1. Introdução
Definir o que é cultura não é uma tarefa simples. A cultura evoca interesses
multidisciplinares, sendo estudada em áreas como sociologia, antropologia, história,
comunicação, administração, economia, entre outras. Em cada uma dessas áreas, é
trabalhada a partir de distintos enfoques e usos. Tal realidade concerne ao próprio
caráter transversal da cultura, que perpassa diferentes campos da vida cotidiana. Além
disso, a palavra “cultura” também tem sido utilizada em diferentes campos semânticos
em substituição a outros termos como “mentalidade”, “espírito”, “tradição” e
“ideologia” (Cuche, 2002, p.203). Comumente, ouvimos falar em “cultura política”,
“cultura empresarial”, “cultura agrícola”, “cultura de células”. Ao que se conclui que, ao
nos referirmos ao termo, cabe ponderar que existem distintos conceitos de cultura, no
plural na contemporaneidade.
A cultura representa a identidade de um povo. Todas as sociedades têm uma cultura
que retrata seu modo de viver e, desta forma, suas especificidades são características
marcantes que revelam seus traços do mais simples ao mais complexo permitindo-nos
conhecer e assim estudarmos as diversas culturas.
Por outro lado, Moçambique é um país caracterizado por possuir cultura diversificada. É
multicultural, mesmo sem incluir a presença de estrangeiros estabelecidos em
Moçambique por diversos motivos, contudo existe até ao momento apenas uma língua
oficial, o português (Centro de Processamento de Dados).
2. Cultura
Falar sobre cultura requer, no mínimo, abordarmos sobre a história de cada povo,
cada sociedade, cada homem, enfim, o ser humano é agente social que influencia e é
influenciado pela cultura.
"A cultura mostra-se primeiramente na sua face objetiva, ou seja, nas obras
culturais, cuja criação incessante é para o homem a criação do próprio mundo, do espaço
vital em que se move e evolui. Num mundo sem obras culturais, a especificidade da presença
do homem se anula"(VAZ, 1966.
É que o mundo não apresenta significação para o homem senão na medida em que é
assumido no movimento que opera a passagem do ser natural em ser cultural. A paisagem
humana é necessariamente construída pelas obras culturais, pois só elas atestam ao homem
a essência e o sentido de sua presença no mundo: a presença de um sujeito que compreende,
transforma e significa. Elas são a objetivação da essência do homem como consciência-de-si.
Portanto, o homem se realiza como homem e emerge para o espaço humano da
consciência de si mesmo no exercício do ato de criação cultural ou de compreensão da obra
de cultura: tal a dimensão de sua presença no mundo. Assim, os condicionamentos exteriores
de natureza variada que modelam a obra cultural e que a Antropologia Cultural
longamente descreve fornecem a matéria à qual só o ato de compreensão, o ato humano
por excelência, confere um sentido, (VAZ, 1966).
É este sentido que exprime a face subjetiva da cultura. Ele define o plano de
realização do homem como sujeito do processo cultural. Se o mundo da cultura é o mundo no
qual o homem se reconhece, só a compreensão do seu sentido permite ao homem realizar-se
como homem. O indivíduo regride a estados e comportamentos que podem ser chamados de infra-
humanos, quando permanece estranho às significações do mundo cultural que o envolve. Se o
sentido, por sua vez, se objetiva em obras culturais, ele reveste a estrutura de sinal e, não
apenas é um sentido compreendido como também um sentido comunicado.
Assim se estabelece o caráter social e histórico da cultura. O homem é ser histórico
3. porque transforma o mundo, isto é, cria cultura; como tal ele se compreende a si mesmo e
esta compreensão é, na unidade de um mesmo ato, reconhecimento de um sentido objetivo, ou
seja, comunicável a outro homem: o sentido mesmo que se encarna na criação cultural.
Análise sobre a cultura Macua
Origem
O povo macua é descendente de um grande povo Banto originário da região centro-africana
(grandes lagos), ou seja das grandes florestas congolesas, que se migraram para a região da Africa
Austral a procura de terras férteis. Segundo “ Eduardo da Conceição Medeiros ( 1997) este povo
de lingua emakhuwa e elomwe estiveram representados no Niassa pelos macuas-lomwes, macuas-
chirimas, e macuas-meto. Estes ammetho ocupavam desde o rio Lurio a nascente do messalo. Os
macuas- lomues ( alomwes), ocupavam a outra parte do rio Lurio e estes povos estiveram
representados por linhagens de clãs exogamicos: alakassi, amirassi, anela, amale, amirolo, aseleja
e achepani (CHIPIRE, 1992).
