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POEMAS DE EGÍDIO ASSIS DE ANDRADE
Hontem e Hoje
Quando moço tive sonhos,
Via diante de mim
A vida em quadros risonhos
Qual primavera sem fim.
Minh’alma, louca creança
Sempre feliz e contente,
Beijada pela esperança
Sorria constantemente.
Em tudo achava um encanto,
Som, harmonia e belleza ;
A viração era um canto,
Tinha voz a natureza.
Adorava a Deus, no sol
Via sua magestade,
Vi seu riso arrebol,
Na noite sua bondade.
No céo, nas trevas, no dia,
No mar, na aragem, na flor,
Em tudo emfim eu sentia
De Deus o sofro de amor.
Então minh’alma voava
Para as plagas d’amplidão
E em cada astro entoava
Mil hymnos a creação.
Como seria ditoso
Se n’essa quadra morresse !
Se subisse ao summo goso
Sem que o mundo conhecesse !
Mas não ; trouxeram-me os annos
A lucta pela existencia ;
Os meus sonhos ? Desenganos ;
O mundo ? Lepra, intelligencia.
Vi-me só, e fui então
Do homem a historia aprender ;
Vi Caim matando o irmão,
Judas a Christo a vender.
Vi papas, principes e reis
Nadando em mar de riqueza
Sugada, por torpes leis,
Dos suores da pobreza.
Vi Nero, o monstro, no throno,
No poder a falsidade,
A virtude em abandono,
O povo sem liberdade.
Vi pae com a fronte rugada
E a dôr impressa no rosto,
Vender a fouce, a enxada
Para pagar o imposto.
Por toda parte a orphandade,
Gemidos, corrupção,
Creanças em tenra idade
Morrendo à falta de pão.
Mesmo em teu nome, Senhor,
Todo amor, todo bondade,
Quanto crime, quanta dôr
Tem soffrido a humanidade !
1º de Maio
Proletarios do universo,
Este dia todo vosso,
Por mais que á rima do verso
Queira cantal-o não posso.
Sinto-me tão pequenino
Perante ideias tão grandes,
Que bem pareço um menino
De joelhos junctos aos Andes.
Proletarios, sempre unidos,
Como contas d’um rosário,
Todos nós somos remidos
Pelo sangue do Calvário.
Esquecei-vos d’amargura,
N’estes momentos festivos,
De vossa sorte, tão dura
Por serdes ainda captivos.
Por tanto tempo sugado
Pela mão do ouro-rei,
O vosso suôr sagrado
Reclama agora uma lei.
Finda a festa, mãos a obra
Com todo ardor e vontade,
Ante vós já se desdobra
O painel da liberdade.
Devaneios
Filhos da doce harmonia,
O nascente já coberto
Da rubra côr que annuncia
Que o rei dos astros vem perto,
Vos brada : aves, é hora,
Tangei a Lyra sonora.
Deixai os tépidos ninhos,
Risonhas grutas do amor,
Deixai dormindo os filhinhos
Da fonte ao brado rumor,
Que já desponta no ceo
Da aurora o Candido veo.
Vede ; o brilho fenece
Das estrellas luminosas ;
O firmamento parece
Um grande lago de rosas ;
E a viração matutina
Já corre pela campina.
Como tem luz no horizonte !
Como os campos flores têm !
Que aroma nos traz do monte
A brisa que de lá vem !
Que poesia nos ninhos
Onde dormis, passarinhos !
Quem me dera por instantes
Ver a minh’alma embalada
Entre as nuvens cambiantes
De que se veste a alvorada,
Por um momento esquecida
Dos soffrimentos da vida !
Vós sois a nota animada,
Que faz vibrar a floresta,
Corda de harpa afinada
Que os ares enche de festa ;
Cantai, cantai, que o arrebol
Indica a vinda do sol.
Assim... E’ doce esse canto !
Quanta saudade me traz !
De meus olhos brota o pranto,
Meu coração mudo jaz !
Minh’alma geme e suspira,
Aos acordes d’essa lyra.
Feliz quem tem a ventura
De morrer a esta hora,
Fitando no céo a pura
Deslumbrante luz da aurora,
Ouvindo as notas suaves
Dos castos hymnos das aves.
A’...
Talvez que agora chorosa,
Com a face triste na mão,
Fitando a lua formosa,
Qua bóia pela amplidão,
Em mim tu penses saudosa,
Virgem do meu coração.
Também por ti suspiro,
Única luz de minh’alma,
E quando teus olhos miro
Nos astros d’um céo em calma
Da lyra as cordas eu firo.
