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FACULDADE DA ALDEIA DE CARAPICUÍBA
CURSO DE LETRAS
LICENCIATURA EM LÍNGUA PORTUGUESA
E LÍNGUA INGLESA
BRUNO MOREIRA RAMOS
A DIVERSIDADE CULTURAL PRESENTE NA LITERATURA
FANTÁSTICA DE J.R.R. TOLKIEN.
CARAPICUÍBA
2017
BRUNO MOREIRA RAMOS
A DIVERSIDADE CULTURAL PRESENTE NA LITERATURA
FANTÁSTICA DE J.R.R. TOLKIEN.
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à
Faculdade da Aldeia de Carapicuíba para obtenção
do título de Licenciatura em Letras – Língua
Portuguesa e Língua Inglesa, sob orientação do
Prof. Me. Renato José de Souza.
CARAPICUÍBA
2017
FICHA CATALOGRÁFICA
RAMOS, Bruno Moreira.
A diversidade cultural presente na literatura fantástica de J. R.
R. Tolkien / Bruno Moreira Ramos. –
Carapicuíba: 2017.
60f.; 30 cm.
Orientação: Renato José de Souza.
Trabalho de conclusão de curso (Licenciatura) – Faculdade da Aldeia de
Carapicuíba.
Inclui bibliografia e índice.
1.Literatura inglesa 2.Literatura fantástica 3.Diversidade cultural 4.J.R.R.
Tolkien I.Título.
CDD 820
BRUNO MOREIRA RAMOS
A DIVERSIDADE CULTURAL PRESENTE NA LITERATURA
FANTÁSTICA DE J.R.R. TOLKIEN.
TCC aprovado como requisito parcial para obtenção
do título de Licenciatura em Letras pela seguinte
banca examinadora:
Prof. Me. Renato José de Souza
Faculdade da Aldeia de Carapicuíba ____________________________
Prof.
Faculdade da Aldeia de Carapicuíba ____________________________
Prof.
Faculdade da Aldeia de Carapicuíba ____________________________
CARAPICUÍBA
2017
À minha mãe,
Aldrei Elisa Moreira,
por sempre me incentivar a ler
e me apresentar mundos inesquecíveis.
AGRADECIMENTOS
Início estes agradecimentos dizendo que a experiência de cursar
licenciatura em Letras muito acrescentou em minha vida, tornando-me tanto um ser
humano, quanto um profissional evoluído. Realizando assim estas alegações, devo
agradecer primeiramente a minha mãe Aldrei Elisa Moreira, que formada na mesma
instituição me encaminhou e encorajou a enfrentar um curso, que em primeira vista,
não seria a minha escolha, mas que tornou-se parte de mim, enraizando-se em
minha cerne.
Agradeço também a minha irmã, Brenda Moreira Ramos, e a minha avó,
Diná de Jesus Fernandes, por aguentarem todos os meus chiliques pós aula, e o
nervosismo em época de semestrais.
Não posso fechar esta fase e esquecer do meu irmão de consideração
maior, Felipe S. Lima, que em toda as vezes que precisei de ajuda para desenhar
cartazes e cartoons para os seminários estava lá, sentados por horas, rabiscando e
colorindo ao meu lado. E também de todas as risadas e os momentos de
descompressão pós barracos de sala de aula.
Ao entrar na faculdade, conheci pessoas novas, realizei conexões
importantes para a minha evolução acadêmica, também presenciei e participei de
conflitos, pois sabemos que o mundo não é um paraíso onde todos dançam envolta
de fogueiras felizes a cantar, mas também obtive amizades de grande peso, que
levarei comigo a partir deste ponto, e a estes também devo um largo muito obrigado,
por todas as parcerias e seminários muito bem desenvolvidos que muito me
orgulham. Obrigado ao paredão classe A, Cecília Ávila, Karen Santos Maganha e
Fábio Maganha. Amo-os.
Enfim, devo apontar os principais motivadores de minha evolução neste
período de três anos, meus mestres, que admiro, me espelho e respeito
imensamente: Prof. Cláudio Antônio Guerrero e a suas fórmulas mágicas da Língua
Inglesa; Prof. Daniel Ferreira do Nascimento e os ensinamentos de como escrever
formalmente; Prof. Alessandro Lopes Costa e a psicologia da educação; Profa. Kátia
Cândido, com seu lindo sorriso e os contos de fadas sempre interacionais; O
compreensivo e sempre reforçador Prof. Valdevino, com assuntos muito
interessantes e agregadores; A beleza da ilha dos amores de Camões, através das
aulas da Profa. Isabelle Regina de Amorim; O sotaque britânico, o jeito canastrão e a
qualidade no ensino de língua inglesa demonstrado pelo Prof. Michel França; A
quebra do meu preconceito bobo com a literatura portuguesa e as inserções teatrais
dentro da faculdade são méritos da Profa. Rogéria Freire. Inicialmente com poucas
palavras, mas, falando muito, o Prof. Ednilson Santos me mostrou outra visão do
mundo, a qual sou grato e respeito muito, libras, estudarei mais sobre; Prof. William
Ruotti, um mestre a qual eu temi durante um bom tempo, que nos acompanhou do
primeiro dia ao último e que me fez sorrir, chorar e surtar, mas que no fim, me fez
querer ser igual a ele quando crescer. Profa. Ângela Maria Gasparetti, a professora
que tenho orgulho – e permissão – de chamar de Vó, mesmo não tendo parentesco.
Um sonho seria para mim, ser neto de uma senhora tão inteligente, e amante da
literatura, que te fala sobre os autores como se estes, jogassem conversa fora ao
seu lado acompanhados de uma xícara de café. Obrigado por me adotar, amo-te. E
por fim e não menos importante, Prof. Renato José de Souza, os diálogos
constantes em inglês, as aulas sobre literatura, o grande Gatsby, os conselhos
profissionais, a confiança em me selecionar para lecionar aulas de nivelamento para
as outras turmas, e principalmente, a paciência que manteve ao se tornar o meu
orientador desta pesquisa, e durante todo o processo.
Assim, finalizo este longo discurso de agradecimento, reforçando que
todos contribuíram, de formas diferentes para a minha formação acadêmica, e serei
eternamente grato por todas as experiências, aprendizados, broncas e avaliações
que foram feitas.
Vocês fizeram de mim um profissional do ensino, sendo assim, eu
assumo a partir de hoje a missão de transmitir mundo à fora, os ensinamentos que
me foram doados, de forma íntegra e sincera.
Gratidão.
Sam:
Isso não é justo.
Na verdade, nem devíamos estar aqui.
Mas estamos.
É como nas grandes histórias, Sr. Frodo.
As que tinham mesmo importância…
eram repletas de escuridão e perigo.
E, as vezes, você não queria saber o fim…
porque como podiam ter um final feliz?
Como podia o mundo voltar a ser o que era…
depois de tanto mal?
Mas, no fim, é só uma coisa passageira…
essa sombra.
Até a escuridão tem de passar.
Um novo dia virá.
E, quando o sol brilhar, brilhará ainda mais forte.
Eram essas as histórias que ficavam na lembrança…
Que significavam algo.
Mesmo que você fosse pequeno demais para entender por quê.
Mas acho, Sr. Frodo, que eu entendo, sim.
Agora eu sei.
As pessoas dessas histórias…
tinham várias oportunidades de voltar atrás, mas não voltavam
Elas seguiam em frente…
porque tinham no que se agarrar.
Frodo:
E em que nós nos agarramos, Sam?
Sam:
No bem que existe neste mundo, Sr. Frodo…
pelo qual vale a pena lutar.
(TOLKIEN.J.R.R, O Senhor dos Anéis, As Duas Torres, 1991)
RESUMO
Este trabalho tem por objetivo relatar a presença da diversidade cultural
dentro das obras do literário britânico J.R.R Tolkien, através de estudos e análises
da vida do autor, suas influências artísticas, além de demonstrar o conceito de
literatura, a estrutura da literatura fantástica e suas vertentes. Este trabalho foi
realizado através de pesquisas e fundamentação teórica com base em Lajolo,
Todorov, Lovecraft, White e Tolkien.
Palavras-chave: Literatura Inglesa. Literatura Fantástica. Diversidade Cultural.
J.R.R. Tolkien.
ABSTRACT
This paper aims to report the cultural diversity within the works of the
British literary J.R.R. Tolkien, through studies and analyzes of the author's life, his
artistic influences, and demonstrate the concept of literature, a structure of fantastic
literature and its aspects. This work was carried out through research and theoretical
foundation based on Lajolo, Todorov, Lovecraft, White and Tolkien.
Keywords: English Literature. Fantastic Literature. Cultural Diversity. J.R.R. Tolkien.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 – A trindade fantástica…………………….…..………………………………...23
Figura 2 – John Ronald Ruel Tolkien...……….……….…………………………………26
Figura 3 – O Criador da Terra-média…….…….…………………………………………26
Figura 4 – O Mapa da Terra-média….……………………………………………………34
Figura 5 – Galadriel…………………..………….…………………………………………37
Figura 6 – Elrond…….…………....….………….…………………………………………37
Figura 7 – Thranduil……………....….………….…………………………………………37
Figura 8 – Aragorn..……………....….………….…………………………………………38
Figura 9 – Éowyn………………....….………….…………………………………………38
Figura 10 – Anões...……………....….………….………………………………………...40
Figura 11 – Gandalf.…...………....….………….………………………………………...41
Figura 12 – Radagast...…………....…...……….………………………………………...41
Figura 13 – Saruman……………..….………….…………………………………………41
Figura 14 – Barbárvore………......….………….…………………………………………46
Figura 15 – Nazgûl……………......….………….………………………………………...50
Figura 16 – Os Dragões da Terra-média..…….…………………………………………51
Figura 17 – Sauron – Vala…………………..….…………………………………………52
Figura 18 – A Ascensão……….....….………….…………….….…..……………………52
Figura 19 – O Olho de Fogo…......….………….…………………………………………52
Figura 20 – Gollum..……………......….………….………………………………….……55
Figura 21 – Sméagol...….……......….………….…………………………………………55
Figura 22 – O Um Anel…...………………………………………………………………..56
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO………….………………………………………………………..…………13
1. CONCEITO DE LITERATURA..….………….……………...…………………………16
1.1 Definição do fantástico………………….……………….…………………………….20
1.2 A trindade fantástica……………………………………………………………………22
2. TOLKIEN………………………………….. …………………………………………….24
3. DIVERSIDADE CULTURAL.…………..………………………………………..….….27
3.1 Uma breve visão das 3 eras da Terra-média.…..…………………………………..29
3.2 Os habitantes de Arda…………………………………………………………………35
3.2.1 Ainur…..…………………………….…………………………………………..35
3.2.2 Elfos.…..…………………………….….…………………………….……..….36
3.2.3 Homens…...…………………….…….………………………………………..37
3.2.4 Anões……..……………………….….……………………………………...…39
3.2.5 Istari…………………………………………..…………………………………40
3.2.6 Hobbits…….…………………………...……………………………………….41
3.2.7 Orcs e Eruk Hai…………………………..……………………………………43
3.2.8 Balrogs………………………………………...………………………………..45
3.2.9 Ents………..…………………..………………………………………………..45
3.2.10 Trolls……...……………………………………………………………..…….46
3.2.11 Águias……………………..…………………………………………………..47
3.2.12 Nazgûl………………………………...……………………………………….48
3.2.13 Dragões………………………………..……………………………………...50
3.2.14 Sauron…………………………………..…………………………………….52
3.2.15 Sméagol / Gollum.….…………….……….…………..………………………53
CONSIDERAÇÕES FINAIS……………………………………………………………….57
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS………………………..……………………………59
13
INTRODUÇÃO
Diversidade cultural é o conceito responsável por organizar, e caracterizar
os diferentes aspectos que representam a cultura da população de um determinado
território, através da catalogação de tradições, costumes, forma de organização
politica e familiar, comidas típicas, música e linguagens utilizadas por estes.
Levando esta ferramenta em consideração, este trabalho, utiliza-se das
obras do autor britânico J.R.R. Tolkien para demonstrar como a mesma fora utilizada
pelo autor na construção de seu universo literário, rico em diversidade.
Desta forma, a Terra-média criada por Tolkien, tornou-se um grande berço
de civilizações, cada uma contendo costumes e formas de interação próprios,
movidos por diferentes propósitos, compostos por diferentes espécies, castas e
alianças, possuindo em sua trama experiências extraídas do mundo real, vividas
pelo autor, de referências literárias primitivas, ou por aqueles que o cercaram no
período de sua infância, até a fase adulta.
Diante dos dados citados acima, pode-se chegar a compreensão de que
toda a sociedade é composta por diferentes grupos. Mesmo dentro de uma
metrópole, como o estado de São Paulo, existem diversas comunidades que
interagem de formas peculiares. O que não é diferente dentro da literatura fantástica,
de Tolkien, que possuí grande extensão territorial. Portanto, buscou-se reunir dados
e informações com o propósito de responder a seguinte questão: De que forma é
composta a diversidade cultural presente na Terra-média criada por J.R.R. Tolkien?
Esta pesquisa tem como objetivo analisar, por meio da leitura e
fichamentos das três principais obras de Tolkien, os habitantes da Terra-média que
compõem os grupos, e subgrupos interacionais, formando assim diferentes
comunidades responsáveis por gerar formas de cultura diversificadas.
Para alcançar este objetivo fora necessário antes realizar algumas
digressões que ajudassem o leitor a compreender como estrutura-se o universo
literário fantástico, para isso, questionou-se o que é literatura, as definições da
14
literatura fantástica e sua trindade – Terror, Fantasia e Ficção Cientifica – o percurso
de vida do autor até o momento de sua criação literária, além das funções da
diversidade dentro de uma sociedade.
O Universo Tolkiniano é responsável por influenciar outros autores, como,
C.S. Lewis, autor de “As Crônicas de Nárnia” e George R.R. Martin, escritor das
”Crônicas de Gelo e Fogo”. Literaturas fantásticas voltada a fantasia que também
possuem uma grande gama de personagens e culturas. Nesse contexto, a proposta
deste trabalho científico visa descrever os padrões estabelecidos por Tolkien ao
desenvolver os personagens de sua literatura e a forma com que ele os dispôs na
Terra-média, reagindo assim as vontades do escritor, porém ganhando liberdade
para além de seu criador por portarem características socioculturais específicas.
Para a realização deste presente trabalho foram realizadas pesquisas
bibliográficas, além de assuntos que melhor colaborariam para a compreensão de
certos conceitos, como, a literatura e a diversidade cultural. Publicações importantes
foram utilizadas – além do próprio J.R.R Tolkien, alvo da pesquisa – como por
exemplo Tvetan Todorov, C.S Lewis, Michael White, Marisa Lajolo, Karin Volobeuf,
Edgard Allan Poe e H.P Lovecraft.
Este trabalho estrutura-se em três capítulos. São apresentados no
primeiro as definições de Literatura, segundo Lajolo (1982), em seguida neste
mesmo capítulo, expõe-se a concepção de Literatura Fantástica de acordo com
Todorov em “Introdução à Literatura Fantástica” (2008) e as sub-vertentes deste
gênero, nomeados de Trindade Fantástica. No segundo capítulo é realizada a
descrição da linha do tempo que seguiu Tolkien a partir de seu nascimento,
pontuando as suas perdas familiares, os desencontros e as vivências que
colaboraram para a construção de seu caráter, e as experiências que o
influenciaram direta ou indiretamente na escrita de suas obras, dados estes
relatados na biografia autorizada escrita por White com o título “J.R.R. Tolkien o
Senhor da Fantasia”(2013). No capítulo seguinte são explicados os significados da
diversidade cultural dentro de sua amplitude mundial, utilizando como
fundamentação documentos da UNESCO e dados qualitativos / quantitativos. É
apresentado também neste capítulo a descrição dos principais fatos envolvendo as
15
Três Eras da Terra-média, tendo início em sua criação através de Eru, o solitário,
tendo seu fim no momento em que vemos a transmutação de um personagem
específico que encerra a relevância desta narrativa. Logo após, é realizada a
catalogação das criaturas conscientes que habitam o Universo Tolkiniano, levando
em consideração, as suas espécies, culturas, hábitos alimentares, línguas faladas, e
ações que melhor caracterizam as suas personalidades sociais. Dados estes
retirados de três obras do autor alvo desta pesquisa, sendo estes “O Sillmarillion”, “O
Hobbit” e “O Senhor dos Anéis”.
16
1. CONCEITO DE LITERATURA.
O que podemos compreender por arte literária e suas funções dentro da
sociedade? A literatura é uma ferramenta que permeia o homem ha séculos, desde o
início de sua existência, sendo utilizada com o intuito de armazenar e disseminar
dados históricos e culturais, passados de uma geração para a outra, em diversos
formatos. A citação "arte literária é mimese (imitação); é a arte que imita pela
palavra" do filósofo da Grécia clássica Aristóteles, explicita bem esta intenção de
uso, pois a partir da vida real e situações que estruturam o cotidiano pode-se criar
obras literárias.
É possível, entre os mais jovens, que haja certo estranhamento e
dificuldade para explicar o que é literatura quando questionados, porém é importante
destacar que estamos cercados por ela. Logo nas primeiras páginas da obra de
Lajolo (1982), uma das referências a serem usadas para fundamentar este capítulo,
encontramos a seguinte citação que diz:
…a literatura existe. Ela é lida, vendida, estudada. Ela ocupa prateleiras de
bibliotecas, colunas de estatísticas, horários de aulas. Fala-se dela nos
jornais e na TV. Ela tem suas instituições, seus ritos, seus heróis, seus
conflitos, suas existências. Ela é vivida cotidianamente pelo homem
civilizado e contemporânea como uma experiência específica que não se
assemelha a nenhuma outra. (R. Escarpit, Le Littéraire et le social)
(LAJOLO, 1982, p. 05)
Pode-se entender então que a humanidade é cercada por literatura, mas
quais são as suas definições, funções e principalmente qual a validade de se
escrever obras literárias em dias atuais? O sociólogo norte-americano Marshal
McLuhan afirmou a um grupo de escritores em um congresso do Pen Club que eles
eram os últimos de sua espécie pois “já não serve para nada escrever e publicar
livros” (Lajolo, 1982, p. 07), opinião contrária a do Professor Vitor Manuel de Aguiar e
Silva, “A literatura não é um jogo, um passatempo (…), mas uma atividade artística
que, sob multiformes modulações, tem exprimido e continua a exprimir, a alegria e a
17
angústias, as certezas e os enigmas do homem” (Lajolo, 1982, p. 07). Aguiar
defende as propriedades e a importância da escrita destas obras, levando em
consideração, a expressão de sentimentos e dúvidas ligadas ao homem, citando
autores como Ésquilo, Ovidio, Shakespeare e Sholokhov, pontuando que a literatura
é mutável e continua, havendo variações de tempo e modo. Opiniões divergentes
que foram construídas por posições cultas inseridas por tradições culturais,
temporais e socioeconômicas.
A definição do que se enquadra ou não dentro da nomenclatura dada
como literatura pode ser muito ampla, e a partir do seguinte questionamento
realizado por Lajolo (1982) em sua obra que diz: “Será que é errado dizer que
literatura é tudo aquilo que cada um considera literatura?” Pode-se chegar a reflexão
de que existem determinados gêneros que se caracterizam, e se encaixam neste
formato, como os contos, os best-sellers que são produzidos para um publico
direcionado quase de forma industrial, as obras menos conhecidas, uma série de
poesias escritas e guardadas na gaveta, e também as publicações que possuem
diretamente objetivos de retorno financeiro, como feito pelo escritor James Frey com
a obra Infanto juvenil “Endgame – O Chamado”.
O autor, em entrevista à agência EFFE, afirmou que não se envergonha de
produzir uma obra com claro apelo comercial. James Frey disse ainda que
escreveu o livro mais divertido que poderia para um leitor cada vez mais
entediado com o que lhe é ofertado pelo mercado.
(Site Correio Braziliense “Escritor oferece US$ 500 mil para quem
solucionar mistério de Endgame” 14/10/2014)
Esta dúvida sobre o que se enquadra na literatura não é somente dos
indivíduos fora dos meios acadêmicos ou literários, pois escritores de prestígio da
literatura brasileira como Mário de Andrade e Rubem Braga, que apesar de não
ocuparem a academia, também colaboraram com indagações para chegarem a uma
conclusão, sendo assim, pode-se afirmar que literatura é tudo o que foi citado e
também pode não ser, vai depender variavelmente do ponto de vista do sentido da
palavra, além da situação a qual esta inserida a discussão sobre o assunto.
Porém, realizando uma colocação mais técnica sobre o assunto pode-se
18
dizer que a literatura funciona como um objeto social, e que para ela existir
inicialmente necessita-se de dois pontos: primeiro, precisa ser escrita por um
indivíduo, e em seguida lida por uma outra pessoa realizando um intercambio social
– porém sabe-se que entre estes dois lados existe um corredor comercial muito
grande envolvendo grandes corporações de edição, formatos gráficos e estéticos,
além das livrarias e seus valores, o que acaba por afastar de certa forma aquele que
deveria ser o maior beneficiado por estes conteúdos –. E para que esta obra seja,
por fim, autenticada como Literatura – com L maiúsculo – é necessário que ela
passe por avaliações que cumpram referendar a literariedade da mesma, atividade
esta realizada por indivíduos especializados, como os cavalheiros que compõem a
academia brasileira de letras, a crítica, a universidade e os intelectuais.
É interessante citar também que uma literatura para ser considerada
clássica não necessita ser contemporânea e nem da época dos escritores da Grécia
e Roma antiga, ou da Portugal de Camões, e sim que sejam reconhecidas pelos
grupos citados anteriormente como bem produzidas.
A literatura é um objeto tão mutável que é imprescindível a hipótese de
renovação, o que pode-se constatar no trecho a seguir da obra de Lajolo.
O que é literatura é uma pergunta que tem várias respostas. E não se trata
de respostas que paulatinamente, vão se aproximando cada vez mais de
uma grande verdade, da verdade verdadeira. Não é nada disso. Não existe
uma resposta correta, por que cada tempo, cada grupo social tem sua
resposta, sua definição para literatura. Respostas e definições – vê-se logo
– para uso interno.
(LAJOLO. 1982, p. 24/25)
Culler (1999) também exprime características que colaboram para a
construção da definição de literatura e a sua utilidade na sociedade.
A literatura, poderíamos concluir, é um ato de fala ou evento textual que
suscita certos tipos de atenção. Contrasta com outros tipos de atos de fala,
tais como dar informação, fazer perguntas ou fazer promessas. Na maior
parte do tempo, o que leva os leitores a tratar algo como literatura é que
eles a encontram num contexto que a identifica como literatura: num livro de
poemas ou numa seção de uma revista, biblioteca ou livraria.
(CULLER. 1999, p. 34)
Estando ciente então da forma em que a literatura classifica-se, pode-se
19
agora entrar em outra parte de sua composição. A literatura é ficcional e construída
pelo homem para imitar a vida, como foi dito inicialmente pela citação de Aristóteles.
Inserida no domínio das artes, a literatura se expressa através das palavras,
podendo utilizar como ganchos iniciais eventos dos cotidianos, situações que de
certa forma incomodam e até mesmo história dos povos que constituem uma certa
comunidade, e a partir disso através dos olhos de um escritor se tornar viva, mas
não uma obra descritiva presa a realidade, e sim uma obra transposta para uma
realidade imaginária.
Diferente do que se pensa esta forma de arte não se reduz somente a
forma escrita e quebra o estado etimológico da palavra, derivada do latim, “Littera” –
letra – o que nos leva novamente aos povos antigos de muitas civilizações, como os
Gregos que narravam “A Ilíada” em seus 15.693 versos, as sagas islandesas e o
Beowulf anglo-saxônico que foram, presumivelmente, cantados ou entoados por
rapsodos e bardos profissionais, séculos antes de terem sido passados para o
papel.
Servindo como ferramenta direta na transmissão de informações entre
escritor e leitor, a literatura, pode suportar em suas estruturas realidades ficcionais
próximas ao mundo real, fazendo com que o outro, coloque-se naquela situação
narrada chegando a uma reflexão sobre esta, ou simplesmente totalmente
imaginativas onde transporta o leitor para mundos novos, e cheios de coisas que
seu consciente nunca ousou construir, ou ainda, quebrar estas regras e acomodar
os dois mundos em um só espaço, de maneira fantástica. O que nos leva ao
próximo assunto desta pesquisa.
20
1.1. Definição do Fantástico
Agora que foram esclarecidas as principais características e as funções
que compõem a literatura em um todo, pode-se realizar o recorte de uma de suas
vertentes: A literatura fantástica. Esta, composta por três subgêneros, ao qual tomo a
liberdade de utilizar a nomenclatura de trindade fantástica.
