Este capítulo descreve as mudanças aceleradas no contexto religioso cristão, com o surgimento de novas correntes pentecostais como a Igreja Universal do Reino de Deus, que priorizam a oração, a busca de bens materiais e o ataque a religiões africanas. A Renovação Carismática Católica também adota alguns desses elementos, como forma de se adaptar ao mercado religioso em expansão e reter fiéis. A sociedade brasileira é caracterizada por sua complexidade cultural e sincretismo entre elementos cató
Renovação carismática católica no município de santa luz aproximações e distanciamentos com a universal do reino de deus
1. UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB – CAMPUS XIV
CURSO DE HISTÓRIA
PAULO VIANA CUNHA
RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA EM SANTA LUZ:
APROXIMAÇÕES E DISTANCIAMENTOS COM A UNIVERSAL DO
REINO DE DEUS
CONCEIÇÃO DO COITÉ
2010
2. PAULO VIANA CUNHA
RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA EM SANTA LUZ:
APROXIMAÇÕES E DISTANCIAMENTOS COM A UNIVERSAL DO
REINO DE DEUS
Trabalho de conclusão de curso, apresentado
para obtenção do grau de Licenciado de
História pela Universidade do Estado da
Bahia, sob orientação do Prof. Dr. Aldo José
Morais Silva.
CONCEIÇÃO DO COITÉ
2010
1
3. PAULO VIANA CUNHA
RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA EM SANTA LUZ:
APROXIMAÇÕES E DISTANCIAMENTOS COM A UNIVERSAL DO
REINO DE DEUS.
Trabalho de conclusão de curso aprovado pela
banca examinadora para obtenção do grau de
Licenciado em História pela Universidade do
Estado da Bahia.
Conceição do Coité, (data da defesa).
BANCA EXAMINADORA:
_________________________________________________
Prof. Dr. Aldo José Morais Silva - UNEB (Orientador)
_________________________________________________
Profª Iris. - UNEB.
_________________________________________________
Prof. Carlos Almeida - UNEB.
2
4. AGRADECIMENTOS
Depois de uma longa caminhada, finda mais uma etapa da vida importante que não
será esquecida. Trabalhar em grupo é uma tarefa árdua, mas ao mesmo tempo gratificante,
pois a variedade de idéias e divergências de opiniões faz parte da construção do saber
histórico e humanístico.
Agradeço aqui, aos meus colegas de curso e professores pelo aprendizado e também
pelo tempo que passamos juntos, desejando-lhes boa sorte em seus projetos futuros, e que
com certeza, vamos nos reencontrar sempre.
Para a realização do presente trabalho concorreu à singular participação do professor
Aldo Moraes, que sem a sua orientação e incentivo em vários momentos do curso, o mesmo
não teria sido realizado.
Agradeço a minha família, por ter tido sempre paciência comigo, nos momentos que
eu não pude ficar mais tempo com eles devido à produção do trabalho, em especial minha
esposa Daniela, meus filhos Paulo Henrique e Daniel, abraço a todos.
3
5. SUMÁRIO
INTRODUÇÃO................................................................................................................ 07
CAPITULO I- MUDANÇAS ACELERADAS NO CONTEXTO RELIGIOSO
CRISTÃO……………………………………………………………………………….. 10
CAPITULO II- CARISMÁTICOS E A IGREJA UNIVERSAL EM SANTA LUZ:
APROXIMAÇÕES DISTANCIAMENTOS.................................................................... 18
CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................... 34
REFERÊNCIAS............................................................................................................... 37
FONTES............................................................................................................................ 39
ANEXOS……………………………………………………………………………….. 40
4
6. Renovação carismática em Santa Luz- Aproximações com a Universal do Reino de Deus
Resumo
O propósito deste artigo é examinar de que maneira ocorre a complexa rede de influências
entre a Igreja Universal do Reino de Deus e a Renovação Carismática Católica no município
de Santa Luz, destacando as peculiaridades existentes na localidade. Esses grupos religiosos
demonstram um alto grau de similaridade em vários aspectos, como em partes de suas
liturgias, formas de organização dos grupos, clara rejeição a religiões africanas e uma não
leitura da Bíblia. Esses aspectos puderam ser notados decorrentes de análise de fontes
primárias, que foram: entrevistas com membros do grupo Reviver em Santa Luz
(representante da Renovação Carismática no município), livro de orações do grupo reviver
utilizados nas reuniões, cultos da igreja Universal do Reino de Deus em Santa Luz e do grupo
Reviver (visitação, observação sistemática e descrição densa), a ementa da aula inaugural da
escola Paulo Apóstolo na diocese de Serrinha e módulos básicos do ministério de formação da
Renovação Carismáticos Católicos destinados a formação de coordenadores dos grupos de
oração.