Para cobrir-te de palma.
A Saudade
Já Ella vem chegando vagarosa
A compassiva amiga
Que meus pezares com amor mitiga ;
Não tarda nunca, approximar-se a vejo
A hora sempre certa,
De leve como um beijo
Que nos lábios do filho adormecido
Depõe mãe carinhosa
Com receio de acordal-o
No seu berço de rendas revestidos.
Bem vida sejas ; minha probre alma
Entre seus braços com effusão te aperta,
Amavel companheira ;
Horas e horas do passado falo
Recordando comtigo a passageira
Quadra da infância tão serena e calma.
____
Tu és, saudade, a minha bem amada,
Unica flor que na aridez recende
De minha soledade ;
Quando dos valles o negror ascende
Que a terra envolve e que a tristeza desce
Como densa motalha desdobrada
Sobre a cidade muda, é no teu seio
Feito de mel, de corações e prece,
Que minh’alma, saudade,
Pesarosa procura sem receio
Para abrigar-se socegado asylo,
Onde possa o pranto livremente
Verter, que a magua e dôr nos allivia.
Sereno somno então
Affavel e tranquillo
Os olhos lentamente
Me cerra já cançados de velar,
E commigo adormece a nostalgia
Que me devora o triste coração
Exhausto de penar.
Depois me vêm os sonhos :- lindo bando
De gentis creancinhas
Brinca contente á margem d’um regato
Ouvindo as avesinhas
Que cantam lá no mato...
Como seria doce assim morrer !
Em teu seio sonhando
E’ que sinto viver.
____
E’ triste o meu viver sempre sosinho,
Juncto de mim só reina a solidão ;
De minha terra e da familia ausente,
Meu pobre coração
Tão cheio de carinho
Soffre em silencio sem que haja um ente
Com quem compartilhe do soffrer a taça.
Cedo roubou-me a inexoravel morte
A fiel companheira de meus dias ;
D’improviso o destino mortal chaga
Em nosso peito abre e despedaça
Com mão brutal as nossas energias ;
O teu orgulho abate, só é forte
Homem, quem não tem alma ;
Da sorte o vendaval
N’um só momento tudo te esmaga ;
A esposa, os paes, as affeições sinceras,
Tudo a morte desfaz.
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E tão creis as leis da natureza !
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O amor, o goso, a verdadeira paz
Da noite par ao dia
Se tornam em funeral
E tumular tristeza !
Do coração então o passarinho,
Que tem o doce nome de – alegria,
Que ali vive a cantar,
Sentindo-o agora como o gelo frio,
N’um doloroso pio
Abandona o seu ninho
Para não mais voltar.
_____
Ter se uma esposa amavel que procura
Adivinhar os nossos pensamentos,
Que com amor, affecto e com doçura
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Seus olhos sempre attentos
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Vel-a depois do soffrimento presa,
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Que zombando implacável da sciencia,
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Da propria natureza,
Lhe vai sugando a seiva da existência ;
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Sempre animados por perenne luz,
Vel-os agora a divagar tristonhos
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Vel-a depois desfeita e descorada,
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Ver um por um seus dotes se extinguindo
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Quando o sol no oriente vem surgindo ;
Ver a morte que me chega lentamente,
Labios abertos n’um sorrir feroz
Sem que possamos embargar-lhe o passo,
E’ a dor mais profunda que se sente,
E’ um suplicio atroz.
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Um olhar de eterna despedida...
O seo martyrio cessa...
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Que mais te resta, coração vencido,
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Um martyrio maior : - inda viver.
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Ao coração fiel
Desputal-o das garras do jazido,
Meo Deos, como é cruel.
____
E’ n’estes transes, compassiva amiga,
Que tu descendo da mansão celeste,
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Que de consolo o coração reveste
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Que do peito as fibras nos estala,
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Como uma nota grave
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Recordações
Eis o que me resta do amor primeiro
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Somente este retrato que pendente
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Como se fora um talisman sagrado,
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Eu sinto, quando o beijo, que uma calma
Languida e doce me adormece o ser ;
Hoje abençôo do fundo de minh’alma
Tudo quanto fizeste-me soffrer.
Ambos creanças ; que loucura a minha
Em ter ciúmes do botão da rosa,
Que mal abrindo na manhan formosa
Da primavera despontando vinha.
Não me queixo de ti, pois fui eu mesmo
De tudo a causa que soffrido tenho ;
Phantasma, vago pela vida a esmo
Como n’um lago carcomido lenho.
