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Sonolência Excessiva Diurna
Rafael
Brandes
Lourenço
• Médico do Sono
pela FMUSP
• Médico do
ambulatório do Sono
do Hospital Estadual
Mário Covas - FMABC
Objetivos
• Resumo dos principais transtornos
• Revisão sobre seu tratamento
Sonolência Excessiva Diurna
Sonolência: Estado fisiológico ou impulso que
promove sono, sendo este revertido ou satisfeito
através de alcançar sono adequado.
Sonolência Excessiva Diurna
Redução da capacidade de se manter acordado durante
o dia, pontuada por episódios de sono em horários
inapropriados (Dauvilliers, 2005)
→ Função biológica normal → no período de sono
habitual. → Sonolência “anormal”: fora do período de
sono habitual.
Sonolência Excessiva Diurna
• Incapacidade de permanecer alerta e
acordado durante a maioria dos momentos do
dia, resultando em lapsos não intencionais de
sono (ICSD III)
• Diferente de fatigabilidade/falta de energia
Consequências da SED
• Sonolência excessiva (SE) é uma condição que pode
ter consequências graves
• SE está implicada em cerca de 16% de acidentes
veículos motorizados na Inglaterra
• Cerca de metade dos acidentes de trabalho e 1/4
dos acidentes domésticos seriam causados por SE
Consequências da SED
• Queda de produtividade
• Redução de atenção e desempenho cognitivo
• Acidentes automotivos
• Acidentes de trabalho
• Piora da qualidade de vida
• Estigma Social
• Aumento da mortalidade (RR 1.73)
• Prejuízo acadêmico
Fatores determinantes
de SED
• Redução da quantidade/qualidade do sono noturno
• Faixa etária
• Ritmo circadiano
• Substâncias Psicoativas/Medicamentos
• Doenças clínicas, primárias do sono, psiquiátricas e
neurológicas
Classes de Medicamentos
relacionados a SED
• Anticonvulsivantes
• Antieméticos e
Antiespasmódicos
• Anti-histamínicos
• Antidepressivos
sedativos
• Antipsicóticos
• Barbitúricos
• Benzodiazepínicos e
Ansiolíticos
• Betabloqueadores
• Bloqueadores alfa-
adrenérgicos
• Broncodilatadores
• Diuréticos
• Opioides
• Relaxantes musculares
• Relaxantes da musculatura
geniturinária
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Doenças Clínicas Transtornos do
Sono
Transtornos
mentais/outros
Doenças Neurológicas
Insuficiência Hepática Apnéia do Sono Depressão Atípica Lesões/ Tumores: Tálamo,
Hipotálamo e Tronco C.
Insuficiência Renal SPI e TMPM TAB (princ tipo II)
Insuficiência
Respiratória
Má higiene do
Sono
Transtornos
Ansiosos
Hipersonia pós TCE
Insuficiência Cardíaca Tr do Ritmo Tr de uso de SPA Distrofias Musculares
Hipotireoidismo
Acromegalia
Hipersonia
Idiopática
Hipersonia
gestacional
Doenças
neurodegenerativas
Anemia, Infecções Narcolepsia Esclerose Múltipla
Neoplasias Sd Kleine-Levin Epilepsias
Investigação
• Anamnese, história clínica e psiquiátrica, medicações
• Horário da sonolência,
• Feriados, fins de semana e férias
• Sintomas associados (ronco, cefaléia,
comportamentos automáticos)
• Situações em que se expressa
• Atividades passivas x ativas
• Transtornos psiquiátricos, doenças clínicas e
neurológicas
Investigação
• Diário de Sono por 2 semanas
• Auxílio em suspeita de transtorno de ritmo
• Investigação da higiene do sono
• Caracterização do padrão de sono
• Cochilos
• Uso de álcool
• Escalas: Stanford, Karolinska, Epworth
Escala de Epworth
Avaliação Objetiva
• Testes de desempenho:
lapsos → sonolência (aprendizado)
• Testes com parâmetros fisiológicos: pupilografia
(limitação: ptose palpebral associada a sonolência)
• Polissonografia
• Teste das Latências Múltiplas de Sono
• Teste de Manutenção de Vigília
Teste Múltiplo das
Latências de Sono
• 4-5 registros poligráficos de 20 minutos
• Durante o dia, a cada 2 horas, geralmente após PSG noturna
• Evitar privação de sono, suspender psicotrópicos 2 semanas antes
• Parar álcool e drogas, assim como fitoterápicos
• Idealmente complementar com actigrafia e diário do sono
• Avalia: 1) rapidez para dormir em uma situação soporífera 2)
aparecimento de sono REM precoce (2 SOREMPs NL, 1 SOREMP HI)
• Patológico = latência média < 5 min
• Normal = latência média > de 10 min
• Narcolepsia = latência média ≤ 8 min
• Sempre relacionar ao contexto clínico
Narcolepsias x Hipersonia I.
