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Os Bois - Conde de Monsaraz
Na doce paz da tarde que declina
Apósa fainasob um sol ardente,
Vãoos boisrecolhendolentamente
Pelasviasdesertasdacampina.
Atravessamdepoisacristalina
Ribeirae ao flébil somdaáguacorrente
Bebemsedentos, demoradamente,
Numasensual durezaque osdomina.
Mas quando,fartosd'água,erguendoasfrontes,
Os beiçosescorrendo,olhamosmontes
E ouvemcantar ao alto osrouxinóis,
Eu fico-me acismar,calado e triste,
Que um mundode impressões,que umaalmaexiste
Nosolhosenigmáticosdosbois!
Conde de Monsaraz, em" Musa Alentejana"
António de Macedo Papança (Reguengos de Monsaraz, 18 de julho de 1852 — Lisboa, 17 de
julhode 1913), 1.º visconde e depois1.ºconde de Monsaraz, foi um advogado,políticoe poeta
português. Exerceu as funções de deputado (1886) e de par do Reino (1898) nas Cortes da
Monarquia Constitucional e foi sócio da Sociedade de Geografia de Lisboa e do Instituto de
Coimbra e sócio correspondente da Academia Real das Ciências de Lisboa e da Academia
Brasileira de Letras. Como escritor produziu uma obra de pendor naturalista, eivada de
nacionalismo. Como poeta foi prolífico, alinhando pela estética parnasiana, com grande
preocupação formal, por vezes um tanto retórica.[1]
Nasceu em Reguengos de Monsaraz, filho de Joaquim Romão Mendes Papança, um
abastado proprietário rural alentejano, o maior do respectivo concelho[2], e de sua esposa
Maria Gregória de Évora Macedo. A família estava ligada à política local, detendo
grande influência no concelho, onde o seu tio Manuel Augusto Mendes Papança (1818-
1886) foi presidente de câmara e grande benemérito[3][4]. Depois de uma infância na
Quinta das Vidigueiras, em Reguengos de Monsaraz, frequentou o ensino secundário na
Escola Académica de Lisboa e matriculou-se em 1869, com apenas 17 anos de idade, no
curso de Direito da Universidade de Coimbra. Formou-se bacharel no ano de 1874, aos
22 anos de idade[5].
Ainda estudante revelou-se como poeta, publicando o poema Avante, obra de forte
pendor liberal e patriótico, correspondendo a uma fase romântica da sua inspiração.
Influenciado pela poesia de João Penha e de Cesário Verde, com quem privou, a sua
poesia evoluiu para a estética parnasiana, mostrando uma crescente preocupação formal,
marcada por uma eloquência um tanto retórica, atingindo momentos de marcado
dramatismo. A sua poesia foi progressivamente derivando para um exacerbado
nacionalismo, aproximando-se nesta vertente à obra de António Sardinha, ilustrando a
transição da estética parnasiana para as correntes neo-românticas e ruralistas dos finais
do século XIX e das décadas iniciais do século XX.
Macedo Papança, ao chegar a Lisboa, vindo de Reguengos, era um vate sorridente e
aristocrático. Foi o Conde de Monsaraz que regressou ao drama da terra, à écloga da sua
província, à alma das charnecas e dos montados, à viola do velho Brás e à graça matinal das
azinhagas em flor. Foi na época dourada da sua existência que ele sentiu melhor a humilde
gestação do povo,o divino crepúsculo doshorizontesdesobreirose de giestasem que nascera.
Foi então quenelesurgiu o admirávelpoeta regionalqueia criar o lirismo alentejano elheia dar
o lugarquelhe compete,deumdosclássicosda nossa poesiamoderna,ao ladode Cesário Verde
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  • 2. António de Macedo Papança (Reguengos de Monsaraz, 18 de julho de 1852 — Lisboa, 17 de julhode 1913), 1.º visconde e depois1.ºconde de Monsaraz, foi um advogado,políticoe poeta português. Exerceu as funções de deputado (1886) e de par do Reino (1898) nas Cortes da Monarquia Constitucional e foi sócio da Sociedade de Geografia de Lisboa e do Instituto de Coimbra e sócio correspondente da Academia Real das Ciências de Lisboa e da Academia Brasileira de Letras. Como escritor produziu uma obra de pendor naturalista, eivada de nacionalismo. Como poeta foi prolífico, alinhando pela estética parnasiana, com grande preocupação formal, por vezes um tanto retórica.[1] Nasceu em Reguengos de Monsaraz, filho de Joaquim Romão Mendes Papança, um abastado proprietário rural alentejano, o maior do respectivo concelho[2], e de sua esposa Maria Gregória de Évora Macedo. A família estava ligada à política local, detendo grande influência no concelho, onde o seu tio Manuel Augusto Mendes Papança (1818- 1886) foi presidente de câmara e grande benemérito[3][4]. Depois de uma infância na Quinta das Vidigueiras, em Reguengos de Monsaraz, frequentou o ensino secundário na Escola Académica de Lisboa e matriculou-se em 1869, com apenas 17 anos de idade, no curso de Direito da Universidade de Coimbra. Formou-se bacharel no ano de 1874, aos 22 anos de idade[5]. Ainda estudante revelou-se como poeta, publicando o poema Avante, obra de forte pendor liberal e patriótico, correspondendo a uma fase romântica da sua inspiração. Influenciado pela poesia de João Penha e de Cesário Verde, com quem privou, a sua poesia evoluiu para a estética parnasiana, mostrando uma crescente preocupação formal, marcada por uma eloquência um tanto retórica, atingindo momentos de marcado dramatismo. A sua poesia foi progressivamente derivando para um exacerbado nacionalismo, aproximando-se nesta vertente à obra de António Sardinha, ilustrando a transição da estética parnasiana para as correntes neo-românticas e ruralistas dos finais do século XIX e das décadas iniciais do século XX. Macedo Papança, ao chegar a Lisboa, vindo de Reguengos, era um vate sorridente e aristocrático. Foi o Conde de Monsaraz que regressou ao drama da terra, à écloga da sua província, à alma das charnecas e dos montados, à viola do velho Brás e à graça matinal das azinhagas em flor. Foi na época dourada da sua existência que ele sentiu melhor a humilde gestação do povo,o divino crepúsculo doshorizontesdesobreirose de giestasem que nascera. Foi então quenelesurgiu o admirávelpoeta regionalqueia criar o lirismo alentejano elheia dar o lugarquelhe compete,deumdosclássicosda nossa poesiamoderna,ao ladode Cesário Verde e de Gonçalves Crespo"