Neste trecho da pesquisa, serão explorados os três pontos que compõe
esta trindade, ampliando, através de citações de escritores da área, e a exposição
de obras, o conhecimento sobre transcender o real, utilizando o lúdico como
principal ferramenta, colaborando no entendimento da construção do universo
Tolkiniano.
Na obra “Introdução à literatura fantástica”, Tzvetan Todorov (2008), nos
mostra que a literatura fantástica é composta por uma linha tênue, que transita entre
o real e o imaginário, utilizando como exemplo o trecho da obra “O diabo
apaixonado” de Jacques Cazotte, novela escrita em 1772, que trouxe justamente o
embate entre o homem e a figura do diabo, que atualmente pode ser tratado de
forma mais branda, porém naquela época ilustrava bem o conflito entre o homem e a
imoralidade que o cercava.
…definição do fantástico. Este exige que três condições sejam preenchidas.
Primeiro é preciso que o texto obrigue o leitor ... a hesitar entre uma
explicação natural e uma explicação sobrenatural ... A seguir esta hesitação
pode ser igualmente experimentada por uma personagem; ... Enfim, é
importante que o leitor adote uma certa atitude para com o texto: ... Estas
três exigências não têm valor igual. A primeira e a terceira constituem
verdadeiramente o gênero; a Segunda pode não ser satisfeita.
(TODOROV. 2008, p. 38/39)
O Autor explica em sua obra que o fantástico habita entre dois pontos.
Denominado como “vacilação” este está entre a incredulidade total em um fato e a fé
absoluta. Ao colocar-se entre estes dois pontos, encontramos um equilíbrio, porém
existem outros fatores atenuantes para que isso aconteça. O leitor precisa realizar
uma conexão com o personagem – ou personagens – da obra, pois a vacilação
21
deste é a primeira condição do fantástico, porém, este é um fenômeno facultativo,
que pode ou não se fazer presente. É importante também que o leitor tome
determinada atitude frente ao texto reagindo as atitudes e ações tomadas pela
narrativa, sendo estas de cunho simples ou mais complexas.
Primeiro, é preciso que o texto obrigue o leitor a considerar o mundo das
personagens como um mundo de criaturas vivas e a hesitar entre uma
explicação natural e uma explicação sobrenatural dos acontecimentos
evocados. A seguir, a hesitação pode ser igualmente experimentada por
uma personagem (...). Enfim, é importante que o leitor adote uma certa
atitude para com o texto: ele recusará tanto a interpretação alegórica quanto
a interpretação “poética”
(TODOROV, 2008, p. 39)
Os estudos de Volobuef (2000) relatam que com o avançar dos anos a
Literatura Fantástica deixou de ser utilizada somente em romances com intuito de
assustar os leitores e tomou formas mais sutis, deixando de apavorar e emocionar
para adentrar esferas temáticas mais complexas e reflexivas, como a ciência e a
evolução do homem, a angustia existencial, desigualdade social, burocracias e a
opressão. O que remete a uma das pontas do que denomina-se como Trindade
Fantástica.
22
1.2. A Trindade Fantástica
Com a evolução da Literatura Fantástica até a sua chegada ao século XX
foram criados subgêneros da mesma que possuem características próprias,
transitando entre os sonhos, o sobrenatural, a magia e os avanços da civilização
ligadas a tecnologia. Este triângulo literário se faz entre o Terror, a Ficção Científica
e a Fantasia.
Segundo Lovecraft (1987, p. 12), as obras de terror possuem fortes
características responsáveis por assombrar o leitor e o fazer duvidar da existência
do sinistro ao nosso redor. “A emoção mais antiga e mais forte da humanidade é o
medo, e o mais antigo e mais forte tipo de medo é o medo do desconhecido.” Autor
de grandes obras ligadas a este subgênero, o estadunidense buscava com suas
publicações confrontar as crenças do romantismo, iluminismo e do cristianismo
expressando atitudes sínicas e pessimistas. Influenciado por outro autor do sombrio
– Edgard Allan Poe – Lovecraft produziu obras como “The whisperer in darkness” e
“The Shadow out of time”.
A ficção científica trabalha com previsões do que pode ser o futuro, na
relação entre homem e máquina, a ciência e suas descobertas. Ao contrário das
outras duas, a ficção científica trabalha com uma realidade possível, apesar de não
ser algo que está acontecendo no hoje, possuí um pé na realidade, levantando
assim hipóteses e teorias na área científica. Obras como: “A máquina do tempo” e
“Guerra dos mundos” do pioneiro H.G. Whells inspiraram outros autores e
influenciaram o cinema mundial. Nomes como Pierre Boulle – “Planeta dos
macacos” – e Júlio Verne – “Viagem ao centro da terra” – são bem conhecidos deste
subgênero, além do Autor da fantasia “As crônicas de Nárnia”, C. S. Lewis, que
lançou uma trilogia espacial na qual está o livro considerado ao ponto de vista
popular, como a melhor obra de ficção científica. “Além do planeta Silencioso”, que
tem como protagonista um Filólogo. Uma homenagem direta a Tolkien, objeto de
pesquisa deste artigo, já que o mesmo também possuía esta formação em seu
23
extenso currículo.
Por fim, a última parte do quebra-cabeça, a Fantasia. Este é o tipo de
literatura onde os elementos fantásticos são mais visíveis, perceptíveis. Os limites
de criação são muito remotas por terem antecedentes mais antigos, por podermos
encontrar a presença do fantasioso nos mitos e lendas dos povos antigos, e na
tradição de literatura oral, na mitologia greco romana, egípcia, celta e nos contos de
fadas. As fadas, príncipes e princesas em apuros oprimidas por bruxas más, elfos,
anões, duendes e os seres elementais se fazem presentes neste subgênero,
causando o encantamento do leitor e gerando uma conexão mais fácil – por conta
da aparência dos personagens e seus poderes fora do normal, e muitas das vezes
por ambos – o que nos leva novamente a vacilação e assim a classificação da obra
como fantástica. Os exemplos mais contemporâneos desta vertente são a saga do
bruxinho “Harry Potter” da autora J.K. Rowling, o já citado C.S. Lewis com “As
Crônicas de Nárnia” e J.R.R. Tolkien, criador da Terra-média e sua diversidade.
Figura. 1 – A Trindade Fantástica.
Fonte: O autor. (2017)
24
2. TOLKIEN
Nesta sessão da pesquisa, será relatado alguns pontos da vida e evolução
do autor que deu origem a Terra-média e suas criaturas, dando assim terreno para a
aventura vivida por Frodo Bolseiro em sua jornada até Mordor, com o intuito de
destruir o Um anel e acabar de uma vez por todas com o poder de Sauron perante
todos.
Na biografia “J.R.R. Tolkien – O senhor da fantasia”, White (2013), realiza a
descrição cronológica dos eventos que inicia-se em Janeiro de 1892 com o
nascimento de Tolkien na África do Sul e que culminam em 2 de setembro de 1973
com o seu falecimento. John Ronald Reuel Tolkien é fruto do casamento entre Arthur
Tolkien e Mabel Suffield. No verão de 1896, Mabel, mudou-se com os filhos – John e
Hilary Arthur Reuel – para a Inglaterra devido a problemas de saúde, e o que deveria
ser uma curta temporada de reabilitação, tornou-se algo permanente com o
falecimento de Arthur, que contraiu uma febre reumática perecendo no ano de 1896
no Estado Livre de Orange. Em 1900 surgiram grandes complicações financeiras
para a família, e devido a escolhas religiosas – conversão da Igreja Anglicana para a
Católica – a família de Mabel virou as costas para eles, e assim, ela também
faleceu, vítima de diabetes – aos 34 anos – que não possuía tratamento na época.
Deste ponto em diante os irmãos Tolkien passaram a ser tutelados pelo Padre
Jesuíta Francis Xavier Morgan.
Em 1908 os meninos foram realocados para a casa dos Faulkners, após
uma temporada na casa da tia Beatrice, onde conheceu Edith Bratt por quem se
apaixonou aos 16 anos e começou um relacionamento durante a primavera. No
outono Tolkien realizou sua primeira tentativa frustrada de entrar em Oxbridge, além
de ter sido separado de seu amor pelo padre Francis, que considerava o ato
incorreto devido à idade minoritária de ambos. Um ano após, Tolkien triunfou em sua
segunda tentativa para Oxbridge e conseguiu uma bolsa de estudos para a
Faculdade de Exeter, em Oxford.
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Aos 21 anos reencontrou sua amada e mudou-se para o curso de Línguas e
Literatura Inglesas, porém a Grã-Bretanha havia declarado guerra a Alemanha, – o
que no futuro teria ligação direta com as batalhas nos campos de Pelennor descritas
em O Senhor dos Anéis – forçando Tolkien a frequentar uma universidade
praticamente vazia para terminar os seus estudos. Os momentos seguintes foram de
glória pois ele recebeu um prêmio e logo em seguida o casamento se consolidou.
Em 04 de junho de 1916 as sombras da guerra alcançam Tolkien, e assim o
rapaz embarcou para a França junto com o exército britânico, onde entrou em ação
no front, enfrentando os horrores dos campos onde mais de 500 mil soldados foram
abatidos e por fim, voltou para casa em novembro afligido pela febre das trincheiras.
Neste período que começou a escrever a obra intitulada “The book of the lost tales”,
que futuramente tornar-se-ia “O Sillmarillion”, a gênese da Terra-média.
Nos anos seguintes, nascem os filhos de Tolkien de seu relacionamento com
Edith. Degraus são galgados até que lhe é concedida a cadeira de Rawlinson
Bosworth, como professor titular de Inglês Antigo na Universidade de Oxford. Um
grupo de literários começa a reunir-se liderados pelo escritor, e denominam-se como
“The Coalbiters” – Os mordedores de carvão – entre estes nomes estão famosos
linguístas como G.E.K Braunholtz e C.S. Lewis, amigo íntimo de Tolkien e escritor de
“As crônicas de Nárnia”. Os Coalbiters perderam força e Tolkien junto à Lewis
rumaram para um outro grupo de nome ambíguo que muito lhes agradavam, a
reunião dos “Inkling” acontecia em um pub, que ainda funciona e serve como um
santuário para estas figuras históricas. Na parede do bar há uma grande placa com
os seguintes dizeres:
C.S.LEWIS
Seu irmão W.H.R. Lewis, J.R.R. Tolkien, Charles Williams e outros amigos
se reuniam toda terça-feira de manha entre os anos1939-62 na sala dos
fundos de seu pub favorito. Estes homens popularmente conhecidos como
“Os Inklings”, reuniam-se aqui para beber cerveja e discutir, entre outras
coisas, os livros que estavam escrevendo.
(WHITE, 2013, pg. 124)
Umas destas obras a começar a tomar forma seria “O Hobbit”, que fora
lançado em Setembro de 1937 na Grã-Bretanha. Logo após, em Dezembro do
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mesmo ano, Tolkien a pedido da editora, começou a escrever “O Senhor dos Anéis”.
Ambas as obras seriam intituladas no ano de 2001 como as obras mais vendidas
segundo o New York Times, mas infelizmente, o Professor Tolkien, já viúvo e recém-
nomeado Doutor Honoris Causa em Letras na universidade de Oxford havia falecido
em 02 de Setembro de 1973.
Figura. 2 – John Ronald Ruel Tolkien Imagem 3 – O criador da Terra-média,
Autor no período em que frequentou as Fonte: White, 2013, p.249
trincheiras da primeira Guerra Mundial.
Fonte: White, 2013, p.238
Mesmo pós-mortem, o autor recebeu títulos e homenagens, como ser eleito
através de uma enquete organizada pela Amazon como o autor favorito do milênio, o
“Tolkien Reading Day“ – dia de ler Tolkien, em tradução literal – organizado pela
Tolkien Society, que acontece no dia 25 de março ao redor de todo o mundo, além,
da adaptação das obras para o cinema. A trilogia de “O Senhor dos Anéis” faturou
aproximadamente 3 bilhões de dólares em bilheteria. E são nestas obras que estão
a diversidade explorada nesta pesquisa, o que nos leva ao próximo tópico.
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3. DIVERSIDADE CULTURAL
Neste tópico será realizada uma breve explanação sobre os conceitos e
intenções da diversidade cultural dentro da sociedade através de pesquisas e
documentos publicados por organizações governamentais, para que haja assim o
entendimento de como ela se encaixa nas obras de Tolkien, caracterizando a Terra-
média como um ambiente diverso cultural. Vejamos então primeiramente como o
Dicionário Aurélio define a palavra diversidade:
Diverso: Adj.
1. Diferente, distinto.
2. Vário, variado.
3. Mudado, alterado.
4. Discordante, Divergente. § di·ver·si·da·de sf.
(Dicionário Aurélio, 2010, p. 242)
Segundo Tylor (2009) a cultura é a representação por meio de vários
aspectos que permeiam um povo, englobando linguagens, culinárias, costumes,
modelos de organização familiar, política e religião, separando o homem dos
animais, justamente porque a cultura é algo que é aprendido independente de
questões genéticas, afastando assim o cultural do natural. Neste grupo de
características podem existir também outros fatores considerados peculiares, e que
estabelecem um grupo de seres viventes habitantes de um determinado território.
Este conceito consiste em compreender as diferenças existentes entre as
múltiplas culturas ao redor do globo, formando assim a identidade cultural dos
indivíduos ou da sociedade que estes compõem. Esta marca realiza a diferenciação
de membros de um determinado local e o restante da população mundial. Esta
pluralidade funciona então como uma ferramenta contra a Heterogeneidade,
considerada o oposto da variedade e diferenciação.
A sociedade mundial atual é considerada altamente plural, por conta das
miscigenações que ocorreram através da imigração dos povos para outros países,
decorrência de colonizações, revoluções, guerras, ou até mesmo junções familiares,
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o que resulta em uma população com alto teor de costumes e culturas diferentes.
No ano de 2002 a UNESCO – United Nation Educational, Scientific and
Cultural Organization – criou um documento de título “Declaração Universal Sobre a
Diversidade Cultural” que reafirma estes conceitos deixando clara a importância da
mesma para a sociedade, vejamos abaixo alguns pontos importantes deste
documento:
Artigo 1 – A diversidade cultural, patrimônio comum da humanidade:
A cultura adquire formas diversas através do tempo e do espaço. Essa
diversidade se manifesta na originalidade e na pluralidade de identidades
que caracterizam os grupos e as sociedades que compõem a humanidade.
Fonte de intercâmbios, de inovação e de criatividade, a diversidade cultural
é, para o gênero humano, tão necessária como a diversidade biológica para
a natureza. Nesse sentido, constitui o patrimônio comum da humanidade e
deve ser reconhecida e consolidada em beneficio das gerações presentes e
futuras.
Artigo 2 – Da diversidade cultural ao pluralismo cultural:
Em nossas sociedades cada vez mais diversificadas, torna-se indispensável
garantir uma interação harmoniosa entre pessoas e grupos com identidades
culturais a um só tempo plurais, variadas e dinâmicas, assim como sua
vontade de conviver. As políticas que favoreçam a inclusão e a participação
de todos os cidadãos garantem a coesão social, a vitalidade da sociedade
civil e a paz. Definido desta maneira, o pluralismo cultural constitui a
resposta política à realidade da diversidade cultural. Inseparável de um
contexto democrático, o pluralismo cultural é propício aos intercâmbios
culturais e ao desenvolvimento das capacidades criadoras que alimentam a
vida pública.
(UNESCO, 2002, pg. 3)
Podemos concluir então que a Diversidade Cultural é composta pelo
acúmulo de uma série de costumes e características de um povo ou comunidade
dando-lhes assim identidade, sendo que estas podem se misturar com outros povos
gerando novas culturas sem deixar de lado suas raízes. Neste caso estamos
tratando da Diversidade Cultural no mundo real, mas como ela se encaixa dentro do
mundo ficcional?
Neste ponto, antes de dar sequência a pesquisa devo realizar uma pequena
digressão ondei esclarecerei alguns pontos importantes relacionados às obras de
Tolkien e o objetivo desta pequisa, que é justamente classificar as espécies
existentes dentro das obras do autor, revelando assim como o real influenciou
diretamente no lúdico na sua construção. Devo iniciar dizendo que como grande
leitor das obras de Tolkien, seria de minha vontade esmiuçar o máximo possível a
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relação de todas as criaturas e personagens que habitaram a Terra-média ao longo
de suas 3 eras – uma média de 185 personagens nomeados por Tolkien – porém
isso requereria um espaço maior do que o cedido, então nos manteremos o mais
próximo possível da linha de pesquisa realizando a classificação por espécies –
algumas de suas vertentes quando necessários – e suas relações entre si.
Outro fator importante é a apresentação inicial da criação da Terra-média
através de uma divindade maior, seus terrenos e diferentes ecossistemas, o que
influência muito a vida de seus respectivos habitantes. Estarão presentes também
no próximo tópico do artigo algumas comparações entre criaturas, suas
transformações ao longo do tempo devido forças místicas, e outros que são
singulares, porém influenciam a cultura ao seu redor através de comando e poder.
3.1 Uma breve visão das 3 eras da Terra-média.
Abriremos este tópico citando o livro que Tolkien considera a gênese da
Terra-média, “O Sillmarillion”, que foi publicado em 1977, após o falecimento do
autor. Neste, é mostrado através de uma narrativa com estruturas semelhantes ao
do livro de Gênesis da Bíblia Sagrada, – reforçando os relatos de White (2013)
referente as fortes influências de Tolkien no meio católico romano, sendo o autor
devoto por fé pessoal e história familiar – como as terras de Arda foram concebidos
por uma entidade maior, um deus chamado Eru.
Havia Eru, o Único, que em Arda é chamado de Ilúvatar. Ele criou primeiro
os Ainur, os Sagrados, gerados por seu pensamento, e eles lhe faziam
companhia antes que tudo o mais fosse criado. E ele lhes falou, propondo-
lhes temas musicais; e eles cantaram em sua presença, e ele se alegrou.
Entretanto, durante muito tempo, eles cantaram cada um sozinho ou apenas
alguns juntos, enquanto os outros escutavam, pois cada um, compreendia
apenas aquela parte da mente de Ilúvatar da qual havia brotado e evoluía
devagar na compreensão de seus irmãos. Não obstante, de tanto escutar,
chegaram a uma compreensão mais profunda, tornando-se mais
consonantes e harmoniosos.
(TOLKIEN, O Sillmarillion, 2009, pg. 3)
Eru, conhecido pelos elfos por Ilúvatar, vivia sozinho na imensidão, absorto
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por seus pensamentos, quando resolveu criar seres sagrados para lhes fazer
companhia, sendo assim, surgiram os Ainur, seres sagrados. A estes Eru propôs que
cantassem, dando-lhes temas, e estes assim o fizeram, alegrando seu criador por
um longo tempo, porém um dos Valar, Melkor, que era considerado o maior deles,
começou a cantar sua própria canção, realizando pertubações, mas foi impedido de
continuar por Eru. Este processo repetiu-se por 3 vezes. Tempo depois Eru solicitou
aos seus seres cantantes que estes observassem suas criações, e assim, através
das canções entoadas por eles, foi criada Arda – Terra-média.
Os Valar desceram para Arda e tomaram forma, entretanto esta era disforme
e assim eles teriam de continuar o trabalho de aperfeiçoamento. Aqui iníciou-se a
Primeira Era. Melkor mantinha o seu sentimento de inveja e o desejo de domínio de
Arda, por isso trabalhou sozinho, escondido dos outros e de seu criador. Yavanna
com uma poderosa canção criou duas árvores de luz, uma prateada, e outra com
frutos dourados flamejantes, após este ato Valinor passou a ser iluminada por estas
árvores, enquanto a Terra-média, continuava iluminada somente pelas estrelas.
Neste momento os filhos primogênitos de Ilúvatar despertaram na Terra-média, – e
aqui vemos a necessidade dessa descrição das eras, pois, através do surgimento
destes povos, de diferentes raças, crenças e costumes que surgiram as interações
populacionais, resultando na diversidade cultural – os Elfos.
Diz-se que, no momento em que Varda encerrou seus trabalhos, e eles
foram demorados, quando Menelmacar foi subindo pelo céu, e a chama azul
de Helluin cintilou nas névoas acima dos limites do mundo, nessa hora os
Filhos da Terra despertaram, os Primogênitos de Ilúvatar. Perto da lagoa de
Cuiviénen, a Água do Despertar, iluminados pelas estrelas, eles acordaram
do sono de Ilúvatar. E enquanto permaneciam, ainda em silêncio, junto a
Cuiviénen, seus olhos contemplaram antes de mais nada as estrelas dos
céus. Por isso, eles sempre amaram o brilho das estrelas, e reverenciam
Varda Elentãri mais do que qualquer outro Vala.
(TOLKIEN, O Sillmarillion, 2009, pg. 47)
Melkor fora descoberto em sua revolta, preso e enviado para o Salão de
Mandos, e após anos cumprindo a sua pena, fora solto. Arrependido de seus atos
mesquinhos, direcionou sua inteligência para ensinar os elfos muitas coisas boas.
Utilizando estes conhecimentos Fëanor, o maior elfo, criou três Silmarilis – orbes de
pura luz – utilizando pedaços das brilhantes árvores anteriormente criadas por
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Yavanna. Porém Melkor havia arquitetado um plano desconhecido por seus
superiores, roubou as Silmarilis dos elfos, e com a ajuda de Ungoliant, a grande
aranha – representação da essencia do mal – destruiu as árvores de luz, refugiando-
se na Terra-média.
Então a Antiluz de Ungoliant subiu até as raízes das Árvores, e Melkor de
um salto escalou a colina. E, com sua lança negra, atingiu cada Árvore até o
cerne, ferindo todas profundamente. E a seiva jorrou como se fosse seu
sangue e se derramou pelo chão. Contudo, Ungoliant tudo sugou; e, indo de
uma Árvore a outra, grudou seu bico negro nos ferimentos até que as
esgotou. E o veneno da Morte que ela continha penetrou em seus tecidos e
as fez murchar, na raiz, no galho, na folha. E elas morreram.
(TOLKIEN, O Sillmarillion, 2009, pg. 85)
Fëanor em companhia de seus sete filhos jurou tomar de volta o que lhes
pertencia, mas fora proibido pelos Valar, assim, roubou com ajuda de um exército,
barcos élficos, tendo que enfrentar sua própria raça para isso. Outra parte do
exército partiu para a Térra Média atravessando as terras geladas do Norte, entre
eles estava uma figura que seria muito importante na 3º era, a elfa Galadriel. Assim
teve sequência a Primeira Era. – Era I.
Despertam os filhos mais novos de Ilúvatar, os Homens. Pode-se perceber
com o excerto abaixo que nem todas as criaturas já despertas consideravam os
Homens iguais a eles. Explicitando assim o primeiro sinal de interação social e
segregação racial.
Ao primeiro raiar do Sol, os Filhos Mais Novos de Ilúvatar despertaram na
terra de Hildórien, nas regiões orientais da Terra-média; mas o primeiro Sol
raiou no Oeste, e os olhos dos homens que se abriam se voltaram para ele;
e seus pés, quando Perambularam pela Terra, acabavam indo naquela
direção. Atani foi como os Eldar os chamaram, o Segundo Povo; mas
também os chamavam de Hildor, os Sucessores, entre muitos outros
nomes: Apanónar, os Posteriores; Engwar, os Enfermiços; e Firimar, os
Mortais. Ainda os chamavam de Usurpadores, Desconhecidos,
Inescrutáveis, Malditos, Desajeitados, Temerosos-da-noite, Filhos do Sol.
(TOLKIEN, O Sillmarillion, 2009, pg. 123)
A grande perseguição por Melkor acontece, porém este teve tempo
suficiente para formar seu próprio exército composto por Orcs, Dragões e Balrogs, e
ao chegarmos próximo ao fim desta era, os reinos élficos já haviam sido descobertos
e destruídos, e muitos elfos haviam encontrados seus caminhos através dos salões
de Mandos até o fim do mundo. Porém Melkor felizmente fora derrotado e enviado
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para o vazio, além das bordas do mundo, dando fim assim a Primeira Era.
Ora, os orcs que se multiplicavam na escuridão da terra tomaram-se fortes e
cruéis, e seu senhor sinistro os encheu de desejo de devastação e morte.
Eles saíram então dos portões de Angband sob as nuvens que Morgoth fez
surgir e passaram em silêncio para os planaltos do norte. Dali, de súbito, um
enorme exército entrou em Beleriand e atacou o Rei Thingol.
(TOLKIEN, O Sillmarillion, 2009, pg. 111)
A Segunda Era teve início, e como um presente aos homens leais, os Valar,
construíram uma ilha no meio do mar onde estes homens poderiam viver mais
tempo dos que os homens comuns, e a esta, fora dada o nome de Númenor.