NARCOLEPSIA
TIPO I
NARCOLEPSIA
TIPO II
HIPERSONIA
IDIOPÁTICA
TLM ≤ 8 MIN TLM ≤ 8 MIN TLM ≤ 8 MIN
2 SOREMPS OU + 2 SOREMPS OU + < 2 SOREMPS
COM CATAPLEXIA SEM CATAPLEXIA SEM CATAPLEXIA
HIPOCRETINA NO
LIQUOR (> 110)
SEM HIPOCRETINA NO
LIQUOR
SEM HIPOCRETINA NO
LIQUOR
≥ 660 MIN EM PSG DE
24HS OU ACTIGRAFIA
DE 7 DIAS
Tratamento da SED
• Depende da causa subjacente
• Transtorno primário do sono: CPAP (adesão),
melatonina, medicações
• Troca ou redução da dose de medicamento
• Melhor controle de doença clínica
• Aumento do tempo de Sono sempre!
• Cochilos programados, distração, exercício físico,
higiene do sono e terapia comportamental.
Tratamento da SED:
Nome Mecanismo
de ação
Indicações Doses Efeitos
Colaterais
Contraindic
ações
Metilfenidato
e Anfetaminas
Indução de
catecolaminas
e inibição da
recaptação de
catecolaminas
Narcolepsia
(MF) e H.I.
(offlabel)
Máx:
100mg/dia
Bula (MF
60mg, 2-3
tomadas)
↓ apetite
e peso,
náusea,
ansiedade,
↑FC e PA,
cefaleia
AP de SPA,
doença
cardíaca,
psicose,
↑PA, ↑QT,
ECG
Modafinila Inibição da
recaptação de
dopamina
Narcolepsia,
H por AOS,
trabalho em
turnos, HI
200-400mg
(Bula
200mg, 2
tomadas)
Cefaleia,
náusea,
anorexia,
Síndrome
de Stevens
Johnson
Hipersensib
ilidade,
interação
com
contracepti
vos orais
Armodafinila Inibição da
recaptação de
dopamina
(metabólito
ativo)
Narcolepsia,
H por AOS,
trabalho em
turnos, HI
150-250mg
pela manhã
ou antes do
trabalho
• 5 pacientes
• Todos melhoraram da sonolência diurna e
perderam peso
• Sem efeitos colaterais
Algoritmo Mayo Clinic
“O sono é para o indivíduo o mesmo que dar corda
ao relógio.”
Arthur Schopenhauer,
filósofo alemão (1788-1860)

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SED: Principais causas, avaliação e tratamento

  • 1.
  • 2. Sonolência Excessiva Diurna Rafael Brandes Lourenço • Médico do Sono pela FMUSP • Médico do ambulatório do Sono do Hospital Estadual Mário Covas - FMABC
  • 3. Objetivos • Resumo dos principais transtornos • Revisão sobre seu tratamento
  • 4. Sonolência Excessiva Diurna Sonolência: Estado fisiológico ou impulso que promove sono, sendo este revertido ou satisfeito através de alcançar sono adequado.
  • 5. Sonolência Excessiva Diurna Redução da capacidade de se manter acordado durante o dia, pontuada por episódios de sono em horários inapropriados (Dauvilliers, 2005) → Função biológica normal → no período de sono habitual. → Sonolência “anormal”: fora do período de sono habitual.
  • 6. Sonolência Excessiva Diurna • Incapacidade de permanecer alerta e acordado durante a maioria dos momentos do dia, resultando em lapsos não intencionais de sono (ICSD III) • Diferente de fatigabilidade/falta de energia
  • 7. Consequências da SED • Sonolência excessiva (SE) é uma condição que pode ter consequências graves • SE está implicada em cerca de 16% de acidentes veículos motorizados na Inglaterra • Cerca de metade dos acidentes de trabalho e 1/4 dos acidentes domésticos seriam causados por SE
  • 8. Consequências da SED • Queda de produtividade • Redução de atenção e desempenho cognitivo • Acidentes automotivos • Acidentes de trabalho • Piora da qualidade de vida • Estigma Social • Aumento da mortalidade (RR 1.73) • Prejuízo acadêmico
  • 9. Fatores determinantes de SED • Redução da quantidade/qualidade do sono noturno • Faixa etária • Ritmo circadiano • Substâncias Psicoativas/Medicamentos • Doenças clínicas, primárias do sono, psiquiátricas e neurológicas
  • 10. Classes de Medicamentos relacionados a SED • Anticonvulsivantes • Antieméticos e Antiespasmódicos • Anti-histamínicos • Antidepressivos sedativos • Antipsicóticos • Barbitúricos • Benzodiazepínicos e Ansiolíticos • Betabloqueadores • Bloqueadores alfa- adrenérgicos • Broncodilatadores • Diuréticos • Opioides • Relaxantes musculares • Relaxantes da musculatura geniturinária
