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ÍNDICE
CAPITULO I------------------------------------------4
1- ANATOMIA E FISIOLOGIA DA CÓRNEA 4
1.1- ANATOMIA DA CÓRNEA -------------------4
FIG.1: CAMADAS DA CÓRNEA----------------4
1.2- FISIOLOGIA CORNEANA----------------- 12
1.3- A CÓRNEA NAS ENFERMIDADES ---- 16
2- PELÍCULA LACRIMAL-----------------------17
2.1- MECANISMO SECRETOR DA
PELÍCULA LACRIMAL --------------------------- 18
3 - HISTÓRIA DAS LENTES DE CONTATO
--------------------------------------------------------18
3.1- LENTES HIDROFÍLICAS ------------------ 19
3.2 - LENTES RÍGIDAS GÁS PERMEÁVEIS
---------------------------------------------------------- 19
3.3- OUTRAS DESCOBERTAS --------------- 19
4- LEGISLAÇÃO DA CONTATOLOGIA ----20
5- ÉTICA DO CONTÁTOLOGO---------------23
6 - CARACTERÍSTICAS IDEAIS DE UM
MATERIAL PARA LENTES DE CONTATO24
6.1- REQUISITOS DE
BIOCOMPATIBILIDADE PARA OS
MATERIAIS DE LENTES DE CONTATO --- 24
7 - PROPRIEDADES DOS MATERIAIS DAS
LENTES DE CONTATO ------------------------24
7.1- TRANSPARÊNCIA -------------------------- 24
7.2- DUREZA---------------------------------------- 25
7.3- FORÇA DE TENSÃO ----------------------- 25
7.4- MÓDULO DE ELASTICIDADE----------- 25
7.5- DENSIDADE ---------------------------------- 25
7.6- ÍNDICE DE REFRAÇÃO ------------------- 25
7.7- UMECTABILIDADE ------------------------- 25
8 - PROPRIEDADES DAS LENTES DE
CONTATO------------------------------------------25
8.1- CONTEÚDO AQUOSO -------------------- 25
8.2- CARGA IÔNICA------------------------------ 25
8.3- TRANSMISSÃO DE OXIGÊNIO--------- 25
9 - MATERIAIS PARA LENTES DE
CONTATO------------------------------------------27
9.1- POLIMERIZAÇÃO--------------------------- 27
9.2- CARACTERÍSTICAS DAS LENTES
RÍGIDAS SEGUNDO O SEU MATERIAL --- 27
9.3- CARACTERÍSTICAS DAS LENTES
HIDROFÍLICAS SEGUNDO O SEU
MATERIAL -------------------------------------------29
10 - FABRICAÇÃO DE LENTES DE
CONTATO------------------------------------------29
10.1- MOLDAGEM---------------------------------29
10.2- TORNEAMENTO---------------------------30
10.3- CENTRIFUGAÇÃO (SPIN CASTING) 31
11 - FATORES A SEREM CONSIDERADOS
NA SELEÇÃO DE UM PACIENTE PARA A
ADAPTAÇÃO DE LENTES DE CONTATO 31
12 - PROVAS E MEDIDAS QUE DEVEM
SER INCLUÍDAS NO EXAME PRELIMINAR
PARA LENTES DE CONTATO ---------------31
12.1- EXAME DO SEGMENTO ANTERIOR
DO OLHO --------------------------------------------31
12.2 - MEDIÇÕES NECESSÁRIAS PARA
ADAPTAR LENTES DE CONTATO-----------32
13 - CANDIDATOS PARA LENTES DE
CONTATO RÍGIDAS GÁS PERMEÁVEIS -35
14- TERMINOLOGIA E CARACTERÍSTICAS
DAS LENTES DE CONTATO ----------------- 35
14-1- PARÂMETROS DAS LENTES DE
CONTATO -------------------------------------------35
15- ASTIGMATISMO RESIDUAL ------------ 39
16- SELEÇÃO DOS PARÂMETROS DA
LENTE DE PROVA - RGP --------------------40
16.1- DIÂMETRO TOTAL DA LENTE :-------40
16.2- PODER DIÓPTRICO DA LENTE
POSITIVO-NEGATIVA ---------------------------40
16.3- PODER DIÓPTRICO ----------------------40
16.3- RZOP: CURVA BASE ---------------------40
16.4- ESPESSURA --------------------------------40
16.5- PERMEABILIDADE - MATERIAL DA
LENTE-------------------------------------------------41
17- PRINCÍPIOS BÁSICOS DA
ADAPTAÇÃO--------------------------------------41
18- ADAPTAÇÃO DE LENTES ASFÉRICAS
--------------------------------------------------------42
19- ADAPTAÇÃO DE LENTES TÓRICAS - 42
20- LENTES DE CONTATO DE CURVAS
INVERTIDAS --------------------------------------42
21- VERIFICAÇÃO DOS PARÂMETROS DE
LENTES DE CONTATO RÍGIDAS ----------- 42
21.1 ADAPTAÇÃO DA LENTE DE PROVA-43
21.2- REMOÇÃO DA LENTE -------------------46
21.3- HORÁRIO DE USO ------------------------47
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2
21.4- VISITAS DE CONTROLE---------------- 47
22- LENTES HIDROFÍLICAS------------------48
22.1- COLORAÇÕES----------------------------- 49
22.2- ADAPTAÇÃO DE LENTES DE
CONTATO HIDROFÍLICAS--------------------- 49
- CURVA BASE -----------------------------------49
- DIÂMETRO DA LENTE -----------------------49
22.3- AVALIAÇÃO DA LENTE EM
BIOMICROSCOPIA------------------------------- 51
22.4- HORÁRIO DE USO------------------------ 51
22.5- SINTOMAS DE ADAPTAÇÃO COM
LENTES DE CONTATO HIDROFÍLICAS --- 52
23- LENTES HIDROFÍLICAS TÓRICAS----52
23.1- DESENHOS --------------------------------- 52
23.2- PRISMA--------------------------------------- 52
23.2- ADAPTAÇÃO DA LENTE DE PROVA 54
24- ADAPTAÇÃO EM PÓS CIRURGICOS
REFRATIVOS -------------------------------------54
24.1- OBJETIVO ----------------------------------- 54
24.2- INTERPRETAÇÂO ------------------------ 54
24.3- FORMA --------------------------------------- 54
24.4- LEITURA – ----------------------------------- 54
25- MICROBIOLOGIA DOS FUNGOS ------55
25.1- ESTRUTURA DA CÉLULA FÚNGICA 55
25.2- MORFOLOGIA E REPRODUÇÃO ---- 56
25.3- NUTRIÇÃO CRESCIMENTO E
METABOLISMO------------------------------------ 56
26- MICROBIOLOGIA DOS VÍRUS----------56
26.1- MORFOLOGIA E ESTRUTURA DA CÉLULA
BACTERIANA: ----------------------------------------- 57
27- SISTEMAS DE MANUTENÇÃO ---------59
27.1- PH SISTEMAS DE MANUTENÇÃO--- 59
27.2- ESCOLHA DO SISTEMA DE ANTI-
SEPSIA ADEQUADO----------------------------- 60
BIBLIOGRAFIA -----------------------------------60
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3
APRESENTAÇÃO
O estudo da Contatologia apresenta-se hoje
como um dos campos de maior
desenvolvimento na área da óptica oftálmica.
A tentativa de compensar as dificuldades
visuais com lentes de contato é um desafio
das industrias que tentam substituir os óculos
pelas lentes de contato.
As técnicas de adaptação e a geometria das
lentes de contato estão mudando em uma
velocidade inacreditável.
Lentes para longe, para perto, esféricas,
tóricas, geometria inversa, bifocais,
progressivas. Enfim, tal evolução nos obriga
a um estudo constante para podermos
acompanhar a evolução da óptica dessas
lentes.
Esta apostila está centralizada em conteúdos
considerados mínimos obrigatórios para a
adaptação de todos os tipos de lentes
existentes atualmente no mercado.
Colocado de uma forma clara, o aluno terá a
possibilidade de realizar um estudo simples e
completo no campo da contatologia.
Serão abordados temas básicos assim como
temas que provocam discussões na prática
da adaptação de lentes de contato.
Com a participação de profissionais com
muita experiência prática, este material
proporcionará ao aluno conhecimentos de
grande valia para o seu exercício
profissional.
Lembre-se: o sucesso profissional é
alcançado mediante esforços individuais
visando acima de tudo a coletividade.
ELABORAÇÃO:
Nora Leon – Especialista em Optometria da
Universidade de San Martin – Colômbia.
COLABORADORES:
Rosélia Vilarins – Contactóloga
Ana Rita Freitas – Técnica em Óptica e
Optometria.
Danny Carvalho Magalhães – Bacharel em
Optometria.
João Cunha – Técnico em Óptica e
Optometria.
Margareth Vilarins – Contactóloga
Juan Bretas – Técnico em Óptica e
Optometria.
Aurez Muniz – Técnica em Óptica e
Optometria.
Sedna Maria Ferreira – Técnica em Óptica e
Optometria.
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4
CAPITULO I
1- ANATOMIA E FISIOLOGIA DA CÓRNEA
A córnea é um tecido transparente,
que constitui o principal componente óptico
do olho. A produção de uma imagem nítida
nos receptores da retina requer que a córnea
seja transparente e que tenha o poder
refrativo apropriado.
O poder de refração da córnea
depende de sua curvatura e de seu índice de
refração.
O raio da superfície anterior da
córnea é, em média, 7.8mm na região
central. Esta medida pode variar, oscilando
entre 7.0 e 8.5 mm sem alterar a boa função
visual. Em condições patológicas, estes
limites se ampliam ainda mais.
O índice de refração da córnea é
de 1.376 ignorando o filme lacrimal, o que dá
a região central anterior um poder de
refração de 48.8 di .
A superfície posterior côncava da
córnea está em contato com o humor
aquoso, que tem um índice de refração
menor (1.336) de modo que o poder de
refração desta superfície é de 5.8 di ,
produzindo um poder total de refração de
43.00 di , ou seja, aproximadamente 70 % do
poder de refração do olho.
A superfície anterior da córnea é
mais curva na parte central e um pouco
aplanada na parte periférica, dando a córnea
uma forma de hipérbole.
A área central da córnea, de 3 a 4
mm, é quase esférica.
A curvatura da córnea muda com o
passar dos anos. É mais esférica na infância
e adquire um astigmatismo a favor da regra
durante a infância e adolescência.
A córnea tem um raio de curvatura
menor, é mais altamente refrativa no
meridiano vertical que no horizontal. Esta
regra é exata em 90 % dos casos. Ela volta a
ser mais esférica na idade média e passa a
apresentar um astigmatismo contra a regra
na velhice.
A espessura corneana também
aumenta um pouco com a idade. A
espessura é de 0.55 mm nas pessoas
menores de 25 anos, logo aumenta
lentamente com a idade até alcançar 0.57
mm em pessoas maiores de 65 anos.
A espessura periférica média é de
0.67 mm. Nas pessoas míopes com um
defeito superior a 5.00 di a espessura central
da córnea é de 0.52 a 0.53 mm. A
hipermetropia não afeta a espessura
corneana .
A espessura da córnea é maior após
o sono e diminui um pouco quando os olhos
estão abertos e expostos ao efeito
ressecante do ar.
A temperatura da córnea é
relativamente baixa. No coelho, por exemplo,
a temperatura da córnea e a da íris alcança
5
o
. centígrados.
A profundidade sagital da córnea é
de 2.6 mm com variações dependendo do
raio da curvatura corneana.
OUTRAS MEDIDAS:
Diâmetro horizontal visível da íris
(DHVI) .................11.7 mm
Diâmetro vertical visível da íris
(DVVI) ......................10.6 mm
1.1- ANATOMIA DA CÓRNEA
Até pouco tempo, acreditava-se que
a córnea era composta por cinco camadas :
Epitélio, Membrana de Bowman , Estroma,
Membrana de Descemet e Endotélio .
Atualmente se reconhece a existência de
uma Membrana Basal delgada que se
estende sob o Epitélio.
FIG.1: CAMADAS DA CÓRNEA
A: Epitélio
b:Camada de Bowman
c:Estroma
d:Camada de Descemet
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5
E:Endotélio
1.1.1- EPITÉLIO
A existência do Epitélio Corneano foi
reportada pela primeira vez por Van
Leeeuwenhock (1693-1718).As células do
epitélio corneano formam uma linha de
defesa para todo usuário de lentes de
contato.
A córnea começa a sua formação
durante a quinta semana de gestação. O
estroma corneano, que é de origem
mesodérmica, em sua fase inicial é coberto
anteriormente por duas camadas de células
do ectoderma.Estas camadas se diferenciam
para formar o epitélio corneano. Aos três
meses, as fibras nervosas começam a
aparecer entre as células epiteliais.
O epitélio corneano é continuação do
epitélio conjuntival, o qual por sua vez é
continuação da epiderme da pele. O limite
interno do epitélio está formado por uma
membrana basal, que também é sintetizada.
Externamente, a atmosfera está
separada do epitélio pelo filme pré-
corneal.Fora da espessura periférica e até a
região limbar , o epitélio tem uma estrutura
multicelular marcadamente uniforme de 50 a
60 micras de espessura. Considera-se então
que o epitélio ocupa aproximadamente 10 %
da espessura corneana.
Fig.2:EPITÉLIO E CAMADA DE BOWMAN
Fig.3:MEMBRANA DE DESCEMET E
.
ENDOTÉLIO
O epitélio é formado por cinco a seis
camadas de células do tipo estratificado.
O epitélio corneano pode ser observado em
biomicroscopia em secção óptica ou
paralelepípedo.Ele é visto como uma linha
delgada sendo a diferenciação entre as
lágrimas e o epitélio corneano mais
evidenciada com a aplicação de
fluoresceína e o filtro azul cobalto.Quando
há alguma interrupção do epitélio se observa
uma variação da espessura da película
lacrimal, observando-se o tingimento das
células lesadas.
É importante que o contatólogo
examine o epitélio dos pacientes usuários de
lentes de contato, já que as primeiras
reações corneanas adversas em usuários de
lentes se manifestam no epitélio.
A- FUNÇÕES DO EPITÉLIO
- PROTEÇÃO FÍSICA
O epitélio é a estrutura corneana
mais externa e tem que proteger as delicadas
estruturas internas, as quais, quando
lesadas, não podem se reproduzir. O epitélio
não somente oferece resistência aos corpos
estranhos como objetos voadores ou lentes
de contato como também resiste à fricção
continua do piscar ou os rigores do ato de
esfregar os olhos.O epitélio tem uma
natureza altamente elástica a danos físicos
significantes. Adicionalmente o epitélio
possui uma excelente reprodutibilidade.
Então quando sofre um trauma, se recupera
rapidamente. Esta recuperação acontece
primeiro por uma migração das células
existentes que cobrem a área lesada e em
seguida por uma reprodução acelerada para
substituir as células perdidas.
- ÓPTICA
O Índice de refração varia, segundo
as pesquisas, entre 1.375 e 1.543. A córnea,
como foi mencionada previamente, é
responsável pela maior quantidade de
poder refrativo do olho e o epitélio tem que
manter sua uniformidade para proporcionar
uma superfície óptica perfeita. Além disto, o
epitélio deve manter-se transparente.
Quando há problemas com a
transparência desta camada corneana, a
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6
função óptica pode ser afetada. Esta
condição é conhecida como Véu de Sattler.
- ESTABILIZAÇÃO LACRIMAL
Há uma interação entre as lágrimas e
a córnea. Esta relação é parcialmente a
causa do rompimento da lágrima. É certo que
a córnea não traumatizada parece manter
intacto o filme corneano por um período de
tempo mais longo que a córnea com defeito
epitelial.
Pode ser que o micro vilosidades ao
longo da superfície corneana tenha um efeito
reconstrutivo sobre as lágrimas, promovendo
sua estabilidade.Esta possível função do
micro vilosidades ainda deve ser
estabelecida.
- BARREIRA CONTRA OS FLUÍDOS
Muitas úlceras corneanas que
aparecem na superfície perda de células
epiteliais superficiais permitindo a entrada de
microorganismos na córnea. Sabe-se que
uma córnea intacta é impenetrável a quase
todos os microorganismos. O rompimento da
barreira a fluidos também abre a porta para a
entrada ou saída de água do tecido.
B- MICRO E ULTRA-ESTRUTURA
O epitélio corneano é formado por
cinco a seis camadas de células. Nele há
três tipos de células diferenciadas. Estas
células são denominadas basais, aladas e
escamosas. As células basais são as mais
internas e formam uma simples camada de
células colunares. Esta camada forma
aproximadamente de 25 a 35 por cento do
total da espessura corneana.A face interna
plana das células basais está unida à
membrana basal. A relação anatômica entre
a membrana basal e o epitélio ajuda a que
em toda a largura da córnea o epitélio possa
realizar sua função protetora.
Externamente a membrana basal tem
de duas a três camadas de células aladas
.As células escamosas , também chamadas
superficiais , formam de duas a três
camadas de células , aplanando-se à medida
que são mais superficiais .
As células epiteliais normalmente
começam sua vida ao longo da membrana
basal, em meio às células basais . Daí tem
de migrar até a superfície onde completarão
seu ciclo de vida para terminar nas lágrimas
.Os três tipos de células epiteliais corneanas
são realmente a mesma célula em
diferentes estágios de seu ciclo de vida .
As células epiteliais mudam à medida que
envelhecem e a mudança é mais óbvia no
seu progressivo aplanamento à medida
que alcançam à superfície corneana .
Temos que levar em conta a
natureza dinâmica do epitélio quando se
tratam de entender certas características
desta camada. Por exemplo, a constante
remoção de células epiteliais provavelmente
explique melhor porque é rara a subida dos
axônios encontrados no epitélio.Aqui eles
preferem mover-se entre as células,
enquanto nas células basais os axônios se
movem estreitamente dentro da parede
celular.
1.1.2- CÉLULAS BASAIS E MEMBRANA
BASAL
A camada de células basais é
metabolicamente mais ativa. É somente
nela que se produz à síntese de novas
células, o que não ocorre em nenhuma outra
camada do epitélio. É lógico então pensar
que estas células possuíram um aparato de
Golgi, mitocôndrias, vesículas e reservas
de glicogênio maior que as demais.
As células basais são células
colunares altas, medindo aproximadamente
18 micras de altura e 10 micras de largura.
Exceto pela sua parte interna plana, o
contorno das células basais mostra
numerosas interdigitações superficiais, que
unem células vizinhas. Seu núcleo é
esférico e um pouco deslocado
anteriormente.
As células basais formam numerosos
contactos desmosomais com suas vizinhas
ao longo das paredes anterior e lateral. As
células epiteliais estão unidas umas às
outras por suas interdigitações, pelos
desmossomas e pelas zonulas ocludens .
Os desmossomas são pontos de
união entre as células, aonde as
membranas celulares se tornam mais
grossas e muitas fibrilas se unem. O grande
número de desmossomos, junto com o
entrelaçamento apertado de conjuntos
celulares, faz com que o epitélio seja
resistente à desintegração.
As zônulas foram identificadas por
Liegel. São compostas da fusão de
proteínas externas da membrana das
células adjacentes. Esta fusão ocludens do
espaço intercelular, que tem normalmente
de 10 a 20 mm e pode ser contínuo, ao redor
de toda a célula.
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7
A zônula ocludens determina o
grau de permeabilidade do epitélio
corneano à água, substâncias solúveis e
drogas.
A fixação do epitélio ao longo da
membrana basal é devido a um grande
número de hemidesmosomas, os quais
não estão sempre distribuídos de forma
uniforme, mas aparecem algumas vezes em
pequenos grupos. A fixação normalmente é
muito forte.
O hemidesmosoma é a metade de
um desmossoma, e é uma metade simples
porque não há uma célula oposta ao longo
de sua face. Isto não parece ter nenhum
efeito negativo na união entre a célula e a
membrana basal. Já foi demonstrado que um
ponto débil no epitélio para romper forças
após uma lesão está exatamente nas
células epiteliais basais.
Quando as forças alcançam um nível
destrutivo, as células basais se rompem
entre o seu núcleo e o seu plasma interno,
então a massa das células basais, junto com
células aderidas é removida inteiramente da
córnea em um trecho.
A membrana basal, que está muito
unida, só estará aderida levemente em uma
córnea anormal e neste caso se
desprenderá junto com o epitélio. A córnea
de uma pessoa com diabetes é um exemplo
no qual a membrana basal se separa com o
epitélio da córnea restante em uma eventual
lesão. Normalmente, porém, um trauma
severo não vai remover a membrana basal.
Isto é um fato importante, já que se o
estroma anterior estiver envolvido permite a
sua cicatrização . Devido à presença da
membrana basal, a reepitelização é
facilitada.
A membrana basal é simples em
sua estrutura, como qualquer outra lâmina
basal no corpo.É uma membrana uniforme e
delgada (0.05 micras).Está separada do
epitélio por um espaço de 0.01 a 0.02 micras.
A membrana é plana e mostra apenas umas
ondulações mínimas. Na região periférica o
epitélio e sua membrana basal se tornam
progressivamente menos planos e mais
ondulados.
É importante ressaltarmos, que esta
descrição da morfologia da membrana basal
se aplica unicamente à córnea jovem. À
medida que o epitélio sintetiza continuamente
material da membrana basal, não é
surpreendente que ela se torne mais grossa
com a idade.
1.1.3- MEMBRANA DE BOWMAN
A membrana de Bowman é uma
lâmina de tecido transparente de
aproximadamente 12 micras de espessura.
Observada ao microscópio eletrônico,
aparece constituída de fibrilas uniformes,
provavelmente de material colágeno, que
correm paralelas à superfície.
A membrana de Bowman é
acelular. É uma camada de estroma
superficial modificado, encontrada somente
entre os primatas. É altamente resistente a
lesões, pressão e infecção. Diferentemente
do epitélio (e da membrana de Descemet), a
membrana de Bowman não se regenera
quando lesada, mas é substituída por uma
cicatriz permanente ou opacidade , donde
a importância de prevenir qualquer
complicação causada por lentes de contato
que trespasse o epitélio.
1.1.4- ESTROMA
O estroma compreende 90 % da
espessura corneana. É composta por
camadas de lamelas, cada uma das quais se
estende por toda a extensão da córnea.
Embora os haces se entrelacem, são mais
ou menos paralelas à superfície de limbo a
limbo.
Em condições normais, o estroma corneano
possui cerca de 715 de colágeno tipo I ,
embora também encontremos outros tipos
como o III , V , VI .
Existe de 100 a 200 lamelas, que
variam numa espessura entre 1.3 a 2.5
micras.
A estrutura laminar do estroma
facilita tecnicamente as incisões na córnea.
Os corpos celulares, denominados
corpúsculos corneais, queratócitos ou
fibroblastos corneanos são células
delgadas e planas de 10µm de diâmetro,
com largos processos, que permitem
conectar um queratócito a outro.Seus
complexos de união são: mácula ocludens e
os hemidesmosomas. As células se
caracterizam por possuir retículo
endoplasmático granular. Este
ordenamento das fibras proporciona
uniformidade óptica à córnea.
Também se encontram
glucosaminoglicanos (Gags ou MPS) muito
hidrofílicos , responsáveis pela exatitude do
espaço entre as fibrilas .
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1.1.5- MEMBRANA DE DESCEMET
A membrana de Descemet (lâmina
posterior elástica) é forte, com 10 a 15 micras
de espessura.
A membrana de Descemet é
produzida pelas células do endotélio
corneano. Sua espessura vai aumentando
ao longo da vida. Compõe-se de colágeno
tipo IV. Sua função fundamental é a de dar
suporte e adesão às células do endotélio.
Outra característica da membrana de
Descemet é sua extraordinária resistência.
Na realidade trata-se da parte mais resistente
da córnea, já que em caso de destruição do
epitélio e estroma, se encarrega da formação
da desmatocele.
1.1.6- ENDOTÉLIO CORNEANO
A camada mais interna da córnea, o
endotélio, consiste de uma camada simples
de células hexagonais. As células estão
unidas debilmente à membrana de Descemet
por hemidesmosomas e umas às outras por
interterdigitação, desmossomas e zônulas
ocludens próximo à câmara anterior. Ao
contrário do Epitélio, as células endoteliais
não se regeneram.Quando há alguma lesão
às células podem alcançar o dobro do seu
tamanho normal.
A densidade das células endoteliais
diminui com a idade, como resultado de
trauma na cirurgia de catarata, transplante de
córnea e implante de lente intraocular.
O aspecto morfológico das células do
endotélio corneano normal se caracteriza por
um mosaico de células com um tamanho
médio de 332 mm (equivalente a uma
densidade celular de 3.012 células /mm2) ,
um coeficiente de variação (desvio
típico/médio) de 0,26 e uma percentagem
de células hexagonais de 71 % . Com a
idade, a densidade celular aumenta em 0,6
% ao ano , o coeficiente de variação aumenta
e a percentagem de células hexagonais
diminui.
Fig.4: MOSAICO ENDOTELIAL
As células do endotélio corneano funcionam
para manter a hidratação corneana
formando uma barreira para a passagem
de água e solutos para o estroma. Sua
ação também é bombear para fora do
estroma soluto, junto com a água que segue
passivamente segundo os gradientes
osmóticos locais.Este mecanismo de
bombeia-barreira pode ser medido segundo
critérios clínicos.