Ninguém desconfiava que na Terra-média ainda vivia um grande servo de Melkor,
Sauron, que ansiava pelos mesmos objetivos que seu mestre, assim então, este
passou a ser o Senhor do Escuro, tomando uma forma entre os elfos, e os
ensinando a forjar anéis do poder.
Outrora havia Sauron, o Maia, que os sindar em Beleriand chamavam de
Gorthaur. No início de Arda, Melkor seduziu-o para sua vassalagem, e
Sauron se tomou o maior e mais confiável dos servos do Inimigo; e também
o mais perigoso, pois podia assumir muitas formas; e por muito tempo, se
quisesse, ainda pôde aparentar nobreza e beleza, de modo a enganar a
todos, à exceção dos extremamente cautelosos.
(TOLKIEN, O Sillmarillion, 2009, pg. 363)
Estes anéis possuíam muitas funções, entre elas curar e aumentar o tempo
de vida – homens e anões também foram presenteados. Em segredo Sauron forjou
no fogo das montanhas da perdição um anel para si. Um anel mestre, que possuía o
poder de controlar os outros, fazendo-os obedecer a sua vontade, – Um anel para a
todos governar, um anel para encontrá-los, Um Anel para a todos trazer e na
escuridão aprisioná-los – porém ao botar o Um anel os outros três portadores – elfos
– perceberam as suas intenções e os retiraram, escondendo-os. Uma destas elfas
era Galadriel, e o outro Elrond.
Houve outra grande guerra liderada por Ar-Pharazôn – o dourado – rei de
Númenor, e neste embate Sauron fora derrotado e aprisionado, mas ao retornarem
para a ilha, este começou a corromper os reis, que na época se incomodavam muito
com a proximidade da morte e cobiçavam a imortalidade dos elfos, cedendo assim
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as palavras de Sauron e planejando um ataque direto a Valinor. A investida
fracassou e por conta desta traição, Númenor fora tomada pelas ondas do oceano, e
como precaução futura Valinor fora retirada do mundo, e sua base destruída. Alguns
Númenorianos fiéis aos Valar escaparam para a Terra-média, fundando os reinos de
Arnor ao norte e Gondor ao sul. Sauron também retornou a Terra-média. Em uma
última aliança entre Homens e Elfos, Sauron fora derrotado, perdendo o Um Anel e
também sua forma física. Isildur que derrotou Sauron em batalha, teve a missão de
levar o Um Anel até a montanha da perdição e o destruir, porém, este fora
corrompido pelo poder do anel que possuía parte de Sauron em sua composição, e
assim o guardou para si, um grande erro, pois tempo depois este fora assassinado,
e o anel se perdeu. E neste ponto teve fim a Segunda Era da Terra-média.
Então todos escutaram, enquanto Elrond, com sua voz clara, falava de
Sauron e dos Anéis de Poder, e de sua forjadura na Segunda Era de
mundo, há muito tempo. Uma parte da história era conhecida por alguns ali,
mas a história completa ninguém conhecia, e muitos olhos se voltavam para
Elrond com medo e surpresa, enquanto ele contava sobre os ourives élficos
de Eregion, e de sua amizade com Moria, e de sua avidez de conhecimento,
através da qual Sauron os seduziu. Pois, naquela época, ainda não era
declaradamente mau, e eles aceitaram sua ajuda, tornando-se hábeis,
enquanto Sauron aprendia todos os segredos, e os traía, forjando
secretamente, na Montanha do Fogo, o Um Anel para dominar todos os
outros. Mas Celebrimbor sabia das verdadeiras intenções de Sauron, e
escondeu os Três que tinha feito; então houve guerra, e a terra foi arrasada,
e o portão de Moria foi fechado.
(TOLKIEN, O Senhor dos Anéis, 2004, pg. 251)
Com o início da Terceira Era, os Magos chegaram a Terra-média, vindos de
Valinor, com a missão de vigiar um possível retorno de Sauron, estes eram cinco,
Saruman, o branco; Gandalf, o cinzento; Radagast, o castanho; Allatar e Pallando,
os magos azuis.
Exatamente quando as primeiras sombras foram percebidas na Floresta das
Trevas, surgiram no oeste da Terra-média os ístari, que os homens
chamavam de Magos. Na época ninguém sabia de onde eles eram, à
exceção de Círdan dos Portos, e apenas a Elrond e a Galadriel ele revelou
que haviam chegado pelo Mar. Daí em diante, porém, dizia-se entre os elfos
que eles eram mensageiros enviados pelos Senhores do Oeste para
contestar o poder de Sauron, se ele voltasse a se erguer, e para influenciar
elfos, homens e todos os seres vivos de boa vontade para com atos
corajosos.
(TOLKIEN, O Sillmarillion, 2009, pg. 281/282)
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Após trezentos anos de paz vigiada por estes guardiões, o esperado
aconteceu, Sauron retornou em Mordor, terra negra, porém não possuía mais sua
forma corpórea. Na adaptação cinematográfica realizada por Peter Jackson, vemos
a retratação desta força na forma de um grande olho em chamas, que do alto de
uma torre negra observava tudo ao seu redor.
Alguns anos depois nasceu o verdadeiro herdeiro do trono de Gondor,
Aragorn, filho de Arathorn, que fora criado em segurança na Valfenda, protegido pelo
elfo Elrond. Neste período, Bilbo Bolseiro, um pequeno Hobbit deixava o Condado, a
mando de Gandalf, acompanhado por 13 bravos anões, com a missão de retomar as
Montanhas Solitárias, antiga morada desses anões, e agora tomada por um
impiedoso dragão de nome Smaug. E é nesta jornada que Bilbo encontra o Um Anel,
que até então era propriedade de uma criatura esquelética e curiosa, que habitava
as profundezas de uma toca de Orc, um ser transformado pelo poder do anel de
nome Gollum.
É preferível parar esta linha do tempo neste espaço, pois a partir daqui não
seria acrescentada nenhuma nova criação realizada por Eru e seus Valar. Todos os
acontecimentos seguintes seriam regidos por magos envoltos por traição e Sauron
em sua busca por poder, e estes serão catalogados no tópico seguinte.
Figura. 4 – O Mapa da Terra-média.
Fonte: Pinterest.com1
1 – Disponível em: https://br.pinterest.com/pin/42713896438512872/ – Acesso em Abr. 2017.
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3.2 – Os Habitantes de Arda.
A partir deste ponto será realizada a catalogação dos seres e criaturas que
habitam a Terra-média, – com exceção de Eru que é um ser supremo e não possuí
características físicas descritas em “O Sillmarillion” – assim como as suas principais
características, pois elas que remontam as suas origens, costumes e culturas, para
que assim haja a interação e também a miscigenação dos povos, chegando no
ponto a ser buscado por este trabalho: A diversidade cultural.
3.2.1 – Ainur.
Espíritos imortais criados por Erú para lhes fazer companhia e servir.
Criadores das terras de Arda através da música que cantavam para o seu mestre e
futuros arquitetos da Terra-média. Nem todos os Ainur desceram até Arda, mas os
que fizeram assumiram formas físicas tornando-se Valar – os mais fortes – ou Maiar
– os mais fracos. Tolkien em suas escrituras feitas na obra “The History of the Middle
Earth” (2002) retrata os Ainur como anjos, criaturas puras, e ai pode-se perceber
novamente as referências religiosas da cultura de Tolkien, em sua vida real, tomando
forma em sua literatura ficcional. Alguns destes Ainur foram responsáveis pela sub-
criação de outras criaturas de Arda, como Manwë, rei de Arda, senhor dos ares e
das aves, Ulmo, senhor das águas e dos mares, Aulë, governante de toda a terra,
dos materiais nela contidos e criador dos anões. Entre os Ainur que tornaram-se
Valar, temos Melkor, porém, como este traiu Illúvatar, perdeu o seu título entre os
irmãos, tornando-se assim o primeiro senhor da escuridão, título que carregou até
sua derrota. – o segundo desta linhagem viria a ser Sauron.
Então, falou Ilúvatar e disse: - Poderosos são os Ainur, e o mais poderoso
dentre eles é Melkor; mas, para que ele saiba, e saibam todos os Ainur, que
eu sou Ilúvatar, essas melodias que vocês entoaram, irei mostrá-las para
que vejam o que fizeram E tu, Melkor, verás que nenhum tema pode ser
tocado sem ter em mim sua fonte mais remota, nem ninguém pode alterar a
música contra a minha vontade. E aquele que tentar, provará não ser senão
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meu instrumento na invenção de coisas ainda mais fantásticas, que ele
próprio nunca imaginou
(TOLKIEN, O Sillmarillion, 2009, pg. 6)
3.2.2 – Elfos.
Considerados os primeiros filhos de Erú/ Ilúvatar, são criaturas de extrema
beleza, comparados diretamente aos Valar, porém com menos estatura e poder. São
imortais – ou pelo menos, enquanto durar o reino de Arda – não envelhecem e nem
adoecem. E se de alguma forma forem feridos ou sofrerem de grande desgosto, seu
corpo morre, porém sua alma permanece viva, sendo enviada para as Mansões de
Mandos, onde aguardarão para retornar em um corpo idêntico ao anterior e com as
mesmas lembranças. São criaturas extremamente orgulhosas e que pensam bem
nas consequências de seus atos antes de realizá-los. Altos, de longos cabelos,
orelhas pontudas, olhos expressivos e em grande maioria questionadores. Elfos se
casam somente uma vez e são totalmente fiéis aos seus parceiros. Estes seres
realizam tarefas com maestria, podendo ser trabalhos com ferro, música ou qualquer
outro tipo de arte, além de possuírem altos níveis de habilidades de batalha, seja
empunhando espadas, seja utilizando um arco e flechas. A alimentação élfica é
muito restrita, pois eles não se alimentam de carne, comendo somente vegetais,
folhas e lembas – pães élficos. Tolkien criou também para os seus elfos, duas
línguas diferentes, o Quenya e o Sindarin, ambos com um alfabeto fonético próprio.
Porém nem todos os elfos são iguais e possuem a mesma origem. Apesar de serem
imortais, os elfos podem procriar, sendo assim criar as suas próprias linhagens.
Como foi relatado, Galadriel é uma elfa da primeira geração criada por Erú que
migrou para a Terra-média e governa Lórien ao lado de seu marido, já Legolas, é
filho de Thranduil, rei da floresta das trevas, nascido na Terceira Era. Sendo assim,
os elfos podem gerar suas próprias famílias criando ramificações culturais e possuir
diferentes localizações e reinados dentro da Terra-média. Um detalhe
comportamental que deve ser ressaltado é que os elfos não se relacionam bem com
os anões devido a conflitos de guerra não resolvidos.
Glorfindel era alto e ereto; o cabelo de um dourado brilhante, o rosto belo e
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jovem, temerário e cheio de alegria; os olhos eram brilhantes e agudos, a
voz parecia música; em sua fronte se alojava a sabedoria; na mão, a força.
[...] O rosto de Elrond parecia eterno, nem velho nem jovem, embora nele se
inscrevesse a memória de muitas coisas, alegres e tristes. Os cabelos eram
escuros como as sombras da noite, e sobre a cabeça via-se um diadema de
prata; os olhos eram cinzentos como uma noite clara, e neles havia uma luz
como a das estrelas. Parecia venerável, como um rei coroado com muitos
invernos, e ao mesmo tempo vigoroso como um guerreiro experiente, no
auge da força. Era o Senhor de Valfenda, poderoso entre elfos e homens.
(TOLKIEN, O Senhor dos Anéis, 2004, pg. 235)
Figura.5 – Galadriel Figura.6 – Elrond Figura.7 –Thranduil
Senhora de Lórien Senhor de Rivendell Rei da Floresta das Trevas
Fonte: Pinterest.com2
Fonte: Pinterest.com3
Fonte: Pinterest.com4
3.2.3 – Homens.
Leve em consideração esta vertente como raça, Tolkien não limita em suas
obras a raça Homem como definição do sexo masculino, e sim um todo, homens,
mulheres e crianças. Deve-se ressaltar neste ponto que foi uma mulher a
responsável pela queda do Rei Bruxo – um dos Nazgul – na Batalha dos Campos de
Pelennor. O segundo plano de Ilúvatar para herdar os reinos da terra, mas diferente
dos elfos que possuíam a imortalidade os homens ganharam de presente de seu pai
o direito a morte. O primeiro homem levantou-se assim que o primeiro sol surgiu no
céu da Terra-média, e caminharam para o Oeste encontrando-se com os elfos. Este
chamava-se Edain, também conhecido como Pai dos Homens. O grupo de homens
2 – Disponível em: https://br.pinterest.com/pin/412149803384127718/ – Acesso em Abr. 2017.
3 – Disponível em: https://br.pinterest.com/pin/370561875576621877/ – Acesso em Abr. 2017.
4 – Disponível em: https://br.pinterest.com/pin/462674561701253295/ – Acesso em Abr. 2017.
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foi tornando-se maior ao longo do tempo e logo a Terra-média estava povoada por
diferentes grupos desta espécie. Tolkien utiliza o homem nas suas obras para
realizar a aproximação do leitor da realidade para o mundo fantástico que criou.
Igualmente fortes para guerrear e habilidosos para construir, os homens criaram os
reinos de Arnor e Gondor após os terríveis acontecimentos em Númenor citados
previamente. Entre estes homens estavam os ascendentes de Aragorn, que
futuramente assumiria o trono de Gondor que era seu por direito. Pode-se
caracterizar o homem da Terra-média como bravo e heroico, mas nem sempre fiel.
Existem grandes exemplos na literatura de Tolkien de personagens envoltos por
sede de poder e traição, como por exemplo, Grima, língua de cobra, que tem a
função de aconselhar o Rei Théoden, porém o manipula a mando de Saruman,
ambos lutam ao lado de Sauron, assim como os Haradim, homens do sul da Terra-
média. Pode-se encontrar relatos de grandes feitos realizados por homens ao longo
das três eras, e é justo dizer que eles tiveram grande parte nas vitórias ocorridas nas
guerras, diferente dos Elfos, que escolhem bem em que batalhas vão entrar.
Figura.8 – Aragorn Figura.9 – Éowyn
Herdeiro de Isildur, Rei de Gondor Senhora de Rohan. A mulher respon-
Fonte: Google Imagens.5
sável pela queda do Bruxo de Angmar.
Fonte: Pinterest.com6
5 – Disponível em: http://www.theonering.com/galleries/the-lord-of-the-rings-movies/the-return-of-the-
king/aragorn-before-battle-new-line-cinema – Acesso em Abr. 2017.
6 – Disponível em: https://br.pinterest.com/pin/354447433149961161/ – Acesso em Abr. 2017.
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3.2.4 – Anões.
Mais uma vez é possível ver a relação de Tolkien com a igreja sendo
refletida na criação de seus personagens. Os anões foram sub-criados por um Vala
chamado Aulë, o ferreiro, escondido dos outros Valar, para que fossem seus filhos e
assim ele pudesse ensiná-los seus oficios. Ilúvatar descobriu a criação de Aulë, e
quando confrontado, este levantou seu martelo no intuito de destruir suas criações,
porém Ilúvatar lhes deus a benção, e pediu a Aulë que os guardasse, pois não
deveriam despertar na Terra-média antes dos elfos que eram seus primogênitos. Ele
o obedeceu e guardou os anões em cavernas longe da Terra-média, e assim que os
elfos despertaram, eles também puderam vir a vida. Estes eram 7 – conhecidos
como os sete pais – e entre eles estava Durin, fundador da cidade de Khazad-dûm.
Os anões são de uma raça resoluta e teimosa capaz de resistir até ao senhor do
escuro, porém extremamente habilidosos na confecção de armas, armaduras e
mineração. Estes lutaram na guerra da Primeira Era contra Melkor, e também foram
importantes na luta contra Sauron. Nas obras que serviram de base teórica para
esta pequisa, nenhuma anã fora nomeada, porém em outros escritos de Tolkien
pode-se encontrar relatos de que as mulheres desta espécie possuíam barbas iguais
às dos homens. Os anões também possuíam uma língua própria criada por Tolkien,
chamada Khuzdul, composta por um sistema de escrita rúnico denominado cirth. A
língua fora inspirada no árabe e no hebraico, o que nos leva ao início deste tópico
reforçando-a com o fato de que Tolkien compara os seus anões com os povos
Judeus, pautado por representações e influências bíblicas medievais na construção
de sua história. Durante a leitura de “O Hobbit” e “O Senhor dos Anéis”, é possível
perceber que apesar de serem criaturas altamente especializadas na construção de
armas e fortes em campo de batalha, os anões também possuem senso de humor.
Um exemplo deste ato se faz presente em “O Hobbit” (2013), no capítulo intitulado
“Uma festa inesperada” onde os anões fazem uma visita ao Hobbit Bilbo Bolseiro e
cantam enquanto lavam as louças que sujaram em seu banquete.
Então os doze anões — não Thorin, ele era importante demais e ficou
conversando com Gandalf — puseram-se imediatamente de pé, e fizeram
40
grandes pilhas com todas as coisas. E foram, sem esperar por bandejas,
equilibrando colunas de pratos, cada uma com uma garrafa no topo, em
uma única mão, enquanto o hobbit corria atrás deles quase gemendo de
pavor: “Por favor, tenham cuidado” e “por favor, não se incomodem, eu
posso cuidar disso!”. Mas os anões apenas começaram a cantar:
(TOLKIEN, O Hobbit, 2009, pg. 12)
Figura. 10 – Anões.
Os 13 anões que compõem a Companhia de Thorin Escudo de Carvalho.
Fili, Kili, Nori, Ori, Dori, Bifur, Bofur, Bombur, Dwalin, Balin, Oin, Gloin e Thorin.
Fonte: Google Imagens7
3.2.5 – Ístari.
Composto por um pequeno grupo de magos com semelhanças físicas as
dos homens, mas que possuíam habilidades físicas e mentais muito maiores, além
de possuírem a imortalidade, os Istari, eram Maiar enviados pelos Valar para ajudar
na luta contra Sauron na Terra-média no início da Terceira Era. Apesar de serem da
mesma ordem de Sauron, os Ístari eram considerados mais fracos pois não haviam
descido para Arda com a sua forma divina, o que os limitava, então estes eram
responsáveis por organizar os povos da Terra-média durante a batalha. Seres muito
7 – Disponível em: http://cinemacomrapadura.com.br/noticias/281111/novo-poster-de-o-hobbit-uma-jornada-
inesperada-reune-os-13-anoes/ – Acesso em Abr. 2017.
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estrategistas, e com uma percepção além do comum para o perigo, os magos eram
ótimas peças para se ter no tabuleiro de uma batalha. Infelizmente nem todos
jogavam limpo, como pode-se ler em “O Senhor dos Anéis”, pois Saruman, o branco,
em vez de cumprir a missão que lhe fora dada pelos Valar, sucumbiu a sede de
poder e juntou-se a Sauron. Nada se sabe sobre Allatar e Pallando, pois eles não
estão presentes nas obras discorridas. Radagast desviou-se de seu caminho por se
importar demais com os animais e as florestas. Dos cinco Magos citados, o de maior
importância nas batalhas contra Sauron fora Gandalf, o cinzento. Aqui temos um
exemplo de contrução cultural onde o mais importante é a sabedoria e o
aconselhamento, porém não se inibe as habilidades para a luta, pois magos também
são altamente preparados para este tipo de tarefa.
Figura. 11 – Gandalf. Figura. 12 – Radagast. Figura. 13 – Saruman.
O Cinzento. O Castanho. O Branco.
Fonte: Pinterest.Com8
Fonte: Pinterest.Com9
Fonte: Pinterest.Com10
3.2.6 – Hobbits.
Os Hobbits são criaturas de baixa estatura – mais baixos que os anões –
8 – Disponível em: https://br.pinterest.com/pin/38069559330018303/ Acesso em Abr. 2017. Devian Art de Dan
Pilla.
9 – Disponível em: https://br.pinterest.com/pin/353673376970817396/ Acesso em Abr. 2017. Devian Art de
Dan Pilla.
10 – Disponível em: https://br.pinterest.com/pin/294071050653968097/ Acesso em Abr. 2017. Devian Art de
Dan Pilla.
42
que possuem uma gama muito rica quando o assunto é cultura, pois estes moram
em um canto calmo e verde da Terra-média conhecida como “O Condado”, onde a
paz absoluta reina, e é considerado louco aquele que ousa deixar as suas terras
para se aventurar em algo perigoso além da fronteira. São homens – e mulheres –
rechonchudos, com pés grandes e peludos de solas grossas, que dispensam o uso
de sapatos. Realizam de 5 a 7 refeições durante o dia, o que faz com que sempre
tenham uma despensa muito generosa com barris de vinho, muitos queijos e pães
em suas tocas. E deve-se ressaltar que apesar de viverem em tocas, estas não são
sujas e bagunçadas como pode-se perceber ao ler as primeiras páginas de “O
Hobbit” onde Tolkien detalha minunciosamente como se dispõe a moradia destes
adoráveis seres. Hobbits amam festejar e ser cordiais, com a exceção de Bilbo
Bolseiro, que considera visitas irritantes e desconfia de seus familiares distantes que
aparecem, achando que estes possuem somente interesse de tirar-lhe seus bens.
Antes de Bilbo bolseiro nunca houve nenhuma história envolvendo um Hobbit em
algum tipo de jornada, mas por estes serem pequenos e silenciosos quando querem,
que Gandalf pensou ser uma boa opção adicionar o pequenino na missão de
retomar as Montanhas Solitárias do Dragão Smaug em companhia dos 13 anões, só
não sabia ele que sua ação ligaria diretamente outro parente de Bilbo em algo muito
maior e que fazia parte da sua missão inicial ao chegar na Terra-média: Deter
Sauron. Frodo Bolseiro, sobrinho de Bilbo, carregou este fardo acompanhado da
Sociedade do Anel, composta por elfos, anões, homens, magos e outros Hobbits –
Samwise Gangi, melhor amigo de Frodo e um grande e corajoso hobbit – mostrando
que Hobbits podem sair de sua zona de conforta, enfrentar perigos e no fim triunfar,
o que foi uma grande quebra de paradigma. Hobbits namoram, se casam e
constituem família. Nas obras de Tolkien não é explicada a origem dos Hobbits, que
os criou, porém sabe-se que foram por conta destas pequenas criaturas que o autor
iniciou sua jornada na escrita deste universo fantástico. “Em um buraco no chão
vivia um hobbit…”
O que é um hobbit? Imagino que os hobbits requeiram alguma descrição
hoje em dia, uma vez que se tornaram raros e esquivos diante das Pessoas
Grandes, como eles nos chamam. Eles são (ou eram) um povo pequeno,
com cerca de metade da nossa altura, e menores que os anões barbados.
Os hobbits não têm barba. Não possuem nenhum ou quase nenhum poder
43
mágico, com exceção daquele tipo corriqueiro de mágica que os ajuda a
desaparecer silenciosa e rapidamente quando pessoas grandes e estúpidas
como vocês e eu se aproximam de modo desajeitado, fazendo barulho
como um bando de elefantes, que eles podem ouvir a mais de uma milha de
distância. Eles têm tendência a serem gordos no abdome, vestem-se com
cores vivas (principalmente verde e amarelo), não usam sapatos porque
seus pés já têm uma sola natural semelhante a couro, e também pêlos
espessos e castanhos parecidos com os cabelos da cabeça (que são
encaracolados), têm dedos morenos, longos e ágeis, rostos amigáveis, e
dão gargalhadas profundas e deliciosas (especialmente depois de jantarem,
o que fazem duas vezes por dia, quando podem).
(TOLKIEN, O Hobbit, 2009, pg. 2)
3.2.7 – Orcs e Uruk Hai.
Os orcs foram criados por Tolkien em sua literatura para representar o lado
obscuro daqueles criados por Erú e seus “anjos”. Vale ressaltar que estes possuem
ligação direta com momentos vividos pelo autor durante a sua estadia nas
trincheiras, lutando na Primeira Guerra Mundial. White (2013) em um capítulo de seu
livro, descreve as trincheiras da guerra como “tomadas pela lama, por vezes,
chegava até a cintura, sempre com um cheiro fétido, enfestada de doenças e ratos”
(p. 70), semelhança existente com a descrição dos Orcs e a forma com que eles
eram reproduzidos por Saruman em “O Senhor dos Anéis” reproduzido mais tarde
por Peter Jackson. Orcs são ótimos soldados e foram utilizados inicialmente por
Melkor e respectivamente por Sauron na batalha contra o bem, porém existem
diferenças entre suas raças, construindo assim diferentes castas.
Em “O Sillmarillion” Tolkien explicita em sua narrativa a origem dos Orcs
através de tortura, escravidão e corrompimento, referências da vida real
transmutadas em construções literárias imaginárias.