Para alem desta tribo existiam os chirimas ( axirimas) dos clãs amokovo, amwatha, amirassi,
amirole, aseleje, e alapini os etnonomos michavam, mpolola, anhamuelo, amanhama, amaranta.
Os yao apelidavam-os por alolo ( singular lolo), ou anguru ( singular uguru). A invasão dos angoni
de mputa maseko no Niassa provocou uma reestruturação politica entre os yaos e os macuas. De
uma forma geral estes povos ( macua-lomue) ocupavam as margens do rio Lurio e Messalo, lago
Amaranba para aproveitar a pratica da actividades económicas. Os macua-lomue chefiados por
mhua( ou mahua ou maua) nome dinástico, atravessaram o rio Lurio por volta de 1835 a 1840 e
fixaram-se a norte deste rio por onde, passavam as caravanas dos Mêto e Quissanga formando
maua, (CHIPIRE,1992).
As margens do rio Lurio sempre foram constantemente povoadas, em todos os sentidos, ocupações
estas motivadas por situações historias e locais do momento como: seca, fome, guerras,
perseguições colónias.
O fundador de Cuamba foi NKWAMBA do povo lomue, de acordo com José Melo Branquinho
1933, as populações de regiões de Ribaue, Lalaua e Malema sofriam violência praticada por sipaios
a mando da administração portuguesa.
4. Actualmente este povo vive no norte de Moçambique, com cerca de 300.000 km2, abrange parte
das províncias de Cabo Delgado, Niassa, Nampula, Zambézia, é delimitado ao norte pelo rio
(Licungo nas proximidades) Rovuma a, leste o Oceano Indico, sul rio Licungo, próximo do rio
Zambeze e o oeste rio Lugenda, (CHIPERE, 1992).
Devido as migrações do sec XIX, e encontram se macuas em Malawi, Tanzânia, Madagascar,
Seychelles e Maurícias devido ao trafico de escravos no sec XVIII-XIX.
ORGANIZACAO SOCIAL
Como base da estrutura social e politica dos macua-lomue esta o “ mínimo” tribo. Estes sustentam
a explicação como legitima descendência da proveniência feminina, isto é, “ matrelinear”. Na
filiação matrelinear a família pode ser um grupo de indivíduos de vários segmentos de linhagem
consanguíneos pertencentes a uma mulher antepassada conhecida, a cabeça da linhagem como
referencia comum do lado materno outros indivíduos doutras linhagens também podem fazer parte
deste colectivo ou pelo casamento ou, desde que haja concordância entre todas as partes, (
CHIPIRE, 1992).
Os filhos pertencem a linhagem da mãe e são subordinadas ao “mwene”do mínimo que é o irmão
mais velho da mãe. É uma sociedade usorilocal, isto é, o homem tende se deslocar ao mínimo da
sua esposa toda família de uma maneira muito especial, e não somente aos pais. Cada nascimento
torna mais forte a família, mais intimamente unidas aos medianeiros da vida, aos antepassados,
e por meio deles, à própria fonte da vida, Deus. Desta forma o seu futuro torna-se mais claro e o
seu progresso ainda mais seguro. E é por isso que a responsabilidade pelo êxito desta fase vital
pertence a toda família (MARTINEZ. 1989:94).
A mais interessada em que a gestão tenha êxito e chegar bem ao fim, apesar de que se disse
anteriormente, é, naturalmente a própria mulher gravida. Nesta fase da sua vida ela procura ter
a família a seu lado para não ser obrigada a exclamar. Terem lhe deixada sozinha ou abandonada.
Neste ritos, a mulher no período de gravidez, tem suas obrigações e deveres a cumprir para que
tudo corra bem, é neste contexto que nem abordar outros procedimentos segundo as pesquisas
existentes, (CHIPIRE, 1992).
5. Casamento
Todo povo Macua segue a linhagem matrelinear, o sistema matrelinear consiste na transmissão da
herança para as mãos do sobrinho da irmã. Neste sistema a rapariga é considerada de riqueza
familiar em duplo sentido:
- Sendo ela geradora de novas criaturas, a sua acção ira preservar a seu menino;
- É ela que deve ocupar posições cimeiras da sua família. Contudo a autoridade da filha para
questões jurídicas, como enredo, divorcio, falecimento e é representada pelo tio materno, é ele que
decide sobre determinados assuntos como casamentos, as cerimoniais fúnebres, os ritos de
mediação ou circuncisão e demais questões relacionados com a família neste sentido as crianças
pertencem a família da mãe (CHIPIRE, 1992).