  • 11. Doenças relacionadas a SED Doenças Clínicas Transtornos do Sono Transtornos mentais/outros Doenças Neurológicas Insuficiência Hepática Apnéia do Sono Depressão Atípica Lesões/ Tumores: Tálamo, Hipotálamo e Tronco C. Insuficiência Renal SPI e TMPM TAB (princ tipo II) Insuficiência Respiratória Má higiene do Sono Transtornos Ansiosos Hipersonia pós TCE Insuficiência Cardíaca Tr do Ritmo Tr de uso de SPA Distrofias Musculares Hipotireoidismo Acromegalia Hipersonia Idiopática Hipersonia gestacional Doenças neurodegenerativas Anemia, Infecções Narcolepsia Esclerose Múltipla Neoplasias Sd Kleine-Levin Epilepsias
  • 12. Investigação • Anamnese, história clínica e psiquiátrica, medicações • Horário da sonolência, • Feriados, fins de semana e férias • Sintomas associados (ronco, cefaléia, comportamentos automáticos) • Situações em que se expressa • Atividades passivas x ativas • Transtornos psiquiátricos, doenças clínicas e neurológicas
  • 13. Investigação • Diário de Sono por 2 semanas • Auxílio em suspeita de transtorno de ritmo • Investigação da higiene do sono • Caracterização do padrão de sono • Cochilos • Uso de álcool • Escalas: Stanford, Karolinska, Epworth
  • 15.
  • 16.
  • 17. Avaliação Objetiva • Testes de desempenho: lapsos → sonolência (aprendizado) • Testes com parâmetros fisiológicos: pupilografia (limitação: ptose palpebral associada a sonolência) • Polissonografia • Teste das Latências Múltiplas de Sono • Teste de Manutenção de Vigília
  • 18. Teste Múltiplo das Latências de Sono • 4-5 registros poligráficos de 20 minutos • Durante o dia, a cada 2 horas, geralmente após PSG noturna • Evitar privação de sono, suspender psicotrópicos 2 semanas antes • Parar álcool e drogas, assim como fitoterápicos • Idealmente complementar com actigrafia e diário do sono • Avalia: 1) rapidez para dormir em uma situação soporífera 2) aparecimento de sono REM precoce (2 SOREMPs NL, 1 SOREMP HI) • Patológico = latência média < 5 min • Normal = latência média > de 10 min • Narcolepsia = latência média ≤ 8 min • Sempre relacionar ao contexto clínico
  • 19. Narcolepsias x Hipersonia I. NARCOLEPSIA TIPO I NARCOLEPSIA TIPO II HIPERSONIA IDIOPÁTICA TLM ≤ 8 MIN TLM ≤ 8 MIN TLM ≤ 8 MIN 2 SOREMPS OU + 2 SOREMPS OU + < 2 SOREMPS COM CATAPLEXIA SEM CATAPLEXIA SEM CATAPLEXIA HIPOCRETINA NO LIQUOR (> 110) SEM HIPOCRETINA NO LIQUOR SEM HIPOCRETINA NO LIQUOR ≥ 660 MIN EM PSG DE 24HS OU ACTIGRAFIA DE 7 DIAS
  • 20. Tratamento da SED • Depende da causa subjacente • Transtorno primário do sono: CPAP (adesão), melatonina, medicações • Troca ou redução da dose de medicamento • Melhor controle de doença clínica • Aumento do tempo de Sono sempre! • Cochilos programados, distração, exercício físico, higiene do sono e terapia comportamental.
  • 21. Tratamento da SED: Nome Mecanismo de ação Indicações Doses Efeitos Colaterais Contraindic ações Metilfenidato e Anfetaminas Indução de catecolaminas e inibição da recaptação de catecolaminas Narcolepsia (MF) e H.I. (offlabel) Máx: 100mg/dia Bula (MF 60mg, 2-3 tomadas) ↓ apetite e peso, náusea, ansiedade, ↑FC e PA, cefaleia AP de SPA, doença cardíaca, psicose, ↑PA, ↑QT, ECG Modafinila Inibição da recaptação de dopamina Narcolepsia, H por AOS, trabalho em turnos, HI 200-400mg (Bula 200mg, 2 tomadas) Cefaleia, náusea, anorexia, Síndrome de Stevens Johnson Hipersensib ilidade, interação com contracepti vos orais Armodafinila Inibição da recaptação de dopamina (metabólito ativo) Narcolepsia, H por AOS, trabalho em turnos, HI 150-250mg pela manhã ou antes do trabalho
  • 22. • 5 pacientes • Todos melhoraram da sonolência diurna e perderam peso • Sem efeitos colaterais
  • 24. “O sono é para o indivíduo o mesmo que dar corda ao relógio.” Arthur Schopenhauer, filósofo alemão (1788-1860)