O conto descreve o encontro entre o senhor Joaquim, um idoso viúvo que teve sua perna amputada, e o senhor Afonso, um ministro extraordinário da eucaristia. O senhor Joaquim pede para conversar com o senhor Afonso e os dois reconhecem ter um conhecimento passado. O senhor Joaquim expressa seu desejo de ser batizado e receber a comunhão, e o senhor Afonso concorda em ajudá-lo, servindo como seu padrinho de batismo. No entanto, o senhor Joaquim é internado
2. Contos Católicos
1
Meu nome é Luciano Cardozo Magalhães.
Nascido e criado em Itaperuna em 05 de abril de 1966.
Minha formação acadêmica é em Tecnólogo em
Informática de Pedagogia.
Professor da SEEDUC-RJ.
Torcedor do Flamengo.
E apreciador de um bom café.
4. Contos Católicos
3
Índice
Com Minha Mãe Estarei!.................................................. 4
As Chances de Deus...................................................... 10
Saúde dos Enfermos...................................................... 17
Santo Anjo do Senhor, meu zeloso guardador............... 24
Considerações................................................................ 31
5. Luciano Cardozo Magalhães
4
Com Minha Mãe Estarei!
Dona Anunciata Pellegrini Serri, é descendente de
italianos que vieram para o Brasil em busca de trabalho.
Mulher muito religiosa. Participava ativamente do
Apostolado da Oração da sua comunidade. Ela morava
num vilarejo no alto de uma montanha. Um local de difícil
acesso quando chovia. Estradas precárias, estreitas e
esburacadas. E como o lugar havia sido praticamente
colonizado pelos italianos e seus descendentes o nome
não podia fugir à regra do bom povo católico italiano em
dar a vila o nome de um santo – Santa Clara. Fica no
município de Porciúncula, estado do Rio de Janeiro.
Haviam poucas casas na vila porque a maioria das
pessoas moravam na roça.
A igreja dedicada também a Santa Clara é bela, um torre
compondo a fachada com abas laterais que desciam
formando uma água de cada lado deixando os arcos
lateral e frontal de passagem para a entrada principal que
ficava mais pra dentro desta área. No interior da igreja
altares laterais acolhiam as imagens de São José, de
6. Contos Católicos
5
Santo Antônio, São Tarcísio entre outros. O altar mor é
uma mesa de mármore bem largo e comprido. No estilo
da missa Tridentina – colado à parede – uns 2 metros de
comprimento. Ladeado de castiçais de prata e ao centro o
sacrário fechado com uma pequena porta de bronze. O
pároco - padre Oto Müting, alemão - este viera fugido da
Alemanha nazista, e após andar por algumas cidades do
norte do Brasil fixou pousada na vila de Santa Clara. Era
um homem alto, firme nas palavras e nos atos. Zeloso do
seu rebanho e muito dedicado à paróquia e a seu ofício
de sacerdote. Animava o povo a não desanimar na
caminhada da fé e promovia as boas práticas cristãs da
caridade para com os pobres e sobretudo o respeito ao
sagrado. Hoje é falecido e seu túmulo se encontra no
interior da igreja de Santa Clara.
Dona Anunciata – dona de casa - seu marido e os nove
filhos do casal (eram dez mas um morreu de crupe ainda
criança), viviam basicamente da agricultura. Seu marido,
Tonico Serri, também descendente de italiano era
administrador de uma fazenda – a Fazenda do Céu – de
propriedade de seu tio Higyno Lyra. Os filhos de dona
7. Luciano Cardozo Magalhães
6
Anunciata e do senhor Tonico, muito espertos, adoravam
ajudar os pais na roça e brincavam com os colegas dos
outros sítios da vizinhança. Uma turma bem animada.
Afinal, qual italiano que não é animado?