Palavras-chaves: Religião, movimento, carismático, reviver, magia.
Autor: Paulo Viana Cunha
Orientador: Aldo Morais
5
7. Charismatic Renewal in Santa Luz- Approaches with the Universal Kingdom of God
Abstract
The purpose of this article is to examine in which way it takes place to complex net of
influences between the Universal Church of the God's Kingdom and the Charismatic Catholic
Renovation in the local authority of Holy Light, detaching in fact his peculiarities. These
religious groups demonstrate a high degree of similarity in varied aspects, like in parts of his
liturgies, the forms of organization of the groups, clear rejection to African religions and a not
literal reading of the Bible. These aspects could be noticed resulting from analysis of primary
fountains, which were: you interview in spite of Reliving members of the group in Holy Light
(branch of the RCC), I release of reliving prayers of the group used in the worships, worships
of the Universal church of the God's Kingdom in Holy Light and of the group To relive
(visitation, systematic observation and dense description), the menu of the inaugural
classroom of the school Paul Apostolic in the diocese of Serrinha and basic modules of the
ministry of formation of the Charismatic Catholic Renovation destined the coordinators'
formation of the groups of prayer.
Keywords: Religion, movement, charismatic, revive, magic.
Author: Paulo Viana Cunha
Adviser: Aldo Morais
6
8. INTRODUÇÃO
No Brasil, os temas relacionados ao estudo das religiões foram por muito tempo de
pouco interesse para os estudos científicos, ficando apenas ao interesse particular de seu
campo institucional, como seminários, centros religiosos de pesquisa e principalmente entre
teólogos. Contudo, o estudo da religião é extremamente importante para uma investigação
científica, pois para Durkeim, se a ciência em princípio nega a religião, isso é um equivoco,
pois a religião efetivamente existe, e os homens foram obrigados a formar a noção do que é
religião bem antes das ciências das religiões terem podido instituir suas comparações
metódicas (1989, p. 53). A religião, portanto, constitui-se num sistema de fatos e dados, uma
realidade social passível de investigação científica. Com isso, esse estudo não é um trabalho
teológico, trata-se de um estudo no campo da história da religião, cuja tentativa é entender o
religioso numa perspectiva histórica. Assim, o estudo desenvolvido aqui tem o objetivo de
demonstrar justamente a influência de uma corrente religiosa sobre a outra, da reutilização de
elementos religiosos da Universal pela Renovação Carismática católica, sendo necessário
salientar que essa não é uma prática nova e que não foi um processo que ocorreu de um dia
para o outro. Assim, o mais importante saber o porquê dessa reutilização nesse contexto
histórico, principalmente em Santa Luz.
Fontes importantes foram coletadas para essa análise, como entrevista de
alguns membros participantes do grupo de oração reviver, materiais de ensino para os
coordenadores dos grupos, fornecido pela Diocese Paulo apóstolo, situada no município de
Serrinha, livro de orações selecionadas por cura libertação e intercessão, utilizado pelos
coordenadores locais.