Entretanto, pouco se sabe daqueles infelizes que caíram na armadilha de
Melkor. Pois, quem, entre os seres vivos, desceu aos abismos de Utumno,
ou percorreu as trevas dos pensamentos de Melkor? É, porém, considerado
verdadeiro pelos sábios de Eressëa que todos aqueles quendi que caíram
nas mãos de Melkor antes da destruição de Utumno foram lá aprisionados,
e, por lentas artes de crueldade, corrompidos e escravizados; e assim
Melkor gerou a horrenda raça dos orcs, por inveja dos elfos e em imitação a
eles, de quem eles mais tarde se tornaram os piores inimigos.
(TOLKIEN, O Sillmarillion, 2009, pg. 49)
Em geral orcs são criaturas infelizes que odeiam tudo e todos, até a si e os
44
seus generais, mesmo os seguindo por medo. Não possuem habilidades para
construir objetos belos assim como os elfos, porém são poderosos na construção de
armas, armaduras e engenhos que podem ser utilizados em guerra. Não possuem
pudor em matar e cortar árvores para alimentar o fogo que derrete o ferro que irá
compor as suas criações. Possuem habilidades para curar ferimentos e usam em
seus ataques flechas com as pontas embebecidas em veneno. Cantam variadas
canções horrendas sobre matar e estripar, e se divertem com isso. Nas obras são
descritos como humanoides e atarracados, de pele encrostada e purulenta, seus
narizes são achatados e o sangue é negro e azedo. Estão sempre famintos e não
possuem misericórdia, comendo de carne humana a cavalos. Uma das Variações de
orc são os Uruk Hai, mais altos que o homem e mais fortes, criados por Sauron e
também por Saruman através de rituais de ressurreição. Trechos de “O Senhor Dos
Anéis” citam que os Uruk Hai podem ser Elfos que foram aprisionados e torturados
por Saruman até converterem-se para o lado da escuridão. Orcs não possuíam um
dialeto próprio, por isso, usavam uma coletânea de palavras corrompidas oriundas
de outras línguas, sendo que algumas delas são provenientes da Língua Negra de
Mordor. Em duas de suas cartas, Tolkien relata sobre a criação de idiomas
complexos e únicos ligados diretamente ao seu universo lúdico e a comparação dos
Orcs com os povos Mongol. Estes excertos foram retirados da obra “The Letters of
J. R. R. Tolkien”, onde foram compiladas cartas escritas e enviadas pelo autor ao
longo de sua vida.
Por detrás de minhas histórias existe agora um nexo de idiomas (na sua
maioria esboçadas apenas estruturalmente). Mas com aquelas criaturas
que, em inglês, eu enganosamente chamo de Elves [elfos] foram
associadas duas línguas aparentadas bastante completas, cuja história está
escrita, e cujas formas (representando duas facetas diversas do meu próprio
gosto linguístico) são cientificamente deduzidas a partir de uma origem
comum.
(TOLKIEN, 1951, Carta nº131 – Endereçada à Milton Waldman)
Os orcs são definitivamente especificados como corrupções da forma
‘humana’ vista nos elfos e homens. Ele são (ou eram) baixos, largos,
narizes achatado, pele amarelada e com bocas grandes e olhos oblíquos,
de fato, versões degradadas e repulsivas (para europeus) dos mais
desagradáveis tipos mongóis.
(TOLKIEN, 1958, Carta nº210 – Endereçada ao Milton Waldman)
45
3.2.8 – Balrogs.
Os Balrogs eram criaturas altas com cabelos cor de fogo, olhos vermelhos e
força descomunal que serviam a Melkor. Eles também eram da raça Ainur e foram
criados por Ilúvatar antes da origem de Arda, no momento em que Melkor realizava
as suas digressões em relação a canção ordenada por Eru, então estas criaturas
são tão antigas e poderosas quanto seu mestre. Portavam chicotes de fogo e
podiam controlar suas chamas assim como a escuridão. Balrogs possuem o grande
poder de prender e projetar terror.
A figura veio para a extremidade do fogo e a luz se apagou, como se uma
nuvem tivesse coberto tudo. Então, com um movimento rápido, pulou por
sobre a fissura. As chamas bramiram para saudá-la, e se ergueram à sua
volta; uma nuvem negra rodopiou subindo no ar. A cabeleira esvoaçante se
incendiou, fulgurando. Na mão direita carregava uma espada, como uma
língua de fogo cortante; na mão esquerda trazia um chicote de muitas
correias.
(TOLKIEN, O Senhor dos Anéis, 2004, p. 343)
3.2.9 – Ents.
Estes são guardiões das florestas e dos animais, criados por Eru a pedido
de Yavanna após saber que árvores seriam derrubadas pelas criaturas de seu
marido, os anões. Os Ents são então mais velhos até do que os elfos, e igualmente
respeitados. Seres silenciosos e camuflados que vivem nas florestas e só ganham
vida quando necessário. O mais antigo deles é Barbárvore. Ents são altamente
sábios e filosóficos, questionando e tentando entender as adversidades do mundo
enquanto realizam as suas tarefas, mas não pode-se deixar enganar por suas
aparências desengonçadas ao andar e o jeito curioso de olhar, pois quando
necessário esmagam o seu oponente utilizando seus grandes pés com sete dedo
sem pensar duas vezes. Em “O Senhor dos Anéis” após encontrar os hobbits Pippin
e Marry, Barbárvore convoca uma reunião com outros Ents para discutirem assim
que atitude tomar perante a invasão de Saruman e seu exército Orc, e a derrubada
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em massa de suas florestas, e esta reunião é realizada na língua dos Ents, o Entês,
que é uma língua arrastada e muito demorada, o que faz com que os pequenos
hobbits adormeçam. Apesar de pacíficos e preservadores do bem, os Ents são
ótimos guerreiros que conseguem arremessar pedras como se fossem migalhas de
pão derrubando boa parte dos inimigos.
Figura. 14 – Bárbarvore.
3.2.10 – Trolls.
Fonte: Pinterest.com11
3.2.10 – Trolls.
Tolkien descreve os Trolls de seu universo fantástico como criaturas de
imensa força porém de intelecto reduzido, sendo assim bons soldados,
principalmente quando trata-se de destruição e falta de piedade. Estes foram sub-
criação de Morgoth, o Vala, antes mesmo do inicio da primeira Era. Não se sabe ao
certo como eles foram criados, mas Barbarvore relata em “O Senhor dos Anéis” que
estas criaturas podem ter sido concebidas como um espelho dos ents, assim como
os orcs são espelhos dos elfos. Dentro da classe dos Trolls existe uma divisão por
espécies:
Trolls de pedra, que se expostos ao sol tornam-se grandes estátuas
rochosas, assim como fora apresentado na obra “O Hobbit” no momento em que
11 – Disponível em: https://br.pinterest.com/pin/501869952197874492/ Acesso em Abr. 2017.
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Bilbo e os anões eram prisioneiros de 3 orcs que pretendiam os assar e depois
devorá-los..
Os Trolls das cavernas que possuem os corpos cobertos por escuras
escamas esverdeadas e o sangue negro. Habitam as profundezas de Moria, e são
criaturas altamente agressivas. Por terem a pela espessa, são difíceis de atingir,
porém Frodo conseguiu este feito durante a batalha de Moria acompanhado da
Sociedade do Anel.
Os Trolls “Ollog-Hai” (Povo troll), habitantes dos arredores de Dol Guldur, a
fortaleza negra, e as montanhas de Mordor, são sub-criações diretas de Sauron,
para servi-lo, e diferente dos outros estes podem suportar a claridade do sol em
seus corpos. Considerados seres fortes, ágeis, velozes e astuciosos serviam
também como defesa direta dos portões de Mordor. Apesar de possuírem
características psicológicas superiores à dos outros tipos de Trolls, estes não eram
seres considerados articulados, só comunicavam-se quando necessário e sempre
utilizando a Língua Negra.
Um fator que os Trolls possuem em comum é a alimentação composta, por
carneiros, cavalos, homens, anões, e todo ser vivo que possa lhes suprir a fome.
Três pessoas muito grandes sentadas em volta de uma fogueira muito
grande de troncos de faia. Estavam assando pedaços de carneiro em
longos espetos de madeira e lambendo o caldo dos dedos. Havia um cheiro
agradável, de comida saborosa. Também havia um barril de boa bebida por
perto, e eles estavam bebendo em canecas. Mas eram trolls. Obviamente
trolls. Até Bilbo, apesar de sua vida pacata, podia perceber isso: pelas
grandes caras pesadas, pelo tamanho, pelo formato de suas pernas, para
não falar no linguajar, que estava longe de ser adequado para uma sala de
visitas, muito longe.
(TOLKIEN, O Hobbit, 2013, p. 33)
3.2.11 – Águias.
As Águias da Terra-média, são sub-criações de Manwë, o Ainu senhor dos
céus e dos Valar, viviam nas montanhas ao norte das terras de Beleriand e tinham
como principal missão vigiar as ações de Melkor, e reportá-las a Manwë em seu
palácio, na montanha mais alta de Valinor. As águias tiveram importante participação
48
nas grandes batalhas das 3 Eras da Terra-média. Lutaram ao lado dos Valar, Elfos e
Homens na Guerra da Ira, quando Morgoth fora derrotado. Colaboraram na jornada
de Thorin Escudo de Carvalho e participaram da Batalha dos Cinco Exércitos nos
campos de Erebor. Em “O Senhor dos Anéis” – 3ª Era – foram muito úteis junto a
Radagast para antecipar as movimentações dos exércitos Orcs, e na Batalha de
Morannon contra os Nazgûl. Na mitologia de Tolkien, a águia de maior importância
fora Thorondor, O senhor das Águias, considerado como o mais poderoso de todos
os pássaros que já existiu. Com uma envergadura de 54,9 metros e um bico de ouro
fora o líder das águias durante as eras.
… O Senhor das Águias emitiu um grito forte, pois Gandalf agora lhe falara,
As aves que estavam com ele voltaram e desceram como enormes sombras
negras. Os lobos gemiam e rangiam os dentes, os orcs gritavam e batiam
os pés no chão, cheios de ira, arremessando as pesadas lanças no ar em
vão. Sobre suas cabeças as águias atacavam, a arremetida negra de suas
asas derrubava-os no chão ou empurrava-os para longe, suas garras
dilaceravam as caras dos orcs. Outras aves voaram até as copas das
árvores e agarraram os anões, que agora subiam mais alto do que jamais
teriam ousado.
(TOLKIEN, O Hobbit, 2013, p. 106)
3.2.12 – Nazgûl.
Como fora citado anteriormente, Sauron forjou diversos anéis e os distribuiu
entre as espécies da Terra-média. Os homens, 9 reis, aceitaram o presente,
tornando-se assim escravos involuntários do senhor das trevas. Diferente dos outros
que retiraram e esconderam os seus anéis, estes continuaram os utilizando, o que
modificou a sua forma física, transformando-os em espectros invisíveis, podendo ser
vistos somente por Sauron – ou o portador do Um Anel.
A primeira aparição destas criaturas aconteceu em “O Senhor dos Anéis”,
após receberem notícias de que o que procuravam estava no Condado, lar dos
Hobbits, deixando assim a sua fortaleza nas Minas Morgul para iniciar a caça pelo
bem mais precioso de seu senhor. A obra de Tolkien descreve os Nazgúl com os
servos mais fiéis e impiedosos de Sauron. Por serem forçados a viver em um jundo
espectral devido ao longo período de uso dos anéis, estes trajavam mantos negros
49
com capas e capuzes para assumirem formas visíveis. No Mundo espectral, eram
ludibriados por Sauron através de visões e ilusões, já no mundo humano durante a
luz do sol, pouco podiam enxergar, os seres projetavam-se para eles como sombras,
porém durante a noite possuíam vantagem, pois podiam enxergar o que os outros
não poderiam.
Seres dotados de olfatos perfeitos, podendo rastrear o cheiro de sangue,
ao qual cobiçavam, através de grandes distâncias, além de possuírem habilidades
que forçam o portador do Um Anel a usá-lo quando presentes, para que assim o
interceptem e o levem de volta ao seu dono. Como pode-se perceber neste trecho,
estes personagens eram considerados por Tolkien verdeiros generais de guerra do
Senhor da Escuridão, traçando linhas proximais vividas pelo autor durante a
Primeira Guerra Mundial.
Além dos seres já citados, animais também possuíam grande pavor dos
Nazgûl, por essa razão cavalos especiais nascidos em Mordor – ou roubados de
Rohan e modificados – foram treinados para lhes servir de montaria. Durante a
Guerra do Anel, Sauron presenteou seus generais com novas montarias, criaturas
assustadoras com asas conhecidas como “bestas aladas”. As poucas
vulnerabilidades encontradas durante as leituras sobre seres nas obras eram a
água, ao qual evitavam ter contato, preferindo cruzá-las através de pontes ou
desvios, o fogo, e os Elfos. A mitologia de Tolkien explica que homens não podem
ferir um Nazgûl com uma arma comum, pois ao entrar em contato com a pele do
espectro, esta dissolver-se-ia em cinzas, porém com o auxílio da espada forjada por
Dúnedain – em sua luta contra Angmar – Merry Brandebuque atingiu a falange
traseira do joelho do Rei Bruxo – líder dos 9 – facilitando para que Éowyn – uma
mulher, filha do rei Théoden, senhor dos cavalos – fincasse a sua espada no espaço
entre a coroa do espectro e seus ombros o fazendo assim perecer. Aqui temos outro
exemplo de diversidade, onde uma mulher com o auxílio de um Hobbit, derrotara
uma criatura temida pelos homens. Deve-se esclarecer também que nos costumes
culturais dos homens dentro da obra, durante a Terceira Era, as mulheres não
possuíam lugar no campo de guerra, – com exceção dos elfos que conservavam a
cultura de seus antepassados, onde todos estavam aptos para lutar e defender seu
50
povo, independente de seus gêneros – Estas deveriam refugiar-se e esperar pelo
resultado das batalhas, sendo estes bons ou ruins, porém, Tolkien, em O Senhor dos
Anéis inseriu grandes figuras femininas que quebraram estes padrões. Vide o
exemplo de Éowen, que fingiu ser um soldado e lutou ao lado dos homens na
Batalha de Pellenor, e venceu.
Figura.15 – Nazgûl
Fonte: Pinterest.com12
3.2.13 – Dragões.
Seres míticos presentes desde a literatura fantástica mais primitiva, como
por exemplo a deidade da Babilônica Tiamat, considerada o antepassado dos
dragões, representando o caos. Na mitologia Tolkiniana não seria diferente. O autor
apresenta em suas obras poucas espécies draconianas, porém, quando surgem,
tornam-se peças importantes para grandes batalhas e tramas principais. Em “The
History of Middle-Earth” Tolkien nomeou somente 3 dragões, Glaurung – O pai dos
dragões, Ancalagon – O negro, criado por Morgoth, e Scatha – O poderoso verme
longo das montanhas cinzentas. Porém neste trabalho, focaremos em outro ser
desta espécie que fora a chave fundamental para a trama de “O Hobbit”: Smaug – O
Dourado. O dragão com escamas vermelhas e douradas, com pedras preciosas
12 – Disponível em: https://br.pinterest.com/pin/487936940865100845/ Acesso em Abr. 2017.
51
encrustadas entre elas – com exceção de uma falha existente na cavidade esquerda
de seu peito, onde pode-se ver sua pele negra, fruto de batalhas do passado – é
descrito pelo autor como: “especialmente ganancioso, forte e mau, o mais poderoso
de seu tempo”. Este teve a sua primeira aparição registrada durante a Terceira Era,
quando atacou a Montanha Solitária – Erebor – morada dos anões, governada por
Thrór, dizimando a sua população, e tomando para si o tesouro escavado por eles
durante anos. Este ato resulta na jornada realizada por Thorin Escudo de Carvalho –
neto de Thrór – e sua companhia, 171 anos após o ataque de Smaug, em busca de
recuperar a morada de seus antepassados. Sendo aconselhados por Gandalf, os
anões recrutam no condado um Hobbit, intitulado como ladrão, para invadir a toca
de Smaug nos calabouços de Erebor e assim roubá-lo. Esta decisão fora tomada
porque o dragão possuía o faro muito aguçando, podendo identificar a quantidade
de anões que compunham a companhia de Thorin assim que eles adentraram no
reino, sendo assim um Hobbit do Condado seria uma ótima escolha, já que o vilarejo
ficava no extremo da Terra-média, e Smaug não possuía conhecimento de sua
existência.
Smaug fora derrotado por Bart, um homem, que lhe acertou uma flecha
negra na vulnerabilidade de sua armadura, após o plano dos anões falhar,
resultando na ira do dragão, que alçou voou para fora da montanha incendiando a
cidade do lago como represália. Após a queda de Smaug, não testemunhou-se mais
a presença de nenhum dragão na Terra-média.
Imagem. 16 – Os Dragões da Terra-média.
Fonte: TolkienBrasil.com 13
13 – Disponível em: http://tolkienbrasil.com/artigos/colunas/garth/escala-dos-dragoes-por-que-e-impossivel-
52
3.2.14 – Sauron.
Temos aqui um caso de transmutação de personagem, pois como pode ser
visto anteriormente no relato da história das Eras da Terra-média, Sauron, era um
Ainu, servo de Melkor, porém após a sua derrota na guerra contra elfos, homens e
anões, este refugiou-se em Dol Guldur, enfraquecido, sem uma forma física,
escondendo-se nas sombras pelos próximos 400 anos. Em “O Hobbit” Sauron é
citado como “O Necromante”, pois os habitantes e protetores da Terra-média –
Magos e Altos Elfos – não desconfiavam de sua nova morada, e este rumor fora um
dos motivos para Gandalf procurar por Thorin e incentivá-lo a seguir em sua jornada
contra Smaug, pois ele temia que o Necromante juntasse forças com o dragão e
outros inimigos existentes para trazer novamente tempos de trevas ao mundo.
Figura.17 – Sauron – Vala. Figura.18 – A Ascensão. Figura 19 – O Olho de fogo.
Fonte: Tolkiengateway.net14
Fonte: Pinterest.com15
Fonte:Pinterest.com16
A grande revelação ocorreu quando Gandalf buscou por respostas indo a
Dol Guldur, sendo assim aprisionado pelo necromante. Testemunhando o sumiço do
mago, o Conselho Branco, composto pela senhora Galadriel, Saruman, Elrond e
medir-terra-media-de-tolkien/ – Acesso em Abr. 2017.
14 – Disponível em: http://tolkiengateway.net/wiki/Sauron – Acesso em Abr. 2017.
15 – Disponível em: https://br.pinterest.com/pin/337066353342298361/ – Acesso em Abr. 2017.
16 – Disponível em: https://br.pinterest.com/pin/527554543833062170/ – Acesso em Abr. 2017.
53
Radagast, foi em sua busca. Em Dol Guldur enfrentaram os Nazgûl em suas formas
espectrais, e revelaram a identidade do Necromante, Sauron, que fora detido pelo
grande poder de Galadriel e transmutado em energia. Após este acontecimento
Sauron migrou para as terras negras de Mordor, onde estalou-se no alto de uma
torre, observando e planejando o seu contra-ataque. A queda final ocorreu quando
enfim Frodo Bolseiro – sobrinho de Bilbo – alcançou a Montanha da Perdição e
destruiu o “Um Anel” com o auxílio involuntário de Gollum.
3.2.15 – Sméagol / Gollum.
Neste tópico, será realizada a descrição de umas das criações de Tolkien
com maior grau de mutabilidade, pois diferente de Sauron, o pobre e obcecado
Sméagol, passou por transmutações físicas e psicológicas ao longo de sua vida.
Nascido Hobbit, e habitante dos Vales de Anduín, próximo aos Campos de Lís –
ocupando a classificação de Povo do Rio, diferente de Bilbo e Frodo que eram
Bolseiros do Condado – Sméagol saiu com seu primo, Déagol, no dia de seu
aniversário para pescar. A versão cinematográfica da obra mostra que durante a
atividade Déagol foi arrastado por um grande peixe para o fundo do rio, onde
escondido entre pedras e areia estava o Um Anel, desaparecido desde o
corrompimento de Isildur – como foi relatado no capítulo anterior. A cobiça de
Sméagol pelo objeto o fez estrangular o primo, que lutou porém não resistiu. Pode-
se reparar neste ponto a força que o anel tem perante as criaturas, possuindo assim
vontade própria. Após seu ato de egoísmo, Sméagol escondeu o corpo do primo
onde nunca fosse encontrado e retornou para sua casa. Usando os poderes do anel
como ferramenta, o Hobbit cometeu pequenos atos criminosos, o que fez com que a
família passasse a desprezá-lo. Por conta da influência do anel, este começou a
fazer estranhos barulhos com a garganta, como se estivesse engasgado, o que lhe
resultou o apelido pelo qual seria conhecido durante o restante de sua vida na Terra-
média, Gollum.
Após ser expulso de casa por conta de seus feitos, Gollum vagou pela
floresta, seguindo as margens do rio Anduin, para mais tarde instalar-se nas
54
montanhas sombrias. A Luz do sol já o incomodava, e o corpo passou por mudanças
constantes. Perca dos cabelos, a pele perdera cor e textura, os seus membros
tornaram-se desproporcionais, houve perca de dentes – restando-lhe apenas seis
deles, afiados o suficiente para devorar a carne crua dos peixes e dos Orcs menores
que este caçava durante a noite – e a dilatação de seus olhos. O que era um Hobbit,
agora havia tornado-se uma nova criatura, astuta, sanguinária e obcecada pelo “seu
precioso”, o Anel de Sauron.
As estruturas mentais de Sméagol também sofreram modificações, pois o
assassinato de Déagol ainda o assombrava, e o poder do anel o endurecera, criando
assim uma dualidade de personalidade, travando uma batalha entre consciente e
inconsciente. Apesar dos 500 anos em que viveu isolado nas entranhas da
montanha, Gollum não pereceu, por conta de suas raízes de Hobbit, que reforçam a
resistência desta raça.
O personagem fora introduzido por Tolkien inicialmente em “O Hobbit”,
descrevendo o momento em que Bilbo, após separar-se da Companhia de Thorin,
perde-se e acaba dentro da toca de Gollum, onde encontra o Um Anel, brilhando na
escuridão lamacenta, guardando-o no bolso. – deve-se ressaltar aqui que segundo
Tolkien, o anel possuía vontade própria e podia sentir que seu mestre recuperava as
energias planejando seu retorno, sendo assim, abandonou Gollum, enquanto este
procurava por alimento.
A criatura após perceber a presença de Bilbo, o interrogou, com intenção
de devorá-lo, porém não obteve sucesso, pois fora derrotado em uma competição de
adivinhos, onde O Hobbit venceu ao perguntar para Gollum o que ele tinha no bolso.
Bilbo escapou das garras de Gollum, que desesperado gritou e amaldiçoou a raça
dos Hobbits, esquecendo que ele mesmo já fora um.
O personagem retorna em “O Senhor dos Anéis”, porém com um
envolvimento maior, e grande importância no decorrer da trama. Gollum é o
responsável por dizer a Sauron a localização do Um Anel após ser capturado e
torturado, dando poder assim ao senhor da escuridão para que este enviasse seus
soldados espectrais até o Condado, para onde Bilbo havia retornado e entregue o
objeto ao seu sobrinho Frodo Bolseiro. Vemos também durante toda a jornada da
55
Sociedade do Anel, que o ser esquelético os segue, escondido, com esperanças de
recuperar o que lhe pertencia, até que em certo momento os caminhos de Frodo,
Sam e Gollum cruzam-se, resultando em manipulações, mentiras e rotas tortuosas.
Figura.20 – Smeagol. Figura.21 – Gollum.
Gollum antes de sucumbir ao poder Depois das mutações sofridas ao
do Um Anel de Sauron. longo dos anos o pequeno Hobbit
Fonte: O Autor (2017)17
tornou-se frio e suvino.
Fonte: Pinterest.Com18
Apesar de Gollum ser considerado um ser detestável, durante a trama de
“As Duas Torres”, Frodo consegue estabilizar o personagem, mantendo a parte boa
presente, porém ao ver o anel pendurado no pescoço do Hobbit, a criatura perde-se
na cobiça tornando a ser perigoso.
Pode-se afirmar que este personagem e sua estrutura cultural foram de
grande importância para a vitória daqueles que lutavam a favor da luz na Terra-
média, pois após chegar na montanha da perdição, Frodo, já influenciado pelos
poderes do anel recusou a destruí-lo, assim como Isildur, resultando em uma última
luta contra Gollum, que após arrancar o dedo indicador esquerdo do adversário,
desequilibrou-se ao comemorar sua retomada caindo na lava do vulcão, levando
consigo o objeto dourado que ali fora forjado por Sauron, resultando assim em sua
destruição, e o fim definitivo da Guerra do Anel.
