1. O documento descreve a Festa do Rosário/Reinado em Cristais, Minas Gerais, uma manifestação cultural afro-brasileira com raízes no século XVIII.
2. A festa mantém vivas as tradições e crenças dos negros e inclui procissões, missas, danças e a representação de um rei e rainha congo.
3. O documento fornece detalhes históricos sobre as origens da festa e sua importância para a preservação da memória e identidade cultural dos afrodescendentes.
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A festa do reinado em cristais registro dossiê atualizado - correto 2013
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PREFEITURA MUNICIPAL DE CRISTAIS
CONSELHO MUNICIPAL DO PATRIMÔNIO CULTURAL
REGISTRO DO BEM IMATERIAL
FESTA DO ROSÁRIO / REINADO
Lei Municipal Nº 1 617 de 07 de dezembro de 2011
Dossiê elaborado por:
Maria Salomé Reis Alves de Lima
Setor de Cultura
Diretoria Municipal de Educação e Cultura
CRISTAIS/MG
2011
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SUMÁRIO
1. Introdução
2. Histórico do Bem cultural imaterial
2.1.Histórico do município de Cristais
2.1.1. Símbolos municipais
2.1.1.1. A bandeira municipal
2.1.1.2. O brasão de armas
2.1.1.3. Hino a Cristais
2.2. Formação administrativa
2.3. Aspectos físicos
2.4. Aspectos diversos
2.5. Aspectos econômicos
2.6. Aspectos educacionais
2.7. Serviços realizados em outras cidades
2.8. Serviços de comunicação
2.9. Serviços de saúde
2.10. Entidades assistenciais
2.11. Clubes de serviços
2.12. Cultura
2.13. Manifestações e tradições culturais
2.14. Eventos desportivos
2.15. Grupos musicais
2.16. Artesanato e artes populares
2.17. Gastronomia típica
2.18. Atrações turísticas
2.19. Espaços de lazer e cultura
3. Histórico da Festa do Rosário / Reinado - Antecedentes históricos
3.1. Primeira Povoação do Ambrósio
3.1.1. Ataques em 1741/43
3.1.2. Guerra em 1746
3.1.3. As famílias afrodescendentes
3.1.4. A toponímia afrocristalense
3.2. O Reino do Congo e suas relações com Portugal
3.3. Do Congo à Angola
3.4. Outros povos
3.5. O tráfico de escravos
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3.6. A sociedade escravocrata
3.7. Nações africanas em Minas Gerais
4. A Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos
4.1. Identidade e memória coletiva
4.2. Histórico
5. Depoimentos de moradores e congadeiros
6. Produção de vídeos audiovisuais
7. Descrição detalhada do Bem imaterial cultural
7.1. Igreja Nossa Senhora do Rosário
8. Mapa dos locais onde ocorrem as festas
9. Imagem Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos
9.1. Origens da devoção
9.2. Outros santos homenageados
9.2.1. São Benedito
9.2.2. Santa Ifigênia
10. Símbolos do Reinado
10.1. Tambores
10.2. .Rosário e terço
10.3. Mastros
10.4. Bandeiras dos padroeiros – hasteamento e arriamento
10.4.1.Bandeiras das guardas ou ternos
10.5. Coroas
10.5.1.As Coroas Grandes
10.5.2. Coroa de promessa
10.6. Capa e cetro
10.7. Bastão e espada
10.8. Gunga ou campanha
10.9. Pantagome
10.10. Café e almoço
10.11. Cortejo
10.12. Procissão
10.13. Promesseiros
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10.14. Festeiros
10.15. Guardas ou ternos
10.15.1. Moçambique
10.15.2. Congo
10.15.3. Catupé
10.15.4. Vilão
10.16. Capitão
10.17. Rei e Rainha Perpétuos
10.18. Rei Congo e Rainha Conga
10.19. Rei e Rainha da Coroa Grande
10.20. Mordomos
10.21. Princesa Isabel
10.22. Chico Rei
10.23. Príncipes e princesas
10.24. Sombrinhas e guarda sol
11. Ritual
11.1. Preparação
11.2. Fechamento do reinado
11.3. Guardas ou ternos
11.4. Consagração de capitão
11.5. Coroação
11.6. Descoroação
11.7. Entrega da coroa
11.8. Visita à coroa
11.9. Transposição
11.10. Levantamento dos mastros
11.11. Saudação
11.12. Beijo da bandeira
11.13. Cruzamento de espadas
11.14. Cruzamento de bastões
11.15. Proteção – partida de corpo fechado
11.16. Benzê o santo
11.17. Enterrar o umbigo
11.18. Tirá a paia
11.19. Fechamento do corpo
11.20. Rosário cruzado no peito
11.21. Passagem de bastões
11.22. Missa Conga
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12. Letras e músicas
13. Festas similares
14. Documentação fotográfica
15. Análise do Bem cultural imaterial sob os pontos de vistas: histórico,
antropológico, social religioso e político relacionados com a história do
município.
15.1. A Festa do Rosário / Reinado em Cristais – legado cultural do Quilombo
do Ambrósio
15.2. Origem da Festa do Rosário / Reinado em Cristais
15.3. Irmandade Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos de Cristais
15.3.1.Características
15.3.2.Histórico
15.4. Documentos sobre a manifestação cultural
15.5. Cartilha: Festa cultural o Reinado
15.6. As festividades nos dias atuais
16. Ficha de inventário
17. Plano de valorização e salvaguarda
17.1. Cronograma
18. Ficha técnica
19. Referências bibliográficas
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20. Anexos
20.1. Cópia da proposta do registro do bem imaterial
20.2. Cópia da ata da instauração do registro
20.3. Cópia dos questionários aplicados nas entrevistas
20.4. Cópia do comunicado da instauração do processo do registro
20.5. Cópia do parecer (Setor de Cultura) da proposta do registro
20.6. Cópia da análise e parecer dos conselheiros sobre o processo instruído
20.7. Cópia da ata do COMPAC – Cristais - favorável ao registro
20.8. Cópia da divulgação do registro para manifestação dos interessados
20.9. Cópia da ata da decisão final do COMPAC – Cristais
20.10. Cópia da inscrição no Livro de Registros de Celebrações
20.11. Cópia da mensagem ao público comunicando o registro do bem
imaterial: Festa do Rosário / Reinado
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1. INTRODUÇÃO
A Festa do Rosário ou Reinado em Cristais é uma manifestação na qual, por
meio da memória coletiva, o negro mantém viva a expressão de seus costumes, crenças
e valores históricos culturais.
A manifestação cultural remonta ao século XVIII, época da ascensão do
Quilombo do Ambrósio na região. Nesta época, os negros liderados pelo Rei Ambrósio,
reviviam e conservavam suas tradições culturais. É da época da escravidão a imagem de
Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, que se encontra sob a guarda da
Irmandade com o mesmo nome, e é tombada como um Bem móvel cultural do
município, sob o Decreto Nº 07 de 11 de março de 2004. Um requerimento datado de 17
de setembro de 1819, dirigido a D. João VI, solicitando colocar a imagem de Nossa
Senhora do Rosário na capela de Nossa Senhora da Ajuda, comprova a existência da
Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, já nesta época, no
município. Portanto, em Cristais, a festa do Reinado tem sua própria identidade cultural
desde o século XVIII.
A palavra REINADO refere-se à festa de Nossa Senhora do Rosário, Santa
Ifigênia, São Benedito e outros santos de devoção dos negros. Os devotos participam de
procissões, terços, celebração da missa conga, danças dos ternos e de um café e/ou
almoço oferecidos como agradecimento aos componentes dos ternos e aos demais
participantes da celebração, em cumprimento de promessas. Nesta festividade há a
representação da coroação de um rei congo e uma rainha, ambos negros simbolizando
um antigo reino africano: o reino do Congo, de onde muitos escravos vieram para o
Brasil.
Essa festa popular religiosa em Cristais mantém as tradições ancestrais dos
negros, sendo um dos elementos que contribuem para a formação da identidade afro-
brasileira. Devido à importância histórica, torna-se imprescindível a organização das
informações bibliográficas, documentais e orais para o processo de registro do Bem
intangível, com o objetivo de sua preservação. Aqui abordaremos um pouco da história
afro-brasileira para facilitar a compreensão dessa festa e de suas transformações, de
modo a entender e viver a nossa história, nossas raízes quilombolas.
A metodologia usada para aplicar o projeto será a pesquisa qualitativa, usando as
modalidades das pesquisas: campo, bibliográfica e documental.
No ano de 2008/9, iniciamos a pesquisa com a coleta de dados, tanto
bibliográficos quanto documentais, para a elaboração da cartilha: ”O Segredo do Rei
Ambrósio”. Essa cartilha foi aplicada e estudada nas escolas municipais do ensino
fundamental e, especialmente, nas escolas da zona rural, localidade dos remanescentes
quilombolas, através da organização de uma feira cultural. No ano de 2010 demos
continuidade aos estudos elaborando outra cartilha: “Festa Cultural: O Reinado”, em
nível de microrregião atendendo Aguanil, Campo Belo e Cristais para participar da 2ª
Jornada Mineira do Patrimônio Cultural, promoção do IEPHA/MG, sob a modalidade
de Educação Patrimonial. A finalidade do estudo dessas cartilhas é mostrar e
demonstrar a participação do negro na formação da pátria mineira, valorizando a cultura
afro-brasileira, como um dos pilares da civilização brasileira.
Devido à repercussão positiva frente às comunidades escolar e civil, tanto no que
se diz respeito às cartilhas como aos eventos da feira cultural e da jornada minera do
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patrimônio cultural, foi sugerido que a Festa do Rosário / Reinado, uma manifestação
cultural, que traduz a força da tradição na história de um povo presente em nossas
cidades, fosse registrada como um bem cultural imaterial. A sugestão foi levada para a
reunião ordinária do Conselho Municipal do Patrimônio Cultural de Cristais/MG,
lavrada em atas dos dias: 22 ( vinte e dois ) de julho de 2011 e 02 ( dois) de agosto de
2011. Todos os conselheiros aprovaram a sugestão e decidiram providenciar o processo
de registro do bem imaterial visando sua preservação, manutenção e divulgação. Para tal
fim, foi indicada e formada uma equipe técnica com o propósito de estudar, analisar e
avaliar o bem cultural intangível.
Manter viva uma identidade cultural e preservar sua memória abre caminhos
para reconstruir sua história. A importância da preservação da memória para a
construção de uma história útil e expressiva da realidade de um povo, de natureza
cultural, é relevante para determinar os marcos da memória e os sinais da história.
Existem relações profundas entre a identidade cultural de um povo, a preservação de sua
memória e a elaboração da investigação histórica. Os registros documentados e a
tradição oral são exemplos, muito significativos, do fato de que os grupos ou
comunidades que possuam uma consistente dimensão cultural são sujeitos
mantenedores e gerenciadores de sua própria memória histórica.
O Reinado, festa de tradição afrodescendente, mantém viva sua identidade
cultural preservando a memória histórica. Assim o Reinado é visto como tradição
cultural devido a permanência secular que o sustenta, persistência vinda pela capacidade
revitalizadora construída por sucessivas gerações. Os mais velhos, defendendo a
tradição ancorada em suas vivências do passado, demonstram preocupação em
transmitir e conservar a tradição cultural, ainda que cientes das intercambiações
culturais tão inerentes ao Reinado e as diversas outras manifestações.
Capacidade de revitalização cultural não é simplesmente substituir um aspecto do
presente por algo que se pressupõe ser mais moderno. Ressignificar pode ser a busca
daquilo que um dia já foi importante. O presente dialoga com o passado que se encontra
vivo, demonstrando que a ressignificação pode estar vinculada ao despertar de um
passado que se encontrava adormecido. Transmissões de valores são mutáveis e
nenhuma geração seguirá os aprendizados culturais tal qual os recebeu. O Reinado é um
movimento e tudo que se move inevitavelmente se transforma.
Pensar que os ternos de Reinado devam comportar-se culturalmente como seus
antepassados seria congelar a memória dos mais jovens no passado, sem lhes permitir
de construir suas vivências diante do seu próprio tempo.
Os documentos ambulantes, homens e mulheres, sejam adultos, jovens ou
crianças, são fontes não classificadas que guardam a energia mística de um legado
ancestral da cultura africana. Preservando essa cultura, impregnada de simbologia e
conservada tradicionalmente de um modo precioso, o afro-brasileiro assimilou e
conseguiu dar uma característica histórica e artística às suas próprias vivências sociais.
