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Alguns dos participantes da Semana de Arte Moderna
Os anos percussores
1912: Oswald de Andrade retorna da Europa
 impregnado do Futurismo de Marinetti:
 “estamos atrasados cinquenta anos em
 cultura, chafurdados ainda em pleno
 Parnasianismo”
1913: Lasar Segall, pintor lituano, realiza “a
 primeira exposição de pintura não acadêmica
 em nosso país” (comentário de Mário de
 Andrade)
Os anos percussores
1915: organização da
 revista Orpheu, com
 manifestos e poemas
 do        Modernismo
 português, por Luis
 Montalvor e Ronald de
 Carvalho;
Os anos percussores
1917:Mário publica, em protesto à Primeira
 Guerra, Há uma gota de sangue em cada
 poema
Menotti del Picchia publica Moisés e Juca
 Mulato;
Manuel Bandeira publica A cinza das horas
Os anos percussores
O músico francês Darius Milhaud, que vive no
  Rio, entusiasma-se com o maxixe, o samba e os
  chorinhos de Ernesto Nazaré, encontra-se com o
  jovem Heitor Villa-Lobos, este já encantado com
  a moderna música francesa via Stravinski;
Segunda exposição de Anita Malfatti, exibindo
  quadros expressionistas, criticados duramente
  por Monteiro Lobato, no jornal O estado de São
  Paulo
Há uma gota de sangue em cada poema

Assim como há resquício de barro
Nas estradas asfaltadas
E ruínas pelo impacto das guerras
                           e catástrofes
Há em cada poema uma lágrima;
Assim como ecoam aplausos e vaias
Da grande semana! Onde sobram
Pedaços mastigados na antropofagia
Mário não desperdiçaria uma ideia
Sem que esfacelasse fontes, rituais e oferendas.
Há uma gota de suor em cada letra
E em cada verso um gozo de dor
Por que sempre a dor do poeta?
Simples... É exatamente aí que sucumbi
As mágoas de exprimir pelo dom;
E despedir a força vital paulatinamente...

(Mário Sobral/Mário de Andrade)
1
Nuvens voam pelo ar como bandos de garças,
Artista boêmio, o sol, mescla na cordilheira
pinceladas esparsas
de ouro fosco. Num mastro, apruma-se a bandeira
de São João, desfraldando o seu alvo losango.

Juca Mulato cisma. A sonolência vence-o

Vem, na tarde que expira e na voz de um curiango,
o narcótico do ar parado, esse veneno
que há no ventre da treva e na alma do silêncio.
Um sorriso ilumina o seu rosto moreno.

No piquete relincha um poldro; um galo álacre
tatala a asa triunfal, ergue a crista de lacre,
clarina a recolher entre varas de cerdos e
mexem-se ruivos bois processionais e lerdos
e, num magote escuro, a manada se abisma na treva.
Anoiteceu.

Juca Mulato cisma. (Menoti del Picchia)
Alguns poemas de A cinza das horas

DESENCANTO
Eu faço versos como quem chora
De desalento. . . de desencanto. . .
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.
Meu verso é sangue. Volúpia ardente. . .
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.
E nestes versos de angústia rouca,
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.
- Eu faço versos como quem morre.
Teresópolis, 1912.
Alguns poemas de A cinza das horas

EPÍGRAFE
Sou bem-nascido. Menino,
Fui, como os demais, feliz.
Depois, veio o mau destino
E fez de mim o que quis.
Veio o mau gênio da vida,
Rompeu em meu coração,
Levou tudo de vencida,
Rugia e como um furacão,
Turbou, partiu, abateu,
Queimou sem razão nem dó -
Ah, que dor!
Magoado e só,
- Só! - meu coração ardeu:
Ardeu em gritos dementes
Na sua paixão sombria...
E dessas horas ardentes
Ficou esta cinza fria.
- Esta pouca cinza fria.
1917.
A exposição de Anita Malfatti




                         A estudante   Mário




Fotografia da
pintora

                A boba

                                       O farol
Paranóia ou mistificação?
                     A propósito da Exposição Malfatti
                                                            Monteiro Lobato

       Há duas espécies de artistas. Uma composta dos que vêm as coisas e
em conseqüência fazem arte pura, guardados os eternos ritmos da vida, e
adotados, para a concretização das emoções estéticas, os processos
clássicos dos grandes mestre.
      Quem trilha esta senda, se tem gênio é Praxiteles na Grecia, é Rafael na
Itália, é Reynolds na Inglaterra, é Dürer na Alemanha, é Zorn na Suécia, é
Rodin na França, é Zuloaga na Espanha. Se tem apenas talento, vai
engrossar a plêiade de satélites que gravitam em torno desses sóis
imorredoiros.
        A outra espécie é formada dos que vêm anormalmente a natureza e a
interpretam à luz das teorias efêmeras, sob a sugestão estrábica de escolas
rebeldes, surgidas cá e lá como furúnculos da cultura excessiva. São
produtos do cansaço e do sadismo de todos os períodos de decadência; são
frutos de fim de estação, bichados ao nascedouro. Estrelas cadentes,
brilham um instante, as mais das vezes com a luz do escândalo, e somem-se
logo nas trevas do esquecimento.
 (...)
Os “festivais”
Foram três os “festivais” da Semana, dias
 13, 15 e 17 de fevereiro de 1922.
1º dia: Graça Aranha profere a conferência A
 emoção estética na arte moderna.
2º dia: defesa do ideário modernista por
 Menotti del Picchia.
3º dia: amostras de arte de Vitor
 Brecheret, conferência de Renato de Almeida.
1º dia: Graça Aranha profere a conferência A emoção estética na
arte moderna
   Para muitos de vós a curiosa e sugestiva exposição que
  gloriosamente inauguramos hoje, é uma aglomeração
  de "horrores". Aquele Gênio supliciado, aquele homem
  amarelo, aquele carnaval alucinante, aquela paisagem
  invertida se não são jogos da fantasia de artistas
  zombeteiros,      são      seguramente       desvairadas
  interpretações da natureza e da vida. Não está
  terminado o vosso espanto. Outros "horrores" vos
  esperam. Daqui a pouco, juntando-se a esta coleção de
  disparates, uma poesia liberta, uma música
  extravagante, mas transcendente, virão revoltar
  aqueles que reagem movidos pelas forças do Passado.
  Para estes retardatários a arte ainda é o Belo.
Algumas obras de Tarcila do Amaral




                               Abaporu

Fotografia da
pintora

                Operários




                             Le manteau rouge
Características:
 Na poesia:
1. Utilização do verso livre;
2. Blague (poema piada), bom humor, ironia;
3. Livre associação de ideias;
4. Irreverência;
5. Valorização do cotidiano;
6. Incorporação do presente;
7. Humor;
8. Aproximação com a prosa
9. Linguagem coloquial;
10. Nacionalismo.
Características:
Na prosa:
1. Utilização de períodos curtos;
2. Apoio na fala coloquial;
3. Aproximação com a poesia.
A fase heroica (1922-1930)
 Poesia Pau-Brasil (1924): Oswald de Andrade e Tarsila
  do Amaral;
 Movimento antropofágico (1928): inspi-
    rado no Abaporu: assimilação crítica de
   todas as influências estrangeiras (desde
a colonização até às vanguardas artísticas europeias) e
  sua “digestão” para recriar a história brasileira.
 Verde-Amarelismo (1925-6) e Grupo Anta (1926-9):
  defesa do nacionalismo e da ingenuidade da pátria-
  mãe – postura conservadora, próxima ao
  Integracionalismo (nazi-fascimo).
Principais autores
   modernistas
OSWALD DE ANDRADE
Manifesto da Poesia Pau-Brasil

    "A poesia existe nos fatos. Os casebres de açafrão e
de ocre nos verdes da Favela, sob o azul cabralino, são
fatos estéticos. [...] (1)
     Contra o gabinetismo, a prática culta da vida.[...] (2)
    A língua sem arcaísmos, sem erudição. Natural e
neológica. A contribuição milionária de todos os erros. Como
falamos. Como somos. (3)
     O trabalho contra o detalhe naturalista - pela síntese;
contra a morbidez romântica - pelo equilíbrio geômetra e
pelo acabamento técnico; contra a cópia, pela invenção e
pela surpresa.[...]
    Nenhuma fórmula para a contemporânea expressão
do mundo. Ver com olhos livres.[...](4)
As propostas modernistas de Oswald
(1)   Defesa da liberdade temática e da ampliação dos temas
      poéticos, destacando as paisagens nacionais pobres e
      anônimas.

