[1] O consumo é definido como o ato de utilizar bens e serviços para satisfazer necessidades.
[2] Vários fatores influenciam o consumo, incluindo fatores econômicos como renda e preço, e fatores sócio-culturais.
[3] A estrutura do consumo mostra como as famílias distribuem sua renda entre diferentes categorias de gastos.
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
Consumo ético e responsabilidade social
1. Consumo
Como já foi referido, o homem sente uma multiplicidade de necessidades
que satisfaz através da utilização do consumo.
4.1- Noção e tipos de consumo
No documentário “Somos todos consumidores”, apercebemo-nos que todos nós
consumimos bens e serviços para satisfazermos as nossas necessidades. Pois bem, este
acto designa-se por “CONSUMO”.
Actividade 3: Lê atentamente o texto e responde às questões
Consumo ético
“À medida que progride a mundialização das trocas comerciais, o consumidor interroga-
se acerca do impacto efectivo dos produtos de consumo sobre o ambiente, por um lado,
e torna-se mais exigente quanto ao cabal cumprimento por parte das empresas das
cláusulas sociais, por outro lado, o que o leva a perguntar quer às empresas de âmbito
regional e nacional, quer às transnacionais: a vossa empresa pratica discriminação
sexual, cumpre as competentes normas de higiene e segurança, explora o trabalho
infantil?
O ponto de partida do consumo ético é este: para se fazerem escolhas responsáveis põe-
se a questão de saber se os bens de consumo são produzidos e distribuídos de acordo
com os direitos dos homens, mulheres e crianças. E há perguntas que esbarram com
indícios inquietantes. Por exemplo, uma grande variedade de bens utilizados pelos
jovens: saberão estes que quando compram jeans, sapatos de ténis, jogos electrónicos,
brinquedos ou T -shirts há fortes probabilidades destes produtos terem sido total ou
parcialmente fabricados por jovens com menos de 15 anos? (...)
A responsabilidade social e ecológica das empresas é uma ideia que progride. Em
recente resolução, o Parlamento Europeu "exige que as empresas importadoras bem
como os circuitos de distribuição a elas associados.,. zelem pelo respeito rigoroso das
convenções da Organização Internacional do Trabalho no tocante aos Direitos do
Homem no trabalho". As empresas interessadas em ter uma boa imagem de marca junto
do público, não ficaram insensíveis a esta nova exigência dos consumidores: é o caso da
Levi's, C&A, Ikea ou Reebok.”
Retirado da Internet (adaptado);
anónimo
1- Elabora uma lista dos bens e serviços que consomes no teu quotidiano.
Agora, em grupos restritos (3, 4 elementos):
1.1- Compara o teu consumo com o dos colegas (semelhanças e diferenças).
1.2- Discute o papel do consumidor na dinamização da actividade económica.
2. 1.3- Discute a questão da responsabilidade social do consumidor/responsabilidade
social das empresas.
Segue-se um debate intra-turma, com a intervenção de cada grupo.
Registo de conclusões:
A- O CONSUMIDOR FAZ PARTE DO SISTEMA ECONÓMICO,
cabendo-lhe papéis muito importantes
B- HÁ DESIGUALDADES DE CONSUMO
C- HÁ VÁRIOS TIPOS DE CONSUMO
D- HÁ NECESSIDADE DE ESCOLHER, POR FORMA A OBTERMOS A
MÁXIMA SATISFAÇÃO
(Mostrar projecção 3, em anexo)
Posto isto, vamos desenvolver um pouco cada uma destas ideias.
A- O CONSUMIDOR, FAZ PARTE DO SISTEMA DO SISTEMA
ECONÓMICO
No vídeo “Somos todos consumidores”, tivemos ocasião de ouvir que quando
em 15 de Março de 1962 John Kennedy proclamou os direitos dos consumidores,
afirmando a necessidade do seu maior protagonismo social e considerando-os a maior
força económica do país, estava a reconhecer publicamente que algo tinha mudado no
mundo de então.
A.1- Consumo: acto económico:
Sem o consumo, a produção não teria qualquer sentido. Assim, os consumidores
formam um grupo de agentes cujo papel é particularmente importante numa economia
de mercado. Mesmo se a “soberania” do consumidor é afectada pelas pressões sociais e
pelas incitações publicitárias das empresas, a verdade é que as diversas produções se
destinam a ser vendidas e as empresas não podem sobreviver se os seus produtos não
tiverem compradores. É por isso que as empresas não podem deixar de ter em conta as
disposições dos compradores, que elas tentam conhecer quando fazem os seus “estudos
de mercado”.
3. O conjunto de todas as pessoas existentes no país, encaradas unicamente
como consumidores finais, constitui o sector institucional FAMÍLIAS.
O consumo das famílias representa um aspecto importante da actividade
económica.