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2. HISTÓRICO DO BEM CULTURAL
2.1. HISTÓRICO DO MUNICÍPIO DE CRISTAIS
O desbravador da região do Rio Grande, onde hoje se localiza o município de
Cristais, foi o bandeirante Lourenço Castanho Jaques, o Moço, provavelmente de 1675
a 1690, quando perseguia os habitantes naturais da região, os índios Cataguases.
Em 1746 fez-se a primeira referência histórica ao atual município, através de um
documento expedido pelo governador Gomes Freire de Andrada para atacar e destruir o
Quilombo do Ambrósio I, onde se localizava a Primeira Povoação do Ambrósio, hoje
região do atual município de Cristais.
As primeiras Sesmarias foram concedidas em meados de 1760, após a destruição
do quilombo. Em 1765 Constantino Barbosa da Cunha obteve o registro de sua sesmaria
na região do Quilombo do Ambrósio. Com o falecimento de Constantino Barbosa da
Cunha, em 1771, após o inventário de seus bens, os herdeiros venderam e transferiram
todos os direitos que possuíam sobre essa sesmaria para Romão Fagundes do Amaral,
que era seu genro.
Em 1791 registrou-se uma provisão pelo bispo de Mariana para uso de uma
ermida, sob a invocação de Nossa Senhora da Ajuda, para os moradores do “ Rio
Grande dos Cristais”.
Em 13/12/1880, o distrito de Cristais foi elevado à categoria de freguesia
(paróquia); foi nomeado o primeiro vigário: Pe. Custódio Ferreira dos Reis e
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delimitadas as divisas da nova freguesia que correspondem, atualmente, às do
município.
O cristal de rocha, abundante na região, teria atraído os primeiros habitantes para
o local. Razão também do topônimo, conhecido, desde os primórdios, agregado ao
nome da padroeira. O arraial, já no início da sua formação, era chamado:
“ Arraial Nossa Senhora da Ajuda do Rio Grande de
Cristais”.
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2.1.1. Símbolos Municipais de Cristais
A Bandeira e o Brasão Municipal foram oficializados na administração
do prefeito Aristeu Maia, pela lei Nº 113 de 19 de maio de 1974.
2.1.1.1. A Bandeira Municipal
A Bandeira Municipal de Cristais, de autoria do heraldista Professor Arcinóe
Antonio Peixoto de Faria, será ESQUARTELADA EM CRUZ, sendo os quartéis de
azul constituídos por faixas brancas de dois módulos de largura, carregadas de sobre
faixas vermelhas de um módulo, dispostas em cruz deitada voltada para a tralha, tendo
no ponto de encontro dos braços da cruz, um círculo branco de oito módulos de
circunferência, eqüidistantes três módulos dos bordos da Bandeira e da tralha, onde o
Brasão Municipal é aplicado.
De conformidade com a tradição da heráldica Portuguesa, da qual
herdamos os cânones e regras, as bandeiras municipais podem ser oitavadas, sextavadas,
esquarteladas ou terciadas, tendo por cores as mesmas constantes do campo do escudo e
ostentando ao centro na tralha uma figura geométrica onde o Brasão Municipal é
aplicado.
A Bandeira Municipal de Cristais obedece a essa regra, sendo
esquartelada em cruz, lembrando nesse simbolismo o espírito cristão de seu povo. O
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Brasão aplicado na bandeira representa o GOVERNO MUNICIPAL e o círculo branco
onde é contido representa a própria Cidade - Sede do Município - e o círculo símbolo
heráldico da “eternidade” porque se trata de uma figura geométrica que não tem
princípio e nem fim; a cor branca simboliza a paz, amizade, trabalho, prosperidade,
pureza, religiosidade. As faixas brancas carregadas de sobre-faixas vermelhas que
formam os braços da cruz representam a irradiação do Poder Municipal que se expande
a todos os quadrantes de seu território - a cor vermelha é símbolo de dedicação, amor
pátrio, audácia, intrepidez, coragem, valentia. Os quartéis de azul, assim constituídos,
representam as Propriedades Rurais existentes no território municipal - a cor azul é
símbolo de justiça, nobreza, perseverança, zelo e lealdade.
2.1.1.2.O Brasão de Armas
O Brasão de Armas de Cristais é descrito da seguinte forma: (em termos
heráldicos)
Escudo samnitico encimado pela coroa mural de suas torres de argente e
iluminada de goles. Em campo de bláu, posto em abismo, um bloco de cristal de rocha
argente, encimado em chefe de uma flor - de - liz do mesmo metal. Ao termo, um triplo
mantel de argente carregado de uma panóplia constituída por dois arcabuses de sable
entrecruzados, sobrepostos de um gibão de bandeirante de góles.
Como apoios do escudo, a destra e sinistra - galhos de café frutificados
ao natural, entrecruzados em ponta, sobre os quais se sobrepõe um listel de góles,
contendo em letras argentinas o topônimo “Cristais” ladeado pela data “27 de dezembro
de 1948”.
O Brasão, descrito acima, tem a seguinte interpretação simbólica:
a - O escudo samnítico, usado para representar o Brasão de Armas de
Cristais, foi o primeiro estilo de escudo introduzido em Portugal por influência francesa,
herdado pela heráldica brasileira como evocativo da raça colonizadora e principal
formadora da nossa nacionalidade.
b - A coroa mural que sobrepõe é símbolo universal dos brasões de
domínio que, sendo de argente (prata) de suas torres, das quais apenas quatro são
visíveis em perspectiva no desenho classifica a cidade representada na Terceira
Grandeza, ou seja, sede do Município; a iluminura de goles (vermelho), pelo significado
heráldico da cor, se identifica com as qualidades próprias dos dirigentes da comuna.
c - A cor do bláu (azul) do campo do escudo é símbolo de justiça,
nobreza, perseverança, zelo e lealdade.
d - Em abismo (centro ou coração do escudo) o bloco de cristais de rocha
argente ( prata ) encimado em chefe por uma flor - de - liz do mesmo metal, vem a se
constituir no parlantismo do escudo, posto que a flor - de - liz em campo azul é o
símbolo heráldico de “Nossa Senhora da Ajuda” e o primitivo topônimo dado a cidade:
Nossa Senhora da Ajuda dos Cristais.
e - O metal argente (prata) simboliza a paz, amizade, trabalho,
prosperidade, pureza, religiosidade;
f - Ao termo (parte inferior do escudo) o triplo mantel de argente (prata)
representa no brasão as serranias, característica regional e a panóplia constituída pelos
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arcabuses entrecruzados e o gibão de bandeira lembra ter sido a cidade fundada por
bandeirantes no período de 1780 a 1800.
g - A cor sable (preto) em que são representados os arcabuses, tem
significado heráldico da prudência, sabedoria, moderação, austeridade, firmeza de
caráter.
h - Nos ornamentos exteriores, os galhos de café frutificados ao natural,
lembram no Brasão um dos principais produtos oriundos da terra dadivosa e fértil que,
além da mineração, se destaca na economia Municipal.
i - No listel de goles (vermelho), cor simbólica do amor pátrio,
dedicação, audácia, intrepidez, coragem, valentia, inscreve - se em letras argentinas
(prateadas) o topônimo identificador “Cristais”, ladeado pela data de sua emancipação
política “ 27 de dezembro de 1948”.
2.1.1.3. HINO A CRISTAIS
Letra - Professor José Maia da Silva
Música - Maria de Lourdes Matoso e João Alexandrino dos Santos
Cristais, bela pedra preciosa,
incrustada no Campo das Vertentes
És primeira na terra da Alterosa
e a que tem o mais belo sol poente
Sou brasileiro, na guerra e na paz
Sou mineiro nascido em Cristais
Avante, meu Brasil, muito feliz
caminha com você Minas Gerais
ninguém segura meu grande país
ninguém segura esta bela Cristais
Tua juventude é sadia
a cultura é tua bela espada
glorifica teu nome todo o dia
e te faz conhecida e mais amada
O teu povo de tudo é mais capaz
livre e forte, gentil hospitaleiro
e esses filhos felizes são na paz
nascem em Minas e são brasileiros.
O hino a Cristais foi oficializado pela lei nº75 de 14 de abril de 1972, na
administração do ex - prefeito Paulo Ribeiro.
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2.2. FORMAÇÃO ADMINISTRATIVA
O distrito de Nossa Senhora da Ajuda do Rio Grande de Cristais foi criado pela
Lei 2 221 de 13 de junho de 1876, como parte da Comarca de São Bento do Tamanduá,
hoje, Itapecerica.
Em fins de 1882 passou a pertencer a Comarca de Campo Belo, já com a
denominação de CRISTAIS, simplesmente.
Na década de 40 havia no Estado de Minas Gerias inúmeros distritos em via de
serem emancipados. Cristais era um deles. Fazendeiros, políticos, profissionais liberais
e estudantes lideraram um movimento pró-emancipação político-administrativa. A
emancipação se concretizou em 27 de dezembro de 1948, no art. 9º
da Lei 336 assinada
pelo então governador Dr. Milton Soares Campos. O novo município passou a ter o
nome definitivo e oficial de CRISTAIS. Foi nomeado o 1O
Intendente, Lucas Tavares
Lacerda, que organizou burocraticamente o município, até a eleição do primeiro
prefeito, realizada em março de 1949. Faziam parte dessa Intendência, os funcionários:
Secretário: Aristeu Maia; Chefe do Serviço de Fazenda: José Alane; Fiscal: Onofre
Matos Assunção.
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2.3. ASPECTOS FÍSICOS
Com uma área de 629,5 km2 de extensão territorial, densidade demográfica
17,96 hab/km2, onde vive uma população de 11 286 habitantes. Cristais está localizada
na zona geográfica do Campo das Vertentes, no oeste de Minas Gerais, inserida na
região administrativa do Alto do Rio Grande, fazendo divisa com os municípios:
Formiga, Candeias, Campo Belo, Aguanil, Boa Esperança e Guapé.
A sede está subdividida em bairros: Centro, Campinho, Serra, Morro Eduardo,
São Vicente de Paulo, José de Assis Carvalho, N.S. Aparecida, Souza Reis, Campos
Elíseos, Fonte, Alvorada, José Henriqueta, Maria Idalina Maia, Sta. Helena, Águas de
Cristais, Cinqüentenário, Vista Alegre (Chácara) e Novo Horizonte.
Fazem parte do território municipal, o Sítio Histórico e sua toponímia e as
comunidades: Segredo, Ribeirão dos Cavalos, Meia-laranja, Rosas, Fernandes,
Coqueiros, Mapam, Barreiro, Areião, Tambor, Quebra-cangalha, Monjolos, Serrinha,
Lambarí, Pântano, São Pedro, Bugios, Campo Redondo, Martins, Mata, Alves,
Alvarenga, Òleo, Costas, Valadões, Souzas, Capão Redondo e Chácara.
Cristais é um município atípico porque, embora esteja situado à margem direita
do Rio Grande, é cercado ao norte, oeste e sul pelas águas do lago de Furnas. Em
muitos trechos essas águas o invadem, quase o cortando ao meio, alcançando
abrangências de 101 km2 de espelho d’ água. Cristais faz jus à denominação de
Município Lindeiro. Porém, sua sede, situada mais ao centro-sul do município, não é
banhada pelas águas da represa.
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A hidrografia está ligada às bacias dos rios: São Francisco e Paraná. Seus cursos
d’ água mais importantes são do rio Santana que, nascendo no município de Camacho,
se incorpora à represa de Furnas no território de Cristais; e do Rio Grande que atravessa
o município através da represa e pros- segue o seu curso para o sul.
De clima tropical de altitude, a cidade tem um índice pluviométrico de
1 395 mm e temperaturas médias que vão de 16o
C a 24º
C, sendo que a média anual é
de 19,4º
C.
A altitude máxima alcança 1018 m / local: Serra dos Cristais e a mínima 810 m.
/ local: foz córrego Wilson; altitude no ponto central da cidade ( Praça José Ferreira
Filho) 880 m ; localizando-se nas coordenadas geográficas de latitude W 45º.30´ 54´´ e
, longitude S 20º
52´30´´.
De relevo predominantemente elevado ( topografia sobre um total de 100% da
área do município: Plano 20, Ondulado 60, Montanhoso 20), Cristais tem o Ribeirão
dos Cavalos e o Ribeirão do Pântano, como os riachos principais ( bacia hidrográfica do
Rio Grande) , além da Represa de Furnas.
