouviu naquele
Beco. Era o Zé metade a berrar para dentro “ ’nha mãe, venha cá, senhora, c’o Andrade engoliu
25
a Lua” e o Andrade a olhar para nós, limpando a boca com as costas da mão, um ar azamboado.
Seguiu-se o alvoroço costumeiro sempre que havia novidade. Ia um corrupio de pessoal na rua a
falar alto e um ror de gente em casa do Andrade que estava sentado numa cadeira, pernas muito
afastadas, pedindo muita água e queixando-se que sentia a barriga um bocado pesada.
- Ele não teve culpa, ‘tadinho, que ela é que se lhe veio enfiar pela boca dentro – comentava a
30
mulher do Andrade, torcendo a ponta do avental. - Mas foi ele que a desafiou...– gritava a mãe
do Zé dando punhadas de uma mão na palma da outra, - Pôr-se ali na janela aos bocejos, olha a
farronca! Agora vem esta a querer baralhar género humano com Manuel Germano. O meu Zé viu
tudo, óvistes? Não tardou, estava o presidente da Junta, muito hirto, no seu casaco de pijama com
flores: - Isto o meu amigo o que fazia melhor era regurgitar a Lua, ou o Beco ainda fica mal visto–
35
observou com gravidade e voz de papo. E o Andrade, moita, ali embasbacado, com os olhos no
vago. Deram-lhe azeite para o homem vomitar, mas nada. Limitou-se a produzir uns sons equívocos
e a esboçar um ar de enjoada repugnância.- O pior é que se ela sai pelo outro lado nos parte a
sanita nova – abespinhava-se a filha do Andrade, toda de mão na anca – Que coisa mais
escanifobética...- É levarem-no já para o hospital – gritava o Zé Metade da rua, ansioso por se ver
40
acompanhado na sua desgraça de vítima do escalpelo cirúrgico. Mas o presidente da Junta
considerou: Então depois a Lua onde é que apunham? Quem lhes garantia
que ela voltava ao sítio? E se os médicos quisessem ficar com ela lá no hospital e a prantassem
dentro dum frasco com álcool? Que é que aquela gente ganhava com isso? Hã? E em faltando a
Lua, quais eram os inconvenientes? Hã? - Acabam-se as marés – disse o Paulinho Marujo. - Coisa de
45
pouca monta – afirmou uma mulher – As marés nunca deram de comer a ninguém. E quanto à
luz, depois da electricidade...- Então como é que o meu amigo se sente?– perguntava o presidente
ao Andrade.- Menos mal, muito obrigado. Vai um pedacinho melhor...- Então ficamos antes assim
– recomendou presidente – Vossemecê agora toma um bicarbonatozinho, um leitinho, e ala para a
cama que amanhã é dia de trabalho. E vocês todos, andor, para casa, em ordem, e não se pensa
50
mais em tal semelhante! E assim foram fazendo, aos poucos e poucos. No dia seguinte, a
Humanidade toda estranhou muito o desaparecimento da Lua e deu-se a grandes especulações.
Era com algum orgulho que a população do Beco via passar o Andrade. Sempre gaiteiro, apenas
um pouco mais gordo.
Sóe dizer-se: é comum dizer-se
Volteios: voltas
Escorreito: habitual
Hirto: rígido
Costumeiro: habitual
Regurgitar: fazer volta à boca
Repugnância: nojo
Escalpelo: instrumento cortante
Gaiteiro: alegre, folião
1. Observa o início do conto e diz:
1.1. O que o narrador se propõe contar;
1.2. O modo como se posiciona em relação ao que vai contar.
2. Menciona o episódio que entretanto resolve contar.
2.1. Refere a importância dessa ação secundaria para a ação principal do conto.
3. Indica a situação que dá inicio aos acontecimentos principais.
4. Procura no texto informações sobre o espaço onde decorre a ação.
5. Identifica a personagem que vem dar solução a este estranho caso e como o faz.
6. Seleciona as afirmações que se aplicam às personagens do conto.
a. O leitor conhece bem a vida das personagens;
b. As personagens usam linguagem popular, que está de acordo com o meio em que
vivem;
c. As personagens modificam o seu comportamento ao longo do tempo;
d. Os comportamentos das personagens, que funcionam como caricaturas, permitem ao
leitor perceber o meio social em que decorre a ação;
e. Existe uma familiaridade própria de um ambiente de bairro, de que são exemplos as
alcunhas e o modo como as personagens falam entre si;
f. Os sentimentos e as emoções das personagens são apresentados de forma muito
desenvolvida;
g. A designação de personagens pela função social e/ou politica, e não peo nome
próprio, está presente neste texto.
GRUPO II
1. Classifica os tipos de sujeito presentes nas frases seguintes:
a. Anoitecia quando se deu o desaparecimento da lua.
b. O Zé Metade cantava fado.
c. Há sempre fado no Beco.
d. O Manecas Canteiro e o Mota Cavaleiro envolveram-se à facada na esquina dos
Elétricos.
e. Diz-se que a causa da briga reside numa questão politica ou de saias.
f. Continuam inimigos até hoje.