O impulso voraz da mocidade
De ver, anjo travesso, me impedia
Que a inconstância que tanto me affligia
Era propria da tua tenra idade.
E n’um delírio de ciumes, cego,
Saudoso ente, quanto mal nos fiz !
Para sempre matei nosso socego,
Dos nossos sonhos o floral matiz.
Fui mais deshumano, fui cruel
Na hora e que te dei o adeos eterno,
Mas tinha a alma transformada em inferno
E tinha o peito a transbordar de fel.
Prostada aos meus pés, como eu sorria
Do fragil ente que vencido tinha...
O sol alem, no occaso, succumbia,
A lua cheia despontando vinha.
Tu foste mais feliz, não resististe
Por muito tempo o dissabor profundo ;
Descansa em paz, e vague eu n’este mundo
De saudades a morrer, sosinho e triste.
A esmola
D’uma lagryma que rolou
Pela face de Jesus,
Quando o suspiro exhalou
Final nos braços da cruz,
Uma florzinha nasceo
Em cuja tenra corolla,
Um anjo que veio do CEO
Gravou a palavra : - esmola.
N’um album
Dizem, senhora, que a poesia só
No coração do moço tem morada,
Que o velho quase a reduzir-se a pó
Não tem no templo de Apollo entrada.
Que completa illusão ; a poesia
Não existe no homem, vem de fora
Em su’alma actuar, como a harmonia
De tua voz celestial, senhora.
Quem, ouvindo o teu canto, o peito logo
Não sinta em chamma qual voraz vulcão ?
Põe aqui tua mão, vê com que fogo
Inda bate o este velho coração.
Póde pungil-o da desdicta a mão,
Orgão onde reside o sentimento,
Tanto mais se apura o coração,
Quanto mais o maltratca o soffrimento.
Fira a emoção ao velho os seus sentidos,
Logo das causas o myterio sonda,
E n’um rugir de palmas ou gemidos,
Entra-lhe n’alma a poesia em onda.
Se d’uma vaga o som plangente vem
No peito a fibra lhe acordar magua,
N’elle vê que o mar em si contem
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E’ captivo que vive a lamentar
N’esse leito profundo, onde opprimido
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Por ver seu dorso pelas náos ferido.
Se vem mimosa borboleta agora,
Em torno as azas lhe adejar dolente,
N’ella contempla a alma por quem chora
Ha muitos annos de querido ente.
Sómente o modo de sentir varia
As emoções no homem com a idade,
O que ao moço exalta a phantasia
Produz no velho cantos de saudade.
Pois é, minha senhora, a poesia
Não reside no homem, que sómente
Reproduz, como o echo a serrania,
As impressões externas como as sente.
N’um álbum
Pedes-me versos ! Meus cantos
São muito tristes, creança ;
Não se pede á dôr encantos,
Nem ao sepulchro esperança.
Gemidos sem harmonia
Que se perdem n’amplidão,
Só reflectem a noite fria
Que reina em meu coração.
Ninguem os ouve, e o mundo
Com seus gemidos que importa ?
Gemidos que vêm do fundo
De tanta esperança morta.
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Encher teu album, creança,
Da sepultura a frieza
Não tem com o berço alliança.
No jardim da mocidade
Onde está tudo a cantar,
Não tem logar a suadade,
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Mas como pedes-me tanto,
Me curvo á tua vontade,
Aqui te deixo este canto,
Signal d’eterna amizade.
Soneto
Tu és de minha vida a primavera,
E’s de minha alma a nuvem de alvorada,
Um riso, um gesto, um simples nada,
Um que de santo do meu peito gera.
Nos lábios de tua mãe um beijo dera,
E tu foste a semente abençoada
D’esse osculo puro que regada
Pelo orvalho do amor á luz viera.
Deus te abençôe, oh ! minha fragil hera,
Consolo da velhice antecipada
Que a desdita da vida m’impuzera.
Vejo em tuas feições retratadas,
Qual se viva ao meu lado inda estivera
Aquella sempre por nós dois chorada.
Relendo Casimiro de Abreu
Ainda ouço os gemidos
Que tu soltavas, cantor,
Nos versos sempre relidos
Das <<Primaveras>> em flor ;
E triste choro comtigo,
N’elles revendo a paixão,
Que passo a passo lobrigo
Rasgando o teu coração,
Bem como o pranto vertido
Por poetas teres sido.
O Genio contrariado
Pelo poder paternal,
Que achava mais acertado
Impor-te à vida real;
As tristezas, a saudade
Que, longe do teu Brasil,
Augmentaram a soledade
Da tua alma infantil,
Em cada pagina externas
Das <<Primaveras>> eternas.