O solo é rico em cristal de rocha, argila e grafite.
O cerrado é a sua vegetação característica com escassez de matas e galerias. Esse
tipo apresenta árvores com troncos retorcidos e folhas grossas que crescem sobre uma
vegetação de gramíneas.
2.4.ASPECTOS DIVERSOS:
O município é servido pelas rodovias:
BR 369 – que liga Oliveira à Boa Esperança
BR 354 – que liga Patos de Minas à Boa Esperança
BR 381 – que liga Belo Horizonte a São Paulo – a “Fernão Dias”.
Há também o acesso à cidade por duas estadas vicinais não pavimentadas: uma
com acesso a BR 369 e outra com acesso a BR 354.
O meio de transporte é rodoviário, possuindo, a serviço do município, empresas
de transportes intermunicipais: Viação Campo Belo fazendo o percurso : Cristais –
Campo Belo – Belo Horizonte – e/ou São Paulo; Viação Transunião fazendo o percurso:
Cristais – Formiga – Boa Esperança. Está distante de: Belo Horizonte 227 km, Rio de
Janeiro 515 km, São Paulo 445 km e Brasília 965 km. De acordo com o IBGE o censo
de 2010 contou 11.207 habitantes. Há predominância da população étnica mulata,
conseqüência da formação do Quilombo do Ambrósio I. Possui também uma população
itinerante, estimada em 300 pessoas que, diariamente, vêm das cidades vizinhas prestar
serviços à comunidade.
Há predominância da religião católica, com acentuadas tendências às religiões
evangélicas.
2.5. ASPECTOS ECONÔMICOS:
No setor primário o município possui a agricultura e a pecuária como atividades
principais. Os principais produtos agrícolas são: o café, o milho, arroz, feijão e a soja. A
pecuária é bovina, suína, avícola ( frangos e avestruzes).
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Com exceção da soja, os demais produtos fazem parte da agricultura familiar e
todos são de suma importância na composição da renda e sobrevivência das famílias.
PESCA
Dentre as diversas espécies de peixes, a traíra, a tilápia, o dourado, o mandi, o
piau e o tucunaré são os mais importantes de nossa pesca. Com uma média de mais ou
menos 50 kg semanais por pescador, durante 8 meses, é o principal produto na
composição da renda e subsistência da maioria dos pescadores de nossa região. Planeja-
se organização de uma cooperativa dos pescadores.
O produto peixe ainda não entra na merenda escolar. Deverá ser introduzido,
pois se trata de um rico alimento.
Desenvolve também a extração vegetal (madeira) e mineral (cristal de rocha,
argila, calcário e grafite), em baixa escala.
No setor secundário as micro-indústrias predominam. São 69 indústrias. A
confecção de artigos do vestuário e acessórios é o ponto forte na atividade industrial; 45
facções gerando um considerável número de empregos diretos.
No setor terciário o município conta com um comércio variado. Possui três
agências bancárias: Banco do Brasil, Banco Credibelo e Bradesco. Conta também com
uma casa lotérica: Loteria “Cristal da Sorte”, respondendo pela Caixa Econômica
Federal.
2.6. ASPECTOS EDUCACIONAIS
Cristais era um povoado carente de instrução. Não havia escolas, nem
professores. O sr. Aureliano Reis, tendo constituído família, e, sentindo a necessidade
de oferecer estudos para seus filhos e amigos, resolveu então, doar um terreno,
conforme escritura registrada no Cartório Maia Rios, de Campo Belo, em 17/08/1915,
Livro 3 A, fls. 134. Nesse local, ele construiu um prédio para a 1ª. Escola de Cristais
que, a principio, recebeu o nome de “Escola Mista”. Mais tarde, sob o Decreto de
Criação no. 9180 de 19/10/1929, passou a integrar o sistema de “Escolas Reunidas” (
inclusive as escolas da zona rural).
Os primeiros professores foram: João Moreira Maia, Amélio Pimenta de Abreu,
Rita Maria de Oliveira, Antônio de Castro, João Pânfilo Guimarães, Amélia Moyle
Maciel e outros.
No movimento pró emancipação político-administrativo do município, muitos
cidadãos cristalenses trabalharam, destacando, entre vários, o sr. Pe. Celso José
Pinheiro. Após a emancipação municipal a “Escolas Reunidas”, recebeu a denominação
de Grupo Escolar Pe. Celso Pinheiro, passando para a autarquia estadual.
Aos 22/05/1970, a Prefeitura Municipal de Cristais, representada pelo sr. Hélio
Ferreira, adquiriu um terreno para ampliação do espaço físico da escola. Na gestão do
prefeito Aristeu Maia, o antigo prédio foi demolido. Iniciou-se a construção de outro,
com arquitetura moderna, ampla e espaçosa, e área disponível de 1860 m2.
Mediante a LDB 9652/71, a escola recebeu a denominação de Escola Estadual
Pe. Celso Pinheiro de 1º. Grau e, de acordo com a Resolução 8751/98, a autarquia
administrativa da escola passou para a esfera municipal com a denominação Escola
Municipal Pe. Celso Pinheiro
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Tendo a demanda escolar crescido significativamente, o povo cristalense sentiu
por bem, unir-se para reivindicar do governo do Estado, representado, na época, pelo
Dr. José de Magalhães Pinto, outra escola. Foi assim que, em 1964, nascia o Grupo
Escolar Antero Maia. O corpo docente do Grupo Escolar Pe. Celso Pinheiro foi
desmembrado, sendo que uma parte foi deslocada para o Grupo Escolar Antero Maia.
Ao longo do tempo essa escola sofreu intervenções em sua estrutura física: reformas,
ampliações, etc. Passou também por uma ruptura na sua estrutura funcional, no processo
de negociação com o Estado, por ocasião da transferência da autarquia administrativa
para o município. Hoje recebe a denominação de Escola Municipal Antero Maia.
Em 1965 foi criada pela Lei 3 844 de 17/ 12/ 65 o Ginásio Estadual D.Osmar
Bicalho, para atender a demanda escolar de jovens que deixavam sua cidade natal, para
ampliar seus estudos em cidades vizinhas. Em 1985 foi autorizado o funcionamento do
curso de Magistério e Científico. Hoje oferece os ensinos: Fundamental e Médio.
Educação na zona rural- o ensino ficava sob a responsabilidade dos
latifundiários que agregavam, além de suas famílias, as famílias dos colonos. O ensino
era particular. Os donos das fazendas remuneravam professores para ensinar as
primeiras letras. Assim surgiram as primeiras escolas: Escola Combinada Martins de
Ázara, Escola Combinada Souza, Escola Combinada Fernandes, Escola Combinada
Valadões, Escola Combinada Rosas, Lar-escola na Fazenda de São Pedro. Professores:
Antenor Pio de Morais e Conceição Silveira, entre outros. Na gestão 1967/1971, do
então prefeito Hélio Ferreira, foram criadas, na zona rural, 14 escolas estaduais.
A Escola da APAE de Ensino Especial foi criada pela Lei 499 de 26/11/91.
A Escola Máximus, de autarquia administrativa particular, foi criada em
01/04/96.
De acordo com o perfil educacional, Cristais está inserido na Mesorregião:
Oeste de Minas; Microrregião: Campo Belo; Superintendência Regional de Ensino:
Campo Belo; Região de Planejamento: Centro Oeste de Minas; Polo Regional de
Ensino (Sede): Sul (Varginha)
O Município de Cristais conta atualmente com:
. CEMEIs – 06 unidades ( 03 na zona urbana e 03 na zona rural)
. APAE – 01 Ensino Especial ( zona urbana)
. Escola Curumim Emídio Gambogi ( metodologia diferenciada)
. Escola Municipal “Pe. Celso Pinheiro” – Educação Infantil e Série Introdutória à 4ª
série ( zona urbana)
. Escola Municipal “Antero Maia” – Educação Infantil e Série Introdutória à 4ª
série (
zona urbana )
. Escola Municipal Prefeito Aristeu Maia – Educação Infantil, Série Introdutória à 4ª
série, Ensino Fundamental 5ª
à 8ª
série e Ensino Médio ( zona rural)
. Escola Municipal João de Assis Campos – Educação Infantil, Série Introdutória à 4ª
série e Ensino Fundamental 5ª
à 8ª
série ( zona rural)
Escola Municipal de Alves – Ensino Infantil e Série Introdutória à 4ª
série
( zona rural)
. Colégio Máximus- Série Introdutória à 4ª
série, Ensino Fundamental 5ª
à 8ª
série e
Ensino Médio ( zona urbana - dependência administrativa particular)
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.Escola Estadual Dr. “Osmar Bicalho” – Ensino Fundamental 5ª
à 8ª
série e Ensino
Médio ( zona urbana)
. Escola de Corte e Costura “ Joaquim Eliazar” – profissionalizante –municipal
Educação Universitária - Pedagogia, Pós graduação em Psicopedagogia.
O abastecimento de energia elétrica urbana e rural é feito pela CEMIG; o
abastecimento da água na zona urbana é feito pela COPASA.
A cidade conta com rede de esgoto, atendendo cerca de 95% da população.
A limpeza urbana é regulamentada por legislação municipal. O serviço é
executado pela própria prefeitura através da coordenação de Assessoria Técnica e do
Meio Ambiente que coleta e trata o lixo na Usina de Reciclagem e Compostagem do
Lixo.
São 30 km de ruas, sendo 22 km pavimentadas.
O Município possui 53 estabelecimentos de serviços prestados à população, com
estimativa de 1/3 da população na ativa.
Possui ainda:
. Delegacia de Polícia
. Polícia Militar
. Cadeia Pública
. Posto de Atendimento Policial
. Juizado de Pequenas Causas
. Juizado de Conciliação
. COMCA (Conselho Municipal da Criança e do Adolescente)
. Conselho Tutelar Municipal
. Junta Militar
. Biblioteca Pública Municipal
. Sindicato Rural
. Sindicato dos Trabalhadores Rurais
. Sindicato dos Pescadores
. Posto da EMATER
. Posto do INCRA
. Posto do SIAT ( Serviço Integrado de Assistência Fiscal Tributária)
. Cartório de Registro Civil e Notas
. Posto da CAPEBE ( Cooperativa Agropecuária Boa Esperança)
. Praça de Esportes CEEM ( Centro Esportivo Estudantil Municipal)
. Ginásio Coberto – Poliesportivo “ José Henriqueta”
. Hotel Pousada “ Rota do Sol”
. Restaurantes : “Das Neves” e “ José Reis”, “Boa Vista”, “Obelix”
. Pizzarias –
. Terminal Rodoviário
. Matadouro Municipal
. Funerárias
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2.7. SERVIÇOS REALIZADOS EM OUTRAS CIDADES:
Campo Belo
. IBGE, INSS, IEF, Fórum “Raphael Magalhães”, Superintendência Regional de
Ensino, Receita Federal, Cartório de Registro de Imóveis.
Varginha
. FEAM
2.8. SERVIÇOS DE COMUNICAÇÃO:
Cristais conta com:
. Agência de Correios
. Emissora de Rádio Comunitária “ Rádio Cristal FM “
. Sistema de Telefonia: DDD (código 35) Telefonia fixa e móvel, telefones
públicos ( 44 orelhões)
. Internet
. Jornal Ocasião (regional)
2.9. SERVIÇOS DE SAÚDE:
. Hospital Municipal “ Santo Antônio”
. Postos do PSF ( Programa de Saúde da Família)
. Farmácia Básica Municipal
. Farmácias Particulares ( 08)
. Centro Odontológico Municipal
. Consultórios Odontológicos Particulares ( 10)
. Centros de Fisioterapia Particulares (05)
. Atendimento fonoaudiólogo e nutrição
2.10. ENTIDADES ASSISTÊNCIAIS:
. Asilo “São Vicente de Paulo”
. Clube da 3ª
idade
. AA ( Grupo de Alcoólicos Anônimos)
. Assistência “ Casa Lar”
2.11. CLUBES DE SERVIÇOS:
. Rotary Club
. Interact Club
. Rotaract Club
. Rotary Kid
. CEBs, MFC, JUCAL, MCC, ( grupos ligados as suas Igrejas)
. Pastoral da Criança
. Associações Comunitárias ( urbanas e rurais)
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2.12. CULTURA
O Conselho Municipal de Cultura foi criado pela Lei no. 932 de 03/12/2001
2.13. MANIFESTAÇÕES E TRADIÇÕES CULTURAIS:
l..a. Religiosas:
. Festa do Reinado
. Festa de São Sebastião
. Festa da Padroeira N. S. da Ajuda
. Festa da Padroeira do Brasil N. S. Aparecida
. Folia de Reis
. Semana Santa
. Mês Mariano
. Procissão de Corpus Christi
. Romarias: a Aparecida, a Itaci, a Santana do Jacaré, a Três Pontas, `a São
Roque de Minas, a Congonhas do Campo ( a pé e de ônibus)
. Cavalgadas: a Aparecida, a Guapé, a Aguanil, à Serra da Canastra.