A criação do grupo de oração Reviver, em 2001, no município de Santa Luz, na Bahia,
despertou a minha curiosidade, visto que possuía muitas características totalmente diferentes
7
9. do tradicionalismo católico. O referido grupo estava extremamente voltado para a oração e
com clara aproximação, em determinados aspectos, à Igreja Universal do Reino de Deus. O
grupo de oração Reviver surgiu de um movimento de dentro da Igreja Católica, a renovação
carismática católica. Esse grupo de oração é composto por pessoas leigas, que vão dos fiéis
aos próprios coordenadores do grupo, que também podem ser mulheres. É um grupo que está
submisso a igreja local, não tem um fundador particular e nem uma lista fixa dos membros
participantes. Para existir no município, o grupo tem que respeitar principalmente dois
dogmas católicos: a veneração a Virgem Maria e a obediência e submissão à Igreja. O grupo
reviver de fato tem uma ação religiosa diversa do tradicionalismo católico, pois além de aderir
aos dogmas católicos citados acima, possui características e práticas pentecostais,
principalmente aquelas observadas na igreja Universal do Reino de Deus, que serão
analisadas ao longo desse trabalho.
De fato, perguntas relevantes devem ser feitas, entre as quais: Como o recebimento
do espírito santo, sentimento concebido pelas igrejas ditas pentecostais, pode-se imbricar nas
reuniões do grupo Reviver? Por que houve a criação de um movimento de cunho leigo no seio
da igreja Católica no município? Há nessas reuniões promessas de soluções mágicas para o
cotidiano das pessoas? Como entender essa conjunção de práticas religiosas para se chegar a
alívios das crises do homem? Quais seriam de fato as aproximações e os distanciamentos do
grupo reviver no município de Santa Luz com a Universal? Que relação há com a veneração à
virgem Maria? Até aonde há uma redefinição de valores no grupo de oração reviver? Essas
são perguntas centrais que tentarei elucidar com a maior clareza possível nesse trabalho.
Utilizei no referido trabalho o método de observação sistemática em campo,
abordando aspectos qualitativos e quantitativos dos grupos religiosos aqui tratados. O
resultado conclusivo do trabalho partiu do pressuposto da análise de fontes primárias
8
10. (entrevista de alguns membros participantes do grupo de oração reviver, materiais de ensino
para os coordenadores dos grupos) e utilização de um referencial teórico baseado em
Durkeim, Ricardo Mariano, Maria das Dores Machado Campos e Antônio Flávio Pierucci,
autores que tem como especialidade o estudo de fenômenos religiosos.
9
11. CAPITULO I
Mudanças aceleradas no contexto religioso cristão
Não há como negar hoje a grande transformação que parte do pentecostalismo passou
nas últimas três décadas. De fiéis sectários e ascéticos no mundo moderno, os quais eram
implacavelmente estigmatizados, alguns setores passaram a ser mais imediatistas e
pragmáticos (MARIANO, 2005, p.8). A Igreja Universal do Reino de Deus, principal
representante dessa nova corrente pentecostal, propôs novos ritos e crenças, relaxaram
costumes e comportamentos e novas formas de relacionamento com o mundo moderno.
A Universal prioriza a extrema oração1, a fim de conseguir bens materiais e exorcizar
os demônios, que são representados pelas religiões africanas, apesar de assimilar elementos
das próprias religiões africanas. Nessa nova corrente religiosa que a Universal do Reino de
Deus está inserida, os cultos muitas vezes estão dinamizados, com bandas evangélicas de
rock, funk, axé music, com coreografias utilizadas em danceterias e show profanos, o que
inclui saltos do palco para os braços da platéia.
Outro fator relevante é a organização empresarial, com um marketing bastante
desenvolvido, visto que faz um uso proselitista da TV, que embora seja diário e limitado, é
notório. A Universal é vista como o maior fenômeno religioso dos últimos vinte anos no
Brasil por ser apontada como o elemento mais dinâmico dentro do contexto religioso atual,
devido ao seu rápido crescimento em seu tempo de existência, ou seja, pouco mais de trinta
anos (MARIANO, 2005, p. 11).
A Renovação Carismática Católica também se utiliza de vários preceitos da Universal,
como a oração sem praticamente nenhuma leitura da Bíblia, um ataque às religiões africanas e
1
Extrema oração é entendida aqui como uma oração militante e agressiva, com o objetivo maior de expulsar os
demônios da vida dos fiéis, sendo feita várias vezes durante os cultos.