Ao dirigir as suas opções para determinados bens, os consumidores estão a
estimular a expansão de uma determinada actividade.
A.2- Consumo: acto social e ambiental:
As opções que os consumidores efectuam têm também consequências mais ou
menos graves sobre o ambiente; por outro lado, defendendo certas causas, o consumidor
pode mostrar os seus protestos contra as cruéis atrocidades cometidas contra animais (o
uso das suas pelas...), ou pessoas (exploração...)., rejeitando esses produtos....
B- HÁ DESIGUALDADES DE CONSUMO
O consumo constitui ainda um importante indicador do nível de bem-estar de
uma população, dando a conhecer, se num determinado momento, as necessidades
essenciais estão ou não a ser satisfeitas, podendo assim introduzir-se mecanismos de
correcção de forma a melhorar a situação.
O consumo afecta positiva ou negativamente as vidas das pessoas, pois permite
ou nega o alargamento das suas capacidades e dignidade de vida. As populações sem
acesso a alimentação, água potável, cuidados de médicos ou educação, não têm
possibilidade de usufruir de uma vida digna, longa e confortável, bem como a
oportunidade de desenvolver as suas capacidades.
Actividade 4: Lê atentamente o texto e comenta-o.
Desigualdades de consumo
Dos 4,4 milhões de pessoas nos países em desenvolvimento, perto de três
quintos não têm acesso a saneamento básico, um terço não tem acesso a água potável,
um quinto não tem habitação adequada e um quinto não tem acesso a modernos serviços
de saúde. As carências do consumo essencial não constituem apenas um problema dos
países pobres. Também nos países industrializados muitas pessoas não podem satisfazer
as suas necessidades básicas e as escolhas de vida de milhões de pessoas são limitadas.
Os EUA podem ter um dos mais altos níveis de consumo alimentar per capita do
mundo, no entanto, 30 milhões de pessoas americanas passam fome.
Relatório do Desenvolvimento Humano. PNUD, 1998 (adaptado)
C- HÁ VÁRIOS TIPOS DE CONSUMO
Embora possamos definir o consumo como o acto de utilizar um bem ou serviço
para satisfazer uma necessidade, verificamos que existem diversos tipos de consumo.
Assim propõe-se a seguinte distinção:
4. - Consumo final: quando a utilização do bem permite a satisfação directa e imediata da
necessidade, implicando a sua destruição imediata (alimentos) ou progressiva
(vestuário).
- Consumo intermédio: quando o bem é utilizado para produzir outros bens, quer
desaparecendo no ciclo produtivo (energia), quer sendo incorporado noutros bens
(matérias-primas).
- Consumo individual: quando o uso de um bem ou serviço por uma pessoa exclui o
seu uso por outras pessoas simultaneamente. É o caso da roupa ou dos alimentos.
- Consumo colectivo: quando o uso de um bem (ou serviço) por uma pessoa não exclui
a sua utilização por outras. A utilização das estradas, dos serviços de televisão, da
polícia ou de justiça, são exemplos de consumos colectivos.
O consumo colectivo é proporcionado pelas administrações públicas e privadas.
D- HÁ NECESSIDADE DE ESCOLHER, POR FORMA A OBTERMOS A
MÁXIMA SATISFAÇÃO
Tal como as necessidades também os consumos são múltiplos e diversificados,
obrigando-nos a ter de efectuar escolhas de forma a obter a máxima satisfação, tendo
em conta, entre outros factores, o rendimento e o preço dos bens.
(Mostrar projecções 3,4,5, em anexo)
Neste ponto, coloca-se agora a questão:
De que factores depende o consumo?
E, passamos para o ponto 4.2 do programa!
5. 4.2- Padrões de consumo – diferenças e factores explicativos
Considera-se que a principal função das famílias é CONSUMIR, no entanto, a
natureza e o volume dos seus consumos depende de uma multiplicidade de factores.
Podemos agrupar estes factores em dois tipos:
- económicos
- sócio-culturais
Actividade 5: lê atentamente o texto e responde às questões que te são
colocadas.
Os consumidores e a alimentação
Segundo um estudo da Associação Portuguesa das Empresas de Distribuição (APED),
os congelados, os produtos lácteos, as sobremesas, os produtos funcionais, as quartas
gamas ou os 'snacks' são as categorias de produtos alimentares que crescem. O
consumidor português aceita estes produtos mais inteligentes, mais portáteis, mais
funcionais e consumíveis para lares cada vez mais equipados.
No estudo refere-se a transferência de produtos perecíveis para produtos processados,
tendência ilustrada com o caso do peixe fresco e congelado: em Portugal o peixe
congelado chega a metade dos lares, menos que em Espanha, onde está presente em
60% das dietas familiares.
