Este documento descreve um caso de aparição coletiva do fantasma de uma garota chamada Palladia que morreu aos 15 anos. O relator e seu cão viram Palladia, que falou brevemente com o relator. Mais tarde, a filha de uma visitante também relatou ter ouvido uma voz bondosa durante a noite. O cão do relator demonstrou ter visto Palladia também, ficando assustado e se escondendo atrás do dono.
2. Quarta categoria
Visões de Espíritos ocorridas sem
coincidência telepática e percebidas
por homens e por animais
Relativamente frequentes, os fatos pertencentes a esta categoria têm uma
importância teórica, uma vez que apresentam o valor de casos de
identificação espiritual.
3. Caso 04 (Visual-auditivo-coletivo)
Eu retiro a passagem seguinte de um outro relato bastante notável de
Alexandre Aksakof, publicado nos Proceedings of the S. P. R., vol. X,
págs. 387-391). Acrescentarei, para melhor compreensão do
acontecimento, que o caso aqui transcrito se refere à história das
aparições reiteradas de uma moça chamada Palladia, morta aos quinze
anos. O relator, Senhor E. Mamtchitch, foi também, no referido caso, o
principal percipiente.
4. “Em 1885, estava eu na casa de meus pais, numa propriedade de campo
no condado de Poltava. Uma senhora de nossas relações tinha vindo
passar alguns dias em nossa casa com seus dois filhos. Algum tempo
depois da chegada deles, como eu me levantava cedinho, vi Palladia (eu
dormia numa
ala separada onde ficava sozinho). Ela estava diante de mim, distante
uns cinco passos mais ou menos, e me olhava com um sorriso alegre.
Tendo se aproximado de mim, ela me disse duas frases rápidas: “Eu
estava, eu vi” e, sorrindo, desapareceu. O que significavam suas
palavras eu não pude compreender. Em meu quarto dormia junto comigo
meu setter. Assim que percebeu Palladia, meu cão se eriçou e, uivando,
pulou em minha cama; apertando-se contra o meu corpo, ele olhava na
direção em que eu via Palladia. O cão não latia, enquanto que
normalmente ele não deixava ninguém entrar no quarto sem latir ou
rosnar. E todas as vezes que ele via Palladia, protegia-se perto de mim,
como que procurando um refúgio.
5. Quando Palladia evolou-se, desci na casa e não disse nada a ninguém
sobre aquele incidente. No mesmo dia, à noite, a filha mais velha da
senhora que estava em nossa casa me contou um fato estranho que tinha
lhe acontecido de manhã: “Assim que acordei, senti como se houvesse
alguém na cabeceira de minha cama e ouvi distintamente uma voz me
dizendo: ‘Não tenha medo, sou bondosa e gentil’. Eu me virei, mas nada
vi; minha mãe e minha irmã dormiam tranquilamente; aquilo me espantou,
pois nada parecido tinha me acontecido antes”. A isso, respondi que
muitas coisas inexplicáveis acontecem conosco, mas não lhe disse nada
sobre o que tinha visto de manhã. Somente um ano depois, quando já era
seu noivo, contei-lhe sobre a aparição e as palavras de Palladia no
mesmo dia. Não seria ela que teria vindo vê-la também? Devo
acrescentar que, naquela ocasião, era a primeira
vez que via aquela senhorita e não pensava de forma alguma que ia me
casar com ela.”
6. A senhora Mamtchitch confirma assim o relato:
“5 de maio de 1891.
Lembro-me muito bem de que no dia 10 de julho de 1885, quando
estávamos visitando os pais de E. Mamtchitch, tinha me levantado
cedinho, pois estava combinado, entre minha irmã e eu, que faríamos um
passeio matinal. Ao me levantar da cama, vi que mamãe e minha irmã
dormiam e, naquele momento, senti como se alguém estivesse à minha
cabeceira. Virando-me um pouco – pois temia olhar demais –, não vi
ninguém; ao me deitar novamente, ouvi imediatamente atrás, por cima de
minha cabeça, uma voz de mulher me dizendo com meiguice, mas
nitidamente: ‘Não tenhas medo, sou bondosa e gentil’, e mais uma frase
que esqueci naquele mesmo instante. Imediatamente depois, vesti-me e
fui passear. O estranho é que aquelas palavras não me assustaram de
forma alguma.”
7. Neste relato, a melhor demonstração de que o cão teve a mesma visão
que seu dono é fornecida pelo pavor que ele sentia diante da
manifestação. O senhor Mamtchitch disse que o cão, trêmulo, pulou em
sua cama com o pelo eriçado e, gemendo, encolheu-se contra seu corpo,
olhando espantado na direção em que seu dono via Palladia. Ele
acrescenta que o animal tinha o
costume de rosnar e latir contra quem quer que fosse. Ora, o terror insólito
experimentado pelo cão mostra de maneira incontestável que, não
somente ele via o fantasma de Palladia, mas também que ele
compreendia instintivamente que não estava diante de uma pessoa viva;
se assim não o fosse, ele teria recebido a intrusa rosnando e ameaçando-
a.
Sob uma outra perspectiva – que não é a que tratamos neste livro –,
lembro que o relato de onde retirei este episódio que acabamos de ler
constitui excelente exemplo de identificação espiritual onde o fantasma de
Palladia (que tinha sido, quando viva, ligada ao juiz Mamtchitch por laços
afetivos) fornece inúmeras e admiráveis provas em relação à presença
espiritual daquela personalidade.