Concepções de Saúde e Formação Profissional em Hospitais do RJ
1. INFORME Saúde
Ano XII • Janeiro de 2013 • nº 113 | http://www.neepss.blogspot.com.br
Referências de conhecimento e concepções de saúde dos assistentes
sociais e demais profissionais nos HU’s do Rio de Janeiro.
Ao observarmos a historicidade da existência que defende os princípios de universalidade, equidade,
das diversas concepções de saúde, notamos que tais integralidade, descentralização e participação social.
concepções estão estritamente relacionadas a con- Entretanto, na década de 1990, este sistema
juntura social, política e econômica da época de sua foi alvo das contrarreformas neoliberais. Como afirma
emergência. Mas a despeito disto, tais concepções, Correia (2007), desvendar a realidade atual do capita-
podem coexistir socialmente e perpassar o tempo lismo e das tendências que segue a atual política de
histórico, fazendo parte nos dias atuais, como refe- saúde brasileira, no contexto da crise contemporânea
rência teórico-metodológica, norteando a prática dos do capital, se torna importante para o profissional situ-
profissionais de saúde atuantes nos HU’s do Municí- ar a direção social de sua prática nesta área, tendo em
pio do Rio de Janeiro. vista o seu compromisso ético-político com a classe
Dentre as concepções de saúde existentes, trabalhadora.
destacamos primeiramente, o modelo Flexneriano Portanto, no sentido de captar as tendências
(biomédico), esta perspectiva, focaliza o indivíduo atuais, na prática de saúde, tomando como base a hi-
como centro da aparição de doenças, tendo como pótese central que há uma desconexão, uma fratura
objetivo a ênfase na cura das doenças, desta forma, entre o trabalho profissional realizado pelos profissio-
saúde significava a ausência de doenças; a segunda nais de saúde e as possibilidades de prática contidas
concepção a ser apresentada, foi criada após a Se- na realidade objeto da ação profissional, foram realiza-
gunda Guerra Mundial, pela Organização das Na- das entrevista os profissionais de saúde dos Hospitais
ções Unidas (ONU) junto da Organização Mundial da Universitário no Município do Rio de Janeiro.
Saúde (OMS), reconhece este direito como dever do Decorrente disto, elegemos algumas variáveis
Estado na sua promoção e proteção, onde “Saúde é na apresentação dos dados e destacamos as respos-
o estado do mais completo bem-estar físico, mental e tas dos Assistentes para análise comparativa acerca
social e não apenas a ausência de enfermidade.”. da formação desta categoria com os demais profissio-
Estes são conceitos reducionistas da con- nais.
cepção de saúde, e que alcançam no máximo uma Ao perguntarmos qual a concepção de saúde
definição ideal, inatingível; definição esta, que não dos profissionais, observou-se que 41% dos demais
poderia ser usada como objetivo pelos serviços de profissionais e 1% dos Assistentes Sociais, referenci-
saúde, sem uma delimitação de fato expressiva e am sua prática com o conceito abstrato da OMS; para
conclusiva de que reais fatores poderiam influenciar 7% dos demais profissionais saúde se refere à ques-
na saúde de um indivíduo. tões subjetivas, e apenas 4% do todo entrevistado dos
Somente nos anos 1980, com o fim da dita- demais profissionais e 5% de Assistentes Sociais to-
dura militar no Brasil, quando emerge uma nova con- mam como direção o conceito de saúde da Constitui-
juntura socioeconômica e política, surge o Movimen- ção de 1988. Seguindo a mesma perspectiva, ao ques-
to Reforma Sanitária, onde saúde, passou a ser en- tionarmos sobre a contribuição do Movimento de Re-
tendida não mais como ausência de doença, e tão forma Sanitária, 45% dos demais profissionais afirma
pouco, influenciada somente por fatores biológicos e desconhecer esta contribuição, isto significa que quase
ecológicos. Mas a partir de então, saúde passa a ser metade do total entrevistado não reconhece a impor-
vista por um conceito ampliado, que reconhece em tância deste movimento para a saúde brasileira, ao
seus determinantes, fatores sociais e históricos. Que passo que entre categoria dos Assistentes Sociais to-
culmina ,na Constituição de 1988 e nas Leis Orgâni- dos reconhecem o Movimento de Reforma Sanitária
cas da Saúde 8.080/90 e 8.142/90, que contempla- questão de saúde no Brasil; 17% dos demais profissio-
ram um sistema de saúde - o Sistema Único de Saú- nais e 7% de Assistentes Sociais consideram os avan-
de (SUS) – baseado no modelo de reforma sanitária ços legais como a Criação do SUS, a reforma psiquiá-
2. a saúde brasileira, ao passo que entre catego- cussão da política de saúde. Credita-se tal fato às
ria dos Assistentes Sociais todos reconhecem o Movi- conquistas referente à hegemonia crítica no Serviço
mento de Reforma Sanitária para a questão de saúde Social que reconhece a importância da discussão da
no Brasil; 17% dos demais profissionais e 7% de Assis- realidade histórica, política e econômica na formação
tentes Sociais consideram os avanços legais como a profissional.
