Livro analisa educação de criança "Emílio" em 5 partes, defendendo educação natural respeitando liberdade infantil. Ideias influenciaram Revolução Francesa, que via educação como forma de homem mudar sociedade de modo democrático, combatendo instituições opressoras.
1. Emílio e a Revolução Francesa
'Emílio, ou da Educação', publicado por Rousseau em 1762, é dividido em cinco
partes (chamadas Livros). Cada qual tratando de determinada época da vida de um
indivíduo, elas discursam filosoficamente sobre como este deveria ser orientado e
educado. Porém, visto que a meta é entender a influência de tal obra na mudança
dopensamento educacional que aconteceu com a Revolução Francesa, não cabe aqui
fazer uma descrição detalhada de cada uma das partes, bastando apenas entitulá-las e
situar os tópicos aqui tratados dentro de seu respectivo capítulo:
• Livro I: "A Idade de natureza" - o bebê (infans)
• Livro II: "A idade de natureza" - de 2 a 12 anos (puer)
• Livro III: "A idade de força" - de 12 a 15 anos
• Livro IV: "A idade de razão e das paixões" - de 15 a 20 anos
• Livro V: "A idade de sabedoria e do casamento" - de 20 a 25 anos
Como o livro desenvolve-se em ordem cronologica, logo no início Rousseau deixa
claro a sua filosofia de educação: é preciso ensinar a criança dentro da sua condição de
criança. "A educação de Emílio tem um só objetivo: formar um homem livre (...) e, para
formar um homem livre, há apenas um meio: tratá-lo como um ser livre, respeitar a
liberdade da criança. (Emílio, p. 20)". Respeitar essa liberdade, implica em manter
intacta a inocência infantil, não apresentando à criança os dogmas da sociedade, uma
vez que ela deveria descobrir as "regras do mundo" à medida em que fosse crescendo,
pois "os preconceitos, a autoridade, (...) todas as instituições sociais em que estamos
submersos abafariam nele (a criança) a natureza, e nada poriam em seu lugar. (Emílio,
p. 7)". Rousseau acredita que todos os homens são bons, sendo corrompidos pela
sociedade. Logo, um distanciamento daqueles em relação a esta enquanto recebe a
'educação natural' resultaria em uma manutenção da bondade inata de cada um. Para
Carlota Boto "Pensar a formação da criança é, em Rousseau, identificar as
especificidades do ser infantil. Entretanto, pensar a criança é também projetar o homem
do amanhã. (A Escola do Homem Novo, p. 26)".
Dessa forma a educação seria de extrema importância no modo do homem se
portar perante à sociedade e, consequentemente, também o prepararia para enfrentar
um regime social opressor. Esse ideal é referido por Carlota Boto como sendo o tema
central da ideia de educação pensada pela filosofia iluminista francesa. A autora afirma
que "Para alguns filósofos e pensadores do movimento francês, o homem seria
2. integralmente tributário do processo educativo a que se submetera. A educação
adquire, sob tal enfoque, perspectiva totalizadora e profética, na medida em que,
através dela, poderiam ocorrer as necessárias reformas sociais perante o signo do
homem pedagogicamente reformado. (A Escola do Homem Novo, p. 21)."
Estas ideias expressas no Emílio [a educação (ainda que 'natural) presente desde a
infância, a falta de influência de quaisquer instituição social no ensino deste indivíduo, e
a ideia de que o homem que passou pelo processo educativo é capaz de mudar a
sociedade] foram incorporadas aos ideais da Revolução Francesa, bastante influenciada
pela corrente do Iluminismo, justamente por serem uma visão totalmente nova a
respeito da educação que compartilhava do ideal democrático dos revolucionários.