(2) Crítica à cultura elitista, que se isola das massas nos
   gabinetes e nas academias.

(3) Defesa da liberdade linguística, por meio da aproximação
   entre fala – cujos “erros” na verdade são possibilidades
   expressivas – e escrita.

(4) Rejeição ao passadismo literário e à mentalidade de cópia;
   defesa da conciliação entre a cultura primitiva e a atitude
   intelectualizada (a síntese, o equilíbrio, a invenção, a
   surpresa).
Vício na fala

Para dizerem milho dizem mio
Para melhor dizem mió
Para pior pió
Para telha teia
Para telhado teiado

E vão fazendo telhados.
3 de maio

Aprendi com meu filho de dez anos
Que a poesia é a descoberta
Das coisas que nunca vi.

(Pau-Brasil)
3 de maio

Aprendi com meu filho de dez anos
Que a poesia é a descoberta
Das coisas que nunca vi.

(Pau-Brasil)

1. Verso livre
3 de maio

Aprendi com meu filho de dez anos
Que a poesia é a descoberta
Das coisas que nunca vi.

(Pau-Brasil)

1. Verso livre
2. Tom de prosa
3 de maio

Aprendi com meu filho de dez anos
Que a poesia é a descoberta
Das coisas que nunca vi.

(Pau-Brasil)

1. Verso livre       3. metalinguítico
2. Tom de prosa
3 de maio

Aprendi com meu filho de dez anos
Que a poesia é a descoberta
Das coisas que nunca vi.

(Pau-Brasil)

1. Verso livre     3. metalinguítico
2. Tom de prosa    4.
   ingenuidade, surpresa (universo infantil)
Pronominais

Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e o aluno
e do mulato sabido

Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso meu camarada
Me dá um cigarro
Pronominais

Dê-me um cigarro          VALORIZAÇÃO
                         DA LINGUAGEM
Diz a gramática            COLOQUIAL

Do professor e o aluno
e do mulato sabido

Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso meu camarada
Me dá um cigarro
O capoeira

- Que apanhá soldado?
- O quê?
- Que apanhá?
Pernas e cabeças na calçada.
Luta sugerida por um
O capoeira     diálogo Relâmpago...




- Que apanhá soldado?
- O quê?
- Que apanhá?
Pernas e cabeças na calçada.
...que é tipicamente
O capoeira           popular...




- Que apanhá soldado?
- O quê?
- Que apanhá?
Pernas e cabeças na calçada.
Uso da metonímia: parte
O capoeira    pelo todo, sugerindo o
             movimento de uma luta
                    (capoeira)


- Que apanhá soldado?
- O quê?
- Que apanhá?
Pernas e cabeças na calçada.
Estilo telegráfico,   precursor,
               segundo Antonio Candido, da
O capoeira     montagem na poesia (cinema)




- Que apanhá soldado?
- O quê?
- Que apanhá?
Pernas e cabeças na calçada.
Canção de Regresso à Pátria

Minha terra tem palmares
Onde gorjeia o mar
Os passarinhos daqui
Não são como os de lá

Minha terra tem mais rosas
E quase que mais amores
Minha terra tem mais ouro
Minha terra tem mais terra

Ouro terra amor e rosas
Eu quero tudo de lá
Não permita Deus que eu morra
Sem que eu volte para lá

Não permita Deus que eu morra
Sem que eu volte para São Paulo
Sem que eu veja a Rua 15
E o progresso de São Paulo
Canção de Regresso à Pátria
                                  Paródia do poema
Minha terra tem palmares          “Canção do Exílio”, de
Onde gorjeia o mar                Gonçalves Dias (no
Os passarinhos daqui              Romantismo, o
Não são como os de lá             nacionalismo era
                                  ufanista e idealizador)
Minha terra tem mais rosas
E quase que mais amores
Minha terra tem mais ouro
Minha terra tem mais terra

Ouro terra amor e rosas
Eu quero tudo de lá
Não permita Deus que eu morra
Sem que eu volte para lá

Não permita Deus que eu morra
Sem que eu volte para São Paulo
Sem que eu veja a Rua 15
E o progresso de São Paulo
Canção de Regresso à Pátria
                                   Paródia do poema
Minha terra tem palmares           Canção do Exílio, de
Onde gorjeia o mar                 Gonçalves Dias (no
Os passarinhos daqui               Romantismo, o
Não são como os de lá              nacionalismo era
                                   ufanista e idealizador)
Minha terra tem mais rosas
E quase que mais amores           Minha terra tem palmeiras,
Minha terra tem mais ouro         Onde canta o Sabiá;
Minha terra tem mais terra        As aves, que aqui gorjeiam,
                                  Não gorjeiam como lá.
                                  Nosso céu tem mais estrelas,
Ouro terra amor e rosas           Nossas várzeas têm mais flores,
                                  Nossos bosques têm mais vida,
Eu quero tudo de lá               Nossa vida mais amores.
Não permita Deus que eu morra     (...)
                                  Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá          Sem que eu volte para lá;
                                  Sem que disfrute os primores
Não permita Deus que eu morra     Que não encontro por cá;
                                  Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Sem que eu volte para São Paulo   Onde canta o Sabiá.
Sem que eu veja a Rua 15
                                  De Primeiros cantos (1847)
E o progresso de São Paulo
Canção de Regresso à Pátria

Minha terra tem palmares
Onde gorjeia o mar
Os passarinhos daqui
                                      Nacionalismo crítico:
Não são como os de lá
                                  Referência à Zumbi Palmares
                                   (personagem histórico que
Minha terra tem mais rosas        denuncia as feridas da pátria)
E quase que mais amores
Minha terra tem mais ouro                  escravidão
Minha terra tem mais terra

Ouro terra amor e rosas
Eu quero tudo de lá
Não permita Deus que eu morra
Sem que eu volte para lá

Não permita Deus que eu morra
Sem que eu volte para São Paulo
Sem que eu veja a Rua 15
E o progresso de São Paulo
Canção de Regresso à Pátria

Minha terra tem palmares
Onde gorjeia o mar
Os passarinhos daqui
Não são como os de lá

Minha terra tem mais rosas
E quase que mais amores
Minha terra tem mais ouro
Minha terra tem mais terra

Ouro terra amor e rosas           Valorização do
Eu quero tudo de lá                pregresso em
                                       vez da
Não permita Deus que eu morra
                                   valorização da
Sem que eu volte para lá          natureza (como
                                    era no texto
Não permita Deus que eu morra         original)
Sem que eu volte para São Paulo
Sem que eu veja a Rua 15
E o progresso de São Paulo
Canção de Regresso à Pátria

Minha terra tem palmares
Onde gorjeia o mar
Os passarinhos daqui               Sem pontuação.
Não são como os de lá             Observe “Ouro terra
                                    amor e rosas”
Minha terra tem mais rosas
E quase que mais amores
Minha terra tem mais ouro
Minha terra tem mais terra

Ouro terra amor e rosas
Eu quero tudo de lá
Não permita Deus que eu morra      Relativização do
Sem que eu volte para lá            nacionalismo
                                      romântico
Não permita Deus que eu morra
Sem que eu volte para São Paulo
Sem que eu veja a Rua 15
E o progresso de São Paulo
Outros textos de Oswald:
Crônica

Era uma vez
o mundo
Amor: humor
Serafim Ponte Grande (1929)
 Romance experimental, por
  colagem, causando estranhamento no leitor;
 Fragmentado (sem capítulos tradicionais);
 Mistura de vários estilos:
  prosa...poesia...carta...cartilha escolar...
 Satirização de vários estilos literários
  (Romantismo, Realismo-
  Naturalismo, Parnasianismo)
Enredo de “Serafim Ponte Grande”
Um homem aparentemente “comum” que se casa na polícia e
  se torna funcionário público de uma repartição de
  saneamento chamada Escarradeira. Rouba, contudo, o
  dinheiro da Revolução, viaja à Europa e ao Oriente, onde
  “libera” toda sua energia e depois volta a São Paulo, onde é
  morto enquanto a polícia o persegue por um raio. A família
  e os amigos constroem um hospício em homenagem a
  Serafim e seu melhor amigo, Pinto Calçudo, continua a
  viagem-erótica indefinidamente, num navio fantasma
  chamado EL Durasmo ...