Gravidez
Segundo MARTINEZ (1989) o tempo de gravidez é considerado situação de crise e mesmo de
doença. O que esta a formar-se no seio materno é algo de muito delicado e frágil, que deve ser
tratado com muita atenção e cuidados especiais.
Durante todo este tempo deve observar-se uma série de normas e respeitar as proibições
estabelecidas pela tradição, para que o embrião se desenvolva bem, a mãe não aborte e o parto seja
fácil. Desta forma se evitará, como diz um adagio citado por Martinez ”que o filho se perca no
caminho da vida”(MARTINEZ. 1989:93).
No período de gravidez, os pais da criança que se esta formar no seio materno devem continuar a
ter relações conjugais, para que o filho se torne cada vez mais forte, segundo a maneira tradicional.
Proibição Tradicional
Martinez, faz nos entender que a mulher gravida, durante o período de gravidez, submete-se uma
serie de prescrições rituais para proteger e defender a nova vida já presente no seio. Estas
prescrições devem-se: umas a convicção que tem fundamentos no contexto
cultural macua(normas de comportamento e cortesia, abstenção de certos alimentos com
semelhanças simbólicas ao feto ou ao nascituro, etc.), outras são apenas questões de
sabedoria natural( abstenção certos alimentos que de facto fazem mal a um doente ou a uma
6. mulher gravida, a pratica de certos actos a hábitos de algumas atitudes interiores que podem
ajudar a viver melhor esta fase de vida ), (MARTINEZ, 1989).
Parafraseando Martinez, de entre as prescrições deste período especifico, indica-se algumas
características mais comuns, que a mulher gravida não pode prestar:
Não pode acender fogo caseiro na presença do homem;
Deve abster-se de alguns alimentos, por causa da semelhança simbólica destes com o feto
e com o nascituro (ovos, certos tipos de peixes, banana unidas para evitar gémeos e patas
de galinha, para evitar que, ao nascer criança arranhe a pele da mãe), como viu-se referido
anteriormente.
Deve manter um certo comportamento que dê a entender a sociedade o seu estado “liminar” no
vestir (não amarrar a capulana à cintura, mas sim por cima do peito e propositadamente vestirá de
maneira descuidada), no penteado (não deve entrançar o cabelo usar penteados que demostram
cuidados especiais), na forma de andar pela aldeia, na maneira de se sentar em público ou em sua
própria casa na presença de homens, ao cumprimentar falo- á com a cabeça inclinada, não assistirá
às danças, terá cuidados com o modo como dorme ( MLAUZI, 1985).
Será recatada e digna de respeito, por causa do que as suas entranhas encerram, e evitará as
discussões suportará as provas do seu novo estado com paciência e humildade(MARTIN EZ
1998).
Estas e outras proibições constituem a educação tradicional que a mulher macua deve cumprir.
Para o efeito outras características que a mulher deve apresentar-se no estado de gravidez é o corte
de cabelo segundo a apreciação de Martinez.
Corte do Cabelo
A mulher gravida submete-se ao rito de corte de cabelo, um rito de separação com o qual, através
de um sinal corporal, é mostrada a comunidade o novo estado da mulher que vai ser mãe. A
encarregada de cortar o cabelo à mulher gravida deve pertencer ao grupo das instrutoras, a sua
sogra ou uma anciã da sua família. Este rito de separação é completado pelas usanças (costumes,
hábitos tradicionais) que a mulher gravida deve observar na maneira de vestir e na maneira de se
apresentar em público (MARTINEZ, 1989).
7. Outra das actividade que a mulher gravida deve observar durante este período é o ensinamento a
partir das mulheres experientes, é dada em forma de instrução que o termo em macua designado
por “IKANO”
Durante o período de gravidez, a interessada recebe uma série de instruções apropriados ao seu
novo estado. As encarregadas de dar esta instrução pré- natal são as mulheres instrutoras, mestras
tradicionais nos vários ritos de passagem. Durante este tempo de instrução, que é feito
normalmente de noite em casa da instrutora ou em casa da APWIYAMWENE da povoação, a
mulher gravida recebe indicações o estado de gravidez, sobre o comportamento sexual com o
próprio marido e sobre a higiene intima. Outros termos de instrução são: os ritos que deve realizar,
as prescrição e proibição deste período e os remédios que deve tomar para proteger o feto das suas
entranhas, (CHIPIRE, 1992).