Uma medida mais sensível, porém
mais difícil, da função endotelial é a taxa de
“desedematização” da córnea do estado de
edema induzido por duas horas de uso de
uma lente hidrofílica espessa com o olho
fechado.A taxa da saída da condição de
edema , expressada como a percentagem
de recuperação por hora (PRPH) é em
média de 63% em adultos normais e diminui
com a idade .
A função de barreira ou de bombeio
é avaliada a partir da permeabilidade
endotelial a fluoresceína , que é de 4’0 x 104
cm/min e aumenta um pouco com a idade .
Podemos estimar a taxa relativa de
bombeio endotelial (com respeito à normal)
a partir das medidas obtidas para a taxa de
saída do edema e a permeabilidade. Estes
dados mudam muito pouco com a idade.
A - ALTERAÇÕES MORFOLÓGICAS DO
ENDOTÉLIO COM O USO DE LENTES DE
CONTATO
As primeiras alterações que se
observam no endotélio corneano quando o
olho usa uma LC são ampolas ou bolhas
endoteliais, descritas originalmente por
Zantos e Holden. Esta reação do endotélio se
produz aproximadamente em 80% dos novos
usuários de lentes de contato e não é
encontrada em usuários adaptados.
As pequenas áreas escuras que se
observam por reflexão especular são
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9
edemas localizados das células
endoteliais, com avultamento das
membranas celulares posteriores.
As ampolas aparecem após 10 minutos da
colocação da lente, alcançam seu tamanho
máximo ao fim de uns 30 minutos e vão
desaparecendo se mantivermos a lente
adaptada. Também desaparecem
rapidamente após a retirada da lente.
Alterações morfológicas do endotélio
corneano:
 Ampolas: de forma transitória no início
do uso ;
 Polimegatismo:diversidade de
morfologia celular (superfície celular /
média);
 Pleomorfismo: diversidade de
morfologia celular (% de células
hexagonais).
Embora a reação esteja bem
documentada, não se tem observado que as
ampolas causem transtornos permanentes às
células endoteliais ou a sua capacidade
funcional. Acredita-se que as ampolas sejam
os resultados da acidose corneana ligada
a hipóxia . São produzidas tanto com lentes
rígidas como com hidrofílicas, mas raras
vezes com lentes de silicone, que são muito
permeáveis ao oxigênio. São mais
acentuadas com lentes de baixa
transmissibilidade ao oxigênio. A reação
endotelial é menor em olhos afásicos e
também pode ser observado pela manhã,
após os olhos estarem fechados por toda à
noite, depois da córnea ter sido exposta à
falta de oxigênio ou exposta a excesso de
anidrido de carbono.
Uma segunda alteração que se produz
no endotélio corneano dos portadores de LC
é o desenvolvimento das anomalias
morfométricas, o polimegatismo e o
pleomorfismo. Foram observadas pela
primeira vez em 1981, são visíveis em
fotografias endoteliais ou em imagens de
vídeo feito com o microscópio especular e se
quantificam medindo as células
individualmente nas referidas imagens.
O polimegatismo é o aumento na
diversidade de tamanhos das células,
medido pela elevação do coeficiente de
variação (desvio típico/média) da superfície
celular. A palavra deriva dos radicais gregos
“poli” = muitos e “megatismo” = tamanho.
O pleomorfismo é o aumento da
diversidade das formas das células ,
medida pela diminuição da percentagem
de células hexagonais (e o conseqüente
aumento das hexagonais) . Estas anomalias
se observam nos três primeiros meses de
uso diário de lentes de contato e parecem
aumentar à medida que aumenta o tempo de
uso. Foram descritas com lentes de polimetil
metacrilato – PMMA, com hidrofílicas , com
rígidas permeáveis aos gases – RGP de uso
diário, bem como com lentes de hidrogel de
uso prolongado. Estão ausentes em
usuários de lentes de silicone permeáveis
ao oxigênio. Foi observado que a gravidade
das alterações diminui levemente 15 meses
após a substituição das lentes de PMMA por
lentes RGP. Dados comprovam que o
polimegatismo e o pleomorfismo induzidos
pelo uso de LC se mantêm ao menos
durante 5 anos após se haver deixado de
utilizar as lentes.
Acredita-se que ambas as alterações se
devam a hipóxia corneana crônica induzida
pelo uso de LC. Este mecanismo causal é
compatível com a ausência de anomalias que
são observadas no caso das lentes de
silicone e com a correlação inversa com a
transmissibilidade para o oxigênio citada
mais acima. Provavelmente as alterações se
devem a hipóxia das células endoteliais , que
provoca uma maior produção de lactato e da
conseqüente acidose do estroma corneano .
Os hexágonos regulares representam à
configuração mais estável para uma
monocamada de células. O polimegatismo
e pleomorfismo se dão em diversos
processos nos quais as células endoteliais
estão lesadas ou desestabilizadas de
alguma forma, como ocorre depois da
extração da catarata , após ceratoplastia
penetrante , nos soldadores que utilizam o
arco voltaico ou em pacientes com
diabetes.
Em um exame histopatológico do
endotélio de 3 córneas humanas de
portadores de LC, Bergmanson observou que
os espaços intercelulares e as faces
laterais das células eram mais inclinados e
oblíquos que o normal. Considerando que os
contornos das células endoteliais que se
observam por reflexão especular
representam as uniões intercelulares na
superfície posterior do endotélio, onde se
constitui a interfase com o humor aquoso e a
diferença entre índices de refração é
máxima, a reorientação oblíqua das faces
laterais das células significa que é possível
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que o volume das células não varie muito
de umas para outras.
Existe uma terceira alteração
morfológica no endotélio corneano que
pode se produzir nos usuários de lentes de
contato, mas este fato não foi seguramente
comprovado. Consiste na disparidade entre
a densidade de células do centro da
córnea e a da periferia. Dois estudos
mostraram que, em usuários de lentes de
contato, esta densidade é menores na zona
central que na periferia.
Em outras duas pesquisas, estas
diferenças entre portadores de lentes de
contato e controles não foram observadas.
Nenhum dos dois grupos mostrava
disparidade entre a densidade celular da
zona central e a da periferia.Talvez as
alterações observadas nos dois primeiros
estudos afetassem pacientes que usavam
lentes menos permeáveis ao oxigênio
durante mais horas que nos dois últimos.
Quando se suspende o uso de lentes de
contato trás a ceratetctomia fotorrefrativa,
desaparece a disparidade centro-periferia,
com aumento aparente da densidade de
células centrais e diminuição da densidade
de células periféricas. Por conseguinte, é
possível que este aumento relativo da
densidade das células centrais, de
aproximadamente 7% , mascare uma
verdadeira perda celular pela lesão do laser
nos casos em que se aplica a energia do
laser perto do endotélio, como ocorre na
queratomileusi in situ assistida pelo laser
(LASIK).
Partindo das alterações morfométricas
evidentes observadas nas células do
endotélio corneano dos portadores de lentes
de contato e que acabamos de descrever,
cabe esperar uma menor densidade celular
na zona central. Estudos de excelente
qualidade não conseguiram determinar
claramente que os usuários veteranos de LC
tenham uma densidade de células
endoteliais menores que os controles de
idades comparáveis e um estudo mostrou
aumento da mesma. Assim, é possível que
córneas que de algum modo são anormais,
sendo assim mais sensíveis ao stress
endotelial causado pelo uso de LC, mostre
perda de células endoteliais centrais, o que
explicaria os informes isolados de casos de
portadores de lentes com baixas densidades
de células endoteliais.
Em uma investigação específica sobre o
uso de LC em córneas com endotélio
anormal (pacientes submetidos a
ceratoplastia por ceratocone), não se
observaram diferenças de densidade celular
entre 15 enxertos que usaram LC durante 10
anos e 19 enxertos com a mesma
antiguidade que não usaram lentes. Portanto
parece não haver provas de que o uso de
LC durante período prolongado cause
perda de células endoteliais.
Por fim, embora o uso de LC cause
polimegatismo e pleomorfismo no endotélio
corneano, não parece provocar diminuição
da densidade de células endoteliais.
B - ALTERAÇÕES FUNCIONAIS DO
ENDOTÉLIO CORNEANO COM O USO DE
LC
A função mais importante do
endotélio corneano é o controle da
hidratação para manter normal a
espessura da córnea. A maioria dos
estudos sobre os portadores de LC mostra
que a espessura corneana ou não se
modifica ou o faz ligeiramente, em cerca de
23 %.
Desta forma, após suspender o uso
da lente, a espessura diminui perto de uns
2% ao longo de vários dias. Assim é provável
que o edema induzido durante o uso da
lente, mascare a diminuição, em longo prazo,
da espessura do estroma. Sem dúvida, tal
diminuição representa provavelmente uma
alteração do estroma corneano e de sua
pressão de edematização induzidas pela
acidose crônica e não um transtorno da
função do endotélio.
Conforme foi descrito anteriormente,
o endotélio corneano controla a espessura
corneana mediante um mecanismo de
bombeio-barreira que mantêm tanto uma
barreira frente à entrada de solutos e
líquidos na córnea como uma bomba para
extraírem solutos e líquidos para fora
dela. Se aceita que a permeabilidade do
endotélio a fluoresceína é proporcional à
passagem desta ao interior da córnea e se
emprega como uma medida da função de
barreira. É normal nos portadores veteranos
de LC. A função de bombeio lacrimal não é
afetada pelo uso de LC.
Também já foi observado que nestes
usuários veteranos a velocidade relativa da
bomba endotelial não difere da dos controles
de idade comparáveis.Este mesmo estuda
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tão pouco revelou diferenças na taxa de
desedematização depois de edema estroma
induzido por hipóxia.Mediu-se também, em
outro estudo, a taxa de desedematização em
portadores veteranos de LC e se observou
que estava diminuída. Nesta última
investigação não se mediu a permeabilidade
endotelial, e assim não foi possível estimar a
função de bombeio.
Em resumo, não há provas firmes
para demonstrar que o uso de LC afete a
função do endotélio corneano.
C - CONSEQUÊNCIAS CLÍNICAS DOS
EFEITOS DO USO DE LC SOBRE O
ENDOTÉLIO
Embora lentes de contato sejam
usadas há muitos anos não tem havido
informações a respeito de alterações
permanentes da densidade ou do
funcionamento das células endoteliais
atribuídas com certeza a sua utilização.
Holden e Sweeney observaram em três
antigos usuários de lentes de PMMA e em
um antigo usuário de lentes gelatinosas uma
afecção caracterizada por moléstias
oculares, diminuição da visão e fotofobia
ao utilizar as lentes. Chamaram este quadro
clínico de “Síndrome do esgotamento
corneano” (corneal exhaustion syndrome).
Os sintomas desapareceram ao interromper
o uso das lentes ou quando se adaptam
outras lentes com maior índice de
permeabilidade ao oxigênio.Por esta razão
os autores atribuíram a síndrome à
disfunção endotelial por hipóxia
prolongada e acidose devida ao uso de
LC.
Como este transtorno é pouco
freqüente e não pode ser estudado de forma
controlada, existe uma possibilidade definida
de que esses sintomas não sejam
decorrentes da disfunção endotelial ou, se
forem, que os pacientes tenham alterações
endoteliais não relacionadas com o uso de
LC, o que os torna mais propensos aos
efeitos de um uso que é tolerado pelas
córneas normais.
Não foi demonstrado de forma
concludente que o uso de LC durante
longos períodos tenha efeitos nocivos
sobre o endotélio corneano de pacientes
com córneas normais, pelo que se pode
assegurar que as lentes não lesionaram as
células endoteliais, em especial com as
lentes atuais que não tem PMMA na sua
composição e têm certa permeabilidade ao
oxigênio. É possível que tão pouco os
pacientes com córneas que apresentem uma
anomalia prévia estejam em situação de
risco, porém temos que observá-los mais
estreitamente para verificar se ocorre perda
de células endoteliais ou se a função
endotelial fica afetada.
1.1.7- LIMBO
O limbo é a zona de transição, de
aproximadamente um milímetro de largura,
na qual a córnea se une com a conjuntiva e
com a esclera. Difere estruturalmente da
córnea e contem vasos e linfáticos, os quais
normalmente não são encontrados na
córnea.
O funcionamento fisiológico da
córnea depende do limbo, do qual a córnea
recebe parte de seus nutrientes. A região
limbar é especialmente significante na
adaptação de lentes de contato, por sua
vizinhança com a córnea e porque algumas
lentes de contato descansam diretamente
sobre o limbo.
O limbo difere em sua estrutura
histológica da córnea porque possui
unicamente duas camadas, o estroma e o
epitélio. O epitélio do limbo é mais grosso
que o da córnea e contem cerca de 10
camadas de células que se projetam até
abaixo radialmente.
A-INERVAÇÃO
A córnea é inervada pelo quinto par
craniano, o nervo trigêmeo. Os nervos se
dividem dicotomicamente; emergindo das
zonas mais profundas da córnea, as fibrilas
nervosas perfuram a membrana de Bowman
e formam um plexo exatamente abaixo do
epitélio.
Em seu curso posterior, as
terminações livres dos nervos correm entre
células epiteliais. A córnea é um dos
tecidos mais sensíveis do corpo e esta
sensibilidade serve para sua proteção. É
extremamente doloroso quando os terminais
nervosos estão expostos em úlceras ou
abrasões corneanas.
Existe também na córnea uma
inervação simpática. A função que
desempenha este tipo de inervação está
muito confusa e; é tema de polêmica;
ultimamente tem sido sugerido que está
implicada na regulação do transporte
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iônico ou na regulação da divisão celular
(mitose), já que uma ativação simpática
impede a cicatrização de erosões corneanas.
1.2- FISIOLOGIA CORNEANA
1.2.1- BIOQUÍMICA DA CÓRNEA
A composição química da córnea
equivale à soma de suas partes, ou seja, o
estroma, epitélio, endotélio e a membrana de
descemet. O número de células e sua
morfologia variam entre estas áreas e isto se
reflete nas diferenças químicas.
Quimicamente, a córnea é um tecido
heterogêneo.
A - ESTROMA DA CÓRNEA
O estroma é um tecido conectivo
diferenciado que contem entre 75 a 80% de
conteúdo aquoso, considerando seu peso
úmido. Dos sólidos restantes, 20 a 25% , a
maior parte é constituída por colágenos,
outras proteínas e mucopolissacarídeos
ou glucosaminoglicanos. As fibrilas de
colágeno formam o esqueleto do estroma
corneano.As propriedades fisicoquímicas
do colágeno corneano não difere das do
colágeno dos tendões e da pele.
O colágeno é dissolvido pelas
enzimas proteolíticas tais como a
colagenose, a pepsina e a papaína.
Os mucopolissacarídeos (MPS;
glucosaminoglicanos) representam entre 4 a
4,5 % do peso seco da córnea. Os MPS
estão localizados no espaço interfibrilar e
intersticial provavelmente unido às fibrilas
do colágeno ou às proteínas solúveis da
córnea. Os MPS localizados no espaço
intersticial desempenham uma função na
hidratação da córnea através de interações
dos eletrólitos e a água.Os MPS atuam
como anions e une os cátions como a
água. No estroma corneano se encontram
três frações principais de MPS:
- Queratam –sulfato (50%)
- Condroitin-Sulfato A (25%)
- Condroitina (25%)
Os MPS são degradados por
enzimas específicas. A codroitina se
encontra exclusivamente na córnea. Em
pacientes que padecem de erros inatos do
metabolismo dos MPS, conhecido como
mucopolissacaridose, os MPS se acumulam
na córnea provocando opacidades. A
comparação química entre a córnea e a
esclerótica demonstra que os MPS estão
praticamente ausentes na córnea. É natural
então que os MPS tenham sido relacionados
com a manutenção da hidratação e da
transparência corneanas, já que a esclerótica
é opaca e reflete e dispersa a luz em
condições normais.
B - MEMBRANA DE DESCEMET
A membrana de Descemet está
constituída por um material semelhante ao
colágeno, com um elevado conteúdo de
glicínia e hidroxiprolina. Em contraste com o
estroma corneano, não possui quantidades
significativas de MPS. A membrana de
Descemet é muito elástica e representa
uma barreira à perfuração nas úlceras
profundas da córnea.
C - EPITÉLIO CORNEANO
Na composição química das células
epiteliais:
- A água representa cerca de 70 % do peso
úmido.
- Os sólidos são: ácidos nucléicos ADN
(ácido), ARN (ácido).
- Lipídios (fosfolipídios e colesterol) nas
membranas celulares.
- Proteínas.
No epitélio acontecem grandes
atividades de enzimas de glucólises, ciclo de
Krebs e Atpase ativada por Na+K+.
Os epitélios contem ATP, glutacion e ácido
ascórbico.
D - METABOLISMO CORNEANO
O termo metabolismo compreende
uma série de processos químicos, por meio
dos quais se obtém energia que logo se
utiliza para manter as funções normais de um
tecido.
A córnea necessita a energia para
manter a transparência e desidratação.
A energia em forma de ATP é gerada
por meio da degradação da glicose em:
- Ácido Láctico ( glucólisis)
- CO2 e H2O (Ciclo de Krebs)
A córnea obtém glicose
principalmente do humor aquoso. As
lágrimas e os capilares do limbo
aparentemente contribuem com quantidades
mínimas de 02 e glicose para o metabolismo
da córnea. Quando os olhos estão fechados,
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o O2 provem dos vasos da conjuntiva
palpebral.
O corpo obtém a energia a partir do
metabolismo de carboidratos básicos pela
conversão de ADP (Adenosina Fosfato) em
ATP (Adenosina Trifosfato).
O metabolismo da córnea tem três
vias. A mais importante é a do Ciclo de
Krebs. Este produz uma grande quantidade
de energia (36 moléculas de ATP por cada
molécula de glicose) e os produtos
secundários obtidos nesta reação são água e
dióxido de carbono, os quais se dispersam
com facilidade.
A segunda é a via anaeróbica de
Embden Meyerhof com uma produção baixa
de energia (2 moléculas de ATP por molécula
de glicose). Os produtos secundários desta
reação, como o lactato, não se reciclam. A
retenção de lactato quando se reduzem os
níveis de oxigênio está fortemente implicada
como causa de edema corneano, ao produzir
uma alteração no equilíbrio osmótico.
A terceira via é a da Pentose, aonde
se converte hexose em pentose. Só se
produz uma molécula de ATP por cada
molécula de Glicose, porém é uma via vital,
já que os produtos intermediários são
utilizados na síntese dos ácidos nucléicos
e lipídios. Esta via pode não estar ativa nos
queratócitos estromas.
Quando a tensão anterior do oxigênio
cai, as duas vias aeróbicas trabalham
reduzidas, enquanto a via anaeróbica
compensa parcialmente e a produção total de
ATP diminui. Assim há uma clara relação
entre a concentração de oxigênio e a
energia disponível para as funções
celulares.
A maior parte do oxigênio
consumido pela córnea é absorvida pelo
epitélio e pelo endotélio. O endotélio da
córnea obtém a maior parte do oxigênio pelo
humor aquoso, enquanto o epitélio obtém o
oxigênio tanto pelos capilares do limbo
como o oxigênio dissolvido na película
lacrimal. Isto é confirmado por experiências
clínicas: quando se utiliza lente de contato
ajustada e de diâmetros muito grande
durante períodos prolongados, a córnea se
edemacia.
A glicose pode ser armazenada no
epitélio em forma de glicogênio para ser
degradado em certas situações de
emergência nas qual o tecido necessita de
energia adicional, como por exemplo,
durante os processos de reparação que
sucedem as feridas traumáticas ou
cirúrgicas.
E - COMPOSIÇÃO ELETROLÍTICA DO
ESTROMA E DO EPITÉLIO CORNEANO
O estroma da córnea tem uma
elevada concentração de íons Na+ ,
enquanto o epitélio é rico em íons K+ .Os
três fluídos que rodeiam a córnea (plasma,
humor aquoso e lágrimas) são também ricos
em íons Na+. No estroma corneano é
evidente que a soma dos cátions Na+ e K+ é
superior à do anion Cl -.
Uma parte das forças osmóticas
pode ser originada pelos íons bicarbonato.As
restantes forças aniônicas podem ser
originadas pelo MPS. Sabe-se que cada
molécula de queratina sulfato e condroitina –
sulfato possui entre 27 e 160 pontos de união
para cátions univalentes. Além dos MPS as
fibrilas de colágeno e a proteína livre podem
atuar como anions para obter a neutralidade
eletroquímica da córnea.
F - DESIDRATAÇÃO DA CÓRNEA
A córnea normal mantém durante a
vida uma espessura bem
constante.Conserva seu conteúdo aquoso
em um nível estável, que oscila entre 75 a 80
% de seu peso. Pedaços de tecido corneano
isolados mostram uma marcada afinidade
com a água quando são submergidos, em
soluções isotônicas. Nestas condições a
córnea se edematiza e perde transparência.
O equilíbrio da água existente na
córnea viva originou interrogações com
respeito aos fatores que mantém a relativa
desidratação do tecido:
- Integridade anatômica do epitélio.
- Equilíbrio eletrolítico e Osmótico.
- Metabolismo.
- Evaporação de água através da
superfície anterior.
- Pressão intra-ocular.
- Integridade anatômica do endotélio e o
epitélio.
Quando se produz uma lesão do
epitélio do endotélio corneano por meios
químicos ou físicos, aparece um edema do
estroma. Qualquer condição que provoque a
perda do epitélio poderá produzir áreas de
edema e opacidade corneana.
Afortunadamente, o epitélio da córnea se
regenera rapidamente e geralmente o
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14
excesso de hidratação da córnea é leve e
transitório. Danos ao endotélio são muito
mais sérios. A destruição massiva das
células endoteliais provocará um acentuado
e às vezes permanente edema, bem como
a perda da transparência. Isto pode ocorrer
como conseqüência de danos mecânicos ao
endotélio durante a cirurgia ocular.
Em coelhos a remoção do epitélio
produz em 24 horas um aumento médio de
200 % na espessura corneana, enquanto que
a remoção do endotélio produz um aumento
de 500%.
O fato de que danos ao endotélio
resultam em um edema corneano maior e
mais rápido sugere que o endotélio é de
grande importância para a manutenção da
desidratação corneana.Foi assinalado que
isto poderia ser o resultado do efeito
adicional da pressão intra-ocular sobre a face
endotelial da córnea.
Harris sugeriu que a causa principal da
hidratação da córnea posterior a danos no
endotélio é a afluência de água proveniente
do humor aquoso e não uma diminuição do
transporte de água para fora da córnea.
G - EQUILÍBRIO ELETROLÍTICO E
OSMÓTICO
A maioria das células tende a
conservar sua hidratação e o equilíbrio
osmótico mantendo uma baixa concentração
intracelular de Cl Na comparado com o fluido
extracelular. A córnea, sendo uma estrutura
de tecido conectivo limitada anterior e
posteriormente por camadas celulares, é
aparentemente muito mais complexa.
As células endoteliais e epiteliais
podem bombear íons de Na+ e Cl - para
fora (humor aquoso e lágrimas). Estas
bombas celulares têm um papel definitivo na
preservação da desidratação corneana.
Como a concentração de Na+ no humor
aquoso e nas lágrimas é mais elevada que
no estroma, os íons Na+ retrocedem ao
estroma. Deste modo se produz na córnea
um mecanismo de “bombeio –fuga” para
íons Na+. Por outro lado, a pressão osmótica
do fluído e os eletrólitos do estroma podem
ser a força reguladora mais importante para
este movimento de água.
O fluído estromal pode ser
hipertônico para o plasma.Se o humor
aquoso e as lágrimas são ligeiramente
hipertônicos para o estroma, podem
desempenhar um papel ativo na
desidratação corneana por meio da
constante translação de água através de
suas superfícies anterior e posterior.
Todos os estudos tendem a
fundamentar o conceito de que as forças
osmóticas podem atuar sobre a córnea para
manter o tecido em estado de relativa
desidratação.
H - METABOLISMO
As atividades metabólicas da córnea
contribuem para manter a desidratação do
tecido. Provavelmente a inibição do
metabolismo do endotélio e do epitélio devido
à falta de ATP necessária para o
funcionamento da “bomba” eletrolítica, é a
causa principal da citada sobre-hidratação
corneana.
De modo geral se aceita que a
expulsão ativa de íons de Na+ produzida
desde a maior parte dos tecidos é mediada
pela enzima Na+K+ATPase. Esta enzima
subministra, por meio da degradação do
ATP, a energia suficiente para a expulsão
dos cátions.
A Na+K+ATPase existe em
concentrações relativamente elevadas no
epitélio e endotélio, mas está praticamente
ausente no estroma.
A córnea se hidrata quando a
temperatura ambiente desce e a atividade
metabólica diminui.Se existe glicose
suficiente, quando a córnea atinge outra vez
a temperatura ambiente, se desidrata
novamente. Portanto as córneas de olhos
extraídos em autópsia conservados em
bancos a 4 graus centígrados, estão
ligeiramente hidratadas e as córneas
enxertadas ligeiramente edemaciadas. A
espessura dos enxertos de córnea diminui
durante os dias seguintes ao transplante, o
que indica que a córnea pode se adaptar
rapidamente e recuperar sua capacidade
para a desidratação.