(O enredo absurdo do romance aproxima a proposta de
  Oswald ao Dadaísmo)
Serafim é um anti-herói da literatura brasileira
(ao lado de outras figuras da literatura nacional
como Leonardo e Macunaína):

É individualista;
Serafim é um anti-herói da literatura brasileira
(ao lado de outras figuras da literatura nacional
como Leonardo e Macunaína):

É individualista;
Sensual;
Serafim é um anti-herói da literatura brasileira
(ao lado de outras figuras da literatura nacional
como Leonardo e Macunaína):

É individualista;
Sensual;
Malandro.
Romance antropofágico:
                                Epicurismo
                            (prazer como bem
                                 supremo)



                                          Hedonismo
                                       (saúde do corpo e
Devorador do que corrompe
                                       sossego através da
 a felicidade do homem e
                                            luxúria)
           propõe:



                                    Iconoclastia
                               (destruição dos mitos)
Tom jocoso (vide trecho de Serafim abaixo)


Primeiro contato de Serafim e a malícia:
a- e – i – o – u
   ba – be – bi – bo – bu
      ca – ce – ci – co - cu
MÁRIO DE ANDRADE
Prefácio interessantíssimo (fragmentos)
Leitor:
   Está fundado o Desvairismo.
     Este prefácio, apesar de interessante, inútil.
[...]
Aliás muito difícil nesta prosa saber onde termina a blague, onde principia a seriedade.
     Nem eu sei.
   E desculpem-me por estar tão atrasado dos movimentos artísticos atuais. [...]
   Ninguém pode se libertar duma só vez das teorias-avós que bebeu [...]
Não sou futurista (de Marinetti). Disse e repito-o. Tenho pontos de contacto com o
   futurismo. [...]
A inspiração é fugaz, violenta. Qualquer impecilho a perturba e mesmo emudece.
   Arte, que, somada a Lirismo, dá Poesia, não consiste em prejudicar a doida carreira
   do estado lírico para avisa-lo das pedras e cercas de arame do caminho. Deixe que
   tropece, caia e se fira. Arte é mondar mais tarde o poema de repetições fastientas, de
   sentimentalidades românticas, de pormenores inúteis ou inexpressivos. [...]
Belo da arte: arbitrário, convencional, transitório - questão de moda. Belo da natureza:
   imutável, objetivo, natural - tem a eternidade que a natureza tiver. [...]
As propostas modernistas de Mário
(1)   Tom irônico do texto, aproximando-o do Dadaísmo.
(2)   Incorporação crítica das Vanguardas, uma vez que nelas o
      lirismo constitui apenas uma das faces da criação
      artística, antecipando o conceito de escrita automática do
      surrealista André Breton (1924).
(3)   Criação, a partir de termos emprestados da música, da
      polifonia poética: um poema deve combinar melodias
      (estruturas gramaticais lineares) e harmonia (estruturas
      associativas que dão impressão de simultaneidade) tornando-
      o polifônico.
(4)   Proposta de criação de uma linguagem brasileira, por meio da
      incorporação de elementos da oralidade da fala popular ao
      texto literário.
(5)   Ênfase no tom niilista da vanguarda dadaísta
      (“desvairismo”), por meio da negação da criação de escolas
      poéticas,                   discípulos                   etc.
Pauliceia desvairada (1922)
Minha Londres das neblinas finas!
Pleno verão. Os dez mil milhões de rosas
paulistanas.
Há neves de perfume no ar
Faz frio, muito frio...
E a ironia das pernas das costureirinhas
Parecidas com bailarinas...
O vento é como uma navalha
Nas mãos de um espanhol. Arlequinal!
Há duas horas queimou o Sol.
Daqui a duas horas queima o Sol
“Eu sou um escritor difícil
Que a muita gente enquizila,
Porém essa culpa é fácil
De se acabar duma vez:
É só tirar a cortina
Que entra luz nesta escurez.”
"Brasil amado não porque seja a minha pátria,
 Pátria é acaso de migrações e do pão-nosso onde Deus der...
 brasil que eu amo porque é o ritmo do meu braço aventuroso
 o gosto dos meus descansos,
 o balanço das minhas cantigas, amores e danças.
 brasil que eu sou porque é a minha expressão muito engraçada,
 porque é o meu sentimento muito pachorrento,
 porque é o meu jeito de ganhar dinheiro, de comer e de
 dormir."
(trecho de "O poeta come amendoim“, de Clã do Jaboti, 1927)
Ortografia criativa


"Brasil amado não porque seja a minha pátria,
 Pátria é acaso de migrações e do pão-nosso onde Deus der...
 brasil que eu amo porque é o ritmo do meu braço aventuroso
 o gosto dos meus descansos,
 o balanço das minhas cantigas, amores e dansas.
 brasil que eu sou porque é a minha expressão muito engraçada,
 porque é o meu sentimento muito pachorrento,
 porque é o meu jeito de ganhar dinheiro, de comer e de
 dormir."
"Brasil amado não porque seja a minha pátria,
 Pátria é acaso de migrações e do pão-nosso onde Deus der...
 brasil que eu amo porque é o ritmo do meu braço aventuroso
 o gosto dos meus descansos,
 o balanço das minhas cantigas, amores e dansas.
 brasil que eu sou porque é a minha expressão muito engraçada,
 porque é o meu sentimento muito pachorrento,
 porque é o meu jeito de ganhar dinheiro, de comer e de
 dormir.“

                  nacionalismo crítico
Eu sou trezentos...
 (...)
  Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cincoenta,
  Mas um dia afinal eu toparei comigo...
  Tenhamos paciência, andorinhas curtas,
  Só o esquecimento é que condensa,
  E então minha alma servirá de abrigo.

Remate dos males, 1930
Macunaíma (1928)
Publicado numa tiragem de apenas oitocentos
exemplares (Mário de Andrade não conseguira
editor), Macunaíma, o herói sem nenhum caráter, é
uma das obras pilares da cultura brasileira.
    Numa narrativa fantástica e picaresca, ou, melhor
dizendo, “malandra”, herdeira direta das Memórias de
um Sargento de Milícias (1852) de Manuel Antônio de
Almeida, Mário de Andrade reelabora literariamente
temas de mitologia indígena e visões folclóricas da
Amazônia e do resto do país, fundando uma nova
linguagem literária.
Macunaíma (1928)
     Nas lendas de heróis taulipang e
arecuná, apresentadas por Koch-
Grünberg, Mário de Andrade encontrou
o herói Macunaíma, que, segundo o
estudioso      alemão,“ainda       era
menino, porém mais safado que todos os
outros       irmãos.”
Macunaíma (1928)
A Carta pras Icamiabas

Com seu estilo pomposo, Macunaíma enuncia, na Carta pras
Icamiabas, o slogan que irá adotar para definir os problemas
do Brasil:
   “Tudo vai num descalabro sem comedimento, estamos
corroídos pelo morbo e pelos miriápodes! Em breve seremos
novamente uma colônia da Inglaterra ou da América do
Norte!... Por isso e para eterna lembrança destes paulistas,
que são a única gente útil do país, e por isso chamados de
Locomotivas, nos demos ao trabalho de metrificarmos um
dístico, em que se encerram os segredos de tanta desgraça:

                "POUCA SAÚDE E MUITA SAÚVA,
                    OS MALES DO BRASIL SÃO."
Macunaíma (1928)

 Enredo: Macunaíma sai do mato e chega
a São Paulo em busca do seu precioso
amuleto – o Muiraqutã – presente de Ci, a
mão do mato, e presente que fora
roubado por Vanceslau Pietro Pietra, o
gigante Paimã, caçador de gente.
MANUEL BANDEIRA
Características gerais da obra:

O exílio causado pela doença obrigou o poeta a
 viver            profundamente             sua
 sensibilidade, levando-o a gostar das
 antíteses, manifestando em seus poemas uma
 serenidade melancólica e uma revolta
 imponente...
O lirismo impregnado das descobertas do cotidiano



“...a poesia está em tudo – tanto nos
amores como nas chinelas, tanto nas
coisas lógicas como nas disparatatas”
Poética

Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto
expediente
protocolo e manifestações de apreço ao Sr.
diretor.
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no
dicionário
o cunho vernáculo de um vocábulo.
(...)
Os Sapos

     Enfunando os papos,
     Saem da penumbra,
     Aos pulos, os sapos.
      A luz os deslumbra.

