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Costa PHA, Mota DCB, Cruvinel E, Paiva FS, Ronzani TM. Metodologia de implementação de prá-
ticas preventivas ao uso de drogas na atenção primária latino-americana. Rev Panam Salud Publica.
2013;33(5):325–31.
Como citar
Rev Panam Salud Publica 33(5), 2013	 325
Metodologia de implementação de práticas
preventivas ao uso de drogas na atenção
primária latino-americana
Pedro Henrique Antunes da Costa,1 Daniela Cristina Belchior Mota,1
Erica Cruvinel,1 Fernando Santana de Paiva1 e Telmo Mota Ronzani1
Objetivo.  Desenvolver uma metodologia para implementação de práticas de prevenção ao
uso de álcool e outras drogas no âmbito da atenção primária à saúde (APS) que contribua com
o debate sobre ações e políticas nos países latino-americanos.
Métodos.  Trata-se de uma pesquisa-intervenção realizada em um município brasileiro
de pequeno/médio porte. O processo foi avaliado através da observação participante,
visando adequação às necessidades locais e ressaltando pontos de facilitação e dificuldade na
implantação.
Resultados.  Foi desenvolvido um modelo com seis etapas: contato inicial e planejamento,
diagnóstico e mapeamento, sensibilização, capacitação, acompanhamento e devolutiva.
Foram percebidos os seguintes pontos de dificuldade: insuficiência de recursos (humanos,
financeiros, infraestrutura), falta de integralidade e intersetorialidade da rede assistencial,
falta de participação dos médicos, formação calcada no saber médico, participação insuficiente
da gestão de saúde, falta de mobilização e participação da sociedade civil, ausência de
momentos onde a população fosse convidada a participar do planejamento e execução das
políticas públicas. Pontos fortes foram: participação dos agentes comunitários e enfermeiros na
aplicação, organização e planejamento das práticas, além da realização de práticas educacionais
e preventivas nas escolas e comunidades pelas equipes de saúde. Isso indica que é possível
implementar iniciativas de triagem, intervenção breve e encaminhamento para tratar (SBIRT)
no contexto da APS latino-americana.
Conclusões.  A metodologia desenvolvida neste estudo pode ser útil para países latino-
americanos desde que sejam consideradas as necessidades locais. Entretanto, os resultados
serão observados apenas a médio e longo prazo, sem mudanças instantâneas.
Atenção primária à saúde; pesquisa participativa baseada na comunidade; detecção
do abuso de substâncias; América Latina.
resumo
Palavras-chave
Em todo o mundo, o uso de álcool e de
outras drogas contribui para configurar
um novo perfil no quadro dos problemas
de saúde. Segundo a Organização Pan-
Americana da Saúde (OPAS), em torno
de 4,5 milhões de homens e 1,2 milhão
de mulheres na América Latina e Caribe,
em algum momento de suas vidas, so-
freram transtornos causados pelo uso de
drogas (1). De acordo com a literatura,
os mecanismos mais efetivos na redu-
ção da vulnerabilidade da população a
essas novas epidemias são aqueles que
operam na prevenção das doenças e na
promoção da saúde (2). Contudo, as ex-
periências preventivas ao uso de álcool
e outras drogas ainda são limitadas,
apesar da importância de tais ações para
mudar os indicadores de saúde geral da
população.
Nessa perspectiva, diversos autores
(3–5) apontam o enfoque denominado
Investigación original / Original research
1	Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), De-
partamento de Psicologia, Centro de Referên-
cia em Pesquisa, Intervenção e Avaliação em
Álcool e Drogas (CREPEIA), Juiz de Fora (MG),
Brasil. Correspondência: Telmo Mota Ronzani,
tm.ronzani@gmail.com
326	 Rev Panam Salud Publica 33(5), 2013
Investigación original Costa et al. • Metodologia de prevenção ao uso de drogas
SBIRT — Screening, Brief Intervention, and
Referral to Treatment (Triagem, Interven-
ção Breve e Encaminhamento para Tra-
tar) — como uma importante ferramenta
para a implementação e a organização
de atividades preventivas ao uso de
álcool e outras drogas, principalmente
nos serviços de atenção primária à saúde
(APS). Esse nível de atenção se configura
como uma das principais estratégias de
organização dos sistemas de saúde, prin-
cipalmente na América Latina (6). É,
portanto, uma instância essencial para a
aplicação das práticas de prevenção ao
uso de álcool e outras drogas. No Brasil,
a APS é organizada através da Estratégia
Saúde da Família (ESF), cujos principais
atributos são: caráter substitutivo em
relação à rede de atenção básica tradicio-
nal, atuação territorializada, desenvolvi-
mento de atividades com foco na família
e comunidade, busca da integração com
instituições e organizações sociais e ser
um espaço de construção de cidadania
(7). Apesar disso, são escassos os estudos
sobre a eficácia das práticas de preven-
ção ao uso de álcool e outras drogas na
APS, com identificação de elementos que
promovam resultados positivos na pre-
venção e redução do consumo de acordo
com cada realidade (4).
Um dos componentes da SBIRT é a
aplicação de instrumentos de triagem,
como o teste para detecção de envol-
vimento com álcool, tabaco e outras
substâncias (Alcohol, Smoking and Sub­
stance Involvement Screening Test, ASSIST),
desenvolvido em 2002 pela Organização
Mundial da Saúde (OMS) para iden-
tificar o padrão de uso e auxiliar o
profissional de saúde a definir a estra-
tégia de intervenção mais adequada (8).
Após a aplicação do instrumento de
triagem, realiza-se a intervenção breve,
uma abordagem de educação em saúde
relacionada à prevenção primária ou
secundária para usuários de álcool e
outras drogas, com foco na mudança
de comportamento do paciente. Essa
intervenção breve pode ser realizada
por profissionais de diferentes forma-
ções (9). Contudo, no Brasil e em outros
países latino-americanos, grande parte
dos profissionais sente-se despreparada
para lidar com a prevenção e a promoção
de saúde, devido, entre outros fatores, à
sua formação centrada na resolutividade
da “doença” (5, 10). No que se refere à
formação profissional, é importante o in-
vestimento na contínua formação desses
atores sociais, a partir dos princípios da
educação permanente, problematizando
as demandas sociais emergentes e consi-
derando as condições socioeconômicas e
estruturais dos profissionais e usuários
dos serviços de saúde (11, 12).
Nesse sentido, ressalta-se que os avan-
ços científicos repercutem nas pessoas
não exclusivamente pela atuação dos
profissionais de saúde, mas também
pelo impacto positivo que têm nos co-
nhecimentos, valores e comportamentos
das comunidades e sistemas sociais (13,
14). Para uma implementação efetiva
das estratégias de prevenção, torna-se
imprescindível a adoção de uma lógica
de interação entre o sistema de saúde e a
sociedade, a partir da compreensão das
reais demandas e necessidades sociais.
Para tanto, as ações no campo da
saúde devem ser compartilhadas com
outros setores estratégicos, assim como
devem garantir a participação efetiva
dos diferentes grupos sociais na iden-
tificação, formulação e implementação
das ações, ou seja, devolvendo o poder
de decisão de sua saúde à própria co-
munidade (13, 15, 16). A participação
comunitária pode constituir eixos para
a promoção de saúde e a prevenção do
uso de álcool e outras drogas, pois as
características ecológicas, culturais e so-
cioeconômicas da comunidade na qual
se pretende intervir passam a ser melhor
visualizadas, configurando formas mais
efetivas para que tais estratégias de pre-
venção atinjam a população (16, 17).
Cabe destacar ainda que, de modo ge-
ral, muitos projetos e ações são implanta-
dos sem que se avalie sua efetividade ou
que se determinem fatores que possam
facilitar ou dificultar sua implantação. Os
aspectos científicos, tecnológicos e meto-
dológicos imbricam-se com aspectos éti-
cos e culturais de maneira indissolúvel,
devendo ser considerados, desde o início,
de maneira integral no ciclo completo da
implementação das estratégias de preven-
ção ao uso de álcool e outras drogas (13).
Dessa forma, o objetivo do presente
artigo é desenvolver uma metodologia
para implementação de práticas de pre-
venção ao uso de álcool e outras drogas
na APS. Para isso, foram determinados
fatores que pudessem facilitar ou di-
ficultar sua implantação, promovendo
aproximação com a realidade local.
