Alucinação telepática coletiva homem-cão no monte Pen
1.
2. Terceira categoria
Animal e homem percebem alucinações
telepáticas coletivamente
Caso 3 (Visual-coletivo)
Eu o retirei do Journal of the S. P. R. (vol. XIII, pág. 28).
O eminente mitólogo e sociólogo Andrew Lang comunica o
seguinte fato, observado por sua sobrinha. Ela lhe escreveu a
esse respeito:
3. “Skelfhill, Hawick, 8 de agosto de 1906.
... Cheguei a estas terras em 4 de agosto: na segunda-feira, dia 6,
estava no monte Pen, onde, pela primeira vez, vi um fantasma.
Estava acompanhada do meu velho cão Turk e subi a montanha
lentamente, parando com frequência por causa das curtas pernas de
meu companheiro e de sua respiração ainda mais lenta; mais ainda
porque as raízes e as mudas eram espessas e resistentes. Fizemos
uma nova pausa no local onde o monte Pen erige bruscamente seu
cume imponente. Sentei-me de costas para a barreira, tendo diante
de mim a montanha rochosa, enquanto Turk estava sentado,
ofegante, aos meus pés...
4. De repente, vi aproximar-se de mim minha amiga doutora H., com quem tinha feito
uma viagem pela América em maio de 1905. Ela estava de saia curta azul, com um
corselete de algodão branco, sem chapéu e com uma muleta na mão; quando ela
estava bem perto de mim, notei uma mecha de cabelo que lhe caía sobre o rosto.
Soube quinze anos antes que ela tinha voltado da América para a Inglaterra, de onde
teria de partir novamente no dia 12 de setembro para visitar seus pais em Cornwall;
porém, não sabia quando ela voltaria. Fiquei bastante surpresa ao encontrá-la
naquele lugar onde, por um instante, não pude me mover nem murmurar uma palavra;
mas Turk me fez voltar a mim, resmungando contra a nova visita. Então, eu me
levantei de uma só vez exclamando: “Você por aqui, doutora H.?”. Ao ouvir essas
palavras, a doutora se virou e me olhou; em seguida, ela continuou tranquilamente a
descer pela trilha que eu acabava de subir. Surpresa com sua atitude, pois estava
certa de que ela tinha me visto, eu a segui com a intenção de pará-la. Esperando,
Turk não parou de resmungar e de latir, mas sem se distanciar de mim, enquanto que
normalmente ele se joga latindo nas pessoas e nos cães que lhe são desconhecidos.
Notei que o pelo de suas costas estava eriçado e que seu rabo estava arcado como
um gancho. Quando alcancei a doutora e ia estender o braço para colocá-lo sobre
seus ombros, um inseto enorme zumbindo se enfiou entre nós, voando através de seu
corpo. Depois disto, vi a doutora desaparecer! É claro que fiquei surpresa e
consternada; até aquele momento, não tinha a mínima ideia de que não se tratava de
minha amiga em carne e osso. Sem Turk, eu teria duvidado dos meus sentidos; mas
naquelas condições, não restava nenhuma dúvida, já que o cão tinha
incontestavelmente se mostrado irritado e resmungava contra alguém. Juro a vocês
que gozo de uma boa saúde, que nunca me senti tão bem, que há um ano bebo só
água. Não posso precisar o minuto em que vi a aparição; mas como assim que me
5. Peguei imediatamente meu lápis e anotei o fato estranho num
envelope que tinha em minha mochila. Assim que cheguei em
casa, ditei o relato detalhadamente. Obviamente, escrevi ontem
mesmo à doutora perguntando-lhe o que ela fazia no dia e na hora
em que ela me apareceu. Assim que tiver uma resposta, eu a
informarei para vocês.”
Uma carta sucessiva da sobrinha do professor Lang ao seu tio
continha a passagem seguinte:
“... Encontrei-me com a doutora H.. Ela me disse que no dia e
na hora indicada, ela descia a colina do Tintagel, vestida
exatamente tal como eu a descrevi, com uma roupa de banho a
mais em seu braço que não vi de jeito nenhum...”
6. A irmã da doutora H. escreve:
“No dia 6 de outubro de 1906, por volta das 18 horas, a
doutora H. descia a colina do Tintagel após ter se banhado. Ela
estava com uma saia azul, sem chapéu, e tinha em seu braço
uma roupa de banho.”
M. H.
Como podemos ver, no caso exposto, trata-se da aparição de
uma pessoa viva que foi percebida coletivamente por um cão e
por sua dona. Se a autenticidade da aparição não pode ser posta
em dúvida, em contrapartida as modalidades dessa manifestação
se afastam da regra que rege as aparições desse tipo, visto que,
geralmente, o agente se encontra em condições excepcionais sob
o ponto de vista emocional, enquanto que no caso em questão
não me parece que seja assim. De qualquer forma, é provável
que a doutora H., naquele momento, tenha voltado seu
pensamento para sua amiga ausente, com a qual ela deveria se
encontrar alguns dias depois.
7. Do ponto de vista que nos interessa, sublinho que a aparição foi
vista simultaneamente pelo animal e por sua dona; a atitude do
cão, que resmungava e latia contra a pessoa que estava lá, mas
que não ousava se afastar das saias protetoras de sua dona,
mostra que ele se dava conta de que estava diante de uma
manifestação fantasmagórica, enquanto que sua dona pensava
absolutamente estar diante de sua amiga em carne e osso; aí está
uma razão a mais para contradizer a hipótese da transmissão de
pensamento do homem para o animal.