Assim como uma boa mãe, dona Anunciata cuidava tanto
da formação cristã dos filhos quanto da formação
educacional. Ela ensinou os filhos a rezar, a ler e a
escrever. Quando estavam maiores e dona Anunciata já
não podia mais ensiná-los, pois já precisavam de um
aprofundamento maior na escolaridade, foram eles para
escola da Fazenda do Céu.
Dona Anunciata jamais esmoreceu na sua fé, mesmo nos
momentos mais difíceis de sua vida. Foram morar em
Duque de Caxias e quase perdeu dois de seus filhos por
lá, vítimas de desidratação. Não conseguiram se adaptar
ao clima muito quente da Baixada Fluminense. Um local
difícil de morar. Então retornaram à Santa Clara. Os filhos
se recuperaram e ficou tudo bem.
8. Contos Católicos
7
Ela trabalhava muito em casa. Vida muito austera, pouco
conforto. Mas o que é a matéria quando se tem algo
melhor do que isto? Deus!
E assim vivendo a sua fé viu todos os filhos criados,
encaminhados e casados. Viu netos, bisnetos e
tataranetos. Já com a idade avançada e depois de ter
comemorado suas bodas de ouro ficou viúva. Mesmo
durante período em que seu marido passou doente, sua
fé, sua caridade e paciência a sustentaram. Quem tem fé
e confiança em Deus não se abala com nada. Muito
devota do Imaculado Coração de Maria e do Sagrado
Coração de Jesus colocava nesses dois puríssimos
corações sua vida.
Com a idade avançada ela fratura o fêmur e passa a
andar com dificuldade. Mais um pouco de idade e o seu
coração começou a apresentar problemas. E lá vai ela
vivendo sua idade sempre serena no semblante e nas
palavras. Sempre respeitosa para com todos. Em
momento algum abandonava suas orações.
9. Luciano Cardozo Magalhães
8
Um dia ganhou uma planta da qual saía uma flor
lindíssima. Engraçado, com dona Anunciata aquela planta
nunca floriu! Dona Anunciata sempre pedia a Ilda, filha
mais nova, para avisá-la quando a planta tivesse florido.
Mas passava ano após ano e nada!
Quando a dificuldade para andar se associou ao
problema cardíaco dona Anunciata passou a ficar no seu
humilde mas aconchegante quarto. Lá estava seu oratório
com a imagem de seus santos de devoção.
Aos 97 anos, ela passou mal e foi levada ao hospital em
Carangola, uma cidade perto de Santa Clara, onde foi
internada. Ao constatar a gravidade do caso, seu médico
recomendou que lá permanecesse até uma possível
melhora. Ele já sabia que a hora da dona Anunciata havia
chegado. Os dias se passaram naquele hospital.
Num domingo pela manhã, enquanto recitava o Rosário
de Nossa Senhora, o coração de dona Anunciata parou.
Ela morreu como viveu, serena, calma e na paz de Deus.
Podemos dizer que foi uma morte parecida com a de São
José: entre Jesus e Maria. Ela morreu num domingo, dia
10. Contos Católicos
9
da ressurreição do Senhor e recitando o Rosário – entre
Jesus e Maria.
Ah! A planta? Floriu no dia da morte de dona Anunciata e
a flor foi colocada junto a seu corpo.
11. Luciano Cardozo Magalhães
10
As Chances de Deus
Era uma manhã de domingo, por volta das nove e meia
da manhã. Como de costume, Joaquim da Silva, um
senhor de 68 anos de idade, viúvo, estava sentado em
sua cadeira de balanço na varanda de frente de sua casa.
Uns metros à frente da varanda estava o pequeno muro e
uma grade por onde podia se observar o movimento na
rua. Sobre uma pequena mesa ao lado ficava alguns
remédios, uma garrafa de café e um pote de biscoitos de
maisena, que eram os preferidos do senhor Joaquim.
Encostada na mesa havia um par muletas. O senhor
Joaquim, devido a um problema de má circulação
precisou fazer amputação de parte da perna esquerda na
altura do joelho.