MATERIAIS E MÉTODOS
Esta pesquisa-intervenção de natu-
reza qualitativa foi conduzida em um
município brasileiro de pequeno/médio
porte de março a dezembro de 2010. O
município possui 177 estabelecimentos
cadastrados no Sistema Único de Saúde
(SUS), sendo 147 da iniciativa privada e
30 de responsabilidade do poder público
municipal (18). O município conta com
21 equipes de ESF na zona urbana e um
Núcleo de Apoio à Saúde da Família
(NASF) que atua em conjunto com os
profissionais da ESF no matriciamento
e organização do fluxo de pacientes. A
média de profissionais por equipe de
ESF é de 9,73, sendo 76,5% da popula-
ção coberta pela ESF (19). Todas essas
equipes de ESF, além do NASF, foram
abrangidas pelo estudo.
Quanto à rede de atenção aos usuários
de álcool e outras drogas, o município
dispõe de um Centro de Atenção Psicos-
social para Álcool e Drogas (CAPSad).
Entre os grupos de autoajuda, eram
cadastrados na Secretaria Nacional de
Políticas sobre Drogas (SENAD) quatro
grupos de Alcoólicos Anônimos (AA)
e dois grupos de Narcóticos Anônimos
(NA) (20). Na rede particular foram
encontradas uma clínica de repouso e
duas comunidades terapêuticas. Além
disso, existia no município o Conselho
Municipal de Políticas para Álcool e
Drogas, que, no entanto, encontrava-se
desativado.
No município, assim como no restante
do país, há uma sistematização do acesso
aos serviços de álcool e outras drogas,
com um protocolo de acolhimento, ava-
liação, referência e contra-referência dos
pacientes que procuram os serviços de
atenção primária à saúde. Todo paciente,
para entrar na rede assistencial de saúde
mental do município, deve ser avaliado
inicialmente pelas equipes de ESF, ex-
ceto pacientes atendidos pelo serviço de
urgências psiquiátricas.
Participantes
Participaram do projeto três gestores
do sistema municipal de saúde, com base
na importância dos seus cargos para a or-
ganização e a implementação do projeto
(amostra intencional), e os profissionais
das equipes de ESF e NASF que acei-
taram participar de todas as etapas do
projeto (amostra de conveniência). Além
disso, foi enfatizada a participação de
multiplicadores, que eram profissionais
da própria rede e atores comunitários
com uma inserção e/ou algum tipo de
liderança/engajamento nas comunida-
Rev Panam Salud Publica 33(5), 2013	 327
Costa et al. • Metodologia de prevenção ao uso de drogas Investigación original
des, para auxiliar na execução do projeto
junto às equipes e população.
Avaliação do trabalho
O processo foi avaliado visando a
adequação às necessidades locais e exa-
minando os fatores que pudessem faci-
litar ou dificultar a sua implantação em
outros municípios e/ou países latino-
americanos. A partir do exposto, e de
acordo com os achados na literatura, a
metodologia de implementação de prá-
ticas preventivas foi avaliada através da
observação participante. Os dados cole-
tados foram registrados em diários de
campo, gerando, posteriormente, relató-
rios sistemáticos (21). Além disso, reu-
niões semanais de planejamento foram
efetuadas, sendo a avaliação do trabalho
realizada continuamente.
RESULTADOS
Os resultados são apresentados em
duas categorias: 1) metodologia de im-
plementação das práticas preventivas ao
uso de álcool e outras drogas e 2) pontos
de dificuldade e pontos de facilitação
observados no desenvolvimento dessa
metodologia.
Metodologia de implementação de
práticas preventivas ao uso de álcool
e outras drogas
A metodologia de implementação
foi desenvolvida a partir de seis eta-
pas, sendo elas: contato inicial e pla-
nejamento, diagnóstico e mapeamento,
sensibilização, capacitação, acompanha-
mento e devolutiva.
Na fase de contato inicial, a posição de
colaboração entre todos os participantes
foi corroborada, de modo que as ações
propostas foram de responsabilidade
mútua e realizadas em parceria. Tal pac-
tuação ocorreu entre os meses de março
e abril. Envolveu a elaboração, pelos
pesquisadores e gestores de saúde, das
estratégias de implementação do projeto,
respeitando as características locais.
Na etapa de diagnóstico, iniciou-se
um trabalho de inserção e familiarização
ao campo e coleta de informações acerca
das características locais. Tal processo
teve duração de 2 meses e compreendeu
a coleta de dados em sites do governo,
Ministério da Saúde e Secretaria Nacio-
nal de Políticas sobre Drogas do Minis-
tério da Justiça (Senad/MJ). Também
foram coletados documentos sobre APS
e ESF do município, com participação
em reuniões da gestão de saúde com
os gerentes de equipe de Saúde da Fa-
mília e visitas às equipes de saúde e às
comunidades.
Foram mapeados e analisados: os indi-
cadores sociais e de saúde do município
(dados epidemiológicos e de vulnerabi-
lidade social), o cotidiano dos serviços
de saúde (estrutura e dinâmica de fun-
cionamento), a percepção e as demandas
populacionais em relação ao serviço de
saúde, a percepção dos profissionais em
relação à população, os serviços e ações
existentes para prevenção e tratamento
do uso de álcool e outras drogas e o nível
de engajamento e participação da socie-
dade civil no planejamento e implan-
tação de políticas públicas. Tais dados
foram analisados concomitantemente ao
processo de coleta. Eles serviram como
parâmetro para o contínuo desenvolvi-
mento dos trabalhos.
Ainda nesta etapa, posteriormente à
realização do mapeamento, foram iden-
tificados os multiplicadores. Além disso,
foram promovidas parcerias com diver-
sos setores identificados dentro da rede
de apoio aos usuários.
A terceira etapa do projeto consistiu
num trabalho de sensibilização dos vá-
rios atores sociais envolvidos na temá-
tica de álcool e outras drogas (gestores,
profissionais da rede assistencial, líderes
comunitários, etc.). Foi organizado um
evento com duração de 1 dia que contou
com participação desses atores, onde os
pesquisadores do grupo e os gestores
locais proferiram palestras sobre a im-
portância da prevenção ao uso de álcool
e outras drogas.
Contudo, o trabalho de sensibilização
foi contínuo, com o objetivo, ao longo do
tempo, de modificar crenças e atitudes
moralizantes sobre o uso de álcool e
outras drogas. Portanto, preconizou-se a
disseminação e a troca de informações ao
longo do projeto, remetendo, mais uma
vez, à importância dos multiplicadores
como ferramenta de alcance a uma maior
parcela da população.
Na quarta etapa, os profissionais da
ESF passaram por uma capacitação que
incluiu noções teóricas sobre substâncias
psicoativas (farmacologia, epidemiolo-
gia do uso, efeitos agudos e crônicos)
e atividades práticas da SBIRT, como
a aplicação do instrumento de triagem
(ASSIST) e a técnica de IB. A capacitação
ocorreu dentro da perspectiva da educa-
ção permanente, com objetivos práticos
e voltados para o processo de aprendiza-
gem dinâmico e vivenciado no dia-a-dia
dos serviços.
A quinta etapa do projeto foi o acom-
panhamento do processo de implemen-
tação das práticas de prevenção ao uso
de álcool e outras drogas, promovendo
uma articulação entre APS e comuni-
dade local e mediando os interesses dos
atores envolvidos em relação às ações so-
bre álcool e outras drogas. Para isso, du-
rante 4 meses foram realizadas, simulta-
neamente: visitas quinzenais às equipes
da ESF, entrega de materiais didáticos
e educativos aos profissionais de saúde
e reuniões semanais com os gestores da
APS, com dois retornos parciais.
Através dos contatos com a gestão da
APS, disponibilizou-se uma assessoria
para a definição de uma agenda de ações
sobre álcool e outras drogas, articulando
os principais atores sociais no âmbito
local.
Nas visitas às equipes de ESF, foi rea-
lizado o acompanhamento da aplicação
das técnicas de prevenção pelos profis-
sionais de saúde e uma discussão poste-
rior dos casos encontrados, promovendo
uma educação continuada dos conteú-
dos abordados na etapa de capacitação.
Ofereceu-se suporte para o desenvol-
vimento das estratégias de prevenção.
Também foram propostas estratégias
voltadas para fatores organizacionais e
processos de trabalho que poderiam im-
pactar favoravelmente a realização das
práticas de prevenção entre as equipes
de profissionais de saúde.