Criação do SUS, a reforma psiquiátrica, o papel da A formação permanente e orientada por uma
Constituição de 1988, entre outros. visão ampla da saúde pode contribuir para a elimina-
No sentido de captar e entender a referências ção de barreiras para uma prática voltada aos interes-
destes profissionais, questionamos sobre a importância ses das classes trabalhadoras, entretanto se os pro-
da Constituição de 1988 para a prática de sua catego- fissionais não conseguiram superar a cultura acumu-
ria . Observa-se que, 13% dos demais profissionais e lada relativa à concepção de saúde em sua formação
nenhum Assistente Social considera que a Constitui- e não a buscam superar através da formação continu-
ção tem relação direta com sua profissão, no sentido ada, a prática profissional não tem capacidade de
de ter promovido avanços ou retrocessos quanto a car- captar as possibilidades contidas na realidade cotidia-
ga horária; porém, 35% do todo entrevistado dos pro- na a fim de contribuir na formação em saúde (à esta-
fissionais, afirma desconhecer ou desconsidera sua giários, residentes, outros) crítica em relação a reali-
importância, o que, os diferenciam dos Assistentes So- dade social e na defesa e ampliação dos direitos da
ciais aparecem nesta categoria de resposta. população usuária dos serviços de saúde.
Nota-se que, a fratura que ocorre entre o exer- Diante desta realidade, faz-se necessário re-
cício profissional e as possibilidades de prática existen- tomar os princípios da Reforma Sanitária brasileira:
tes na realidade, relaciona-se anteriormente com o en- mudanças na área da saúde articuladas a projeto de
sino das profissões de saúde, já que em suas diretrizes superação da atual ordem societária. O desafio para
curriculares, há um esvaziamento de conteúdos essen- os trabalhadores em geral, inclusive os da saúde, é
ciais para um projeto de profissão quanto à discussão fortalecer a articulação das forças políticas que repre-
sobre políticas públicas de saúde. Observou-se que há sentam os interesses da classe trabalhadora em torno
um discurso de louvação do SUS, mas a despeito dis- de um projeto para a sociedade, que tenha como es-
to, a lógica do ensino e as diretrizes curriculares das tratégia o rompimento com os organismos financeiros
profissões de saúde não tende a fortalecer este proje- internacionais e com a lógica a que estes servem e
to, ao passo que se resumem a apontar conteúdos ge- reproduzem, a lógica do capital, com vistas a uma
néricos, focalizadores, gerando uma fragmentação do nova sociabilidade.
ensino, que deixa de garantir conteúdos mínimos refe-
rentes a políticas sociais públicas de saúde, garantido-
res da formação de um perfil profissional crítico for-
mando intelectuais, e não apenas técnicos.
Ao perguntarmos aos profissionais sobre a
analise que poderiam fazer do ensino das profissões
de saúde no país, 14% dos demais profissionais afirma
haver uma dicotomia entre teoria e prática; para 11%
dos demais profissionais e 38% de respostas de As-
sistentes Sociais o ensino é fragmentado/
individualizado; para 35% dos demais profissionais
entrevistados juntamente com 6% Assistentes Sociais
o ensino está decadente/ sem qualidade.
