O documento discute a desconfiança crescente dos empresários da indústria no Brasil de acordo com pesquisas recentes. As pesquisas mostram que a desconfiança atingiu o maior nível desde a crise de 2009 e que 21 dos 28 setores pesquisados tiveram queda na confiança. Além disso, os números indicam que o Brasil caminha para uma taxa de crescimento inferior a 2,7% em 2011 devido à crise internacional e à falta de competência das políticas econômicas do governo.
Coluna do senador Aécio Neves na Folha - Maioridade do real
Coluna do senador Aécio Neves na Folha - (Des)confiança
1. (Des)confiança
Coluna do senador Aécio Neves na Folha de São Paulo, em 25 de junho de 2012
Na profusão de dados sobre a economia, muitas vezes não se dá a necessária atenção a
informações importantes, como as recentes pesquisas da Fundação Getúlio Vargas e da CNI,
que pontuam a estagnação do Brasil e a descrença dos empresários da indústria.
A Sondagem de Investimentos da Indústria, da FVG, realizada em abril e maio, revela que a
desconfiança atingiu o seu maior patamar desde 2009, quando a crise econômica e financeira
mundial vivia o seu período mais agudo.
O Índice de Confiança do Empresário da Indústria, medido pela CNI, atingiu o seu menor nível
desde dezembro -e caiu em 21 dos 28 setores pesquisados, principalmente nos segmentos de
média e alta intensidade tecnológica e de maior valor agregado.
Ainda mais grave é descobrir o que está por trás desses índices. Com ênfase, eles apontam o
que o governo finge não ver -que os efeitos da crise mundial chegaram ao país e se
intensificam a cada dia. Sinalizam, igualmente, que o pirotécnico conjunto de medidas
anunciadas fracassa em seu objetivo de conter a crise e estimular a economia, mesmo no
curto prazo.
Explicitam, ainda, que no cenário atual não há espaço para bravatas e nem condescendência
com diagnósticos equivocados, como os que tentam atribuir as dificuldades do país a questões
conjunturais passageiras, ignorando olimpicamente a sua conformação estrutural.
Irrefutáveis, os números indicam que caminhamos para uma taxa de crescimento do PIB
inferior aos pífios 2,7% de 2011. Por que?
Além da crise internacional, falta competência à política econômica em curso, pautada em
ações pontuais e paliativas, para garantir competitividade à indústria frente aos seus
concorrentes globais.
Também aqui os números são contundentes: dados da CNI, referentes a 2011 e que só se
agravaram neste primeiro semestre, mostram que de cada cinco produtos vendidos no Brasil,
20% foram produzidos no exterior, o maior percentual desde 1996; e que 21,7% dos insumos
utilizados pela indústria também vieram de fora.
É o resultado da inércia governamental diante de um cenário absolutamente hostil à
competitividade da indústria nacional, submetida a uma carga tributária recorde no mundo, a
encargos previdenciários superiores à média de países como os EUA, México, Alemanha,
França e Reino Unido, entre outros gargalos que penalizam a produção.
Já passou a hora de percebermos que o presente e o futuro são faces indissociáveis da mesma
moeda.
O país que seremos é o que estamos construindo. Vencer a crise que se agrava -e não perder
outras oportunidades de desenvolvimento- requer reconhecer os problemas e enfrentá-los
com realismo e coragem. Aqui e agora.