Os dois retornos parciais consistiram
em apresentações dos principais resul-
tados referentes ao processo de imple-
mentação do projeto para a discussão
coletiva dos fatores que facilitaram e/
ou dificultaram a implementação da
proposta no município. O público alvo
foi de profissionais da ESF, da rede de
álcool e outras drogas, coordenação da
APS e saúde mental. Essas apresentações
tiveram o objetivo de planejar as próxi-
mas etapas do projeto, consolidando a
sua implementação e o fortalecimento de
parcerias locais estabelecidas.
Os materiais didáticos e educativos
foram disponibilizados para os profis-
sionais e usuários da ESF e continham
dados sobre epidemiologia do uso de
álcool e outras drogas e a realização da
triagem e IB. O intuito dessa estratégia
era de continuar com o processo de dis-
seminação de informação e sensibiliza-
328	 Rev Panam Salud Publica 33(5), 2013
Investigación original Costa et al. • Metodologia de prevenção ao uso de drogas
ção e, também, servir como material de
apoio para os profissionais na realização
das práticas dadas na capacitação.
A sexta etapa foi executada a partir
de um relatório final e de um último
retorno. A finalidade foi sistematizar o
projeto como um todo, apontando os
pontos de dificuldade e facilitação à im-
plementação das ações de prevenção ao
uso de álcool e outras drogas. Ainda fo-
ram delineados os pontos que poderiam
auxiliar no planejamento e continuidade
das ações realizadas. No retorno final,
foi arquitetada uma reunião com pro-
fissionais da ESF, da rede de álcool e
outras drogas, coordenação da APS e
saúde mental e demais interessados. O
relatório final foi entregue à gestão e dis-
ponibilizado aos profissionais e demais
interessados.
Pontos de facilitação e dificuldade
observados no desenvolvimento da
metodologia
A seguir serão apresentados os pontos
de facilitação e dificuldade observados
no desenvolvimento da metodologia, le-
vando em consideração cada etapa de
implementação.
Em relação ao contato inicial e o plane-
jamento, estes foram facilitados por uma
postura receptiva da gestão de saúde do
município. Essa postura possibilitou a
realização de um trabalho conjunto de
planejamento e operacionalização das
ações preventivas a serem realizadas
pelos profissionais de saúde.
Na segunda etapa, de diagnóstico e
mapeamento, constatou-se a existência
de outros projetos sobre álcool e outras
drogas — por exemplo, um grupo de
trabalho composto por gestores de di-
versos setores e um fórum intersetorial
permanente de saúde mental. Nesses
projetos, as práticas realizadas no mu-
nicípio eram apresentadas e discutidas
entre usuários e profissionais da rede
em encontros quinzenais. Foram reali-
zadas parceiras com esses projetos pre-
existentes, o que contribuiu não apenas
para aprofundar o conhecimento acerca
das características da rede local, mas
também para dar início ao processo
de sensibilização. Contudo, a despeito
dessas tentativas, foram observadas di-
ficuldades de articulação da rede, com
as noções de trabalho intersetorial ba-
seadas apenas na junção de diferentes
setores para a realização de ações com
caráter pontual.
Ademais, na etapa de diagnóstico,
foram observados outros pontos de di-
ficuldade, entre eles: insuficiência de re-
cursos na ESF, visão da população como
mera receptora de políticas públicas,
baixo número de contingente profissio-
nal nas equipes de saúde, infraestrutura
inadequada dos postos de saúde e au-
sência de mobilização e participação da
população no planejamento e realização
de ações.
Na etapa de sensibilização, a partici-
pação da gestão de saúde e de outros
setores ocorreu em momentos pontuais,
como palestras e reuniões gerais com
os profissionais de saúde e população.
O grupo enfrentou dificuldades na mu-
dança de crenças, atitudes e compor-
tamentos dos profissionais, que eram
muitas vezes pautados por preconceitos
e estigmas sobre os usuários de álcool e
outras drogas.
Na etapa de capacitação, 120 profissio-
nais da ESF foram capacitados para defi-
nir e implementar as ações de prevenção
ao uso de álcool e outras drogas. Foi no-
tável a participação maciça de agentes co-
munitários de saúde, com 76 capacitados,
e a participação escassa dos médicos,
com somente 2 capacitados. Observou-
se, nas propostas de ações formuladas
pelos profissionais da ESF, o foco na de-
pendência, demonstrando uma formação
ainda calcada no saber médico, curativo,
que não priorizava a prevenção.
Ainda quanto ao processo de acompa-
nhamento das equipes de ESF, foi desta-
cada a participação de agentes comuni-
tários de saúde na aplicação das práticas
preventivas, e dos enfermeiros na orga-
nização da SBIRT. Foi percebida também
uma ausência dos médicos nesta etapa.
Os pontos facilitadores observados fo-
ram a realização da SBIRT pelos profis-
sionais da ESF, aplicando o ASSIST e rea-
lizando a intervenção breve; e as práticas
educacionais e preventivas realizadas
em escolas por algumas equipes de ESF,
como cursos, palestras, feiras e exposi-
ções. Essas práticas ocorreram a partir
da aproximação das equipes de ESF com
escolas de suas áreas de abrangência e de
acordo com as necessidades e realidades
locais. Ademais, algumas equipes pla-
nejaram e implementaram grupos nas
comunidades para discussão de diversos
aspectos sobre o uso de álcool e outras
drogas, como as consequências do uso e
da prevenção, entre outros.
Contudo, os profissionais envolvidos
relataram ainda haver receio e falta de
suporte da gestão municipal para a abor-
dagem das questões ligadas ao tema.
Foram também relatados problemas no
encaminhamento de pacientes — com
sobrecarga para o CAPSad, que não con-
seguia suprir a demanda de tratamento
do município, e (mais uma vez) a falta
de intersetorialidade, com os setores
atuando, em sua maior parte, de forma
isolada, sem articulação.
Por fim, na etapa devolutiva, observa-
ram-se, como pontos facilitadores, a pos-
tura receptiva da gestão em relação aos
resultados apresentados pelo projeto. Na
reunião final, houve participação ativa
dos agentes comunitários de saúde e dos
enfermeiros na discussão dos pontos de
facilitação e dificuldade observados a
partir de cada etapa de implementação
da metodologia. Ademais, uma profis-
sional da ESF que teve atuação desta-
cada foi selecionada para supervisionar
a execução do projeto e para apoiar a
implantação e a continuidade do modelo
de prevenção proposto. A nomeação
dessa profissional foi pactuada com a
gestão de APS.
DISCUSSÃO
Ao se pensar numa metodologia de
pesquisa-intervenção, algumas caracte-
rísticas inerentes às realidades e ne-
cessidades locais, além da própria me-
todologia de trabalho e do papel do
pesquisador, devem ser analisadas, para
que não haja simplesmente uma trans-
posição de modelos fora do contexto.
Mesmo que exista um planejamento ini-
cial à entrada no campo, esse planeja-
mento deve ser maleável e modificável
a partir do mapeamento de demandas
e dificuldades dos serviços e da popu-
lação, da definição das problemáticas a
serem consideradas e da possibilidade
de resolução ou enfrentamento dessas
problemáticas. Todo esse processo deve
ser calcado na participação conjunta, re-
lações dialógicas estabelecidas entre pro-
fissionais e comunidade, possibilitando
a construção de novos saberes (22, 23).
Com relação à APS no Brasil e em
grande parte da América Latina e Ca-
ribe, a literatura demonstra que, apesar
de profissionais e gestores atribuírem
grande importância às ações de preven-
ção e promoção de saúde, essas ainda
ocorrem de forma paralela. O discurso
preventivo, embora amplamente discu-
tido na teoria, raramente é colocado em
prática nos serviços de saúde (10). No
Rev Panam Salud Publica 33(5), 2013	 329
Costa et al. • Metodologia de prevenção ao uso de drogas Investigación original
Brasil, a população ainda procura as
equipes de ESF com demandas majori-
tariamente de cunho curativo e remedia-
tivo — por exemplo, consultas médicas
e odontológicas, requisição de medica-
mentos e realização de curativos e vaci-
nas. A lógica que orienta o trabalho dos
profissionais tende a ser o da legitimação
de tais demandas sociais (20, 24). Cabe
salientar que isso é fruto de um processo
sócio-histórico com várias formulações e
reformulações. Nesse processo, é recente
a introdução dos conceitos de prevenção
e promoção de saúde, tanto para a po-
pulação quanto para os profissionais, em
comparação aos pressupostos da lógica
biomédica (20).