2. Refere a função sintática dos constituintes sublinhados nas frases seguintes:
a. O Andrade queria dormir.
b. Zé Metade, pára de cantar o teu fado melancólico e sentido.
c. O bocejo do Andrade tinha o tamanho duma casa devido à sua bocarra.
d. O narrador e o zé Metade, estupefactos, ouviram o arroto do Andrade, após ter
engolido a lua.
3. Indica ainda a função sintática dos elementos sublinhados nas frases que se seguem:
a. O Andrade pedia água.
b. Deram-lhe azeite para vomitar, mas nada.
c. O Andrade estava enjoado.
d. Levem-no ao hospital.
e. A população acatou os conselhos do Presidente da Junta paulatinamente.
f. Indubitavelmente, a Humanidade estranhou o desaparecimento da lua e deu-se a
grandes especulações.
g. O Andrade era venerado pela população do Beco.
GRUPO III
1. Na tua rua ou perto do lugar onde vives certamente já terá acontecido algo divertido ou insólito
que tenha ficado na tua memória.
1.1. Redige um texto correto e bem estruturado, entre 150 e 200 palavras, no qual relatas a
história do que aconteceu.

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Ficha de avaliação_ texto narrativo

  • 1. Saber + Ficha de Avaliação LP_8 Nome: ________________________________________________________ Data: _____________ GRUPO I – PARTE A O Tombo da Lua Mário de Carvalho, Caso do Beco das Sardinheiras, Lisboa, 1ªed., Contra-Regra, 1982 1 Uma ocasião, quando desapareceu a Lua, eu estava lá e sei contar tudo. Não me lembro da idade que então tinha e já na altura me não lembrava. Certo é que a noite estava muito quente e repassada de azul, assim de tinta– sóe dizer-se– e a Lua tinha-se quieta, redonda e branca, brilhante como lhe competia. Provavelmente, o Zé Metade cantava o fado, postado à soleira da 5 porta, enquanto acabava um saquinho de tremoços. O Zé Metade é assim chamado desde que lhe aconteceu aquela infelicidade: quis separar o Manecas Canteiro do Mota Cavaleiro quando eles se envolveram à facada na Esquina dos Eléctricos, por causa de uma questão, segundo uns política, segundo outros de saias. Ambos usavam grandes navalhas sevilhanas e o Zé caiu-lhes mesmo a meio dos volteios. Ali ficou cortado em dois, sem conserto, busto para um lado, o resto 10 para o outro. Daí por diante ficou conhecido por Zé Metade, arrasta-se num caixote de madeira com rodinhas e deu-lhe para cantar todas as manhãs um fado melancólico e muito sentido: Ai a profunda desgraça! Em que me viste ó’nhamãiiii... Pois nesta altura, com tudo assim quieto e a fazer olho para dormir, que o Andrade da Mula 1 se chegou à janela e disse: “lá a calari...” e depois remirou em volta a ver se alguém lhe ligava, o 15 que não aconteceu. Após, olhou para o Céu e bocejou um destes bocejos do tamanho de uma casa, escancarando muito a bocarra que era considerada uma das mais competitivas 2 da zona oriental. E então aconteceu aquilo da Lua. Deslocou-se um bocadinho, assim como quem se desequilibrou, entrou a descer devagar, ressaltou numa ponta de nuvem que por ali pairava feita parva, e foi enfiar-se inteirinha na boca do Andrade que só fez “gulp” e esbugalhou os olhos muito. 20 No sítio da Lua, lá no astro, ficou um vinco esbranquiçado como dobra em papel de seda que logo se apagou e o céu tornou-se bem liso e escorreito. O Beco ficou um tudo ou nada mais escuro e um gato passou a correr, pardo, da cor dos outros. Diz o Zé Metade, no fim de uma estrofe: - Ina cum caraças! Vai o Andrade lá de cima e atira o maior arroto que jamais se ouviu naquele Beco. Era o Zé metade a berrar para dentro “ ’nha mãe, venha cá, senhora, c’o Andrade engoliu 25 a Lua” e o Andrade a olhar para nós, limpando a boca com as costas da mão, um ar azamboado. Seguiu-se o alvoroço costumeiro sempre que havia novidade. Ia um corrupio de pessoal na rua a falar alto e um ror de gente em casa do Andrade que estava sentado numa cadeira, pernas muito
  • 2. afastadas, pedindo muita água e queixando-se que sentia a barriga um bocado pesada. - Ele não teve culpa, ‘tadinho, que ela é que se lhe veio enfiar pela boca dentro – comentava a 30 mulher do Andrade, torcendo a ponta do avental. - Mas foi ele que a desafiou...– gritava a mãe do Zé dando punhadas de uma mão na palma da outra, - Pôr-se ali na janela aos bocejos, olha a farronca! Agora vem esta a querer baralhar género humano com Manuel Germano. O meu Zé viu tudo, óvistes? Não tardou, estava o presidente da Junta, muito hirto, no seu casaco de pijama com flores: - Isto o meu amigo o que fazia melhor era regurgitar a Lua, ou o Beco ainda fica mal visto– 35 observou com gravidade e voz de papo. E o Andrade, moita, ali embasbacado, com os olhos no vago. Deram-lhe azeite para o homem vomitar, mas nada. Limitou-se a produzir uns sons equívocos e a esboçar um ar de enjoada repugnância.