Mesmo um dos alimentos básicos, o leite, está a sofrer alterações: "Já não se vende
leite. Vende-se leite desnatado enriquecido com cálcio e aminoácidos, dirigido a um
consumidor mais adulto que quer cuidar dos seus ossos sem consumir gorduras".
Com a casa cada vez menos utilizada para confeccionar e consumir refeições, verifica-
se já hoje que quase metade da alimentação feita fora do lar ocorre em 'snack-bares'.
São tendências cada vez mais associadas ao crescente abandono da cozinha pelas
mulheres, cada vez mais integradas no mundo do trabalho.
Público, suplemento de Economia, 24-05-
99
1- Em trabalho de grupo alargado, discute de forma crítica o texto apresentado,
tendo em consideração os factores que poderão influenciar o consumo. No sentido de te
apoiar, deixo aqui alguns tópicos:
6. - As famílias aplicam os seus rendimentos num certo nº de rubricas a que se
chama “estrutura do consumo”
- o rendimento das famílias afecta o consumo das mesmas
- O preço dos bens influencia a procura dos mesmos
- A influência da inovação tecnológica nas opções de consumo
- Para além dos factores económicos, outros factores influenciam certamente o
montante do consumo e a sua repartição pelos diversos bens: género de vida, estrutura
etária dos agregados familiares, respectivos estatutos sócio-profissionais, a publicidade
a moda,...
Vamos agora assentar algumas das ideias entretanto adiantadas!
O estudo do consumo procura determinar as leis que ditam as decisões das
famílias quanto ao volume global e à estrutura do consumo, dependendo esta de vários
factores:
Económicos:
- rendimento
- preço do bem
- inovação tecnológica
extra-económicos
- estrutura etária dos agregados familiares, modos de vida, publicidade e moda
4.2.1- Estrutura do consumo
Antes de analisarmos cada um dos factores supra- referidos, convém definirmos
“estrutura do consumo” :
A estrutura do consumo traduz a forma como as famílias aplicam o seu
rendimento nos diversos consumos.
7. A sua análise, para uma família ou grupo de famílias, permite-nos estudar por
um lado o grau de bem-estar ou o nível de vida dessa família e, por outro, permite saber
quais os bens mais adquiridos pelas famílias dando, assim, informações importantes à
produção.
Para estudar a estrutura do consumo, é habitual dividir as despesas de consumo
em categorias como alimentação, vestuário e calçado, tempos livres,etc...
4.2.2- Factores económicos
a) Rendimento
Observa o seguinte gráfico, onde se representam as despesas em consumo para
diferentes níveis de rendimento. O que concluis?
De facto, da observação do gráfico, podemos concluir que as famílias de
rendimento mais baixo afectam a maior parte do seu rendimento à alimentação e
habitação, tendo estas um peso percentual elevado no total das suas despesas de
consumo...
• O que nos remete para: a Lei de Engel:
À medida que o rendimento das famílias aumenta, o peso das despesas em
alimentação vai baixando, aumentando por sua vez o peso das despesas destinadas à
cultura, lazer e distracções.
8. • Convém agora introduzir o conceito de coeficiente orçamental:
O peso das despesas de consumo de um grupo de bens no total das despesas de
consumo designa-se por coeficiente orçamental.
coeficiente orçamental = valor da rubrica orçamental x 100
total do consumo
Exemplo: Suponhamos que uma família dispõe de 1000 € mensais que distribui
do seguinte modo:
Grupo
de bens
Despesas
efectuadas
Coeficiente
orçamental
alimentação 500€ 50%
vestuário 100€ 10%
habitação 200€ 20%
transportes 150€ 15%
Lazer e distracção 50€ 5%
total 1000€ 100%
Imagina agora que o rendimento mensal desta família foi aumentado, por
qualquer razão, para 1500€; as suas despesas de consumo e os respectivos coeficientes
orçamentais alterar-se-iam, apresentando-se agora a seguinte estrutura de consumo:
9. Grupo
de bens
Despesas
efectuadas
Coeficiente
orçamental
alimentação 600€ 40%
vestuário 225€ 15%
habitação 195€ 13%
transportes 225€ 15%
Lazer e distracção 255€ 17%
total 1500€ 100%
Que conclusões podemos retirar destes quadros?
Apercebemo-nos dos diferentes pesos de cada classe de despesas consoante os
níveis de rendimento (lei de Engel).
Verificamos, assim, que:
- perante um aumento de rendimento, a estrutura do consumo desta família se
alterou;
- o peso da despesa em alimentação baixou, bem como a habitação, tendo
aumentado significativamente o peso das despesas destinadas ao lazer e distracções.