Aliados a isso estão os problemas
referentes à formação dos profissionais
de saúde e suas práticas. O modelo de
APS exige uma mudança estrutural em
ambas, que deve começar nos centros
formadores. Contudo, ainda percebem-
se os profissionais de nível superior
com sua formação e atuação voltadas
para os processos de adoecimento (10).
Ademais, a APS aparece como um meio
importante de inserção no mercado de
trabalho, especialmente para aqueles em
início de carreira, estando a permanên-
cia desses, muitas vezes, condicionada
pela falta de outras oportunidades de
trabalho (24).
No caso dos agentes comunitários
de saúde (ACS), muitos não tiveram
passagem alguma pela área da saúde
anteriormente, adquirindo na prática o
seu real aprendizado, acarretando uma
reprodução de modelos de pensamento
e ação hegemônicos. Portanto, o tra-
balho de prevenção ao uso de álcool
e outras drogas não pode mostrar-se
desconexo dessas análises conjunturais,
com o objetivo de uma maior conscien-
tização da população, de profissionais e
de gestores (24).
Outros fatores também são inerentes à
APS no contexto latino-americano, como
a insuficiência de recursos (humanos, fi-
nanceiros, infraestrutura) e a falta de in-
tegralidade e intersetorialidade da rede
assistencial (6, 25). Tais problemas foram
observados no município estudado, ge-
rando grande demanda de atendimento,
limitando e, em alguns casos, impossi-
bilitando as ações de prevenção. Entre-
tanto, algumas ações pensadas e concre-
tizadas pelas equipes de saúde, além da
aplicação das práticas de SBIRT, indicam
tentativas mais amplas de se pensar na
temática de álcool e outras drogas. Isso
adveio de um maior aprofundamento e
conscientização de alguns profissionais
sobre o conceito de saúde e suas práti-
cas, mostrando também como é possível
realizar ações coletivas, mesmo em si­
tuações que não sejam as ideais.
Destaca-se para isso a necessidade de
parcerias com atores/entidades locais,
nas quais esses atores assumam a respon-
sabilidade de aumentar a capilaridade da
divulgação da prevenção ao uso de álcool
e outras drogas e de oferecer suporte à
implementação das práticas de acordo
com as potencialidades e peculiaridades
de cada localidade, promovendo o en-
gajamento da comunidade. A posição de
destaque exercida pelos profissionais da
ESF perante a comunidade — principal-
mente os enfermeiros e os ACS — confere
a esses profissionais um papel de elo
entre o serviço e a população, sendo que,
além disso, participam de forma ativa
do contexto das equipes. Ao se objetivar
a continuidade das ações propostas na
rotina de trabalho, é preciso considerar
a comunidade como o componente prin-
cipal, com os profissionais gerenciando e
organizando as ações em suas respectivas
equipes e áreas de abrangência (16).
Entretanto, deve-se aproximar a equipe
e a rede assistencial para um trabalho in-
terdisciplinar/intersetorial. Sabe-se que a
questão do uso de álcool e outras drogas
remete a diversas causas e dimensões,
não sendo resolvida apenas pelo esforço
setorial isolado da saúde. Articulações
intersetoriais e a atuação multiprofis-
sional são imprescindíveis para incidir
sobre os determinantes sociais do pro-
cesso de uso de álcool e outras drogas e
promover a saúde (26).
Com relação às práticas de SBIRT,
estas devem acompanhar a rotina de
trabalho dos profissionais, ainda que em
momentos de maior sobrecarga de tra-
balho tais práticas sejam realizadas com
menor frequência. Daí a importância do
planejamento e do estabelecimento de
metas concretas na APS. Essas ações,
aliadas a maior e melhor investimento,
melhorias das condições de trabalho,
suporte às equipes de saúde, são condi-
ções para a sustentação e melhoria dos
serviços ofertados.
Pelo fato de serem práticas relativa-
mente novas e que requerem mudança
de paradigmas, grande parte dos profis-
sionais de saúde tem receio de abordá-
las dentro de suas comunidades (12).
Frente a isso, é necessária uma postura
compreensiva, sugerindo soluções como
a aplicação do ASSIST e a realização da
IB em pessoas mais próximas, a fim de
uma maior ambientação do profissional
às práticas.
Também se mostra importante para
manutenção das práticas preventivas a
realização de um planejamento das equi-
pes de saúde para a implementação da
SBIRT em seus serviços, abordando a
maneira como serão realizadas, estabe-
lecendo metas e funções de cada profis-
sional e pontuando possíveis entraves e
pontos facilitadores a serem enfrentados
de acordo suas realidades (12).
Sobre o papel da gestão, percebe-se na
literatura uma dificuldade dos gestores
em ponderar adequadamente a impor-
tância de ações preventivas ao uso de ál-
cool e outras drogas (27). No município,
observou-se a gestão de saúde receptiva
à realização dessas práticas preventivas
dentro da rotina dos serviços de saúde.
Entretanto, não foi possível perceber um
engajamento com as práticas propostas,
como se o projeto não estivesse sob a
responsabilidade do município também,
numa perspectiva articuladora da atua­
ção dos profissionais de saúde. Isso se
torna um fator que dificulta a incor-
poração e manutenção das práticas na
rotina assistencial do sistema de saúde
local (27).
Os processos de construção das po-
líticas públicas de saúde do município
foram observados como sendo, em sua
maioria, de cima pra baixo, onde pro-
fissionais e população são vistos como
agentes passivos, não sendo convidados
para o processo de construção dessas
políticas. Isso nos remete à proposta da
participação comunitária num contexto
latino-americano que, segundo Briceño-
Leon (28), trata-se de uma maneira de
fortalecer a democracia. A sociedade
civil há de assumir os seus deveres e im-
plicações na construção do setor saúde,
mas também não se pode acusá-la so-
mente por uma ausência de participação
quando o Estado não se movimenta para
criar um espaço de debate, convidando
a sociedade a participar como agente fo-
mentador de reflexões e mudanças (28).
Conclusões
Algumas limitações foram percebidas
durante o projeto, relacionadas, princi-
palmente, às concepções da população
e profissionais sobre o uso de álcool e
outras drogas e às questões referentes
à estruturação e dinâmica de funciona-
330	 Rev Panam Salud Publica 33(5), 2013
Investigación original Costa et al. • Metodologia de prevenção ao uso de drogas
mento da rede de APS. Apesar disso,
considera-se o método apresentado e
avaliado no presente artigo como um
modelo útil para ser adotado, com suas
devidas adaptações aos países latino-
americanos. Ademais, demonstra que,
apesar do incentivo cada vez mais fre-
quente dos programas de capacitação,
estes de tornam limitados para a mu-
dança de fato de práticas se não esti-
verem articulados com uma ação mais
ampliada e constante.
É preciso progredir nas ações de pre-
venção ao uso de álcool e outras drogas
na América Latina como um todo. Tais
ações precisam ser planejadas para mé-
dio e longo prazo e não podem ser rea-
lizadas para obter resultados imediatos,
apesar da demanda da gestão, profissio-
nais e população por respostas instan-
tâneas. Por isso, a importância de pes-
quisas-intervenções que levem em conta
metodologias de implementação amplia-
das, participativas, levadas a cabo em
rede e contextualizadas, com destaque
para desafios e possibilidades de disse-
minação nos países latino-americanos.
Agradecimentos. À Secretaria de
Saúde do Município participante por au-
torizar a realização do estudo; aos acadê-
micos de Psicologia da Universidade Fe-
deral de Juiz de Fora, que participaram
do trabalho de campo e coleta dos da-
dos; à Fundação de Amparo à Pesquisa
do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG)
pelo financiamento do estudo através do
Edital 09/2010, “Extensão em Interface
com a Pesquisa 2010”; e ao Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico
e Tecnológico (CNPq) pela bolsa de pro-
dutividade em pesquisa.
Conflito de interesses. Nada decla-
rado pelos autores.
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Manuscrito recebido em 9 de março de 2012. Aceito em
versão revisada em 5 de dezembro de 2012.
REFERÊNCIAS
Rev Panam Salud Publica 33(5), 2013	 331
Costa et al. • Metodologia de prevenção ao uso de drogas
 Investigación original
Objective.  To develop a methodology to implement practices of prevention against
the use of alcohol and other drugs in the context of primary health care (PHC) that
will contribute to the debate about policies and actions in Latin American countries.
Methods.  This intervention research project was carried out in a small/medium-
sized Brazilian city. The development process was assessed through participant
observation with the aim of adapting the methodology to local needs and identifying
existing weaknesses and strengths with impact on implementation.
