Descartes é um filósofo francês do século XVII. É
considerado o fundador da Filosofia moderna. Este filósofo
dá importância central à teoria do conhecimento ou
gnosiologia.
É um filósofo racionalista.
O racionalismo é uma corrente filosófica que defende que
os nossos conhecimentos verdadeiros procedem da razão
e não da experiência ou dos sentidos. Só os
conhecimentos que procedem da razão podem aspirar a
uma validade universal.
As duas principais linhas de força do racionalismo
são:
• O nosso conhecimento da realidade pode ser construído
dedutivamente a partir de certas ideias e princípios
evidentes;
• Estas ideias e princípios são inatos, isto é, não têm
origem na experiência sensível. O entendimento
(faculdade de raciocinar) possui à partida ideias
originais e princípios fundamentais que não provêm
da sensação, mas que o ser humano já possui à
nascença. Estes devidamente trabalhados pela razão,
dão origem a conhecimentos universais e necessários
de que são exemplo as matemáticas.
O modelo matemático é a referência fundamental do
conhecimento científico devido ao seu caráter estritamente
racional e abstrato. O método matemático pode servir de
modelo não só às ciências naturais, mas também no
campo filosófico.
O racionalismo aspira a um sistema teórico puramente
racional, universal e necessário, válido para o ser humano
e para toda a Natureza, surgindo como um elemento
harmonizador de toda a realidade, normalmente apoiada
na ideia de Deus.
Descartes, contra o ceticismo que reinava na sua época
procura construir um sistema científico de bases ou
princípios firmes e indubitáveis. Este filósofo pretende
fundar em bases sólidas e seguras o edifício do saber.
Inspirando-se no modelo do saber matemático, como
filósofo tipicamente racionalista, entendeu que a ciência
devia ter um fundamento metafísico, devia basear-se em
princípios metafísicos a partir dos quais todos os restantes
conhecimentos seriam deduzidos com ordem e rigor.
O que leva Descartes a propor-se realizar este projeto
de fundar em bases sólidas e seguras o edifício do
saber?
• A verificação de que todo o saber do seu tempo está
assente em bases frágeis.
• Esse edifício do saber ser constituído por
conhecimentos que não estão devidamente ordenados.
• Qual o objetivo de Descartes?
Fundamentar e ordenar o saber. “começar tudo de novo
desde os fundamentos”, ou seja, submeter o saber da sua
época a um exame radical, não aceitando nada que não se
reconheça clara e distintamente como sendo verdadeiro.
• Trata-se de começar tudo de novo, do princípio. Esse
princípio tem de ser um conhecimento que resista a
todas as nossas tentativas de o pôr em causa. Se o
conseguirmos encontrar, teremos o alicerce ou a base
que será o fundamento do saber que pretendemos
firme, seguro e bem organizado. Será o conhecimento a
partir do qual encontraremos outros conhecimentos que
dele dependerão.
Este princípio deve ter as seguintes características:
• Deve ser de tal modo evidente que o pensamento não
possa dele duvidar;
• Dele dependerá o conhecimento do resto, de modo que
nada possa ser conhecido sem ele.
• Para separar o verdadeiro conhecimento do falso, é
melhor derrubar o edifício do saber e, aproveitando os
conhecimentos verdadeiros - de que não podemos
duvidar - construir desde a raíz o novo sistema de
conhecimentos.
Segundo Descartes para obtermos a certeza temos de
encontrar um fundamento inteiramente seguro para o
conhecimento. Temos de encontrar crenças ou convicções
que não possam ser colocadas em dúvida, a partir das
quais seja possível justificar infalivelmente outras crenças
ou convicções.
Comecemos, pois por examinar todas as nossas crenças
submetendo-as a um exame rigoroso, tentando encontrar
razões para duvidar da sua verdade, usando os seguintes
critérios:
• Considerar como falso o que for minimamente suscetível
de dúvida;
• Considerar como sempre nos enganando aquilo que
alguma vez nos enganou.
Descartes instituiu a dúvida como
método, como instrumento de
trabalho na busca de verdades
indubitáveis.
A dúvida cartesiana é: metódica;
provisória; universal e hiperbólica.