1.b. Populares:
. Festa do Dia da Cidade
. Festival do Biscoito
. Quermesse junina
. Festa do Peão de Boiadeiro
. Mutirão
. Reveillon
. . Carnaval ( festejada na rua, envolvendo toda a população)
2.14. Eventos desportivos:
. corridas rústicas
. gincanas
. torneios e campeonatos de futebol
. competição de ciclismo
2.15. Grupos musicais:
. Banda de Música: “Corporação Musical Cristalense”
. Fanfarra “Aristeu Maia”
. Corais de músicas sacras: “Sagrado Coração de Jesus”, “ Jesus Sacramentado”, “Santa
Cecília”, “Àgape”, “JUCAL”,
. Duplas sertanejas: Max e Moreno, Irmãs Reis e Cristalino
2.16. Artesanato e artes populares:
. arranjos florais
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. fios: bordados, crochê, tricô e tecelagem
. fibras: confecção de cestos, peneiras, vassouras, chapéus
. cobre: fundição do metal para confecção de tachos
. pintura a óleo em telas e tecidos.
2.17. Gastronomia típica:
Segue a mineira; o biscoito de polvilho (caseiro) é o destaque. Deu aos
cristalenses a alcunha de “biscoiteiros”.
2.18. Atrações Turísticas:
Pontos visitados:
. A Igreja Matriz N. S. da Ajuda ( visitação ao túmulo do Monsenhor Celso
José Pinheiro, cujos restos mortais estão depositados no interior da igreja. Padre, filho
de Cristais, exerceu o sacerdócio por 48 anos em sua terra natal ).
. O cruzeiro do Morro da Boa Vista
. Montanhas de Cristais – Centro de Visitação Turística que tem como marco a
escultura do Cristo Redentor.
. Serra do Garimpo (onde se encontram galerias e túneis resultantes das
escavações – não são abertas ao público)
Grande foi a procura pelos cristais de rocha para exportação, na época da 2a.
Guerra Mundial, pois o minério era muito empregado na fabricação de armas. Nessa
época, as jazidas de cristal de rocha e citrine tiveram maior exploração, atraindo
imigrantes para o local. O comércio concentrou-se no garimpo: garimpeiros,
exploradores, compradores, vendedores, lapidários. Viveram um tempo estranho, onde
sonho e realidade se misturavam. Isso deu origem à lenda da “Mãe do Ouro”. “ ... um
pequeno cometa atravessou o céu de Cristais, vindo cair na serra. As pessoas que o
viram , diziam ser a “Mãe do Ouro” e, onde caísse, ali estaria enterrado um grande
tesouro. Muitas pessoas saíram à procura desse tesouro, descobrindo algumas pedras
semi-preciosas , o cristal, dando origem à exploração do minério na serra dos cristais.”
Na década de 60, a extração do cristal foi reativada, mas de forma artesanal. As
pedras polidas em lascas, devidamente lapidadas, eram exportadas, principalmente para
o Rio de Janeiro e norte de Minas.
Hoje o garimpo é apenas um atrativo turístico.
. O Lago de Furnas rico em peixes, propício à pesca. È propício também à
prática de esportes náuticos.
. O Porto dos Fernandes às margens da Represa de Furnas, de águas tranqüilas
e paisagem exuberante
. O Aterro (margem do Lago de Furnas, propício à pescaria)
. A Balsa (localizada no Porto dos Fernandes, faz a travessia da Represa de
Furnas para Guapé)
. A Pedra Misteriosa: marca de duas pegadas, segundo a tradição local
(localizada na comunidade de Óleo)
. Remanescentes do Quilombo do Ambrósio I (localizado na comunidade de
Meia-laranja).
Caminhos pitorescos com restos de exploração de cristal ( lascas e “lápis”)
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2.19.Espaços de Lazer e Cultura:
. praças e jardins arborizados, com pistas para caminhadas
. CEEM – praça de esportes e também clube recreativo
. Clube “Jubileu de Prata”- onde se realizam eventos culturais e artísticos
. Ginásio Poliesportivo – onde se realizam eventos desportivos e festas religiosas e
profanas.
. Espaço Cultural “ D. Francisco Barroso Filho” - onde se realizam eventos religiosos,
exposições de artes sacras, históricas e culturais.
BIBLIOTECA PÚBLICA MUNICIPAL “ JOSÉ PINHEIRO DE SOUZA”
instituída pela Lei Municipal Nº 037 de 20 de setembro de 1970.
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MUSEU HISTÓRICO MUNICIPAL DE CRISTAIS instituído pelo Decreto
nº 075 de 20 de novembro de 2007.
ARQUIVO PÚBLICO MUNICIPAL DE CRISTAIS/MG instituido pela Lei Municipal
Nº 1. 485 de 13 de julho de 2009.
3. HISTÓRICO DO REINADO - ANTECEDENTES HISTÓRICOS
3.1. PRIMEIRA POVOAÇÃO DO AMBRÓSIO
I QUILOMBO DO AMBRÓSIO – SÍTIO HISTÓRICO DE CRISTAIS
“ ... em 1746 seus habitantes e suas roças foram atacadas
e destruídas pelo capitão Antônio João de Oliveira ... “
Em 1713, Antônio Albuquerque Coelho governava a Capitania de São Paulo e
Minas do Ouro. Achando as minas um ponto ideal para constituírem um distrito novo,
desmembrado do velho distrito de São Paulo, o então governador resolveu formar a
Capitania das Minas do Ouro.
Por volta de 1720, na região dessa Capitania banhada pelo Rio Grande,
começaram a florescer povoados de gente humilde que, acolhendo a todos,
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principalmente escravos fugitivos, ali mineravam e plantavam suas roças. O rio que ali
corria era aurífero com terras férteis e matas abundantes, favorecendo a sobrevivência
humana. As características próprias da mineração e a grande miscigenação aumentaram
a população de negros livres. Eles se julgaram no direito de serem pioneiros na
conquista do sertão e fundadores de povoações. Surgiram assim, os quilombos, locais
bem escondidos de difícil acesso, onde os escravos fugidos se reuniam para construir
suas casas e plantar suas roças. Viviam em sociedade, livres da escravidão, até que
fossem atacados pelos capitães do mato. Estes primitivos núcleos deram origem a
muitas cidades mineiras.
A historiografia mineira registra os fatos históricos ocorridos no século XVIII
omitindo a realidade da sociedade escravocrata. O então governador, Gomes Freire de
Andrade, parece ter imposto uma espécie de segredo de Estado, sobre os fatos ocorridos
a respeito do Quilombo do Campo Grande. Assim, os chamados “homens bons”, os
portugueses, brancos ricos, monopolizavam o poder.
O CAMPO GRANDE era uma região que abrangia uma grande extensão do
sertão das Minas do Ouro. Neste local formou-se um quilombo que se tornou conhecido
como O QUILOMBO DO CAMPO GRANDE. Este quilombo era formado por muitos
núcleos ou vilas, sendo um deles o QUILOMBO DO AMBRÓSIO, fazendo parte da
CONFEDERAÇÃO QUILOMBOLA DO CAMPO GRANDE. O Quilombo do
Ambrósio por sua extensão, organização administrativa e independência econômica era
considerado a capital do Campo Grande.
O Quilombo do Ambrósio já existia em 1726. Até 1746, sob a denominação de
PRIMEIRA POVOAÇÃO DO AMBRÓSIO localizava-se no atual município de
Cristais. A Primeira Povoação do Ambrósio foi a semente da imensa Confederação
Quilombola do Campo Grande, onde reinavam Rei Ambrósio e Rainha Cândida. Preto
Ambrósio ou Pai Ambrósio, era assim denominado pela sua nobreza de alma. Foi um
grande líder pela sua inteligência organizadora, sua bravura. Homem dotado de todas as
qualidades de um grande general.
O Quilombo do Ambrósio foi um modelo de organização, disciplina e trabalho
comunitário. Havia uma hierarquia administrativa, constituída de elementos da
confiança do Rei Ambrósio. O progresso que atingiu o Quilombo do Ambrósio,
conseqüência de grande liderança, deixava inseguras as autoridades governamentais,
“os homens bons”.
O documento seguinte mostra como os negros incomodavam: Carta do
governador da Capitania das Minas do Ouro, Gomes Freire de Andrade, datada de 08 de
agosto de 1746 informa à coroa que, na parte chamada Campo Grande ( entre a
comarca de São João Del Rei e Goiás ) principiou , há mais de 20 anos, a formar - se
um troço de negros a que vulgarmente chamam quilombo. Há anos se tem aumentado e
crescendo o quilombo para fazerem dano aos brancos e de outras comarcas, destacam
continuidade partidas de 20 e 30 negros que executam roubos crudelíssimas mortes;
algumas partidas se apanharam e posto, lhe fez justiça, não foi bastante o remédio;
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antes, se aumentou o número de negros aquilombados, e chegou a tanto que segundo os
melhores cálculos, passava já de mil negros e grande número de negras e crias; unindo
este poder, elegeram rei e formaram uma falange assaz forte e determinando - se
aparecer, o fazem com insolência de queimar as vivendas, mataram os senhores delas,
forçaram as famílias e levaram os escravos que entendem... ( Revista do APM - Seção
Colonial ).
Quilombos, até então, eram somente os esconderijos de escravos fugidos da
escravidão. Na Confederação Quilombola do Campo Grande, o governador Gomes
Freire de Andrade decretou que Quilombos eram também os povoados de pretos forros
e brancos pobres que, juntos com seus escravos, fugiam do Sistema Tributário da
Capitação que vigorou entre 1735 e 1751.
No Sistema Tributário de Capitação os pretos alforriados, isto é libertos, tinham
que pagar impostos sobre suas próprias pessoas, sob pena de multa e prisão. O governo
proibia, mesmo às pessoas livres, trabalharem nas lavras de mineração, nas roças ou em
qualquer lugar, sem pagar o imposto de seis em seis meses. Nesta época, trabalhar era
uma ocupação só para escravos. Quem trabalhasse ficava desmoralizado perante a
sociedade. Quem tivesse escravos não precisava trabalhar. Porém, se não pagasse o
imposto pelos seus escravos, perdia esses escravos para o governo e ainda ia preso.
O Imposto da Capitação estava levando Minas à falência, pois, a maioria dos
pretos forros e brancos pobres, com seus escravos, fugiu das vilas oficiais. O
governador, Gomes Freire, não conseguia arrecadar mais todo ouro que queria para
mandar a Portugal.
A partir de 1735, para não serem presos, chicoteados, torturados e roubados, os
pretos forros e os brancos pobres, começaram a fugir das vilas oficiais. Juntamente com
os seus próprios escravos foram para os sertões do Campo Grande, onde criaram
dezenas de povoações em toda região das atuais cidades de Arcos, Itapecerica, Piumhi,
Formiga, Cristais, Aguanil, Guapé, Boa Esperança, Três Pontas e muitas outras.
Já, por volta de 1725, dez anos antes da implantação do Sistema Tributário da
Capitação, aqui nesta região onde hoje se localiza o município de Cristais, começou a se
formar uma povoação, liderada pelo Rei Ambrósio. Rei Ambrósio ou Pai Ambrósio era
assim conhecido pela sua capacidade de liderança, organização e trabalho. Era um
agricultor mágico. Suas mãos faziam brotar qualquer coisa. Inventava métodos e
técnicas novas de plantar de tudo em suas roças. Ensinava e ajudava a todos, através dos
mutirões, a construir suas casas, celeiros, barracões, salões de festas, capelas, etc. Não
praticava a guerra. Era de paz. Todo mundo gostava muito do rei-agricultor que
distribuía mantimentos de graça para quem não tivesse ouro para pagar os impostos.