Results.  A model was developed with six stages: initial contact and planning,
diagnosis and mapping, sensitization, training, follow-up, and communication
of results to participants. The following weaknesses were identified: limitation
of resources (human, financial, infrastructural), limitations in the coverage and
comprehensiveness of the assistance network, poor participation from physicians,
training based on medicalized care, insufficient participation of health care
management, insufficient involvement and participation of civil society, and few
opportunities for participation of the population in the planning and execution of
public policies. Strengths included the participation of community health agents and
nurses in applying, organizing, and planning initiatives, in addition to the organization
of educative and preventive actions in schools and communities by health care teams,
suggesting that it is possible to implement screening, brief intervention, and referral
to treatment (SBIRT) initiatives in the context of PHC in Latin America.
Conclusions.  The methodology developed in this study can be useful for Latin
American countries if local needs are taken into consideration. It should be noted,
however, that results will only be observed in the mid- to long term, rather than
strictly in the short term.
Primary health care; community-based participatory research; substance abuse
detection; Latin America.
abstract
A methodology to implement
preventive actions against
harmful drug use in the
context of primary health
care in Latin America
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2013 metodologia de implementação de práticas preventivas ao uso de drogas

  • 1. Costa PHA, Mota DCB, Cruvinel E, Paiva FS, Ronzani TM. Metodologia de implementação de prá- ticas preventivas ao uso de drogas na atenção primária latino-americana. Rev Panam Salud Publica. 2013;33(5):325–31. Como citar Rev Panam Salud Publica 33(5), 2013 325 Metodologia de implementação de práticas preventivas ao uso de drogas na atenção primária latino-americana Pedro Henrique Antunes da Costa,1 Daniela Cristina Belchior Mota,1 Erica Cruvinel,1 Fernando Santana de Paiva1 e Telmo Mota Ronzani1 Objetivo.  Desenvolver uma metodologia para implementação de práticas de prevenção ao uso de álcool e outras drogas no âmbito da atenção primária à saúde (APS) que contribua com o debate sobre ações e políticas nos países latino-americanos. Métodos.  Trata-se de uma pesquisa-intervenção realizada em um município brasileiro de pequeno/médio porte. O processo foi avaliado através da observação participante, visando adequação às necessidades locais e ressaltando pontos de facilitação e dificuldade na implantação. Resultados.  Foi desenvolvido um modelo com seis etapas: contato inicial e planejamento, diagnóstico e mapeamento, sensibilização, capacitação, acompanhamento e devolutiva. Foram percebidos os seguintes pontos de dificuldade: insuficiência de recursos (humanos, financeiros, infraestrutura), falta de integralidade e intersetorialidade da rede assistencial, falta de participação dos médicos, formação calcada no saber médico, participação insuficiente da gestão de saúde, falta de mobilização e participação da sociedade civil, ausência de momentos onde a população fosse convidada a participar do planejamento e execução das políticas públicas. Pontos fortes foram: participação dos agentes comunitários e enfermeiros na aplicação, organização e planejamento das práticas, além da realização de práticas educacionais e preventivas nas escolas e comunidades pelas equipes de saúde. Isso indica que é possível implementar iniciativas de triagem, intervenção breve e encaminhamento para tratar (SBIRT) no contexto da APS latino-americana. Conclusões.  A metodologia desenvolvida neste estudo pode ser útil para países latino- americanos desde que sejam consideradas as necessidades locais. Entretanto, os resultados serão observados apenas a médio e longo prazo, sem mudanças instantâneas. Atenção primária à saúde; pesquisa participativa baseada na comunidade; detecção do abuso de substâncias; América Latina. resumo Palavras-chave Em todo o mundo, o uso de álcool e de outras drogas contribui para configurar um novo perfil no quadro dos problemas de saúde. Segundo a Organização Pan- Americana da Saúde (OPAS), em torno de 4,5 milhões de homens e 1,2 milhão de mulheres na América Latina e Caribe, em algum momento de suas vidas, so- freram transtornos causados pelo uso de drogas (1). De acordo com a literatura, os mecanismos mais efetivos na redu- ção da vulnerabilidade da população a essas novas epidemias são aqueles que operam na prevenção das doenças e na promoção da saúde (2). Contudo, as ex- periências preventivas ao uso de álcool e outras drogas ainda são limitadas, apesar da importância de tais ações para mudar os indicadores de saúde geral da população. Nessa perspectiva, diversos autores (3–5) apontam o enfoque denominado Investigación original / Original research 1 Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), De- partamento de Psicologia, Centro de Referên- cia em Pesquisa, Intervenção e Avaliação em Álcool e Drogas (CREPEIA), Juiz de Fora (MG), Brasil. Correspondência: Telmo Mota Ronzani, tm.ronzani@gmail.com
  • 2. 326 Rev Panam Salud Publica 33(5), 2013 Investigación original Costa et al. • Metodologia de prevenção ao uso de drogas SBIRT — Screening, Brief Intervention, and Referral to Treatment (Triagem, Interven- ção Breve e Encaminhamento para Tra- tar) — como uma importante ferramenta para a implementação e a organização de atividades preventivas ao uso de álcool e outras drogas, principalmente nos serviços de atenção primária à saúde (APS). Esse nível de atenção se configura como uma das principais estratégias de organização dos sistemas de saúde, prin- cipalmente na América Latina (6). É, portanto, uma instância essencial para a aplicação das práticas de prevenção ao uso de álcool e outras drogas. No Brasil, a APS é organizada através da Estratégia Saúde da Família (ESF), cujos principais atributos são: caráter substitutivo em relação à rede de atenção básica tradicio- nal, atuação territorializada, desenvolvi- mento de atividades com foco na família e comunidade, busca da integração com instituições e organizações sociais e ser um espaço de construção de cidadania (7). Apesar disso, são escassos os estudos sobre a eficácia das práticas de preven- ção ao uso de álcool e outras drogas na APS, com identificação de elementos que promovam resultados positivos na pre- venção e redução do consumo de acordo com cada realidade (4). Um dos componentes da SBIRT é a aplicação de instrumentos de triagem, como o teste para detecção de envol- vimento com álcool, tabaco e outras substâncias (Alcohol, Smoking and Sub­ stance Involvement Screening Test, ASSIST), desenvolvido em 2002 pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para iden- tificar o padrão de uso e auxiliar o profissional de saúde a definir a estra- tégia de intervenção mais adequada (8). Após a aplicação do instrumento de triagem, realiza-se a intervenção breve, uma abordagem de educação em saúde relacionada à prevenção primária ou secundária para usuários de álcool e outras drogas, com foco na mudança de comportamento do paciente. Essa intervenção breve pode ser realizada por profissionais de diferentes forma- ções (9). Contudo, no Brasil e em outros países latino-americanos, grande parte dos profissionais sente-se despreparada para lidar com a prevenção e a promoção de saúde, devido, entre outros fatores, à sua formação centrada na resolutividade da “doença” (5, 10). No que se refere à formação profissional, é importante o in- vestimento na contínua formação desses atores sociais, a partir dos princípios da educação permanente, problematizando as demandas sociais emergentes e consi- derando as condições socioeconômicas e estruturais dos profissionais e usuários dos serviços de saúde (11, 12). Nesse sentido, ressalta-se que os avan- ços científicos repercutem nas pessoas não exclusivamente pela atuação dos profissionais de saúde, mas também pelo impacto positivo que têm nos co- nhecimentos, valores e comportamentos das comunidades e sistemas sociais (13, 14). Para uma implementação efetiva das estratégias de prevenção, torna-se imprescindível a adoção de uma lógica de interação entre o sistema de saúde e a sociedade, a partir da compreensão das reais demandas e necessidades sociais. Para tanto, as ações no campo da saúde devem ser compartilhadas com outros setores estratégicos, assim como devem garantir a participação efetiva dos diferentes grupos sociais na iden- tificação, formulação e implementação das ações, ou seja, devolvendo o poder de decisão de sua saúde à própria co- munidade (13, 15, 16). A participação comunitária pode constituir eixos para a promoção de saúde e a prevenção do uso de álcool e outras drogas, pois as características ecológicas, culturais e so- cioeconômicas da comunidade na qual se pretende intervir passam a ser melhor visualizadas, configurando formas mais efetivas para que tais estratégias de pre- venção atinjam a população (16, 17). Cabe destacar ainda que, de modo ge- ral, muitos