      Em ronco que aterra,
        Berra o sapo-boi:
    - "Meu pai foi à guerra!"
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!".

       O sapo-tanoeiro,
     Parnasiano aguado,
    Diz: - "Meu cancioneiro
      É bem martelado.

      Vede como primo
     Em comer os hiatos!
    Que arte! E nunca rimo
     Os termos cognatos.
              (...)
Estrela da Manhã (1936)

                        (...)
      Digam que sou um homem sem orgulho
           Um homem que aceita tudo
                Que me importa?
           Eu quero a estrela da manhã
                        (...)
               Pecai com malandros
               Pecai com sargentos
            Pecai com fuzileiros navais
            Pecai de todas as maneiras
         Com os gregos e com os troianos
            Com o padre e o sacristão
           Com o leproso de Pouso Alto
                  Depois comigo

   Te esperarei com mafuás novenas cavalhadas
[comerei terra e direi coisas de uma ternura tão simples
                Que tu desfalecerás

            Procurem por toda à parte
      Pura ou degradada até a última baixeza
           Eu quero a estrela da manhã.
Estrela da Manhã (1936)

                        (...)
      Digam que sou um homem sem orgulho
           Um homem que aceita tudo
                Que me importa?                            humildade
           Eu quero a estrela da manhã
                        (...)
               Pecai com malandros
               Pecai com sargentos
            Pecai com fuzileiros navais
            Pecai de todas as maneiras
         Com os gregos e com os troianos
            Com o padre e o sacristão
           Com o leproso de Pouso Alto
                  Depois comigo

   Te esperarei com mafuás novenas cavalhadas
[comerei terra e direi coisas de uma ternura tão simples
                Que tu desfalecerás

            Procurem por toda à parte
      Pura ou degradada até a última baixeza
           Eu quero a estrela da manhã.
Estrela da Manhã (1936)

                                         (...)
                       Digam que sou um homem sem orgulho
                            Um homem que aceita tudo
                                 Que me importa?
                            Eu quero a estrela da manhã
                                         (...)
                                Pecai com malandros
                                Pecai com sargentos
                             Pecai com fuzileiros navais
                             Pecai de todas as maneiras
Linguagem barroca:        Com os gregos e com os troianos
 Erotismo=estrela:           Com o padre e o sacristão
mulher, sedução, p          Com o leproso de Pouso Alto
   ecadora e pura                  Depois comigo

                    Te esperarei com mafuás novenas cavalhadas
                 [comerei terra e direi coisas de uma ternura tão simples
                                 Que tu desfalecerás

                             Procurem por toda à parte
                       Pura ou degradada até a última baixeza
                            Eu quero a estrela da manhã.
Estrela da Manhã (1936)

                        (...)
      Digam que sou um homem sem orgulho
           Um homem que aceita tudo
                Que me importa?
           Eu quero a estrela da manhã
                        (...)
               Pecai com malandros
               Pecai com sargentos
            Pecai com fuzileiros navais
            Pecai de todas as maneiras
         Com os gregos e com os troianos            Ultrapassa o
            Com o padre e o sacristão               maniqueísmo
           Com o leproso de Pouso Alto               com que os
                  Depois comigo                   românticos viam
                                                      a mulher
   Te esperarei com mafuás novenas cavalhadas
[comerei terra e direi coisas de uma ternura tão simples
                Que tu desfalecerás

            Procurem por toda à parte
      Pura ou degradada até a última baixeza
           Eu quero a estrela da manhã.
Pneumotórax

Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos.
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Tosse, tosse, tosse.

Mandou chamar o médico:
- Diga trinta e três.
- Trinta e três... trinta e três... trinta e três...
- Respire.

- O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão
direito infiltrado.
- Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
- Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.
Pneumotórax
                                                          Poema tematiza a
                                                       doença que assombrou a
Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos.                  vida de
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.        Bandeira, causando a
Tosse, tosse, tosse.                                     expectativa de morte


Mandou chamar o médico:
- Diga trinta e três.
- Trinta e três... trinta e três... trinta e três...
- Respire.

- O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão
direito infiltrado.
- Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
- Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.
Pneumotórax

Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos.
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Tosse, tosse, tosse.
                                                        Os versos intercalam
Mandou chamar o médico:                                causa e consequência e
- Diga trinta e três.                                      o preço pago.
- Trinta e três... trinta e três... trinta e três...
- Respire.

- O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão
direito infiltrado.
- Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
- Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.
Pneumotórax

Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos.           O episódio da visita do
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.       médico , retratada pelo
Tosse, tosse, tosse.                                   eu-lírico, culmina com o
                                                       sarcasmo, ironia trágica
                                                       desesperada – ao invés
Mandou chamar o médico:                                     de uma coisa, a
- Diga trinta e três.                                    aceitação, o assumir
                                                       poeticamente uma cura
- Trinta e três... trinta e três... trinta e três...    (até então) impossível
- Respire.

- O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão
direito infiltrado.
- Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
- Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.
Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive
(...)
Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
                                 Pasárgada = “campo
                                    dos persas”, no
Vou-me embora pra Pasárgada       poema, espécie de
Vou-me embora pra Pasárgada           arquétipo,
                                 transposição poética
Aqui eu não sou feliz                de um sonho
Lá a existência é uma aventura         coletivo.
De tal modo inconsequente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive
(...)
Irene no Céu

Irene preta
Irene boa
Irene sempre de bom humor.

Imagino Irene entrando no céu:
- Licença, meu branco!
E São Pedro bonachão:
- Entra, Irene. Você não precisa pedir
licença.
Poema do Beco

Que importa a paisagem, a Glória, a
baía, a linha do horizonte?
- O que eu vejo é o beco.
Poema do Beco

Que importa a paisagem, a Glória, a
baía, a linha do horizonte?
- O que eu vejo é o beco.

1. micro-poema
Poema do Beco

Que importa a paisagem, a Glória, a
baía, a linha do horizonte?
- O que eu vejo é o beco.

1. micro-poema
2. texto condensado
Poema do Beco

Que importa a paisagem, a Glória, a
baía, a linha do horizonte?
- O que eu vejo é o beco.

1. micro-poema
2. texto condensado
3. verso livre
Poema do Beco

Que importa a paisagem, a Glória, a
baía, a linha do horizonte?
- O que eu vejo é o beco.