Naquelle tempo era feio
Não saber ganhar dinheiro;
Foi-se esse tempo, outro veio
Trazendo o mesmo letreiro ;
E chamavam de demente
Quem fosse a fronte abrasada
Banhar na clara corrente
De Castalia celebrada ;
Pois ainda assim se chama
Quem as Musas hoje ama.
Sim, diz o mundo, é loucura
Viver a alma a scismar
Nos segredos lá d’altura,
Que nada dão a ganhar ;
Que vale um riso d’aurora ?
O casto rumor d’um beijo ?
Ouvir a rôla que chora
Do vergel no rumorejo ?
E tudo mais que completa
Os prazeres do poeta ?
Tudo isso é patacoada,
Dizem os homens de bem,
Que não vale uma pitada
Quando a gente fome tem ;
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Pois não ha missa sem pão,
Reza ou latim sem dinheiro
Não ha <<Telhado d’egreja
Adaggio sempre gotteja>>.
A phantasia !... consiste
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Que vale a << Minha’alma é triste>>
Ao pé d’um pouco de ouro ?
Com este tem-se o conforto,
Dos grandes nobres offertas,
E tambem depois de morto,
Francamente tem-se abertas
As portas que dão entrada
Para a celeste morada.
Melhor fora que tivesses
Apollo ás favas mandando,
E ao trabalho te desses
Do balcão afortunado ;
Em vez de cantos terias
Aos teus legado brazão,
Porque em pouco serias
Commendador ou barão,
Com importancia real
No mundo commercial.
Por isso teu pai que era
De todo avêsso ao ideal,
A tua ida impuzera
Para o velho Portugal ;
Mas debalde, actos ferinos
Não podem a lyra quebrar,
E a patria em versos divinos
Lá te puzeste a cantar,
Fazendo-a mais que princeza
Sobre um <<throno de belezza>>.
Não obstantes essas peias,
Teu genio subiu de mais,
Rompeste, vate, as cadeias
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O genio é um raio divino
N’alma do homem lançado,
Nada o detem, seu destino
E’ erguer-se, erguer-se arrojado
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Tenho saudades de ti
Quando brillham no céo as estrellas,
Quando o vento de manso murmura,
Quando a lua seus raios desprende
N’essas horas de tanta amargura ;
Quando o mocho soluça na cruz
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Quando geme tristonho o cypreste
No recinto em que a morte repousa ;
Então triste, velando sosinho,
Me apparece tua imagem gentil,
Como nuvem no céo vagarosa,
N’uma tarde serena d’Abril.
Nessas horas de magua e pavor,
Em que o mundo parece catado,
Sente muita saudade de ti
O meu peito de dor estalado.
Devaneando
Ter a fonte em socego adormecida
No collo da mulher
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Ter sempre um coração cheio de afago
Junto ao nosso a bater
Contente, como o cysne em manso lago
As aguas a fender ;
Uns labios onde paire franco o riso
De quem se sente bem,
A nos offerecerem um paraiso
Nos beijos que contêm ;
Uns olhos que nos fitam com a ternura
De quem almeja ver
No ser adora perennal ventura ;
Isto sim, é viver.
Assim é a nossa vida, em nosso lar,
Companheira fiel,
Não sentimos dos annos o passar
N’esta união de mel.
Ergue-te amiga, é dia, mas cautela,
Q’está fria a manhã,
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O teu fechú de lã.
Assim. Podes agora sem receio
O teu rosto gentil
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D’uma aurora d’Abril.
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Que tão crescido está.