Estes ritos que são efectuadas durante a gravidez, representam para a mulher macua uma
preparação para ser futura mãe, não corresponder um susto no caso de acontecer algo assim o
dispuserem os espíritos dos antepassados. Ultrapassado este período, segue-se a vinda do indivíduo
a nova morada onde cria uma atenção na família e este acto segue-se um acompanhamento de
alguns ritos, (CHIPIRE, 1992).
Parto
Segundo MARTINEZ (1989), o parto é um momento muito particular na vida macua, vivido
intensamente em clima de absoluta “ liminidade “ como se poderá ver através dos vários ritos que
o acompanham. O parto propriamente dito é um assunto de competência exclusiva das mulheres.
Só elas podem participar, sendo severamente proibida a presença de homens.
Geralmente nas entidades religiosas tradicionais moçambicanas, particularmente as macuas, estes
tipos de situações são consideradas de tabú para qualquer pessoa (homem é interdito, crianças e
mulheres que não passaram nos ritos de iniciação e que não tiveram experiências iguais), por isso
quando chega o momento de parto procura-se um lugar sigiloso e de máxima segurança (MLAUZI,
1985).
Segundo as apreciações de MARTINEZ (1989), chegado o momento critico de dar à luz, a futura
mãe, algumas anciãs e familiares (com a condição de todos eles terem dado a luz alguma vez) em
caminha-se para um lugar apartado, fora da casa e do pátio da residência da parturiente.
8. Geralmente, escolhe-se um lugar recolhido do bosque, debaixo de uma arvore. Ai ocorrerá o
processo biológico do parto. Quando não é possível sair da casa ou bosque fica muito longe,
procura-se um lugar recolhido em casa, longe da atenção dos homens e das crianças.
No lugar escolhido, as mulheres indicadas anteriormente enfrentam de forma realista os problemas
obstétricos do momento. Coloca-se uma esteira no chão e uma das anciãs, sentada na esteira,
recosta nos seus braços a parturiente. As outras mulheres preparam o necessário para os primeiros
auxílios (vasilhas com água, uma manta e uma pequena faca para corte de cordão umbilical e
ajudam a parturiente, (MARTINEZ, 1989)
Se o parto se tornar difícil, recorre-se as praticas rituais de emergência. Em primeiro lugar, uma
das anciãs assistente ao parto fala com o marido para que este ponha as coisas de casa
(especialmente a roupa ) ao ar livre e adapte, mesmo na maneira de vestir, uma atitude de tristeza.
Se os problemas continuam, então deve consultar-se imediatamente o especialista de averiguação
e realizar-se o rito de confissão das faltas. É um rito de autocrítica e de reconciliaçãorealizados
também na iniciação dos jovens e nos ritos de cura, (MARTINEZ, 1989).
Depois de todas as cerimonias, ritos e ultrapassar a situação angustiosa do parto, à que destacar o
fenómeno relevante a este tema que o nascimento, como mente de alegria do povo macua.
Nascimento
Ainda nas palavras de Martinez, nascida a criança, a instrutora principal corta o cordão umbilical
e ata o embigo. Imediatamente as outras anciãs lhes dão o primeiro banho com água preparada
nesse momento e nunca com água preparada anteriormente. O primeiro banho é, ao mesmo tempo,
uma medida de higiene e um rito de purificação, pois a criança esteve em contacto directo com o
sangue da mãe e é necessário que perca a contaminação ritual adquirida. Trata-se igualmente de
um rito de protecção, porque o recém-nascido acaba de entrar no mundo e, sendo tão fraco corre
toda espécie de perigo. Completa-se esta primeira parte com os ritos de “corte do cabelo” da
criança e com o do “escondimento da planceta “ (Martinez, 1989).
Terminados os trabalhos de parto, as mulheres assistentes gritam para manifestar os seus
sentimentos de alegria e satisfação. Trata-se de gritos chamados ELULU grito línguo-gutural,
muito característico entre as mulheres macuas, e também usados por outros povos de Moçambique
confinantes, com o povo macua (MARTINEZ, 1989).