A Povoação do Ambrósio cresceu. Sua situação geográfica, à beira do Rio
Grande, dava acesso às várias povoações de fugitivos do Imposto da Capitação, através
dos portos fluviais no próprio Rio Grande, no Sapucaí e no Rio Verde, etc., aos quais
fornecia mantimentos de suas ricas roças.
Gomes Freire viu que quem ajudava todo mundo no Sertão do Campo Grande
era o Ambrósio e sua Povoação. Enquanto as cidades oficiais ficavam vazias, as
povoações de fugidos aumentavam cada vez mais. Assim, a Povoação do Ambrósio foi
crescendo e ficando cada vez mais poderosa. Então, os ricos comerciantes portugueses
que exploravam os brasileiros, o governador de Minas e Rio de Janeiro, os ouvidores, os
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oficiais e juízes começaram a reclamar. Decretaram que a Povoação do Ambrósio era
um quilombo e que era preciso destruí-la.
3.1.1. Ataques em 1741 e 1743
Os “donos do poder”, os “homens bons” não estavam satisfeitos com a
postura e a conduta dos aquilombados. Constataram que os negros já estavam formando
o Quilombo do Campo Grande (Quilombo do Ambrósio) onde ficava a sua capital, a
Primeira Povoação do Ambrósio (hoje município de Cristais) desde os meados de 1726,
e que haviam descoberto terras férteis e com faisqueiras de ouro. Assim, precisavam
expulsá-los e destruí-los, para que essas terras pudessem, com toda sua riqueza, vir às
mãos dos ” homens bons”.
As reclamações foram insistentes contra os negros fugidos e os insultos
que praticavam.
Foi assim que em 1741, o governador Gomes Freire de Andrade,
divulgou o alvará régio de 03 de março, ordenando “a todos os capitães - mores e
demais oficiais de milícia do Distrito do Sertão das Contagens para fora que, tendo
notícia de que os ditos negros Quilombolas se achavam em algumas paragens
arranchados ou em outra qualquer parte onde façam dano com seus roubos e
malefícios, ponham todo cuidado e diligência em os prender, forçando - os com gente e
seguindo - os até com efeito os amarrarem todos; e caso os ditos negros se ponham em
resistência os atacarão com fogo, obrigando - os a que se rendam por força das armas.
Os negros que foram aprisionados em Quilombos se punha com fogo uma marca em
uma espádua com a letra “F” que, para este efeito, haverá nas Câmaras; e se quando
for executar esta pena, for achado já com a marca, se lhe cortará uma orelha”. ( APM
- SC )
Atacaram os negros, mas não conseguiram destroçá-los, ou talvez tenham
sido derrotados.
Não tendo conseguido destruir os negros, a grande preocupação do
governador Gomes Freire de Andrade passou a ser o aumento do número de quilombos
que passariam a induzir os melhores escravos a praticarem roubos, massacres,
perturbando a vida dos moradores.
Em 1743 aconteceu, então, outro ataque ao Quilombo do Campo Grande,
destruindo vários núcleos: quilombos do Gondu, Calunga, Trombucas, Quebra-pé, Boa
Vista e Cascalho Velho, correspondendo onde hoje se localizam as cidades de: Entre
Rios de Minas, Nepomuceno, Três Pontas e Campos Gerais. Também desta feita, o
governador e seus capitães do mato não conseguiram destruir a Primeira Povoação do
Ambrósio.
Gomes Freire preparou então, um terceiro ataque.
Os moradores de todas as povoações do Campo Grande, que também foram
consideradas quilombos pelo governador, se juntaram e resolveram defender a
Povoação do Ambrósio.
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3.1.2. Guerra de 1746
Em 1746, o próprio governador promove o maior de todos os ataques ao Campo
Grande, confiando o comando das tropas ao capitão de Cavalaria Antônio João de
Oliveira, através do seguinte documento:
“Para o Capitão Governador e Comandante das Tropas Expedidas ao
Campo Grande, Antônio João de Oliveira.
A grande consternação em que os negros aquilombados no Campo
Grande tem posto estas duas comarcas, e o grande número que novamente concorre
com os quilombos, tem feito precisa a providência tomada de extinguir os ditos
quilombos, foi a pessoa de vossa mercê, por mim eleita, entre tantos oficiais capazes,
para Comandante desta expedição; e eu certo de seu grande valor, zelo no serviço de
sua Majestade, e do conhecimento e experiência que tem em fazer guerra a esses
bárbaros matadores, adquira nos antecedentes anos à custa da sua fazenda, e do seu
sangue. ( … ) Mandei três oficiais de guerra às freguesias dos Carijós, Congonhas,
Ouro Branco e Pardos, para que delas tirassem e pusessem em marcha duzentos
homens armados; e o Capitão - mor da Vila de São João Del Rei, ordenei tirasse
daquela vila e suas vizinhanças 60 homens armados que acompanhassem outros 60 que
o Capitão da Costa Chaves tem incumbência de apontar ( … ). Se os negros como
entendemos pelo que estão fortificados, se defenderem, estou certo se lhes fará fogo de
mosquetaria, e granadas ( … ) se defenderem se não perdoara algum, porém advertido
que rendidos não consentirá vossa mercê os mantém, pois ainda que bárbaros não é
justo o sejamos igualmente. Se os negros despovoarem o quilombo, o seguirá vossa
mercê mandando - os matar se resistirem, e prendendo se renderem, livrando sempre o
grande número que se diz ter de criança de chegar a padecer sendo inocentes. Os
negros, negras e crianças por qualquer forma que sejam presos, Vossa Mercê os
mandará tratar, fazendo - se remeter a esta vila ao Dr. Ouvidor Geral para proceder
com eles na forma do meu bando, tudo com clareza e pela sua mão me irá dando conta
do que for obrando ( … ).
Em tudo espero vossa mercê enchendo o grande conceito que faço da
pessoa de vossa mercê, do seu grande zelo e capacidade, e que o efeito desta operação
seja muito conforme a expectação em que fica esta Capitania, e que eu tenha a honra
de por na Real presença de sua Majestade o distinto serviço que vossa mercê lhe fizer
nesta ocasião. Deus o guarde. Vila Rica a 1º de junho de 1746/Gomes Freire de
Andrade”. ( APM - SC 84, fls. 109v a 110v )
O Quilombo do Campo Grande que Gomes Freire de Andrade referia
corresponde hoje à margem direita do Rio Grande, a região sul de Formiga e o
município de Cristais ( Primeira Povoação do Ambrósio) e à margem esquerda, região
compreendida dos atuais municípios de Guapé, Carmo da Cachoeira, Nepomuceno,Três
Pontas, Campos Gerais, Carmo do Rio Claro e Alterosa.
Este ataque de 1746 foi o maior de todos. O Governo mandou uma tropa de mais
de 400 homens a cavalo e a pé. Como Ambrósio e seus amigos eram lavradores, o
governador pensou que seria fácil acabar com eles, achando que tinham somente arcos
de flechas e lanças. Foi um grande erro de Gomes Freire e do capitão Antônio João de
Oliveira.
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As outras povoações quilombolas, revoltadas com tamanha covardia, se
reuniram e se entrincheiraram perto no Morro das Balas, numa região ao norte da atual
vizinha cidade de Formiga. Sabiam que o caminho das tropas para atacar a Povoação do
Ambrósio seria aquele que vinha do Tamanduá (atual cidade de Itapecerica). A luta foi
sangrenta. As tropas do capitão Antônio João de Oliveira, mesmo usando armas de fogo
e granadas, só conseguiram tomar as trincheiras dos amigos de Ambrósio depois de dois
dias de fogo cerrado. Morreu muita gente, dos dois lados. Não se sabe ao certo o
número de mortos. A população mínima estimada para a Povoação do Ambrósio,
atacada em 1746, seria 1400 a 4500 homens Os quilombolas que escaparam foram se
unir aos quilombolas da Primeira Povoação do Ambrósio, nos morros do Quilombo, do
Redondo, da Meia Laranja, no município de Cristais.
Recompostas suas tropas, abandonando os feridos e os mortos, o capitão
Antônio João de Oliveira desceu acompanhando o rio Formiga e, em sua foz, atravessou
o Lambari ainda com mais de duzentos homens do mato. Continuava na crença de que
matar os quilombolas lavradores era fácil, pois não tinham armas de fogo: só enxadas,
enxadões, picaretas, almocafres e, talvez, alguns arcos de flecha e lanças.
As casas da Povoação ficavam de comprido, entre o Morro do Quilombo e o
Morro Redondo, se espraiando em volta da Lagoa que ficava entre os locais que depois
se chamaram Antonio Fernandes, José Rosa e Vargem dos Medeiros. Um punhado de
gente ficou esperando, cantando e servindo de isca para atrair as tropas do governador
Gomes Freire.
Quando o capitão Oliveira ia atacar, viu uma multidão de quilombolas descendo
silenciosamente do Morro do Quilombo, do Morro Redondo e da Meia Laranja, a
caminhar na direção de suas tropas. Ambrósio, à frente, trazia uma bandeira branca.
Oliveira pediu a cabeça do negro Ambrósio.
Ambrósio largou a bandeira branca, empunhou sua lança fez sinal para os
homens. Houve o encontro entre estes três morros. Homens, mulheres e crianças
enfrentaram os capitães-do-mato e as outras tropas do governador. Foram sete horas de
faca batendo em faca, das lanças contra as baionetas... Morreu muita gente. Estes vales
ficaram estercados de cadáveres. Até há pouco tempo, ainda se achavam por aqui
pedaços de espingardas, lâminas de facas, pontas de lanças, flechas e biqueiras
metálicas das bainhas das espadas.
O capitão Oliveira, quando vira que estava perdido, fugiu com os seus
principais homens. Para justificar sua covardia, mentiu para o governador que pelo
menos tinha matado o Pai Ambrósio. Pois, agora, com os olhos cheios de lágrimas e o
corpo todo ferido e banhado de sangue dos inimigos, a pedido de seus quilombolas, o
Lavrador Pai Ambrósio passou a ser chamado de Rei Ambrósio, o Guerreiro.
A partir desta grande batalha, quando foi atacada a Primeira Povoação do
Ambrósio e dizimado quase todos os seus quilombolas, os que sobreviveram ao
massacre e não foram presos, fugiram e chegaram à região onde hoje se encontram os
municípios de Campos Altos e Ibiá. Essa região ficava na Comarca de Goiás. Goiás
pertencia à Capitania de São Paulo, pois as divisas geográficas e políticas das capitanias
ainda não estavam definidas
Nessa época, paulistas desafiavam o governo da capitania das Minas do Ouro,
visto que estava tomando posse de inúmeras descobertas na Comarca do Rio Mortes em
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nome do Governo de São Paulo, questão que só seria resolvida legalmente, com
definição das fronteiras de Minas em 1749. Nessa data, o Desembargador Tomás
Rubim, ouvidor mor de São João Del Rei, fez o serviço de demarcação, colocando o
Rio Grande como raia de divisão entre a comarca de São Paulo, Goiás e Minas Gerais.
Para ali, na atual região dos municípios de Campos altos e Ibiá, o Rei Ambrósio
determinou a mudança de sua capital e se organizaram em outro Quilombo do
Ambrósio. Porém, deixou na região do atual município de Aguanil, uma pequena
povoação – Relíquias do Ambrósio – bem como, mandou que suas esquadras de
guerreiros frequentassem sempre a região da Primeira Povoação, onde deixou DOIS
SEGREDOS nunca encontrados.
Em 12 de maio de 1758, Diogo Bueno da Fonseca e Bartolomeu Bueno do
Prado, receberam portaria do atual governador José Antônio Freire de Andrade ( irmão
de Gomes Freire de Andrade ) para entrar no Campo Grande e “destruir as relíquias do
Quilombo do Ambrósio que ia principiando a engrossar - se e a fazer - se temido”. (
carta da Câmara de Tamanduá a Rainha D. Maria I).
A última guerra demorou 3 anos para ser preparada e contando com o ataque de
1758 e o ataque final de 1760 foram mais de dois anos de combates acirrados.
Graças à bravura do Rei Ambrósio e de seus quilombolas, o rei de Portugal
mandou acabar com o Imposto da Capitação. Ambrósio queria mais... morreu treze
anos mais tarde, em 1759, no Quilombo da Pernaíba, hoje cidade de Patrocínio, lutando
por um ideal maior chamado LIBERDADE.