I - EVAPORAÇÃO DE ÁGUA ATRAVÉS DA
SUPERFÍCIE ANTERIOR
A evaporação de água da película
lacrimal pré-corneana concentraria este fluido
e aumentaria sua osmolaridade em relação à
córnea. A hipertonicidade da película lacrimal
poderia expulsar água da córnea e manter o
estado relativo de desidratação corneana.
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J - PRESSÃO INTRA-OCULAR
O fato de que a pressão intra-
ocular elevada resulte em edema corneano
constitui um sinal útil para o diagnóstico do
glaucoma. Admite-se que as pressões intra-
oculares no olho humano de 50 mmHg ou
mais produzem um edema corneano
detectável na lâmpada de fenda. Quando a
pressão desce a níveis normais por meio de
procedimentos médicos ou cirúrgicos, a
embebição corneana causada pela pressão
intra-ocular elevada é reversível. Nas
crianças com glaucoma congênito, a pressão
intra-ocular elevada pode resultar no
aumento da córnea e em rupturas da
membrana de Descemet, além do edema.
K - PERMEABILIDADE
A permeabilidade da córnea é
importante sob diversos pontos de vista.
Primeiro a nutrição da córnea depende da
difusão de oxigênio e glicose e outras
substâncias provenientes dos fluidos que a
rodeiam. Segundo, o transporte de drogas
através da córnea é determinado pela
permeabilidade das camadas da córnea. Isto
é clinicamente importante já que por meio
das preparações topicamente aplicadas
tenta-se alcançar a câmara anterior do olho
ou alterar processos patológicos que têm
lugar nas diversas áreas da
córnea.Finalmente a enervação especial da
córnea determina o grau de tolerância aos
medicamentos aplicados topicamente nas
enfermidades do olho ou como agentes
umidificantes para as lentes de contato.
L - TRANSPARÊNCIA DA CÓRNEA
A córnea normal é transparente e
qualquer alteração desta transparência
interfere seriamente na claridade da imagem
retiniana.
As peculiaridades anatômicas da
estrutura da córnea, como por exemplo, a
uniformidade e a regularidade no
ordenamento das células epiteliais, as
lamelas corneanas estreitamente unidas
entre si e de tamanho uniforme, que correm
paralelas e a ausência de vasos sanguíneos
contribui para a eficiência do olho como
instrumento óptico. A transparência da
córnea depende de sua constituição física e
dos mecanismos que previnem a ocorrência
do edema.
Maurice apresentou uma explicação
para a transparência da córnea baseada no
ordenamento físico das fibras corneanas.
Ele constatou que as fibrilas do colágeno
formam uma estrutura reticular ordenada, de
tal modo que a dispersão da luz é eliminada
por meio da interferência mútua de cada
fibrila isolada.
A substância básica do estroma
corneano é o colágeno saturado com uma
solução MPS (Mucopolissacarídeos). A
córnea se mantém clara enquanto é
submersa em fluidos de diferentes índices de
refração até 1.564. A córnea ainda pode
conservar a transparência mesmo quando o
índice de refração de seu colágeno difere
consideravelmente do meio que a rodeia. O
índice de refração do colágeno dos bovinos é
de 1.380 e o dos cervos é 1.373.
Acredita-se que esta propriedade de
se manter transparente se deve a que as
fibrilas estão regularmente ordenadas em
forma de retículo e separadas entre si por
uma distância menor que a longitude da onda
de luz.
A transparência da córnea diminui
temporalmente quando sobre ela se exercem
forças anormais. Durante o aumento da
pressão intra-ocular, no glaucoma agudo, a
córnea se torna opaca, sendo evidente que
esta perda da transparência não se deve
inteiramente à absorção de fluído que se
produz, nem mesmo às alterações físicas do
estroma, já que a opacidade desaparece
imediatamente quando a pressão diminui.
Isso é facilmente demonstrado em uns olhos
extirpados.
FIG.5- CORTE TRANSVERSAL DE FIBRILAS
ORDENADAS PARALELAMENTE.O TAMANHO
DE LONGITUDE DE ONDA ESTÁ
REPRESENTADO NA PARTE SUPERIOR PARA
ESTABELECER UMA COMPARAÇÃO. AS
FORÇAS DE REPULSÃO E AS CONEXÕES
RÍGIDAS ENTRE AS FIBRILAS ESTÃO
REPRESENTADAS ESQUEMATICAMENTE.
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16
M - EFEITO DO ACÚMULO DE LÍQUIDO
SOBRE A TRANSPARÊNCIA DA CÓRNEA
Vários fatores físico-químicos afetam
a transparência corneana, atuando através
de alterações do índice de refração de seu
líquido intercelular, das fibras corneais ou de
ambos.
O poder de absorção do tecido
conectivo se deve provavelmente a seus
componentes temporais, o colágeno e os
mucopolissacarídeos (MPS).O colágeno
dividido em feixes soltos de fibras delgadas
se encontra imerso nos MPS. Os MPS não
somente preenchem como um gel todos os
espaços existentes entre os feixes de fibras,
como também penetram neles e tomam parte
na formação das próprias lamelas da mesma
substância intermédia. Estes dois
componentes devem ser considerados de
forma separada com respeito a sua
contribuição para o poder total de absorção
do tecido conectivo.
Quando córneas secas são expostas
a vapor de água de concentrações
crescentes de até cerca de 30 % , esta é
absorvida pelas fibrilas do colágeno. Destas
observações se deve deduzir que o MPS da
córnea também é importante para a sua
transparência
Para manter sua transparência, a
córnea deve ser banhada com um líquido
que possua uma pressão osmótica tão
elevada quanto à do líquido intersticial. Se a
córnea é banhada com uma solução
hipotônica, torna-se opaca, devido à perda
de forças que atuam no epitélio corneano.
Em certas condições patológicas, como por
exemplo, no glaucoma ou na distrofia
endotelial, se acumula líquido nas células
epiteliais em tal quantidade que provoca a
formação de bolhas. Cogan acha que isto
se deve a uma pressão osmótica mais alta
no epitélio que nas lágrimas e, como
resultado, a água penetra no epitélio através
da superfície anterior desde as lágrimas.
1.3- A CÓRNEA NAS ENFERMIDADES
Nos processos patológicos é muito
importante a reação da córnea. Seu tecido é
avascular e, portanto difere dos tecidos que
normalmente têm irrigação sanguínea. A
membrana de Bowman oferece pouca
resistência qualquer processo patológico e
por isto é facilmente destruída e não se
regenera jamais.
A membrana de Descemet, por
outro lado, é muito resistente, e quando
todas as demais camadas da córnea foram
destruídas, pode conservar-se em forma de
uma estrutura curvada, semelhante a um
globo, conhecida como desmatocele.
Mesmo depois de ter sido destruída pode se
regenerar.As rupturas da membrana de
Bowman são raras, mas são comuns as de
Descemet.
Muitas enfermidades da córnea
levam as vascularizações superficiais.
Quando a córnea se vasculariza, os vasos
permanecem durante toda a vida. Podem
não conter sangue, os chamados “vasos
fantasmas”, mas sua presença pode ser
sempre localizada na lâmpada de fenda,
testemunhando que a córnea foi vítima de
um processo inflamatório.
1.3.1- CICATRIZAÇÃO DAS FERIDAS DA
CÓRNEA
O trauma acidental ou cirúrgico de
uma ou de todas as camadas da córnea
ocasiona um aumento da hidratação e
perda de transparência.Devido a isto é
necessária uma rápida e correta cicatrização
das feridas para evitar a formação de
escaras ou opacidades da córnea
(leucomas).
Em um olho normal, a perda de
áreas superficiais da córnea por traumatismo
geralmente cicatriza em 24 a 48 horas.
Entretanto as úlceras produzidas por uma
infecção viral, bacteriana ou micótica ou que
afetem as camadas profundas do estroma
podem tardar semanas em cicatrizar. De
forma similar enquanto uma laceração
superficial cicatriza entre 3 a 5 dias, uma
laceração profunda ou uma incisão cirúrgica
demora várias semanas para cicatrizar
completamente.
Para manter a justaposição das
bordas da ferida nas lacerações grandes e
profundas é necessário suturas. A velocidade
e o tipo de cicatrização das feridas são
determinados pelos seguintes fatores:
- Localização anatômica das feridas
Córnea, límbica ou central;
- Tamanho da ferida;
- Camada da córnea afetada:
Epitélio, estroma ou endotélio;
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17
- Presença ou ausência e tipo de suturas:
Seda, categute ou nylon;
- Infecção bacteriana, viral ou micótica
associada;
- Drogas administradas de forma tópica
com propósitos terapêuticos.
A resposta citológica e histológica a
uma ferida central da córnea implica: edema
de estroma, mitose e deslocamento das
células epiteliais, migração
polimorfonuclear e monocítica;
surgimento de novos fibroblastos e
mitoses; formação de pre-colágeno e
formação de colágeno.
Ocasionalmente e devido a razões
desconhecidas, podem formar-se vasos
sanguíneos em um tecido corneal
cicatrizado. As mudanças químicas
associadas com uma resposta citológica são:
hidratação inicial, aumento da atividade
de hidrolasas lisomicas, diminuição nos
níveis de MPS (sulfato queratina e sulfato
condroitina).
1.3.2- VASCULARIZAÇÃO DA CÓRNEA
Os capilares penetram na córnea até
um ou dois milímetros além do limbo. A
córnea normal está completamente
desprovida de vasos sanguíneos.Quando
existem vasos fora da zona limbar a córnea é
ou foi submetida a um processo patológico.
Certas enfermidades produzem uma
vascularização intensa e precoce e a
situação e o caráter dos vasos sanguíneos
recém - formados são às vezes guias para o
seu diagnóstico: os vasos sinuosos
superficiais que podem aparecer sobre a
córnea desde a superfície conjuntival através
do limbo são característicos de várias formas
de ceratoconjuntivite.
Existem diferentes teorias para
explicar a ausência de vasos sanguíneos na
córnea normal e sua formação interna em
estados patológicos. Eis algumas delas:
- Na córnea, como resultado do processo
patológico corneano, é elaborada uma
substância que estimula o crescimento dos
vasos sanguíneos até o lugar onde esta
substância é produzida. Acredita-se que esta
substância possua o poder de iniciar a
neovasculogênese a partir dos vasos
sanguíneos já existentes e de ter
quimiotaxia positiva.
- Entre os fatores que foram assinalados
como possíveis indutores da nova
vascularização se encontram o acúmulo de
ácidos metabólicos, histamina, uma
deficiência de ácido ascórbico e anóxia
local. Assim a anóxia pode ser efetiva neste
aspecto liberando alguma substância que
provoque o crescimento a partir do tecido
anóxico e que o anidro carbônico não é
somente um agente vasodilatador, mas
também um forte estímulo para a
vasculogênese.
Ausência de vasos sanguíneos
dentro da córnea tem sido atribuída às
propriedades da córnea mesma, seja por
possuir alguma substância que impeça o
crescimento dos vasos, ou porque é tão
compacta que os vasos não podem penetrar
nela. Nos processos patológicos nos quais se
produz neovascularização se supõe que a
córnea perde a substância inibidora ou que a
edematização do tecido permita que os
vasos sanguíneos a penetrem.
A edematização da córnea inicia a
formação de novos vasos, mas isto por sua
vez corrige a edematização, quer dizer, a
edematização estabelece um ciclo através da
neovasculogênese que é corretivo: as
córneas que não se vascularizam
permanecem edemaciadas, formando-se
ampolas sobre o seu epitélio.
O crescimento para dentro dos vasos a partir
do limbo é sempre precedido pela
edematização da córnea no limbo.
2- PELÍCULA LACRIMAL
As funções da lágrima podem ser
resumidas em:
•
•
•
• Óptica: Manter um ambiente úmido para
epitélio, conjuntiva e pálpebras.
•
•
•
• Bactericida /Bacteriostática: Graças à
presença de lisozima, lactoferrina, B-
lisina, assim como as imunoglobulinas.
•
•
•
• Metabólica: dissolver O2 para ser
utilizado no metabolismo corneano e
prover outros nutrientes (Vitamina A,
íons, etc).
•
•
•
• Protetora: Expulsar corpos estranhos.
A principal função da lágrima foi
inicialmente a de formar uma película
delgada, de superfície muito lisa pela tensão
superficial da lágrima, que facilitasse a
refração do olho dos vertebrados no meio
aéreo. Se não existisse a película lacrimal, as
irregularidades da superfície anterior da
córnea, cujo epitélio está em permanente
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18
processo de descamação determinariam uma
imagem retiniana imperfeita.
A película lacrimal prebulbar é formada
por uma camada anterior de lipídios, uma
média, aquosa, e uma posterior de
mucina. Este extrato mucínico se adere ao
glicocálice ou mucina epitelial que forma
parte da membrana externa das células
epiteliais superficiais.
2.1- MECANISMO SECRETOR DA
PELÍCULA LACRIMAL
•
•
•
• Glândulas de Krausse: Secreção basal
da camada aquosa da película lacrimal.
•
•
•
• Glândulas de Wolfring: secreção basal
da camada aquosa da película lacrimal.
•
•
•
• Glândulas de Zeis: Glândula sebácea
que ajuda à formação da camada lipídica
da película lacrimal.
•
•
•
• Glândulas de Meibomius: Glândula
sebácea da principal secreção para a
formação da camada lipídica da película
lacrimal.
•
•
•
• Criptas de Henle (Células caliciformes):
Formação da camada de mucina da
película lacrimal.
Quando um raio luminoso que
atravessa um meio chega à superfície de
separação com outro meio, o raio é
parcialmente transmitido a este segundo
meio e parcialmente refletido até o primeiro
meio. A proporção em que cada uma dessas
possibilidades intervem depende do ângulo
de incidência da luz, do índice de refração
dos meios, da longitude de onda da luz e do
grau e orientação da polarização da luz.
Cada um destes raios é atenuado nos
distintos meios ao longo de seu percurso.
Quando a luz natural encontra o olho
de um vertebrado terrestre, a primeira
superfície com que se depara é a película
lacrimal. A grande diferença entre o índice
de refração do ar (1.000) e o da lágrima
(1.334) faz com que a maior parte da
refração do olho se produza aqui. A pequena
diferença de índice de refração entre a
lágrima e a córnea (1.3375) faz atribuir a esta
segunda interfase um papel refrativo menor.
O estrato lipídico da lágrima, que
só cobre a superfície ocular exposta, constitui
0,02% do volume lacrimal e se forma na
borda palpebral pela ação das glândulas de
Meibomius e, em menor proporção, pelas
glândulas de Zeiss e de Moll e pelas
glândulas lipídicas carunculares.
O estrato aquoseroso representa
99.78% do volume da película lacrimal. Ele
se forma nas glândulas lacrimais principais e
acessórias.
O estrato mucínico – que é mais fino,
porém o mais extenso dos 3 estratos –
representa 0,20 % do volume lacrimal. Ele
se forma nas células caliciformes da
superfície conjuntival. Por trás desta mucina
conjuntival está o glicocálice.
3 - HISTÓRIA DAS LENTES DE CONTATO
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19
LEONARDO da VINCI
Leonardo da Vinci é considerado a
primeira pessoa que descreveu uma lente de
contato, em 1508. Ele desenhou uma cuba
cheia de água. O observador imergiria o
rosto e, olhando através da água, alteraria o
poder dióptrico do olho.Leonardo Da Vinci
realizou descrições teóricas das lentes de
contato. Embora não tenham se tornados
populares no seu tempo, nasceu o conceito
de que um objeto poderia estar em contato
com o olho e permitir a correção da visão.
Mas a primeira lente de contato
realizada para propósitos médicos só foi
adaptada por F. A Muller. Ele usou uma
lente escleral de vidro para proteger o olho
de um paciente que tivera as pálpebras
extirpadas.
Adolf Fick, oftalmologista alemão,
utilizou coelhos em seus primeiros trabalhos,
datados de 1888, adaptando conchas de
vidro soprado, que eram aparentemente bem
toleradas. Fick notou perda da transparência
corneana, injeção limbar e conjuntival e
propôs a necessidade de desinfetar as
lentes, estabelecendo também o conceito de
adaptação de lentes de contato.
Fick solicitou ao professor Ernest
Abbe conchas polidas de boa qualidade
óptica com íris e pupilas pintadas,
estabelecendo as bases das lentes de
contato cosméticas e protéticas.
Após suas experiências testando as
conchas com animais e cadáveres realizou
testes com pacientes com córneas
irregulares devido a cicatrizes e para evitar a
enucleação em olhos não estéticos.
Em 1937 o plástico
polimetilmetacrilato (PMMA) foi introduzido
como material de lentes de contato e
rapidamente substituiu o vidro.
Em 1948, Kevin Tuohy introduziu a
“microlente” de PMMA.A lente cobria
unicamente a córnea e era muito menor que
a lente escleral usada até então. A lente
escleral cobria a parte frontal do olho
inclusive a esclera.
As lentes de contato rígidas se
tornaram muito popular a partir dos anos 50.
3.1- LENTES HIDROFÍLICAS
O primeiro material para lentes de
contato hidrofílicas foi desenvolvido por Otto
Wichterle, um cientista tcheco, e foi
patenteado em 1963.O
hidroxoetilmetacrilato (HEMA) foi um
material criado para ser usado em vasos
artificiais e órgãos.
Início do Hema. Wichterle usa um
equipamento Prof. Wichterle
Improvisado para as pesquisas iniciais .
Foto do Inst. Química –
Tchecoslováquia.
Wichterle reconheceu
sua aplicação para
lentes de contato e
desenvolveu um
método de
manufaturamento para
este novo material.
A tecnologia de
Wichterle foi adquirida
pela Bausch  Lomb e em 1971 a versão
comercial de uma lente macia foi aprovada
para uso nos EEUU.
3.2 - LENTES RÍGIDAS GÁS PERMEÁVEIS
As pesquisas prosseguiram na busca
de um material que permitisse a passagem
de oxigênio para atender as necessidades
metabólicas da córnea.Isto permitiu o
surgimento do Acetil Butirato de Celulose
(CAB), um dos primeiros materiais rígidos
gás permeáveis O CAB começou a ser
utilizado nos Estados Unidos em 1978.
Desde então foram desenvolvidos vários
materiais de lentes rígidas gás permeáveis.
3.3- OUTRAS DESCOBERTAS
- LENTES DE CONTATO DE USO
CONVENCIONAL
Desde o início até meados dos anos
80 as lentes eram usadas pelo paciente
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20
enquanto estivessem relativamente limpas
não estivessem danificadas e enquanto
permanecessem corrigindo o erro refrativo.
Esta forma de utilizar as lentes de contato é
conhecida como Uso Convencional. O
tempo de vida de uma lente varia de acordo
com o tipo da lente. As lentes rígidas de
PMMA duram vários anos. As lentes de
materiais RGP duram 1 a 2 anos. As lentes
hidrofílicas de uso convencional duram
cerca de 1 ano.
- LENTES DE CONTATO DESCARTÁVEIS
Em 1985 DANALENS introduziu na
Dinamarca a primeira lente de contato de
Uso Descartável. Ela foi adquirida pela
Jonhson  Johnson e em 1986 recebeu a
aprovação do FDA (Federal Drug
Administration) para o uso nos EEUU.
As lentes de contato descartáveis
são semelhantes às lentes hidrofílicas
convencionais, porém devem ser
descartadas em período pré-determinado de
tempo (um dia, uma semana, um mês, etc).
Alguns dos benefícios das lentes
descartáveis incluem a pouca aderência de
depósitos, bem como a facilidade de
manutenção.
4- LEGISLAÇÃO DA CONTATOLOGIA
- SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE
PÚBLICA E DA ASSISTÊNCIA SOCIAL -
- DEPARTAMENTO DE SAÚDE DO
ESTADO -
- SERVIÇO DE FISCALIZAÇÃO DO
EXERCÍCIO PROFISSIONAL -
DEPARTAMENTO NACIONAL DE SAÚDE
Portaria nº 86, de 28 de Junho de 1958
O Diretor Geral do Departamento
Nacional de Saúde resolve estabelecer em
conformidade com a legislação em vigor, as
seguintes normas, para o exercício em todo o
território nacional das profissões de :
1. Ótico-Prático e ótico-prático em lentes de
contacto.
Art. 1º - O exercício da profissão
acima enumerada em todo território nacional,
só é permitido a quem estiver devidamente
inscrito no Serviço Nacional de Fiscalização
da Medicina e Farmácia ou Serviço Nacional
de Fiscalização da Odontologia para o
Distrito Federal e, nos respectivos Serviços
Sanitários competentes, para os Estados e
Territórios.
Art. 2º - Para ser inscrito e habilitar-
se ao exercício das profissões nos termos do
Artigo anterior é necessário que o candidato
apresente o seguinte documento:
a) Diploma ou certificado de curso de
prático ou equivalente, a critério do Serviço
Nacional de Fiscalização da Odontologia ou
Serviço Nacional de Fiscalização da
Medicina e Farmácia expedidas por escola-
oficial ou reconhecida de medicina ou
farmácia, pelos Cursos do D.N.S. ou, ainda,
por escolas particulares de idoneidade
reconhecida pelo Departamento Nacional de
Saúde.
b) Prova de ter sido aprovado em
exame de capacidade realizado perante o
Serviço Nacional de Fiscalização da
Medicina e Farmácia ou Serviço Nacional da
Odontologia, na falta dos documentos
referidos no item “a”.
DO ÓTICO-PRÁTICO E DO
PRÁTICO EM LENTES DE CONTACTO
Art. 12º - Entende-se por ótico -
prático e ótico - prático em lentes de
contacto, quem for habilitado nos exames
procedidos na forma da presente portaria
para assumir a responsabilidade pelo
funcionamento dos estabelecimentos de
ótica.
Art. 13º - São obrigações do ótico-
prático e do ótico-prático em lentes de
contacto:
a) Assumir a responsabilidade de todas as
atividades de ótica do estabelecimento
comercial de ótico – prático ou de prático
em lentes de contacto;
b) Assinar e datar as receitas registradas
no livro apropriado;
c) Tratar de todos os assuntos referentes
ao estabelecimento do qual é
responsável, com a autoridade sanitária
fiscalizadora.
Art. 14º - Para a habilitação do ótico –
prático, a matéria de exame versará sobre:
1 – leis fundamentais de ótica geométrica
e formação de imagens pelas lentes;
2 – características das lentes oftálmicas,
suas variedades e identificação;
3 – sistemas centrados e sua utilização
em ótica oftálmica;
4 – teórica de interpretação e
transposição de lentes;
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21
5 – trabalho de superfície, sua técnica e
realização, blocos;
6 – seleção, preparo e aplicação de lentes
bifocais e tri focais;
7 – desvios prismáticos, adaptação e
preparo de prismas;
8 – adaptação e verificação de óculos
corretores;
9 – legislações referentes ao ótico –
prático.
§ Único - Além de prescrito no § 3º
do art. 3º, a prova prática – oral para ótico –
prático e ótico - prático em lentes de
contacto, constará da resolução de
problemas de ótica e execução dos trabalhos
específicos.
Art. 15º – Para a habilitação de ótico
- prático em lentes de contacto, o assunto de
exame versará, ainda sobre:
1- variedade e indicações das lentes de
contacto;
2- ótica física e ótica fisiológica adaptadas
a lentes de contacto;
3- condições necessárias, medidas e
individuais para execução do receituário de
lentes de contacto;
4- métodos e cuidados para aplicação das
lentes de contacto, sua execução;
5- dispositivos legais que regem a
profissão de ótico – prático em lentes de
contacto.
Art. 16º – A comissão examinadora, no
Distrito Federal, será composta de 3
membros, sob a presidência do médico
oculista do Serviço Nacional de Fiscalização
da Medicina e Farmácia e completada por
um médico especialista em oftalmologia e um
ótico – prático habilitado e, nos Estados,
pelos Diretores dos respectivos serviços
sanitários e mais um médico oculista e um
ótico – prático habilitado legalmente.
Atualmente não existe nenhum tipo
de habilitação para ópticos práticos. Existem
muitos atuando em diversos estados
baseados principalmente no direito adquirido.
A formação profissional do óptico
sofreu um grande avanço com a Lei 5692/71
que instituiu a formação profissional em nível
técnico. Como regulamentação da lei 5692,
foi promulgada o parecer 45/72 do Conselho
Nacional de Educação. Este parecer instituiu
a grade curricular mínima para cada curso.
Surgiu então o Técnico em Óptica que
contava com um currículo mínimo composto
pelas disciplinas de Optometria, Surfaçagem,
Montagem, Materiais e Equipamentos,
Psicologia e Técnica de Vendas.
Pelas leis de diretrizes e bases, as
formações profissionais desvincularam-se
dos Ministérios aos quais se achavam
adstritas, para submeter-se todas, ao
Ministério da Educação.
Em 1983, o Conselho Federal de
Educação através do parecer 404/83, incluiu
no currículo do curso Técnico em Óptica a
disciplina de Contatologia A pedido do
Sindicato do Comércio Varegista de Material
Óptico de São Paulo.
A adaptação de Lentes de contato
inicialmente era exercida por ópticos práticos
em Lentes de Contato com respaldo dado
pela portaria 86/58. A partir do parecer
404/83, esta adaptação passa a ser exercida
por profissionais formados em nível técnico,
aumentando-se assim toda a
responsabilidade por um trabalho mais
qualificado.