9. No nascimento de uma criança, as mulheres gritam ELULU para manifestar alegria pelo êxito do
parto como foi afirmado anteriormente. Ao ouvir este grito, toda a gente fica a saber que o parto
ocorreu bem e que não houve complicação. O grito de ELULU, pode ter maior ou menor duração,
conforme o sexo da criança será mais prolongada se se tratar de uma menina, porque a menina, no
futuro irá aumentar a família e não abandonará a casa, pelo contrario o grito do menino terá menor
duração, porque este quando for adulto abandonará a sua casa para beneficiar o crescimento de
uma família distinta da sua, (MLAUZI, 1985).
Martinez, na sua obra afirma que já não se usa ritos que indicava, simbolicamente, o sexo da
criança. Para tal, uma das assistentes do parto mostrava aos presentes, no pátio da casa onde
nascerá a criança, um pilão se se tratava de uma menina, e pau grande de pilão ou uma lança, se
se tratava de um menino.
Nome da Criança
Segundo a apreciação de Martinez, com o rito da atribuição do nome, o recém-nascido fica
individualizado no processo de incorporação à família e à sociedade. A esta atribuição é da
competência de um dos familiares mais próxima(tio materno, os outros tios, o pai, os avos ou
alguma pessoa particularmente ligada à família). O nome que se da a criança pode indicar várias
coisas: um desejo realizado em seu nascimento, um acontecimento importante na vida da família,
a recordação dos antepassados da família, um pressentimento ou outra coisa qualquer com algum
significado para a família, (MARTINEZ, 1989).
Segundo MALOA, o nome macua é um elemento social que designa a natureza das coisas em si
mesma. Por isso, segundo este sacerdote macua, há um intrínseco, vital que se recebe na iniciação,
um nome ocasional imposto pelas circunstancias e um nome extrínseco, sem grande
influência (apud.MARTINEZ.1989).
Para MLAUZI, (1985) os nomes são também uma realidade eteologicas, uma expressão cultural
tanto na sua génese como no conteúdo (). É de sintetizar que os nomes na sociedade macua são
dados de acordo com a cultura e a tradição. Segundo a mesma apreciação iremos aqui considerar
os diversos ritos na sociedade macua após o nascimento da criança, observa-se alguns ritos que
devem cumprir e outros não devendo praticar.
10. Adolescencia dos (13-18 ANOS)
Terminada a infância, inicia-se a adolescência com uma autêntica evolução filosófica. Fase
intermédia adolescente adulto. Nesta fase tanto o rapaz como a rapariga não deve e nem podem
dormir na mesma casa com os pais pois saberão os tabus da casa. O pai é obrigado a fazer uma
casinha para a filha bem pertinho da sua e por sua vez o filho faz a sua própria no mesmo pátio.
Muitos investigadores dizem que o povo macua é muito acolhedor e hospitaleiro porque tem
sempre uma casa de reserva para albergar os hospedes porque não querem partilhar certos tabus
da casa, com alheios e até mesmo com os próprios filhos, (CHIPIRE, 1992).
Entre a rapariga e o rapaz existem sortes diferentes, para o rapaz a puberdade surge com a
iniciação, e fecha com a sua participação nos ritos de iniciação na puberdade designados por
MASSOMA porque se supõem uma educação intencionalmente organizada, relativamente
intensiva. Enquanto a rapariga é biológica, isto é a maturidade fisiológica revela-se quando a
rapariga apanha a primeira menstruação issu serve de sinal a mãe, como tendo chegado o momento
para a realização dos ritos de iniciação, (CHIPIRE,1992).
Os ritos de iniciação constituem um apogeu a educação tradicional nestas cerimónias se ensina a
moral com respeito aos outros e aos mais velhos. Em suma as crianças aprendem tudo sobre a vida.
Pois a cerimónia do encerramento acontece no EPWARO ou PUARO em casa das autoridades
gentílicas, também pode decorrer em casa do régulo ou em casa dos chefes da família relevante
escolhidos durante o trabalho de acampamento, ( MARTINEZ, 1989).
Os ritos de iniciação são públicos apenas na secção de encerramento, nos conselhos de iniciação
denominados por OKHUMA WALUUKHU, o que quer dizer conselhos de saída dos iniciados.
Actualmente devido a conjuntura social e sobre todo as transformações socioculturais vigentes na
sociedade tradicional moçambicana lentamente vão mudando, os dias demoravam um mês,
actualmente duram uma semana em casos específicos menos dias ( MARTINEZ, 1989).