A Guerra Geral do Campo Grande durou mais de 30 anos.
Após a guerra muitos negros presos fugiram. Não aceitaram a escravidão.
Voltaram para o Campo Grande. O heroísmo e o sangue dos mártires revigoraram o
Quilombo do Campo Grande que nasceu das cinzas.
Dr. Passos Maia registrou em seu livro: “ Guapé – reminicências-“, ( romance)
que em 1885... “no dia seguinte chegamos à Chystaes às 5 horas da tarde... depois do
jantar, sahimos. Andamos quase a noite toda por caminhos impossíveis, por serras e
mattas, até que encontramos numa brenha, em meio da matta, um rancho de sapé, onde
ardia um fogo, mas que estava deserto. O mulato queria por toda lei que pouzassemos
ali, mas não estivemos por isso. Era um quilombo de negros fugidos e com certeza
comparsas delle e, se tivéssemos tido a imprudência de lá dormir, teríamos cahido na
sua esparrela... Pelo registro deste incidente, concluímos que o quilombo, renascido das
cinzas estava vivo antes da abolição da escravatura, que se deu em 1888.
Os chamados “quilombos” já não eram mais só escravos fugitivos.
A maioria dos povoados que floresceram foram obras dos negros fugidos. Os
povoados que se submeteram aos oficializados das vilas, sobreviveram e deram origem
a muitas cidades mineiras; os que não se submeteram, foram considerados quilombos e
como tal, destruídos.
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Os negros que vieram para as regiões das minas (Minas Gerais, São Paulo e Rio
de Janeiro) eram do grupo Bantos (região do sul da África). Por isso diferem na
aparência física e também nos costumes dos negros do Nordeste (Pernambuco, Bahia)
que eram Sudaneses. Cada grupo tinha suas tradições e seus hábitos particulares, suas
normas de conduta e seus valores.
Os bantos eram agricultores e tinham conhecimento de metalurgia.
Os escravos bantos que chegavam ao Brasil eram embarcados em alguns portos
africanos como Luanda, Benguela e Cabinda na Costa de Angola e os portos de Ajudá e
Lagos na Costa da Mina. Notamos aqui o nome Ajudá que, mais tarde, seria o nome da
padroeira do município de Cristais, influência dos colonizadores portugueses. Portugal
exercia o comércio com a África através do oceano Atlântico servindo-se do porto
Ajudá.
Na cultura cristalense, a influência africana é forte e viva. Temos o Reinado, a
Capoeira, o samba, o batuque. No nosso vocabulário usamos: moleque, canjica,
miçanga, cafuné, mandioca, quilombo, jiló, quiabo, quitanda, marimbondo, marimba,
mucambo, banzo, cuíca, pandeiro, amparo, apoio, aprumar, aprumado, arigó, ariranha,
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macaia, bicota, bacuri, cafundó, cafunga, calunga, cumbaca, mumbaca, cupia, embornal,
quenga, jerico, malungo, matula, mirante, moca, pinguela, capanga, pegante, pisante,
saravá, mandinga, patuá, aluá (refresco feito da casca do abacaxi) etc.
Somos devotos de Nossa Senhora do Rosário, Santa Ifigênia e São
Benedito, que eram os principais santos de devoção das irmandades de “homens pretos”
Os africanos já eram adeptos do catolicismo, principalmente os bantos que vieram de
Angola e Congo.
3.1.3. As famílias afrodescendentes
A população parda é predominante no município de Cristais. As tradicionais
famílias de origem quilombola se destacam no âmbito econômico social: Adão,
Alexandre, Balbino, Batista, Bento, Benedito, Bras, Bueno, Caetano, Cândida,
Cassiano, Celestino, Costa, Dutra, Estevão, Gastão, Jerônimo, Luiz, Mata, Miguel,
Norvina, Paula, Pereira, Pimenta, Rodantino, Roque, Sabino, Teodolino e Torquato. São
homens e mulheres que nunca desistiram de seus sonhos e continuam a lutar para
conquistar sua identidade cultural.
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atizado de Menores Escravos
os dezesseis dias do mês de outubro de mil setecentos e
quarenta e seis, batizei e pus os santos óleos a Ana, filha de
Maria, escrava de Francisco Xavier, Felipe e Joana, filhos de
Rita, escravos de Marta de Jesus, Rosa, filha de Clara, escravos de
Manoel Martins e Teresa, filha de Luzia, escrava de José Dias, todos
nascidos no quilombo do Ambrósio. Foram padrinhos o sargento mor
Manoel de Souza Portugal e Josefa Soares do Santos, de que fiz esse
assento. (ass.) O vigário Pedro Leão de Sá (Folha 30v, Mic 038, Arquivo
da Paróquia do Pilar).
In ELO DA HISTÓRIA DEMOGRÁFICA DE MINAS GERAIS: RECONSTITUIÇÃO E
ANÁLISE INICIAL DOS REGISTROS PAROQUIAIS DA FREGUESIA DE N. S.ª A
CONCEIÇÃO DO ANTÔNIO DIAS , de Kátia Maria Nunes Campos, p. 69.
Dissertação de Mestrado apresentada ao curso de Mestrado em Demografia do Centro
de Desenvolvimento e Planejamento Regional da Faculdade de Ciências Econômicas
da Universidade Federal de Minas Gerais, como requisito parcial à obtenção do Título
de Mestre em Demografia. 2007.
Através do estudo do Quilombo do Ambrósio ficamos conhecendo o poder de
organização dos negros, suas lutas e conquistas pela liberdade, mudando o olhar que
Cristais têm de sua própria História. Ressaltamos aqui a trajetória importante e a
influência dos negros na cultura cristalense.
A historiografia mineira ocultou muitos fatos ocorridos no período da expansão
dos quilombos. Na década de 80, alguns historiadores e pesquisadores, destacando entre
eles Dr. Tarcísio José Martins, interessaram pelo estudo dos quilombos, trazendo à luz
os mistérios que envolveram essa época. O alvo de suas pesquisas é o Quilombo do
Ambrósio, realizando estudos comprovados por documentação, publicados em livros,
que visam explicar ao público o significado dos vestígios desse longínquo passado, com
o qual ainda não identificamos e, pelo qual, por conseguinte, ainda não zelamos.
Precisamos conhecer para valorizar e preservar. A questão do Quilombo do Ambrósio,
se um dia foi polêmica dentro da historiografia mineira, hoje é fato documental. O
Quilombo do Campo Grande foi tão poderoso, superior e extraordinário símbolo da
resistência negra, quanto o Quilombo dos Palmares.
As nossas práticas sociais e nossos aspectos culturais refletem claramente a
herança de um “modo de ser” negro pouco valorizado. A História coloca o passado
negro como apagado, inexistente. Tudo em perfeita consonância com ideologias de
dominação. Há muitas distorções sobre a história africana no Brasil. O homo sapiens
B“A
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surgiu na África e a magistral civilização egípcia, notória em matemática, nos dá idéia
como o negro é inteligente, dinâmico e guerreiro.
Muitos povos de tradição milenar africana vieram para o Brasil e aqui foram
escravizados. Isso ocasionou e constituiu um dos principais eixos da formação cultural
brasileira. No governo Lula foi criada a Lei 10 639/03 que institui a obrigatoriedade do
ensino da História e da Cultura da África e dos afro-brasileiros nas grades curriculares
dos ensinos: médio e fundamental.
É de suma importância reconhecer a contribuição que os negros africanos deram
para o Brasil ser o que é hoje. Para nós cristalenses que temos como berço a Primeira
Povoação do Ambrósio, é preciso conhecer melhor o que esses antepassados nos
deixaram como herança.
3.1.4. A toponímia afro-cristalense
Na zona rural do nosso município, encontramos, nas fazendas, traços culturais
legados pelos escravos negros: correntes, algemas, troncos, onde eram castigados.
O pesquisador e historiador Tarcísio José Martins fez a seguinte consideração:
A toponímia do local onde foi a Primeira Povoação do Ambrósio, até
Hoje se chama Quilombo, num círculo formado pelo Ribeirão do
Quilombo, Ribeirão do Paiol, Morro do Quilombo, Morro Redondo,
Morro da Meia Laranja, Morro da Vigia, tem, fechando um grande
círculo, o Ribeirão do Segredo e a Fazenda Segredo. Que segredos
seriam estes?
Acho muito difícil não se encontrarem palavras de origem bantu na
toponímia de qualquer dos municípios mineiros. Muitos deles, na
verdade marcam locais de antigos quilombos e/ou de comunidades de
pretos forros e/ou brancos pobres, egressos da África.
Os remanescentes da Primeira Povoação do Ambrósio, no município de Cristais
é um Bem Imaterial, decorrente da influência negra na formação da terra mineira, que
deve ser preservado junto à paisagem natural do local, fomentando o turismo cultural.
Há quase 300 anos eram os núcleos do Quilombo do Campo Grande. Hoje formam os
municípios da Alago, componentes do Lago de Furnas, empreendimento nas corredeiras
dos rios: Grande e Sapucaí, antigo cenário de lutas quilombolas e atual cenário do Mar
de Minas, um rico potencial turístico cultural.
Assim, a pesquisa sobre Cristais, semente da Confederação Quilombola no
século XVIII, fundamentada em documentos, traz uma real integração histórica do
município no contexto cultural do Quilombo do Campo Grande. Para tanto, foi tombada
a nível municipal, de acordo com a Lei 1 504 de 10 de novembro de 2009 a
TOPONÍMIA GERAL DA PRIMEIRA POVOAÇÃO DO AMBRÓSIO.
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Lei nº 1.504, de 10 de novembro de 2009.
DISPÕE SOBRE O TOMBAMENTO DA TOPONÍMIA
GERAL DA PRIMEIRA POVOAÇÃO DO AMBRÓSIO
O Povo do Município de Cristais, por seus representantes legais na Câmara
Municipal, aprova, e eu, Maria Elizabet Santos de Souza, Prefeita Municipal de
Cristais, no uso das atribuições legais e de conformidade com a Lei Orgânica
Municipal, capítulo V, artigo 220 e a Lei Municipal nº 942 de 02 de abril de 2002, que
estabelece as normas de proteção do patrimônio cultural deste Município, sanciono e
promulgo a seguinte lei.
Art. 1º - Ficam tombados os topônimos: Morro do Quilombo, Morro do
Redondo, Morro da Meia Laranja, Ribeirão do Quilombo, Ribeirão do Paiol, Morro da
Vigia e, fechando um grande conjunto, o Ribeirão do Segredo e a Fazenda Segredo,
restabelecendo-se a toponímia geral de “Primeira Povoação do Ambrósio” a todo esse
conjunto topográfico, por seu valor histórico, como um Bem Cultural Imaterial,
decorrente da contribuição negra na formação da Terra Mineira. A historiografia
registra os fatos ocorridos no séc. XVIII, neste local, como as guerras quilombolas de
1741 a 1760, que deixaram marcas na formação cultural do Município de Cristais e do
Estado de Minas Gerais.
A antiquíssima denominação dos morros, dos córregos e da fazenda acima
citados e, também, a ora recuperada toponímia geral de seu conjunto, recebem o
reconhecimento oficial do Município de Cristais porque marcam o local do primeiro
Quilombo do Ambrósio, a afamada povoação de escravos, de pretos forros e de
brancos pobres que aqui fixaram pioneira residência, resistindo a opressão do Imposto
da Capitação implantado em 1735, contra o qual lutaram bravamente, forçando o Rei
de Portugal a extinguir esse imposto em 1751. Daqui, esparramaram a insubmissão ao
escravismo por todo o Centro-Oeste, Alto Paranaíba, Triângulo e Sudoeste de Minas
fazendo ecoar o mais legítimo e desesperado grito de liberdade que tingiu de vermelho
todo este pedaço do Chão Mineiro nos idos de 1758 a 1760.
Por esta razão, as vias de acesso à Primeira Povoação do Ambrósio deverão
receber placas indicativas e, seus locais históricos, receber placas identificadoras de
suas toponímias individuais que, até mesmo com a beleza natural do lugar, poderão
ser grandes auxiliares de fomento à educação e ao turismo rural e cultural.
Art. 2º - Estes bens histórico-culturais de natureza imaterial, em seu conjunto,
ficarão sujeitos às diretrizes de proteção estabelecida na Lei Municipal nº 942 de 02 de
abril de 2002, não podendo ter sua toponímia histórica, objeto desta Lei, alterada ou
modificada, sem prévia deliberação do Conselho Municipal do Patrimônio Cultural de
Cristais e aprovação da Diretoria Municipal de Cultura e Turismo.