1. micro-poema
2. texto condensado
3. verso livre
4. linguagem coloquial
5. realidade / “tédio”, “desesperança”
Teresa

A primeira vez que vi Teresa
Achei que ela tinha pernas estúpidas
Achei também que a cara parecia uma perna

Quando vi Teresa de novo
Achei que os olhos eram muito mais velhos que o resto do corpo
(Os olhos nasceram e ficaram dez anos esperando que o resto do
corpo nascesse)

Da terceira vez não vi mais nada
Os céus se misturaram com a terra
E o espírito de Deus voltou a se mover sobre a face das águas.
Poema Tirado de uma Notícia de Jornal

João Gostoso era carregador de feira livre e
[morava no morro da Babilônia num barracão
[sem número
Uma noite ele chegou no bar Vinte de
Novembro
Bebeu
Cantou
Dançou
Depois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas e
[morreu afogado.
Poema Tirado de uma Notícia de Jornal

João Gostoso era carregador de feira livre e
[morava no morro da Babilônia num barracão
[sem número
Uma noite ele chegou no bar Vinte de
Novembro
Bebeu
Cantou
Dançou
Depois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas e
[morreu afogado.
“coisas mais simples e menos intencionais”
referências bibliográficas

AMARAL, Emília; ANTÔNIO, Severino;
PATROCÍNIO, Mauro Ferreira do.
Português:
redação, gramática, literatura, interpr
etação de texto. São Paulo: Nova
Cultural, 1999