É importante mencionar que a pós a
inclusão da contatologia no curso técnico em
óptica, houve duas ações por parte dos
médicos para anular tal decisão. A primeira
foi proposta pelo Conselho Brasileiro de
Oftalmologia através de um relatório de uma
Assembléia Geral Extraordinária, realizada
no Hotel Plaza São Rafael, em Porto Alegre
– RS, no dia 16 de novembro de 1983, onde,
entre outros assuntos, se lê, que os
representantes resolveram: “Repudiar o
Parecer 404/83 do CFE”.
A resposta para este relatório foi
dada ao Conselho de Oftalmologia pelo
Parecer 481/84 aprovado dia 05/07/84 pelo
CFE mantendo a disciplina no currículo. Na
ocasião foi claramente exposto pelo CFE que
o enriquecimento curricular por meio de uma
nova disciplina, é assunto da competência
estrita do CFE, tendo em vista o interesse de
ensino.
A segunda ação foi feita através de
uma solicitação do Deputado Ézio Ferreira e
CBO, com o mesmo objetivo de anular a
Contatologia para o Técnico em Óptica. E,
mais uma vez, o CFE manteve sua posição
respondendo à solicitação por meio do
parecer 269/89 aprovado dia 16/03/1989 pelo
Conselho Federal de Educação.
Em 2000, a ANVISA através do
parecer 1110/2000 afirmava ser a adaptação
Curso de Contatologia
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22
de lentes de contato um ato médico. Tal
parecer foi anulado pela própria ANVISA
através do ofício 553/2001 em resposta ao
ofício 294/2001 da Confederação Nacional
do Comércio.
Em 1988 com a constituição Federal,
a Optometria e Adaptação de Lentes de
Contato passam a ter mais respaldo baseado
nos seguintes artigos:
Art. 5.º Todos são iguais perante a lei, sem
distinção de qualquer natureza, garantindo-
se aos brasileiros e aos estrangeiros
residentes no País a inviolabilidade do direito
à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança
e à propriedade, nos termos seguintes:
XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho,
ofício ou profissão, atendidas as
qualificações profissionais que a lei
estabelecer;
Art. 7.º São direitos dos trabalhadores
urbanos e rurais, além de outros que visem à
Melhoria de sua condição social:
XXVI - reconhecimento das convenções e
acordos coletivos de trabalho;
Art. 22. Compete privativamente à União
legislar sobre:
XVI - organização do sistema nacional de
emprego e condições para o exercício de
profissões;
Art. 170. A ordem econômica, fundada na
valorização do trabalho humano e na livre
Iniciativa, tem por fim assegurar a todos os
existência digna, conforme os ditames da
justiça social observado os seguintes
princípios:
Parágrafo único. É assegurado a todo o livre
exercício de qualquer atividade econômica,
Independentemente de autorização de
órgãos públicos, salvo nos casos previstos
em lei.
Art. 197. São de relevância pública as ações
e serviços de saúde, cabendo ao poder
público dispor, nos termos da lei, sobre sua
regulamentação, fiscalização e controle,
devendo sua execução ser feita diretamente
ou através de terceiros e, também, por
pessoa física ou jurídica de direito privado.
Art. 199. A assistência à saúde é livre à
iniciativa privada.
PAULO JOBIM FILHO
Ministro de Estado do Trabalho e Emprego
3223 : Ópticos optometristas
3223-05 - Técnico em óptica -
Contatólogo, Óptico contatólogo,
Óptico esteticista, Óptico
montador de óculos, Óptico
oftálmico, Óptico refracionista,
Óptico surfaçagista, Técnico
contatólogo
3223-10 - Técnico em optometria - Óptico,
Óptico optometrista, Óptico
protesista, Técnico optometrista
Descrição sumária
Realizam exames optométricos;
confeccionam lentes; adaptam lentes de
contato; montam óculos e aplicam
próteses oculares. Promovem educação
em saúde visual; vendem produtos e
serviços ópticos e optométricos;
gerenciam estabelecimentos.
Responsabilizam-se tecnicamente por
laboratórios ópticos, estabelecimentos
ópticos básicos ou plenos e centros de
adaptação de lentes de contato. Podem
emitir laudos e pareceres ópticos-
optométricos.
3223 : Ópticos optometristas
Condições gerais de exercício
Exercem suas funções em laboratórios
ópticos, em estabelecimentos ópticos
básicos e plenos, em centros de
adaptação de lentes de contato, podendo,
ainda, atuar no ramo de vendas e em
atividades educativas na esfera da saúde
pública. São contratados na condição de
trabalhadores assalariados, com carteira
assinada e, também, na condição de
Curso de Contatologia
Colégio nacional de Óptica e Optometria
23
Formação e experiência
O exercício dessas ocupações requer
curso técnico de nível médio, oferecido
por instituições de formação profissional.
O pleno desempenho das atividades
profissionais se dá após o período de três
a quatro anos de experiência.
3223 : Ópticos optometristas
Áreas de Atividades
A REALIZAR EXAMES OPTOMÉTRICOS
B ADAPTAR LENTES DE CONTATO
C CONFECCIONAR LENTES
D MONTAR ÓCULOS
E APLICAR PRÓTESES OCULARES
F
PROMOVER EDUCAÇÃO EM SAÚDE
VISUAL
G
VENDER PRODUTOS E SERVIÇOS
ÓPTICOS E OPTOMÉTRICOS
H GERENCIAR ESTABELECIMENTO
I COMUNICAR-SE
3223 : Ópticos optometristas
Competências pessoais
1 Zelar pela limpeza do local de trabalho
2 Demonstrar compreensão psicológica
3 Atualizar-se profissionalmente
4 Evidenciar coordenação motora fina
5
Calibrar equipamentos ópticos e
optométricos
6
Empregar equipamentos ópticos e
optométricos
7 Revelar senso estético
8 Prestar primeiros socorros oculares
9
Usar equipamento de proteção individual
(EPI)
10Trabalhar com ética
3223 : Ópticos optometristas
Recursos de trabalho
* Queratômetro
Máquinas surfaçadoras
Lâmpada de Burton
Filtros e feltro
* Lâmpada de fenda (biomicroscópio)
Produtos para assepsia
Abrasivos
* Retinoscópio
* Lensômetro
* Refrator
* Oftalmoscópio (direto-indireto)
Pupilômetro
* Topógrafo
* Caixas de prova e armação para
auxílios ópticos
Calibradores
Alicates, chaves de fenda
Máquinas para montagem
Tabela de projetor de optótipos
Torno
Tonômetro
Corantes e fluoresceína
Solventes
Polidores e lixas
Foróptero
Espessímetro
Moldes e modelos
Títmus
Resinas
5- ÉTICA DO CONTÁTOLOGO
O contatólogo é um profissional da
área de saúde que requer a titulação de
técnico ou universitário. Sua atividade
profissional inclui utilizar toda a sua
capacidade profissional, com amor,
consideração, responsabilidade e boa fé,
tendo como meta à prevenção, promoção,
assistência, reabilitação e readaptação das
alterações oculares e visuais que competem
ao seu exercício profissional.
O cliente deverá ser informado de
suas responsabilidades, dos riscos,
incertezas e outras circunstâncias que
podem comprometer o bom resultado do
trabalho.
A atitude do contatólogo ante ao
cliente deverá ser sempre de apoio, evitará
Curso de Contatologia
Colégio nacional de Óptica e Optometria
24
todo o comentário que desperte injustificada
preocupação e não fará prognóstico de
alterações visuais e doenças oculares sem
as suficientes bases científicas.
O profissional manterá decoro e
responsabilidade no exercício profissional,
adotando equipamento necessário segundo
as leis vigentes. Manterá segredo profissional
em tudo o que, pela razão do exercício de
sua profissão, tenha visto, escutado e
entendido, salvo nos casos eximidos e por
disposições legais.
O contatólogo deve abster-se de
proceder em seus clientes, técnicas clinicas,
formulações e tratamentos de caráter
experimental, sem uma rigorosa justificativa
científica, sem informar e sem a devida
autorização do mesmo.
Aos colegas de profissão, o
contatólogo deve respeito, consideração,
lealdade, solidariedade e apreço. Deve evitar
qualquer alusão pessoal ofensiva, ou aquelas
que possam ser interpretadas como tal.
Abster-se-á sempre de julgar ou criticar
desfavoravelmente a atuação profissional ou
privada de seus colegas, salvo quando atue
como perito ou julgador da conduta
profissional de um deles.
O atendimento a clientes enviados
por colegas deverá ser realizado, e o mesmo
encaminhado de volta com as devidas
informações (exames praticados,
diagnósticos obtidos).
O contatólogo deve abster-se de
realizar praticas de competição desleal.
6 - CARACTERÍSTICAS IDEAIS DE UM
MATERIAL PARA LENTES DE CONTATO
1- Proporcionar oxigênio suficiente para o
metabolismo corneano.
2- Ser fisiologicamente inerte.
3- Ter um bom grau de umectação.
4- Ser resistente tanto a deteriorização
como a formação de depósitos.
5- Deve manter suas dimensões estáveis.
6- Ser resistente a manipulação do
paciente.
7- Ser transparente.
8- Ser opticamente regular: de
características ópticas previsíveis.
9- Ter propriedades físicas que permitam
superfícies de alta qualidade
10- Requerer uma manutenção mínima por
parte do usuário.
11- Ser de fácil fabricação.
6.1- REQUISITOS DE
BIOCOMPATIBILIDADE PARA OS
MATERIAIS DE LENTES DE CONTATO
1- Ser inertes: não deve haver reação com
lentes de contato. Eles não devem fazer
com que outros materiais reajam com
eles, seja os tecidos oculares, as
lágrimas ou os produtos de manutenção
da lente com os quais estão em contato.
2- Não devem fazer parte de nenhuma
reação enzimática, atividade ou reações
de catálise entre eles e /ou outros
substratos químicos.
3- Não conter nenhum... Especialmente
hidrogéis, já que o movimento da água
através do polímero é potencialmente um
veículo para transferir material
indesejável de dentro da lente para o
olho.
4- Não ser absorvente seletivo de
metabólitos, toxinas, micro-organismos e
outras substâncias presentes no meio
ambiente.
5- Não mostrar excessiva eletroforese, o
que pode resultar em uma absorção
seletiva, de separação de entidades
químicas ou bioquímicas ou biológicas
do meio ambiente.
6- Exibir baixa fricção in si tu. O material
deve ter um bom acabamento de
superfície, que, umectada, exibirá baixa
fricção. Isto permitirá um movimento
suave da lente no olho e que tornará
seguro o movimento de esfregar
digitalmente à lente quando se faz a
limpeza.
7- Ser eletricamente compatível O material
da lente não deve atrapalhar as
propriedades elétricas da superfície
corneana.
8- Não induzir respostas inflamatórias ou
imunológicas no olho, independente do
horário de uso.
7 - PROPRIEDADES DOS MATERIAIS DAS
LENTES DE CONTATO
7.1- TRANSPARÊNCIA
Embora quimicamente e na hidratação
nenhuma lente seja totalmente transparente,
se obtém nas lentes de contato uma
transparência de 92 a 98 %. Define-se
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25
transparência como a percentagem de luz
incidente de uma onda luminosa que passa
através de um material.
7.2- DUREZA
Afeta a durabilidade da lente, da
rigidez e faz com que não se flexione.
7.3- FORÇA DE TENSÃO
Força de deformação antes que o
material se rompa.Ou seja: é a percentagem
de distensão do material. Quanto maior a
força de tensão mais durável é a lente. É o
que evita que a lente se rompa durante a
limpeza.
7.4- MÓDULO DE ELASTICIDADE
É um valor constante. É a habilidade
do material de manter sua forma quando é
submetido a estresse.U m material com baixo
módulo de elasticidade terá menor
resistência ao estresse. Um material com alto
módulo de elasticidade mantém sua forma,
assim não adquire a topografia corneana,
sobretudo nos altos astigmatismos.
7.5- DENSIDADE
Peso de 1 centímetro cúbico do
material (gramas).
7.6- ÍNDICE DE REFRAÇÃO
A velocidade da luz no ar (1) e a da
luz no material (n) em lentes de contato
hidrofílicas está relacionada com o conteúdo
aquoso.
7.7- UMECTABILIDADE
FIGURA 7. A
Quanto menor o ângulo de
umectação, maior a umectabilidade: a
película (neste caso a lágrima) será mais
estável, a acuidade visual será melhor,
haverá mais conforto e maior resistência aos
depósitos. A umectabilidade está relacionada
com o Ângulo de umectação (ângulo de
contato) formado por uma gota de água,
solução salina ou lágrima na superfície da
matéria.
8 - PROPRIEDADES DAS LENTES DE
CONTATO
8.1- CONTEÚDO AQUOSO
As lentes de contato hidrofílicas ou
rígidas absorvem água. Quando um material
absorve água intumesce e isso deve ser
levado em conta no processo de fabricação.
Menor que 4 % de água por peso:
material Hidrofóbico
Maior que 4 % de água por peso:
material Hidrofílico, que permite aumento do
aporte de oxigênio, mas o torna frágil e com
maior aderência a depósitos.
8.2- CARGA IÔNICA
A carga iônica é inerente às lentes de
contato hidrofílicas. Os que têm carga
elétrica
(geralmente negativa) se denominam
IÔNICOS.A lente é mais reativa,
especialmente com soluções ácidas.
Também reagem às cargas positivas das
moléculas das proteínas das lágrimas.
As lentes de materiais NÃO IÔNICAS
têm maior resistência aos depósitos, são
mais inertes e menos reativas.
8.3- TRANSMISSÃO DE OXIGÊNIO
Quando os olhos estão abertos,
recebem oxigênio da atmosfera. Quando os
olhos estão fechados (durante o sono) o
oxigênio se difunde através dos vasos
sanguíneos do limbo e da conjuntiva
palpebral.
Quando se coloca uma lente de
contato a quantidade de lágrima diminui em
um terço.
Logo o oxigênio que chega provem
de duas vias:
1: Dissolvido nas lágrimas, quando a lente
de contato se move.
2: Através da lente, por difusão.
A bomba lacrimal renova de 14 a 20 %
do volume lacrimal a cada piscar, as lentes
de contato hidrofílicas apenas de 1 a 5 % . A
lágrima não somente traz oxigênio e remove
dióxido de carbono, Ácido lático e células
epiteliais.Por esta razão a seleção do
material é de vital importância para a
manutenção da integridade corneana.
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26
ATMOSFERA
A atmosfera é uma camada que rodeia a
terra. Sua composição é de 21 % de oxigênio
e 78 % de nitrogênio. O restante é vapor de
água e dióxido de carbono.
PRESSÃO
A atmosfera exerce pressão sobre a
terra. Esta pressão é medida com o
barômetro. É a chamada Pressão
Barométrica que é expressa em milímetros
de mercúrio (mmHg). A atmosfera exerce
760 mmHg ao nível do mar.
PRESSÃO PARCIAL
Como a composição da atmosfera é
de 21 % de oxigênio, chama-se Pressão
Parcial de Oxigênio, que é de 160 mmHg.
TENSÃO DE OXIGÊNIO
Quando a Pressão Parcial de
Oxigênio é dissolvida em um líquido (por
exemplo, à lágrima) chama-se Tensão de
Oxigênio .Com olhos abertos, a tensão é de
155 mmHg.
UMIDADE
Quando o ar está completamente
saturado de vapor de água dizemos que há
100 % de umidade. Se a umidade é menor e
não há vapor de água no ar, pode haver
irritação ocular.
8.3.1- MEDIDA DA TRANSMISSIBILIDADE
DE OXIGÊNIO
- PERMEABILIDADE
Grau em que uma substância é
capaz de atravessar a membrana de um
material. É uma função intrínseca à
composição molecular do material.
- DIFUSÃO
Processo pelo qual uma molécula
passa através de um material. A direção do
movimento vai da área de maior
concentração para a área de menor
concentração.
A permeabilidade é afetada por
fatores extrínsecos como a temperatura e a
pressão. A permeabilidade é expressa pelo
Coeficiente de Permeabilidade: DK.
A molécula deve dissolver-se dentro do
material e logo se difunde.
FIGURA 8: COEFICIENTE DE DIFUSÃO
DK D = COEFICIENTE DE DIFUSÃO DO
MATERIAL (VELOCIDADE NA QUAL A
MOLÉCULA SE DIFUNDE).
K = COEFICIENTE DE SOLUBILIDADE
(QUANTO GÁS PODE SER DISSOLVIDO
EM UMA UNIDADE DE VOLUME).
Exemplo:
DK = 8.9∗10-11 (cm
2
/seg) (ml0
2
/mL∗mmHg)
@ 25 C
Geralmente as fábricas simplificam
esta informação para o profissional e
apresentam o DK como um número inteiro.
Devemos considerar também a
temperatura, pois quanto maior a
temperatura, maior o DK. Se aumentarmos a
temperatura haverá mais energia e as
moléculas se difundirão mais rapidamente.
O professor Irving Fatt mediu o
Coeficiente de permeabilidade por meio de
um Eletrodo Polarográfico: o oxigênio passa
través de um material e se mede a corrente
elétrica que é proporcional à quantidade de
oxigênio que passa.
O DK é inerente ao material e não à
espessura. Assim o DK é uma constante
para a matéria. Podem existir ligeiras
variações por impurezas no material.
8.3.2- TRANSMISSIBILIDADE DE
OXIGÊNIO
É a difusão do oxigênio através do
material de uma lente com espessura
conhecida, ou seja, representa a quantidade
de oxigênio que atravessa a lente por
unidade de tempo em determinada pressão
atmosférica. É expresso como Dk/L.
À medida que aumenta a espessura
da lente, diminui a transmissibilidade de
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27
oxigênio. Dessa forma, quanto maior a
espessura menor a transmissibilidade,
conforme o gráfico.
MENOR ESPESSURA: MAIS O2
MAIOR ESPESSURA: MENOS 02
FIGURA 9. TRANSMISSIBILIDADE.
8.3.3- PERCENTUAL EQUIVALENTE DE
OXIGÊNIO (PEO)
Tanto a permeabilidade como a
transmissibilidade, são condições de
laboratório. O PEO é in vivo.A taxa de
oxigênio pode ser medida colocando um
sensor e uma membrana com oxigênio sobre
a córnea.
O sensor cria uma corrente elétrica
quando o oxigênio é consumido. A
quantidade máxima de oxigênio é de 21%
(155 mmHg) em nível do mar , que deveria
manter-se . Se uma lente tem um POE de 21
% , adquire 100 % de oxigênio da atmosfera
(155 mmHg). O POE não é uma constante
física, é uma condição fisiológica
relacionada com o DK e com o desenho
da lente.
CAPITULO II
8.3.4- NÍVEIS CRÍTICOS PARA USÁRIOS
DE LENTES DE CONTATO
O POE em olhos fechados é cerca
de 6 a 7 % (155mmHg) em média, sem
lentes de contato.
Durante o sono, a córnea entra em
edema leve e aumenta a sua espessura, mas
com o despertar logo sai deste estado,
voltando a sua espessura normal. Quando o
edema, com olhos abertos, passa de 5 %,
começam às alterações nas camadas
posteriores da córnea. Se esse percentual
chega a 20 %, ocorrem danos patológicos
às células endoteliais.
9 - MATERIAIS PARA LENTES DE
CONTATO
As lentes de contato são feitas de polímeros.
A palavra polímero basicamente significa
“muitas partes“. As partes individuais são os
monômeros. Estas pequenas unidades
químicas estão unidas em uma cadeia
contínua de alto peso molecular.
Todos os polímeros podem ser
rígidos ou flexíveis dependendo da
temperatura ambiente. A transição de duro a
flexível ocorre quando as cadeias de
polímero absorvem energia suficiente para
desenvolver uma rotação.
Os polímeros que são rígidos a
temperatura ambiente podem tornar-se
flexíveis graças à incorporação de
“plastificadores“ químicos, que permitem às
cadeias de polímeros deslizar livremente
umas sobre as outras.
As lentes de contato hidrofílicas são
feitas de hidrogel . Os polímeros de hidrogel
absorvem água que atua como plastificador.
Para absorver água, o monômero deve ter
grupos hidroxilicos livres (OH), que atraem
água, ou seja, são hidrofílicos.
9.1- POLIMERIZAÇÃO
É o processo para enlaçar
monômeros por meio de um catalisador. O
catalisador tem uniões químicas muito
débeis, que ao se romper formam radicais.
Um radical livre adere a um átomo de
carbono e começa uma cadeia que se repete
muitas vezes.
Se um só tipo de monômero é usado,
o resultado é um polímero chamado
homopolímero. Um exemplo de
homopolímero é o PMMA, onde o único
monômero é o MMA (metilmetacrilato).
Se mais de um monômero é usado, o
resultado é um copolímero, o que quer dizer
que há duas ou mais unidades que se
repetem. Das qualidades, vantagens e
desvantagens dos monômeros depende o
material final, ou seja, o polímero.
9.2- CARACTERÍSTICAS DAS LENTES
RÍGIDAS SEGUNDO O SEU MATERIAL
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28
A tabela anexa indica as vantagens e
desvantagens de cada polímero.
Basicamente existem seis materiais
para a elaboração de lentes de contato
rígidos:
LENTES RÍGIDAS VANTAGENS DESVANTAGENS
PMMA Fácil de trabalhar e polir. Quase zero de permeabilidade ao oxigênio.
Bastante umectável quando está limpo. Produz turvamento visual com os óculos.
Fácil manutenção Em longo prazo causa Polimegatismo e
“Síndrome de Exaustão Corneana”.
Rígido
0.2 a 0.5 % de água quando está totalmente
hidratado.
Fácil de modificar.
LENTES GÁS
PERMEÁVEIS
ACETIL BUTIRATO DE
CELULOSE : CAB.
Foi o primeiro material permeável , aparecido
em 1977.Sua permeabilidade ao O2 era um
avanço. Hoje é quase nulo se comparado a
outros materiais
Flexiona facilmente .
Falta de estabilidade dimensional .
Baixa umectabilidade e pouca resistência a
depósitos .
Pouco durável .
LENTES GÁS
PERMEÁVEIS VANTAGENS DESVANTAGENS
T-BUTIL_ESTIRENO Maior permeabilidade que o CAB, o que
contribui para diminuir a aderência de depósitos
a sua superfície
Baixa umectação .
Baixa permeabilidade .
Baixa durabilidade .
É utilizado em lentes híbridas como a Softperm
ACRILATO DE
SILOXANO ou ACRILATO
DE SILICONE (AS)
VANTAGENS DESVANTAGENS
Foram os materiais mais usados devido a seus
valores de DK e graças à combinação de seus
componentes (silicone, óxido metacrílico e
acrilato).
A carga e a química de sua superfície fazem
com que seja mais propenso a atrair
depósitos
Racham com maior facilidade.
Quebradiços. Rompem com mais facilidade.
Com alguns produtos de assepsia se
produzem rachaduras pela liberação de
tensões internas induzidas que provocam
falhas na superfície e matriz (cracking)
Baixa rigidez, o que permite problemas de
flexão.
Parâmetros físicos afetados pela idade da
lente, o ambiente, os produtos de assepsia e
a tensão dos estojos.
FLUOROACRILATO DE
SILICONE (FAS) VANTAGENS DESVANTAGENS
Como solução aos problemas de depósitos e
deteriorização por rompimento ou rachadura nas
lentes de Acrilato de Silicone o Flúor foi
incorporado a estes polímeros.O Flúor evita em
boa parte os depósitos de proteína e gordura
que com tanta facilidade se acumulavam nas
lentes de Acrilato de Silicone.
O resultado foi favorável embora com este
material não tenha sido possível reduzir o
problema da resistência à flexão e
estabilidade dimensional. Contudo, ao
diminuir a aderência de depósitos este
material trouxe mais conforto para os
usuários.
FLUOCARBONADOS (F)
VANTAGENS DESVANTAGENS
Tem grande permeabilidade, maior que 100. Pouca ou nenhuma resistência à flexão.
Má estabilidade dimensional.
Impossibilidade de modificações (retoques)
Custo elevado da matéria prima.
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9.3- CARACTERÍSTICAS DAS LENTES
HIDROFÍLICAS SEGUNDO O SEU
MATERIAL
As lentes de contato hidrofílicas
foram classificadas segundo o seu conteúdo
aquoso e sua ionicidade em:
GRUPO
I
Baixo conteúdo
aquoso  50 %
de conteúdo
aquoso
NÃO IÔNICOS
GRUPO
II
Alto conteúdo
aquoso  50 %
de conteúdo
aquoso
NÃO IÔNICOS
GRUPO
III
Baixo conteúdo
aquoso  50 %
de conteúdo
aquoso
IÔNICOS
GRUPO
IV
Alto conteúdo
aquoso  50 %
de conteúdo
aquoso
IÔNICOS
*As características de Ionicidade e Conteúdo
aquoso darão as vantagens e desvantagens
da lente.
9.3.1- LENTES DE CONTATO
HIDROFÍLICAS DE ALTO CONTEÚDO
AQUOSO
- VANTAGENS:
•
•
•
• Alto DK: maior permeabilidade, logo
maior aporte de oxigênio para a córnea.
•
•
•
• Maior flexibilidade.
•
•
•
• Fácil restauração da forma da lente após
sua deformação.