10
12. ao espiritismo, profissionalização de padres cantores e uma estrutura empresarial. 2 Sobre esse
aspecto, Ricardo Mariano destaca a sua atual corrida para ocupar mais espaço na TV e
maximizar o uso evangelístico de sua rede radiofônica (2005, p. 14). A oração é caracterizada
como sendo o momento singular e principal das reuniões dos grupos carismático (ocupando
também a maior parte de cada reunião). As pessoas oram fervorosamente em busca de
soluções espirituais e terrenas. Com isso essa renovação no interior da Igreja faz parte de uma
disputa no mercado religioso atual, devido ao crescimento das igrejas pentecostais, que se
caracterizam pela pluralidade de denominações no mundo moderno capitalista. Sobre essa
questão, Ricardo Mariano afirma que:
João Paulo II, quando esteve no Brasil em 1991, atento à diminuição do seu rebanho
e ao crescimento dos seus concorrentes cobrou dos cerca de 300 bispos reunidos em
Natal durante o Congresso Eucarístico Nacional uma ação mais eficaz contra a
ignorância religiosa e a carência de doutrina que deixa o povo vulnerável à sedução
das seitas (MARIANO, 2005, p. 13).
De fato, do ponto de vista cultural, o Brasil é caracterizado como sendo extremamente
complexo e pluralista, devido à própria miscigenação da sociedade e à troca cultural que
existiu entre branco, negro e índio o que vai de fato influenciar em aspectos religiosos. Essa
troca cultural aconteceu em diversos contextos históricos no que diz respeito à formação da
nação brasileira. Em comentário a essa questão, Charles R. Box aponta que:
As procissões religiosas que tinham lugar em muitos dias santificados da igreja eram
realmente, uma feição da vida na Bahia, mesclando o sagrado e o profano de forma a
causar perplexidade. O catolicismo português sempre mostrou tendência para se
concentrar nas manifestações externas do culto cristão, e o grande elemento africano
na Bahia reforçou indubitavelmente essa tendência (BOX, 2000, p. 159).
2
A rede de televisão Vida, de propriedade da Igreja Católica, reflete o novo posicionamento da Igreja com
relação aos meios de comunicação, inclusive o televisivo, dando grande relevância ao setor midiático. Padre
Eduardo ao lado de Jonas Abib, liderança da comunidade carismática canção nova, imprimiram um caráter
empresarial e tecnológico, trilhando caminhos não esboçados no início do movimento. Percebe-se um sistema de
propaganda montada em megaeventos, ao estilo das igrejas eletrônicas, nos shows de bandas carismáticas. Padre
Marcelo Rossi é o maior exemplo disso.
11
13. Durkheim a respeito dessa mistura entre o sagrado e o profano, entre a influência que
determinados aspectos religiosos tem sobre outros, assinala que:
Em geral são restos de religiões desaparecidas, sobrevivências não organizadas...
nos nossos países europeus o cristianismo reforçou-se por absorvê-los e assimilá-
los; imprimiu-lhe cor cristã (DURKEIM, 1989, p. 67)
Como se pode notar, apesar de manter-se o distanciamento entre sagrado e profano até
certo grau, onde cumpre verificar os esclarecimentos do próprio Durkheim que “a coisa
sagrada é, por excelência, aquilo que o profano não deve, não pode impunemente tocar”
(1989, p. 72), no Brasil desenvolveu-se uma adaptação das crenças nas religiões africanas
com os rituais da fé católica, comumente chamado de sincretismo religioso. Só que no mundo
atual, a Universal reutiliza alguns elementos africanos como rosas do descarrego em seus
cultos, que são melhores assimilados pelas populações de baixa renda, já que muitos desses
provêm também dos espaços do candomblé e da Umbanda.
Historicamente o catolicismo foi implantado no Brasil com o argumento de que era
preciso expandir a fé cristã. Essa evangelização foi realizada por etapas e empreendida
inicialmente por quatro ordens: jesuítas, franciscanos, carmelitas e beneditos, sendo que as
práticas religiosas estavam intricadamente ligadas à estrutura patriarcal da família nas grandes
plantações de cana-de-açúcar e centravam-se na capela, no oratório privado e na devoção aos
santos.