Enquanto permanecia ali, sentado, percebeu que todos os
domingos àquela hora passava um senhor vestido com
uma espécie de casaco branco, como um jaleco. Queria
saber quem era aquele homem e o que ele fazia e, não se
contendo em curiosidade, chamou sua sobrinha que
12. Contos Católicos
11
estava em sua casa naquele dia preparando seu almoço
e perguntou quem era aquele senhor.
A resposta veio imediata: Ele é Ministro Extraordinário da
Distribuição da Sagrada Eucaristia, nome dado a um
ministério da Igreja Católica àqueles ou àquelas que
recebem uma investidura, uma espécie de autorização do
bispo daquela diocese para colaborar com o padre na
assistência aos doentes e àqueles que não podem ir à
missa por outros motivos. A sobrinha do senhor Joaquim
frequentava a mesma igreja daquele senhor – era o
senhor Afonso Medeiros.
O senhor Afonso levava a comunhão a dona Almerinda.
Uma senhora de 82 anos que devido a um derrame
estava com difuculdades de locomoção e deste modo
impossibilitada de ir à Santa Missa. O senhor Joaquim
baixou a cabeça, pensou e pediu a sua sobrinha que
chamasse o senhor Afonso que queria conversar com ele.
Passado alguns minutos o senhor Afonso retorna e a
sobrinha do senhor Joaquim o chama. Ele pára, olha
quem o chamou e segue em direção à casa do senhor
13. Luciano Cardozo Magalhães
12
Joaquim. Chegando ao portão ela lhe pede um minuto de
atenção para o seu tio. Senhor Afonso prontamente vai
até ele. Ao chegar, o senhor Afonso o cumprimenta
começa, lentamente, a reconhecer aquele homem
sentado naquela cadeira. O senhor Joaquim também olha
atentamente para o senhor Afonso e também vê nele um
rosto familiar.
O senhor Afonso trabalhava numa empresa em que os
carros eram abastecidos no posto em que o senhor
Joaquim era o frentista quando este ainda podia trabalhar.
Assim que se reconheceram a conversa ficou mais fácil e
os momentos em que viveram um laço de amizade por
conta do trabalho vão sendo relembrados. Durante a
conversa o senhor Joaquim explicou ao senhor Afonso
porque precisou amputar a perna.
O senhor Afonso quis saber do amigo do que ele estava
precisando e como poderia ajudá-lo. O senhor Joaquim
começou a contar-lhe sua história de vida: nasceu na
roça, passou muita dificuldade com os pais e os irmãos. A
mãe, muito trabalhadeira, ajudava o pai na roça junto com
14. Contos Católicos
13
os irmãos mais velhos mas não se descuidava de dar aos
filhos uma educação, pelo menos até onde ela entendia.
E contou também que não foi batizado porque onde
morava era muito longe e a dificuldade para se deslocar
até a cidade mais próxima era imensa e era muito difícil
um padre ir até à capela mais próxima mas que a mãe
sempre rezava com eles: Pai-nosso, Ave-Maria, Credo,
jaculatórias e outras devoções. Depois que saiu da roça
pra tentar estudar e conseguir um emprego melhor foi
esquecendo de rezar até que um dia... nunca mais rezou.
Agora ele se encontrava naquela situação: velho, doente,
dependendo de outras pessoas e de uma aposentadoria
para que tivesse o mínimo necessário. Sentiu a
necessidade de voltar-se para Deus como uma
consolação. Por isso estava conversando com o senhor
Afonso, querendo saber se ainda podia ser batizado e
receber Jesus na Eucaristia.
O senhor Afonso ficou muito feliz com a disposição
daquela alma onde reacendeu a vontade de procurar
Deus, mesmo na dificuldade e na velhice. Todos
15. Luciano Cardozo Magalhães
14
nascemos com essa vontade de procurar o Criador.