• Metódica- é o meio de que
Descartes se serve para
alcançar a verdade e que
permite evitar o erro.
Provisória – o objetivo de Descartes não é permanecer na
dúvida, mas alcançar certezas de modo a poder reconstruir o
edifício do saber; visa ultrapassar o ceticismo.
Universal – nada pode escapar à dúvida, pode estender-se a
tudo.
Hiperbólica – é excessiva ou exagerada, consiste em duvidar
por mínima e até aparentemente insensata que seja a razão
para duvidar, assegurando assim que a crença que resistir será
absolutamente verdadeira.
O 1º nível de aplicação da dúvida:
os sentidos não são fontes seguras de conhecimento
Descartes começa por apresentar argumentos céticos para
duvidarmos de todas as nossas crenças que se baseiam na
experiência empírica. Um desses argumentos parte da ideia de
que os nossos sentidos não são completamente fiáveis.
Os sentidos enganam-nos em algumas ocasiões. Como é
imprudente confiar naqueles que nos enganam nem que seja
uma só vez, devemos rejeitar todas as nossas crenças
empíricas, pois é possível que sejam falsas.
O 2º nível de aplicação da dúvida:
há razão para acreditar que o mundo físico é uma ilusão
Neste nível de aplicação da dúvida, Descartes questiona a
existência de uma realidade física independente do nosso
pensamento. O problema de Descartes é este: como
encontrar uma razão para duvidar daquilo que parece tão
evidente?
Temos aqui o argumento do sonho:
Nunca podemos distinguir por sinais seguros o sono da
vigília. Assim é possível que estejamos a sonhar quando
nos julgamos acordados e, portanto, talvez tudo aquilo que
pensamos estar a observar não passe de uma ilusão.
Estes dois argumentos sugerem que aquilo que julgamos
conhecer através dos sentidos é duvidoso e que, portanto,
as nossas crenças empíricas ou a posteriori não podem
servir de fundamento para um conhecimento certo.
O 3º nível de aplicação da dúvida:
há razão para acreditar que o nosso entendimento
confunde o verdadeiro com o falso
Neste nível, Descartes vai pôr em
causa aquilo que até então
considerara o modelo do saber
verdadeiro: o conhecimento
matemático.
Descartes pensa que mesmo uma
crença como 5+2= a 7 não é
indubitável. Para mostrar que um
cético poderia colocar em questão
as crenças deste género, Descartes
introduz o argumento do génio
maligno.
• O génio maligno é uma espécie de Deus enganador –
um ser extremamente poderoso e malévolo que está
empenhado em fazer-nos viver na ilusão. Ora, se este
génio maligno existir poderia controlar os nossos
pensamentos e fazer-nos cometer os erros mais
elementares de raciocínio, mesmo na matemática
seremos induzidos sistematicamente em erro, tudo
aquilo que julgávamos existir à nossa volta não passará
de ilusão.
Descartes não está a dizer que este génio maligno existe,
mas que não podemos excluir a possibilidade de esse ser
existir, e que, se ele existir, quase tudo aquilo em que
acreditamos será falso.
Assim, quase tudo aquilo em que acreditamos admite
alguma dúvida.
As nossas crenças a priori, como as que temos na área da
matemática são também colocadas em dúvida.
É possível colocar em dúvida os nossos conhecimentos a
priori e a posteriori.
A descoberta de uma verdade absolutamente indubitável:
“Cogito, ergo sum”
Podemos ver agora o resultado de aplicação da dúvida.
Ela pôs em causa toda a dimensão dos objetos, quer
sensíveis, quer inteligíveis. Neste momento poderíamos
julgar que reina o ceticismo: tudo é falso, nada resiste à
dúvida. No entanto, quando a dúvida atinge o seu ponto
máximo, uma verdade indubitável vai impor-se.
Ainda que nenhuma das nossas crenças seja indubitável,
há algo de que não podemos duvidar. Afinal, se estamos a
colocar as nossas crenças em dúvida, estamos a duvidar,
e duvidar é uma forma de pensar. E, se estamos a pensar,
então existimos. Podemos então seguramente afirmar:
“Penso, logo existo”
(“Cogito , ergo sum”)
Para Descartes o cogito constitui o fundamento certo do
conhecimento, pois nem um génio maligno poderia
enganar-nos no que respeita à nossa própria existência.