- DESVANTAGENS:
•
•
•
• Fragilidade: ao aumentar o conteúdo
aquoso, eles ficam fisicamente menos
resistentes.Por esta razão quebras e
rasgo são freqüentes. O adaptador deve
ter certa cautela em casos de miopia
baixa ou paciente com pouca destreza
manual.
•
•
•
• As lentes de alto conteúdo aquoso
tendem a se desidratar mais
rapidamente em ambientes com vento ou
baixa umidade.
•
•
•
• Para lentes com poderes dióptricos
acima de + /- 4,00 (mais grossas) um
conteúdo aquoso baixo ( 40 %) não
deve ser utilizado devido à reduzida
transmissão de oxigênio. Nestes casos,
um conteúdo médio de água (40 – 60 %)
ou alto ( 60 %) é sempre necessário
para melhorar a transmissão de oxigênio
através da lente mais espessa.
•
•
•
• As lentes de alto conteúdo aquoso têm
maior predisposição para a formação de
depósitos, devido ao maior tamanho de
seus poros.Freqüentemente este dado
combinado com sua química iônica
aumenta a entrada de material estranho,
inclusive às proteínas da lágrima.
•
•
•
• Maior suscetibilidade ao meio ambiente
especialmente a mudanças de pH.
•
•
•
• Baixo índice de refração.
•
•
•
• Menor estabilidade nos parâmetros, logo
sua reprodutibilidade é baixa.
•
•
•
• Não se recomenda desinfecção térmica.
•
•
•
• Não podem ser fabricadas com uma
espessura muito baixa.
10 - FABRICAÇÃO DE LENTES DE
CONTATO
As lentes de contato podem ser fabricadas
por meio de três técnicas:
- Moldagem
- Torneamento
- Centrifugação
10.1- MOLDAGEM
O primeiro passo na moldagem é
fazer o molde com que à lente será feita.
Cada desenho de lente (curva base, poder
dióptrico, diâmetro, etc) requer um molde
diferente.
O polímero líquido é colocado dentro
da metade côncava do molde plástico.A parte
convexa do molde é então anexada e o
material é polimerizado com luz ultravioleta.
Após a remoção do molde a lente se hidrata.
1) Polimetil metacrilato (PMMA)
2) Acetil Butirato de Celulose
(CAB)
3) Acrilato de Silicone (AS)
4) Fluoroacrilato de Silicone
(FAZ)
5) Fluorocarbonados (F)
6) T-Butil Estireno
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  • 1. ÍNDICE CAPITULO I------------------------------------------4 1- ANATOMIA E FISIOLOGIA DA CÓRNEA 4 1.1- ANATOMIA DA CÓRNEA -------------------4 FIG.1: CAMADAS DA CÓRNEA----------------4 1.2- FISIOLOGIA CORNEANA----------------- 12 1.3- A CÓRNEA NAS ENFERMIDADES ---- 16 2- PELÍCULA LACRIMAL-----------------------17 2.1- MECANISMO SECRETOR DA PELÍCULA LACRIMAL --------------------------- 18 3 - HISTÓRIA DAS LENTES DE CONTATO --------------------------------------------------------18 3.1- LENTES HIDROFÍLICAS ------------------ 19 3.2 - LENTES RÍGIDAS GÁS PERMEÁVEIS ---------------------------------------------------------- 19 3.3- OUTRAS DESCOBERTAS --------------- 19 4- LEGISLAÇÃO DA CONTATOLOGIA ----20 5- ÉTICA DO CONTÁTOLOGO---------------23 6 - CARACTERÍSTICAS IDEAIS DE UM MATERIAL PARA LENTES DE CONTATO24 6.1- REQUISITOS DE BIOCOMPATIBILIDADE PARA OS MATERIAIS DE LENTES DE CONTATO --- 24 7 - PROPRIEDADES DOS MATERIAIS DAS LENTES DE CONTATO ------------------------24 7.1- TRANSPARÊNCIA -------------------------- 24 7.2- DUREZA---------------------------------------- 25 7.3- FORÇA DE TENSÃO ----------------------- 25 7.4- MÓDULO DE ELASTICIDADE----------- 25 7.5- DENSIDADE ---------------------------------- 25 7.6- ÍNDICE DE REFRAÇÃO ------------------- 25 7.7- UMECTABILIDADE ------------------------- 25 8 - PROPRIEDADES DAS LENTES DE CONTATO------------------------------------------25 8.1- CONTEÚDO AQUOSO -------------------- 25 8.2- CARGA IÔNICA------------------------------ 25 8.3- TRANSMISSÃO DE OXIGÊNIO--------- 25 9 - MATERIAIS PARA LENTES DE CONTATO------------------------------------------27 9.1- POLIMERIZAÇÃO--------------------------- 27 9.2- CARACTERÍSTICAS DAS LENTES RÍGIDAS SEGUNDO O SEU MATERIAL --- 27 9.3- CARACTERÍSTICAS DAS LENTES HIDROFÍLICAS SEGUNDO O SEU MATERIAL -------------------------------------------29 10 - FABRICAÇÃO DE LENTES DE CONTATO------------------------------------------29 10.1- MOLDAGEM---------------------------------29 10.2- TORNEAMENTO---------------------------30 10.3- CENTRIFUGAÇÃO (SPIN CASTING) 31 11 - FATORES A SEREM CONSIDERADOS NA SELEÇÃO DE UM PACIENTE PARA A ADAPTAÇÃO DE LENTES DE CONTATO 31 12 - PROVAS E MEDIDAS QUE DEVEM SER INCLUÍDAS NO EXAME PRELIMINAR PARA LENTES DE CONTATO ---------------31 12.1- EXAME DO SEGMENTO ANTERIOR DO OLHO --------------------------------------------31 12.2 - MEDIÇÕES NECESSÁRIAS PARA ADAPTAR LENTES DE CONTATO-----------32 13 - CANDIDATOS PARA LENTES DE CONTATO RÍGIDAS GÁS PERMEÁVEIS -35 14- TERMINOLOGIA E CARACTERÍSTICAS DAS LENTES DE CONTATO ----------------- 35 14-1- PARÂMETROS DAS LENTES DE CONTATO -------------------------------------------35 15- ASTIGMATISMO RESIDUAL ------------ 39 16- SELEÇÃO DOS PARÂMETROS DA LENTE DE PROVA - RGP --------------------40 16.1- DIÂMETRO TOTAL DA LENTE :-------40 16.2- PODER DIÓPTRICO DA LENTE POSITIVO-NEGATIVA ---------------------------40 16.3- PODER DIÓPTRICO ----------------------40 16.3- RZOP: CURVA BASE ---------------------40 16.4- ESPESSURA --------------------------------40 16.5- PERMEABILIDADE - MATERIAL DA LENTE-------------------------------------------------41 17- PRINCÍPIOS BÁSICOS DA ADAPTAÇÃO--------------------------------------41 18- ADAPTAÇÃO DE LENTES ASFÉRICAS --------------------------------------------------------42 19- ADAPTAÇÃO DE LENTES TÓRICAS - 42 20- LENTES DE CONTATO DE CURVAS INVERTIDAS --------------------------------------42 21- VERIFICAÇÃO DOS PARÂMETROS DE LENTES DE CONTATO RÍGIDAS ----------- 42 21.1 ADAPTAÇÃO DA LENTE DE PROVA-43 21.2- REMOÇÃO DA LENTE -------------------46 21.3- HORÁRIO DE USO ------------------------47
  • 2. Curso de Contatologia Colégio nacional de Óptica e Optometria 2 21.4- VISITAS DE CONTROLE---------------- 47 22- LENTES HIDROFÍLICAS------------------48 22.1- COLORAÇÕES----------------------------- 49 22.2- ADAPTAÇÃO DE LENTES DE CONTATO HIDROFÍLICAS--------------------- 49 - CURVA BASE -----------------------------------49 - DIÂMETRO DA LENTE -----------------------49 22.3- AVALIAÇÃO DA LENTE EM BIOMICROSCOPIA------------------------------- 51 22.4- HORÁRIO DE USO------------------------ 51 22.5- SINTOMAS DE ADAPTAÇÃO COM LENTES DE CONTATO HIDROFÍLICAS --- 52 23- LENTES HIDROFÍLICAS TÓRICAS----52 23.1- DESENHOS --------------------------------- 52 23.2- PRISMA--------------------------------------- 52 23.2- ADAPTAÇÃO DA LENTE DE PROVA 54 24- ADAPTAÇÃO EM PÓS CIRURGICOS REFRATIVOS -------------------------------------54 24.1- OBJETIVO ----------------------------------- 54 24.2- INTERPRETAÇÂO ------------------------ 54 24.3- FORMA --------------------------------------- 54 24.4- LEITURA – ----------------------------------- 54 25- MICROBIOLOGIA DOS FUNGOS ------55 25.1- ESTRUTURA DA CÉLULA FÚNGICA 55 25.2- MORFOLOGIA E REPRODUÇÃO ---- 56 25.3- NUTRIÇÃO CRESCIMENTO E METABOLISMO------------------------------------ 56 26- MICROBIOLOGIA DOS VÍRUS----------56 26.1- MORFOLOGIA E ESTRUTURA DA CÉLULA BACTERIANA: ----------------------------------------- 57 27- SISTEMAS DE MANUTENÇÃO ---------59 27.1- PH SISTEMAS DE MANUTENÇÃO--- 59 27.2- ESCOLHA DO SISTEMA DE ANTI- SEPSIA ADEQUADO----------------------------- 60 BIBLIOGRAFIA -----------------------------------60
  • 3. Curso de Contatologia Colégio nacional de Óptica e Optometria 3 APRESENTAÇÃO O estudo da Contatologia apresenta-se hoje como um dos campos de maior desenvolvimento na área da óptica oftálmica. A tentativa de compensar as dificuldades visuais com lentes de contato é um desafio das industrias que tentam substituir os óculos pelas lentes de contato. As técnicas de adaptação e a geometria das lentes de contato estão mudando em uma velocidade inacreditável. Lentes para longe, para perto, esféricas, tóricas, geometria inversa, bifocais, progressivas. Enfim, tal evolução nos obriga a um estudo constante para podermos acompanhar a evolução da óptica dessas lentes. Esta apostila está centralizada em conteúdos considerados mínimos obrigatórios para a adaptação de todos os tipos de lentes existentes atualmente no mercado. Colocado de uma forma clara, o aluno terá a possibilidade de realizar um estudo simples e completo no campo da contatologia. Serão abordados temas básicos assim como temas que provocam discussões na prática da adaptação de lentes de contato. Com a participação de profissionais com muita experiência prática, este material proporcionará ao aluno conhecimentos de grande valia para o seu exercício profissional. Lembre-se: o sucesso profissional é alcançado mediante esforços individuais visando acima de tudo a coletividade. ELABORAÇÃO: Nora Leon – Especialista em Optometria da Universidade de San Martin – Colômbia. COLABORADORES: Rosélia Vilarins – Contactóloga Ana Rita Freitas – Técnica em Óptica e Optometria. Danny Carvalho Magalhães – Bacharel em Optometria. João Cunha – Técnico em Óptica e Optometria. Margareth Vilarins – Contactóloga Juan Bretas – Técnico em Óptica e Optometria. Aurez Muniz – Técnica em Óptica e Optometria. Sedna Maria Ferreira – Técnica em Óptica e Optometria.
  • 4. Curso de Contatologia Colégio nacional de Óptica e Optometria 4 CAPITULO I 1- ANATOMIA E FISIOLOGIA DA CÓRNEA A córnea é um tecido transparente, que constitui o principal componente óptico do olho. A produção de uma imagem nítida nos receptores da retina requer que a córnea seja transparente e que tenha o poder refrativo apropriado. O poder de refração da córnea depende de sua curvatura e de seu índice de refração. O raio da superfície anterior da córnea é, em média, 7.8mm na região central. Esta medida pode variar, oscilando entre 7.0 e 8.5 mm sem alterar a boa função visual. Em condições patológicas, estes limites se ampliam ainda mais. O índice de refração da córnea é de 1.376 ignorando o filme lacrimal, o que dá a região central anterior um poder de refração de 48.8 di . A superfície posterior côncava da córnea está em contato com o humor aquoso, que tem um índice de refração menor (1.336) de modo que o poder de refração desta superfície é de 5.8 di , produzindo um poder total de refração de 43.00 di , ou seja, aproximadamente 70 % do poder de refração do olho. A superfície anterior da córnea é mais curva na parte central e um pouco aplanada na parte periférica, dando a córnea uma forma de hipérbole. A área central da córnea, de 3 a 4 mm, é quase esférica. A curvatura da córnea muda com o passar dos anos. É mais esférica na infância e adquire um astigmatismo a favor da regra durante a infância e adolescência. A córnea tem um raio de curvatura menor, é mais altamente refrativa no meridiano vertical que no horizontal. Esta regra é exata em 90 % dos casos. Ela volta a ser mais esférica na idade média e passa a apresentar um astigmatismo contra a regra na velhice. A espessura corneana também aumenta um pouco com a idade. A espessura é de 0.55 mm nas pessoas menores de 25 anos, logo aumenta lentamente com a idade até alcançar 0.57 mm em pessoas maiores de 65 anos. A espessura periférica média é de 0.67 mm. Nas pessoas míopes com um defeito superior a 5.00 di a espessura central da córnea é de 0.52 a 0.53 mm. A hipermetropia não afeta a espessura corneana . A espessura da córnea é maior após o sono e diminui um pouco quando os olhos estão abertos e expostos ao efeito ressecante do ar. A temperatura da córnea é relativamente baixa. No coelho, por exemplo, a temperatura da córnea e a da íris alcança 5 o . centígrados. A profundidade sagital da córnea é de 2.6 mm com variações dependendo do raio da curvatura corneana. OUTRAS MEDIDAS: Diâmetro horizontal visível da íris (DHVI) .................11.7 mm Diâmetro vertical visível da íris (DVVI) ......................10.6 mm 1.1- ANATOMIA DA CÓRNEA Até pouco tempo, acreditava-se que a córnea era composta por cinco camadas : Epitélio, Membrana de Bowman , Estroma, Membrana de Descemet e Endotélio . Atualmente se reconhece a existência de uma Membrana Basal delgada que se estende sob o Epitélio. FIG.1: CAMADAS DA CÓRNEA A: Epitélio b:Camada de Bowman c:Estroma d:Camada de Descemet
  • 5. Curso de Contatologia Colégio nacional de Óptica e Optometria 5 E:Endotélio 1.1.1- EPITÉLIO A existência do Epitélio Corneano foi reportada pela primeira vez por Van Leeeuwenhock (1693-1718).As células do epitélio corneano formam uma linha de defesa para todo usuário de lentes de contato. A córnea começa a sua formação durante a quinta semana de gestação. O estroma corneano, que é de origem mesodérmica, em sua fase inicial é coberto anteriormente por duas camadas de células do ectoderma.Estas camadas se diferenciam para formar o epitélio corneano. Aos três meses, as fibras nervosas começam a aparecer entre as células epiteliais. O epitélio corneano é continuação do epitélio conjuntival, o qual por sua vez é continuação da epiderme da pele. O limite interno do epitélio está formado por uma membrana basal, que também é sintetizada. Externamente, a atmosfera está separada do epitélio pelo filme pré- corneal.Fora da espessura periférica e até a região limbar , o epitélio tem uma estrutura multicelular marcadamente uniforme de 50 a 60 micras de espessura. Considera-se então que o epitélio ocupa aproximadamente 10 % da espessura corneana. Fig.2:EPITÉLIO E CAMADA DE BOWMAN Fig.3:MEMBRANA DE DESCEMET E . ENDOTÉLIO O epitélio é formado por cinco a seis camadas de células do tipo estratificado. O epitélio corneano pode ser observado em biomicroscopia em secção óptica ou paralelepípedo.Ele é visto como uma linha delgada sendo a diferenciação entre as lágrimas e o epitélio corneano mais evidenciada com a aplicação de fluoresceína e o filtro azul cobalto.Quando há alguma interrupção do epitélio se observa uma variação da espessura da película lacrimal, observando-se o tingimento das células lesadas. É importante que o contatólogo examine o epitélio dos pacientes usuários de lentes de contato, já que as primeiras reações corneanas adversas em usuários de lentes se manifestam no epitélio. A- FUNÇÕES DO EPITÉLIO - PROTEÇÃO FÍSICA O epitélio é a estrutura corneana mais externa e tem que proteger as delicadas estruturas internas, as quais, quando lesadas, não podem se reproduzir. O epitélio não somente oferece resistência aos corpos estranhos como objetos voadores ou lentes de contato como também resiste à fricção continua do piscar ou os rigores do ato de esfregar os olhos.O epitélio tem uma natureza altamente elástica a danos físicos significantes. Adicionalmente o epitélio possui uma excelente reprodutibilidade. Então quando sofre um trauma, se recupera rapidamente. Esta recuperação acontece primeiro por uma migração das células existentes que cobrem a área lesada e em seguida por uma reprodução acelerada para substituir as células perdidas. - ÓPTICA O Índice de refração varia, segundo as pesquisas, entre 1.375 e 1.543. A córnea, como foi mencionada previamente, é responsável pela maior quantidade de poder refrativo do olho e o epitélio tem que manter sua uniformidade para proporcionar uma superfície óptica perfeita. Além disto, o epitélio deve manter-se transparente. Quando há problemas com a transparência desta camada corneana, a
  • 6. Curso de Contatologia Colégio nacional de Óptica e Optometria 6 função óptica pode ser afetada. Esta condição é conhecida como Véu de Sattler. - ESTABILIZAÇÃO LACRIMAL Há uma interação entre as lágrimas e a córnea. Esta relação é parcialmente a causa do rompimento da lágrima. É certo que a córnea não traumatizada parece manter intacto o filme corneano por um período de tempo mais longo que a córnea com defeito epitelial. Pode ser que o micro vilosidades ao longo da superfície corneana tenha um efeito reconstrutivo sobre as lágrimas, promovendo sua estabilidade.Esta possível função do micro vilosidades ainda deve ser estabelecida. - BARREIRA CONTRA OS FLUÍDOS Muitas úlceras corneanas que aparecem na superfície perda de células epiteliais superficiais permitindo a entrada de microorganismos na córnea. Sabe-se que uma córnea intacta é impenetrável a quase todos os microorganismos. O rompimento da barreira a fluidos também abre a porta para a entrada ou saída de água do tecido. B- MICRO E ULTRA-ESTRUTURA O epitélio corneano é formado por cinco a seis camadas de células. Nele há três tipos de células diferenciadas. Estas células são denominadas basais, aladas e escamosas. As células basais são as mais internas e formam uma simples camada de células colunares. Esta camada forma aproximadamente de 25 a 35 por cento do total da espessura corneana.A face interna plana das células basais está unida à membrana basal. A relação anatômica entre a membrana basal e o epitélio ajuda a que em toda a largura da córnea o epitélio possa realizar sua função protetora. Externamente a membrana basal tem de duas a três camadas de células aladas .As células escamosas , também chamadas superficiais , formam de duas a três camadas de células , aplanando-se à medida que são mais superficiais . As células epiteliais normalmente começam sua vida ao longo da membrana basal, em meio às células basais . Daí tem de migrar até a superfície onde completarão seu ciclo de vida para terminar nas lágrimas .Os três tipos de células epiteliais corneanas são realmente a mesma célula em diferentes estágios de seu ciclo de vida . As células epiteliais mudam à medida que envelhecem e a mudança é mais óbvia no seu progressivo aplanamento à medida que alcançam à superfície corneana . Temos que levar em conta a natureza dinâmica do epitélio quando se tratam de entender certas características desta camada. Por exemplo, a constante remoção de células epiteliais provavelmente explique melhor porque é rara a subida dos axônios encontrados no epitélio.Aqui eles preferem mover-se entre as células, enquanto nas células basais os axônios se movem estreitamente dentro da parede celular. 1.1.2- CÉLULAS BASAIS E MEMBRANA BASAL A camada de células basais é metabolicamente mais ativa. É somente nela que se produz à síntese de novas células, o que não ocorre em nenhuma outra camada do epitélio. É lógico então pensar que estas células possuíram um aparato de Golgi, mitocôndrias, vesículas e reservas de glicogênio maior que as demais. As células basais são células colunares altas, medindo aproximadamente 18 micras de altura e 10 micras de largura. Exceto pela sua parte interna plana, o contorno das células basais mostra numerosas interdigitações superficiais, que unem células vizinhas. Seu núcleo é esférico e um pouco deslocado anteriormente. As células basais formam numerosos contactos desmosomais com suas vizinhas ao longo das paredes anterior e lateral. As células epiteliais estão unidas umas às outras por suas interdigitações, pelos desmossomas e pelas zonulas ocludens . Os desmossomas são pontos de união entre as células, aonde as membranas celulares se tornam mais grossas e muitas fibrilas se unem. O grande número de desmossomos, junto com o entrelaçamento apertado de conjuntos celulares, faz com que o epitélio seja resistente à desintegração. As zônulas foram identificadas por Liegel. São compostas da fusão de proteínas externas da membrana das células adjacentes. Esta fusão ocludens do espaço intercelular, que tem normalmente de 10 a 20 mm e pode ser contínuo, ao redor de toda a célula.
  • 7. Curso de Contatologia Colégio nacional de Óptica e Optometria 7 A zônula ocludens determina o grau de permeabilidade do epitélio corneano à água, substâncias solúveis e drogas. A fixação do epitélio ao longo da membrana basal é devido a um grande número de hemidesmosomas, os quais não estão sempre distribuídos de forma uniforme, mas aparecem algumas vezes em pequenos grupos. A fixação normalmente é muito forte. O hemidesmosoma é a metade de um desmossoma, e é uma metade simples porque não há uma célula oposta ao longo de sua face. Isto não parece ter nenhum efeito negativo na união entre a célula e a membrana basal. Já foi demonstrado que um ponto débil no epitélio para romper forças após uma lesão está exatamente nas células epiteliais basais. Quando as forças alcançam um nível destrutivo, as células basais se rompem entre o seu núcleo e o seu plasma interno, então a massa das células basais, junto com células aderidas é removida inteiramente da córnea em um trecho. A membrana basal, que está muito unida, só estará aderida levemente em uma córnea anormal e neste caso se desprenderá junto com o epitélio. A córnea de uma pessoa com diabetes é um exemplo no qual a membrana basal se separa com o epitélio da córnea restante em uma eventual lesão. Normalmente, porém, um trauma severo não vai remover a membrana basal. Isto é um fato importante, já que se o estroma anterior estiver envolvido permite a sua cicatrização . Devido à presença da membrana basal, a reepitelização é facilitada. A membrana basal é simples em sua estrutura, como qualquer outra lâmina basal no corpo.É uma membrana uniforme e delgada (0.05 micras).Está separada do epitélio por um espaço de 0.01 a 0.02 micras. A membrana é plana e mostra apenas umas ondulações mínimas. Na região periférica o epitélio e sua membrana basal se tornam progressivamente menos planos e mais ondulados. É importante ressaltarmos, que esta descrição da morfologia da membrana basal se aplica unicamente à córnea jovem. À medida que o epitélio sintetiza continuamente material da membrana basal, não é surpreendente que ela se torne mais grossa com a idade. 1.1.3- MEMBRANA DE BOWMAN A membrana de Bowman é uma lâmina de tecido transparente de aproximadamente 12 micras de espessura. Observada ao microscópio eletrônico, aparece constituída de fibrilas uniformes, provavelmente de material colágeno, que correm paralelas à superfície. A membrana de Bowman é acelular. É uma camada de estroma superficial modificado, encontrada somente entre os primatas. É altamente resistente a lesões, pressão e infecção. Diferentemente do epitélio (e da membrana de Descemet), a membrana de Bowman não se regenera quando lesada, mas é substituída por uma cicatriz permanente ou opacidade , donde a importância de prevenir qualquer complicação causada por lentes de contato que trespasse o epitélio. 1.1.4- ESTROMA O estroma compreende 90 % da espessura corneana. É composta por camadas de lamelas, cada uma das quais se estende por toda a extensão da córnea. Embora os haces se entrelacem, são mais ou menos paralelas à superfície de limbo a limbo. Em condições normais, o estroma corneano possui cerca de 715 de colágeno tipo I , embora também encontremos outros tipos como o III , V , VI . Existe de 100 a 200 lamelas, que variam numa espessura entre 1.3 a 2.5 micras. A estrutura laminar do estroma facilita tecnicamente as incisões na córnea. Os corpos celulares, denominados corpúsculos corneais, queratócitos ou fibroblastos corneanos são células delgadas e planas de 10µm de diâmetro, com largos processos, que permitem conectar um queratócito a outro.Seus complexos de união são: mácula ocludens e os hemidesmosomas. As células se caracterizam por possuir retículo endoplasmático granular. Este ordenamento das fibras proporciona uniformidade óptica à córnea. Também se encontram glucosaminoglicanos (Gags ou MPS) muito hidrofílicos , responsáveis pela exatitude do espaço entre as fibrilas .