- O pior é que se ela sai pelo outro lado nos parte a sanita nova – abespinhava-se a filha do Andrade, toda de mão na anca – Que coisa mais escanifobética...- É levarem-no já para o hospital – gritava o Zé Metade da rua, ansioso por se ver 40 acompanhado na sua desgraça de vítima do escalpelo cirúrgico. Mas o presidente da Junta considerou: Então depois a Lua onde é que apunham? Quem lhes garantia que ela voltava ao sítio? E se os médicos quisessem ficar com ela lá no hospital e a prantassem dentro dum frasco com álcool? Que é que aquela gente ganhava com isso? Hã? E em faltando a Lua, quais eram os inconvenientes? Hã? - Acabam-se as marés – disse o Paulinho Marujo. - Coisa de 45 pouca monta – afirmou uma mulher – As marés nunca deram de comer a ninguém. E quanto à luz, depois da electricidade...- Então como é que o meu amigo se sente?– perguntava o presidente ao Andrade.- Menos mal, muito obrigado. Vai um pedacinho melhor...- Então ficamos antes assim – recomendou presidente – Vossemecê agora toma um bicarbonatozinho, um leitinho, e ala para a cama que amanhã é dia de trabalho. E vocês todos, andor, para casa, em ordem, e não se pensa 50 mais em tal semelhante! E assim foram fazendo, aos poucos e poucos. No dia seguinte, a Humanidade toda estranhou muito o desaparecimento da Lua e deu-se a grandes especulações. Era com algum orgulho que a população do Beco via passar o Andrade. Sempre gaiteiro, apenas um pouco mais gordo. Sóe dizer-se: é comum dizer-se Volteios: voltas Escorreito: habitual Hirto: rígido Costumeiro: habitual Regurgitar: fazer volta à boca Repugnância: nojo Escalpelo: instrumento cortante Gaiteiro: alegre, folião
  • 3. 1. Observa o início do conto e diz: 1.1. O que o narrador se propõe contar; 1.2. O modo como se posiciona em relação ao que vai contar. 2. Menciona o episódio que entretanto resolve contar. 2.1. Refere a importância dessa ação secundaria para a ação principal do conto. 3. Indica a situação que dá inicio aos acontecimentos principais. 4. Procura no texto informações sobre o espaço onde decorre a ação. 5. Identifica a personagem que vem dar solução a este estranho caso e como o faz. 6. Seleciona as afirmações que se aplicam às personagens do conto. a. O leitor conhece bem a vida das personagens; b. As personagens usam linguagem popular, que está de acordo com o meio em que vivem; c. As personagens modificam o seu comportamento ao longo do tempo; d. Os comportamentos das personagens, que funcionam como caricaturas, permitem ao leitor perceber o meio social em que decorre a ação; e. Existe uma familiaridade própria de um ambiente de bairro, de que são exemplos as alcunhas e o modo como as personagens falam entre si; f. Os sentimentos e as emoções das personagens são apresentados de forma muito desenvolvida; g. A designação de personagens pela função social e/ou politica, e não peo nome próprio, está presente neste texto. GRUPO II 1. Classifica os tipos de sujeito presentes nas frases seguintes: a. Anoitecia quando se deu o desaparecimento da lua. b. O Zé Metade cantava fado. c. Há sempre fado no Beco. d. O Manecas Canteiro e o Mota Cavaleiro envolveram-se à facada na esquina dos Elétricos. e. Diz-se que a causa da briga reside numa questão politica ou de saias. f. Continuam inimigos até hoje. 2. Refere a função sintática dos constituintes sublinhados nas frases seguintes: a. O Andrade queria dormir. b. Zé Metade, pára de cantar o teu fado melancólico e sentido. c. O bocejo do Andrade tinha o tamanho duma casa devido à sua bocarra. d. O narrador e o zé Metade, estupefactos, ouviram o arroto do Andrade, após ter engolido a lua.
  • 4. 3. Indica ainda a função sintática dos elementos sublinhados nas frases que se seguem: a. O Andrade pedia água. b. Deram-lhe azeite para vomitar, mas nada. c. O Andrade estava enjoado. d. Levem-no ao hospital. e. A população acatou os conselhos do Presidente da Junta paulatinamente. f. Indubitavelmente, a Humanidade estranhou o desaparecimento da lua e deu-se a grandes especulações. g. O Andrade era venerado pela população do Beco. GRUPO III 1. Na tua rua ou perto do lugar onde vives certamente já terá acontecido algo divertido ou insólito que tenha ficado na tua memória. 1.1. Redige um texto correto e bem estruturado, entre 150 e 200 palavras, no qual relatas a história do que aconteceu.