No Brasil a igreja Católica foi dependente do Estado, pelo menos até o advento da
República. Durante o período colonial, a Igreja Católica encontrava-se sob a tutela do Estado
português, que lhe conferia benefícios e privilégios. No Império, a Igreja Católica ainda
gozava de amplos poderes, representando e legitimando os poderes das classes dominantes
(HOLANDA, 2006, p. 348).
12
14. Com as transformações do século XIX na Europa, e principalmente com relação a
liberdade religiosa, a Igreja católica no Brasil temendo perder sua hegemonia na sociedade,
utiliza várias estratégias para manter-se viva, entre elas, a revitalização de antigas ordens
religiosas e a fundação de outras, criticando o liberalismo, o comunismo, o racionalismo e o
próprio progresso (MICELLI, 1988, p.13).
Os leigos vão ter oportunidade de atuar na Igreja Católica do Brasil através das
irmandades, das confrarias e das ordens terceiras, organismos que o Brasil herdou de Portugal
e que florescia em Minas Gerais. O catolicismo era a única religião oficial do Brasil, e a
devoção virtualmente obrigatória. A Igreja tinha o papel de educadora, que foi desenvolvido
através das escolas Jesuítas (HOLANDA, 2006, p. 351).
A situação da Igreja católica vai mudar mais visivelmente em 17 de Janeiro de 1890,
com o decreto nº 119-A, do governo provisório republicano, que estabelecia um regime de
separação entre Estado e Igreja, dando lugar a um Estado não-confessional, sendo assim o
catolicismo foi nivelado por lei às seitas protestantes, e o Estado tornou-se Laico
(HOLANDA, 2006, p. 351).
No período da República Velha do Brasil, com a variedade de religiões existentes, a
Igreja católica tem seu poder político reduzido pela separação da mesma com o Estado. Mas o
poder político vai ver na Igreja um poderoso instrumento para manter a ordem pública
conturbada pelos movimentos revolucionários da época. Com isso, o decreto proclamado pelo
poder público sinalizando a necessidade de colaboração política entre a Igreja e o Estado
colocava a Igreja novamente em uma situação privilegiada (HOLANDA, 2006, p. 350).
Após a “revolução” de 1930, com a criação de um Estado com feições fascistas e
nacionalistas, a figura do chefe de Estado passa a ser valorizada em detrimento de qualquer
13
15. outro elemento, mas sem entrar em atritos com a Igreja, promove-se o cristianismo por meio
do ensino religioso e há uma supressão dos partidos políticos (SKIDMORE, 2007, p.50).
No período referente à ditadura militar no Brasil, a Igreja Católica ainda gozava de
privilégios, como o ensino religioso nas escolas públicas, conseqüentemente o catolicismo.
Após a ditadura militar, com a promulgação da constituição de 1988, a liberdade religiosa é
novamente enfatizada como sendo um aspecto obrigatório de um Estado democrático, e torna
facultativo o ensino religioso nas escolas brasileiras.
O começo efetivo do protestantismo no Brasil vai ocorrer no século XIX. Com a vinda
da família real em 1808, os ingleses conseguem autorização para realizar seus cultos nos
navios ancorados nos portos brasileiros. Mas o pentecostalismo vai ser inserido no Brasil no
século XX com a Assembléia de Deus em 1910 e a Congregação Cristã do Brasil em 1911,
ambas sectárias e ascéticas.
Na década de 1950 e 1960 é fundada a igreja Quadrangular (1951), Brasil para Cristo
(1955) e Deus é amor (1961). Na década de 1970 e 1980 surgem a Universal do reino de Deus
e a Igreja Internacional da graça de Deus, no Rio de Janeiro. Todas essas igrejas, contudo são
bastante heterogêneas, tanto em suas liturgias quanto em suas formas de organização
(MARIANO, 2005, p. 23).