projetos e ações são implanta- dos sem que se avalie sua efetividade ou que se determinem fatores que possam facilitar ou dificultar sua implantação. Os aspectos científicos, tecnológicos e meto- dológicos imbricam-se com aspectos éti- cos e culturais de maneira indissolúvel, devendo ser considerados, desde o início, de maneira integral no ciclo completo da implementação das estratégias de preven- ção ao uso de álcool e outras drogas (13). Dessa forma, o objetivo do presente artigo é desenvolver uma metodologia para implementação de práticas de pre- venção ao uso de álcool e outras drogas na APS. Para isso, foram determinados fatores que pudessem facilitar ou di- ficultar sua implantação, promovendo aproximação com a realidade local. MATERIAIS E MÉTODOS Esta pesquisa-intervenção de natu- reza qualitativa foi conduzida em um município brasileiro de pequeno/médio porte de março a dezembro de 2010. O município possui 177 estabelecimentos cadastrados no Sistema Único de Saúde (SUS), sendo 147 da iniciativa privada e 30 de responsabilidade do poder público municipal (18). O município conta com 21 equipes de ESF na zona urbana e um Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) que atua em conjunto com os profissionais da ESF no matriciamento e organização do fluxo de pacientes. A média de profissionais por equipe de ESF é de 9,73, sendo 76,5% da popula- ção coberta pela ESF (19). Todas essas equipes de ESF, além do NASF, foram abrangidas pelo estudo. Quanto à rede de atenção aos usuários de álcool e outras drogas, o município dispõe de um Centro de Atenção Psicos- social para Álcool e Drogas (CAPSad). Entre os grupos de autoajuda, eram cadastrados na Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (SENAD) quatro grupos de Alcoólicos Anônimos (AA) e dois grupos de Narcóticos Anônimos (NA) (20). Na rede particular foram encontradas uma clínica de repouso e duas comunidades terapêuticas. Além disso, existia no município o Conselho Municipal de Políticas para Álcool e Drogas, que, no entanto, encontrava-se desativado. No município, assim como no restante do país, há uma sistematização do acesso aos serviços de álcool e outras drogas, com um protocolo de acolhimento, ava- liação, referência e contra-referência dos pacientes que procuram os serviços de atenção primária à saúde. Todo paciente, para entrar na rede assistencial de saúde mental do município, deve ser avaliado inicialmente pelas equipes de ESF, ex- ceto pacientes atendidos pelo serviço de urgências psiquiátricas. Participantes Participaram do projeto três gestores do sistema municipal de saúde, com base na importância dos seus cargos para a or- ganização e a implementação do projeto (amostra intencional), e os profissionais das equipes de ESF e NASF que acei- taram participar de todas as etapas do projeto (amostra de conveniência). Além disso, foi enfatizada a participação de multiplicadores, que eram profissionais da própria rede e atores comunitários com uma inserção e/ou algum tipo de liderança/engajamento nas comunida-
  • 3. Rev Panam Salud Publica 33(5), 2013 327 Costa et al. • Metodologia de prevenção ao uso de drogas Investigación original des, para auxiliar na execução do projeto junto às equipes e população. Avaliação do trabalho O processo foi avaliado visando a adequação às necessidades locais e exa- minando os fatores que pudessem faci- litar ou dificultar a sua implantação em outros municípios e/ou países latino- americanos. A partir do exposto, e de acordo com os achados na literatura, a metodologia de implementação de prá- ticas preventivas foi avaliada através da observação participante. Os dados cole- tados foram registrados em diários de campo, gerando, posteriormente, relató- rios sistemáticos (21). Além disso, reu- niões semanais de planejamento foram efetuadas, sendo a avaliação do trabalho realizada continuamente. RESULTADOS Os resultados são apresentados em duas categorias: 1) metodologia de im- plementação das práticas preventivas ao uso de álcool e outras drogas e 2) pontos de dificuldade e pontos de facilitação observados no desenvolvimento dessa metodologia. Metodologia de implementação de práticas preventivas ao uso de álcool e outras drogas A metodologia de implementação foi desenvolvida a partir de seis eta- pas, sendo elas: contato inicial e pla- nejamento, diagnóstico e mapeamento, sensibilização, capacitação, acompanha- mento e devolutiva. Na fase de contato inicial, a posição de colaboração entre todos os participantes foi corroborada, de modo que as ações propostas foram de responsabilidade mútua e realizadas em parceria. Tal pac- tuação ocorreu entre os meses de março e abril. Envolveu a elaboração, pelos pesquisadores e gestores de saúde, das estratégias de implementação do projeto, respeitando as características locais. Na etapa de diagnóstico, iniciou-se um trabalho de inserção e familiarização ao campo e coleta de informações acerca das características locais. Tal processo teve duração de 2 meses e compreendeu a coleta de dados em sites do governo, Ministério da Saúde e Secretaria Nacio- nal de Políticas sobre Drogas do Minis- tério da Justiça (Senad/MJ). Também foram coletados documentos sobre APS e ESF do município, com participação em reuniões da gestão de saúde com os gerentes de equipe de Saúde da Fa- mília e visitas às equipes de saúde e às comunidades. Foram mapeados e analisados: os indi- cadores sociais e de saúde do município (dados epidemiológicos e de vulnerabi- lidade social), o cotidiano dos serviços de saúde (estrutura e dinâmica de fun- cionamento), a percepção e as demandas populacionais em relação ao serviço de saúde, a percepção dos profissionais em relação à população, os serviços e ações existentes para prevenção e tratamento do uso de álcool e outras drogas e o nível de engajamento e participação da socie- dade civil no planejamento e implan- tação de políticas públicas. Tais dados foram analisados concomitantemente ao processo de coleta. Eles serviram como parâmetro para o contínuo desenvolvi- mento dos trabalhos. Ainda nesta etapa, posteriormente à realização do mapeamento, foram iden- tificados os multiplicadores. Além disso, foram promovidas parcerias com diver- sos setores identificados dentro da rede de apoio aos usuários. A terceira etapa do projeto consistiu num trabalho de sensibilização dos vá- rios atores sociais envolvidos na temá- tica de álcool e outras drogas (gestores, profissionais da rede assistencial, líderes comunitários, etc.). Foi organizado um evento com duração de 1 dia que contou com participação desses atores, onde os pesquisadores do grupo e os gestores locais proferiram palestras sobre a im- portância da prevenção ao uso de álcool e outras drogas. Contudo, o trabalho de sensibilização foi contínuo, com o objetivo, ao longo do tempo, de modificar crenças e atitudes moralizantes sobre o uso de álcool e outras drogas. Portanto, preconizou-se a disseminação e a troca de informações ao longo do projeto, remetendo, mais uma vez, à importância dos multiplicadores como ferramenta de alcance a uma maior parcela da população. Na quarta etapa, os profissionais da ESF passaram por uma capacitação que incluiu noções teóricas sobre substâncias psicoativas (farmacologia, epidemiolo- gia do uso, efeitos agudos e crônicos) e atividades práticas da SBIRT, como a aplicação do instrumento de triagem (ASSIST) e a técnica de IB. A capacitação ocorreu dentro da perspectiva da educa- ção permanente, com objetivos práticos e voltados para o processo de aprendiza- gem dinâmico e vivenciado no dia-a-dia dos serviços. A quinta etapa do projeto foi o acom- panhamento do processo de implemen- tação das práticas de prevenção ao uso de álcool e outras drogas, promovendo uma articulação entre APS e comuni- dade local e mediando os interesses dos atores envolvidos em relação às ações so- bre álcool e outras drogas. Para isso, du- rante 4 meses foram realizadas, simulta- neamente: visitas quinzenais às equipes da ESF, entrega de materiais didáticos e educativos aos profissionais de saúde e reuniões semanais com os gestores da APS, com dois retornos parciais. Através dos contatos com a gestão da APS, disponibilizou-se uma assessoria para a definição de uma agenda de ações sobre álcool e outras drogas, articulando os principais atores sociais no âmbito local. Nas visitas às equipes de ESF, foi rea- lizado o acompanhamento da aplicação das técnicas de prevenção pelos profis- sionais de saúde e uma discussão poste- rior dos casos encontrados, promovendo uma educação continuada dos conteú- dos abordados na etapa de capacitação. Ofereceu-se suporte para o desenvol- vimento das estratégias de prevenção. Também foram propostas estratégias voltadas para fatores organizacionais e processos de trabalho que poderiam im- pactar favoravelmente a realização das práticas de prevenção entre as equipes de profissionais de saúde. Os dois retornos parciais consistiram em apresentações dos principais resul- tados referentes ao processo de imple- mentação do projeto para a discussão coletiva dos fatores que facilitaram e/ ou dificultaram a implementação da proposta no município. O público alvo foi de profissionais da ESF, da rede de álcool e outras drogas, coordenação da APS e saúde mental. Essas apresentações tiveram o objetivo de planejar as próxi- mas etapas do projeto, consolidando a sua implementação e o fortalecimento de parcerias locais estabelecidas. Os materiais didáticos e educativos foram disponibilizados para os profis- sionais e usuários da ESF e continham dados sobre epidemiologia do uso de álcool e outras drogas e a realização da triagem e IB. O intuito dessa estratégia era de continuar com o processo de dis- seminação de informação e sensibiliza-