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Modernismo

  • 1.
  • 2. Alguns dos participantes da Semana de Arte Moderna
  • 3. Os anos percussores 1912: Oswald de Andrade retorna da Europa impregnado do Futurismo de Marinetti: “estamos atrasados cinquenta anos em cultura, chafurdados ainda em pleno Parnasianismo” 1913: Lasar Segall, pintor lituano, realiza “a primeira exposição de pintura não acadêmica em nosso país” (comentário de Mário de Andrade)
  • 4. Os anos percussores 1915: organização da revista Orpheu, com manifestos e poemas do Modernismo português, por Luis Montalvor e Ronald de Carvalho;
  • 5. Os anos percussores 1917:Mário publica, em protesto à Primeira Guerra, Há uma gota de sangue em cada poema Menotti del Picchia publica Moisés e Juca Mulato; Manuel Bandeira publica A cinza das horas
  • 6. Os anos percussores O músico francês Darius Milhaud, que vive no Rio, entusiasma-se com o maxixe, o samba e os chorinhos de Ernesto Nazaré, encontra-se com o jovem Heitor Villa-Lobos, este já encantado com a moderna música francesa via Stravinski; Segunda exposição de Anita Malfatti, exibindo quadros expressionistas, criticados duramente por Monteiro Lobato, no jornal O estado de São Paulo
  • 7. Há uma gota de sangue em cada poema Assim como há resquício de barro Nas estradas asfaltadas E ruínas pelo impacto das guerras e catástrofes Há em cada poema uma lágrima; Assim como ecoam aplausos e vaias Da grande semana! Onde sobram Pedaços mastigados na antropofagia Mário não desperdiçaria uma ideia Sem que esfacelasse fontes, rituais e oferendas. Há uma gota de suor em cada letra E em cada verso um gozo de dor Por que sempre a dor do poeta? Simples... É exatamente aí que sucumbi As mágoas de exprimir pelo dom; E despedir a força vital paulatinamente... (Mário Sobral/Mário de Andrade)
  • 8. 1 Nuvens voam pelo ar como bandos de garças, Artista boêmio, o sol, mescla na cordilheira pinceladas esparsas de ouro fosco. Num mastro, apruma-se a bandeira de São João, desfraldando o seu alvo losango. Juca Mulato cisma. A sonolência vence-o Vem, na tarde que expira e na voz de um curiango, o narcótico do ar parado, esse veneno que há no ventre da treva e na alma do silêncio. Um sorriso ilumina o seu rosto moreno. No piquete relincha um poldro; um galo álacre tatala a asa triunfal, ergue a crista de lacre, clarina a recolher entre varas de cerdos e mexem-se ruivos bois processionais e lerdos e, num magote escuro, a manada se abisma na treva. Anoiteceu. Juca Mulato cisma. (Menoti del Picchia)
  • 9. Alguns poemas de A cinza das horas DESENCANTO Eu faço versos como quem chora De desalento. . . de desencanto. . . Fecha o meu livro, se por agora Não tens motivo nenhum de pranto. Meu verso é sangue. Volúpia ardente. . . Tristeza esparsa... remorso vão... Dói-me nas veias. Amargo e quente, Cai, gota a gota, do coração. E nestes versos de angústia rouca, Assim dos lábios a vida corre, Deixando um acre sabor na boca. - Eu faço versos como quem morre. Teresópolis, 1912.
  • 10. Alguns poemas de A cinza das horas EPÍGRAFE Sou bem-nascido. Menino, Fui, como os demais, feliz. Depois, veio o mau destino E fez de mim o que quis. Veio o mau gênio da vida, Rompeu em meu coração, Levou tudo de vencida, Rugia e como um furacão, Turbou, partiu, abateu, Queimou sem razão nem dó - Ah, que dor! Magoado e só, - Só! - meu coração ardeu: Ardeu em gritos dementes Na sua paixão sombria... E dessas horas ardentes Ficou esta cinza fria. - Esta pouca cinza fria. 1917.
  • 11. A exposição de Anita Malfatti A estudante Mário Fotografia da pintora A boba O farol
  • 12. Paranóia ou mistificação? A propósito da Exposição Malfatti Monteiro Lobato Há duas espécies de artistas. Uma composta dos que vêm as coisas e em conseqüência fazem arte pura, guardados os eternos ritmos da vida, e adotados, para a concretização das emoções estéticas, os processos clássicos dos grandes mestre. Quem trilha esta senda, se tem gênio é Praxiteles na Grecia, é Rafael na Itália, é Reynolds na Inglaterra, é Dürer na Alemanha, é Zorn na Suécia, é Rodin na França, é Zuloaga na Espanha. Se tem apenas talento, vai engrossar a plêiade de satélites que gravitam em torno desses sóis imorredoiros. A outra espécie é formada dos que vêm anormalmente a natureza e a interpretam à luz das teorias efêmeras, sob a sugestão estrábica de escolas rebeldes, surgidas cá e lá como furúnculos da cultura excessiva. São produtos do cansaço e do sadismo de todos os períodos de decadência; são frutos de fim de estação, bichados ao nascedouro. Estrelas cadentes, brilham um instante, as mais das vezes com a luz do escândalo, e somem-se logo nas trevas do esquecimento. (...)
  • 13. Os “festivais” Foram três os “festivais” da Semana, dias 13, 15 e 17 de fevereiro de 1922. 1º dia: Graça Aranha profere a conferência A emoção estética na arte moderna. 2º dia: defesa do ideário modernista por Menotti del Picchia. 3º dia: amostras de arte de Vitor Brecheret, conferência de Renato de Almeida.
  • 14. 1º dia: Graça Aranha profere a conferência A emoção estética na arte moderna Para muitos de vós a curiosa e sugestiva exposição que gloriosamente inauguramos hoje, é uma aglomeração de "horrores". Aquele Gênio supliciado, aquele homem amarelo, aquele carnaval alucinante, aquela paisagem invertida se não são jogos da fantasia de artistas zombeteiros, são seguramente desvairadas interpretações da natureza e da vida. Não está terminado o vosso espanto. Outros "horrores" vos esperam. Daqui a pouco, juntando-se a esta coleção de disparates, uma poesia liberta, uma música extravagante, mas transcendente, virão revoltar aqueles que reagem movidos pelas forças do Passado. Para estes retardatários a arte ainda é o Belo.
  • 15. Algumas obras de Tarcila do Amaral Abaporu Fotografia da pintora Operários Le manteau rouge
  • 16. Características:  Na poesia: 1. Utilização do verso livre; 2. Blague (poema piada), bom humor, ironia; 3. Livre associação de ideias; 4. Irreverência; 5. Valorização do cotidiano; 6. Incorporação do presente; 7. Humor; 8. Aproximação com a prosa 9. Linguagem coloquial; 10. Nacionalismo.
  • 17. Características: Na prosa: 1. Utilização de períodos curtos; 2. Apoio na fala coloquial; 3. Aproximação com a poesia.
  • 18. A fase heroica (1922-1930)  Poesia Pau-Brasil (1924): Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral;  Movimento antropofágico (1928): inspi- rado no Abaporu: assimilação crítica de todas as influências estrangeiras (desde a colonização até às vanguardas artísticas europeias) e sua “digestão” para recriar a história brasileira.  Verde-Amarelismo (1925-6) e Grupo Anta (1926-9): defesa do nacionalismo e da ingenuidade da pátria- mãe – postura conservadora, próxima ao Integracionalismo (nazi-fascimo).
  • 19. Principais autores modernistas
  • 21. Manifesto da Poesia Pau-Brasil "A poesia existe nos fatos. Os casebres de açafrão e de ocre nos verdes da Favela, sob o azul cabralino, são fatos estéticos. [...] (1) Contra o gabinetismo, a prática culta da vida.[...] (2) A língua sem arcaísmos, sem erudição. Natural e neológica. A contribuição milionária de todos os erros. Como falamos. Como somos. (3) O trabalho contra o detalhe naturalista - pela síntese; contra a morbidez romântica - pelo equilíbrio geômetra e pelo acabamento técnico; contra a cópia, pela invenção e pela surpresa.[...] Nenhuma fórmula para a contemporânea expressão do mundo. Ver com olhos livres.[...](4)
  • 22. As propostas modernistas de Oswald (1) Defesa da liberdade temática e da ampliação dos temas poéticos, destacando as paisagens nacionais pobres e anônimas. (2) Crítica à cultura elitista, que se isola das massas nos gabinetes e nas academias. (3) Defesa da liberdade linguística, por meio da aproximação entre fala – cujos “erros” na verdade são possibilidades expressivas – e escrita. (4) Rejeição ao passadismo literário e à mentalidade de cópia; defesa da conciliação entre a cultura primitiva e a atitude intelectualizada (a síntese, o equilíbrio, a invenção, a surpresa).
  • 23. Vício na fala Para dizerem milho dizem mio Para melhor dizem mió Para pior pió Para telha teia Para telhado teiado E vão fazendo telhados.
  • 24. 3 de maio Aprendi com meu filho de dez anos Que a poesia é a descoberta Das coisas que nunca vi. (Pau-Brasil)
  • 25. 3 de maio Aprendi com meu filho de dez anos Que a poesia é a descoberta Das coisas que nunca vi. (Pau-Brasil) 1. Verso livre
  • 26. 3 de maio Aprendi com meu filho de dez anos Que a poesia é a descoberta Das coisas que nunca vi. (Pau-Brasil) 1. Verso livre 2. Tom de prosa
  • 27. 3 de maio Aprendi com meu filho de dez anos Que a poesia é a descoberta Das coisas que nunca vi. (Pau-Brasil) 1. Verso livre 3. metalinguítico 2. Tom de prosa
  • 28. 3 de maio Aprendi com meu filho de dez anos Que a poesia é a descoberta Das coisas que nunca vi. (Pau-Brasil) 1. Verso livre 3. metalinguítico 2. Tom de prosa 4. ingenuidade, surpresa (universo infantil)
  • 29. Pronominais Dê-me um cigarro Diz a gramática Do professor e o aluno e do mulato sabido Mas o bom negro e o bom branco Da Nação Brasileira Dizem todos os dias Deixa disso meu camarada Me dá um cigarro
  • 30. Pronominais Dê-me um cigarro VALORIZAÇÃO DA LINGUAGEM Diz a gramática COLOQUIAL Do professor e o aluno e do mulato sabido Mas o bom negro e o bom branco Da Nação Brasileira Dizem todos os dias Deixa disso meu camarada Me dá um cigarro
  • 31. O capoeira - Que apanhá soldado? - O quê? - Que apanhá? Pernas e cabeças na calçada.
  • 32. Luta sugerida por um O capoeira diálogo Relâmpago... - Que apanhá soldado? - O quê? - Que apanhá? Pernas e cabeças na calçada.
  • 33. ...que é tipicamente O capoeira popular... - Que apanhá soldado? - O quê? - Que apanhá? Pernas e cabeças na calçada.
  • 34. Uso da metonímia: parte O capoeira pelo todo, sugerindo o movimento de uma luta (capoeira) - Que apanhá soldado? - O quê? - Que apanhá? Pernas e cabeças na calçada.