Actividade 6:
1- Realiza um inquérito à tua família, tendo em vista verificar:
- a sua estrutura de consumo, de acordo com os parâmetros acima
indicados (no quadros)
- o peso de cada classe de despesa no consumo total
2- Em grupos restritos, compara os diferentes pesos de cada classe de despesas
consoante os níveis de rendimento – lei de Engel.
b) Preços
De uma forma geral, como já constaste, o consumo diminui à medida que o
preço de um bem aumenta. Convém, contudo distinguir várias situações:
10. - efeito substituição: face ao aumento do preço de um bem, o consumidor irá
procurar consumir um bem que lhe seja substituível. (...)
- efeito rendimento: o aumento do preço de um bem, fará baixar o rendimento
e, por isso, o consumo de outros bens; a baixa do preço do bem, fará aumentar o poder
de compra do consumidor, podendo consumir mais de outros bens.
- efeito de snobismo ou de Veblen: o consumo de um bem aumenta quando o
preço sobe, por parte dos consumidores que pretendem exteriorizar o seu poder de
compra.
c) Inovação tecnológica
Não podemos esquecer que o progresso técnico, a par da criatividade e da
inovação, faz surgir novos produtos e serviços, criando, assim, novas necessidades.
Bastará lembrar a recente expansão do uso de telemóveis...
(Mostrar projecções 6,7,8 em anexo)
4.2.3- Factores extra-económicos
a) Moda
11. “A renovação cada vez mais rápida dos bens, leva a que os indivíduos tenham
o desejo de adquirir os bens mais recentes do mercado, ou seja, os que a moda ditou!”
Actividade 7:
- Que comentários te sugerem as imagens?
Por vezes, o que se procura num bem, não é tanto o seu uso mas o que ele
veicula... o pertencer a um grupo social, identificar-se com uma figura que se considera
importante,...
b) Publicidade
“A publicidade constitui um excelente veículo da moda, dando-nos a conhecer
os produtos mas criando-nos também necessidades e desejos...através de mecanismos
de ordem psicológica...”
12. Actividade 8: Que comentários te sugere os anúncio
Nos nossos dias, a publicidade é um dos factores que mais influenciam o consumo.
Através de mecanismos de ordem psicológica, a publicidade não só condiciona os
consumos das populações, como cria novas necessidades e leva a novos consumos.
Utilizando argumentos de prestígio, estatuto social, beleza, qualidade, a publicidade
conduz as pessoas, na ânsia de se identificarem com esses valores, "a consumirem
produtos muitas vezes supérfluos"...quanto mais não seja, para se afirmarem
socialmente (efeito demonstração do consumo).
Verifica-se assim que, para além dos factores de natureza estritamente económica -
como rendimento disponível e o preço dos bens -, vários factores de natureza cultural,
social e psicológica podem influenciar as decisões dos consumidores.
Actividade 9: Selecciona anúncios actuais sobre o mesmo produto (ou um semelhante)
e analisa:
- o desaparecimento do discurso narrativo e a sua substituição pelo discurso audiovisual
(apelo à compra por impulso);
- o argumento de venda que, em muitos casos, foi transferido da função do produto para
a sua representação (resposta ao desejo);
- a alteração da função do produto (ex. caso seja um sabonete: do "lavar" ao "tratamento
do corpo");
c) Meio social
13. De que forma o meio social nos influencia? Através de:
- Grupo a que pertencemos: vivemos e pertencemos a mesmos grupos,
estabelecendo-se um conjunto de interacções entre os elementos do grupo. De certa
forma, as nossas decisões de consumo são fortemente condicionadas pelo grupo ou
grupos a que pertencemos (...);
- Grupo social a que se desejamos pertencer: por vezes, desejando pertencer a
um grupo social mais influente tentamos imitar os comportamentos de consumo desse
grupo: ou seja: efeito de imitação ou demonstração (conceito já abordado quando
falamos na publicidade);
- Líderes do grupo ou de opinião: por vezes, tentamos uma identificação com
figuras consideradas influentes no momento...
d) Estrutura etária
Os consumos de um jovem casal que acaba de adquirir a sua casa ou que acaba
de ter um filho e os consumos de um casal já idoso serão certamente diferentes (...)
e) muitos outros factores ....
4.3-A evolução da estrutura do consumo em Portugal e na União
Europeia
A actividade económica resulta de um conjunto de funções desempenhadas
pelos diversos agentes económicos. Conhecer essas funções e a forma como interagem é
um dos objectivos da economia.
As famílias surgem como um dos principais agentes visto que essa função –
consumir – é inerente a todos nós.
14. O consumo é, muitas vezes, referido como um indicador de bem-estar de uma
população. Todavia, conhecer a sua estrutura é fundamental, como já sabemos, pois o
facto de uma família gastar 20% ou 50% do seu rendimento na satisfação de
necessidades não essenciais é indicador de níveis de bem-estar diferentes.