  • 4. 328 Rev Panam Salud Publica 33(5), 2013 Investigación original Costa et al. • Metodologia de prevenção ao uso de drogas ção e, também, servir como material de apoio para os profissionais na realização das práticas dadas na capacitação. A sexta etapa foi executada a partir de um relatório final e de um último retorno. A finalidade foi sistematizar o projeto como um todo, apontando os pontos de dificuldade e facilitação à im- plementação das ações de prevenção ao uso de álcool e outras drogas. Ainda fo- ram delineados os pontos que poderiam auxiliar no planejamento e continuidade das ações realizadas. No retorno final, foi arquitetada uma reunião com pro- fissionais da ESF, da rede de álcool e outras drogas, coordenação da APS e saúde mental e demais interessados. O relatório final foi entregue à gestão e dis- ponibilizado aos profissionais e demais interessados. Pontos de facilitação e dificuldade observados no desenvolvimento da metodologia A seguir serão apresentados os pontos de facilitação e dificuldade observados no desenvolvimento da metodologia, le- vando em consideração cada etapa de implementação. Em relação ao contato inicial e o plane- jamento, estes foram facilitados por uma postura receptiva da gestão de saúde do município. Essa postura possibilitou a realização de um trabalho conjunto de planejamento e operacionalização das ações preventivas a serem realizadas pelos profissionais de saúde. Na segunda etapa, de diagnóstico e mapeamento, constatou-se a existência de outros projetos sobre álcool e outras drogas — por exemplo, um grupo de trabalho composto por gestores de di- versos setores e um fórum intersetorial permanente de saúde mental. Nesses projetos, as práticas realizadas no mu- nicípio eram apresentadas e discutidas entre usuários e profissionais da rede em encontros quinzenais. Foram reali- zadas parceiras com esses projetos pre- existentes, o que contribuiu não apenas para aprofundar o conhecimento acerca das características da rede local, mas também para dar início ao processo de sensibilização. Contudo, a despeito dessas tentativas, foram observadas di- ficuldades de articulação da rede, com as noções de trabalho intersetorial ba- seadas apenas na junção de diferentes setores para a realização de ações com caráter pontual. Ademais, na etapa de diagnóstico, foram observados outros pontos de di- ficuldade, entre eles: insuficiência de re- cursos na ESF, visão da população como mera receptora de políticas públicas, baixo número de contingente profissio- nal nas equipes de saúde, infraestrutura inadequada dos postos de saúde e au- sência de mobilização e participação da população no planejamento e realização de ações. Na etapa de sensibilização, a partici- pação da gestão de saúde e de outros setores ocorreu em momentos pontuais, como palestras e reuniões gerais com os profissionais de saúde e população. O grupo enfrentou dificuldades na mu- dança de crenças, atitudes e compor- tamentos dos profissionais, que eram muitas vezes pautados por preconceitos e estigmas sobre os usuários de álcool e outras drogas. Na etapa de capacitação, 120 profissio- nais da ESF foram capacitados para defi- nir e implementar as ações de prevenção ao uso de álcool e outras drogas. Foi no- tável a participação maciça de agentes co- munitários de saúde, com 76 capacitados, e a participação escassa dos médicos, com somente 2 capacitados. Observou- se, nas propostas de ações formuladas pelos profissionais da ESF, o foco na de- pendência, demonstrando uma formação ainda calcada no saber médico, curativo, que não priorizava a prevenção. Ainda quanto ao processo de acompa- nhamento das equipes de ESF, foi desta- cada a participação de agentes comuni- tários de saúde na aplicação das práticas preventivas, e dos enfermeiros na orga- nização da SBIRT. Foi percebida também uma ausência dos médicos nesta etapa. Os pontos facilitadores observados fo- ram a realização da SBIRT pelos profis- sionais da ESF, aplicando o ASSIST e rea- lizando a intervenção breve; e as práticas educacionais e preventivas realizadas em escolas por algumas equipes de ESF, como cursos, palestras, feiras e exposi- ções. Essas práticas ocorreram a partir da aproximação das equipes de ESF com escolas de suas áreas de abrangência e de acordo com as necessidades e realidades locais. Ademais, algumas equipes pla- nejaram e implementaram grupos nas comunidades para discussão de diversos aspectos sobre o uso de álcool e outras drogas, como as consequências do uso e da prevenção, entre outros. Contudo, os profissionais envolvidos relataram ainda haver receio e falta de suporte da gestão municipal para a abor- dagem das questões ligadas ao tema. Foram também relatados problemas no encaminhamento de pacientes — com sobrecarga para o CAPSad, que não con- seguia suprir a demanda de tratamento do município, e (mais uma vez) a falta de intersetorialidade, com os setores atuando, em sua maior parte, de forma isolada, sem articulação. Por fim, na etapa devolutiva, observa- ram-se, como pontos facilitadores, a pos- tura receptiva da gestão em relação aos resultados apresentados pelo projeto. Na reunião final, houve participação ativa dos agentes comunitários de saúde e dos enfermeiros na discussão dos pontos de facilitação e dificuldade observados a partir de cada etapa de implementação da metodologia. Ademais, uma profis- sional da ESF que teve atuação desta- cada foi selecionada para supervisionar a execução do projeto e para apoiar a implantação e a continuidade do modelo de prevenção proposto. A nomeação dessa profissional foi pactuada com a gestão de APS. DISCUSSÃO Ao se pensar numa metodologia de pesquisa-intervenção, algumas caracte- rísticas inerentes às realidades e ne- cessidades locais, além da própria me- todologia de trabalho e do papel do pesquisador, devem ser analisadas, para que não haja simplesmente uma trans- posição de modelos fora do contexto. Mesmo que exista um planejamento ini- cial à entrada no campo, esse planeja- mento deve ser maleável e modificável a partir do mapeamento de demandas e dificuldades dos serviços e da popu- lação, da definição das problemáticas a serem consideradas e da possibilidade de resolução ou enfrentamento dessas problemáticas. Todo esse processo deve ser calcado na participação conjunta, re- lações dialógicas estabelecidas entre pro- fissionais e comunidade, possibilitando a construção de novos saberes (22, 23). Com relação à APS no Brasil e em grande parte da América Latina e Ca- ribe, a literatura demonstra que, apesar de profissionais e gestores atribuírem grande importância às ações de preven- ção e promoção de saúde, essas ainda ocorrem de forma paralela. O discurso preventivo, embora amplamente discu- tido na teoria, raramente é colocado em prática nos serviços de saúde (10). No
  • 5. Rev Panam Salud Publica 33(5), 2013 329 Costa et al. • Metodologia de prevenção ao uso de drogas Investigación original Brasil, a população ainda procura as equipes de ESF com demandas majori- tariamente de cunho curativo e remedia- tivo — por exemplo, consultas médicas e odontológicas, requisição de medica- mentos e realização de curativos e vaci- nas. A lógica que orienta o trabalho dos profissionais tende a ser o da legitimação de tais demandas sociais (20, 24). Cabe salientar que isso é fruto de um processo sócio-histórico com várias formulações e reformulações. Nesse processo, é recente a introdução dos conceitos de prevenção e promoção de saúde, tanto para a po- pulação quanto para os profissionais, em comparação aos pressupostos da lógica biomédica (20). Aliados a isso estão os problemas referentes à formação dos profissionais de saúde e suas práticas. O modelo de APS exige uma mudança estrutural em ambas, que deve começar nos centros formadores. Contudo, ainda percebem- se os profissionais de nível superior com sua formação e atuação voltadas para os processos de adoecimento (10). Ademais, a APS aparece como um meio importante de inserção no mercado de trabalho, especialmente para aqueles em início de carreira, estando a permanên- cia desses, muitas vezes, condicionada pela falta de outras oportunidades de trabalho (24). No caso dos agentes comunitários de saúde (ACS), muitos não tiveram passagem alguma pela área da saúde anteriormente, adquirindo na prática o seu real aprendizado, acarretando uma reprodução de modelos de pensamento e ação hegemônicos. Portanto, o tra- balho de prevenção ao uso de álcool e outras drogas não pode mostrar-se desconexo dessas análises conjunturais, com o objetivo de uma maior conscien- tização da população, de profissionais e de gestores (24). Outros fatores também são inerentes à APS no contexto latino-americano, como