17 – Imagem retirada da reprodução cinematográfica da obra, O Senhor dos Anéis – O Retorno do Rei, editada
pelo autor desta pesquisa.
18 – Disponível em: https://br.pinterest.com/pin/238761217721157183/ – Acesso em Abr. 2017.
56
Figura.21 – O Um Anel.
Três Anéis para os Reis-Elfos sob este céu;
Sete para os Senhores-Anões em seus rochosos corredores;
Nove para os Homens Mortais fadados a morrer;
Um para o Senhor do Escuro em seu Escuro Trono,
Na terra de Mordor, onde as Sombras se deitam.
Um Anel para a todos governar, Um Anel para encontrá-los,
Um Anel para a todos trazer e na Escuridão aprisioná-los,
Na terra de Mordor, onde as Sombras se deitam.
Fonte: Armada Rebelde de Mordor.19
19 – Disponível em: http://armardarebeldemordor.blogspot.com.br/2015/12/como-surgiu-o-um-anel.html –
Acesso em Abr. 2017.
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A Diversidade Cultural presente na literatura Fantástica de J.R.R. Tolkien.

  • 1. FACULDADE DA ALDEIA DE CARAPICUÍBA CURSO DE LETRAS LICENCIATURA EM LÍNGUA PORTUGUESA E LÍNGUA INGLESA BRUNO MOREIRA RAMOS A DIVERSIDADE CULTURAL PRESENTE NA LITERATURA FANTÁSTICA DE J.R.R. TOLKIEN. CARAPICUÍBA 2017
  • 2. BRUNO MOREIRA RAMOS A DIVERSIDADE CULTURAL PRESENTE NA LITERATURA FANTÁSTICA DE J.R.R. TOLKIEN. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade da Aldeia de Carapicuíba para obtenção do título de Licenciatura em Letras – Língua Portuguesa e Língua Inglesa, sob orientação do Prof. Me. Renato José de Souza. CARAPICUÍBA 2017
  • 3. FICHA CATALOGRÁFICA RAMOS, Bruno Moreira. A diversidade cultural presente na literatura fantástica de J. R. R. Tolkien / Bruno Moreira Ramos. – Carapicuíba: 2017. 60f.; 30 cm. Orientação: Renato José de Souza. Trabalho de conclusão de curso (Licenciatura) – Faculdade da Aldeia de Carapicuíba. Inclui bibliografia e índice. 1.Literatura inglesa 2.Literatura fantástica 3.Diversidade cultural 4.J.R.R. Tolkien I.Título. CDD 820
  • 4. BRUNO MOREIRA RAMOS A DIVERSIDADE CULTURAL PRESENTE NA LITERATURA FANTÁSTICA DE J.R.R. TOLKIEN. TCC aprovado como requisito parcial para obtenção do título de Licenciatura em Letras pela seguinte banca examinadora: Prof. Me. Renato José de Souza Faculdade da Aldeia de Carapicuíba ____________________________ Prof. Faculdade da Aldeia de Carapicuíba ____________________________ Prof. Faculdade da Aldeia de Carapicuíba ____________________________ CARAPICUÍBA 2017
  • 5. À minha mãe, Aldrei Elisa Moreira, por sempre me incentivar a ler e me apresentar mundos inesquecíveis.
  • 6. AGRADECIMENTOS Início estes agradecimentos dizendo que a experiência de cursar licenciatura em Letras muito acrescentou em minha vida, tornando-me tanto um ser humano, quanto um profissional evoluído. Realizando assim estas alegações, devo agradecer primeiramente a minha mãe Aldrei Elisa Moreira, que formada na mesma instituição me encaminhou e encorajou a enfrentar um curso, que em primeira vista, não seria a minha escolha, mas que tornou-se parte de mim, enraizando-se em minha cerne. Agradeço também a minha irmã, Brenda Moreira Ramos, e a minha avó, Diná de Jesus Fernandes, por aguentarem todos os meus chiliques pós aula, e o nervosismo em época de semestrais. Não posso fechar esta fase e esquecer do meu irmão de consideração maior, Felipe S. Lima, que em toda as vezes que precisei de ajuda para desenhar cartazes e cartoons para os seminários estava lá, sentados por horas, rabiscando e colorindo ao meu lado. E também de todas as risadas e os momentos de descompressão pós barracos de sala de aula. Ao entrar na faculdade, conheci pessoas novas, realizei conexões importantes para a minha evolução acadêmica, também presenciei e participei de conflitos, pois sabemos que o mundo não é um paraíso onde todos dançam envolta de fogueiras felizes a cantar, mas também obtive amizades de grande peso, que levarei comigo a partir deste ponto, e a estes também devo um largo muito obrigado, por todas as parcerias e seminários muito bem desenvolvidos que muito me orgulham. Obrigado ao paredão classe A, Cecília Ávila, Karen Santos Maganha e Fábio Maganha. Amo-os. Enfim, devo apontar os principais motivadores de minha evolução neste período de três anos, meus mestres, que admiro, me espelho e respeito imensamente: Prof. Cláudio Antônio Guerrero e a suas fórmulas mágicas da Língua Inglesa; Prof. Daniel Ferreira do Nascimento e os ensinamentos de como escrever formalmente; Prof. Alessandro Lopes Costa e a psicologia da educação; Profa. Kátia Cândido, com seu lindo sorriso e os contos de fadas sempre interacionais; O
  • 7. compreensivo e sempre reforçador Prof. Valdevino, com assuntos muito interessantes e agregadores; A beleza da ilha dos amores de Camões, através das aulas da Profa. Isabelle Regina de Amorim; O sotaque britânico, o jeito canastrão e a qualidade no ensino de língua inglesa demonstrado pelo Prof. Michel França; A quebra do meu preconceito bobo com a literatura portuguesa e as inserções teatrais dentro da faculdade são méritos da Profa. Rogéria Freire. Inicialmente com poucas palavras, mas, falando muito, o Prof. Ednilson Santos me mostrou outra visão do mundo, a qual sou grato e respeito muito, libras, estudarei mais sobre; Prof. William Ruotti, um mestre a qual eu temi durante um bom tempo, que nos acompanhou do primeiro dia ao último e que me fez sorrir, chorar e surtar, mas que no fim, me fez querer ser igual a ele quando crescer. Profa. Ângela Maria Gasparetti, a professora que tenho orgulho – e permissão – de chamar de Vó, mesmo não tendo parentesco. Um sonho seria para mim, ser neto de uma senhora tão inteligente, e amante da literatura, que te fala sobre os autores como se estes, jogassem conversa fora ao seu lado acompanhados de uma xícara de café. Obrigado por me adotar, amo-te. E por fim e não menos importante, Prof. Renato José de Souza, os diálogos constantes em inglês, as aulas sobre literatura, o grande Gatsby, os conselhos profissionais, a confiança em me selecionar para lecionar aulas de nivelamento para as outras turmas, e principalmente, a paciência que manteve ao se tornar o meu orientador desta pesquisa, e durante todo o processo. Assim, finalizo este longo discurso de agradecimento, reforçando que todos contribuíram, de formas diferentes para a minha formação acadêmica, e serei eternamente grato por todas as experiências, aprendizados, broncas e avaliações que foram feitas. Vocês fizeram de mim um profissional do ensino, sendo assim, eu assumo a partir de hoje a missão de transmitir mundo à fora, os ensinamentos que me foram doados, de forma íntegra e sincera. Gratidão.
  • 8. Sam: Isso não é justo. Na verdade, nem devíamos estar aqui. Mas estamos. É como nas grandes histórias, Sr. Frodo. As que tinham mesmo importância… eram repletas de escuridão e perigo. E, as vezes, você não queria saber o fim… porque como podiam ter um final feliz? Como podia o mundo voltar a ser o que era… depois de tanto mal? Mas, no fim, é só uma coisa passageira… essa sombra. Até a escuridão tem de passar. Um novo dia virá. E, quando o sol brilhar, brilhará ainda mais forte. Eram essas as histórias que ficavam na lembrança… Que significavam algo. Mesmo que você fosse pequeno demais para entender por quê. Mas acho, Sr. Frodo, que eu entendo, sim. Agora eu sei. As pessoas dessas histórias… tinham várias oportunidades de voltar atrás, mas não voltavam Elas seguiam em frente… porque tinham no que se agarrar. Frodo: E em que nós nos agarramos, Sam? Sam: No bem que existe neste mundo, Sr. Frodo… pelo qual vale a pena lutar. (TOLKIEN.J.R.R, O Senhor dos Anéis, As Duas Torres, 1991)
  • 9. RESUMO Este trabalho tem por objetivo relatar a presença da diversidade cultural dentro das obras do literário britânico J.R.R Tolkien, através de estudos e análises da vida do autor, suas influências artísticas, além de demonstrar o conceito de literatura, a estrutura da literatura fantástica e suas vertentes. Este trabalho foi realizado através de pesquisas e fundamentação teórica com base em Lajolo, Todorov, Lovecraft, White e Tolkien. Palavras-chave: Literatura Inglesa. Literatura Fantástica. Diversidade Cultural. J.R.R. Tolkien.
  • 10. ABSTRACT This paper aims to report the cultural diversity within the works of the British literary J.R.R. Tolkien, through studies and analyzes of the author's life, his artistic influences, and demonstrate the concept of literature, a structure of fantastic literature and its aspects. This work was carried out through research and theoretical foundation based on Lajolo, Todorov, Lovecraft, White and Tolkien. Keywords: English Literature. Fantastic Literature. Cultural Diversity. J.R.R. Tolkien.
  • 11. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 – A trindade fantástica…………………….…..………………………………...23 Figura 2 – John Ronald Ruel Tolkien...……….……….…………………………………26 Figura 3 – O Criador da Terra-média…….…….…………………………………………26 Figura 4 – O Mapa da Terra-média….……………………………………………………34 Figura 5 – Galadriel…………………..………….…………………………………………37 Figura 6 – Elrond…….…………....….………….…………………………………………37 Figura 7 – Thranduil……………....….………….…………………………………………37 Figura 8 – Aragorn..……………....….………….…………………………………………38 Figura 9 – Éowyn………………....….………….…………………………………………38 Figura 10 – Anões...……………....….………….………………………………………...40 Figura 11 – Gandalf.…...………....….………….………………………………………...41 Figura 12 – Radagast...…………....…...……….………………………………………...41 Figura 13 – Saruman……………..….………….…………………………………………41 Figura 14 – Barbárvore………......….………….…………………………………………46 Figura 15 – Nazgûl……………......….………….………………………………………...50 Figura 16 – Os Dragões da Terra-média..…….…………………………………………51 Figura 17 – Sauron – Vala…………………..….…………………………………………52 Figura 18 – A Ascensão……….....….………….…………….….…..……………………52 Figura 19 – O Olho de Fogo…......….………….…………………………………………52 Figura 20 – Gollum..……………......….………….………………………………….……55 Figura 21 – Sméagol...….……......….………….…………………………………………55 Figura 22 – O Um Anel…...………………………………………………………………..56
  • 12. SUMÁRIO INTRODUÇÃO………….………………………………………………………..…………13 1. CONCEITO DE LITERATURA..….………….……………...…………………………16 1.1 Definição do fantástico………………….……………….…………………………….20 1.2 A trindade fantástica……………………………………………………………………22 2. TOLKIEN………………………………….. …………………………………………….24 3. DIVERSIDADE CULTURAL.…………..………………………………………..….….27 3.1 Uma breve visão das 3 eras da Terra-média.…..…………………………………..29 3.2 Os habitantes de Arda…………………………………………………………………35 3.2.1 Ainur…..…………………………….…………………………………………..35 3.2.2 Elfos.…..…………………………….….…………………………….……..….36 3.2.3 Homens…...…………………….…….………………………………………..37 3.2.4 Anões……..……………………….….……………………………………...…39 3.2.5 Istari…………………………………………..…………………………………40 3.2.6 Hobbits…….…………………………...……………………………………….41 3.2.7 Orcs e Eruk Hai…………………………..……………………………………43 3.2.8 Balrogs………………………………………...………………………………..45 3.2.9 Ents………..…………………..………………………………………………..45 3.2.10 Trolls……...……………………………………………………………..…….46 3.2.11 Águias……………………..…………………………………………………..47 3.2.12 Nazgûl………………………………...……………………………………….48 3.2.13 Dragões………………………………..……………………………………...50 3.2.14 Sauron…………………………………..…………………………………….52 3.2.15 Sméagol / Gollum.….…………….……….…………..………………………53 CONSIDERAÇÕES FINAIS……………………………………………………………….57 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS………………………..……………………………59
  • 13. 13 INTRODUÇÃO Diversidade cultural é o conceito responsável por organizar, e caracterizar os diferentes aspectos que representam a cultura da população de um determinado território, através da catalogação de tradições, costumes, forma de organização politica e familiar, comidas típicas, música e linguagens utilizadas por estes. Levando esta ferramenta em consideração, este trabalho, utiliza-se das obras do autor britânico J.R.R. Tolkien para demonstrar como a mesma fora utilizada pelo autor na construção de seu universo literário, rico em diversidade. Desta forma, a Terra-média criada por Tolkien, tornou-se um grande berço de civilizações, cada uma contendo costumes e formas de interação próprios, movidos por diferentes propósitos, compostos por diferentes espécies, castas e alianças, possuindo em sua trama experiências extraídas do mundo real, vividas pelo autor, de referências literárias primitivas, ou por aqueles que o cercaram no período de sua infância, até a fase adulta. Diante dos dados citados acima, pode-se chegar a compreensão de que toda a sociedade é composta por diferentes grupos. Mesmo dentro de uma metrópole, como o estado de São Paulo, existem diversas comunidades que interagem de formas peculiares. O que não é diferente dentro da literatura fantástica, de Tolkien, que possuí grande extensão territorial. Portanto, buscou-se reunir dados e informações com o propósito de responder a seguinte questão: De que forma é composta a diversidade cultural presente na Terra-média criada por J.R.R. Tolkien? Esta pesquisa tem como objetivo analisar, por meio da leitura e fichamentos das três principais obras de Tolkien, os habitantes da Terra-média que compõem os grupos, e subgrupos interacionais, formando assim diferentes comunidades responsáveis por gerar formas de cultura diversificadas. Para alcançar este objetivo fora necessário antes realizar algumas digressões que ajudassem o leitor a compreender como estrutura-se o universo literário fantástico, para isso, questionou-se o que é literatura, as definições da
  • 14. 14 literatura fantástica e sua trindade – Terror, Fantasia e Ficção Cientifica – o percurso de vida do autor até o momento de sua criação literária, além das funções da diversidade dentro de uma sociedade. O Universo Tolkiniano é responsável por influenciar outros autores, como, C.S. Lewis, autor de “As Crônicas de Nárnia” e George R.R. Martin, escritor das ”Crônicas de Gelo e Fogo”. Literaturas fantásticas voltada a fantasia que também possuem uma grande gama de personagens e culturas. Nesse contexto, a proposta deste trabalho científico visa descrever os padrões estabelecidos por Tolkien ao desenvolver os personagens de sua literatura e a forma com que ele os dispôs na Terra-média, reagindo assim as vontades do escritor, porém ganhando liberdade para além de seu criador por portarem características socioculturais específicas. Para a realização deste presente trabalho foram realizadas pesquisas bibliográficas, além de assuntos que melhor colaborariam para a compreensão de certos conceitos, como, a literatura e a diversidade cultural. Publicações importantes foram utilizadas – além do próprio J.R.R Tolkien, alvo da pesquisa – como por exemplo Tvetan Todorov, C.S Lewis, Michael White, Marisa Lajolo, Karin Volobeuf, Edgard Allan Poe e H.P Lovecraft. Este trabalho estrutura-se em três capítulos. São apresentados no primeiro as definições de Literatura, segundo Lajolo (1982), em seguida neste mesmo capítulo, expõe-se a concepção de Literatura Fantástica de acordo com Todorov em “Introdução à Literatura Fantástica” (2008) e as sub-vertentes deste gênero, nomeados de Trindade Fantástica. No segundo capítulo é realizada a descrição da linha do tempo que seguiu Tolkien a partir de seu nascimento, pontuando as suas perdas familiares, os desencontros e as vivências que colaboraram para a construção de seu caráter, e as experiências que o influenciaram direta ou indiretamente na escrita de suas obras, dados estes relatados na biografia autorizada escrita por White com o título “J.R.R. Tolkien o Senhor da Fantasia”(2013). No capítulo seguinte são explicados os significados da diversidade cultural dentro de sua amplitude mundial, utilizando como fundamentação documentos da UNESCO e dados qualitativos / quantitativos. É apresentado também neste capítulo a descrição dos principais fatos envolvendo as
  • 15. 15 Três Eras da Terra-média, tendo início em sua criação através de Eru, o solitário, tendo seu fim no momento em que vemos a transmutação de um personagem específico que encerra a relevância desta narrativa. Logo após, é realizada a catalogação das criaturas conscientes que habitam o Universo Tolkiniano, levando em consideração, as suas espécies, culturas, hábitos alimentares, línguas faladas, e ações que melhor caracterizam as suas personalidades sociais. Dados estes retirados de três obras do autor alvo desta pesquisa, sendo estes “O Sillmarillion”, “O Hobbit” e “O Senhor dos Anéis”.
  • 16. 16 1. CONCEITO DE LITERATURA. O que podemos compreender por arte literária e suas funções dentro da sociedade? A literatura é uma ferramenta que permeia o homem ha séculos, desde o início de sua existência, sendo utilizada com o intuito de armazenar e disseminar dados históricos e culturais, passados de uma geração para a outra, em diversos formatos. A citação "arte literária é mimese (imitação); é a arte que imita pela palavra" do filósofo da Grécia clássica Aristóteles, explicita bem esta intenção de uso, pois a partir da vida real e situações que estruturam o cotidiano pode-se criar obras literárias. É possível, entre os mais jovens, que haja certo estranhamento e dificuldade para explicar o que é literatura quando questionados, porém é importante destacar que estamos cercados por ela. Logo nas primeiras páginas da obra de Lajolo (1982), uma das referências a serem usadas para fundamentar este capítulo, encontramos a seguinte citação que diz: …a literatura existe. Ela é lida, vendida, estudada. Ela ocupa prateleiras de bibliotecas, colunas de estatísticas, horários de aulas. Fala-se dela nos jornais e na TV. Ela tem suas instituições, seus ritos, seus heróis, seus conflitos, suas existências. Ela é vivida cotidianamente pelo homem civilizado e contemporânea como uma experiência específica que não se assemelha a nenhuma outra. (R. Escarpit, Le Littéraire et le social) (LAJOLO, 1982, p. 05) Pode-se entender então que a humanidade é cercada por literatura, mas quais são as suas definições, funções e principalmente qual a validade de se escrever obras literárias em dias atuais? O sociólogo norte-americano Marshal McLuhan afirmou a um grupo de escritores em um congresso do Pen Club que eles eram os últimos de sua espécie pois “já não serve para nada escrever e publicar livros” (Lajolo, 1982, p. 07), opinião contrária a do Professor Vitor Manuel de Aguiar e Silva, “A literatura não é um jogo, um passatempo (…), mas uma atividade artística que, sob multiformes modulações, tem exprimido e continua a exprimir, a alegria e a
  • 17. 17 angústias, as certezas e os enigmas do homem” (Lajolo, 1982, p. 07). Aguiar defende as propriedades e a importância da escrita destas obras, levando em consideração, a expressão de sentimentos e dúvidas ligadas ao homem, citando autores como Ésquilo, Ovidio, Shakespeare e Sholokhov, pontuando que a literatura é mutável e continua, havendo variações de tempo e modo. Opiniões divergentes que foram construídas por posições cultas inseridas por tradições culturais, temporais e socioeconômicas. A definição do que se enquadra ou não dentro da nomenclatura dada como literatura pode ser muito ampla, e a partir do seguinte questionamento realizado por Lajolo (1982) em sua obra que diz: “Será que é errado dizer que literatura é tudo aquilo que cada um considera literatura?” Pode-se chegar a reflexão de que existem determinados gêneros que se caracterizam, e se encaixam neste formato, como os contos, os best-sellers que são produzidos para um publico direcionado quase de forma industrial, as obras menos conhecidas, uma série de poesias escritas e guardadas na gaveta, e também as publicações que possuem diretamente objetivos de retorno financeiro, como feito pelo escritor James Frey com a obra Infanto juvenil “Endgame – O Chamado”. O autor, em entrevista à agência EFFE, afirmou que não se envergonha de produzir uma obra com claro apelo comercial. James Frey disse ainda que escreveu o livro mais divertido que poderia para um leitor cada vez mais entediado com o que lhe é ofertado pelo mercado. (Site Correio Braziliense “Escritor oferece US$ 500 mil para quem solucionar mistério de Endgame” 14/10/2014) Esta dúvida sobre o que se enquadra na literatura não é somente dos indivíduos fora dos meios acadêmicos ou literários, pois escritores de prestígio da literatura brasileira como Mário de Andrade e Rubem Braga, que apesar de não ocuparem a academia, também colaboraram com indagações para chegarem a uma conclusão, sendo assim, pode-se afirmar que literatura é tudo o que foi citado e também pode não ser, vai depender variavelmente do ponto de vista do sentido da palavra, além da situação a qual esta inserida a discussão sobre o assunto. Porém, realizando uma colocação mais técnica sobre o assunto pode-se
  • 18. 18 dizer que a literatura funciona como um objeto social, e que para ela existir inicialmente necessita-se de dois pontos: primeiro, precisa ser escrita por um indivíduo, e em seguida lida por uma outra pessoa realizando um intercambio social – porém sabe-se que entre estes dois lados existe um corredor comercial muito grande envolvendo grandes corporações de edição, formatos gráficos e estéticos, além das livrarias e seus valores, o que acaba por afastar de certa forma aquele que deveria ser o maior beneficiado por estes conteúdos –. E para que esta obra seja, por fim, autenticada como Literatura – com L maiúsculo – é necessário que ela passe por avaliações que cumpram referendar a literariedade da mesma, atividade esta realizada por indivíduos especializados, como os cavalheiros que compõem a academia brasileira de letras, a crítica, a universidade e os intelectuais. É interessante citar também que uma literatura para ser considerada clássica não necessita ser contemporânea e nem da época dos escritores da Grécia e Roma antiga, ou da Portugal de Camões, e sim que sejam reconhecidas pelos grupos citados anteriormente como bem produzidas. A literatura é um objeto tão mutável que é imprescindível a hipótese de renovação, o que pode-se constatar no trecho a seguir da obra de Lajolo. O que é literatura é uma pergunta que tem várias respostas. E não se trata de respostas que paulatinamente, vão se aproximando cada vez mais de uma grande verdade, da verdade verdadeira. Não é nada disso. Não existe uma resposta correta, por que cada tempo, cada grupo social tem sua resposta, sua definição para literatura. Respostas e definições – vê-se logo – para uso interno. (LAJOLO. 1982, p. 24/25) Culler (1999) também exprime características que colaboram para a construção da definição de literatura e a sua utilidade na sociedade. A literatura, poderíamos concluir, é um ato de fala ou evento textual que suscita certos tipos de atenção. Contrasta com outros tipos de atos de fala, tais como dar informação, fazer perguntas ou fazer promessas. Na maior parte do tempo, o que leva os leitores a tratar algo como literatura é que eles a encontram num contexto que a identifica como literatura: num livro de poemas ou numa seção de uma revista, biblioteca ou livraria. (CULLER. 1999, p. 34) Estando ciente então da forma em que a literatura classifica-se, pode-se
  • 19. 19 agora entrar em outra parte de sua composição. A literatura é ficcional e construída pelo homem para imitar a vida, como foi dito inicialmente pela citação de Aristóteles. Inserida no domínio das artes, a literatura se expressa através das palavras, podendo utilizar como ganchos iniciais eventos dos cotidianos, situações que de certa forma incomodam e até mesmo história dos povos que constituem uma certa comunidade, e a partir disso através dos olhos de um escritor se tornar viva, mas não uma obra descritiva presa a realidade, e sim uma obra transposta para uma realidade imaginária. Diferente do que se pensa esta forma de arte não se reduz somente a forma escrita e quebra o estado etimológico da palavra, derivada do latim, “Littera” – letra – o que nos leva novamente aos povos antigos de muitas civilizações, como os Gregos que narravam “A Ilíada” em seus 15.693 versos, as sagas islandesas e o Beowulf anglo-saxônico que foram, presumivelmente, cantados ou entoados por rapsodos e bardos profissionais, séculos antes de terem sido passados para o papel. Servindo como ferramenta direta na transmissão de informações entre escritor e leitor, a literatura, pode suportar em suas estruturas realidades ficcionais próximas ao mundo real, fazendo com que o outro, coloque-se naquela situação narrada chegando a uma reflexão sobre esta, ou simplesmente totalmente imaginativas onde transporta o leitor para mundos novos, e cheios de coisas que seu consciente nunca ousou construir, ou ainda, quebrar estas regras e acomodar os dois mundos em um só espaço, de maneira fantástica. O que nos leva ao próximo assunto desta pesquisa.