Art. 3º - Oficie-se o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas –IBGE para
que este proceda aos registros na Carta Topográfica do Município de Cristais/MG,
bem como à Fundação Palmares para que esta proceda ao registro deste tombamento
da toponímia histórica, nos termos do inciso V do artigo 208 e artigo 209 da
Constituição do Estado de Minas Gerais, na forma prevista no artigo 216, V, § 1º da
Constituição da República Federativa do Brasil.
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Art. 4º - Oficiem-se as Secretarias de Estado da Cultura-SEC, da Educação-
SEE e de Turismo-SETUR para que, nos termos do § 1º do art. 1º da Lei 9.934/1996,
atualizado pela Lei 10.639/2003, procedam à divulgação deste fato legal e tomem as
medidas que julgarem convenientes em prol da Cultura, da Educação e do Turismo do
Estado de Minas Gerais.
Art. 5º - Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.
Art. 6º - Revogam-se as disposições em contrário.
Prefeitura Municipal de Cristais, 10 de novembro de 2009.
Maria Elizabet Santos de Souza
Para situar no contexto histórico, social, antropológico e religioso da
manifestação cultural afro-brasileira, denominada de Festa do Rosário, Festa do
Reinado ou Congado/Congada é necessário realizar uma retrospectiva histórica.
Conhecer a História do reino do Congo e de reis que marcaram seus reinados, e
são miticamente evocados na celebração, é conhecer a História e a Origem do Reinado.
É também atribuir significados a elementos e símbolos que compõem esta manifestação
cultural determinando os marcos da memória coletiva e os sinais da história.
3.2. O REINO DO CONGO E SUAS RELAÇÕES COM PORTUGAL
O antigo reino do Congo localizava onde é hoje a zona setentrional de Angola.
Abrangia grande extensão da África Centro-Ocidental e compreendia várias províncias
formadas, entre outros, por grupos bantos. Banto é entendido como um macrogrupo
cultural que habitava extensas áreas dessas províncias, introduzindo aí a agricultura e a
metalurgia. Possuíam leis, costumes e usos próprios que os distinguiam dos demais.
Praticavam magias, rituais de feitiços individuais e coletivos. Reconheciam uma
divindade superior da qual haviam originado o bem e o mal. Veneravam os espíritos da
natureza. O mundo era dividido em natural e sobrenatural; havia o mundo dos vivos
(negros) e dos mortos ( brancos) separados entre si pela água. O mar onde estavam os
mortos era o mundo do além, habitado pelos ancestrais e outros espíritos. Por meio de
rituais, prestavam-lhes homenagens, ofereciam-lhes presentes e deviam-lhes obediência.
A divisão fundamental na sociedade congolesa era entre as cidades –mzamba- e
as aldeias-lubata. A tradição representava uma divisão entre os nativos e os povos que
vieram de fora. Os nativos habitavam a lubata e os estrangeiros a mzamba detendo o
poder central. O mani Congo governava um conjunto de aldeias ou províncias. Mani
eram chefes ou reis titulares. Mbanza Congo era sua capital.
Nas aldeias os chefes não tinham controle sobre a produção. Nas cidades eram
os nobres, os governantes que controlavam a produção, fruto do trabalho escravo no
cultivo das terras controladas pela elite.
O rei detinha a sacralidade revivendo em si a divindade suprema, o deus criador.
Tinha o poder de comunicar com o além através de rituais e símbolos.
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Em 1483 os portugueses entraram em contato com o reino do Congo. Lá
encontraram uma organização política com significativo grau de centralização e uma
corte estruturada ao redor do rei. Os primeiros contatos dos portugueses com os
diversos reinos da África Ocidental e Centro-Ocidental se deram sob a bandeira da
abertura de novas rotas do comércio, da busca de metais preciosos e da disseminação da
fé cristã. O principal interesse dos portugueses no Congo era o comércio, especialmente
de escravos.
Os portugueses foram recebidos pelos congoleses como enviados, emissários de
um mundo sobrenatural, o mundo dos mortos do qual provém toda sabedoria, visto que
eles vieram do mar. O rei de Portugal passou a ser visto como “ um deus vivo superior
ao seu próprio rei porque vivia em um outro mundo, além da água, onde habitam os
mortos” ( SOUZA. M.M. 2006). Assim, sendo o rei de Portugal a personificação do
deus Nzambi Mpungu , os congoleses passaram a fazer analogias das influências e
costumes portugueses com sua própria cultura.
Os reis lusitanos não tentaram, no primeiro momento, obter o controle político
do Congo, nem dominá-lo pela força das armas. Ao contrário, tentaram conquistar os
reis do Congo, tratá-los como aliados, obtendo assim a sua confiança.
Logo em seguida à recepção dos portugueses, iniciou-se a construção de uma
igreja, que demoraria por volta de um ano para ser erigida. Enquanto isso, os clérigos
portugueses falavam ao mani Congo sobre “as maravilhosas obras de Deus”. A partir
daí o rei e a rainha pediram para ser batizados. A cruz que os clérigos usavam no ato do
batismo já era para os povos bantos um símbolo de especial importância entre o mundo
natural e sobrenatural. Ao adotarem a cruz católica os congolenses estavam expressando
suas crenças tradicionais.
Os chefes bacongos acreditavam estar ganhando mais poder ao adotar os novos
ritos trazidos pelos brancos além mar, o que parecia estar comprovado pela
superioridade tecnológica dos portugueses refletida nos artefatos de construção e
agrícolas, no processamento dos alimentos, na escrita, etc. O rei congolês sentia-se
privilegiado com o domínio de tudo isso e mais os ensinamentos religiosos. Assim, o
cristianismo foi recebido pelos congoleses como um novo movimento religioso,
excepcionalmente poderoso. A sua incorporação se deu, segundo as tradições bacongo
não faltando danças, iniciação, incorporação de novas rezas, ritos, símbolos e encontros
do objeto carregado de energia sobrenatural: a pedra cruciforme.
Mbanza Congo, a capital, em 1491, após a conversão dos reis congoleses ao
cristianismo, recebeu o nome de São Salvador.
O mais importante rei congolês cristão foi d. Afonso I (século XVI – 1507/42)
Impressionava os missionários com o seu saber e sua dedicação aos estudos. Com isso
seu reinado foi favorecido pelos portugueses. D. Afonso I mantinha com Portugal, além
de ajuda militar, o comércio que se expandira e o tráfico de escravos, que escapou do
controle do rei congolês, pois as rotas e normas estabelecidas não foram respeitadas.
Até nobres foram capturados em lutas e batalhas e vendidos como escravos.
Ao longo da História do Congo, lutas e batalhas foram travadas pela conquista
de terras e domínio de reino e povos. O Reino do Congo ficou conhecido além das
fronteiras africanas e de suas relações com Portugal como um reino estruturado,
influente e forte, apesar das batalhas e guerras que enfrentou. Seu rei, D. Afonso I,
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representante máximo da soberania foi imortalizado e é um símbolo de organização,
hierarquia, poder e cristianismo na realização da festa do Congado.
3.3. DO CONGO Á ANGOLA
O tráfico de escravos, negócio que se tornaria imprescindível para o bom
funcionamento das colônias portuguesas nas ilhas do Atlântico e nas Américas, fez com
que os lusitanos buscassem estreitar suas relações comerciais com o sul do Congo,
território formado por vários estados independentes, tornou- se o que ficou conhecido
como Angola. Os portugueses mantinham relações bem diferentes com os nativos,
daquelas mantidas com o Congo. As relações dos dois reinos: Congo e Angola foram
conflituosas desde o princípio. Angola relutava em aceitar o cristianismo. O desejo de
conversão estava ligado ao desejo de acesso a novos ritos, que traziam objetos,
tecnologia e conhecimentos até então insuspeitos.
O objetivo de controlar os mercados fornecedores de escravos e de alcançar as
minas fez com que os portugueses se envolvessem em numerosos conflitos com os
angolanos, ganhando as batalhas graças às alianças locais e a utilização de guerreiros
africanos. Á frente desses conflitos sempre esteve a rainha Njinga Mbandi ( 1623/63).
O reinado de Njinga Mbandi foi marcado por conflitos com os portugueses, apesar de se
ter convertido ao cristianismo, por acreditar que os rituais praticados pelos brancos
estrangeiros estavam relacionados à sua riqueza e poder , á semelhança do ocorrido no
Congo, pois ambos os povos pertenciam ao universo cultural banto. Foi batizada com o
nome português de Ana de Souza.1
A fama de Njinga assim como a de D. Afonso I atravessou os séculos e os
mares, sendo evocada em festas populares realizadas no Brasil. Njinga Mbandi( Ana de
Souza) e Mbemba-a Njinga ( D. Afonso I) são exemplos de como eventos históricos
podem ser congelados, mitificados, ritualizados e evocados na constituição de
identidades.
3.4. OUTROS POVOS
Além dos congoleses e angolanos, Portugal manteve comércio com outros povos
do Noroeste da África da etnia sudanesa, praticando também com estes povos o tráfico
de escravos. Gana e Daomé forneceram os Minas, assim denominados por terem
habilidade para trabalhar na mineração. Da Nigéria, Guiné e Moçambique também
foram comercializados outros escravos que tinham suas etnias no macrogrupo bantos.
Os povos sudaneses foram principalmente para a região nordeste do Brasil, a
fim de trabalhar nos engenhos das lavouras canavieiras. Os bantos para a região sudeste
para trabalhar na mineração.
3.5. O TRÁFICO DE ESCRAVOS
A escravidão é uma forma de exploração do trabalho efetuada por diversas
sociedades, em diferentes momentos da história da humanidade.
Os escravos estiveram entre as primeiras mercadorias levadas ao reino, pelos
portugueses, em seu processo de exploração da costa africana. Altamente lucrativo o
1
SOUZA.M.M. Reis Negros no Brasil Escravista. 2006
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comércio de escravos foi fonte de renda tanto para os europeus como para os africanos.
Para várias sociedades africanas, a escravidão era a principal forma de riqueza.
O tráfico de escravos provenientes da área do Congo e de Angola, no século
XVIII, exerceu uma grande influência na cultura afrobrasileira porque foi estendida a
todas as regiões que receberam escravos africanos até o final do tráfico. Trazidos de
diversos pontos da África Centro-Ocidental, os indivíduos de diferentes etnias, ao serem
agrupados pelo tráfico e pela escravidão, descobriram as semelhanças que os uniam.
Noções básicas partilhadas pelo macrogrupo cultural banto teriam unido as diferentes
etnias em novas relações sociais expressas numa série de manifestações: danças,
crenças, simbologia, costumes, revoltas, etc. Falantes de várias línguas aprendiam a se
comunicar; novas formas de relacionamento eram esboçadas.
Como no universo cultural banto a água era o elemento que dividia o mundo dos
vivos (negro) do mundo dos mortos ( brancos) a travessia do Oceano Atlântico foi, para
os africanos, motivo de tensão e desespero, além dos maus tratos físicos. Esses
africanos que se conheceram no infortúnio desenvolveram laços de relacionamento
como se fossem consanguíneos e se tornaram malungos ( companheiros de viagem)
Essa foi a primeira relação desenvolvida a partir das mudanças introduzidas em suas
vidas, para se inserirem numa realidade diferente e de construírem um mundo para si.
As relações sociais que os indivíduos desenvolveram para se inscrever no novo
mundo foram determinantes, porém a bagagem cultural que trouxeram modelou de
maneira marcante as novas comunidades. As eleições de reis negros e as festas que
celebravam estas eleições, criadas a partir do encontro de culturas afroportuguesas,
foram maneiras que grupos de escravos, forros e negros livres, encontraram de se
organizarem em comunidades integradas à sociedade escravista. Nelas estavam
presentes tradições comuns aos povos bantos, eventos de história de outros povos que
foram incorporados aos símbolos da cultura africana e elementos da cultura portuguesa,
reinterpretados à moda dos africanos e seus descendentes.
As raízes africanas eram visíveis no processo da escolha dos reis e se
manifestavam na comemoração festiva da eleição e coroação, com ritmos próprios ao
som de instrumentos de origem africana, acompanhado de danças.