a insuficiência de recursos (humanos, fi- nanceiros, infraestrutura) e a falta de in- tegralidade e intersetorialidade da rede assistencial (6, 25). Tais problemas foram observados no município estudado, ge- rando grande demanda de atendimento, limitando e, em alguns casos, impossi- bilitando as ações de prevenção. Entre- tanto, algumas ações pensadas e concre- tizadas pelas equipes de saúde, além da aplicação das práticas de SBIRT, indicam tentativas mais amplas de se pensar na temática de álcool e outras drogas. Isso adveio de um maior aprofundamento e conscientização de alguns profissionais sobre o conceito de saúde e suas práti- cas, mostrando também como é possível realizar ações coletivas, mesmo em si­ tuações que não sejam as ideais. Destaca-se para isso a necessidade de parcerias com atores/entidades locais, nas quais esses atores assumam a respon- sabilidade de aumentar a capilaridade da divulgação da prevenção ao uso de álcool e outras drogas e de oferecer suporte à implementação das práticas de acordo com as potencialidades e peculiaridades de cada localidade, promovendo o en- gajamento da comunidade. A posição de destaque exercida pelos profissionais da ESF perante a comunidade — principal- mente os enfermeiros e os ACS — confere a esses profissionais um papel de elo entre o serviço e a população, sendo que, além disso, participam de forma ativa do contexto das equipes. Ao se objetivar a continuidade das ações propostas na rotina de trabalho, é preciso considerar a comunidade como o componente prin- cipal, com os profissionais gerenciando e organizando as ações em suas respectivas equipes e áreas de abrangência (16). Entretanto, deve-se aproximar a equipe e a rede assistencial para um trabalho in- terdisciplinar/intersetorial. Sabe-se que a questão do uso de álcool e outras drogas remete a diversas causas e dimensões, não sendo resolvida apenas pelo esforço setorial isolado da saúde. Articulações intersetoriais e a atuação multiprofis- sional são imprescindíveis para incidir sobre os determinantes sociais do pro- cesso de uso de álcool e outras drogas e promover a saúde (26). Com relação às práticas de SBIRT, estas devem acompanhar a rotina de trabalho dos profissionais, ainda que em momentos de maior sobrecarga de tra- balho tais práticas sejam realizadas com menor frequência. Daí a importância do planejamento e do estabelecimento de metas concretas na APS. Essas ações, aliadas a maior e melhor investimento, melhorias das condições de trabalho, suporte às equipes de saúde, são condi- ções para a sustentação e melhoria dos serviços ofertados. Pelo fato de serem práticas relativa- mente novas e que requerem mudança de paradigmas, grande parte dos profis- sionais de saúde tem receio de abordá- las dentro de suas comunidades (12). Frente a isso, é necessária uma postura compreensiva, sugerindo soluções como a aplicação do ASSIST e a realização da IB em pessoas mais próximas, a fim de uma maior ambientação do profissional às práticas. Também se mostra importante para manutenção das práticas preventivas a realização de um planejamento das equi- pes de saúde para a implementação da SBIRT em seus serviços, abordando a maneira como serão realizadas, estabe- lecendo metas e funções de cada profis- sional e pontuando possíveis entraves e pontos facilitadores a serem enfrentados de acordo suas realidades (12). Sobre o papel da gestão, percebe-se na literatura uma dificuldade dos gestores em ponderar adequadamente a impor- tância de ações preventivas ao uso de ál- cool e outras drogas (27). No município, observou-se a gestão de saúde receptiva à realização dessas práticas preventivas dentro da rotina dos serviços de saúde. Entretanto, não foi possível perceber um engajamento com as práticas propostas, como se o projeto não estivesse sob a responsabilidade do município também, numa perspectiva articuladora da atua­ ção dos profissionais de saúde. Isso se torna um fator que dificulta a incor- poração e manutenção das práticas na rotina assistencial do sistema de saúde local (27). Os processos de construção das po- líticas públicas de saúde do município foram observados como sendo, em sua maioria, de cima pra baixo, onde pro- fissionais e população são vistos como agentes passivos, não sendo convidados para o processo de construção dessas políticas. Isso nos remete à proposta da participação comunitária num contexto latino-americano que, segundo Briceño- Leon (28), trata-se de uma maneira de fortalecer a democracia. A sociedade civil há de assumir os seus deveres e im- plicações na construção do setor saúde, mas também não se pode acusá-la so- mente por uma ausência de participação quando o Estado não se movimenta para criar um espaço de debate, convidando a sociedade a participar como agente fo- mentador de reflexões e mudanças (28). Conclusões Algumas limitações foram percebidas durante o projeto, relacionadas, princi- palmente, às concepções da população e profissionais sobre o uso de álcool e outras drogas e às questões referentes à estruturação e dinâmica de funciona-
  • 6. 330 Rev Panam Salud Publica 33(5), 2013 Investigación original Costa et al. • Metodologia de prevenção ao uso de drogas mento da rede de APS. Apesar disso, considera-se o método apresentado e avaliado no presente artigo como um modelo útil para ser adotado, com suas devidas adaptações aos países latino- americanos. Ademais, demonstra que, apesar do incentivo cada vez mais fre- quente dos programas de capacitação, estes de tornam limitados para a mu- dança de fato de práticas se não esti- verem articulados com uma ação mais ampliada e constante. É preciso progredir nas ações de pre- venção ao uso de álcool e outras drogas na América Latina como um todo. Tais ações precisam ser planejadas para mé- dio e longo prazo e não podem ser rea- lizadas para obter resultados imediatos, apesar da demanda da gestão, profissio- nais e população por respostas instan- tâneas. Por isso, a importância de pes- quisas-intervenções que levem em conta metodologias de implementação amplia- das, participativas, levadas a cabo em rede e contextualizadas, com destaque para desafios e possibilidades de disse- minação nos países latino-americanos. Agradecimentos. À Secretaria de Saúde do Município participante por au- torizar a realização do estudo; aos acadê- micos de Psicologia da Universidade Fe- deral de Juiz de Fora, que participaram do trabalho de campo e coleta dos da- dos; à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) pelo financiamento do estudo através do Edital 09/2010, “Extensão em Interface com a Pesquisa 2010”; e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pela bolsa de pro- dutividade em pesquisa. Conflito de interesses. Nada decla- rado pelos autores.   1. Organización Panamericana de la Salud. Epi- demiología del uso de drogas en América La- tina y el Caribe: un enfoque de salud pública. 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  • 7. Rev Panam Salud Publica 33(5), 2013 331 Costa et al. • Metodologia de prevenção ao uso de drogas Investigación original Objective.  To develop a methodology to implement practices of prevention against the use of alcohol and other drugs in the context of primary health care (PHC) that will contribute to the debate about policies and actions in Latin American countries. Methods.  This intervention research project was carried out in a small/medium- sized Brazilian city. The development process was assessed through participant observation with the aim of adapting the methodology to local needs and identifying existing weaknesses and strengths with impact on implementation. Results.  A model was developed with six stages: initial contact and planning, diagnosis and mapping, sensitization, training, follow-up, and communication of results to participants. The following weaknesses were identified: limitation of resources (human, financial, infrastructural), limitations in the coverage and comprehensiveness of the assistance network, poor participation from physicians, training based on medicalized care, insufficient participation of health care management, insufficient involvement and participation of civil society, and few opportunities for participation of the population in the planning and execution of public policies. Strengths included the participation of community health agents and nurses in applying, organizing, and planning initiatives, in addition to the organization of educative and preventive actions in schools and communities by health care teams, suggesting that it is possible to implement screening, brief intervention, and referral to treatment (SBIRT) initiatives in the context of PHC in Latin America. Conclusions.  The methodology developed in this study can be useful for Latin American countries if local needs are taken into consideration. It should be noted, however, that results will only be observed in the mid- to long term, rather than strictly in the short term. Primary health care; community-based participatory research; substance abuse detection; Latin America. abstract A methodology to implement preventive actions against harmful drug use in the context of primary health care in Latin America Key words