  • 20. 20 1.1. Definição do Fantástico Agora que foram esclarecidas as principais características e as funções que compõem a literatura em um todo, pode-se realizar o recorte de uma de suas vertentes: A literatura fantástica. Esta, composta por três subgêneros, ao qual tomo a liberdade de utilizar a nomenclatura de trindade fantástica. Neste trecho da pesquisa, serão explorados os três pontos que compõe esta trindade, ampliando, através de citações de escritores da área, e a exposição de obras, o conhecimento sobre transcender o real, utilizando o lúdico como principal ferramenta, colaborando no entendimento da construção do universo Tolkiniano. Na obra “Introdução à literatura fantástica”, Tzvetan Todorov (2008), nos mostra que a literatura fantástica é composta por uma linha tênue, que transita entre o real e o imaginário, utilizando como exemplo o trecho da obra “O diabo apaixonado” de Jacques Cazotte, novela escrita em 1772, que trouxe justamente o embate entre o homem e a figura do diabo, que atualmente pode ser tratado de forma mais branda, porém naquela época ilustrava bem o conflito entre o homem e a imoralidade que o cercava. …definição do fantástico. Este exige que três condições sejam preenchidas. Primeiro é preciso que o texto obrigue o leitor ... a hesitar entre uma explicação natural e uma explicação sobrenatural ... A seguir esta hesitação pode ser igualmente experimentada por uma personagem; ... Enfim, é importante que o leitor adote uma certa atitude para com o texto: ... Estas três exigências não têm valor igual. A primeira e a terceira constituem verdadeiramente o gênero; a Segunda pode não ser satisfeita. (TODOROV. 2008, p. 38/39) O Autor explica em sua obra que o fantástico habita entre dois pontos. Denominado como “vacilação” este está entre a incredulidade total em um fato e a fé absoluta. Ao colocar-se entre estes dois pontos, encontramos um equilíbrio, porém existem outros fatores atenuantes para que isso aconteça. O leitor precisa realizar uma conexão com o personagem – ou personagens – da obra, pois a vacilação
  • 21. 21 deste é a primeira condição do fantástico, porém, este é um fenômeno facultativo, que pode ou não se fazer presente. É importante também que o leitor tome determinada atitude frente ao texto reagindo as atitudes e ações tomadas pela narrativa, sendo estas de cunho simples ou mais complexas. Primeiro, é preciso que o texto obrigue o leitor a considerar o mundo das personagens como um mundo de criaturas vivas e a hesitar entre uma explicação natural e uma explicação sobrenatural dos acontecimentos evocados. A seguir, a hesitação pode ser igualmente experimentada por uma personagem (...). Enfim, é importante que o leitor adote uma certa atitude para com o texto: ele recusará tanto a interpretação alegórica quanto a interpretação “poética” (TODOROV, 2008, p. 39) Os estudos de Volobuef (2000) relatam que com o avançar dos anos a Literatura Fantástica deixou de ser utilizada somente em romances com intuito de assustar os leitores e tomou formas mais sutis, deixando de apavorar e emocionar para adentrar esferas temáticas mais complexas e reflexivas, como a ciência e a evolução do homem, a angustia existencial, desigualdade social, burocracias e a opressão. O que remete a uma das pontas do que denomina-se como Trindade Fantástica.
  • 22. 22 1.2. A Trindade Fantástica Com a evolução da Literatura Fantástica até a sua chegada ao século XX foram criados subgêneros da mesma que possuem características próprias, transitando entre os sonhos, o sobrenatural, a magia e os avanços da civilização ligadas a tecnologia. Este triângulo literário se faz entre o Terror, a Ficção Científica e a Fantasia. Segundo Lovecraft (1987, p. 12), as obras de terror possuem fortes características responsáveis por assombrar o leitor e o fazer duvidar da existência do sinistro ao nosso redor. “A emoção mais antiga e mais forte da humanidade é o medo, e o mais antigo e mais forte tipo de medo é o medo do desconhecido.” Autor de grandes obras ligadas a este subgênero, o estadunidense buscava com suas publicações confrontar as crenças do romantismo, iluminismo e do cristianismo expressando atitudes sínicas e pessimistas. Influenciado por outro autor do sombrio – Edgard Allan Poe – Lovecraft produziu obras como “The whisperer in darkness” e “The Shadow out of time”. A ficção científica trabalha com previsões do que pode ser o futuro, na relação entre homem e máquina, a ciência e suas descobertas. Ao contrário das outras duas, a ficção científica trabalha com uma realidade possível, apesar de não ser algo que está acontecendo no hoje, possuí um pé na realidade, levantando assim hipóteses e teorias na área científica. Obras como: “A máquina do tempo” e “Guerra dos mundos” do pioneiro H.G. Whells inspiraram outros autores e influenciaram o cinema mundial. Nomes como Pierre Boulle – “Planeta dos macacos” – e Júlio Verne – “Viagem ao centro da terra” – são bem conhecidos deste subgênero, além do Autor da fantasia “As crônicas de Nárnia”, C. S. Lewis, que lançou uma trilogia espacial na qual está o livro considerado ao ponto de vista popular, como a melhor obra de ficção científica. “Além do planeta Silencioso”, que tem como protagonista um Filólogo. Uma homenagem direta a Tolkien, objeto de pesquisa deste artigo, já que o mesmo também possuía esta formação em seu
  • 23. 23 extenso currículo. Por fim, a última parte do quebra-cabeça, a Fantasia. Este é o tipo de literatura onde os elementos fantásticos são mais visíveis, perceptíveis. Os limites de criação são muito remotas por terem antecedentes mais antigos, por podermos encontrar a presença do fantasioso nos mitos e lendas dos povos antigos, e na tradição de literatura oral, na mitologia greco romana, egípcia, celta e nos contos de fadas. As fadas, príncipes e princesas em apuros oprimidas por bruxas más, elfos, anões, duendes e os seres elementais se fazem presentes neste subgênero, causando o encantamento do leitor e gerando uma conexão mais fácil – por conta da aparência dos personagens e seus poderes fora do normal, e muitas das vezes por ambos – o que nos leva novamente a vacilação e assim a classificação da obra como fantástica. Os exemplos mais contemporâneos desta vertente são a saga do bruxinho “Harry Potter” da autora J.K. Rowling, o já citado C.S. Lewis com “As Crônicas de Nárnia” e J.R.R. Tolkien, criador da Terra-média e sua diversidade. Figura. 1 – A Trindade Fantástica. Fonte: O autor. (2017)
  • 24. 24 2. TOLKIEN Nesta sessão da pesquisa, será relatado alguns pontos da vida e evolução do autor que deu origem a Terra-média e suas criaturas, dando assim terreno para a aventura vivida por Frodo Bolseiro em sua jornada até Mordor, com o intuito de destruir o Um anel e acabar de uma vez por todas com o poder de Sauron perante todos. Na biografia “J.R.R. Tolkien – O senhor da fantasia”, White (2013), realiza a descrição cronológica dos eventos que inicia-se em Janeiro de 1892 com o nascimento de Tolkien na África do Sul e que culminam em 2 de setembro de 1973 com o seu falecimento. John Ronald Reuel Tolkien é fruto do casamento entre Arthur Tolkien e Mabel Suffield. No verão de 1896, Mabel, mudou-se com os filhos – John e Hilary Arthur Reuel – para a Inglaterra devido a problemas de saúde, e o que deveria ser uma curta temporada de reabilitação, tornou-se algo permanente com o falecimento de Arthur, que contraiu uma febre reumática perecendo no ano de 1896 no Estado Livre de Orange. Em 1900 surgiram grandes complicações financeiras para a família, e devido a escolhas religiosas – conversão da Igreja Anglicana para a Católica – a família de Mabel virou as costas para eles, e assim, ela também faleceu, vítima de diabetes – aos 34 anos – que não possuía tratamento na época. Deste ponto em diante os irmãos Tolkien passaram a ser tutelados pelo Padre Jesuíta Francis Xavier Morgan. Em 1908 os meninos foram realocados para a casa dos Faulkners, após uma temporada na casa da tia Beatrice, onde conheceu Edith Bratt por quem se apaixonou aos 16 anos e começou um relacionamento durante a primavera. No outono Tolkien realizou sua primeira tentativa frustrada de entrar em Oxbridge, além de ter sido separado de seu amor pelo padre Francis, que considerava o ato incorreto devido à idade minoritária de ambos. Um ano após, Tolkien triunfou em sua segunda tentativa para Oxbridge e conseguiu uma bolsa de estudos para a Faculdade de Exeter, em Oxford.
  • 25. 25 Aos 21 anos reencontrou sua amada e mudou-se para o curso de Línguas e Literatura Inglesas, porém a Grã-Bretanha havia declarado guerra a Alemanha, – o que no futuro teria ligação direta com as batalhas nos campos de Pelennor descritas em O Senhor dos Anéis – forçando Tolkien a frequentar uma universidade praticamente vazia para terminar os seus estudos. Os momentos seguintes foram de glória pois ele recebeu um prêmio e logo em seguida o casamento se consolidou. Em 04 de junho de 1916 as sombras da guerra alcançam Tolkien, e assim o rapaz embarcou para a França junto com o exército britânico, onde entrou em ação no front, enfrentando os horrores dos campos onde mais de 500 mil soldados foram abatidos e por fim, voltou para casa em novembro afligido pela febre das trincheiras. Neste período que começou a escrever a obra intitulada “The book of the lost tales”, que futuramente tornar-se-ia “O Sillmarillion”, a gênese da Terra-média. Nos anos seguintes, nascem os filhos de Tolkien de seu relacionamento com Edith. Degraus são galgados até que lhe é concedida a cadeira de Rawlinson Bosworth, como professor titular de Inglês Antigo na Universidade de Oxford. Um grupo de literários começa a reunir-se liderados pelo escritor, e denominam-se como “The Coalbiters” – Os mordedores de carvão – entre estes nomes estão famosos linguístas como G.E.K Braunholtz e C.S. Lewis, amigo íntimo de Tolkien e escritor de “As crônicas de Nárnia”. Os Coalbiters perderam força e Tolkien junto à Lewis rumaram para um outro grupo de nome ambíguo que muito lhes agradavam, a reunião dos “Inkling” acontecia em um pub, que ainda funciona e serve como um santuário para estas figuras históricas. Na parede do bar há uma grande placa com os seguintes dizeres: C.S.LEWIS Seu irmão W.H.R. Lewis, J.R.R. Tolkien, Charles Williams e outros amigos se reuniam toda terça-feira de manha entre os anos1939-62 na sala dos fundos de seu pub favorito. Estes homens popularmente conhecidos como “Os Inklings”, reuniam-se aqui para beber cerveja e discutir, entre outras coisas, os livros que estavam escrevendo. (WHITE, 2013, pg. 124) Umas destas obras a começar a tomar forma seria “O Hobbit”, que fora lançado em Setembro de 1937 na Grã-Bretanha. Logo após, em Dezembro do
  • 26. 26 mesmo ano, Tolkien a pedido da editora, começou a escrever “O Senhor dos Anéis”. Ambas as obras seriam intituladas no ano de 2001 como as obras mais vendidas segundo o New York Times, mas infelizmente, o Professor Tolkien, já viúvo e recém- nomeado Doutor Honoris Causa em Letras na universidade de Oxford havia falecido em 02 de Setembro de 1973. Figura. 2 – John Ronald Ruel Tolkien Imagem 3 – O criador da Terra-média, Autor no período em que frequentou as Fonte: White, 2013, p.249 trincheiras da primeira Guerra Mundial. Fonte: White, 2013, p.238 Mesmo pós-mortem, o autor recebeu títulos e homenagens, como ser eleito através de uma enquete organizada pela Amazon como o autor favorito do milênio, o “Tolkien Reading Day“ – dia de ler Tolkien, em tradução literal – organizado pela Tolkien Society, que acontece no dia 25 de março ao redor de todo o mundo, além, da adaptação das obras para o cinema. A trilogia de “O Senhor dos Anéis” faturou aproximadamente 3 bilhões de dólares em bilheteria. E são nestas obras que estão a diversidade explorada nesta pesquisa, o que nos leva ao próximo tópico.
  • 27. 27 3. DIVERSIDADE CULTURAL Neste tópico será realizada uma breve explanação sobre os conceitos e intenções da diversidade cultural dentro da sociedade através de pesquisas e documentos publicados por organizações governamentais, para que haja assim o entendimento de como ela se encaixa nas obras de Tolkien, caracterizando a Terra- média como um ambiente diverso cultural. Vejamos então primeiramente como o Dicionário Aurélio define a palavra diversidade: Diverso: Adj. 1. Diferente, distinto. 2. Vário, variado. 3. Mudado, alterado. 4. Discordante, Divergente. § di·ver·si·da·de sf. (Dicionário Aurélio, 2010, p. 242) Segundo Tylor (2009) a cultura é a representação por meio de vários aspectos que permeiam um povo, englobando linguagens, culinárias, costumes, modelos de organização familiar, política e religião, separando o homem dos animais, justamente porque a cultura é algo que é aprendido independente de questões genéticas, afastando assim o cultural do natural. Neste grupo de características podem existir também outros fatores considerados peculiares, e que estabelecem um grupo de seres viventes habitantes de um determinado território. Este conceito consiste em compreender as diferenças existentes entre as múltiplas culturas ao redor do globo, formando assim a identidade cultural dos indivíduos ou da sociedade que estes compõem. Esta marca realiza a diferenciação de membros de um determinado local e o restante da população mundial. Esta pluralidade funciona então como uma ferramenta contra a Heterogeneidade, considerada o oposto da variedade e diferenciação. A sociedade mundial atual é considerada altamente plural, por conta das miscigenações que ocorreram através da imigração dos povos para outros países, decorrência de colonizações, revoluções, guerras, ou até mesmo junções familiares,
  • 28. 28 o que resulta em uma população com alto teor de costumes e culturas diferentes. No ano de 2002 a UNESCO – United Nation Educational, Scientific and Cultural Organization – criou um documento de título “Declaração Universal Sobre a Diversidade Cultural” que reafirma estes conceitos deixando clara a importância da mesma para a sociedade, vejamos abaixo alguns pontos importantes deste documento: Artigo 1 – A diversidade cultural, patrimônio comum da humanidade: A cultura adquire formas diversas através do tempo e do espaço. Essa diversidade se manifesta na originalidade e na pluralidade de identidades que caracterizam os grupos e as sociedades que compõem a humanidade. Fonte de intercâmbios, de inovação e de criatividade, a diversidade cultural é, para o gênero humano, tão necessária como a diversidade biológica para a natureza. Nesse sentido, constitui o patrimônio comum da humanidade e deve ser reconhecida e consolidada em beneficio das gerações presentes e futuras. Artigo 2 – Da diversidade cultural ao pluralismo cultural: Em nossas sociedades cada vez mais diversificadas, torna-se indispensável garantir uma interação harmoniosa entre pessoas e grupos com identidades culturais a um só tempo plurais, variadas e dinâmicas, assim como sua vontade de conviver. As políticas que favoreçam a inclusão e a participação de todos os cidadãos garantem a coesão social, a vitalidade da sociedade civil e a paz. Definido desta maneira, o pluralismo cultural constitui a resposta política à realidade da diversidade cultural. Inseparável de um contexto democrático, o pluralismo cultural é propício aos intercâmbios culturais e ao desenvolvimento das capacidades criadoras que alimentam a vida pública. (UNESCO, 2002, pg. 3) Podemos concluir então que a Diversidade Cultural é composta pelo acúmulo de uma série de costumes e características de um povo ou comunidade dando-lhes assim identidade, sendo que estas podem se misturar com outros povos gerando novas culturas sem deixar de lado suas raízes. Neste caso estamos tratando da Diversidade Cultural no mundo real, mas como ela se encaixa dentro do mundo ficcional? Neste ponto, antes de dar sequência a pesquisa devo realizar uma pequena digressão ondei esclarecerei alguns pontos importantes relacionados às obras de Tolkien e o objetivo desta pequisa, que é justamente classificar as espécies existentes dentro das obras do autor, revelando assim como o real influenciou diretamente no lúdico na sua construção. Devo iniciar dizendo que como grande leitor das obras de Tolkien, seria de minha vontade esmiuçar o máximo possível a
  • 29. 29 relação de todas as criaturas e personagens que habitaram a Terra-média ao longo de suas 3 eras – uma média de 185 personagens nomeados por Tolkien – porém isso requereria um espaço maior do que o cedido, então nos manteremos o mais próximo possível da linha de pesquisa realizando a classificação por espécies – algumas de suas vertentes quando necessários – e suas relações entre si. Outro fator importante é a apresentação inicial da criação da Terra-média através de uma divindade maior, seus terrenos e diferentes ecossistemas, o que influência muito a vida de seus respectivos habitantes. Estarão presentes também no próximo tópico do artigo algumas comparações entre criaturas, suas transformações ao longo do tempo devido forças místicas, e outros que são singulares, porém influenciam a cultura ao seu redor através de comando e poder. 3.1 Uma breve visão das 3 eras da Terra-média. Abriremos este tópico citando o livro que Tolkien considera a gênese da Terra-média, “O Sillmarillion”, que foi publicado em 1977, após o falecimento do autor. Neste, é mostrado através de uma narrativa com estruturas semelhantes ao do livro de Gênesis da Bíblia Sagrada, – reforçando os relatos de White (2013) referente as fortes influências de Tolkien no meio católico romano, sendo o autor devoto por fé pessoal e história familiar – como as terras de Arda foram concebidos por uma entidade maior, um deus chamado Eru. Havia Eru, o Único, que em Arda é chamado de Ilúvatar. Ele criou primeiro os Ainur, os Sagrados, gerados por seu pensamento, e eles lhe faziam companhia antes que tudo o mais fosse criado. E ele lhes falou, propondo- lhes temas musicais; e eles cantaram em sua presença, e ele se alegrou. Entretanto, durante muito tempo, eles cantaram cada um sozinho ou apenas alguns juntos, enquanto os outros escutavam, pois cada um, compreendia apenas aquela parte da mente de Ilúvatar da qual havia brotado e evoluía devagar na compreensão de seus irmãos. Não obstante, de tanto escutar, chegaram a uma compreensão mais profunda, tornando-se mais consonantes e harmoniosos. (TOLKIEN, O Sillmarillion, 2009, pg. 3) Eru, conhecido pelos elfos por Ilúvatar, vivia sozinho na imensidão, absorto
  • 30. 30 por seus pensamentos, quando resolveu criar seres sagrados para lhes fazer companhia, sendo assim, surgiram os Ainur, seres sagrados. A estes Eru propôs que cantassem, dando-lhes temas, e estes assim o fizeram, alegrando seu criador por um longo tempo, porém um dos Valar, Melkor, que era considerado o maior deles, começou a cantar sua própria canção, realizando pertubações, mas foi impedido de continuar por Eru. Este processo repetiu-se por 3 vezes. Tempo depois Eru solicitou aos seus seres cantantes que estes observassem suas criações, e assim, através das canções entoadas por eles, foi criada Arda – Terra-média. Os Valar desceram para Arda e tomaram forma, entretanto esta era disforme e assim eles teriam de continuar o trabalho de aperfeiçoamento. Aqui iníciou-se a Primeira Era. Melkor mantinha o seu sentimento de inveja e o desejo de domínio de Arda, por isso trabalhou sozinho, escondido dos outros e de seu criador. Yavanna com uma poderosa canção criou duas árvores de luz, uma prateada, e outra com frutos dourados flamejantes, após este ato Valinor passou a ser iluminada por estas árvores, enquanto a Terra-média, continuava iluminada somente pelas estrelas. Neste momento os filhos primogênitos de Ilúvatar despertaram na Terra-média, – e aqui vemos a necessidade dessa descrição das eras, pois, através do surgimento destes povos, de diferentes raças, crenças e costumes que surgiram as interações populacionais, resultando na diversidade cultural – os Elfos. Diz-se que, no momento em que Varda encerrou seus trabalhos, e eles foram demorados, quando Menelmacar foi subindo pelo céu, e a chama azul de Helluin cintilou nas névoas acima dos limites do mundo, nessa hora os Filhos da Terra despertaram, os Primogênitos de Ilúvatar. Perto da lagoa de Cuiviénen, a Água do Despertar, iluminados pelas estrelas, eles acordaram do sono de Ilúvatar. E enquanto permaneciam, ainda em silêncio, junto a Cuiviénen, seus olhos contemplaram antes de mais nada as estrelas dos céus. Por isso, eles sempre amaram o brilho das estrelas, e reverenciam Varda Elentãri mais do que qualquer outro Vala. (TOLKIEN, O Sillmarillion, 2009, pg. 47) Melkor fora descoberto em sua revolta, preso e enviado para o Salão de Mandos, e após anos cumprindo a sua pena, fora solto. Arrependido de seus atos mesquinhos, direcionou sua inteligência para ensinar os elfos muitas coisas boas. Utilizando estes conhecimentos Fëanor, o maior elfo, criou três Silmarilis – orbes de pura luz – utilizando pedaços das brilhantes árvores anteriormente criadas por
  • 31. 31 Yavanna. Porém Melkor havia arquitetado um plano desconhecido por seus superiores, roubou as Silmarilis dos elfos, e com a ajuda de Ungoliant, a grande aranha – representação da essencia do mal – destruiu as árvores de luz, refugiando- se na Terra-média. Então a Antiluz de Ungoliant subiu até as raízes das Árvores, e Melkor de um salto escalou a colina. E, com sua lança negra, atingiu cada Árvore até o cerne, ferindo todas profundamente. E a seiva jorrou como se fosse seu sangue e se derramou pelo chão. Contudo, Ungoliant tudo sugou; e, indo de uma Árvore a outra, grudou seu bico negro nos ferimentos até que as esgotou. E o veneno da Morte que ela continha penetrou em seus tecidos e as fez murchar, na raiz, no galho, na folha. E elas morreram. (TOLKIEN, O Sillmarillion, 2009, pg. 85) Fëanor em companhia de seus sete filhos jurou tomar de volta o que lhes pertencia, mas fora proibido pelos Valar, assim, roubou com ajuda de um exército, barcos élficos, tendo que enfrentar sua própria raça para isso. Outra parte do exército partiu para a Térra Média atravessando as terras geladas do Norte, entre eles estava uma figura que seria muito importante na 3º era, a elfa Galadriel. Assim teve sequência a Primeira Era. – Era I. Despertam os filhos mais novos de Ilúvatar, os Homens. Pode-se perceber com o excerto abaixo que nem todas as criaturas já despertas consideravam os Homens iguais a eles. Explicitando assim o primeiro sinal de interação social e segregação racial. Ao primeiro raiar do Sol, os Filhos Mais Novos de Ilúvatar despertaram na terra de Hildórien, nas regiões orientais da Terra-média; mas o primeiro Sol raiou no Oeste, e os olhos dos homens que se abriam se voltaram para ele; e seus pés, quando Perambularam pela Terra, acabavam indo naquela direção. Atani foi como os Eldar os chamaram, o Segundo Povo; mas também os chamavam de Hildor, os Sucessores, entre muitos outros nomes: Apanónar, os Posteriores; Engwar, os Enfermiços; e Firimar, os Mortais. Ainda os chamavam de Usurpadores, Desconhecidos, Inescrutáveis, Malditos, Desajeitados, Temerosos-da-noite, Filhos do Sol. (TOLKIEN, O Sillmarillion, 2009, pg. 123) A grande perseguição por Melkor acontece, porém este teve tempo suficiente para formar seu próprio exército composto por Orcs, Dragões e Balrogs, e ao chegarmos próximo ao fim desta era, os reinos élficos já haviam sido descobertos e destruídos, e muitos elfos haviam encontrados seus caminhos através dos salões de Mandos até o fim do mundo. Porém Melkor felizmente fora derrotado e enviado
  • 32. 32 para o vazio, além das bordas do mundo, dando fim assim a Primeira Era. Ora, os orcs que se multiplicavam na escuridão da terra tomaram-se fortes e cruéis, e seu senhor sinistro os encheu de desejo de devastação e morte. Eles saíram então dos portões de Angband sob as nuvens que Morgoth fez surgir e passaram em silêncio para os planaltos do norte. Dali, de súbito, um enorme exército entrou em Beleriand e atacou o Rei Thingol. (TOLKIEN, O Sillmarillion, 2009, pg. 111) A Segunda Era teve início, e como um presente aos homens leais, os Valar, construíram uma ilha no meio do mar onde estes homens poderiam viver mais tempo dos que os homens comuns, e a esta, fora dada o nome de Númenor. Ninguém desconfiava que na Terra-média ainda vivia um grande servo de Melkor, Sauron, que ansiava pelos mesmos objetivos que seu mestre, assim então, este passou a ser o Senhor do Escuro, tomando uma forma entre os elfos, e os ensinando a forjar anéis do poder. Outrora havia Sauron, o Maia, que os sindar em Beleriand chamavam de Gorthaur. No início de Arda, Melkor seduziu-o para sua vassalagem, e Sauron se tomou o maior e mais confiável dos servos do Inimigo; e também o mais perigoso, pois podia assumir muitas formas; e por muito tempo, se quisesse, ainda pôde aparentar nobreza e beleza, de modo a enganar a todos, à exceção dos extremamente cautelosos. (TOLKIEN, O Sillmarillion, 2009, pg. 363) Estes anéis possuíam muitas funções, entre elas curar e aumentar o tempo de vida – homens e anões também foram presenteados. Em segredo Sauron forjou no fogo das montanhas da perdição um anel para si. Um anel mestre, que possuía o poder de controlar os outros, fazendo-os obedecer a sua vontade, – Um anel para a todos governar, um anel para encontrá-los, Um Anel para a todos trazer e na escuridão aprisioná-los – porém ao botar o Um anel os outros três portadores – elfos – perceberam as suas intenções e os retiraram, escondendo-os. Uma destas elfas era Galadriel, e o outro Elrond. Houve outra grande guerra liderada por Ar-Pharazôn – o dourado – rei de Númenor, e neste embate Sauron fora derrotado e aprisionado, mas ao retornarem para a ilha, este começou a corromper os reis, que na época se incomodavam muito com a proximidade da morte e cobiçavam a imortalidade dos elfos, cedendo assim
  • 33. 33 as palavras de Sauron e planejando um ataque direto a Valinor. A investida fracassou e por conta desta traição, Númenor fora tomada pelas ondas do oceano, e como precaução futura Valinor fora retirada do mundo, e sua base destruída. Alguns Númenorianos fiéis aos Valar escaparam para a Terra-média, fundando os reinos de Arnor ao norte e Gondor ao sul. Sauron também retornou a Terra-média. Em uma última aliança entre Homens e Elfos, Sauron fora derrotado, perdendo o Um Anel e também sua forma física. Isildur que derrotou Sauron em batalha, teve a missão de levar o Um Anel até a montanha da perdição e o destruir, porém, este fora corrompido pelo poder do anel que possuía parte de Sauron em sua composição, e assim o guardou para si, um grande erro, pois tempo depois este fora assassinado, e o anel se perdeu. E neste ponto teve fim a Segunda Era da Terra-média. Então todos escutaram, enquanto Elrond, com sua voz clara, falava de Sauron e dos Anéis de Poder, e de sua forjadura na Segunda Era de mundo, há muito tempo. Uma parte da história era conhecida por alguns ali, mas a história completa ninguém conhecia, e muitos olhos se voltavam para Elrond com medo e surpresa, enquanto ele contava sobre os ourives élficos de Eregion, e de sua amizade com Moria, e de sua avidez de conhecimento, através da qual Sauron os seduziu. Pois, naquela época, ainda não era declaradamente mau, e eles aceitaram sua ajuda, tornando-se hábeis, enquanto Sauron aprendia todos os segredos, e os traía, forjando secretamente, na Montanha do Fogo, o Um Anel para dominar todos os outros. Mas Celebrimbor sabia das verdadeiras intenções de Sauron, e escondeu os Três que tinha feito; então houve guerra, e a terra foi arrasada, e o portão de Moria foi fechado. (TOLKIEN, O Senhor dos Anéis, 2004, pg. 251) Com o início da Terceira Era, os Magos chegaram a Terra-média, vindos de Valinor, com a missão de vigiar um possível retorno de Sauron, estes eram cinco, Saruman, o branco; Gandalf, o cinzento; Radagast, o castanho; Allatar e Pallando, os magos azuis. Exatamente quando as primeiras sombras foram percebidas na Floresta das Trevas, surgiram no oeste da Terra-média os ístari, que os homens chamavam de Magos. Na época ninguém sabia de onde eles eram, à exceção de Círdan dos Portos, e apenas a Elrond e a Galadriel ele revelou que haviam chegado pelo Mar. Daí em diante, porém, dizia-se entre os elfos que eles eram mensageiros enviados pelos Senhores do Oeste para contestar o poder de Sauron, se ele voltasse a se erguer, e para influenciar elfos, homens e todos os seres vivos de boa vontade para com atos corajosos. (TOLKIEN, O Sillmarillion, 2009, pg. 281/282)
  • 34. 34 Após trezentos anos de paz vigiada por estes guardiões, o esperado aconteceu, Sauron retornou em Mordor, terra negra, porém não possuía mais sua forma corpórea. Na adaptação cinematográfica realizada por Peter Jackson, vemos a retratação desta força na forma de um grande olho em chamas, que do alto de uma torre negra observava tudo ao seu redor. Alguns anos depois nasceu o verdadeiro herdeiro do trono de Gondor, Aragorn, filho de Arathorn, que fora criado em segurança na Valfenda, protegido pelo elfo Elrond. Neste período, Bilbo Bolseiro, um pequeno Hobbit deixava o Condado, a mando de Gandalf, acompanhado por 13 bravos anões, com a missão de retomar as Montanhas Solitárias, antiga morada desses anões, e agora tomada por um impiedoso dragão de nome Smaug. E é nesta jornada que Bilbo encontra o Um Anel, que até então era propriedade de uma criatura esquelética e curiosa, que habitava as profundezas de uma toca de Orc, um ser transformado pelo poder do anel de nome Gollum. É preferível parar esta linha do tempo neste espaço, pois a partir daqui não seria acrescentada nenhuma nova criação realizada por Eru e seus Valar. Todos os acontecimentos seguintes seriam regidos por magos envoltos por traição e Sauron em sua busca por poder, e estes serão catalogados no tópico seguinte. Figura. 4 – O Mapa da Terra-média. Fonte: Pinterest.com1 1 – Disponível em: https://br.pinterest.com/pin/42713896438512872/ – Acesso em Abr. 2017.