Infelizmente, muitos ignoram os sinais que Deus coloca
durante nossa vida para que O achemos. Pode ser uma
doença, uma perda, até mesmo um sofrimento moral. As
pessoas que não possuem fé colocam isso como
desgraça, azar, mas as que tem fé aproveitam este
momento para se chegarem mais a Deus ou para reavivar
sua crença no Criador e na Igreja Católica.
Mas, e o senhor Joaquim? Não rezava, não ia à missa!
Como Deus atingiu a alma desse homem? A resposta é
simples! Lembra que ele contou que sua mãe lhe ensinou
a rezar? Enquanto ele rezou com sua mãe e, mesmo às
vezes em que rezou sozinho fez para si uma pequena
“poupança” junto de Deus que, com certeza, pelos
méritos da mãe de senhor Joaquim, o Criador usou dessa
“poupança” de orações para mover seu coração.
O senhor Afonso se colocou à disposição do senhor
Joaquim para ajudá-lo. Falou que ele precisava arrumar
um padrinho e uma madrinha de batismo. O senhor
Joaquim pediu ao senhor Afonso que fosse seu padrinho.
16. Contos Católicos
15
O senhor Afonso se sentiu muito honrado e aceitou o
convite. Ao sair dali, conversou com o padre José, que o
orientou nos procedimentos. Autorizou o senhor Afonso a
ministrar um curso de Batismo.
No domingo seguinte, senhor Afonso foi levar a
comunhão a dona Almerinda. Ao voltar, passou na casa
do senhor Joaquim para lhe dar a boa notícia sobre o seu
batizado mas o senhor Joaquim não estava. Havia sido
internado no hospital. Passara mal e precisou de socorro
médico.
O senhor Afonso saiu às pressas e foi até ao hospital e lá
chegando procurou saber sobre o senhor Joaquim. Foi
informado que ele estava na enfermaria H. Foi até a
enfermaria e encontrou o senhor Joaquim, de cama,
tomando soro e remédios. Já estava estabilizado e
conseguia conversar um pouco.
Junto a ele, estava irmã Olívia, uma freira que dava
assistência aos pacientes do hospital. Muito conhecida do
senhor Afonso. Então senhor Afonso aproveitando a
presença da irmã Olívia, contou o fato ao senhor Joaquim
17. Luciano Cardozo Magalhães
16
e este muito sensibilizado pediu que irmã Olívia fosse sua
madrinha de batismo. Ela aceitou!
Enquanto estava hospitalizado, a irmã Olívia preparou o
senhor Joaquim para o Sacramento do Batismo que
ocorreu em 14 de junho de 2008 na casa de senhor
Joaquim com a presença de muitos convidados. Ao
acabar de ministrar o Batismo, o padre José disse ao
senhor Afonso que no dia seguinte ele já poderia receber
a Primeira Comunhão.
E assim foi feito. O senhor Joaquim foi batizado e passou
a receber Jesus no Santíssimo Sacramento. Seis meses
após o batismo do senhor Joaquim e sua primeira
comunhão ele faleceu.
Não ignoremos os convites e os sinais de Deus para a
nossa conversão. Nunca é tarde para mudar de vida e
passar a louvar e glorificar o nosso Criador.
18. Contos Católicos
17
Saúde dos Enfermos
O senhor Afonso, há alguns anos atrás, caminhando num
domingo pelo bairro em que morava para levar a Sagrada
Eucaristia aos doentes, sentiu-se um pouco mal.
Chegando em casa, tomou um banho e sentou-se para
descansar. Era umas onze e meia da manhã, o cheiro do
assado para almoço que dona Gina esposa do senhor
Afonso fazia entrava pelas narinas perturbando o
raciocínio.
Logo após a missa dominical começaram a chegar os
netos, genros, filhas e noras do senhor Afonso e de dona
Gina. Com toda aquela euforia de parentes para o almoço
de domingo ele até se esqueceu do mal estar que o havia
acometido minutos atrás. Todos sentaram-se para
almoçar. Em família de descendentes de italiano,
conversa também não falta, mas aquilo era sagrado:
almoço de domingo com todos os familiares. Ao final, os
filhos do senhor Afonso resolveram tocar algumas modas
de viola e o senhor Afonso acompanhava com a sanfona.