Repare-se que o cogito apenas nos assegura a nossa
existência enquanto seres pensantes (res cogitans,
substância pensante). A existência dos outros e do nosso
corpo (res extensa) talvez sejam ilusões.
O cogito é uma intuição racional, ou seja, uma evidência
que se impõe ao espírito de forma absolutamente clara e
distinta.
É uma verdade absolutamente primeira;
Uma verdade estritamente racional;
Uma verdade exclusivamente a priori;
Uma verdade indubitável;
Uma verdade evidente, uma ideia clara e distinta.
O cogito proporciona um ponto de partida seguro para o
conhecimento.
Mas como avançar a partir do cogito? Como chegar ao
conhecimento do mundo exterior e saber que o que nos
rodeia não é uma ilusão?
O cogito é uma verdade que concebemos clara e
distintamente (para pensar é preciso existir). Descartes
admite então a seguinte regra geral:
É verdadeiro tudo aquilo que concebemos muito clara
e muito distintamente.
É o critério das ideias claras e distintas. Se, como no caso
do cogito temos ideias claras e distintas, podemos ter a
certeza de estar perante uma ideia verdadeira.
As ideias que cada indivíduo possui são, segundo
Descartes, de três tipos:
Adventícias – as resultantes dos sentidos;
Factícias – as provenientes da imaginação;
Inatas – as que possuímos à nascença.
Só as ideias inatas são claras e distintas, ou seja,
apresentam-se com tal evidência ao espírito humano que
não podemos duvidar da sua verdade, nem confundi-las
com outras. São apreendidas intuitivamente e têm a sua
origem na razão.
A dúvida permitiu a Descartes afirmar, por intuição
intelectual, a existência do cogito, isto é, a sua existência
enquanto ser pensante. Se, como vimos, os sentidos são
enganadores, a prova da existência do mundo tem de ter
origem em ideias claras e distintas, ou seja, na razão.
A existência de Deus
• Descartes sabe que, como ser que duvida, não é um ser
perfeito. Mas tem ideia de um ser mais perfeito do que
ele.
• Ora, aquilo que é menos perfeito não pode criar aquilo
que é mais perfeito. Por isso a ideia de um ser mais
perfeito do que ele não pode ter sido criada por si – essa
ideia tem de ter sido colocada em si por um ser mais
perfeito do que Descartes.
• Na verdade esse ser tem de possuir todas as perfeições
concebíveis, ou seja, tem de ser Deus.
Outro dos argumentos é a versão do argumento
ontológico:
“Quando examino a ideia de triângulo, compreendo que os
seus três ângulos têm de ser iguais a dois ângulos retos.
Do mesmo modo, quando examino a ideia de um ser
perfeito (ou seja, a ideia de Deus) compreendo que este
tem de existir. Afinal, a propriedade de existir é algo que um
ser perfeito não pode deixar de ter: se não existir, não será
perfeito, pois faltar-lhe-á essa perfeição.”
• Estabelecida a existência de Deus a hipótese do génio
maligno pode ser afastada. Deus não é um ser
malévolo, mas sumamente bom, pelo que não pretende
enganar-nos. Dado que as nossas ideias provêm de
Deus, declara Descartes, não podem deixar de ser
verdadeiras na medida em que forem claras e distintas.
A existência de Deus justifica o critério das ideias claras e
distintas. É verdadeiro tudo o que concebemos clara e
distintamente porque as nossas faculdades foram criadas
por Deus, que não é um ser enganador. Podemos estar
seguros de que o que nos rodeia não é uma ilusão: o
mundo exterior é real e podemos conhecê-lo.
Deus valida as nossas pretensões ao conhecimento,
permitindo-nos afastar o ceticismo.
Na teoria do conhecimento de Descartes há dois pilares
centrais: o cogito e Deus. Ideias inatas, resultantes da
razão, que se apresentam clara e distintamente ao espírito.
O problema de Descartes e dos racionalistas, ao
considerarem a razão como fonte de conhecimento e a
possibilidade de se conhecer a realidade por via racional é
o tenderem a cair no dogmatismo.