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Poemas de Egídio Assis de Andrade

  • 1. POEMAS DE EGÍDIO ASSIS DE ANDRADE Hontem e Hoje Quando moço tive sonhos, Via diante de mim A vida em quadros risonhos Qual primavera sem fim. Minh’alma, louca creança Sempre feliz e contente, Beijada pela esperança Sorria constantemente. Em tudo achava um encanto, Som, harmonia e belleza ; A viração era um canto, Tinha voz a natureza. Adorava a Deus, no sol Via sua magestade, Vi seu riso arrebol, Na noite sua bondade. No céo, nas trevas, no dia, No mar, na aragem, na flor, Em tudo emfim eu sentia De Deus o sofro de amor. Então minh’alma voava Para as plagas d’amplidão E em cada astro entoava Mil hymnos a creação. Como seria ditoso Se n’essa quadra morresse ! Se subisse ao summo goso Sem que o mundo conhecesse ! Mas não ; trouxeram-me os annos A lucta pela existencia ; Os meus sonhos ? Desenganos ; O mundo ? Lepra, intelligencia. Vi-me só, e fui então Do homem a historia aprender ; Vi Caim matando o irmão, Judas a Christo a vender. Vi papas, principes e reis
  • 2. Nadando em mar de riqueza Sugada, por torpes leis, Dos suores da pobreza. Vi Nero, o monstro, no throno, No poder a falsidade, A virtude em abandono, O povo sem liberdade. Vi pae com a fronte rugada E a dôr impressa no rosto, Vender a fouce, a enxada Para pagar o imposto. Por toda parte a orphandade, Gemidos, corrupção, Creanças em tenra idade Morrendo à falta de pão. Mesmo em teu nome, Senhor, Todo amor, todo bondade, Quanto crime, quanta dôr Tem soffrido a humanidade ! 1º de Maio Proletarios do universo, Este dia todo vosso, Por mais que á rima do verso Queira cantal-o não posso. Sinto-me tão pequenino Perante ideias tão grandes, Que bem pareço um menino De joelhos junctos aos Andes. Proletarios, sempre unidos, Como contas d’um rosário, Todos nós somos remidos Pelo sangue do Calvário. Esquecei-vos d’amargura, N’estes momentos festivos, De vossa sorte, tão dura Por serdes ainda captivos. Por tanto tempo sugado Pela mão do ouro-rei, O vosso suôr sagrado Reclama agora uma lei.
  • 3. Finda a festa, mãos a obra Com todo ardor e vontade, Ante vós já se desdobra O painel da liberdade. Devaneios Filhos da doce harmonia, O nascente já coberto Da rubra côr que annuncia Que o rei dos astros vem perto, Vos brada : aves, é hora, Tangei a Lyra sonora. Deixai os tépidos ninhos, Risonhas grutas do amor, Deixai dormindo os filhinhos Da fonte ao brado rumor, Que já desponta no ceo Da aurora o Candido veo. Vede ; o brilho fenece Das estrellas luminosas ; O firmamento parece Um grande lago de rosas ; E a viração matutina Já corre pela campina. Como tem luz no horizonte ! Como os campos flores têm ! Que aroma nos traz do monte A brisa que de lá vem ! Que poesia nos ninhos Onde dormis, passarinhos ! Quem me dera por instantes Ver a minh’alma embalada Entre as nuvens cambiantes De que se veste a alvorada, Por um momento esquecida Dos soffrimentos da vida ! Vós sois a nota animada, Que faz vibrar a floresta, Corda de harpa afinada Que os ares enche de festa ; Cantai, cantai, que o arrebol Indica a vinda do sol.
  • 4. Assim... E’ doce esse canto ! Quanta saudade me traz ! De meus olhos brota o pranto, Meu coração mudo jaz ! Minh’alma geme e suspira, Aos acordes d’essa lyra. Feliz quem tem a ventura De morrer a esta hora, Fitando no céo a pura Deslumbrante luz da aurora, Ouvindo as notas suaves Dos castos hymnos das aves. A’... Talvez que agora chorosa, Com a face triste na mão, Fitando a lua formosa, Qua bóia pela amplidão, Em mim tu penses saudosa, Virgem do meu coração. Também por ti suspiro, Única luz de minh’alma, E quando teus olhos miro Nos astros d’um céo em calma Da lyra as cordas eu firo. Para cobrir-te de palma. A Saudade Já Ella vem chegando vagarosa A compassiva amiga Que meus pezares com amor mitiga ; Não tarda nunca, approximar-se a vejo A hora sempre certa, De leve como um beijo Que nos lábios do filho adormecido Depõe mãe carinhosa Com receio de acordal-o No seu berço de rendas revestidos. Bem vida sejas ; minha probre alma Entre seus braços com effusão te aperta, Amavel companheira ; Horas e horas do passado falo Recordando comtigo a passageira Quadra da infância tão serena e calma. ____
  • 5. Tu és, saudade, a minha bem amada, Unica flor que na aridez recende De minha soledade ; Quando dos valles o negror ascende Que a terra envolve e que a tristeza desce Como densa motalha desdobrada Sobre a cidade muda, é no teu seio Feito de mel, de corações e prece, Que minh’alma, saudade, Pesarosa procura sem receio Para abrigar-se socegado asylo, Onde possa o pranto livremente Verter, que a magua e dôr nos allivia. Sereno somno então Affavel e tranquillo Os olhos lentamente Me cerra já cançados de velar, E commigo adormece a nostalgia Que me devora o triste coração Exhausto de penar. Depois me vêm os sonhos :- lindo bando De gentis creancinhas Brinca contente á margem d’um regato Ouvindo as avesinhas Que cantam lá no mato... Como seria doce assim morrer ! Em teu seio sonhando E’ que sinto viver. ____ E’ triste o meu viver sempre sosinho, Juncto de mim só reina a solidão ; De minha terra e da familia ausente, Meu pobre coração Tão cheio de carinho Soffre em silencio sem que haja um ente Com quem compartilhe do soffrer a taça. Cedo roubou-me a inexoravel morte A fiel companheira de meus dias ; D’improviso o destino mortal chaga Em nosso peito abre e despedaça Com mão brutal as nossas energias ; O teu orgulho abate, só é forte Homem, quem não tem alma ; Da sorte o vendaval N’um só momento tudo te esmaga ; A esposa, os paes, as affeições sinceras, Tudo a morte desfaz.