  • 35. Estilo telegráfico, precursor, segundo Antonio Candido, da O capoeira montagem na poesia (cinema) - Que apanhá soldado? - O quê? - Que apanhá? Pernas e cabeças na calçada.
  • 36. Canção de Regresso à Pátria Minha terra tem palmares Onde gorjeia o mar Os passarinhos daqui Não são como os de lá Minha terra tem mais rosas E quase que mais amores Minha terra tem mais ouro Minha terra tem mais terra Ouro terra amor e rosas Eu quero tudo de lá Não permita Deus que eu morra Sem que eu volte para lá Não permita Deus que eu morra Sem que eu volte para São Paulo Sem que eu veja a Rua 15 E o progresso de São Paulo
  • 37. Canção de Regresso à Pátria Paródia do poema Minha terra tem palmares “Canção do Exílio”, de Onde gorjeia o mar Gonçalves Dias (no Os passarinhos daqui Romantismo, o Não são como os de lá nacionalismo era ufanista e idealizador) Minha terra tem mais rosas E quase que mais amores Minha terra tem mais ouro Minha terra tem mais terra Ouro terra amor e rosas Eu quero tudo de lá Não permita Deus que eu morra Sem que eu volte para lá Não permita Deus que eu morra Sem que eu volte para São Paulo Sem que eu veja a Rua 15 E o progresso de São Paulo
  • 38. Canção de Regresso à Pátria Paródia do poema Minha terra tem palmares Canção do Exílio, de Onde gorjeia o mar Gonçalves Dias (no Os passarinhos daqui Romantismo, o Não são como os de lá nacionalismo era ufanista e idealizador) Minha terra tem mais rosas E quase que mais amores Minha terra tem palmeiras, Minha terra tem mais ouro Onde canta o Sabiá; Minha terra tem mais terra As aves, que aqui gorjeiam, Não gorjeiam como lá. Nosso céu tem mais estrelas, Ouro terra amor e rosas Nossas várzeas têm mais flores, Nossos bosques têm mais vida, Eu quero tudo de lá Nossa vida mais amores. Não permita Deus que eu morra (...) Não permita Deus que eu morra, Sem que eu volte para lá Sem que eu volte para lá; Sem que disfrute os primores Não permita Deus que eu morra Que não encontro por cá; Sem qu'inda aviste as palmeiras, Sem que eu volte para São Paulo Onde canta o Sabiá. Sem que eu veja a Rua 15 De Primeiros cantos (1847) E o progresso de São Paulo
  • 39. Canção de Regresso à Pátria Minha terra tem palmares Onde gorjeia o mar Os passarinhos daqui Nacionalismo crítico: Não são como os de lá Referência à Zumbi Palmares (personagem histórico que Minha terra tem mais rosas denuncia as feridas da pátria) E quase que mais amores Minha terra tem mais ouro escravidão Minha terra tem mais terra Ouro terra amor e rosas Eu quero tudo de lá Não permita Deus que eu morra Sem que eu volte para lá Não permita Deus que eu morra Sem que eu volte para São Paulo Sem que eu veja a Rua 15 E o progresso de São Paulo
  • 40. Canção de Regresso à Pátria Minha terra tem palmares Onde gorjeia o mar Os passarinhos daqui Não são como os de lá Minha terra tem mais rosas E quase que mais amores Minha terra tem mais ouro Minha terra tem mais terra Ouro terra amor e rosas Valorização do Eu quero tudo de lá pregresso em vez da Não permita Deus que eu morra valorização da Sem que eu volte para lá natureza (como era no texto Não permita Deus que eu morra original) Sem que eu volte para São Paulo Sem que eu veja a Rua 15 E o progresso de São Paulo
  • 41. Canção de Regresso à Pátria Minha terra tem palmares Onde gorjeia o mar Os passarinhos daqui Sem pontuação. Não são como os de lá Observe “Ouro terra amor e rosas” Minha terra tem mais rosas E quase que mais amores Minha terra tem mais ouro Minha terra tem mais terra Ouro terra amor e rosas Eu quero tudo de lá Não permita Deus que eu morra Relativização do Sem que eu volte para lá nacionalismo romântico Não permita Deus que eu morra Sem que eu volte para São Paulo Sem que eu veja a Rua 15 E o progresso de São Paulo
  • 42. Outros textos de Oswald: Crônica Era uma vez o mundo
  • 44. Serafim Ponte Grande (1929)  Romance experimental, por colagem, causando estranhamento no leitor;  Fragmentado (sem capítulos tradicionais);  Mistura de vários estilos: prosa...poesia...carta...cartilha escolar...  Satirização de vários estilos literários (Romantismo, Realismo- Naturalismo, Parnasianismo)
  • 45. Enredo de “Serafim Ponte Grande” Um homem aparentemente “comum” que se casa na polícia e se torna funcionário público de uma repartição de saneamento chamada Escarradeira. Rouba, contudo, o dinheiro da Revolução, viaja à Europa e ao Oriente, onde “libera” toda sua energia e depois volta a São Paulo, onde é morto enquanto a polícia o persegue por um raio. A família e os amigos constroem um hospício em homenagem a Serafim e seu melhor amigo, Pinto Calçudo, continua a viagem-erótica indefinidamente, num navio fantasma chamado EL Durasmo ... (O enredo absurdo do romance aproxima a proposta de Oswald ao Dadaísmo)
  • 46. Serafim é um anti-herói da literatura brasileira (ao lado de outras figuras da literatura nacional como Leonardo e Macunaína): É individualista;
  • 47. Serafim é um anti-herói da literatura brasileira (ao lado de outras figuras da literatura nacional como Leonardo e Macunaína): É individualista; Sensual;
  • 48. Serafim é um anti-herói da literatura brasileira (ao lado de outras figuras da literatura nacional como Leonardo e Macunaína): É individualista; Sensual; Malandro.
  • 49. Romance antropofágico: Epicurismo (prazer como bem supremo) Hedonismo (saúde do corpo e Devorador do que corrompe sossego através da a felicidade do homem e luxúria) propõe: Iconoclastia (destruição dos mitos)
  • 50. Tom jocoso (vide trecho de Serafim abaixo) Primeiro contato de Serafim e a malícia: a- e – i – o – u ba – be – bi – bo – bu ca – ce – ci – co - cu
  • 52. Prefácio interessantíssimo (fragmentos) Leitor: Está fundado o Desvairismo. Este prefácio, apesar de interessante, inútil. [...] Aliás muito difícil nesta prosa saber onde termina a blague, onde principia a seriedade. Nem eu sei. E desculpem-me por estar tão atrasado dos movimentos artísticos atuais. [...] Ninguém pode se libertar duma só vez das teorias-avós que bebeu [...] Não sou futurista (de Marinetti). Disse e repito-o. Tenho pontos de contacto com o futurismo. [...] A inspiração é fugaz, violenta. Qualquer impecilho a perturba e mesmo emudece. Arte, que, somada a Lirismo, dá Poesia, não consiste em prejudicar a doida carreira do estado lírico para avisa-lo das pedras e cercas de arame do caminho. Deixe que tropece, caia e se fira. Arte é mondar mais tarde o poema de repetições fastientas, de sentimentalidades românticas, de pormenores inúteis ou inexpressivos. [...] Belo da arte: arbitrário, convencional, transitório - questão de moda. Belo da natureza: imutável, objetivo, natural - tem a eternidade que a natureza tiver. [...]
  • 53. As propostas modernistas de Mário (1) Tom irônico do texto, aproximando-o do Dadaísmo. (2) Incorporação crítica das Vanguardas, uma vez que nelas o lirismo constitui apenas uma das faces da criação artística, antecipando o conceito de escrita automática do surrealista André Breton (1924). (3) Criação, a partir de termos emprestados da música, da polifonia poética: um poema deve combinar melodias (estruturas gramaticais lineares) e harmonia (estruturas associativas que dão impressão de simultaneidade) tornando- o polifônico. (4) Proposta de criação de uma linguagem brasileira, por meio da incorporação de elementos da oralidade da fala popular ao texto literário. (5) Ênfase no tom niilista da vanguarda dadaísta (“desvairismo”), por meio da negação da criação de escolas poéticas, discípulos etc.
  • 54. Pauliceia desvairada (1922) Minha Londres das neblinas finas! Pleno verão. Os dez mil milhões de rosas paulistanas. Há neves de perfume no ar Faz frio, muito frio... E a ironia das pernas das costureirinhas Parecidas com bailarinas... O vento é como uma navalha Nas mãos de um espanhol. Arlequinal! Há duas horas queimou o Sol. Daqui a duas horas queima o Sol
  • 55. “Eu sou um escritor difícil Que a muita gente enquizila, Porém essa culpa é fácil De se acabar duma vez: É só tirar a cortina Que entra luz nesta escurez.”
  • 56. "Brasil amado não porque seja a minha pátria, Pátria é acaso de migrações e do pão-nosso onde Deus der... brasil que eu amo porque é o ritmo do meu braço aventuroso o gosto dos meus descansos, o balanço das minhas cantigas, amores e danças. brasil que eu sou porque é a minha expressão muito engraçada, porque é o meu sentimento muito pachorrento, porque é o meu jeito de ganhar dinheiro, de comer e de dormir." (trecho de "O poeta come amendoim“, de Clã do Jaboti, 1927)
  • 57. Ortografia criativa "Brasil amado não porque seja a minha pátria, Pátria é acaso de migrações e do pão-nosso onde Deus der... brasil que eu amo porque é o ritmo do meu braço aventuroso o gosto dos meus descansos, o balanço das minhas cantigas, amores e dansas. brasil que eu sou porque é a minha expressão muito engraçada, porque é o meu sentimento muito pachorrento, porque é o meu jeito de ganhar dinheiro, de comer e de dormir."
  • 58. "Brasil amado não porque seja a minha pátria, Pátria é acaso de migrações e do pão-nosso onde Deus der... brasil que eu amo porque é o ritmo do meu braço aventuroso o gosto dos meus descansos, o balanço das minhas cantigas, amores e dansas. brasil que eu sou porque é a minha expressão muito engraçada, porque é o meu sentimento muito pachorrento, porque é o meu jeito de ganhar dinheiro, de comer e de dormir.“ nacionalismo crítico
  • 59. Eu sou trezentos... (...) Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cincoenta, Mas um dia afinal eu toparei comigo... Tenhamos paciência, andorinhas curtas, Só o esquecimento é que condensa, E então minha alma servirá de abrigo. Remate dos males, 1930
  • 60. Macunaíma (1928) Publicado numa tiragem de apenas oitocentos exemplares (Mário de Andrade não conseguira editor), Macunaíma, o herói sem nenhum caráter, é uma das obras pilares da cultura brasileira. Numa narrativa fantástica e picaresca, ou, melhor dizendo, “malandra”, herdeira direta das Memórias de um Sargento de Milícias (1852) de Manuel Antônio de Almeida, Mário de Andrade reelabora literariamente temas de mitologia indígena e visões folclóricas da Amazônia e do resto do país, fundando uma nova linguagem literária.
