2. O uso de neologismos (=palavras novas, sem registro em nossos
dicionários) é sempre um assunto polêmico. Há aqueles que
rejeitam qualquer novidade e aqueles que "topam tudo".
A criação de novas palavras é comum em qualquer língua. É
bastante saudável. Há um enriquecimento vocabular e comprova o
caráter evolutivo das línguas vivas. O problema é o modismo, o
exagero, o termo desnecessário.
E aqui está, novamente, a dificuldade de ser moderado. O que
aceitar ou não? É uma questão muito subjetiva. Mais uma vez
estamos diante de um assunto que não pode ser tratado na base do
certo ou do errado. Na minha opinião, é uma questão de adequação.
3. Voltemos ao famoso caso do IMEXÍVEL. Teoricamente o processo
de formação da palavra é aceitável: raiz do verbo MEXER + prefixo
"i" (=negação) + sufixo "vel" (=possibilidade). Imexível = o que não
se pode mexer. Seria o mesmo caso de insubstituível, invisível,
invencível, indestrutível... Na prática, entretanto, temos um
problema: devido à "fonte criadora", a palavra imexível carrega
consigo uma carga pejorativa, o que torna o seu uso inadequado em
determinadas situações. Não acredito que eu venha a encontrá-la
em algum texto sério cuja linguagem seja mais formal.
Curiosamente, muitos neologismos são verbos, como ELENCAR,
ALAVANCAR, IMPACTAR e outros. Não vejo necessidade de
"elencar", se podemos LISTAR, ENUMERAR, REUNIR, SELECIONAR…
Para que "alavancar", se podemos IMPULSIONAR, ELEVAR ou
LEVANTAR?
4. É importante lembrar que o verbo ALAVANCAR está devidamente
registrado em vários dicionários.
Quanto ao IMPACTAR, o problema é outro. No dicionário Michaelis,
IMPACTAR significa "tornar impacto, introduzir em outra coisa de
modo que seja impossível retirar, penetrar de modo irreversível".
Entretanto, no meio empresarial, encontramos um uso no mínimo
duvidoso: "Esta medida está impactando a nossa empresa". Isso
pode ser bom ou ruim. Eu não sei se a carga do verbo impactar é
positiva ou negativa.
Para mim, mais importante que a palavra existir ou não em nossos
dicionários é a clareza da frase. Se a palavra selecionada deixa a
frase com duplo sentido, devemos evitá-la, a menos que a
ambiguidade seja a nossa real intenção.
5. Não sou contra os neologismos, e sim contra os modismos. É
importante lembrar que muitos neologismos já foram incorporados
à nossa linguagem do dia a dia e hoje estão devidamente
registrados em nossos dicionários: agilizar, minimizar, posicionar,
sediar…
Devemos, portanto, ter cautela tanto no uso quanto na crítica a
quem usa.