  • 8. Curso de Contatologia Colégio nacional de Óptica e Optometria 8 1.1.5- MEMBRANA DE DESCEMET A membrana de Descemet (lâmina posterior elástica) é forte, com 10 a 15 micras de espessura. A membrana de Descemet é produzida pelas células do endotélio corneano. Sua espessura vai aumentando ao longo da vida. Compõe-se de colágeno tipo IV. Sua função fundamental é a de dar suporte e adesão às células do endotélio. Outra característica da membrana de Descemet é sua extraordinária resistência. Na realidade trata-se da parte mais resistente da córnea, já que em caso de destruição do epitélio e estroma, se encarrega da formação da desmatocele. 1.1.6- ENDOTÉLIO CORNEANO A camada mais interna da córnea, o endotélio, consiste de uma camada simples de células hexagonais. As células estão unidas debilmente à membrana de Descemet por hemidesmosomas e umas às outras por interterdigitação, desmossomas e zônulas ocludens próximo à câmara anterior. Ao contrário do Epitélio, as células endoteliais não se regeneram.Quando há alguma lesão às células podem alcançar o dobro do seu tamanho normal. A densidade das células endoteliais diminui com a idade, como resultado de trauma na cirurgia de catarata, transplante de córnea e implante de lente intraocular. O aspecto morfológico das células do endotélio corneano normal se caracteriza por um mosaico de células com um tamanho médio de 332 mm (equivalente a uma densidade celular de 3.012 células /mm2) , um coeficiente de variação (desvio típico/médio) de 0,26 e uma percentagem de células hexagonais de 71 % . Com a idade, a densidade celular aumenta em 0,6 % ao ano , o coeficiente de variação aumenta e a percentagem de células hexagonais diminui. Fig.4: MOSAICO ENDOTELIAL As células do endotélio corneano funcionam para manter a hidratação corneana formando uma barreira para a passagem de água e solutos para o estroma. Sua ação também é bombear para fora do estroma soluto, junto com a água que segue passivamente segundo os gradientes osmóticos locais.Este mecanismo de bombeia-barreira pode ser medido segundo critérios clínicos. Uma medida mais sensível, porém mais difícil, da função endotelial é a taxa de “desedematização” da córnea do estado de edema induzido por duas horas de uso de uma lente hidrofílica espessa com o olho fechado.A taxa da saída da condição de edema , expressada como a percentagem de recuperação por hora (PRPH) é em média de 63% em adultos normais e diminui com a idade . A função de barreira ou de bombeio é avaliada a partir da permeabilidade endotelial a fluoresceína , que é de 4’0 x 104 cm/min e aumenta um pouco com a idade . Podemos estimar a taxa relativa de bombeio endotelial (com respeito à normal) a partir das medidas obtidas para a taxa de saída do edema e a permeabilidade. Estes dados mudam muito pouco com a idade. A - ALTERAÇÕES MORFOLÓGICAS DO ENDOTÉLIO COM O USO DE LENTES DE CONTATO As primeiras alterações que se observam no endotélio corneano quando o olho usa uma LC são ampolas ou bolhas endoteliais, descritas originalmente por Zantos e Holden. Esta reação do endotélio se produz aproximadamente em 80% dos novos usuários de lentes de contato e não é encontrada em usuários adaptados. As pequenas áreas escuras que se observam por reflexão especular são
  • 9. Curso de Contatologia Colégio nacional de Óptica e Optometria 9 edemas localizados das células endoteliais, com avultamento das membranas celulares posteriores. As ampolas aparecem após 10 minutos da colocação da lente, alcançam seu tamanho máximo ao fim de uns 30 minutos e vão desaparecendo se mantivermos a lente adaptada. Também desaparecem rapidamente após a retirada da lente. Alterações morfológicas do endotélio corneano: Ampolas: de forma transitória no início do uso ; Polimegatismo:diversidade de morfologia celular (superfície celular / média); Pleomorfismo: diversidade de morfologia celular (% de células hexagonais). Embora a reação esteja bem documentada, não se tem observado que as ampolas causem transtornos permanentes às células endoteliais ou a sua capacidade funcional. Acredita-se que as ampolas sejam os resultados da acidose corneana ligada a hipóxia . São produzidas tanto com lentes rígidas como com hidrofílicas, mas raras vezes com lentes de silicone, que são muito permeáveis ao oxigênio. São mais acentuadas com lentes de baixa transmissibilidade ao oxigênio. A reação endotelial é menor em olhos afásicos e também pode ser observado pela manhã, após os olhos estarem fechados por toda à noite, depois da córnea ter sido exposta à falta de oxigênio ou exposta a excesso de anidrido de carbono. Uma segunda alteração que se produz no endotélio corneano dos portadores de LC é o desenvolvimento das anomalias morfométricas, o polimegatismo e o pleomorfismo. Foram observadas pela primeira vez em 1981, são visíveis em fotografias endoteliais ou em imagens de vídeo feito com o microscópio especular e se quantificam medindo as células individualmente nas referidas imagens. O polimegatismo é o aumento na diversidade de tamanhos das células, medido pela elevação do coeficiente de variação (desvio típico/média) da superfície celular. A palavra deriva dos radicais gregos “poli” = muitos e “megatismo” = tamanho. O pleomorfismo é o aumento da diversidade das formas das células , medida pela diminuição da percentagem de células hexagonais (e o conseqüente aumento das hexagonais) . Estas anomalias se observam nos três primeiros meses de uso diário de lentes de contato e parecem aumentar à medida que aumenta o tempo de uso. Foram descritas com lentes de polimetil metacrilato – PMMA, com hidrofílicas , com rígidas permeáveis aos gases – RGP de uso diário, bem como com lentes de hidrogel de uso prolongado. Estão ausentes em usuários de lentes de silicone permeáveis ao oxigênio. Foi observado que a gravidade das alterações diminui levemente 15 meses após a substituição das lentes de PMMA por lentes RGP. Dados comprovam que o polimegatismo e o pleomorfismo induzidos pelo uso de LC se mantêm ao menos durante 5 anos após se haver deixado de utilizar as lentes. Acredita-se que ambas as alterações se devam a hipóxia corneana crônica induzida pelo uso de LC. Este mecanismo causal é compatível com a ausência de anomalias que são observadas no caso das lentes de silicone e com a correlação inversa com a transmissibilidade para o oxigênio citada mais acima. Provavelmente as alterações se devem a hipóxia das células endoteliais , que provoca uma maior produção de lactato e da conseqüente acidose do estroma corneano . Os hexágonos regulares representam à configuração mais estável para uma monocamada de células. O polimegatismo e pleomorfismo se dão em diversos processos nos quais as células endoteliais estão lesadas ou desestabilizadas de alguma forma, como ocorre depois da extração da catarata , após ceratoplastia penetrante , nos soldadores que utilizam o arco voltaico ou em pacientes com diabetes. Em um exame histopatológico do endotélio de 3 córneas humanas de portadores de LC, Bergmanson observou que os espaços intercelulares e as faces laterais das células eram mais inclinados e oblíquos que o normal. Considerando que os contornos das células endoteliais que se observam por reflexão especular representam as uniões intercelulares na superfície posterior do endotélio, onde se constitui a interfase com o humor aquoso e a diferença entre índices de refração é máxima, a reorientação oblíqua das faces laterais das células significa que é possível
  • 10. Curso de Contatologia Colégio nacional de Óptica e Optometria 10 que o volume das células não varie muito de umas para outras. Existe uma terceira alteração morfológica no endotélio corneano que pode se produzir nos usuários de lentes de contato, mas este fato não foi seguramente comprovado. Consiste na disparidade entre a densidade de células do centro da córnea e a da periferia. Dois estudos mostraram que, em usuários de lentes de contato, esta densidade é menores na zona central que na periferia. Em outras duas pesquisas, estas diferenças entre portadores de lentes de contato e controles não foram observadas. Nenhum dos dois grupos mostrava disparidade entre a densidade celular da zona central e a da periferia.Talvez as alterações observadas nos dois primeiros estudos afetassem pacientes que usavam lentes menos permeáveis ao oxigênio durante mais horas que nos dois últimos. Quando se suspende o uso de lentes de contato trás a ceratetctomia fotorrefrativa, desaparece a disparidade centro-periferia, com aumento aparente da densidade de células centrais e diminuição da densidade de células periféricas. Por conseguinte, é possível que este aumento relativo da densidade das células centrais, de aproximadamente 7% , mascare uma verdadeira perda celular pela lesão do laser nos casos em que se aplica a energia do laser perto do endotélio, como ocorre na queratomileusi in situ assistida pelo laser (LASIK). Partindo das alterações morfométricas evidentes observadas nas células do endotélio corneano dos portadores de lentes de contato e que acabamos de descrever, cabe esperar uma menor densidade celular na zona central. Estudos de excelente qualidade não conseguiram determinar claramente que os usuários veteranos de LC tenham uma densidade de células endoteliais menores que os controles de idades comparáveis e um estudo mostrou aumento da mesma. Assim, é possível que córneas que de algum modo são anormais, sendo assim mais sensíveis ao stress endotelial causado pelo uso de LC, mostre perda de células endoteliais centrais, o que explicaria os informes isolados de casos de portadores de lentes com baixas densidades de células endoteliais. Em uma investigação específica sobre o uso de LC em córneas com endotélio anormal (pacientes submetidos a ceratoplastia por ceratocone), não se observaram diferenças de densidade celular entre 15 enxertos que usaram LC durante 10 anos e 19 enxertos com a mesma antiguidade que não usaram lentes. Portanto parece não haver provas de que o uso de LC durante período prolongado cause perda de células endoteliais. Por fim, embora o uso de LC cause polimegatismo e pleomorfismo no endotélio corneano, não parece provocar diminuição da densidade de células endoteliais. B - ALTERAÇÕES FUNCIONAIS DO ENDOTÉLIO CORNEANO COM O USO DE LC A função mais importante do endotélio corneano é o controle da hidratação para manter normal a espessura da córnea. A maioria dos estudos sobre os portadores de LC mostra que a espessura corneana ou não se modifica ou o faz ligeiramente, em cerca de 23 %. Desta forma, após suspender o uso da lente, a espessura diminui perto de uns 2% ao longo de vários dias. Assim é provável que o edema induzido durante o uso da lente, mascare a diminuição, em longo prazo, da espessura do estroma. Sem dúvida, tal diminuição representa provavelmente uma alteração do estroma corneano e de sua pressão de edematização induzidas pela acidose crônica e não um transtorno da função do endotélio. Conforme foi descrito anteriormente, o endotélio corneano controla a espessura corneana mediante um mecanismo de bombeio-barreira que mantêm tanto uma barreira frente à entrada de solutos e líquidos na córnea como uma bomba para extraírem solutos e líquidos para fora dela. Se aceita que a permeabilidade do endotélio a fluoresceína é proporcional à passagem desta ao interior da córnea e se emprega como uma medida da função de barreira. É normal nos portadores veteranos de LC. A função de bombeio lacrimal não é afetada pelo uso de LC. Também já foi observado que nestes usuários veteranos a velocidade relativa da bomba endotelial não difere da dos controles de idade comparáveis.Este mesmo estuda
  • 11. Curso de Contatologia Colégio nacional de Óptica e Optometria 11 tão pouco revelou diferenças na taxa de desedematização depois de edema estroma induzido por hipóxia.Mediu-se também, em outro estudo, a taxa de desedematização em portadores veteranos de LC e se observou que estava diminuída. Nesta última investigação não se mediu a permeabilidade endotelial, e assim não foi possível estimar a função de bombeio. Em resumo, não há provas firmes para demonstrar que o uso de LC afete a função do endotélio corneano. C - CONSEQUÊNCIAS CLÍNICAS DOS EFEITOS DO USO DE LC SOBRE O ENDOTÉLIO Embora lentes de contato sejam usadas há muitos anos não tem havido informações a respeito de alterações permanentes da densidade ou do funcionamento das células endoteliais atribuídas com certeza a sua utilização. Holden e Sweeney observaram em três antigos usuários de lentes de PMMA e em um antigo usuário de lentes gelatinosas uma afecção caracterizada por moléstias oculares, diminuição da visão e fotofobia ao utilizar as lentes. Chamaram este quadro clínico de “Síndrome do esgotamento corneano” (corneal exhaustion syndrome). Os sintomas desapareceram ao interromper o uso das lentes ou quando se adaptam outras lentes com maior índice de permeabilidade ao oxigênio.Por esta razão os autores atribuíram a síndrome à disfunção endotelial por hipóxia prolongada e acidose devida ao uso de LC. Como este transtorno é pouco freqüente e não pode ser estudado de forma controlada, existe uma possibilidade definida de que esses sintomas não sejam decorrentes da disfunção endotelial ou, se forem, que os pacientes tenham alterações endoteliais não relacionadas com o uso de LC, o que os torna mais propensos aos efeitos de um uso que é tolerado pelas córneas normais. Não foi demonstrado de forma concludente que o uso de LC durante longos períodos tenha efeitos nocivos sobre o endotélio corneano de pacientes com córneas normais, pelo que se pode assegurar que as lentes não lesionaram as células endoteliais, em especial com as lentes atuais que não tem PMMA na sua composição e têm certa permeabilidade ao oxigênio. É possível que tão pouco os pacientes com córneas que apresentem uma anomalia prévia estejam em situação de risco, porém temos que observá-los mais estreitamente para verificar se ocorre perda de células endoteliais ou se a função endotelial fica afetada. 1.1.7- LIMBO O limbo é a zona de transição, de aproximadamente um milímetro de largura, na qual a córnea se une com a conjuntiva e com a esclera. Difere estruturalmente da córnea e contem vasos e linfáticos, os quais normalmente não são encontrados na córnea. O funcionamento fisiológico da córnea depende do limbo, do qual a córnea recebe parte de seus nutrientes. A região limbar é especialmente significante na adaptação de lentes de contato, por sua vizinhança com a córnea e porque algumas lentes de contato descansam diretamente sobre o limbo. O limbo difere em sua estrutura histológica da córnea porque possui unicamente duas camadas, o estroma e o epitélio. O epitélio do limbo é mais grosso que o da córnea e contem cerca de 10 camadas de células que se projetam até abaixo radialmente. A-INERVAÇÃO A córnea é inervada pelo quinto par craniano, o nervo trigêmeo. Os nervos se dividem dicotomicamente; emergindo das zonas mais profundas da córnea, as fibrilas nervosas perfuram a membrana de Bowman e formam um plexo exatamente abaixo do epitélio. Em seu curso posterior, as terminações livres dos nervos correm entre células epiteliais. A córnea é um dos tecidos mais sensíveis do corpo e esta sensibilidade serve para sua proteção. É extremamente doloroso quando os terminais nervosos estão expostos em úlceras ou abrasões corneanas. Existe também na córnea uma inervação simpática. A função que desempenha este tipo de inervação está muito confusa e; é tema de polêmica; ultimamente tem sido sugerido que está implicada na regulação do transporte
  • 12. Curso de Contatologia Colégio nacional de Óptica e Optometria 12 iônico ou na regulação da divisão celular (mitose), já que uma ativação simpática impede a cicatrização de erosões corneanas. 1.2- FISIOLOGIA CORNEANA 1.2.1- BIOQUÍMICA DA CÓRNEA A composição química da córnea equivale à soma de suas partes, ou seja, o estroma, epitélio, endotélio e a membrana de descemet. O número de células e sua morfologia variam entre estas áreas e isto se reflete nas diferenças químicas. Quimicamente, a córnea é um tecido heterogêneo. A - ESTROMA DA CÓRNEA O estroma é um tecido conectivo diferenciado que contem entre 75 a 80% de conteúdo aquoso, considerando seu peso úmido. Dos sólidos restantes, 20 a 25% , a maior parte é constituída por colágenos, outras proteínas e mucopolissacarídeos ou glucosaminoglicanos. As fibrilas de colágeno formam o esqueleto do estroma corneano.As propriedades fisicoquímicas do colágeno corneano não difere das do colágeno dos tendões e da pele. O colágeno é dissolvido pelas enzimas proteolíticas tais como a colagenose, a pepsina e a papaína. Os mucopolissacarídeos (MPS; glucosaminoglicanos) representam entre 4 a 4,5 % do peso seco da córnea. Os MPS estão localizados no espaço interfibrilar e intersticial provavelmente unido às fibrilas do colágeno ou às proteínas solúveis da córnea. Os MPS localizados no espaço intersticial desempenham uma função na hidratação da córnea através de interações dos eletrólitos e a água.Os MPS atuam como anions e une os cátions como a água. No estroma corneano se encontram três frações principais de MPS: - Queratam –sulfato (50%) - Condroitin-Sulfato A (25%) - Condroitina (25%) Os MPS são degradados por enzimas específicas. A codroitina se encontra exclusivamente na córnea. Em pacientes que padecem de erros inatos do metabolismo dos MPS, conhecido como mucopolissacaridose, os MPS se acumulam na córnea provocando opacidades. A comparação química entre a córnea e a esclerótica demonstra que os MPS estão praticamente ausentes na córnea. É natural então que os MPS tenham sido relacionados com a manutenção da hidratação e da transparência corneanas, já que a esclerótica é opaca e reflete e dispersa a luz em condições normais. B - MEMBRANA DE DESCEMET A membrana de Descemet está constituída por um material semelhante ao colágeno, com um elevado conteúdo de glicínia e hidroxiprolina. Em contraste com o estroma corneano, não possui quantidades significativas de MPS. A membrana de Descemet é muito elástica e representa uma barreira à perfuração nas úlceras profundas da córnea. C - EPITÉLIO CORNEANO Na composição química das células epiteliais: - A água representa cerca de 70 % do peso úmido. - Os sólidos são: ácidos nucléicos ADN (ácido), ARN (ácido). - Lipídios (fosfolipídios e colesterol) nas membranas celulares. - Proteínas. No epitélio acontecem grandes atividades de enzimas de glucólises, ciclo de Krebs e Atpase ativada por Na+K+. Os epitélios contem ATP, glutacion e ácido ascórbico. D - METABOLISMO CORNEANO O termo metabolismo compreende uma série de processos químicos, por meio dos quais se obtém energia que logo se utiliza para manter as funções normais de um tecido. A córnea necessita a energia para manter a transparência e desidratação. A energia em forma de ATP é gerada por meio da degradação da glicose em: - Ácido Láctico ( glucólisis) - CO2 e H2O (Ciclo de Krebs) A córnea obtém glicose principalmente do humor aquoso. As lágrimas e os capilares do limbo aparentemente contribuem com quantidades mínimas de 02 e glicose para o metabolismo da córnea. Quando os olhos estão fechados,
  • 13. Curso de Contatologia Colégio nacional de Óptica e Optometria 13 o O2 provem dos vasos da conjuntiva palpebral. O corpo obtém a energia a partir do metabolismo de carboidratos básicos pela conversão de ADP (Adenosina Fosfato) em ATP (Adenosina Trifosfato). O metabolismo da córnea tem três vias. A mais importante é a do Ciclo de Krebs. Este produz uma grande quantidade de energia (36 moléculas de ATP por cada molécula de glicose) e os produtos secundários obtidos nesta reação são água e dióxido de carbono, os quais se dispersam com facilidade. A segunda é a via anaeróbica de Embden Meyerhof com uma produção baixa de energia (2 moléculas de ATP por molécula de glicose). Os produtos secundários desta reação, como o lactato, não se reciclam. A retenção de lactato quando se reduzem os níveis de oxigênio está fortemente implicada como causa de edema corneano, ao produzir uma alteração no equilíbrio osmótico. A terceira via é a da Pentose, aonde se converte hexose em pentose. Só se produz uma molécula de ATP por cada molécula de Glicose, porém é uma via vital, já que os produtos intermediários são utilizados na síntese dos ácidos nucléicos e lipídios. Esta via pode não estar ativa nos queratócitos estromas. Quando a tensão anterior do oxigênio cai, as duas vias aeróbicas trabalham reduzidas, enquanto a via anaeróbica compensa parcialmente e a produção total de ATP diminui. Assim há uma clara relação entre a concentração de oxigênio e a energia disponível para as funções celulares. A maior parte do oxigênio consumido pela córnea é absorvida pelo epitélio e pelo endotélio. O endotélio da córnea obtém a maior parte do oxigênio pelo humor aquoso, enquanto o epitélio obtém o oxigênio tanto pelos capilares do limbo como o oxigênio dissolvido na película lacrimal. Isto é confirmado por experiências clínicas: quando se utiliza lente de contato ajustada e de diâmetros muito grande durante períodos prolongados, a córnea se edemacia. A glicose pode ser armazenada no epitélio em forma de glicogênio para ser degradado em certas situações de emergência nas qual o tecido necessita de energia adicional, como por exemplo, durante os processos de reparação que sucedem as feridas traumáticas ou cirúrgicas. E - COMPOSIÇÃO ELETROLÍTICA DO ESTROMA E DO EPITÉLIO CORNEANO O estroma da córnea tem uma elevada concentração de íons Na+ , enquanto o epitélio é rico em íons K+ .Os três fluídos que rodeiam a córnea (plasma, humor aquoso e lágrimas) são também ricos em íons Na+. No estroma corneano é evidente que a soma dos cátions Na+ e K+ é superior à do anion Cl -. Uma parte das forças osmóticas pode ser originada pelos íons bicarbonato.As restantes forças aniônicas podem ser originadas pelo MPS. Sabe-se que cada molécula de queratina sulfato e condroitina – sulfato possui entre 27 e 160 pontos de união para cátions univalentes. Além dos MPS as fibrilas de colágeno e a proteína livre podem atuar como anions para obter a neutralidade eletroquímica da córnea. F - DESIDRATAÇÃO DA CÓRNEA A córnea normal mantém durante a vida uma espessura bem constante.Conserva seu conteúdo aquoso em um nível estável, que oscila entre 75 a 80 % de seu peso. Pedaços de tecido corneano isolados mostram uma marcada afinidade com a água quando são submergidos, em soluções isotônicas. Nestas condições a córnea se edematiza e perde transparência. O equilíbrio da água existente na córnea viva originou interrogações com respeito aos fatores que mantém a relativa desidratação do tecido: - Integridade anatômica do epitélio. - Equilíbrio eletrolítico e Osmótico. - Metabolismo. - Evaporação de água através da superfície anterior. - Pressão intra-ocular. - Integridade anatômica do endotélio e o epitélio. Quando se produz uma lesão do epitélio do endotélio corneano por meios químicos ou físicos, aparece um edema do estroma. Qualquer condição que provoque a perda do epitélio poderá produzir áreas de edema e opacidade corneana. Afortunadamente, o epitélio da córnea se regenera rapidamente e geralmente o
  • 14. Curso de Contatologia Colégio nacional de Óptica e Optometria 14 excesso de hidratação da córnea é leve e transitório. Danos ao endotélio são muito mais sérios. A destruição massiva das células endoteliais provocará um acentuado e às vezes permanente edema, bem como a perda da transparência. Isto pode ocorrer como conseqüência de danos mecânicos ao endotélio durante a cirurgia ocular. Em coelhos a remoção do epitélio produz em 24 horas um aumento médio de 200 % na espessura corneana, enquanto que a remoção do endotélio produz um aumento de 500%. O fato de que danos ao endotélio resultam em um edema corneano maior e mais rápido sugere que o endotélio é de grande importância para a manutenção da desidratação corneana.Foi assinalado que isto poderia ser o resultado do efeito adicional da pressão intra-ocular sobre a face endotelial da córnea. Harris sugeriu que a causa principal da hidratação da córnea posterior a danos no endotélio é a afluência de água proveniente do humor aquoso e não uma diminuição do transporte de água para fora da córnea. G - EQUILÍBRIO ELETROLÍTICO E OSMÓTICO A maioria das células tende a conservar sua hidratação e o equilíbrio osmótico mantendo uma baixa concentração intracelular de Cl Na comparado com o fluido extracelular. A córnea, sendo uma estrutura de tecido conectivo limitada anterior e posteriormente por camadas celulares, é aparentemente muito mais complexa. As células endoteliais e epiteliais podem bombear íons de Na+ e Cl - para fora (humor aquoso e lágrimas). Estas bombas celulares têm um papel definitivo na preservação da desidratação corneana. Como a concentração de Na+ no humor aquoso e nas lágrimas é mais elevada que no estroma, os íons Na+ retrocedem ao estroma. Deste modo se produz na córnea um mecanismo de “bombeio –fuga” para íons Na+. Por outro lado, a pressão osmótica do fluído e os eletrólitos do estroma podem ser a força reguladora mais importante para este movimento de água. O fluído estromal pode ser hipertônico para o plasma.Se o humor aquoso e as lágrimas são ligeiramente hipertônicos para o estroma, podem desempenhar um papel ativo na desidratação corneana por meio da constante translação de água através de suas superfícies anterior e posterior. Todos os estudos tendem a fundamentar o conceito de que as forças osmóticas podem atuar sobre a córnea para manter o tecido em estado de relativa desidratação. H - METABOLISMO As atividades metabólicas da córnea contribuem para manter a desidratação do tecido. Provavelmente a inibição do metabolismo do endotélio e do epitélio devido à falta de ATP necessária para o funcionamento da “bomba” eletrolítica, é a causa principal da citada sobre-hidratação corneana. De modo geral se aceita que a expulsão ativa de íons de Na+ produzida desde a maior parte dos tecidos é mediada pela enzima Na+K+ATPase. Esta enzima subministra, por meio da degradação do ATP, a energia suficiente para a expulsão dos cátions. A Na+K+ATPase existe em concentrações relativamente elevadas no epitélio e endotélio, mas está praticamente ausente no estroma. A córnea se hidrata quando a temperatura ambiente desce e a atividade metabólica diminui.Se existe glicose suficiente, quando a córnea atinge outra vez a temperatura ambiente, se desidrata novamente. Portanto as córneas de olhos extraídos em autópsia conservados em bancos a 4 graus centígrados, estão ligeiramente hidratadas e as córneas enxertadas ligeiramente edemaciadas. A espessura dos enxertos de córnea diminui durante os dias seguintes ao transplante, o que indica que a córnea pode se adaptar rapidamente e recuperar sua capacidade para a desidratação. I - EVAPORAÇÃO DE ÁGUA ATRAVÉS DA SUPERFÍCIE ANTERIOR A evaporação de água da película lacrimal pré-corneana concentraria este fluido e aumentaria sua osmolaridade em relação à córnea. A hipertonicidade da película lacrimal poderia expulsar água da córnea e manter o estado relativo de desidratação corneana.