  • 6. Ah ! como são austeras E tão creis as leis da natureza ! Do lar o riso, a santidade, a calma, O amor, o goso, a verdadeira paz Da noite par ao dia Se tornam em funeral E tumular tristeza ! Do coração então o passarinho, Que tem o doce nome de – alegria, Que ali vive a cantar, Sentindo-o agora como o gelo frio, N’um doloroso pio Abandona o seu ninho Para não mais voltar. _____ Ter se uma esposa amavel que procura Adivinhar os nossos pensamentos, Que com amor, affecto e com doçura De nossa mente maguas afugenta ; Seus olhos sempre attentos A’s mais subtis occupações do lar ; Companheira fiel que nos alenta Com seus sorrisos de celeste ente O coração no labutar da vida ; Que com um terno olhar Nos lê no rosto o que nossa alma sente ; Vel-a depois do soffrimento presa, Planta minada para o chão pendida Por mãos austeras de fatal doença, Que zombando implacável da sciencia, De nossas orações, de nossa crença, Dos mais santos desvelos, Da propria natureza, Lhe vai sugando a seiva da existência ; Aquelles olhos d’antes mais que bellos, Sempre animados por perenne luz, Vel-os agora a divagar tristonhos Pela celeste esphera, Como que antevendo alem, em sonhos, Da sepultura a cruz ; Aquella bocca, ninho onde cantavam Bandos de risos que brotavam assim Naturalmente como brota a flor Na festiva estação da primavera, Na campina, no Valle e no jardim, Em vez dos risos de christal, agora Só ter gemidos de pungente dor ; Aquella fonte altiva, illumindada
  • 7. Pelos reflexos de uma alma sã, Revestida de cores que imitavam As cores da manhã, Vel-a depois desfeita e descorada, Pallida imagem do que foi out’ora ; Ver um por um seus dotes se extinguindo Como as estrellas no cerúleo espaço Quando o sol no oriente vem surgindo ; Ver a morte que me chega lentamente, Labios abertos n’um sorrir feroz Sem que possamos embargar-lhe o passo, E’ a dor mais profunda que se sente, E’ um suplicio atroz. Depois... uma lagrima, um gemido, Um olhar de eterna despedida... O seo martyrio cessa... E para nós começa A agonia da vida. Que mais te resta, coração vencido, N’este mundo soffrer ? Um martyrio maior : - inda viver. Ah ! Não poder o coração amigo Ao coração fiel Desputal-o das garras do jazido, Meo Deos, como é cruel. ____ E’ n’estes transes, compassiva amiga, Que tu descendo da mansão celeste, Etherea plaga onde teu ser se abriga, Vens balsamo sagrado Que de consolo o coração reveste Em nossas chagas derramar, saudade. E a tempestade que nos ruge n’alma Qual indomavel oceano irado, Com o teu doce afago Torna-se tão calma Como um sereno lago. Do soffrimento então a chamma ardente Que do peito as fibras nos estala, Vai-se transformando lentamente Em perenne pungir, porem suave Como uma nota grave De orgam que se cala, Filha do céo, do desgraçado amiga, E’s o laço com que a Divindade As nossas dores ao seu throno liga. Recordações
  • 8. Eis o que me resta do amor primeiro Que com meu coração brincou, Um amor infantil e bandoleiro, Mas que tantas saudades me deixou. Somente este retrato que pendente Do meu pescoço trago em mim guardado, Como se fora um talisman sagrado, Ou de mãe, ao morrer, final prsente. Eu sinto, quando o beijo, que uma calma Languida e doce me adormece o ser ; Hoje abençôo do fundo de minh’alma Tudo quanto fizeste-me soffrer. Ambos creanças ; que loucura a minha Em ter ciúmes do botão da rosa, Que mal abrindo na manhan formosa Da primavera despontando vinha. Não me queixo de ti, pois fui eu mesmo De tudo a causa que soffrido tenho ; Phantasma, vago pela vida a esmo Como n’um lago carcomido lenho. O impulso voraz da mocidade De ver, anjo travesso, me impedia Que a inconstância que tanto me affligia Era propria da tua tenra idade. E n’um delírio de ciumes, cego, Saudoso ente, quanto mal nos fiz ! Para sempre matei nosso socego, Dos nossos sonhos o floral matiz. Fui mais deshumano, fui cruel Na hora e que te dei o adeos eterno, Mas tinha a alma transformada em inferno E tinha o peito a transbordar de fel. Prostada aos meus pés, como eu sorria Do fragil ente que vencido tinha... O sol alem, no occaso, succumbia, A lua cheia despontando vinha. Tu foste mais feliz, não resististe Por muito tempo o dissabor profundo ; Descansa em paz, e vague eu n’este mundo De saudades a morrer, sosinho e triste.