  • 61. Macunaíma (1928) Nas lendas de heróis taulipang e arecuná, apresentadas por Koch- Grünberg, Mário de Andrade encontrou o herói Macunaíma, que, segundo o estudioso alemão,“ainda era menino, porém mais safado que todos os outros irmãos.”
  • 62. Macunaíma (1928) A Carta pras Icamiabas Com seu estilo pomposo, Macunaíma enuncia, na Carta pras Icamiabas, o slogan que irá adotar para definir os problemas do Brasil: “Tudo vai num descalabro sem comedimento, estamos corroídos pelo morbo e pelos miriápodes! Em breve seremos novamente uma colônia da Inglaterra ou da América do Norte!... Por isso e para eterna lembrança destes paulistas, que são a única gente útil do país, e por isso chamados de Locomotivas, nos demos ao trabalho de metrificarmos um dístico, em que se encerram os segredos de tanta desgraça: "POUCA SAÚDE E MUITA SAÚVA, OS MALES DO BRASIL SÃO."
  • 63. Macunaíma (1928) Enredo: Macunaíma sai do mato e chega a São Paulo em busca do seu precioso amuleto – o Muiraqutã – presente de Ci, a mão do mato, e presente que fora roubado por Vanceslau Pietro Pietra, o gigante Paimã, caçador de gente.
  • 65. Características gerais da obra: O exílio causado pela doença obrigou o poeta a viver profundamente sua sensibilidade, levando-o a gostar das antíteses, manifestando em seus poemas uma serenidade melancólica e uma revolta imponente...
  • 66. O lirismo impregnado das descobertas do cotidiano “...a poesia está em tudo – tanto nos amores como nas chinelas, tanto nas coisas lógicas como nas disparatatas”
  • 67. Poética Estou farto do lirismo comedido Do lirismo bem comportado Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente protocolo e manifestações de apreço ao Sr. diretor. Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário o cunho vernáculo de um vocábulo. (...)
  • 68. Os Sapos Enfunando os papos, Saem da penumbra, Aos pulos, os sapos. A luz os deslumbra. Em ronco que aterra, Berra o sapo-boi: - "Meu pai foi à guerra!" - "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!". O sapo-tanoeiro, Parnasiano aguado, Diz: - "Meu cancioneiro É bem martelado. Vede como primo Em comer os hiatos! Que arte! E nunca rimo Os termos cognatos. (...)
  • 69. Estrela da Manhã (1936) (...) Digam que sou um homem sem orgulho Um homem que aceita tudo Que me importa? Eu quero a estrela da manhã (...) Pecai com malandros Pecai com sargentos Pecai com fuzileiros navais Pecai de todas as maneiras Com os gregos e com os troianos Com o padre e o sacristão Com o leproso de Pouso Alto Depois comigo Te esperarei com mafuás novenas cavalhadas [comerei terra e direi coisas de uma ternura tão simples Que tu desfalecerás Procurem por toda à parte Pura ou degradada até a última baixeza Eu quero a estrela da manhã.
  • 70. Estrela da Manhã (1936) (...) Digam que sou um homem sem orgulho Um homem que aceita tudo Que me importa? humildade Eu quero a estrela da manhã (...) Pecai com malandros Pecai com sargentos Pecai com fuzileiros navais Pecai de todas as maneiras Com os gregos e com os troianos Com o padre e o sacristão Com o leproso de Pouso Alto Depois comigo Te esperarei com mafuás novenas cavalhadas [comerei terra e direi coisas de uma ternura tão simples Que tu desfalecerás Procurem por toda à parte Pura ou degradada até a última baixeza Eu quero a estrela da manhã.
  • 71. Estrela da Manhã (1936) (...) Digam que sou um homem sem orgulho Um homem que aceita tudo Que me importa? Eu quero a estrela da manhã (...) Pecai com malandros Pecai com sargentos Pecai com fuzileiros navais Pecai de todas as maneiras Linguagem barroca: Com os gregos e com os troianos Erotismo=estrela: Com o padre e o sacristão mulher, sedução, p Com o leproso de Pouso Alto ecadora e pura Depois comigo Te esperarei com mafuás novenas cavalhadas [comerei terra e direi coisas de uma ternura tão simples Que tu desfalecerás Procurem por toda à parte Pura ou degradada até a última baixeza Eu quero a estrela da manhã.
  • 72. Estrela da Manhã (1936) (...) Digam que sou um homem sem orgulho Um homem que aceita tudo Que me importa? Eu quero a estrela da manhã (...) Pecai com malandros Pecai com sargentos Pecai com fuzileiros navais Pecai de todas as maneiras Com os gregos e com os troianos Ultrapassa o Com o padre e o sacristão maniqueísmo Com o leproso de Pouso Alto com que os Depois comigo românticos viam a mulher Te esperarei com mafuás novenas cavalhadas [comerei terra e direi coisas de uma ternura tão simples Que tu desfalecerás Procurem por toda à parte Pura ou degradada até a última baixeza Eu quero a estrela da manhã.
  • 73. Pneumotórax Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos. A vida inteira que podia ter sido e que não foi. Tosse, tosse, tosse. Mandou chamar o médico: - Diga trinta e três. - Trinta e três... trinta e três... trinta e três... - Respire. - O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado. - Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax? - Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.
  • 74. Pneumotórax Poema tematiza a doença que assombrou a Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos. vida de A vida inteira que podia ter sido e que não foi. Bandeira, causando a Tosse, tosse, tosse. expectativa de morte Mandou chamar o médico: - Diga trinta e três. - Trinta e três... trinta e três... trinta e três... - Respire. - O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado. - Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax? - Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.
  • 75. Pneumotórax Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos. A vida inteira que podia ter sido e que não foi. Tosse, tosse, tosse. Os versos intercalam Mandou chamar o médico: causa e consequência e - Diga trinta e três. o preço pago. - Trinta e três... trinta e três... trinta e três... - Respire. - O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado. - Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax? - Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.
  • 76. Pneumotórax Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos. O episódio da visita do A vida inteira que podia ter sido e que não foi. médico , retratada pelo Tosse, tosse, tosse. eu-lírico, culmina com o sarcasmo, ironia trágica desesperada – ao invés Mandou chamar o médico: de uma coisa, a - Diga trinta e três. aceitação, o assumir poeticamente uma cura - Trinta e três... trinta e três... trinta e três... (até então) impossível - Respire. - O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado. - Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax? - Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.
  • 77. Vou-me embora pra Pasárgada Vou-me embora pra Pasárgada Lá sou amigo do rei Lá tenho a mulher que eu quero Na cama que escolherei Vou-me embora pra Pasárgada Vou-me embora pra Pasárgada Aqui eu não sou feliz Lá a existência é uma aventura De tal modo inconsequente Que Joana a Louca de Espanha Rainha e falsa demente Vem a ser contraparente Da nora que nunca tive (...)
  • 78. Vou-me embora pra Pasárgada Vou-me embora pra Pasárgada Lá sou amigo do rei Lá tenho a mulher que eu quero Na cama que escolherei Pasárgada = “campo dos persas”, no Vou-me embora pra Pasárgada poema, espécie de Vou-me embora pra Pasárgada arquétipo, transposição poética Aqui eu não sou feliz de um sonho Lá a existência é uma aventura coletivo. De tal modo inconsequente Que Joana a Louca de Espanha Rainha e falsa demente Vem a ser contraparente Da nora que nunca tive (...)
  • 79. Irene no Céu Irene preta Irene boa Irene sempre de bom humor. Imagino Irene entrando no céu: - Licença, meu branco! E São Pedro bonachão: - Entra, Irene. Você não precisa pedir licença.
  • 80. Poema do Beco Que importa a paisagem, a Glória, a baía, a linha do horizonte? - O que eu vejo é o beco.
  • 81. Poema do Beco Que importa a paisagem, a Glória, a baía, a linha do horizonte? - O que eu vejo é o beco. 1. micro-poema
  • 82. Poema do Beco Que importa a paisagem, a Glória, a baía, a linha do horizonte? - O que eu vejo é o beco. 1. micro-poema 2. texto condensado
  • 83. Poema do Beco Que importa a paisagem, a Glória, a baía, a linha do horizonte? - O que eu vejo é o beco. 1. micro-poema 2. texto condensado 3. verso livre
  • 84. Poema do Beco Que importa a paisagem, a Glória, a baía, a linha do horizonte? - O que eu vejo é o beco. 1. micro-poema 2. texto condensado 3. verso livre 4. linguagem coloquial 5. realidade / “tédio”, “desesperança”
  • 85. Teresa A primeira vez que vi Teresa Achei que ela tinha pernas estúpidas Achei também que a cara parecia uma perna Quando vi Teresa de novo Achei que os olhos eram muito mais velhos que o resto do corpo (Os olhos nasceram e ficaram dez anos esperando que o resto do corpo nascesse) Da terceira vez não vi mais nada Os céus se misturaram com a terra E o espírito de Deus voltou a se mover sobre a face das águas.
  • 86. Poema Tirado de uma Notícia de Jornal João Gostoso era carregador de feira livre e [morava no morro da Babilônia num barracão [sem número Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro Bebeu Cantou Dançou Depois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas e [morreu afogado.
  • 87. Poema Tirado de uma Notícia de Jornal João Gostoso era carregador de feira livre e [morava no morro da Babilônia num barracão [sem número Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro Bebeu Cantou Dançou Depois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas e [morreu afogado.
  • 88. “coisas mais simples e menos intencionais”
  • 89. referências bibliográficas AMARAL, Emília; ANTÔNIO, Severino; PATROCÍNIO, Mauro Ferreira do. Português: redação, gramática, literatura, interpr etação de texto. São Paulo: Nova Cultural, 1999