  • 15. Curso de Contatologia Colégio nacional de Óptica e Optometria 15 J - PRESSÃO INTRA-OCULAR O fato de que a pressão intra- ocular elevada resulte em edema corneano constitui um sinal útil para o diagnóstico do glaucoma. Admite-se que as pressões intra- oculares no olho humano de 50 mmHg ou mais produzem um edema corneano detectável na lâmpada de fenda. Quando a pressão desce a níveis normais por meio de procedimentos médicos ou cirúrgicos, a embebição corneana causada pela pressão intra-ocular elevada é reversível. Nas crianças com glaucoma congênito, a pressão intra-ocular elevada pode resultar no aumento da córnea e em rupturas da membrana de Descemet, além do edema. K - PERMEABILIDADE A permeabilidade da córnea é importante sob diversos pontos de vista. Primeiro a nutrição da córnea depende da difusão de oxigênio e glicose e outras substâncias provenientes dos fluidos que a rodeiam. Segundo, o transporte de drogas através da córnea é determinado pela permeabilidade das camadas da córnea. Isto é clinicamente importante já que por meio das preparações topicamente aplicadas tenta-se alcançar a câmara anterior do olho ou alterar processos patológicos que têm lugar nas diversas áreas da córnea.Finalmente a enervação especial da córnea determina o grau de tolerância aos medicamentos aplicados topicamente nas enfermidades do olho ou como agentes umidificantes para as lentes de contato. L - TRANSPARÊNCIA DA CÓRNEA A córnea normal é transparente e qualquer alteração desta transparência interfere seriamente na claridade da imagem retiniana. As peculiaridades anatômicas da estrutura da córnea, como por exemplo, a uniformidade e a regularidade no ordenamento das células epiteliais, as lamelas corneanas estreitamente unidas entre si e de tamanho uniforme, que correm paralelas e a ausência de vasos sanguíneos contribui para a eficiência do olho como instrumento óptico. A transparência da córnea depende de sua constituição física e dos mecanismos que previnem a ocorrência do edema. Maurice apresentou uma explicação para a transparência da córnea baseada no ordenamento físico das fibras corneanas. Ele constatou que as fibrilas do colágeno formam uma estrutura reticular ordenada, de tal modo que a dispersão da luz é eliminada por meio da interferência mútua de cada fibrila isolada. A substância básica do estroma corneano é o colágeno saturado com uma solução MPS (Mucopolissacarídeos). A córnea se mantém clara enquanto é submersa em fluidos de diferentes índices de refração até 1.564. A córnea ainda pode conservar a transparência mesmo quando o índice de refração de seu colágeno difere consideravelmente do meio que a rodeia. O índice de refração do colágeno dos bovinos é de 1.380 e o dos cervos é 1.373. Acredita-se que esta propriedade de se manter transparente se deve a que as fibrilas estão regularmente ordenadas em forma de retículo e separadas entre si por uma distância menor que a longitude da onda de luz. A transparência da córnea diminui temporalmente quando sobre ela se exercem forças anormais. Durante o aumento da pressão intra-ocular, no glaucoma agudo, a córnea se torna opaca, sendo evidente que esta perda da transparência não se deve inteiramente à absorção de fluído que se produz, nem mesmo às alterações físicas do estroma, já que a opacidade desaparece imediatamente quando a pressão diminui. Isso é facilmente demonstrado em uns olhos extirpados. FIG.5- CORTE TRANSVERSAL DE FIBRILAS ORDENADAS PARALELAMENTE.O TAMANHO DE LONGITUDE DE ONDA ESTÁ REPRESENTADO NA PARTE SUPERIOR PARA ESTABELECER UMA COMPARAÇÃO. AS FORÇAS DE REPULSÃO E AS CONEXÕES RÍGIDAS ENTRE AS FIBRILAS ESTÃO REPRESENTADAS ESQUEMATICAMENTE.
  • 16. Curso de Contatologia Colégio nacional de Óptica e Optometria 16 M - EFEITO DO ACÚMULO DE LÍQUIDO SOBRE A TRANSPARÊNCIA DA CÓRNEA Vários fatores físico-químicos afetam a transparência corneana, atuando através de alterações do índice de refração de seu líquido intercelular, das fibras corneais ou de ambos. O poder de absorção do tecido conectivo se deve provavelmente a seus componentes temporais, o colágeno e os mucopolissacarídeos (MPS).O colágeno dividido em feixes soltos de fibras delgadas se encontra imerso nos MPS. Os MPS não somente preenchem como um gel todos os espaços existentes entre os feixes de fibras, como também penetram neles e tomam parte na formação das próprias lamelas da mesma substância intermédia. Estes dois componentes devem ser considerados de forma separada com respeito a sua contribuição para o poder total de absorção do tecido conectivo. Quando córneas secas são expostas a vapor de água de concentrações crescentes de até cerca de 30 % , esta é absorvida pelas fibrilas do colágeno. Destas observações se deve deduzir que o MPS da córnea também é importante para a sua transparência Para manter sua transparência, a córnea deve ser banhada com um líquido que possua uma pressão osmótica tão elevada quanto à do líquido intersticial. Se a córnea é banhada com uma solução hipotônica, torna-se opaca, devido à perda de forças que atuam no epitélio corneano. Em certas condições patológicas, como por exemplo, no glaucoma ou na distrofia endotelial, se acumula líquido nas células epiteliais em tal quantidade que provoca a formação de bolhas. Cogan acha que isto se deve a uma pressão osmótica mais alta no epitélio que nas lágrimas e, como resultado, a água penetra no epitélio através da superfície anterior desde as lágrimas. 1.3- A CÓRNEA NAS ENFERMIDADES Nos processos patológicos é muito importante a reação da córnea. Seu tecido é avascular e, portanto difere dos tecidos que normalmente têm irrigação sanguínea. A membrana de Bowman oferece pouca resistência qualquer processo patológico e por isto é facilmente destruída e não se regenera jamais. A membrana de Descemet, por outro lado, é muito resistente, e quando todas as demais camadas da córnea foram destruídas, pode conservar-se em forma de uma estrutura curvada, semelhante a um globo, conhecida como desmatocele. Mesmo depois de ter sido destruída pode se regenerar.As rupturas da membrana de Bowman são raras, mas são comuns as de Descemet. Muitas enfermidades da córnea levam as vascularizações superficiais. Quando a córnea se vasculariza, os vasos permanecem durante toda a vida. Podem não conter sangue, os chamados “vasos fantasmas”, mas sua presença pode ser sempre localizada na lâmpada de fenda, testemunhando que a córnea foi vítima de um processo inflamatório. 1.3.1- CICATRIZAÇÃO DAS FERIDAS DA CÓRNEA O trauma acidental ou cirúrgico de uma ou de todas as camadas da córnea ocasiona um aumento da hidratação e perda de transparência.Devido a isto é necessária uma rápida e correta cicatrização das feridas para evitar a formação de escaras ou opacidades da córnea (leucomas). Em um olho normal, a perda de áreas superficiais da córnea por traumatismo geralmente cicatriza em 24 a 48 horas. Entretanto as úlceras produzidas por uma infecção viral, bacteriana ou micótica ou que afetem as camadas profundas do estroma podem tardar semanas em cicatrizar. De forma similar enquanto uma laceração superficial cicatriza entre 3 a 5 dias, uma laceração profunda ou uma incisão cirúrgica demora várias semanas para cicatrizar completamente. Para manter a justaposição das bordas da ferida nas lacerações grandes e profundas é necessário suturas. A velocidade e o tipo de cicatrização das feridas são determinados pelos seguintes fatores: - Localização anatômica das feridas Córnea, límbica ou central; - Tamanho da ferida; - Camada da córnea afetada: Epitélio, estroma ou endotélio;
  • 17. Curso de Contatologia Colégio nacional de Óptica e Optometria 17 - Presença ou ausência e tipo de suturas: Seda, categute ou nylon; - Infecção bacteriana, viral ou micótica associada; - Drogas administradas de forma tópica com propósitos terapêuticos. A resposta citológica e histológica a uma ferida central da córnea implica: edema de estroma, mitose e deslocamento das células epiteliais, migração polimorfonuclear e monocítica; surgimento de novos fibroblastos e mitoses; formação de pre-colágeno e formação de colágeno. Ocasionalmente e devido a razões desconhecidas, podem formar-se vasos sanguíneos em um tecido corneal cicatrizado. As mudanças químicas associadas com uma resposta citológica são: hidratação inicial, aumento da atividade de hidrolasas lisomicas, diminuição nos níveis de MPS (sulfato queratina e sulfato condroitina). 1.3.2- VASCULARIZAÇÃO DA CÓRNEA Os capilares penetram na córnea até um ou dois milímetros além do limbo. A córnea normal está completamente desprovida de vasos sanguíneos.Quando existem vasos fora da zona limbar a córnea é ou foi submetida a um processo patológico. Certas enfermidades produzem uma vascularização intensa e precoce e a situação e o caráter dos vasos sanguíneos recém - formados são às vezes guias para o seu diagnóstico: os vasos sinuosos superficiais que podem aparecer sobre a córnea desde a superfície conjuntival através do limbo são característicos de várias formas de ceratoconjuntivite. Existem diferentes teorias para explicar a ausência de vasos sanguíneos na córnea normal e sua formação interna em estados patológicos. Eis algumas delas: - Na córnea, como resultado do processo patológico corneano, é elaborada uma substância que estimula o crescimento dos vasos sanguíneos até o lugar onde esta substância é produzida. Acredita-se que esta substância possua o poder de iniciar a neovasculogênese a partir dos vasos sanguíneos já existentes e de ter quimiotaxia positiva. - Entre os fatores que foram assinalados como possíveis indutores da nova vascularização se encontram o acúmulo de ácidos metabólicos, histamina, uma deficiência de ácido ascórbico e anóxia local. Assim a anóxia pode ser efetiva neste aspecto liberando alguma substância que provoque o crescimento a partir do tecido anóxico e que o anidro carbônico não é somente um agente vasodilatador, mas também um forte estímulo para a vasculogênese. Ausência de vasos sanguíneos dentro da córnea tem sido atribuída às propriedades da córnea mesma, seja por possuir alguma substância que impeça o crescimento dos vasos, ou porque é tão compacta que os vasos não podem penetrar nela. Nos processos patológicos nos quais se produz neovascularização se supõe que a córnea perde a substância inibidora ou que a edematização do tecido permita que os vasos sanguíneos a penetrem. A edematização da córnea inicia a formação de novos vasos, mas isto por sua vez corrige a edematização, quer dizer, a edematização estabelece um ciclo através da neovasculogênese que é corretivo: as córneas que não se vascularizam permanecem edemaciadas, formando-se ampolas sobre o seu epitélio. O crescimento para dentro dos vasos a partir do limbo é sempre precedido pela edematização da córnea no limbo. 2- PELÍCULA LACRIMAL As funções da lágrima podem ser resumidas em: • • • • Óptica: Manter um ambiente úmido para epitélio, conjuntiva e pálpebras. • • • • Bactericida /Bacteriostática: Graças à presença de lisozima, lactoferrina, B- lisina, assim como as imunoglobulinas. • • • • Metabólica: dissolver O2 para ser utilizado no metabolismo corneano e prover outros nutrientes (Vitamina A, íons, etc). • • • • Protetora: Expulsar corpos estranhos. A principal função da lágrima foi inicialmente a de formar uma película delgada, de superfície muito lisa pela tensão superficial da lágrima, que facilitasse a refração do olho dos vertebrados no meio aéreo. Se não existisse a película lacrimal, as irregularidades da superfície anterior da córnea, cujo epitélio está em permanente
  • 18. Curso de Contatologia Colégio nacional de Óptica e Optometria 18 processo de descamação determinariam uma imagem retiniana imperfeita. A película lacrimal prebulbar é formada por uma camada anterior de lipídios, uma média, aquosa, e uma posterior de mucina. Este extrato mucínico se adere ao glicocálice ou mucina epitelial que forma parte da membrana externa das células epiteliais superficiais. 2.1- MECANISMO SECRETOR DA PELÍCULA LACRIMAL • • • • Glândulas de Krausse: Secreção basal da camada aquosa da película lacrimal. • • • • Glândulas de Wolfring: secreção basal da camada aquosa da película lacrimal. • • • • Glândulas de Zeis: Glândula sebácea que ajuda à formação da camada lipídica da película lacrimal. • • • • Glândulas de Meibomius: Glândula sebácea da principal secreção para a formação da camada lipídica da película lacrimal. • • • • Criptas de Henle (Células caliciformes): Formação da camada de mucina da película lacrimal. Quando um raio luminoso que atravessa um meio chega à superfície de separação com outro meio, o raio é parcialmente transmitido a este segundo meio e parcialmente refletido até o primeiro meio. A proporção em que cada uma dessas possibilidades intervem depende do ângulo de incidência da luz, do índice de refração dos meios, da longitude de onda da luz e do grau e orientação da polarização da luz. Cada um destes raios é atenuado nos distintos meios ao longo de seu percurso. Quando a luz natural encontra o olho de um vertebrado terrestre, a primeira superfície com que se depara é a película lacrimal. A grande diferença entre o índice de refração do ar (1.000) e o da lágrima (1.334) faz com que a maior parte da refração do olho se produza aqui. A pequena diferença de índice de refração entre a lágrima e a córnea (1.3375) faz atribuir a esta segunda interfase um papel refrativo menor. O estrato lipídico da lágrima, que só cobre a superfície ocular exposta, constitui 0,02% do volume lacrimal e se forma na borda palpebral pela ação das glândulas de Meibomius e, em menor proporção, pelas glândulas de Zeiss e de Moll e pelas glândulas lipídicas carunculares. O estrato aquoseroso representa 99.78% do volume da película lacrimal. Ele se forma nas glândulas lacrimais principais e acessórias. O estrato mucínico – que é mais fino, porém o mais extenso dos 3 estratos – representa 0,20 % do volume lacrimal. Ele se forma nas células caliciformes da superfície conjuntival. Por trás desta mucina conjuntival está o glicocálice. 3 - HISTÓRIA DAS LENTES DE CONTATO
  • 19. Curso de Contatologia Colégio nacional de Óptica e Optometria 19 LEONARDO da VINCI Leonardo da Vinci é considerado a primeira pessoa que descreveu uma lente de contato, em 1508. Ele desenhou uma cuba cheia de água. O observador imergiria o rosto e, olhando através da água, alteraria o poder dióptrico do olho.Leonardo Da Vinci realizou descrições teóricas das lentes de contato. Embora não tenham se tornados populares no seu tempo, nasceu o conceito de que um objeto poderia estar em contato com o olho e permitir a correção da visão. Mas a primeira lente de contato realizada para propósitos médicos só foi adaptada por F. A Muller. Ele usou uma lente escleral de vidro para proteger o olho de um paciente que tivera as pálpebras extirpadas. Adolf Fick, oftalmologista alemão, utilizou coelhos em seus primeiros trabalhos, datados de 1888, adaptando conchas de vidro soprado, que eram aparentemente bem toleradas. Fick notou perda da transparência corneana, injeção limbar e conjuntival e propôs a necessidade de desinfetar as lentes, estabelecendo também o conceito de adaptação de lentes de contato. Fick solicitou ao professor Ernest Abbe conchas polidas de boa qualidade óptica com íris e pupilas pintadas, estabelecendo as bases das lentes de contato cosméticas e protéticas. Após suas experiências testando as conchas com animais e cadáveres realizou testes com pacientes com córneas irregulares devido a cicatrizes e para evitar a enucleação em olhos não estéticos. Em 1937 o plástico polimetilmetacrilato (PMMA) foi introduzido como material de lentes de contato e rapidamente substituiu o vidro. Em 1948, Kevin Tuohy introduziu a “microlente” de PMMA.A lente cobria unicamente a córnea e era muito menor que a lente escleral usada até então. A lente escleral cobria a parte frontal do olho inclusive a esclera. As lentes de contato rígidas se tornaram muito popular a partir dos anos 50. 3.1- LENTES HIDROFÍLICAS O primeiro material para lentes de contato hidrofílicas foi desenvolvido por Otto Wichterle, um cientista tcheco, e foi patenteado em 1963.O hidroxoetilmetacrilato (HEMA) foi um material criado para ser usado em vasos artificiais e órgãos. Início do Hema. Wichterle usa um equipamento Prof. Wichterle Improvisado para as pesquisas iniciais . Foto do Inst. Química – Tchecoslováquia. Wichterle reconheceu sua aplicação para lentes de contato e desenvolveu um método de manufaturamento para este novo material. A tecnologia de Wichterle foi adquirida pela Bausch Lomb e em 1971 a versão comercial de uma lente macia foi aprovada para uso nos EEUU. 3.2 - LENTES RÍGIDAS GÁS PERMEÁVEIS As pesquisas prosseguiram na busca de um material que permitisse a passagem de oxigênio para atender as necessidades metabólicas da córnea.Isto permitiu o surgimento do Acetil Butirato de Celulose (CAB), um dos primeiros materiais rígidos gás permeáveis O CAB começou a ser utilizado nos Estados Unidos em 1978. Desde então foram desenvolvidos vários materiais de lentes rígidas gás permeáveis. 3.3- OUTRAS DESCOBERTAS - LENTES DE CONTATO DE USO CONVENCIONAL Desde o início até meados dos anos 80 as lentes eram usadas pelo paciente
  • 20. Curso de Contatologia Colégio nacional de Óptica e Optometria 20 enquanto estivessem relativamente limpas não estivessem danificadas e enquanto permanecessem corrigindo o erro refrativo. Esta forma de utilizar as lentes de contato é conhecida como Uso Convencional. O tempo de vida de uma lente varia de acordo com o tipo da lente. As lentes rígidas de PMMA duram vários anos. As lentes de materiais RGP duram 1 a 2 anos. As lentes hidrofílicas de uso convencional duram cerca de 1 ano. - LENTES DE CONTATO DESCARTÁVEIS Em 1985 DANALENS introduziu na Dinamarca a primeira lente de contato de Uso Descartável. Ela foi adquirida pela Jonhson Johnson e em 1986 recebeu a aprovação do FDA (Federal Drug Administration) para o uso nos EEUU. As lentes de contato descartáveis são semelhantes às lentes hidrofílicas convencionais, porém devem ser descartadas em período pré-determinado de tempo (um dia, uma semana, um mês, etc). Alguns dos benefícios das lentes descartáveis incluem a pouca aderência de depósitos, bem como a facilidade de manutenção. 4- LEGISLAÇÃO DA CONTATOLOGIA - SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE PÚBLICA E DA ASSISTÊNCIA SOCIAL - - DEPARTAMENTO DE SAÚDE DO ESTADO - - SERVIÇO DE FISCALIZAÇÃO DO EXERCÍCIO PROFISSIONAL - DEPARTAMENTO NACIONAL DE SAÚDE Portaria nº 86, de 28 de Junho de 1958 O Diretor Geral do Departamento Nacional de Saúde resolve estabelecer em conformidade com a legislação em vigor, as seguintes normas, para o exercício em todo o território nacional das profissões de : 1. Ótico-Prático e ótico-prático em lentes de contacto. Art. 1º - O exercício da profissão acima enumerada em todo território nacional, só é permitido a quem estiver devidamente inscrito no Serviço Nacional de Fiscalização da Medicina e Farmácia ou Serviço Nacional de Fiscalização da Odontologia para o Distrito Federal e, nos respectivos Serviços Sanitários competentes, para os Estados e Territórios. Art. 2º - Para ser inscrito e habilitar- se ao exercício das profissões nos termos do Artigo anterior é necessário que o candidato apresente o seguinte documento: a) Diploma ou certificado de curso de prático ou equivalente, a critério do Serviço Nacional de Fiscalização da Odontologia ou Serviço Nacional de Fiscalização da Medicina e Farmácia expedidas por escola- oficial ou reconhecida de medicina ou farmácia, pelos Cursos do D.N.S. ou, ainda, por escolas particulares de idoneidade reconhecida pelo Departamento Nacional de Saúde. b) Prova de ter sido aprovado em exame de capacidade realizado perante o Serviço Nacional de Fiscalização da Medicina e Farmácia ou Serviço Nacional da Odontologia, na falta dos documentos referidos no item “a”. DO ÓTICO-PRÁTICO E DO PRÁTICO EM LENTES DE CONTACTO Art. 12º - Entende-se por ótico - prático e ótico - prático em lentes de contacto, quem for habilitado nos exames procedidos na forma da presente portaria para assumir a responsabilidade pelo funcionamento dos estabelecimentos de ótica. Art. 13º - São obrigações do ótico- prático e do ótico-prático em lentes de contacto: a) Assumir a responsabilidade de todas as atividades de ótica do estabelecimento comercial de ótico – prático ou de prático em lentes de contacto; b) Assinar e datar as receitas registradas no livro apropriado; c) Tratar de todos os assuntos referentes ao estabelecimento do qual é responsável, com a autoridade sanitária fiscalizadora. Art. 14º - Para a habilitação do ótico – prático, a matéria de exame versará sobre: 1 – leis fundamentais de ótica geométrica e formação de imagens pelas lentes; 2 – características das lentes oftálmicas, suas variedades e identificação; 3 – sistemas centrados e sua utilização em ótica oftálmica; 4 – teórica de interpretação e transposição de lentes;
  • 21. Curso de Contatologia Colégio nacional de Óptica e Optometria 21 5 – trabalho de superfície, sua técnica e realização, blocos; 6 – seleção, preparo e aplicação de lentes bifocais e tri focais; 7 – desvios prismáticos, adaptação e preparo de prismas; 8 – adaptação e verificação de óculos corretores; 9 – legislações referentes ao ótico – prático. § Único - Além de prescrito no § 3º do art. 3º, a prova prática – oral para ótico – prático e ótico - prático em lentes de contacto, constará da resolução de problemas de ótica e execução dos trabalhos específicos. Art. 15º – Para a habilitação de ótico - prático em lentes de contacto, o assunto de exame versará, ainda sobre: 1- variedade e indicações das lentes de contacto; 2- ótica física e ótica fisiológica adaptadas a lentes de contacto; 3- condições necessárias, medidas e individuais para execução do receituário de lentes de contacto; 4- métodos e cuidados para aplicação das lentes de contacto, sua execução; 5- dispositivos legais que regem a profissão de ótico – prático em lentes de contacto. Art. 16º – A comissão examinadora, no Distrito Federal, será composta de 3 membros, sob a presidência do médico oculista do Serviço Nacional de Fiscalização da Medicina e Farmácia e completada por um médico especialista em oftalmologia e um ótico – prático habilitado e, nos Estados, pelos Diretores dos respectivos serviços sanitários e mais um médico oculista e um ótico – prático habilitado legalmente. Atualmente não existe nenhum tipo de habilitação para ópticos práticos. Existem muitos atuando em diversos estados baseados principalmente no direito adquirido. A formação profissional do óptico sofreu um grande avanço com a Lei 5692/71 que instituiu a formação profissional em nível técnico. Como regulamentação da lei 5692, foi promulgada o parecer 45/72 do Conselho Nacional de Educação. Este parecer instituiu a grade curricular mínima para cada curso. Surgiu então o Técnico em Óptica que contava com um currículo mínimo composto pelas disciplinas de Optometria, Surfaçagem, Montagem, Materiais e Equipamentos, Psicologia e Técnica de Vendas. Pelas leis de diretrizes e bases, as formações profissionais desvincularam-se dos Ministérios aos quais se achavam adstritas, para submeter-se todas, ao Ministério da Educação. Em 1983, o Conselho Federal de Educação através do parecer 404/83, incluiu no currículo do curso Técnico em Óptica a disciplina de Contatologia A pedido do Sindicato do Comércio Varegista de Material Óptico de São Paulo. A adaptação de Lentes de contato inicialmente era exercida por ópticos práticos em Lentes de Contato com respaldo dado pela portaria 86/58. A partir do parecer 404/83, esta adaptação passa a ser exercida por profissionais formados em nível técnico, aumentando-se assim toda a responsabilidade por um trabalho mais qualificado. É importante mencionar que a pós a inclusão da contatologia no curso técnico em óptica, houve duas ações por parte dos médicos para anular tal decisão. A primeira foi proposta pelo Conselho Brasileiro de Oftalmologia através de um relatório de uma Assembléia Geral Extraordinária, realizada no Hotel Plaza São Rafael, em Porto Alegre – RS, no dia 16 de novembro de 1983, onde, entre outros assuntos, se lê, que os representantes resolveram: “Repudiar o Parecer 404/83 do CFE”. A resposta para este relatório foi dada ao Conselho de Oftalmologia pelo Parecer 481/84 aprovado dia 05/07/84 pelo CFE mantendo a disciplina no currículo. Na ocasião foi claramente exposto pelo CFE que o enriquecimento curricular por meio de uma nova disciplina, é assunto da competência estrita do CFE, tendo em vista o interesse de ensino. A segunda ação foi feita através de uma solicitação do Deputado Ézio Ferreira e CBO, com o mesmo objetivo de anular a Contatologia para o Técnico em Óptica. E, mais uma vez, o CFE manteve sua posição respondendo à solicitação por meio do parecer 269/89 aprovado dia 16/03/1989 pelo Conselho Federal de Educação. Em 2000, a ANVISA através do parecer 1110/2000 afirmava ser a adaptação