O pentecostalismo brasileiro nunca foi homogêneo e contém claras diferenças
internas. A classificação que usarei nesse trabalho (seguida também pela maioria dos
estudiosos do tema) para identificar as tipologias do pentecostalismo brasileiro leva em conta
três vertentes: pentecostalismo clássico, deuropentecostalismo e neopentecostalismo. Essa
classificação foi proposta por Freston, analisando aspectos doutrinários e o espaço de tempo
em que cada uma foi criada, sendo que o termo clássico teria como idéia o pioneirismo,
14
16. enquanto o termo deuropentecostalismo3 significaria o surgimento do segundo grupo
pentecostal, e o termo neopentecostal indicaria o terceiro e novo grupo pentecostal
(FRESTON, 1981, p.81).
O pentecostalismo clássico vai abranger as duas primeiras igrejas pentecostais
fundadas no Brasil: a Congregação Cristã em 1910 e a Assembléia de Deus e 1911. Essas
igrejas são comumente denominadas clássicas reproduzindo a tipologia norte-americana, ou
seja, como uma idéia de pioneirismo histórico e antiguidade. Essas igrejas sempre tiveram
como idéias religiosas o abandono ao mundo material e rejeição ao exterior, distanciando o
púlpito dos leigos, dificultando a ascensão à hierarquia eclesiástica e criando um corpo
burocrático para preservá-la para além da vida de seus fundadores. No início, essas igrejas
eram compostas majoritariamente por pessoas com pouca escolaridade, caracterizavam-se por
um anticatolicismo ferrenho, enfatizavam o dom de línguas, a crença na volta eminente de
Cristo e eram extremamente sectárias e ascéticas. Passadas nove décadas, ambas ainda
continuam com a postura sectária e o ideário ascético.
O deuropentecostalismo mantém um núcleo teológico clássico e teve inicio a partir da
década de 1950 com Harold Williams e Raymond Boatrigth. À frente da Cruzada nacional de
Evangelização, tendo como ponto forte a igreja pentecostal Evangelho Quadrangular, eles
trouxeram para o Brasil o evangelismo de massa centrado na mensagem da cura divina. Com
mensagens sedutoras e métodos inovadores e eficientes, foram capazes de atrair inúmeros
fiéis e pastores de outras congregações, especialmente pessoas de estratos mais pobres, a
maioria nordestinos. O tema central da mensagem era sempre a cura divina. Enquanto o
3
O termo deuropentecostalismo é utilizado por Freston em virtude do radical deutero (presente no titulo do
quinto livro do pentateuco) significar segundo ou segunda vez.
15
17. pentecostalismo clássico enfatiza o dom de línguas, o deuropentecostalismo enfatiza o dom da
cura, sendo assim diferentes as ênfases em que cada qual concede ao Espírito Santo.
O neopentecostalismo abrange as igrejas que pregam um modo de vida menos ascético
na terra, utilizam muito os meios de comunicação de massa, enfatizam rituais de cura e
exorcismo, estruturam-se empresarialmente, são agressivas em sua militância e crenças, e
acreditam que a palavra humana, associada à fé, fazem acontecer coisas neste mundo. Nessas
igrejas há uma exacerbação da guerra espiritual contra o diabo e seus séquitos de anjos
decaídos. Pregam a teologia da prosperidade (o indivíduo abençoado por Deus deve ser
próspero materialmente na terra), e há uma liberdade na maneira de vestir-se ou ligações com
o mundo exterior. As Igrejas mais importantes dessa vertente são a Universal do Reino de
Deus e a Igreja da Graça de Deus.