Todos então, entravam naquele ritmo de cantos e alegria.
19. Luciano Cardozo Magalhães
18
Essa festa foi até às cinco horas da tarde e todos
encerraram aquela dia muito felizes.
Na manhã seguinte o senhor Afonso se encaminhou para
o quintal de sua casa, que é muito grande, onde haviam
várias hortas plantadas. Ele era filho de agricultores
italianos que vieram para o Brasil em busca de vida
melhor e, até essa vida alcançar o senhor Afonso, ele
trabalhou na roça com os pais, por isso ele conhecia
alguns segredos do plantio de hortaliças, legumes e
frutas. Sua horta era bem conhecida na vizinhança;
sempre que ela dava uma boa safra senhor Afonso
distribuía com os vizinhos, parentes e amigos.
Ao começar a limpar um dos canteiros, o senhor Afonso
sentiu-se mal novamente. Aquele mesmo mal estar do dia
anterior: uma dificuldade para respirar, uma pequena dor
no peito e um pouco tonto. Como era final de verão o sol
ainda estava muito quente; o senhor Afonso achou que
por ser de pele muito clara e a idade estar um pouco
avançada aquilo era normal. Comentou tal fato com dona
Gina e ela, sem que o senhor Afonso soubesse, ligou
20. Contos Católicos
19
para o doutor Antônio, cardiologista e sobrinho do senhor
Afonso e pediu para que ele desse uma passada em sua
casa e fizesse uma consulta.
Assim que pôde, doutor Antônio foi à casa do senhor
Afonso. Entrou, tomou um cafezinho e conversando
trivialidades chegou até onde queria, perguntando ao
senhor Afonso como ele estava passando, que o achou
um pouco vermelho e meio depressivo. Então o senhor
Afonso contou que estava sentindo uma dor diferente no
peito, na altura do coração e falta de ar. Doutor Antônio
pediu que ele se sentasse para que pudesse ser
examinado.
Depois de alguns minutos, doutor Antônio pediu que o
senhor Afonso o acompanhasse até o hospital em que ele
trabalhava para que fizesse alguns testes:
eletrocardiograma, teste de esforço.... Após os testes
doutor Antônio pediu que senhor Afonso fosse para casa
e tomasse um calmante bem fraquinho e um remédio
para a pressão que estava um pouco alterada. Pois bem,
21. Luciano Cardozo Magalhães
20
o senhor Afonso foi para casa e fez como doutor Antônio
havia prescrito.
No dia seguinte, doutor Antônio analisando os exames do
seu tio, constatou algumas alterações. Em seguida lhe
telefonou e pediu que ele não fizesse esforço físico
nenhum e que no final do dia passaria por lá para
conversar com ele. O senhor Afonso concordou e foi se
recostar na espreguiçadeira que ficava na sala em frente
à TV e foi assistir a seus programas preferidos.
Por volta das cinco e meia da tarde o doutor Antônio
chegou à casa do seu tio e chamou sua esposa dona
Gina e estava lá também o filho mais velho que todos
chamavam pelo apelido de Marreco, pois parecia com um
marreco quando pequeno.
O doutor Antônio começou a explicar que achou que o
eletrocardiograma não estava bom e que o teste de
esforço provocou uma situação de stress cardíaco um
pouco acima do normal e que o senhor Afonso precisava
fazer outros exames: um eco cardiograma e um
cateterismo. Explicou também que esses exames eram
22. Contos Católicos
21
muito simples mas mais eficazes para o diagnóstico.
Então, com o consentimento do senhor Afonso o doutor
Antônio marcou os exames para a semana seguinte.