  • 35. 35 3.2 – Os Habitantes de Arda. A partir deste ponto será realizada a catalogação dos seres e criaturas que habitam a Terra-média, – com exceção de Eru que é um ser supremo e não possuí características físicas descritas em “O Sillmarillion” – assim como as suas principais características, pois elas que remontam as suas origens, costumes e culturas, para que assim haja a interação e também a miscigenação dos povos, chegando no ponto a ser buscado por este trabalho: A diversidade cultural. 3.2.1 – Ainur. Espíritos imortais criados por Erú para lhes fazer companhia e servir. Criadores das terras de Arda através da música que cantavam para o seu mestre e futuros arquitetos da Terra-média. Nem todos os Ainur desceram até Arda, mas os que fizeram assumiram formas físicas tornando-se Valar – os mais fortes – ou Maiar – os mais fracos. Tolkien em suas escrituras feitas na obra “The History of the Middle Earth” (2002) retrata os Ainur como anjos, criaturas puras, e ai pode-se perceber novamente as referências religiosas da cultura de Tolkien, em sua vida real, tomando forma em sua literatura ficcional. Alguns destes Ainur foram responsáveis pela sub- criação de outras criaturas de Arda, como Manwë, rei de Arda, senhor dos ares e das aves, Ulmo, senhor das águas e dos mares, Aulë, governante de toda a terra, dos materiais nela contidos e criador dos anões. Entre os Ainur que tornaram-se Valar, temos Melkor, porém, como este traiu Illúvatar, perdeu o seu título entre os irmãos, tornando-se assim o primeiro senhor da escuridão, título que carregou até sua derrota. – o segundo desta linhagem viria a ser Sauron. Então, falou Ilúvatar e disse: - Poderosos são os Ainur, e o mais poderoso dentre eles é Melkor; mas, para que ele saiba, e saibam todos os Ainur, que eu sou Ilúvatar, essas melodias que vocês entoaram, irei mostrá-las para que vejam o que fizeram E tu, Melkor, verás que nenhum tema pode ser tocado sem ter em mim sua fonte mais remota, nem ninguém pode alterar a música contra a minha vontade. E aquele que tentar, provará não ser senão
  • 36. 36 meu instrumento na invenção de coisas ainda mais fantásticas, que ele próprio nunca imaginou (TOLKIEN, O Sillmarillion, 2009, pg. 6) 3.2.2 – Elfos. Considerados os primeiros filhos de Erú/ Ilúvatar, são criaturas de extrema beleza, comparados diretamente aos Valar, porém com menos estatura e poder. São imortais – ou pelo menos, enquanto durar o reino de Arda – não envelhecem e nem adoecem. E se de alguma forma forem feridos ou sofrerem de grande desgosto, seu corpo morre, porém sua alma permanece viva, sendo enviada para as Mansões de Mandos, onde aguardarão para retornar em um corpo idêntico ao anterior e com as mesmas lembranças. São criaturas extremamente orgulhosas e que pensam bem nas consequências de seus atos antes de realizá-los. Altos, de longos cabelos, orelhas pontudas, olhos expressivos e em grande maioria questionadores. Elfos se casam somente uma vez e são totalmente fiéis aos seus parceiros. Estes seres realizam tarefas com maestria, podendo ser trabalhos com ferro, música ou qualquer outro tipo de arte, além de possuírem altos níveis de habilidades de batalha, seja empunhando espadas, seja utilizando um arco e flechas. A alimentação élfica é muito restrita, pois eles não se alimentam de carne, comendo somente vegetais, folhas e lembas – pães élficos. Tolkien criou também para os seus elfos, duas línguas diferentes, o Quenya e o Sindarin, ambos com um alfabeto fonético próprio. Porém nem todos os elfos são iguais e possuem a mesma origem. Apesar de serem imortais, os elfos podem procriar, sendo assim criar as suas próprias linhagens. Como foi relatado, Galadriel é uma elfa da primeira geração criada por Erú que migrou para a Terra-média e governa Lórien ao lado de seu marido, já Legolas, é filho de Thranduil, rei da floresta das trevas, nascido na Terceira Era. Sendo assim, os elfos podem gerar suas próprias famílias criando ramificações culturais e possuir diferentes localizações e reinados dentro da Terra-média. Um detalhe comportamental que deve ser ressaltado é que os elfos não se relacionam bem com os anões devido a conflitos de guerra não resolvidos. Glorfindel era alto e ereto; o cabelo de um dourado brilhante, o rosto belo e
  • 37. 37 jovem, temerário e cheio de alegria; os olhos eram brilhantes e agudos, a voz parecia música; em sua fronte se alojava a sabedoria; na mão, a força. [...] O rosto de Elrond parecia eterno, nem velho nem jovem, embora nele se inscrevesse a memória de muitas coisas, alegres e tristes. Os cabelos eram escuros como as sombras da noite, e sobre a cabeça via-se um diadema de prata; os olhos eram cinzentos como uma noite clara, e neles havia uma luz como a das estrelas. Parecia venerável, como um rei coroado com muitos invernos, e ao mesmo tempo vigoroso como um guerreiro experiente, no auge da força. Era o Senhor de Valfenda, poderoso entre elfos e homens. (TOLKIEN, O Senhor dos Anéis, 2004, pg. 235) Figura.5 – Galadriel Figura.6 – Elrond Figura.7 –Thranduil Senhora de Lórien Senhor de Rivendell Rei da Floresta das Trevas Fonte: Pinterest.com2 Fonte: Pinterest.com3 Fonte: Pinterest.com4 3.2.3 – Homens. Leve em consideração esta vertente como raça, Tolkien não limita em suas obras a raça Homem como definição do sexo masculino, e sim um todo, homens, mulheres e crianças. Deve-se ressaltar neste ponto que foi uma mulher a responsável pela queda do Rei Bruxo – um dos Nazgul – na Batalha dos Campos de Pelennor. O segundo plano de Ilúvatar para herdar os reinos da terra, mas diferente dos elfos que possuíam a imortalidade os homens ganharam de presente de seu pai o direito a morte. O primeiro homem levantou-se assim que o primeiro sol surgiu no céu da Terra-média, e caminharam para o Oeste encontrando-se com os elfos. Este chamava-se Edain, também conhecido como Pai dos Homens. O grupo de homens 2 – Disponível em: https://br.pinterest.com/pin/412149803384127718/ – Acesso em Abr. 2017. 3 – Disponível em: https://br.pinterest.com/pin/370561875576621877/ – Acesso em Abr. 2017. 4 – Disponível em: https://br.pinterest.com/pin/462674561701253295/ – Acesso em Abr. 2017.
  • 38. 38 foi tornando-se maior ao longo do tempo e logo a Terra-média estava povoada por diferentes grupos desta espécie. Tolkien utiliza o homem nas suas obras para realizar a aproximação do leitor da realidade para o mundo fantástico que criou. Igualmente fortes para guerrear e habilidosos para construir, os homens criaram os reinos de Arnor e Gondor após os terríveis acontecimentos em Númenor citados previamente. Entre estes homens estavam os ascendentes de Aragorn, que futuramente assumiria o trono de Gondor que era seu por direito. Pode-se caracterizar o homem da Terra-média como bravo e heroico, mas nem sempre fiel. Existem grandes exemplos na literatura de Tolkien de personagens envoltos por sede de poder e traição, como por exemplo, Grima, língua de cobra, que tem a função de aconselhar o Rei Théoden, porém o manipula a mando de Saruman, ambos lutam ao lado de Sauron, assim como os Haradim, homens do sul da Terra- média. Pode-se encontrar relatos de grandes feitos realizados por homens ao longo das três eras, e é justo dizer que eles tiveram grande parte nas vitórias ocorridas nas guerras, diferente dos Elfos, que escolhem bem em que batalhas vão entrar. Figura.8 – Aragorn Figura.9 – Éowyn Herdeiro de Isildur, Rei de Gondor Senhora de Rohan. A mulher respon- Fonte: Google Imagens.5 sável pela queda do Bruxo de Angmar. Fonte: Pinterest.com6 5 – Disponível em: http://www.theonering.com/galleries/the-lord-of-the-rings-movies/the-return-of-the- king/aragorn-before-battle-new-line-cinema – Acesso em Abr. 2017. 6 – Disponível em: https://br.pinterest.com/pin/354447433149961161/ – Acesso em Abr. 2017.
  • 39. 39 3.2.4 – Anões. Mais uma vez é possível ver a relação de Tolkien com a igreja sendo refletida na criação de seus personagens. Os anões foram sub-criados por um Vala chamado Aulë, o ferreiro, escondido dos outros Valar, para que fossem seus filhos e assim ele pudesse ensiná-los seus oficios. Ilúvatar descobriu a criação de Aulë, e quando confrontado, este levantou seu martelo no intuito de destruir suas criações, porém Ilúvatar lhes deus a benção, e pediu a Aulë que os guardasse, pois não deveriam despertar na Terra-média antes dos elfos que eram seus primogênitos. Ele o obedeceu e guardou os anões em cavernas longe da Terra-média, e assim que os elfos despertaram, eles também puderam vir a vida. Estes eram 7 – conhecidos como os sete pais – e entre eles estava Durin, fundador da cidade de Khazad-dûm. Os anões são de uma raça resoluta e teimosa capaz de resistir até ao senhor do escuro, porém extremamente habilidosos na confecção de armas, armaduras e mineração. Estes lutaram na guerra da Primeira Era contra Melkor, e também foram importantes na luta contra Sauron. Nas obras que serviram de base teórica para esta pequisa, nenhuma anã fora nomeada, porém em outros escritos de Tolkien pode-se encontrar relatos de que as mulheres desta espécie possuíam barbas iguais às dos homens. Os anões também possuíam uma língua própria criada por Tolkien, chamada Khuzdul, composta por um sistema de escrita rúnico denominado cirth. A língua fora inspirada no árabe e no hebraico, o que nos leva ao início deste tópico reforçando-a com o fato de que Tolkien compara os seus anões com os povos Judeus, pautado por representações e influências bíblicas medievais na construção de sua história. Durante a leitura de “O Hobbit” e “O Senhor dos Anéis”, é possível perceber que apesar de serem criaturas altamente especializadas na construção de armas e fortes em campo de batalha, os anões também possuem senso de humor. Um exemplo deste ato se faz presente em “O Hobbit” (2013), no capítulo intitulado “Uma festa inesperada” onde os anões fazem uma visita ao Hobbit Bilbo Bolseiro e cantam enquanto lavam as louças que sujaram em seu banquete. Então os doze anões — não Thorin, ele era importante demais e ficou conversando com Gandalf — puseram-se imediatamente de pé, e fizeram
  • 40. 40 grandes pilhas com todas as coisas. E foram, sem esperar por bandejas, equilibrando colunas de pratos, cada uma com uma garrafa no topo, em uma única mão, enquanto o hobbit corria atrás deles quase gemendo de pavor: “Por favor, tenham cuidado” e “por favor, não se incomodem, eu posso cuidar disso!”. Mas os anões apenas começaram a cantar: (TOLKIEN, O Hobbit, 2009, pg. 12) Figura. 10 – Anões. Os 13 anões que compõem a Companhia de Thorin Escudo de Carvalho. Fili, Kili, Nori, Ori, Dori, Bifur, Bofur, Bombur, Dwalin, Balin, Oin, Gloin e Thorin. Fonte: Google Imagens7 3.2.5 – Ístari. Composto por um pequeno grupo de magos com semelhanças físicas as dos homens, mas que possuíam habilidades físicas e mentais muito maiores, além de possuírem a imortalidade, os Istari, eram Maiar enviados pelos Valar para ajudar na luta contra Sauron na Terra-média no início da Terceira Era. Apesar de serem da mesma ordem de Sauron, os Ístari eram considerados mais fracos pois não haviam descido para Arda com a sua forma divina, o que os limitava, então estes eram responsáveis por organizar os povos da Terra-média durante a batalha. Seres muito 7 – Disponível em: http://cinemacomrapadura.com.br/noticias/281111/novo-poster-de-o-hobbit-uma-jornada- inesperada-reune-os-13-anoes/ – Acesso em Abr. 2017.
  • 41. 41 estrategistas, e com uma percepção além do comum para o perigo, os magos eram ótimas peças para se ter no tabuleiro de uma batalha. Infelizmente nem todos jogavam limpo, como pode-se ler em “O Senhor dos Anéis”, pois Saruman, o branco, em vez de cumprir a missão que lhe fora dada pelos Valar, sucumbiu a sede de poder e juntou-se a Sauron. Nada se sabe sobre Allatar e Pallando, pois eles não estão presentes nas obras discorridas. Radagast desviou-se de seu caminho por se importar demais com os animais e as florestas. Dos cinco Magos citados, o de maior importância nas batalhas contra Sauron fora Gandalf, o cinzento. Aqui temos um exemplo de contrução cultural onde o mais importante é a sabedoria e o aconselhamento, porém não se inibe as habilidades para a luta, pois magos também são altamente preparados para este tipo de tarefa. Figura. 11 – Gandalf. Figura. 12 – Radagast. Figura. 13 – Saruman. O Cinzento. O Castanho. O Branco. Fonte: Pinterest.Com8 Fonte: Pinterest.Com9 Fonte: Pinterest.Com10 3.2.6 – Hobbits. Os Hobbits são criaturas de baixa estatura – mais baixos que os anões – 8 – Disponível em: https://br.pinterest.com/pin/38069559330018303/ Acesso em Abr. 2017. Devian Art de Dan Pilla. 9 – Disponível em: https://br.pinterest.com/pin/353673376970817396/ Acesso em Abr. 2017. Devian Art de Dan Pilla. 10 – Disponível em: https://br.pinterest.com/pin/294071050653968097/ Acesso em Abr. 2017. Devian Art de Dan Pilla.