A Igreja Universal do Reino de Deus inspirou-se na igreja Nova Vida fundada em
1960 no Rio de Janeiro, pelas mãos de Robert Mclister, que pregava o prazer como finalidade
da vida. A Universal adotou a evangelização eletrônica como carro-chefe de sua estratégia
proselitista (preferência ao rádio). A maioria de seus fiéis provém da camada baixa da
população, sendo atraídos principalmente por promessas de uma vida melhor financeiramente,
curas físicas e espirituais. Em comentário a essa questão o autor Ricardo Mariano aponta que:
Com o propósito de superar precárias condições de existência, organizar a vida
encontrar sentido, alento e esperança diante de uma situação tão desesperadora, os
estratos mais pobres, mais sofridos, mais escuros e menos escolarizados da
população têm optado preferencialmente pelas igrejas neopentecostais (MARIANO,
2005, p 12)
Sendo assim, o crescimento da Igreja Universal do Reino de Deus no Brasil e
principalmente na Bahia é muito grande. Segundo dados do IBGE, de 1991 a 2000, no estado
da Bahia houve um crescimento dos evangélicos de quase 100%, passando de pouco mais de
5% para pouco mais de 11% da população. Esse fato está ligado ao grande dinamismo que a
16
18. própria Igreja Universal se encontra no momento, já que a sua principal finalidade é resolver
os problemas habituais dos fiéis.
A Renovação Carismática Católica é um movimento leigo de linha pentecostal
oriundo dos Estados Unidos que se instalou no catolicismo brasileiro no começo de 1970,
justamente com o objetivo de combater os pentecostais protestantes. Esse combate ocorre para
neutralizar o crescimento dos protestantes utilizando elementos litúrgicos dos próprios
pentecostais para absorver um maior número de fiéis. Assim, a Renovação Carismática
Católica se constitui como uma das várias respostas que estão sendo postas em prática pela
igreja Católica para tentar barrar o avanço dos seus adversários religiosos.
A igreja Católica percebeu que dentro de uma sociedade mais secularizada e cada vez
mais pluralista em termos religiosos, era necessário redefinir seu papel em alguns aspectos,
dentre eles a liturgia. Segundo Antônio Flávio Pierucci, o catolicismo diminuiu nos últimos
trinta anos, passando de 91% da população brasileira a 73% (PIERUCCI, 2004, p. 4). Com
isso, a Renovação Carismática Católica surge, com o objetivo de renovar determinados
aspectos litúrgicos a fim de barrar o avanço do pentecostalismo evangélico, e afirmar
elementos da tradição da Igreja Católica, principalmente no interior do nordeste, onde a Igreja
católica sempre teve a maioria absoluta dos fiéis.
A ação religiosa provoca no território brasileiro mudanças sociais, culturais e
devocionais, principalmente no espaço religioso católico devido às novas expressões que a
Renovação Carismática propicia no interior da igreja. É dentro desse contexto pós-moderno
que vai se desenvolver o grupo Reviver em Santa Luz, mostrando-se claramente como um
grupo de resistência à ascensão das igrejas pentecostais evangélicas, particularmente a
Universal, por ser a igreja mais próxima fisicamente, o que por si só já a torna uma
concorrente em potencial.
17
19. CAPITULO II
Carismáticos e a Igreja Universal em Santa Luz: Aproximações e distanciamentos
A Igreja Universal do Reino de Deus foi inserida no município de Santa Luz no final
de década de 1980, passando por dois locais alugados até chegar aonde se encontra no
momento, próxima a linha férrea no município, no centro da cidade. A igreja tanto em seu
exterior quanto em seu interior é rústica, sendo, porém espaçosa, com cerca de trinta metros
de comprimento e dezoito metros de largura. São realizados cinco cultos por dia, sendo que
em cada dia é realizado um culto diferente, com soluções mágicas e milagrosas dos problemas
cotidianos. É celebrado o culto do descarrego, bem conhecido em todo o Brasil por sua
perseguição implacável as religiões africanas, onde o pastor em uma das minhas observações
clamava:
Meu Deus arranca esse demônio diante de ti, esse espírito que tá alojado lá na casa
dela, esse encosto que ta alojada lá na casa dela, que tá alojado no marido,
colocando amante, colocando vício, vicio da cachaça, vicio da bebida, vício... Essa
pessoa não tem paz, ela não tem paz, não consegue dormir direito é você tranca-rua,
tranca-rua, sai daqui, sai daí, em nome de Jesus, você que ta colocando essa dor no
corpo, na coluna, sai daqui em nome do senhor Jesus.4
Combatidos nos cultos, os demônios são devidamente identificados, por seus nomes e
qualidades, tal como se denominam pais e mães-de-santo. Quando um possesso é levado ao
púlpito, já com o demônio submetido e amarrado para que não se machuque e nem prejudique
mais seu “cavalo”5, a estrutura do ritual geralmente apresenta enredo fixo, com o pastor
perguntando seu nome, humilhando-o, como pedir imitações para que fiquem de joelhos para
serem exorcizados. As amarrações da Universal são morfologicamente similares a
manifestação de exus nas tendas de umbanda, quando os possessos ficam em transe, com o
4
Oração do pastor Heleno da Universal do Reino de Deus no município de Santa Luz dia 23/12/2008.