Foi uma semana um pouco de apreensão e angústia, mas
o senhor Afonso, dentro daquilo que a fé lhe ensinara,
não se preocupou e continuou a fazer suas orações
diárias. Claro, teve que abandonar sua atividade de
agricultor doméstico até que se concluíssem os exames
que ele achava que não daria nada. Ao chegar o dia, os
exames foram feitos e ficou constatado que o senhor
Afonso tinha um início de obstrução numa artéria do
coração provocada pelo acúmulo de gordura. Essa era a
má notícia. Mas a boa notícia foi que pelo local da
obstrução não precisaria de uma cirurgia cardíaca que é
extremamente traumática; seria colocado um stent, um
pequeno dispositivo que abriria novamente o calibre da
artéria e assim o sangue voltaria a circular livre e
cessariam as dores no peito e o cansaço.
Foi marcado o dia para se executar o procedimento.
Todos estavam muito preocupados, senhor Afonso já de
23. Luciano Cardozo Magalhães
22
idade, aquele procedimento recém-chegado ao hospital
da cidade.... Mas a confiança de senhor Afonso em Deus
era inabalável e ele falava que do jeito que entrasse
naquele hospital ele sairia. E assim foi ele; foi
encaminhado para o centro cirúrgico e enquanto entrava
recitava a ladainha de Nossa Senhora.
Descrevendo de forma simples, o procedimento é feito da
seguinte maneira: faz-se um corte numa veia da perna,
introduz um cateter por lá; este irá até o ponto que está
com o entupimento e depois por esse cateter introduz-se
o stent e este é colocado. Depois retira-se o cateter e
fecha-se a abertura pelo qual ele passou. Claro essa é a
forma para que a gente possa entender, é um pouco mais
complexo do que isso mas no geral é assim que funciona.
Doutor Carlos, cardiologista principiou a colocação do
stent. Fez a incisão, colocou o cateter e foi passando o
objeto por dentro do corpo de senhor Afonso através de
uma veia. Quando chegou ao local indicado para a
colocação do stent, os médicos Antônio e Carlos, que
tinham visto o entupimento antes do procedimento, se
24. Contos Católicos
23
entreolharam e surpresos constataram: não havia
nenhum entupimento. O que aconteceu? Como pode ser?
Lembra-se, senhor Afonso entrou para o centro cirúrgico
rezando a ladainha de Nossa Senhora. Mais uma vez a
poderosa Mãe de Deus mostra seu poder intercessor e
salva um dos seus filhos devotos. Os médicos não deram
explicação do que ocorrera; não havia explicação:
simplesmente o entupimento sumiu!
Jamais deixemos de implorar a essa Maravilhosa Mãe
sua intercessão em todas as nossas necessidades
materiais e principalmente as espirituais e sejamos fiéis
às nossas devoções para com ela pois ela é sempre fiel à
todos os que a procuram com sinceridade e pureza do
coração.
25. Luciano Cardozo Magalhães
24
Santo Anjo do Senhor, meu zeloso
guardador...
Juliano e Maria Elisa são casados há uns 18 anos e tem
dois filhos, Davi e Cirilo. A diferença entre eles é de um
ano e dois meses aproximadamente. Quando Cirilo
nasceu Davi contava apenas com seis meses de vida. Foi
uma barra pesada. Duas crianças pequenas, fraldas,
muitas fraldas, mamadeiras, horas de sono trocadas,
remédios, médicos, planos de saúde, correria de
madrugada para hospitais.... Ufa! A barra pesou.
A situação financeira ficou pesada, não conseguiam
pagar mais o aluguel. O que fazer? Juliano conversou
com seu sogro e pediu a ele se poderia morar em sua
casa por alguns meses até as coisas melhorarem. De
pronto foi permitido. Senhor Arnaldo, sogro de Juliano,
tem uma casa muito grande e os outros filhos já não
moravam mais lá. Casa grande e praticamente vazia;
assim Juliano mudou-se com Maria Elisa e com os filhos
para lá.