As eleições de reis negros e as festas para suas comemorações aconteceram no
âmbito das “ irmandades de homens pretos”. Organizações leigas formadas por negros,
escravos forros ou livres, em torno de um santo protetor e de um altar no qual este era
cultuado. Estas associações cumpriam diversas funções de socialização, ajuda mútua e
diversão.
3.6. A SOCIEDADE ESCRAVOCRATA
O mundo escravocrata que os africanos encontraram ao desembarcar no litoral
brasileiro diferia em muito do seu mundo de origem. Sem bagagem material e
despidos de dignidade humana, não deixaram, contudo, de trazer consigo uma bagagem
cultural e espiritual muito significativa.
O destino comum dos traficados forneceu às várias tradições culturais dos
desembarcados no Brasil no período escravista, instrumentos para a construção de uma
memória coletiva fundamentada na história africana. A edificação de um passado cheio
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de lembranças, mitos e adequações à nova vida, sustentando suas identidades,
apresentam símbolos que resistiram às situações da diáspora e que combinam a
referência à África de origem e suas variadas tradições, com as novas experiências
vividas como escravos no Brasil colônia e no Brasil império.
3.7. NAÇÕES AFRICANAS EM MINAS GERAIS
Em 1695, ao mesmo tempo em que Zumbi dos Palmares era assassinado na
Capitania do Pernambuco, os gritos da descoberta do ouro (1674-1681) esparramaram
paulistas e outros brasileiros pelos vales, morros, montanhas e penhascos das Minas
Gerais, destacando-se a descoberta do Ouro Preto pelo mulato paulista, chamado Duarte
Lopes.
O Brasil todo acorreu aos múltiplos gritos do ouro, que fizeram esvaziar os
canaviais, desertar as tropas de soldados e, as repartições de funcionários públicos,
inundando as Minas de gente de toda qualidade, desde padres até ladrões e assassinos.
Portugal, que tinha uma população de cerca de dois milhões de habitantes, ante a
grande sangria populacional, temeu tanto o esvaziamento que o rei expediu dezenas de
leis e portarias, restringindo e impedindo a afluxo de mais portugueses para qualquer
lugar do Brasil, pois, o objetivo de todos era passar para as Minas Gerais.
A criação da Capitania de São Paulo e Minas do Ouro deu-se em 13.06.1710,
tendo como primeiro governador Antônio de Albuquerque Coelho, que procurou dar
uma organização administrativa para as Minas, erigindo vilas com suas câmaras de
“homens-bons”, organizando-as inicialmente em quatro comarcas: Ouro Preto, Rio das
Mortes, Sabará e Serro do Frio. Entre 1710 e 1721, os paulistas foram se retirando das
Minas Gerais e estas foram recebendo maior número de escravos para trabalhar nas
minas.
As nações predominantes em Minas Gerais do século XVIII, no período de 1718
a 1720 na Câmara de Vila Rica, dos 475 negros entrados e registrados, 39,36% eram
da nação Mina, 22% da nação Benguela, 10,52% do Congo, 7.78% de Angola, 6,10%
de Moçambique, 4,42% de Monjolos, etc.2
.
Posteriormente, a situação foi se modificando e os angolas superaram em
número, os demais negros. No período de 1731 a 1735, dos negros desembarcados no
Rio de Janeiro, totalizando 42.066 escravos, 20.395 eram angolas e 11.398 eram
“negros mandados do Pernambuco”3
.
A importação de escravos africanos para a região das minas, principalmente para
o sul e sudoeste da capitania das Minas do Ouro absorvia de 40 a 50% dos escravos
desembarcados no porto do Rio de Janeiro para o abastecimento da economia interna.4
Os negros enviados para as Minas eram inicialmente sudaneses; posteriormente,
os bantos os superaram em número, através dos angolanos e moçambicanos, que
carregaram na memória coletiva elementos e símbolos de diferentes povos e culturas
africanas. O cristianismo foi, em parte, assimilado a sua própria fé, bem como os
elementos, ritos e costumes europeus integrados e associados à cultura banto- africana.
2
BARBOSA. W. A. Negros e Quilombos em Minas Gerais
3
MARTINS. T.J. Q. do C.G. A História de Minas roubada do povo. 1995
4
FLORENTINO . M. Em Costas Negras... 1993
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4. A IRMANDADE DE NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO DOS HOMENS
PRETOS
4.1. Identidade e memória coletiva
As adaptações dos costumes africanos ao sistema escravocrata do Brasil não
significaram uma perda das raízes culturais. Os negros organizaram-se em irmandades
ou confrarias para conservar e preservar sua cultura. A unidade cultural das irmandades
cria uma força de ação capaz de identificar a dimensão política da barganha do tempo
livre para ocupar os espaços públicos das ruas e os espaços sagrados das igrejas,
responsabilizando-se pela sepultura dos seus mortos, pela construção de suas igrejas e
pela compra de alforria dos irmãos escravos, através de doações feitas por outros
irmãos. Isso nos permite considerar as Irmandades do Rosário como algo além de
instituições de ordenação e subordinação de seus membros. À medida que os africanos e
os afrodescendentes adaptavam e recriavam suas culturas no Brasil, especificamente, no
sudoeste de Minas Gerais, incorporavam símbolos e estratégias de ação de um ou outro
reino africano às práticas, ritos e símbolos das irmandades e inventavam uma
historicidade própria. Esta historicidade faz sentido no tempo de uma construção feita
no processo de reconhecimento da África, iniciada durante a travessia do Atlântico nos
navios negreiros, firmando o processo de formação e reconhecimento de identidades e
de memórias, cujo transcorrer perdura até nossos dias.
No dia a dia das vilas, a população escrava e forra encontrava espaço nas
Irmandades do Rosário para a expressão de sua identidade e de suas memórias. É no
processo de afirmação da identidade dos praticantes do reinado congadeiro que se
encontra a referência de outros líderes africanos importantes para essa comunidade,
como o rei Mbemba-a Nzinga e a rainha Njinga que são reverenciados nas Festas do
Reinado.
Na Festa do Rosário ou Festa do Reinado, comandada pela Irmandade do
Rosário, as cerimônias mantêm as tradições culturais africanas e dão oportunidades ao
espírito criador e artístico de que são dotados os negros para as artes plásticas, dança e
música, memorizando o universo cultural africano.
4.2. Histórico
Antes de descobrirem o Brasil, os portugueses já haviam conquistado colônias
africanas. Lá os missionários portugueses catequizaram os povos africanos,
principalmente os bantos que vieram para a região, hoje compreendida: Rio de Janeiro,
São Paulo e Minas Gerais. O culto a Nossa Senhora do Rosário, antigo em Portugal,
desde 1200, foi muito bem aceito e cultivado pelos negros, ficando evidente que a
irmandade iniciou na própria África.
Nossa Senhora do Rosário era a padroeira dos povos africanos. Há registros
históricos de igrejas, capelas e confrarias (irmandades) em Angola, Moçambique e
Congo, onde realizavam as festas para a coroação dos reis.
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No século XVI a devoção a Nossa Senhora do Rosário já existia no Brasil, assim
como nas possessões portuguesas.
Os negros organizaram-se em irmandades ou confrarias para conservar e
preservar sua cultura. Na festa do Rosário, os reis eram eleitos por voto direto dos
confrades, que elegiam os líderes respeitados e queridos pela sociedade. Todas as
capitanias tiveram seus negros carismáticos.
Os estatutos das Irmandades de Nossa Senhora do Rosário no Brasil datam todos
do século XVIII e são iguais. Nesta época, a Igreja constatando a identificação dos
negros com este culto, padronizou as cerimônias e regulamentou por escrito,
normalizando assim o estatuto da irmandade. O estatuto criava e prestigiava as
confrarias que funcionavam como um mecanismo de controle ideológico e social sobre
os escravos. Subdividiam em irmandades de brancos, pardos, pretos e crioulos e
também pelo orago principal: Nossa Senhora das Mercês, Santa Ifigênia, São Benedito,
etc. Todas elas originadas da Irmandade Nossa Senhora do Rosário que foi
complementada com dos Homens Pretos, ficando assim designada: Irmandade Nossa
Senhora do Rosário dos Homens Pretos.
Estas irmandades, em todo Brasil, se tornaram muito poderosas econômica e
socialmente.
As Irmandades do Rosário dos Homens Pretos das Minas Gerais do século
XVIII tiveram um importante papel social. Seus objetivos eram: estimular a
solidariedade na vida comunitária, fortalecer o sentimento religioso, cultuar os mortos,
conseguir a liberdade através da compra da carta de alforria, substituir entidades
africanas por santos católicos, realizar suas festas coletivas, sem a fiscalização do
senhor branco.
Na Festa do Rosário ou Festa do Reinado, as cerimônias serviam para manter as
tradições culturais africanas, assim como para dar oportunidade ao espírito criador e
artístico de que são dotados os negros para as artes plásticas, dança e música.
Até o século XIX quase todas as vilas brasileiras tinham sua Igreja do Rosário e
a Irmandade do Rosário. Rosário era nome de vilas, ruas, praças, largos, etc. No
começo do século XX foram mudados. Igrejas e capelas foram demolidas e outras
festas foram introduzidas simultaneamente: Festa dos Reis Magos, Festa do Divino,
Folia de Reis, etc. As Irmandades do Rosário sofreram estas mudanças impostas pela
Igreja, porém resistiram. Hoje os negros dão continuidade, com sua força, à festa
intocada, verdadeiro tesouro da cultura e tradição do povo mineiro.
5. DEPOIMENTOS DE MORADORES E CONGADEIROS
Helena Caetano – Rainha Conga – Matriarca da família Caetano, detentora do saber e
das tradições da cultura afro-brasileira, preserva para as gerações futuras o ritual e o
simbolismo da Dança da Peneira e da Dança das Mucamas.
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Conhecida e chamada
carinhosamente por Tia
Helena, tem muito orgulho
de suas raízes. Para ela a
Festa do Rosário, o respeito
às tradições da
manifestação cultural e a
continuidade da história do
Reinado é o que hoje
motiva sua vida.
Para o capitão Eustáquio Ribeiro a devoção aos
santos protetores dos congadeiros é o principal
motivo da festa. Nossa Senhora do Rosário é a
“mãe” que protege e abençoa todos
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Marcos Antônio de Paulo, presidente da Irmandade
Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, a
tradição cultural e religiosa é fundamental.
Aprendeu isso com sua mãe, Sra. Helena Caetano,
Rainha Conga, e pretende passar para as gerações
futuras.
Padre
Apareci
do
Paulo,
conhece
dor e
admirad
or da
cultura
afro-brasileira é um grande incentivador da
festa
no
muni
cípio
Para
o
Rei
Perp
étuo
Deni
lson Cardoso Pimenta, a tradição cultural da
Festa do Reinado vem de seus antecessores. As
coroas vem passando de geração em geração,
desde sua bisavó Bárbara Bajá. Ele e a mãe a
Rainha Conga Denise Pimenta são conhecedores
da cultura afro-brasileira.
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Os reis festeiros Guilherme e Rosária
agradeceram à Virgem do Rosário as graças
alcançadas: Somos devotos da Virgem. Ela
sempre nos concede muitas graças. Rosária
ainda completou: tenho o nome de Rosária em
louvor e agradecimentos a Nossa Senhora,
promessa feita por minha mãe que também é
devota dela...
Para Rosklin Luiz de Oliveira, Rei
Perpétuo da Irmandade Nossa Senhora do
Rosário dos
Homens
Pretos, a
imagem de
Nossa
Senhora do Rosário representa o lado feminino de
Deus; é a mãe, a madrinha, a protetora. A Irmandade,
a capela e a imagem de N. S. do Rosário para a
cidade representam a difusão e preservação da
cultura: folclore e religiosidade. Já a Festa do
Reinado para a Irmandade e para a cidade expressa a
fé e a cultura africana, que se incorporaram à cultura
brasileira, ficando conhecida como cultura afro-
brasileira. A cultura cristalense, obviamente, segue as
mesmas tradições. São suas palavras:
a Irmandade se sente muito orgulhosa por
organizar os festejos do Reinado, duas vezes no ano.
Ela está passando por uma modificação, na sua
organização, através da composição do seu Estatuto
Social. Com essa medida, a Irmandade espera
proporcionar à cidade festas sempre mais ricas
culturalmente, despertando o gosto das novas
gerações, incentivando-as a preservar nossas
tradições.
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6. PRODUÇÃO DE
REGISTROS
AUDIOVISUAIS