  • 9. A esmola D’uma lagryma que rolou Pela face de Jesus, Quando o suspiro exhalou Final nos braços da cruz, Uma florzinha nasceo Em cuja tenra corolla, Um anjo que veio do CEO Gravou a palavra : - esmola. N’um album Dizem, senhora, que a poesia só No coração do moço tem morada, Que o velho quase a reduzir-se a pó Não tem no templo de Apollo entrada. Que completa illusão ; a poesia Não existe no homem, vem de fora Em su’alma actuar, como a harmonia De tua voz celestial, senhora. Quem, ouvindo o teu canto, o peito logo Não sinta em chamma qual voraz vulcão ? Põe aqui tua mão, vê com que fogo Inda bate o este velho coração. Póde pungil-o da desdicta a mão, Orgão onde reside o sentimento, Tanto mais se apura o coração, Quanto mais o maltratca o soffrimento. Fira a emoção ao velho os seus sentidos, Logo das causas o myterio sonda, E n’um rugir de palmas ou gemidos, Entra-lhe n’alma a poesia em onda. Se d’uma vaga o som plangente vem No peito a fibra lhe acordar magua, N’elle vê que o mar em si contem Alguma cousa mais que simples água. E’ captivo que vive a lamentar N’esse leito profundo, onde opprimido Foi pela mão de Deus, o grande mar, Por ver seu dorso pelas náos ferido. Se vem mimosa borboleta agora,
  • 10. Em torno as azas lhe adejar dolente, N’ella contempla a alma por quem chora Ha muitos annos de querido ente. Sómente o modo de sentir varia As emoções no homem com a idade, O que ao moço exalta a phantasia Produz no velho cantos de saudade. Pois é, minha senhora, a poesia Não reside no homem, que sómente Reproduz, como o echo a serrania, As impressões externas como as sente. N’um álbum Pedes-me versos ! Meus cantos São muito tristes, creança ; Não se pede á dôr encantos, Nem ao sepulchro esperança. Gemidos sem harmonia Que se perdem n’amplidão, Só reflectem a noite fria Que reina em meu coração. Ninguem os ouve, e o mundo Com seus gemidos que importa ? Gemidos que vêm do fundo De tanta esperança morta. Meus versos vêm de tristeza Encher teu album, creança, Da sepultura a frieza Não tem com o berço alliança. No jardim da mocidade Onde está tudo a cantar, Não tem logar a suadade, A triste flor tumular. Mas como pedes-me tanto, Me curvo á tua vontade, Aqui te deixo este canto, Signal d’eterna amizade. Soneto Tu és de minha vida a primavera,
  • 11. E’s de minha alma a nuvem de alvorada, Um riso, um gesto, um simples nada, Um que de santo do meu peito gera. Nos lábios de tua mãe um beijo dera, E tu foste a semente abençoada D’esse osculo puro que regada Pelo orvalho do amor á luz viera. Deus te abençôe, oh ! minha fragil hera, Consolo da velhice antecipada Que a desdita da vida m’impuzera. Vejo em tuas feições retratadas, Qual se viva ao meu lado inda estivera Aquella sempre por nós dois chorada. Relendo Casimiro de Abreu Ainda ouço os gemidos Que tu soltavas, cantor, Nos versos sempre relidos Das <<Primaveras>> em flor ; E triste choro comtigo, N’elles revendo a paixão, Que passo a passo lobrigo Rasgando o teu coração, Bem como o pranto vertido Por poetas teres sido. O Genio contrariado Pelo poder paternal, Que achava mais acertado Impor-te à vida real; As tristezas, a saudade Que, longe do teu Brasil, Augmentaram a soledade Da tua alma infantil, Em cada pagina externas Das <<Primaveras>> eternas. Naquelle tempo era feio Não saber ganhar dinheiro; Foi-se esse tempo, outro veio Trazendo o mesmo letreiro ; E chamavam de demente Quem fosse a fronte abrasada Banhar na clara corrente De Castalia celebrada ; Pois ainda assim se chama