Depois destas cerimónias as crianças são obrigadas a não ter nenhum contacto verbal ou gestual
com os pais ou educadores durante 2 anos. A cumplicidade entre mãe e filho chega ao fim e passa
a reinar a relação de evitamento e profundo respeito. Depois deste tempo de “standy by” impõem-
se dizer k vivem menos agregados familiar em casa dos pais e essa convivência é rigorosamente
acompanhada pelo seu principal tutor seu tio materno, seu padrinho de iniciação além da
11. comunidade, para que o comportamento dos iniciados seja traduzido em atitudes, seja adequado
ou seu estado de iniciado de “ adulto”. Assim devera quebrar este silencio com os educadores com
o pagamento de um bem ou comida, é frequente darem matxilo ( rato) pegue na machamba com
um prato especial por ter-se tornado homem, ( CHIPIRE, 1992).
Ora a participação do indivíduo na sociedade é condicionada. Portanto, a participação do indivíduo
na socialização não se realiza por gosto ou casualidade é uma consequência da própria vida. Sendo
assim, a pessoa é um membro de uma sociedade global, integra, organizada, segundo o princípio
de todo em todas coisa, e nada fora de coisa nenhuma, É harmonia do individuo com sua
comunidade. Em termos de idade cronologia e fisiológica, ele ainda é criança, em termos de idade
mental e cultura, o rapaz é adulto e sociedade reconhece como tal, com todos os direitos e deveres
inerentes, (CHIPIRE, 1992).
Porem o rapaz “ adulto” brinca com os coentanicos, é uma situação em que a “criança” dentro de
si convive com “adultos” na mesma pessoa. Não se trata de dupla personalidade mais sem de uma
personalidade integrada.
Chegada a fase elas aprendem a encarar o trabalho, a menina replica os trabalhos realizados pela
mãe e o rapaz faz o mesmo com os homens. A ordem moral consiste num todo único, é a ordem
social é a sociedade, tal com ela é a vida estruturada, que vai desde as crianças ate aos jovens, dos
jovens aos adultos, dos adultos aos anciãos, dos anciãos aos antepassados.
Ritos Proibidos
No dizer de Martinez, há uma série de proibição de caracter ritual que os pais do recém nascido
têm de observar desde a data do nascimento da criança até no dia dos ritos do :fogo já apagado”
de que foram descritos anteriormente. Outras proibições rituais referem-se ao período de aleitação
da criança, que acaba apenas no dia das “cerimonias de desmame “. Este período de tempo vai,
normalmente de um ano e meio a dois anos, (MARTINEZ, 1989).
As proibições mais comuns são as seguintes :
Os pais do recém nascido não podem ter entre si relações sexuais durante todo o tempo de
amamentação da criança;
12. pai não deve entrar em casa para ver a criança enquanto não se realizarem as cerimonias
de “fogo já apagado”, por causa da cicratização do umbigo;
A mãe deve abster-se, durante todo período de amamentação da criança, de certos
alimentos que pela sua cor, tamanho ou forma possam recordar a fragilidade da criança
(mel, papaia, certos peixes, etc.)
Durante este mesmo período de tempo, todas as mulheres que ajudaram e estiveram presentes no
parto devem abster-se de relações sexuais. As pessoas solteiras não podem pegar na criança até ao
referido dia da cicratização do umbigo, entre outros ritos (MARTINEZ,1989)
Desmame
Martinez, afirma que depois da criança aprender a caminhar, realiza-se o “rito de desmame”. Este
rito consiste fundamentalmente, num banho da criança, ao qual assistem todos os membros da
família, o chefe da aldeia e os chefes da linhagem dos restantes familiares da aldeia. É um rito de
purificação e ao mesmo tempo um rito de integração definitiva da vida. Com a realização deste
rito termina todas as proibições rituais no âmbito sexual, alimentar e de protocolo. A partir desse
momento os pais da criança podem recomeçar as relações conjugais intimas e todas as actividades
familiares e sociais. Para encerrar este capitulo que realça o fenómeno de nascimento na
comunidade macua é de destacar alguns aspectos só pertinentes para enriquecer o trabalho,
(MARTINEZ, 1989).
Martinez, realça que as vida é nos dada para transmitir a outros e não para a retermos para nós. É
um dom comunitário que ninguém pode guardar egoisticamente. Na sociedade macua quem não
se faz transmissor da vida é um inimigo da comunidade, porque com a sua esterilidade (voluntária
natural ou obrigatória) torna-se responsável pela morte do povo e pelo seu empobrecimento,
(MARTINEZ, 1989).