26. Contos Católicos
25
Senhor Arnaldo ainda tinha mãe viva e morando em outra
cidade. Ele não vivia muito essa mudança de tecnologia:
celular, computadores. O máximo de conforto que ele tem
é um telefone e uma televisão com controle remoto e,
mesmo assim essa TV deve ter uns quinze anos. Muito
caseiro, fala muito de política e de religião. Católico
praticante; teve sua meninice ao lado dos pais e do
convívio com os padres que atendiam sua comunidade,
na sua terra natal. Ao deixar sua cidade para trabalhar no
município vizinho onde reside até hoje, levou consigo sua
esposa dona Amélia e seus sete filhos: Tadeu, Maria das
Graças, Sílvio (Cantor), Samuel, Ana Maria, Bruno e
Maria Elisa.
O senhor Arnaldo e dona Amélia gostavam muito dos
netinhos, ainda bem pequenos, Davi com quase dois
anos e Cirilo com quase um aninho de idade. Senhor
Arnaldo brincava com as crianças e fazia agrados. Um tio,
que morava perto, implicava com Cirilo chamando-o de
chouriço, indicando exatamente o contrário. Cirilo era uma
criança muito branquinha, sorriso simpático e bem manso.
Davi era de cara emburrada e vivia chorando. Mas no
27. Luciano Cardozo Magalhães
26
geral eram crianças muita espertas. Eram, estão agora
com quinze anos e catorze anos de idade.
A casa do senhor Arnaldo ficava numa espécie de
chácara de aproximadamente 2000 metros quadrados,
um terreno de esquina. Tinha muitas árvores frutíferas e o
senhor Arnaldo plantava algumas hortaliças. Por causa do
tamanho do terreno, o senhor Arnaldo ficava com medo
de que algum ladrão pulasse o muro e roubasse alguma
coisa como ferramentas, roupas. Esse medo o levou a ter
um cachorro. Era um cachorro da raça fila brasileiro.
Muito grande, forte e bravo. Só o senhor Arnaldo
conseguia chegar perto para prendê-lo quando
amanhecia, soltá-lo quando anoitecia e alimentá-lo. Esse
cachorro ficava preso numa casa com grades, como uma
jaula.
Os garotos brincavam no quintal sob a supervisão de
Maria Elisa que não descuidava deles. Ela é uma mãe
zelosa, amorosa e de uma pedagogia fantástica.
Conseguia que os meninos a obedecessem sem dar um
28. Contos Católicos
27
grito ou usar de palmadas, mesmo aquelas só de
advertência.
Dona Amélia acorda toda manhã às cinco e meia já se
colocava ao serviço da casa. Fazer café, buscar pão,
agilizar as coisas para o almoço. Às seis horas já estava
numa sala de musculação de um clube fazendo sua
ginástica. A idade dela? Setenta e oito anos. Dirige, canta
na Igreja, faz ornamento para o altar, ajuda preparação
das festas da paróquia.... É atividade de dar inveja a
qualquer jovem. E ainda achava tempo para suas
costuras, tricôs e ver uma novelinha.
Numa dessas manhãs, dona Amélia preparou o café para
o senhor Arnaldo um pouco mais cedo porque ele ia
visitar a mãe na sua cidade que ficava um pouco longe,
uns oitenta quilômetros. O senhor Arnaldo era um
motorista experiente e apesar da idade avançada ainda
tinha boas condições para dirigir. Ele cuidava da saúde e
não tinha vício nenhum. Senhor Arnaldo foi prender o Ralf
– era o nome do cachorro – colocar comida para ele e só
após isso feito tomou seu café. Despediu-se de dona
29. Luciano Cardozo Magalhães
28
Amélia e saiu. Dona Amélia também saiu, foi para sua
ginástica Enquanto isso a outra parte dormia, Juliano,
Maria Elisa, Davi e Cirilo. Epa! Cirilo dormindo?