  • 12. Quem as Musas hoje ama. Sim, diz o mundo, é loucura Viver a alma a scismar Nos segredos lá d’altura, Que nada dão a ganhar ; Que vale um riso d’aurora ? O casto rumor d’um beijo ? Ouvir a rôla que chora Do vergel no rumorejo ? E tudo mais que completa Os prazeres do poeta ? Tudo isso é patacoada, Dizem os homens de bem, Que não vale uma pitada Quando a gente fome tem ; Até na religião Isso é dogma verdadeiro, Pois não ha missa sem pão, Reza ou latim sem dinheiro Não ha <<Telhado d’egreja Adaggio sempre gotteja>>. A phantasia !... consiste Em render culto ao thesouro ; Que vale a << Minha’alma é triste>> Ao pé d’um pouco de ouro ? Com este tem-se o conforto, Dos grandes nobres offertas, E tambem depois de morto, Francamente tem-se abertas As portas que dão entrada Para a celeste morada. Melhor fora que tivesses Apollo ás favas mandando, E ao trabalho te desses Do balcão afortunado ; Em vez de cantos terias Aos teus legado brazão, Porque em pouco serias Commendador ou barão, Com importancia real No mundo commercial. Por isso teu pai que era De todo avêsso ao ideal, A tua ida impuzera Para o velho Portugal ;
  • 13. Mas debalde, actos ferinos Não podem a lyra quebrar, E a patria em versos divinos Lá te puzeste a cantar, Fazendo-a mais que princeza Sobre um <<throno de belezza>>. Não obstantes essas peias, Teu genio subiu de mais, Rompeste, vate, as cadeias Que te ligavam aos mortaes ; O genio é um raio divino N’alma do homem lançado, Nada o detem, seu destino E’ erguer-se, erguer-se arrojado A’s regiões sempre em flor De Deos, da Patria e do Amor. Tenho saudades de ti Quando brillham no céo as estrellas, Quando o vento de manso murmura, Quando a lua seus raios desprende N’essas horas de tanta amargura ; Quando o mocho soluça na cruz Que se ergue na margem da lousa ; Quando geme tristonho o cypreste No recinto em que a morte repousa ; Então triste, velando sosinho, Me apparece tua imagem gentil, Como nuvem no céo vagarosa, N’uma tarde serena d’Abril. Nessas horas de magua e pavor, Em que o mundo parece catado, Sente muita saudade de ti O meu peito de dor estalado. Devaneando Ter a fonte em socego adormecida No collo da mulher Que não nos sahe do pensamento, em vida, Um momento sequer ; Ter sempre um coração cheio de afago Junto ao nosso a bater
  • 14. Contente, como o cysne em manso lago As aguas a fender ; Uns labios onde paire franco o riso De quem se sente bem, A nos offerecerem um paraiso Nos beijos que contêm ; Uns olhos que nos fitam com a ternura De quem almeja ver No ser adora perennal ventura ; Isto sim, é viver. Assim é a nossa vida, em nosso lar, Companheira fiel, Não sentimos dos annos o passar N’esta união de mel. Ergue-te amiga, é dia, mas cautela, Q’está fria a manhã, Põe, antes de chegares á janella, O teu fechú de lã. Assim. Podes agora sem receio O teu rosto gentil Expor ao ar e contemplar o enleio D’uma aurora d’Abril. Que linda madrugada ! Que belleza Do céo na rubra cor ! Em seu pleno esplendor a natureza Sauda o nosso amor. Dá-me agora o teu braço e juntos vamos Percorrer o jardim... Como as aves balaçam-se nos ramos ! Como cheira o jasmim ! Como aos cuidados a natura é grata ! Bem poucos dias há Que tu plantaste este botão de prata Que tão crescido está. E estes lindos beijos ! Causa espanto O viço que lhes vai ; As sementes trouxeste ha mez, si tanto, Da casa de teu pai. Como está carregada esta roseira ! Com tanto peso até...
  • 15. Olha, está nos chamando a cozinheira, Vamos tomar café.