Morte na Sociedade Macua
Tal como acontece no nascimento também na morte, existe uma série de ritos que são praticados
em cerimonias para encaminhamento da vida eterna.
É de salientar que a sociedade macua valoriza a vida, mesmo depois da morte estes atribuem uma
vida invisível ao defunto. Para enfatizar a esta reflexão, Martinez diz que um povo como o macua
13. que da tanta importância a vida e tudo o que possa defender, conservar e transmitir considerando-
a como um valor absoluto, encontra na morte o seu inimigo. Por isso mesmo utiliza todos os meios
ao seu alcance para integrar adequadamente a morte na sua cosmovisão e dessa forma reinterpreta-
la, dando-lhe um lugar próprio e o seu significado novo no seu contexto cultural, (MLAUNZI,
1985).
Através da realização de ritos fúnebres o povo macua vive momentos decisivo do ciclo vital: a
passagem definitiva do estado visível a um estado invisual. Os espíritos são os vivos por
excelências, dotados por uma vida que dura sempre e de poderes sobre humanos, capazes de
influenciar a vida da sociedade e dos seus seres visíveis (MARTINEZ 1989).
Segundo Martinez, a morte é uma mudança de estado, que supõe ao mesmo tempo, ruptura e
continuidade. O que subsiste do antigo estado no novo é, fundamentalmente a identidade essencial
da pessoa, aos laços familiares(quem morre continua a pertencer a sua própria família)e sociais(o
falecido continua a ser membro da sociedade a que pertence)
A vida do além considera-se, em parte, semelhante à vida visível, existindo uma séria de relações
entre os defuntos e os seres vivos. Os defuntos precisam de comida, pelo que os vivos do mundo
visível devem oferecer-lhes sacrifícios, os mesmos têm sentimento e reagem perante os
acontecimentos da vida dos homens, são respeitado e temidos segundo a sua importância social e
o seu procedimento moral (Martinez. 1989)
Para o macua, uma boa morte é que chega conforme o previsto pela tradição, tendo em conta vários
factores. Tempo(idade avançada da morte) discidência (deixando muitos filhos), lugar (morrer na
própria aldeia e na própria casa), e algumas modalidades (morrer sem grande sofrimento, em
presença dos familiares mais chegados, não deixando questões pendentes de solução e sem paz
com a família e com a sociedade) Ao contrario uma morte má é a que sucede de improviso (com
pouca idade) ou de forma violente (assassínio, homicídio ou acidente). Também é má morte de
uma pessoa estéril, porque não deixa descendência, ou dificuldades económicas (dividas por
liquidar) .( Ibidem p.208)
A morte, na sociedade macua, é considerada como a passagem da pessoa a outro estado de vida,
como já foi referido anteriormente, qualitativa e existencialmente diferente do que tinha no
momento da morte , esta passagem é vivida ritualmente através dos ritos fúnebres[17]. Nestes
14. ritos destinguem –se as três fases normais de qualquer rito de passagem: separação do
mundo anterior, período de margem e de agregação definitiva ao novo estado.
Na sociedade macua a preparação do morto desde a lavagem, vestida até a sua sepultura segundo
as fontes não defere muito da preparação da religião islâmica, talvez porque existe uma influencia
por causa da penetração mercantil árabe. Mas importa destacar os aspectos que caracterizam este
povo como as fontes referem.
Segundo Martinez, o tio materno mais velho do falecido ou, na falta deste, o que o segue por ordem
de importância na família assume a responsabilidade de organizar a cerimonia para a realização
dos ritos fúnebres, distribuindo os encargos entre os familiares e pessoas mais chegados: uns
encarregam-se de tratar o cadáver com várias abluções e unções e o do envolver num pano grande
e numa esteira, outras preparam a cova no lugar indicado pelo familiar, outras preparam a comida
para todos os que participarão no funeral e a água para abluções. A sepultura do cadáver faz-se
normalmente, num lugar escolhido pelo tio materno mais velho do defunto, fora da aldeia,
afastados dos caminhos entre as arvores do bosque. Quando se trata do chefe da aldeia ou do
regulo, costuma escolher-se um lugar especial perto da sua casa.