  • 42. 42 que possuem uma gama muito rica quando o assunto é cultura, pois estes moram em um canto calmo e verde da Terra-média conhecida como “O Condado”, onde a paz absoluta reina, e é considerado louco aquele que ousa deixar as suas terras para se aventurar em algo perigoso além da fronteira. São homens – e mulheres – rechonchudos, com pés grandes e peludos de solas grossas, que dispensam o uso de sapatos. Realizam de 5 a 7 refeições durante o dia, o que faz com que sempre tenham uma despensa muito generosa com barris de vinho, muitos queijos e pães em suas tocas. E deve-se ressaltar que apesar de viverem em tocas, estas não são sujas e bagunçadas como pode-se perceber ao ler as primeiras páginas de “O Hobbit” onde Tolkien detalha minunciosamente como se dispõe a moradia destes adoráveis seres. Hobbits amam festejar e ser cordiais, com a exceção de Bilbo Bolseiro, que considera visitas irritantes e desconfia de seus familiares distantes que aparecem, achando que estes possuem somente interesse de tirar-lhe seus bens. Antes de Bilbo bolseiro nunca houve nenhuma história envolvendo um Hobbit em algum tipo de jornada, mas por estes serem pequenos e silenciosos quando querem, que Gandalf pensou ser uma boa opção adicionar o pequenino na missão de retomar as Montanhas Solitárias do Dragão Smaug em companhia dos 13 anões, só não sabia ele que sua ação ligaria diretamente outro parente de Bilbo em algo muito maior e que fazia parte da sua missão inicial ao chegar na Terra-média: Deter Sauron. Frodo Bolseiro, sobrinho de Bilbo, carregou este fardo acompanhado da Sociedade do Anel, composta por elfos, anões, homens, magos e outros Hobbits – Samwise Gangi, melhor amigo de Frodo e um grande e corajoso hobbit – mostrando que Hobbits podem sair de sua zona de conforta, enfrentar perigos e no fim triunfar, o que foi uma grande quebra de paradigma. Hobbits namoram, se casam e constituem família. Nas obras de Tolkien não é explicada a origem dos Hobbits, que os criou, porém sabe-se que foram por conta destas pequenas criaturas que o autor iniciou sua jornada na escrita deste universo fantástico. “Em um buraco no chão vivia um hobbit…” O que é um hobbit? Imagino que os hobbits requeiram alguma descrição hoje em dia, uma vez que se tornaram raros e esquivos diante das Pessoas Grandes, como eles nos chamam. Eles são (ou eram) um povo pequeno, com cerca de metade da nossa altura, e menores que os anões barbados. Os hobbits não têm barba. Não possuem nenhum ou quase nenhum poder
  • 43. 43 mágico, com exceção daquele tipo corriqueiro de mágica que os ajuda a desaparecer silenciosa e rapidamente quando pessoas grandes e estúpidas como vocês e eu se aproximam de modo desajeitado, fazendo barulho como um bando de elefantes, que eles podem ouvir a mais de uma milha de distância. Eles têm tendência a serem gordos no abdome, vestem-se com cores vivas (principalmente verde e amarelo), não usam sapatos porque seus pés já têm uma sola natural semelhante a couro, e também pêlos espessos e castanhos parecidos com os cabelos da cabeça (que são encaracolados), têm dedos morenos, longos e ágeis, rostos amigáveis, e dão gargalhadas profundas e deliciosas (especialmente depois de jantarem, o que fazem duas vezes por dia, quando podem). (TOLKIEN, O Hobbit, 2009, pg. 2) 3.2.7 – Orcs e Uruk Hai. Os orcs foram criados por Tolkien em sua literatura para representar o lado obscuro daqueles criados por Erú e seus “anjos”. Vale ressaltar que estes possuem ligação direta com momentos vividos pelo autor durante a sua estadia nas trincheiras, lutando na Primeira Guerra Mundial. White (2013) em um capítulo de seu livro, descreve as trincheiras da guerra como “tomadas pela lama, por vezes, chegava até a cintura, sempre com um cheiro fétido, enfestada de doenças e ratos” (p. 70), semelhança existente com a descrição dos Orcs e a forma com que eles eram reproduzidos por Saruman em “O Senhor dos Anéis” reproduzido mais tarde por Peter Jackson. Orcs são ótimos soldados e foram utilizados inicialmente por Melkor e respectivamente por Sauron na batalha contra o bem, porém existem diferenças entre suas raças, construindo assim diferentes castas. Em “O Sillmarillion” Tolkien explicita em sua narrativa a origem dos Orcs através de tortura, escravidão e corrompimento, referências da vida real transmutadas em construções literárias imaginárias. Entretanto, pouco se sabe daqueles infelizes que caíram na armadilha de Melkor. Pois, quem, entre os seres vivos, desceu aos abismos de Utumno, ou percorreu as trevas dos pensamentos de Melkor? É, porém, considerado verdadeiro pelos sábios de Eressëa que todos aqueles quendi que caíram nas mãos de Melkor antes da destruição de Utumno foram lá aprisionados, e, por lentas artes de crueldade, corrompidos e escravizados; e assim Melkor gerou a horrenda raça dos orcs, por inveja dos elfos e em imitação a eles, de quem eles mais tarde se tornaram os piores inimigos. (TOLKIEN, O Sillmarillion, 2009, pg. 49) Em geral orcs são criaturas infelizes que odeiam tudo e todos, até a si e os
  • 44. 44 seus generais, mesmo os seguindo por medo. Não possuem habilidades para construir objetos belos assim como os elfos, porém são poderosos na construção de armas, armaduras e engenhos que podem ser utilizados em guerra. Não possuem pudor em matar e cortar árvores para alimentar o fogo que derrete o ferro que irá compor as suas criações. Possuem habilidades para curar ferimentos e usam em seus ataques flechas com as pontas embebecidas em veneno. Cantam variadas canções horrendas sobre matar e estripar, e se divertem com isso. Nas obras são descritos como humanoides e atarracados, de pele encrostada e purulenta, seus narizes são achatados e o sangue é negro e azedo. Estão sempre famintos e não possuem misericórdia, comendo de carne humana a cavalos. Uma das Variações de orc são os Uruk Hai, mais altos que o homem e mais fortes, criados por Sauron e também por Saruman através de rituais de ressurreição. Trechos de “O Senhor Dos Anéis” citam que os Uruk Hai podem ser Elfos que foram aprisionados e torturados por Saruman até converterem-se para o lado da escuridão. Orcs não possuíam um dialeto próprio, por isso, usavam uma coletânea de palavras corrompidas oriundas de outras línguas, sendo que algumas delas são provenientes da Língua Negra de Mordor. Em duas de suas cartas, Tolkien relata sobre a criação de idiomas complexos e únicos ligados diretamente ao seu universo lúdico e a comparação dos Orcs com os povos Mongol. Estes excertos foram retirados da obra “The Letters of J. R. R. Tolkien”, onde foram compiladas cartas escritas e enviadas pelo autor ao longo de sua vida. Por detrás de minhas histórias existe agora um nexo de idiomas (na sua maioria esboçadas apenas estruturalmente). Mas com aquelas criaturas que, em inglês, eu enganosamente chamo de Elves [elfos] foram associadas duas línguas aparentadas bastante completas, cuja história está escrita, e cujas formas (representando duas facetas diversas do meu próprio gosto linguístico) são cientificamente deduzidas a partir de uma origem comum. (TOLKIEN, 1951, Carta nº131 – Endereçada à Milton Waldman) Os orcs são definitivamente especificados como corrupções da forma ‘humana’ vista nos elfos e homens. Ele são (ou eram) baixos, largos, narizes achatado, pele amarelada e com bocas grandes e olhos oblíquos, de fato, versões degradadas e repulsivas (para europeus) dos mais desagradáveis tipos mongóis. (TOLKIEN, 1958, Carta nº210 – Endereçada ao Milton Waldman)
  • 45. 45 3.2.8 – Balrogs. Os Balrogs eram criaturas altas com cabelos cor de fogo, olhos vermelhos e força descomunal que serviam a Melkor. Eles também eram da raça Ainur e foram criados por Ilúvatar antes da origem de Arda, no momento em que Melkor realizava as suas digressões em relação a canção ordenada por Eru, então estas criaturas são tão antigas e poderosas quanto seu mestre. Portavam chicotes de fogo e podiam controlar suas chamas assim como a escuridão. Balrogs possuem o grande poder de prender e projetar terror. A figura veio para a extremidade do fogo e a luz se apagou, como se uma nuvem tivesse coberto tudo. Então, com um movimento rápido, pulou por sobre a fissura. As chamas bramiram para saudá-la, e se ergueram à sua volta; uma nuvem negra rodopiou subindo no ar. A cabeleira esvoaçante se incendiou, fulgurando. Na mão direita carregava uma espada, como uma língua de fogo cortante; na mão esquerda trazia um chicote de muitas correias. (TOLKIEN, O Senhor dos Anéis, 2004, p. 343) 3.2.9 – Ents. Estes são guardiões das florestas e dos animais, criados por Eru a pedido de Yavanna após saber que árvores seriam derrubadas pelas criaturas de seu marido, os anões. Os Ents são então mais velhos até do que os elfos, e igualmente respeitados. Seres silenciosos e camuflados que vivem nas florestas e só ganham vida quando necessário. O mais antigo deles é Barbárvore. Ents são altamente sábios e filosóficos, questionando e tentando entender as adversidades do mundo enquanto realizam as suas tarefas, mas não pode-se deixar enganar por suas aparências desengonçadas ao andar e o jeito curioso de olhar, pois quando necessário esmagam o seu oponente utilizando seus grandes pés com sete dedo sem pensar duas vezes. Em “O Senhor dos Anéis” após encontrar os hobbits Pippin e Marry, Barbárvore convoca uma reunião com outros Ents para discutirem assim que atitude tomar perante a invasão de Saruman e seu exército Orc, e a derrubada
  • 46. 46 em massa de suas florestas, e esta reunião é realizada na língua dos Ents, o Entês, que é uma língua arrastada e muito demorada, o que faz com que os pequenos hobbits adormeçam. Apesar de pacíficos e preservadores do bem, os Ents são ótimos guerreiros que conseguem arremessar pedras como se fossem migalhas de pão derrubando boa parte dos inimigos. Figura. 14 – Bárbarvore. 3.2.10 – Trolls. Fonte: Pinterest.com11 3.2.10 – Trolls. Tolkien descreve os Trolls de seu universo fantástico como criaturas de imensa força porém de intelecto reduzido, sendo assim bons soldados, principalmente quando trata-se de destruição e falta de piedade. Estes foram sub- criação de Morgoth, o Vala, antes mesmo do inicio da primeira Era. Não se sabe ao certo como eles foram criados, mas Barbarvore relata em “O Senhor dos Anéis” que estas criaturas podem ter sido concebidas como um espelho dos ents, assim como os orcs são espelhos dos elfos. Dentro da classe dos Trolls existe uma divisão por espécies: Trolls de pedra, que se expostos ao sol tornam-se grandes estátuas rochosas, assim como fora apresentado na obra “O Hobbit” no momento em que 11 – Disponível em: https://br.pinterest.com/pin/501869952197874492/ Acesso em Abr. 2017.
  • 47. 47 Bilbo e os anões eram prisioneiros de 3 orcs que pretendiam os assar e depois devorá-los.. Os Trolls das cavernas que possuem os corpos cobertos por escuras escamas esverdeadas e o sangue negro. Habitam as profundezas de Moria, e são criaturas altamente agressivas. Por terem a pela espessa, são difíceis de atingir, porém Frodo conseguiu este feito durante a batalha de Moria acompanhado da Sociedade do Anel. Os Trolls “Ollog-Hai” (Povo troll), habitantes dos arredores de Dol Guldur, a fortaleza negra, e as montanhas de Mordor, são sub-criações diretas de Sauron, para servi-lo, e diferente dos outros estes podem suportar a claridade do sol em seus corpos. Considerados seres fortes, ágeis, velozes e astuciosos serviam também como defesa direta dos portões de Mordor. Apesar de possuírem características psicológicas superiores à dos outros tipos de Trolls, estes não eram seres considerados articulados, só comunicavam-se quando necessário e sempre utilizando a Língua Negra. Um fator que os Trolls possuem em comum é a alimentação composta, por carneiros, cavalos, homens, anões, e todo ser vivo que possa lhes suprir a fome. Três pessoas muito grandes sentadas em volta de uma fogueira muito grande de troncos de faia. Estavam assando pedaços de carneiro em longos espetos de madeira e lambendo o caldo dos dedos. Havia um cheiro agradável, de comida saborosa. Também havia um barril de boa bebida por perto, e eles estavam bebendo em canecas. Mas eram trolls. Obviamente trolls. Até Bilbo, apesar de sua vida pacata, podia perceber isso: pelas grandes caras pesadas, pelo tamanho, pelo formato de suas pernas, para não falar no linguajar, que estava longe de ser adequado para uma sala de visitas, muito longe. (TOLKIEN, O Hobbit, 2013, p. 33) 3.2.11 – Águias. As Águias da Terra-média, são sub-criações de Manwë, o Ainu senhor dos céus e dos Valar, viviam nas montanhas ao norte das terras de Beleriand e tinham como principal missão vigiar as ações de Melkor, e reportá-las a Manwë em seu palácio, na montanha mais alta de Valinor. As águias tiveram importante participação
  • 48. 48 nas grandes batalhas das 3 Eras da Terra-média. Lutaram ao lado dos Valar, Elfos e Homens na Guerra da Ira, quando Morgoth fora derrotado. Colaboraram na jornada de Thorin Escudo de Carvalho e participaram da Batalha dos Cinco Exércitos nos campos de Erebor. Em “O Senhor dos Anéis” – 3ª Era – foram muito úteis junto a Radagast para antecipar as movimentações dos exércitos Orcs, e na Batalha de Morannon contra os Nazgûl. Na mitologia de Tolkien, a águia de maior importância fora Thorondor, O senhor das Águias, considerado como o mais poderoso de todos os pássaros que já existiu. Com uma envergadura de 54,9 metros e um bico de ouro fora o líder das águias durante as eras. … O Senhor das Águias emitiu um grito forte, pois Gandalf agora lhe falara, As aves que estavam com ele voltaram e desceram como enormes sombras negras. Os lobos gemiam e rangiam os dentes, os orcs gritavam e batiam os pés no chão, cheios de ira, arremessando as pesadas lanças no ar em vão. Sobre suas cabeças as águias atacavam, a arremetida negra de suas asas derrubava-os no chão ou empurrava-os para longe, suas garras dilaceravam as caras dos orcs. Outras aves voaram até as copas das árvores e agarraram os anões, que agora subiam mais alto do que jamais teriam ousado. (TOLKIEN, O Hobbit, 2013, p. 106) 3.2.12 – Nazgûl. Como fora citado anteriormente, Sauron forjou diversos anéis e os distribuiu entre as espécies da Terra-média. Os homens, 9 reis, aceitaram o presente, tornando-se assim escravos involuntários do senhor das trevas. Diferente dos outros que retiraram e esconderam os seus anéis, estes continuaram os utilizando, o que modificou a sua forma física, transformando-os em espectros invisíveis, podendo ser vistos somente por Sauron – ou o portador do Um Anel. A primeira aparição destas criaturas aconteceu em “O Senhor dos Anéis”, após receberem notícias de que o que procuravam estava no Condado, lar dos Hobbits, deixando assim a sua fortaleza nas Minas Morgul para iniciar a caça pelo bem mais precioso de seu senhor. A obra de Tolkien descreve os Nazgúl com os servos mais fiéis e impiedosos de Sauron. Por serem forçados a viver em um jundo espectral devido ao longo período de uso dos anéis, estes trajavam mantos negros
  • 49. 49 com capas e capuzes para assumirem formas visíveis. No Mundo espectral, eram ludibriados por Sauron através de visões e ilusões, já no mundo humano durante a luz do sol, pouco podiam enxergar, os seres projetavam-se para eles como sombras, porém durante a noite possuíam vantagem, pois podiam enxergar o que os outros não poderiam. Seres dotados de olfatos perfeitos, podendo rastrear o cheiro de sangue, ao qual cobiçavam, através de grandes distâncias, além de possuírem habilidades que forçam o portador do Um Anel a usá-lo quando presentes, para que assim o interceptem e o levem de volta ao seu dono. Como pode-se perceber neste trecho, estes personagens eram considerados por Tolkien verdeiros generais de guerra do Senhor da Escuridão, traçando linhas proximais vividas pelo autor durante a Primeira Guerra Mundial. Além dos seres já citados, animais também possuíam grande pavor dos Nazgûl, por essa razão cavalos especiais nascidos em Mordor – ou roubados de Rohan e modificados – foram treinados para lhes servir de montaria. Durante a Guerra do Anel, Sauron presenteou seus generais com novas montarias, criaturas assustadoras com asas conhecidas como “bestas aladas”. As poucas vulnerabilidades encontradas durante as leituras sobre seres nas obras eram a água, ao qual evitavam ter contato, preferindo cruzá-las através de pontes ou desvios, o fogo, e os Elfos. A mitologia de Tolkien explica que homens não podem ferir um Nazgûl com uma arma comum, pois ao entrar em contato com a pele do espectro, esta dissolver-se-ia em cinzas, porém com o auxílio da espada forjada por Dúnedain – em sua luta contra Angmar – Merry Brandebuque atingiu a falange traseira do joelho do Rei Bruxo – líder dos 9 – facilitando para que Éowyn – uma mulher, filha do rei Théoden, senhor dos cavalos – fincasse a sua espada no espaço entre a coroa do espectro e seus ombros o fazendo assim perecer. Aqui temos outro exemplo de diversidade, onde uma mulher com o auxílio de um Hobbit, derrotara uma criatura temida pelos homens. Deve-se esclarecer também que nos costumes culturais dos homens dentro da obra, durante a Terceira Era, as mulheres não possuíam lugar no campo de guerra, – com exceção dos elfos que conservavam a cultura de seus antepassados, onde todos estavam aptos para lutar e defender seu
  • 50. 50 povo, independente de seus gêneros – Estas deveriam refugiar-se e esperar pelo resultado das batalhas, sendo estes bons ou ruins, porém, Tolkien, em O Senhor dos Anéis inseriu grandes figuras femininas que quebraram estes padrões. Vide o exemplo de Éowen, que fingiu ser um soldado e lutou ao lado dos homens na Batalha de Pellenor, e venceu. Figura.15 – Nazgûl Fonte: Pinterest.com12 3.2.13 – Dragões. Seres míticos presentes desde a literatura fantástica mais primitiva, como por exemplo a deidade da Babilônica Tiamat, considerada o antepassado dos dragões, representando o caos. Na mitologia Tolkiniana não seria diferente. O autor apresenta em suas obras poucas espécies draconianas, porém, quando surgem, tornam-se peças importantes para grandes batalhas e tramas principais. Em “The History of Middle-Earth” Tolkien nomeou somente 3 dragões, Glaurung – O pai dos dragões, Ancalagon – O negro, criado por Morgoth, e Scatha – O poderoso verme longo das montanhas cinzentas. Porém neste trabalho, focaremos em outro ser desta espécie que fora a chave fundamental para a trama de “O Hobbit”: Smaug – O Dourado. O dragão com escamas vermelhas e douradas, com pedras preciosas 12 – Disponível em: https://br.pinterest.com/pin/487936940865100845/ Acesso em Abr. 2017.
  • 51. 51 encrustadas entre elas – com exceção de uma falha existente na cavidade esquerda de seu peito, onde pode-se ver sua pele negra, fruto de batalhas do passado – é descrito pelo autor como: “especialmente ganancioso, forte e mau, o mais poderoso de seu tempo”. Este teve a sua primeira aparição registrada durante a Terceira Era, quando atacou a Montanha Solitária – Erebor – morada dos anões, governada por Thrór, dizimando a sua população, e tomando para si o tesouro escavado por eles durante anos. Este ato resulta na jornada realizada por Thorin Escudo de Carvalho – neto de Thrór – e sua companhia, 171 anos após o ataque de Smaug, em busca de recuperar a morada de seus antepassados. Sendo aconselhados por Gandalf, os anões recrutam no condado um Hobbit, intitulado como ladrão, para invadir a toca de Smaug nos calabouços de Erebor e assim roubá-lo. Esta decisão fora tomada porque o dragão possuía o faro muito aguçando, podendo identificar a quantidade de anões que compunham a companhia de Thorin assim que eles adentraram no reino, sendo assim um Hobbit do Condado seria uma ótima escolha, já que o vilarejo ficava no extremo da Terra-média, e Smaug não possuía conhecimento de sua existência. Smaug fora derrotado por Bart, um homem, que lhe acertou uma flecha negra na vulnerabilidade de sua armadura, após o plano dos anões falhar, resultando na ira do dragão, que alçou voou para fora da montanha incendiando a cidade do lago como represália. Após a queda de Smaug, não testemunhou-se mais a presença de nenhum dragão na Terra-média. Imagem. 16 – Os Dragões da Terra-média. Fonte: TolkienBrasil.com 13 13 – Disponível em: http://tolkienbrasil.com/artigos/colunas/garth/escala-dos-dragoes-por-que-e-impossivel-
  • 52. 52 3.2.14 – Sauron. Temos aqui um caso de transmutação de personagem, pois como pode ser visto anteriormente no relato da história das Eras da Terra-média, Sauron, era um Ainu, servo de Melkor, porém após a sua derrota na guerra contra elfos, homens e anões, este refugiou-se em Dol Guldur, enfraquecido, sem uma forma física, escondendo-se nas sombras pelos próximos 400 anos. Em “O Hobbit” Sauron é citado como “O Necromante”, pois os habitantes e protetores da Terra-média – Magos e Altos Elfos – não desconfiavam de sua nova morada, e este rumor fora um dos motivos para Gandalf procurar por Thorin e incentivá-lo a seguir em sua jornada contra Smaug, pois ele temia que o Necromante juntasse forças com o dragão e outros inimigos existentes para trazer novamente tempos de trevas ao mundo. Figura.17 – Sauron – Vala. Figura.18 – A Ascensão. Figura 19 – O Olho de fogo. Fonte: Tolkiengateway.net14 Fonte: Pinterest.com15 Fonte:Pinterest.com16 A grande revelação ocorreu quando Gandalf buscou por respostas indo a Dol Guldur, sendo assim aprisionado pelo necromante. Testemunhando o sumiço do mago, o Conselho Branco, composto pela senhora Galadriel, Saruman, Elrond e medir-terra-media-de-tolkien/ – Acesso em Abr. 2017. 14 – Disponível em: http://tolkiengateway.net/wiki/Sauron – Acesso em Abr. 2017. 15 – Disponível em: https://br.pinterest.com/pin/337066353342298361/ – Acesso em Abr. 2017. 16 – Disponível em: https://br.pinterest.com/pin/527554543833062170/ – Acesso em Abr. 2017.
  • 53. 53 Radagast, foi em sua busca. Em Dol Guldur enfrentaram os Nazgûl em suas formas espectrais, e revelaram a identidade do Necromante, Sauron, que fora detido pelo grande poder de Galadriel e transmutado em energia. Após este acontecimento Sauron migrou para as terras negras de Mordor, onde estalou-se no alto de uma torre, observando e planejando o seu contra-ataque. A queda final ocorreu quando enfim Frodo Bolseiro – sobrinho de Bilbo – alcançou a Montanha da Perdição e destruiu o “Um Anel” com o auxílio involuntário de Gollum. 3.2.15 – Sméagol / Gollum. Neste tópico, será realizada a descrição de umas das criações de Tolkien com maior grau de mutabilidade, pois diferente de Sauron, o pobre e obcecado Sméagol, passou por transmutações físicas e psicológicas ao longo de sua vida. Nascido Hobbit, e habitante dos Vales de Anduín, próximo aos Campos de Lís – ocupando a classificação de Povo do Rio, diferente de Bilbo e Frodo que eram Bolseiros do Condado – Sméagol saiu com seu primo, Déagol, no dia de seu aniversário para pescar. A versão cinematográfica da obra mostra que durante a atividade Déagol foi arrastado por um grande peixe para o fundo do rio, onde escondido entre pedras e areia estava o Um Anel, desaparecido desde o corrompimento de Isildur – como foi relatado no capítulo anterior. A cobiça de Sméagol pelo objeto o fez estrangular o primo, que lutou porém não resistiu. Pode- se reparar neste ponto a força que o anel tem perante as criaturas, possuindo assim vontade própria. Após seu ato de egoísmo, Sméagol escondeu o corpo do primo onde nunca fosse encontrado e retornou para sua casa. Usando os poderes do anel como ferramenta, o Hobbit cometeu pequenos atos criminosos, o que fez com que a família passasse a desprezá-lo. Por conta da influência do anel, este começou a fazer estranhos barulhos com a garganta, como se estivesse engasgado, o que lhe resultou o apelido pelo qual seria conhecido durante o restante de sua vida na Terra- média, Gollum. Após ser expulso de casa por conta de seus feitos, Gollum vagou pela floresta, seguindo as margens do rio Anduin, para mais tarde instalar-se nas
  • 54. 54 montanhas sombrias. A Luz do sol já o incomodava, e o corpo passou por mudanças constantes. Perca dos cabelos, a pele perdera cor e textura, os seus membros tornaram-se desproporcionais, houve perca de dentes – restando-lhe apenas seis deles, afiados o suficiente para devorar a carne crua dos peixes e dos Orcs menores que este caçava durante a noite – e a dilatação de seus olhos. O que era um Hobbit, agora havia tornado-se uma nova criatura, astuta, sanguinária e obcecada pelo “seu precioso”, o Anel de Sauron. As estruturas mentais de Sméagol também sofreram modificações, pois o assassinato de Déagol ainda o assombrava, e o poder do anel o endurecera, criando assim uma dualidade de personalidade, travando uma batalha entre consciente e inconsciente. Apesar dos 500 anos em que viveu isolado nas entranhas da montanha, Gollum não pereceu, por conta de suas raízes de Hobbit, que reforçam a resistência desta raça. O personagem fora introduzido por Tolkien inicialmente em “O Hobbit”, descrevendo o momento em que Bilbo, após separar-se da Companhia de Thorin, perde-se e acaba dentro da toca de Gollum, onde encontra o Um Anel, brilhando na escuridão lamacenta, guardando-o no bolso. – deve-se ressaltar aqui que segundo Tolkien, o anel possuía vontade própria e podia sentir que seu mestre recuperava as energias planejando seu retorno, sendo assim, abandonou Gollum, enquanto este procurava por alimento. A criatura após perceber a presença de Bilbo, o interrogou, com intenção de devorá-lo, porém não obteve sucesso, pois fora derrotado em uma competição de adivinhos, onde O Hobbit venceu ao perguntar para Gollum o que ele tinha no bolso. Bilbo escapou das garras de Gollum, que desesperado gritou e amaldiçoou a raça dos Hobbits, esquecendo que ele mesmo já fora um. O personagem retorna em “O Senhor dos Anéis”, porém com um envolvimento maior, e grande importância no decorrer da trama. Gollum é o responsável por dizer a Sauron a localização do Um Anel após ser capturado e torturado, dando poder assim ao senhor da escuridão para que este enviasse seus soldados espectrais até o Condado, para onde Bilbo havia retornado e entregue o objeto ao seu sobrinho Frodo Bolseiro. Vemos também durante toda a jornada da
  • 55. 55 Sociedade do Anel, que o ser esquelético os segue, escondido, com esperanças de recuperar o que lhe pertencia, até que em certo momento os caminhos de Frodo, Sam e Gollum cruzam-se, resultando em manipulações, mentiras e rotas tortuosas. Figura.20 – Smeagol. Figura.21 – Gollum. Gollum antes de sucumbir ao poder Depois das mutações sofridas ao do Um Anel de Sauron. longo dos anos o pequeno Hobbit Fonte: O Autor (2017)17 tornou-se frio e suvino. Fonte: Pinterest.Com18 Apesar de Gollum ser considerado um ser detestável, durante a trama de “As Duas Torres”, Frodo consegue estabilizar o personagem, mantendo a parte boa presente, porém ao ver o anel pendurado no pescoço do Hobbit, a criatura perde-se na cobiça tornando a ser perigoso. Pode-se afirmar que este personagem e sua estrutura cultural foram de grande importância para a vitória daqueles que lutavam a favor da luz na Terra- média, pois após chegar na montanha da perdição, Frodo, já influenciado pelos poderes do anel recusou a destruí-lo, assim como Isildur, resultando em uma última luta contra Gollum, que após arrancar o dedo indicador esquerdo do adversário, desequilibrou-se ao comemorar sua retomada caindo na lava do vulcão, levando consigo o objeto dourado que ali fora forjado por Sauron, resultando assim em sua destruição, e o fim definitivo da Guerra do Anel. 17 – Imagem retirada da reprodução cinematográfica da obra, O Senhor dos Anéis – O Retorno do Rei, editada pelo autor desta pesquisa. 18 – Disponível em: https://br.pinterest.com/pin/238761217721157183/ – Acesso em Abr. 2017.
  • 56. 56 Figura.21 – O Um Anel. Três Anéis para os Reis-Elfos sob este céu; Sete para os Senhores-Anões em seus rochosos corredores; Nove para os Homens Mortais fadados a morrer; Um para o Senhor do Escuro em seu Escuro Trono, Na terra de Mordor, onde as Sombras se deitam. Um Anel para a todos governar, Um Anel para encontrá-los, Um Anel para a todos trazer e na Escuridão aprisioná-los, Na terra de Mordor, onde as Sombras se deitam. Fonte: Armada Rebelde de Mordor.19 19 – Disponível em: http://armardarebeldemordor.blogspot.com.br/2015/12/como-surgiu-o-um-anel.html – Acesso em Abr. 2017.