Desta forma, reafirma-se, a hipótese de que há
de fato uma fratura entre o trabalho realizado pelos
profissionais e as possibilidades de práticas existentes
na realidade da ação profissional, pois os profissionais
não estão conseguindo captar o movimento da realida-
de em que estão inseridos que só é possível através
de uma formação crítica e de qualidade.
Diante do enfrentamento de uma política de
Contra-Reformas, a afirmação de um projeto profissio-
nal voltado para uma formação crítica, reflexiva, teórico
-metodológica, técnico-operativa e ético-política, é de
extrema importância para a formação dos profissionais.
No caso dos profissionais de saúde observa-
mos pelos dados apresentados em nossa pesquisa
uma fraca apreensão dos referenciais teóricos que di-
recionam o projeto de saúde do movimento da Refor-
ma Sanitária que, articulados à um projeto de socieda-
de de emancipação humana, tiveram como conquista a
implementação do SUS. Observa-se a diferença quan-
do se destaca a resposta dos assistentes sociais que
demonstraram maior conhecimento em relação a dis-
3. AGENDA DE EVENTOS
1º Encontro Nacional de Trabalho, Políti- Encontro Regional do Serviço Social na
ca Social e Serviço Social Educação Norte, Noroeste Fluminense e
Data: 20/03/2013 Baixada Litorânea
Local: Maceió/AL Data: 7 de março de 2013
Descrição: O Curso de Serviço Social da Facul- Inscrições para apresentação de trabalhos e pôs-
dade Integrada Tiradentes sente-se honrado em teres: 21/1 a 18/2
convidar pesquisadores, docentes, discentes e A inscrição para participação poderá ser feita de
profissionais de Serviço Social e de áreas afins 26/1 a 26/2 através do email
para participar do I Encontro Nacional de Traba- cresscampos@gmail.com.
lho, Política Social e Serviço Social, a ser realiza- Local: FUNEMAC - Fundação Educacional de
do entre os dias 20 e 22 de março de 2013, na Macaé - Cidade Universitária - Rua
cidade de Maceió-Alagoas, tendo por tema Aloísio da Silva Gomes, 50 / Granja dos Cavalei-
“Serviço Social em tempos de barbárie”. ros - Macaé/RJ - CEP:
Maiores Informações: www.euquerofits.com.br/ 27930-560
entpss/
IV Jornada Multidisciplinar do Hospital
São Vicente de Paulo
Data: 8 e 9 de dezembro
Horário: das 8h às 18h
Local: Hospital São Vicente de Paulo - Centro de
Convenções Irmã Mathilde
Rua Doutor Satamini, 333, Tijuca, Rio de Janeiro
*Profissionais e gestores da área de saúde po-
dem se inscrever na Jornada Multidisciplinar gra-
tuitamente pelo telefone (21) 2563-2147 ou pelo
e-mail comunicacao@hsvp.org.br. Vagas limita-
das.
“Não é a consciência do homem que lhe determina o ser, mas, ao
contrário, o seu ser social que lhe determina a consciência”.
Karl Marx
Elaboração: NEEPSS — Núcleo de Estudos, Extensão e Pesquisa em Serviço Social
Projeto de Pesquisa/ Extensão
Faculdade de Serviço Social / UERJ/ CNPq / FAPERJ.
Coordenadora : Ana Maria de Vasconcelos
Equipe
Discentes: Luciana Conceição e Silva, Thamara Dória Santos, Natália Cristina Faro Rodrigues, Vitória Monteiro Neri, Tamires da Silva
Albuquerque, Agatha Alves da Silva, Juliana Ferreira Baltar, Claudia Reis de Souza, Bruna Pinheiro Malafaia, Marcos Antonio Machado
Barboza Filho, Simone Ramos
Contatos: Núcleo de Estudos, Extensão e Pesquisa em Serviço Social — FSS/UERJ ( 8ª andar — sala 8030/ 1 D — bloco D)
Telefone.2334-0291, ramal. 203 ou 205
Email: pesquisa.neepssuerj@gmail.com.br / www.neepss.blogspot.com.br