Uma meia hora depois que o senhor Arnaldo saiu de
casa, o telefone tocou, era umas sete horas. Maria Elisa
acordou, não viu Cirilo no quarto. O pingo de gente,
acordou, a porta do quarto estava aberta e ele saiu. Maria
Elisa atendeu o telefone mas já procurando com o
pensamento e o olhar onde poderia ter ido Cirilo.
Ao telefone estava seu Arnaldo que parou numa pequena
localidade entre a cidade onde morava e a cidade de sua
mãe pedindo que alguém verificasse se o portão da casa
do cachorro estava fechado. Até aí qual a novidade?
Acontece que, como foi falado anteriormente, o senhor
Arnaldo não tinha muito afinidade com tecnologia e
também nunca havia usado um telefone público em sua
vida. E também nunca tinha tido pressentimentos de
perigo pois era uma pessoa muito cuidadosa e sabia da
força e do perigo do cachorro que tinha em casa. Juliano
e Maria Elisa sempre rezavam para o Anjo da Guarda de
30. Contos Católicos
29
seus filhos. E naquele dia esse Anjo se mostrou. Quando
Maria Elisa ouviu a solicitação para que verificasse o
portão da casa do cachorro subiu-lhe um frio na espinha.
Ela largou o telefone e correu lá fora. O portão que dava
para o quintal estava aberto. Ela chegou e olhou para
fora. Cirilo estava na porta da casa do cachorro e já ia
entrando quando Maria Elisa chegou por trás dele
lentamente para não acordar o bicho, pegou Cirilo no
colo, trancou a porta da casa do cachorro e saiu correndo.
Agradecendo a Deus pelo Anjo da Guarda de seu filho
que havia, com certeza, protegido o pequeno Cirilo de
uma desgraça.
Não tenho dúvidas: um homem que de alguma maneira
foi alertado para um problema que aconteceu apenas
uma vez - a porta da casa do cachorro aberta - conseguir
falar em um telefone público (ele foi ajudado por outra
pessoa, ele contou após contarmos o ocorrido para ele) a
hora em que tocou o telefone e quem atendeu ter sido a
mãe do pequenino, claro que foi alerta do Anjo da Guarda
dessa criança.
31. Luciano Cardozo Magalhães
30
Peçamos ao nosso Anjo da Guarda que sempre nos
alerte nos momentos de perigo, nos livre das tentações e
nos encaminhe na estrada para Deus.
32. Contos Católicos
31
Considerações
Todas os contos aqui apresentados são reais. A maior
parte dos nomes e locais foram alterados. Somente no
primeiro conto foram preservados os nomes dos locais e
das pessoas por motivo de homenagem a elas e a tudo o
que representam e representaram na minha vida e de
minha família.
33. Luciano Cardozo Magalhães
32
Mais um pouco sobre mim!
Sou casado há 25 anos, com Maria Elizabeth que
também é professora e temos dois filhos, Daniel e Cícero.
Sou professor do ensino médio/técnico do extinto curso
Técnico em Informática do Colégio Estadual Buarque de
Nazareth, no município de Itaperuna – RJ.
Atualmente estou como professor articulador pedagógico
no Colégio Estadual Senador Sá Tinoco, no distrito de
Boa Ventura.
Trabalho também na empresa Centro de Assistência à
Saúde do Norte Fluminense, uma prestadora de serviços
da Unimed Norte Fluminense, também em Itaperuna
como suporte de T.I..
Gosto de escrever sobre a Igreja Católica Apostólica
Romana na qual fui batizado, crismado, me casei, batizei
meus filhos e nela espero morrer com a graça de Deus.
34. Contos Católicos
33
Fui Ministro Extraordinário da Distribuição da Sagrada
Comunhão por seis anos: 1997 a 2003.
Ministrei cursos de formação para leitores na Paróquia de
São Benedito, em Itaperuna, Diocese de Campos dos
Goytacazes.
Espero que gostem!
Querem me achar?
Blog pessoal:
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