Só para fazer uma reflexão, o falecido não deve passar mais que 24 horas dentro da casa sem ser
enterrado, mesmo que mora longe da família sem condições económicas, deve ser enterrado nesse
mesmo lugar onde perdeu a vida, assim Deus o quis, segundo a religião islâmica. Estava fazer
esta breve explicação para fazer uma analise comparando com os rituais da tradição macua
segundo Martinez (1989), é muito raro que passe 24 horas desde a morte até a sepultura. O cadáver
devidamente preparado com abluções e unções, feitas pelos familiares mais próximo e outros
anciãs da aldeia, é envolvido num lençol branco e colocado no chão, encima da esteira que o
defunto usava em vida para dormir. Junto do cadáver sentado no chão, vestidas de roupa velha,
sem adornos e despenteados, fazem vela as mulheres da família e os amigos.
Os homens, familiares do defunto reúnem-se noutro lugar à parte, sempre perto do lugar onde jaz
o cadáver, geralmente no pátio da casa, enquanto esperam que o tempo passe, compartilham a
dor e tristeza pela morte do familiar e amigos e entoam cânticos em forma salmodica em
perguntas e comentários dirigidos ao defunto sobre a sua vida. Neste momento entra em acção o
especialista em diminuir a tensão psicológica do rito, este ridiculariza a vida do defunto e a de
outros falecidos, e inclusivamente, a vida de algumas pessoas vivas relacionados com o defunto.
15. Os familiares do defunto e os habitantes da aldeia deixam os seus trabalhos e ocupações habituais
para poderem participar no velório e dos outros ritos fúnebres. Ficam excluídas destes ritos pessoas
não iniciados. Os familiares mais chegados cortam o cabelo, rapam mesmo a cabeça vestem-se
com roupas velhas, como sinal de luto. (Martinez, 1989:213)
O Luto e os Sacrificios Tradicionais
Com a celebração do enterro, começa o período de margem, durante o qual a família do falecido
se encontra de luto pela morte do familiar (Apud.MARTINEZ. 1989). Este período tem,
normalmente, a duração de um ano, dividido em duas partes, “o luto grande”, com a duração de
30 dias e 40 dias, “o luto pequeno”, o resto do tempo até ao primeiro aniversário (MRTINEZ
1989).
Durante este tempo cuida-se de maneira especial do estado de conservação da sepultura de manhã
cedo, pelo menos durante a primeira semana, um ancião da família encarrega-se desta tarefa.. Se
descobre alguma coisa especial, deve comunica-la imediatamente ao chefe da família do falecido
para se investigar o sucedido e se oferecer o sacrifício expiatório, consultando o especialista da
investigação se for necessário (Idem).
Segundo Martinez, para recordar a memória do defunto e desejar que nada lhe falte na sua
viagem definitiva para outra vida, onde esperam os antepassados, os seus familiares oferecem-
lhe a farinha e a bebida do sacrifício. O encarregado de orientar a oração principal é o chefe da
família. Todos os presentes ouvem a oração sentados no chão a volta da sepultura em profundo
silencio. No fim aplaudam batendo palmas levemente em sinal de aprovação (MRTINEZ 1989).
Prescrição e Proibição Tradicional
Segundo Martinez, durante o período de luto, as normas tradicionais estabelecem certas
orientações no procedimento dos familiares mais próximos do defunto as quais devem ser
entendidas nas perspectiva cultural da sociedade macua. Algumas prescrições e proibições
apoiam-se na sabedoria popular, fruto das experiências de várias e gerais: algumas prescrições são:
Obrigação de participar em todos os ritos e observar o luto. As pessoas que entram em contacto
com alguma coisa que pertenceu ao defunto devem fazer abluções purificatórias;
16. As famílias são obrigadas a contribuir para as despesas do funeral e sustento dos órfãos ou das
viuvas, se isso for necessário, os amigos e a outras pessoas da aldeia também o podem fazer
(MARTINEZ 1989).
Segundo as mesmas reflexões as proibições são:
No dia de enterro estão proibido os alimentos, a pessoa deve ficar como o jejum total, e
nos dias em que celebram os aniversários o jejum parcial,
Abstinência sexual obrigatória para os familiares mais próximas, e absoluta durante o
grande luto e parcial durante o resto do luto,
Martinez, realça ainda que todas as normas positivas e negativas tem um valor social
importante, já que realçam a coesão do grupo.
17. Referencias
CUCHE, Denys. O Conceito de Cultura nas Ciências Sociais. Tradução de
Viviane
Ribeiro. 2 ed. Bauru: EDUSC, 2002.
Vaz, H. C. de Lima. Cultura e universidade. Petrópolis: Vozes, 1966. p.5 e 6