  • 22. Curso de Contatologia Colégio nacional de Óptica e Optometria 22 de lentes de contato um ato médico. Tal parecer foi anulado pela própria ANVISA através do ofício 553/2001 em resposta ao ofício 294/2001 da Confederação Nacional do Comércio. Em 1988 com a constituição Federal, a Optometria e Adaptação de Lentes de Contato passam a ter mais respaldo baseado nos seguintes artigos: Art. 5.º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo- se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer; Art. 7.º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à Melhoria de sua condição social: XXVI - reconhecimento das convenções e acordos coletivos de trabalho; Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: XVI - organização do sistema nacional de emprego e condições para o exercício de profissões; Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre Iniciativa, tem por fim assegurar a todos os existência digna, conforme os ditames da justiça social observado os seguintes princípios: Parágrafo único. É assegurado a todo o livre exercício de qualquer atividade econômica, Independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos previstos em lei. Art. 197. São de relevância pública as ações e serviços de saúde, cabendo ao poder público dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e controle, devendo sua execução ser feita diretamente ou através de terceiros e, também, por pessoa física ou jurídica de direito privado. Art. 199. A assistência à saúde é livre à iniciativa privada. PAULO JOBIM FILHO Ministro de Estado do Trabalho e Emprego 3223 : Ópticos optometristas 3223-05 - Técnico em óptica - Contatólogo, Óptico contatólogo, Óptico esteticista, Óptico montador de óculos, Óptico oftálmico, Óptico refracionista, Óptico surfaçagista, Técnico contatólogo 3223-10 - Técnico em optometria - Óptico, Óptico optometrista, Óptico protesista, Técnico optometrista Descrição sumária Realizam exames optométricos; confeccionam lentes; adaptam lentes de contato; montam óculos e aplicam próteses oculares. Promovem educação em saúde visual; vendem produtos e serviços ópticos e optométricos; gerenciam estabelecimentos. Responsabilizam-se tecnicamente por laboratórios ópticos, estabelecimentos ópticos básicos ou plenos e centros de adaptação de lentes de contato. Podem emitir laudos e pareceres ópticos- optométricos. 3223 : Ópticos optometristas Condições gerais de exercício Exercem suas funções em laboratórios ópticos, em estabelecimentos ópticos básicos e plenos, em centros de adaptação de lentes de contato, podendo, ainda, atuar no ramo de vendas e em atividades educativas na esfera da saúde pública. São contratados na condição de trabalhadores assalariados, com carteira assinada e, também, na condição de
  • 23. Curso de Contatologia Colégio nacional de Óptica e Optometria 23 Formação e experiência O exercício dessas ocupações requer curso técnico de nível médio, oferecido por instituições de formação profissional. O pleno desempenho das atividades profissionais se dá após o período de três a quatro anos de experiência. 3223 : Ópticos optometristas Áreas de Atividades A REALIZAR EXAMES OPTOMÉTRICOS B ADAPTAR LENTES DE CONTATO C CONFECCIONAR LENTES D MONTAR ÓCULOS E APLICAR PRÓTESES OCULARES F PROMOVER EDUCAÇÃO EM SAÚDE VISUAL G VENDER PRODUTOS E SERVIÇOS ÓPTICOS E OPTOMÉTRICOS H GERENCIAR ESTABELECIMENTO I COMUNICAR-SE 3223 : Ópticos optometristas Competências pessoais 1 Zelar pela limpeza do local de trabalho 2 Demonstrar compreensão psicológica 3 Atualizar-se profissionalmente 4 Evidenciar coordenação motora fina 5 Calibrar equipamentos ópticos e optométricos 6 Empregar equipamentos ópticos e optométricos 7 Revelar senso estético 8 Prestar primeiros socorros oculares 9 Usar equipamento de proteção individual (EPI) 10Trabalhar com ética 3223 : Ópticos optometristas Recursos de trabalho * Queratômetro Máquinas surfaçadoras Lâmpada de Burton Filtros e feltro * Lâmpada de fenda (biomicroscópio) Produtos para assepsia Abrasivos * Retinoscópio * Lensômetro * Refrator * Oftalmoscópio (direto-indireto) Pupilômetro * Topógrafo * Caixas de prova e armação para auxílios ópticos Calibradores Alicates, chaves de fenda Máquinas para montagem Tabela de projetor de optótipos Torno Tonômetro Corantes e fluoresceína Solventes Polidores e lixas Foróptero Espessímetro Moldes e modelos Títmus Resinas 5- ÉTICA DO CONTÁTOLOGO O contatólogo é um profissional da área de saúde que requer a titulação de técnico ou universitário. Sua atividade profissional inclui utilizar toda a sua capacidade profissional, com amor, consideração, responsabilidade e boa fé, tendo como meta à prevenção, promoção, assistência, reabilitação e readaptação das alterações oculares e visuais que competem ao seu exercício profissional. O cliente deverá ser informado de suas responsabilidades, dos riscos, incertezas e outras circunstâncias que podem comprometer o bom resultado do trabalho. A atitude do contatólogo ante ao cliente deverá ser sempre de apoio, evitará
  • 24. Curso de Contatologia Colégio nacional de Óptica e Optometria 24 todo o comentário que desperte injustificada preocupação e não fará prognóstico de alterações visuais e doenças oculares sem as suficientes bases científicas. O profissional manterá decoro e responsabilidade no exercício profissional, adotando equipamento necessário segundo as leis vigentes. Manterá segredo profissional em tudo o que, pela razão do exercício de sua profissão, tenha visto, escutado e entendido, salvo nos casos eximidos e por disposições legais. O contatólogo deve abster-se de proceder em seus clientes, técnicas clinicas, formulações e tratamentos de caráter experimental, sem uma rigorosa justificativa científica, sem informar e sem a devida autorização do mesmo. Aos colegas de profissão, o contatólogo deve respeito, consideração, lealdade, solidariedade e apreço. Deve evitar qualquer alusão pessoal ofensiva, ou aquelas que possam ser interpretadas como tal. Abster-se-á sempre de julgar ou criticar desfavoravelmente a atuação profissional ou privada de seus colegas, salvo quando atue como perito ou julgador da conduta profissional de um deles. O atendimento a clientes enviados por colegas deverá ser realizado, e o mesmo encaminhado de volta com as devidas informações (exames praticados, diagnósticos obtidos). O contatólogo deve abster-se de realizar praticas de competição desleal. 6 - CARACTERÍSTICAS IDEAIS DE UM MATERIAL PARA LENTES DE CONTATO 1- Proporcionar oxigênio suficiente para o metabolismo corneano. 2- Ser fisiologicamente inerte. 3- Ter um bom grau de umectação. 4- Ser resistente tanto a deteriorização como a formação de depósitos. 5- Deve manter suas dimensões estáveis. 6- Ser resistente a manipulação do paciente. 7- Ser transparente. 8- Ser opticamente regular: de características ópticas previsíveis. 9- Ter propriedades físicas que permitam superfícies de alta qualidade 10- Requerer uma manutenção mínima por parte do usuário. 11- Ser de fácil fabricação. 6.1- REQUISITOS DE BIOCOMPATIBILIDADE PARA OS MATERIAIS DE LENTES DE CONTATO 1- Ser inertes: não deve haver reação com lentes de contato. Eles não devem fazer com que outros materiais reajam com eles, seja os tecidos oculares, as lágrimas ou os produtos de manutenção da lente com os quais estão em contato. 2- Não devem fazer parte de nenhuma reação enzimática, atividade ou reações de catálise entre eles e /ou outros substratos químicos. 3- Não conter nenhum... Especialmente hidrogéis, já que o movimento da água através do polímero é potencialmente um veículo para transferir material indesejável de dentro da lente para o olho. 4- Não ser absorvente seletivo de metabólitos, toxinas, micro-organismos e outras substâncias presentes no meio ambiente. 5- Não mostrar excessiva eletroforese, o que pode resultar em uma absorção seletiva, de separação de entidades químicas ou bioquímicas ou biológicas do meio ambiente. 6- Exibir baixa fricção in si tu. O material deve ter um bom acabamento de superfície, que, umectada, exibirá baixa fricção. Isto permitirá um movimento suave da lente no olho e que tornará seguro o movimento de esfregar digitalmente à lente quando se faz a limpeza. 7- Ser eletricamente compatível O material da lente não deve atrapalhar as propriedades elétricas da superfície corneana. 8- Não induzir respostas inflamatórias ou imunológicas no olho, independente do horário de uso. 7 - PROPRIEDADES DOS MATERIAIS DAS LENTES DE CONTATO 7.1- TRANSPARÊNCIA Embora quimicamente e na hidratação nenhuma lente seja totalmente transparente, se obtém nas lentes de contato uma transparência de 92 a 98 %. Define-se
  • 25. Curso de Contatologia Colégio nacional de Óptica e Optometria 25 transparência como a percentagem de luz incidente de uma onda luminosa que passa através de um material. 7.2- DUREZA Afeta a durabilidade da lente, da rigidez e faz com que não se flexione. 7.3- FORÇA DE TENSÃO Força de deformação antes que o material se rompa.Ou seja: é a percentagem de distensão do material. Quanto maior a força de tensão mais durável é a lente. É o que evita que a lente se rompa durante a limpeza. 7.4- MÓDULO DE ELASTICIDADE É um valor constante. É a habilidade do material de manter sua forma quando é submetido a estresse.U m material com baixo módulo de elasticidade terá menor resistência ao estresse. Um material com alto módulo de elasticidade mantém sua forma, assim não adquire a topografia corneana, sobretudo nos altos astigmatismos. 7.5- DENSIDADE Peso de 1 centímetro cúbico do material (gramas). 7.6- ÍNDICE DE REFRAÇÃO A velocidade da luz no ar (1) e a da luz no material (n) em lentes de contato hidrofílicas está relacionada com o conteúdo aquoso. 7.7- UMECTABILIDADE FIGURA 7. A Quanto menor o ângulo de umectação, maior a umectabilidade: a película (neste caso a lágrima) será mais estável, a acuidade visual será melhor, haverá mais conforto e maior resistência aos depósitos. A umectabilidade está relacionada com o Ângulo de umectação (ângulo de contato) formado por uma gota de água, solução salina ou lágrima na superfície da matéria. 8 - PROPRIEDADES DAS LENTES DE CONTATO 8.1- CONTEÚDO AQUOSO As lentes de contato hidrofílicas ou rígidas absorvem água. Quando um material absorve água intumesce e isso deve ser levado em conta no processo de fabricação. Menor que 4 % de água por peso: material Hidrofóbico Maior que 4 % de água por peso: material Hidrofílico, que permite aumento do aporte de oxigênio, mas o torna frágil e com maior aderência a depósitos. 8.2- CARGA IÔNICA A carga iônica é inerente às lentes de contato hidrofílicas. Os que têm carga elétrica (geralmente negativa) se denominam IÔNICOS.A lente é mais reativa, especialmente com soluções ácidas. Também reagem às cargas positivas das moléculas das proteínas das lágrimas. As lentes de materiais NÃO IÔNICAS têm maior resistência aos depósitos, são mais inertes e menos reativas. 8.3- TRANSMISSÃO DE OXIGÊNIO Quando os olhos estão abertos, recebem oxigênio da atmosfera. Quando os olhos estão fechados (durante o sono) o oxigênio se difunde através dos vasos sanguíneos do limbo e da conjuntiva palpebral. Quando se coloca uma lente de contato a quantidade de lágrima diminui em um terço. Logo o oxigênio que chega provem de duas vias: 1: Dissolvido nas lágrimas, quando a lente de contato se move. 2: Através da lente, por difusão. A bomba lacrimal renova de 14 a 20 % do volume lacrimal a cada piscar, as lentes de contato hidrofílicas apenas de 1 a 5 % . A lágrima não somente traz oxigênio e remove dióxido de carbono, Ácido lático e células epiteliais.Por esta razão a seleção do material é de vital importância para a manutenção da integridade corneana.
  • 26. Curso de Contatologia Colégio nacional de Óptica e Optometria 26 ATMOSFERA A atmosfera é uma camada que rodeia a terra. Sua composição é de 21 % de oxigênio e 78 % de nitrogênio. O restante é vapor de água e dióxido de carbono. PRESSÃO A atmosfera exerce pressão sobre a terra. Esta pressão é medida com o barômetro. É a chamada Pressão Barométrica que é expressa em milímetros de mercúrio (mmHg). A atmosfera exerce 760 mmHg ao nível do mar. PRESSÃO PARCIAL Como a composição da atmosfera é de 21 % de oxigênio, chama-se Pressão Parcial de Oxigênio, que é de 160 mmHg. TENSÃO DE OXIGÊNIO Quando a Pressão Parcial de Oxigênio é dissolvida em um líquido (por exemplo, à lágrima) chama-se Tensão de Oxigênio .Com olhos abertos, a tensão é de 155 mmHg. UMIDADE Quando o ar está completamente saturado de vapor de água dizemos que há 100 % de umidade. Se a umidade é menor e não há vapor de água no ar, pode haver irritação ocular. 8.3.1- MEDIDA DA TRANSMISSIBILIDADE DE OXIGÊNIO - PERMEABILIDADE Grau em que uma substância é capaz de atravessar a membrana de um material. É uma função intrínseca à composição molecular do material. - DIFUSÃO Processo pelo qual uma molécula passa através de um material. A direção do movimento vai da área de maior concentração para a área de menor concentração. A permeabilidade é afetada por fatores extrínsecos como a temperatura e a pressão. A permeabilidade é expressa pelo Coeficiente de Permeabilidade: DK. A molécula deve dissolver-se dentro do material e logo se difunde. FIGURA 8: COEFICIENTE DE DIFUSÃO DK D = COEFICIENTE DE DIFUSÃO DO MATERIAL (VELOCIDADE NA QUAL A MOLÉCULA SE DIFUNDE). K = COEFICIENTE DE SOLUBILIDADE (QUANTO GÁS PODE SER DISSOLVIDO EM UMA UNIDADE DE VOLUME). Exemplo: DK = 8.9∗10-11 (cm 2 /seg) (ml0 2 /mL∗mmHg) @ 25 C Geralmente as fábricas simplificam esta informação para o profissional e apresentam o DK como um número inteiro. Devemos considerar também a temperatura, pois quanto maior a temperatura, maior o DK. Se aumentarmos a temperatura haverá mais energia e as moléculas se difundirão mais rapidamente. O professor Irving Fatt mediu o Coeficiente de permeabilidade por meio de um Eletrodo Polarográfico: o oxigênio passa través de um material e se mede a corrente elétrica que é proporcional à quantidade de oxigênio que passa. O DK é inerente ao material e não à espessura. Assim o DK é uma constante para a matéria. Podem existir ligeiras variações por impurezas no material. 8.3.2- TRANSMISSIBILIDADE DE OXIGÊNIO É a difusão do oxigênio através do material de uma lente com espessura conhecida, ou seja, representa a quantidade de oxigênio que atravessa a lente por unidade de tempo em determinada pressão atmosférica. É expresso como Dk/L. À medida que aumenta a espessura da lente, diminui a transmissibilidade de
  • 27. Curso de Contatologia Colégio nacional de Óptica e Optometria 27 oxigênio. Dessa forma, quanto maior a espessura menor a transmissibilidade, conforme o gráfico. MENOR ESPESSURA: MAIS O2 MAIOR ESPESSURA: MENOS 02 FIGURA 9. TRANSMISSIBILIDADE. 8.3.3- PERCENTUAL EQUIVALENTE DE OXIGÊNIO (PEO) Tanto a permeabilidade como a transmissibilidade, são condições de laboratório. O PEO é in vivo.A taxa de oxigênio pode ser medida colocando um sensor e uma membrana com oxigênio sobre a córnea. O sensor cria uma corrente elétrica quando o oxigênio é consumido. A quantidade máxima de oxigênio é de 21% (155 mmHg) em nível do mar , que deveria manter-se . Se uma lente tem um POE de 21 % , adquire 100 % de oxigênio da atmosfera (155 mmHg). O POE não é uma constante física, é uma condição fisiológica relacionada com o DK e com o desenho da lente. CAPITULO II 8.3.4- NÍVEIS CRÍTICOS PARA USÁRIOS DE LENTES DE CONTATO O POE em olhos fechados é cerca de 6 a 7 % (155mmHg) em média, sem lentes de contato. Durante o sono, a córnea entra em edema leve e aumenta a sua espessura, mas com o despertar logo sai deste estado, voltando a sua espessura normal. Quando o edema, com olhos abertos, passa de 5 %, começam às alterações nas camadas posteriores da córnea. Se esse percentual chega a 20 %, ocorrem danos patológicos às células endoteliais. 9 - MATERIAIS PARA LENTES DE CONTATO As lentes de contato são feitas de polímeros. A palavra polímero basicamente significa “muitas partes“. As partes individuais são os monômeros. Estas pequenas unidades químicas estão unidas em uma cadeia contínua de alto peso molecular. Todos os polímeros podem ser rígidos ou flexíveis dependendo da temperatura ambiente. A transição de duro a flexível ocorre quando as cadeias de polímero absorvem energia suficiente para desenvolver uma rotação. Os polímeros que são rígidos a temperatura ambiente podem tornar-se flexíveis graças à incorporação de “plastificadores“ químicos, que permitem às cadeias de polímeros deslizar livremente umas sobre as outras. As lentes de contato hidrofílicas são feitas de hidrogel . Os polímeros de hidrogel absorvem água que atua como plastificador. Para absorver água, o monômero deve ter grupos hidroxilicos livres (OH), que atraem água, ou seja, são hidrofílicos. 9.1- POLIMERIZAÇÃO É o processo para enlaçar monômeros por meio de um catalisador. O catalisador tem uniões químicas muito débeis, que ao se romper formam radicais. Um radical livre adere a um átomo de carbono e começa uma cadeia que se repete muitas vezes. Se um só tipo de monômero é usado, o resultado é um polímero chamado homopolímero. Um exemplo de homopolímero é o PMMA, onde o único monômero é o MMA (metilmetacrilato). Se mais de um monômero é usado, o resultado é um copolímero, o que quer dizer que há duas ou mais unidades que se repetem. Das qualidades, vantagens e desvantagens dos monômeros depende o material final, ou seja, o polímero. 9.2- CARACTERÍSTICAS DAS LENTES RÍGIDAS SEGUNDO O SEU MATERIAL
  • 28. Curso de Contatologia Colégio nacional de Óptica e Optometria 28 A tabela anexa indica as vantagens e desvantagens de cada polímero. Basicamente existem seis materiais para a elaboração de lentes de contato rígidos: LENTES RÍGIDAS VANTAGENS DESVANTAGENS PMMA Fácil de trabalhar e polir. Quase zero de permeabilidade ao oxigênio. Bastante umectável quando está limpo. Produz turvamento visual com os óculos. Fácil manutenção Em longo prazo causa Polimegatismo e “Síndrome de Exaustão Corneana”. Rígido 0.2 a 0.5 % de água quando está totalmente hidratado. Fácil de modificar. LENTES GÁS PERMEÁVEIS ACETIL BUTIRATO DE CELULOSE : CAB. Foi o primeiro material permeável , aparecido em 1977.Sua permeabilidade ao O2 era um avanço. Hoje é quase nulo se comparado a outros materiais Flexiona facilmente . Falta de estabilidade dimensional . Baixa umectabilidade e pouca resistência a depósitos . Pouco durável . LENTES GÁS PERMEÁVEIS VANTAGENS DESVANTAGENS T-BUTIL_ESTIRENO Maior permeabilidade que o CAB, o que contribui para diminuir a aderência de depósitos a sua superfície Baixa umectação . Baixa permeabilidade . Baixa durabilidade . É utilizado em lentes híbridas como a Softperm ACRILATO DE SILOXANO ou ACRILATO DE SILICONE (AS) VANTAGENS DESVANTAGENS Foram os materiais mais usados devido a seus valores de DK e graças à combinação de seus componentes (silicone, óxido metacrílico e acrilato). A carga e a química de sua superfície fazem com que seja mais propenso a atrair depósitos Racham com maior facilidade. Quebradiços. Rompem com mais facilidade. Com alguns produtos de assepsia se produzem rachaduras pela liberação de tensões internas induzidas que provocam falhas na superfície e matriz (cracking) Baixa rigidez, o que permite problemas de flexão. Parâmetros físicos afetados pela idade da lente, o ambiente, os produtos de assepsia e a tensão dos estojos. FLUOROACRILATO DE SILICONE (FAS) VANTAGENS DESVANTAGENS Como solução aos problemas de depósitos e deteriorização por rompimento ou rachadura nas lentes de Acrilato de Silicone o Flúor foi incorporado a estes polímeros.O Flúor evita em boa parte os depósitos de proteína e gordura que com tanta facilidade se acumulavam nas lentes de Acrilato de Silicone. O resultado foi favorável embora com este material não tenha sido possível reduzir o problema da resistência à flexão e estabilidade dimensional. Contudo, ao diminuir a aderência de depósitos este material trouxe mais conforto para os usuários. FLUOCARBONADOS (F) VANTAGENS DESVANTAGENS Tem grande permeabilidade, maior que 100. Pouca ou nenhuma resistência à flexão. Má estabilidade dimensional. Impossibilidade de modificações (retoques) Custo elevado da matéria prima.
  • 29. Curso de Contatologia Colégio nacional de Óptica e Optometria 29 9.3- CARACTERÍSTICAS DAS LENTES HIDROFÍLICAS SEGUNDO O SEU MATERIAL As lentes de contato hidrofílicas foram classificadas segundo o seu conteúdo aquoso e sua ionicidade em: GRUPO I Baixo conteúdo aquoso 50 % de conteúdo aquoso NÃO IÔNICOS GRUPO II Alto conteúdo aquoso 50 % de conteúdo aquoso NÃO IÔNICOS GRUPO III Baixo conteúdo aquoso 50 % de conteúdo aquoso IÔNICOS GRUPO IV Alto conteúdo aquoso 50 % de conteúdo aquoso IÔNICOS *As características de Ionicidade e Conteúdo aquoso darão as vantagens e desvantagens da lente. 9.3.1- LENTES DE CONTATO HIDROFÍLICAS DE ALTO CONTEÚDO AQUOSO - VANTAGENS: • • • • Alto DK: maior permeabilidade, logo maior aporte de oxigênio para a córnea. • • • • Maior flexibilidade. • • • • Fácil restauração da forma da lente após sua deformação. - DESVANTAGENS: • • • • Fragilidade: ao aumentar o conteúdo aquoso, eles ficam fisicamente menos resistentes.Por esta razão quebras e rasgo são freqüentes. O adaptador deve ter certa cautela em casos de miopia baixa ou paciente com pouca destreza manual. • • • • As lentes de alto conteúdo aquoso tendem a se desidratar mais rapidamente em ambientes com vento ou baixa umidade. • • • • Para lentes com poderes dióptricos acima de + /- 4,00 (mais grossas) um conteúdo aquoso baixo ( 40 %) não deve ser utilizado devido à reduzida transmissão de oxigênio. Nestes casos, um conteúdo médio de água (40 – 60 %) ou alto ( 60 %) é sempre necessário para melhorar a transmissão de oxigênio através da lente mais espessa. • • • • As lentes de alto conteúdo aquoso têm maior predisposição para a formação de depósitos, devido ao maior tamanho de seus poros.Freqüentemente este dado combinado com sua química iônica aumenta a entrada de material estranho, inclusive às proteínas da lágrima. • • • • Maior suscetibilidade ao meio ambiente especialmente a mudanças de pH. • • • • Baixo índice de refração. • • • • Menor estabilidade nos parâmetros, logo sua reprodutibilidade é baixa. • • • • Não se recomenda desinfecção térmica. • • • • Não podem ser fabricadas com uma espessura muito baixa. 10 - FABRICAÇÃO DE LENTES DE CONTATO As lentes de contato podem ser fabricadas por meio de três técnicas: - Moldagem - Torneamento - Centrifugação 10.1- MOLDAGEM O primeiro passo na moldagem é fazer o molde com que à lente será feita. Cada desenho de lente (curva base, poder dióptrico, diâmetro, etc) requer um molde diferente. O polímero líquido é colocado dentro da metade côncava do molde plástico.A parte convexa do molde é então anexada e o material é polimerizado com luz ultravioleta. Após a remoção do molde a lente se hidrata. 1) Polimetil metacrilato (PMMA) 2) Acetil Butirato de Celulose (CAB) 3) Acrilato de Silicone (AS) 4) Fluoroacrilato de Silicone (FAZ) 5) Fluorocarbonados (F) 6) T-Butil Estireno