5
Cavalo é um termo usado no meio pentecostal para indicar que determinada pessoa possessa está subjugada por
algum demônio.
18
20. corpo retorcido e com as mãos voltadas para trás do corpo em forma de garra (MARIANO,
2005, p.131). O ritual de libertação de possessos ocorre em quase todos os cultos da
Universal.
A libertação se dá durante a oração, para que os fiéis recebam graças e libertem-se de
todos os males. Com isso, os diferentes sofrimentos e infortúnios também são atribuídos a
determinados demônios. No entanto, é preciso ressaltar que transformar os deuses de outras
religiões em demônios é uma prática antiga do cristianismo. Como exemplo pode-se citar a
demonização dos deuses de Grécia e Roma. Giovanni Filoramo coloca que:
Entre os séculos VIII e IX, surgiu, e se consolidou na Igreja e na sociedade bizantina
um movimento contrário ao culto de imagens, chamado iconoclasta, do grego
eikonoklátes, “destruidores de imagens”. As raízes religiosas da iconoclastia se
baseiam no cristianismo primitivo e em seu aniconismo (ausência de imagens),
conseqüência tanto da proibição bíblica das imagens (Exôdo20, 4), como da luta
antiidolátrica contra o culto pagão de imagens (FILORAMO, 2005. P.80).
Assim, o conflito entre o bem e o mal sempre foi o centro do cristianismo. Com
relação a isso, o próprio Edir Macedo, líder da Igreja Universal, diz que:
Omolu, por exemplo, que se intitula rei da calunga do cemitério, é um dos grandes
responsáveis por esse tipo de enfermidade (ataques epilépticos). Todas as pessoas
que tiveram nossa ajuda em oração com autoridade do nome de Jesus manifestaram
espíritos que tinham seus nomes ligados aquele mal... já oramos várias vezes por
pessoas viciadas em tóxicos, bebidas alcoólicas, cigarro ou jogo, e na maioria dos
casos, o responsável por tudo é o exu chamada “Zé pelintra” ou “malandrinho”
(MACEDO, 2000, p. 47).
Como se pode perceber há um claro ataque as religiões africanas, uma tentativa óbvia
de demonização das religiões negras no Brasil. A demonização de religiões africanas pelo
cristianismo não é algo novo. Essa perseguição decorria no Brasil da existência, nos séculos
passados e no início do século XX de extensas séries de práticas, saberes, e discursos elitistas
fundamentados no racismo, no etnocentrismo, no evolucionismo e em preceitos culturais
variados que pressupunham a inferioridade racial e intelectual do negro, e, por conseguinte,
19
21. de sua cultura religiosa. O mesmo se pode dizer dos indígenas, que desde o início da
colonização do Brasil, tiveram igualmente sua cultura negada pela Igreja Católica. Como
aponta Berta Gleizer Ribeiro:
O privilégio legal que tinha os jesuítas de subjugar o índio para comunicar-lhe a
doutrina cristã, era uma maneira sutil de escravizá-lo, tolhendo sua liberdade e
impondo-lhe uma religião e um modo de vida que não estava apto a receber... O que
resultou da pregação jesuítica não foi, porém, um índio convertido, mas um índio
subjugado, domesticado, que vendo desmoralizados os costumes a que estava
arraigado, sem ter assimilado a fé que lhe quiseram impor, não encontrava nem
motivo nem força para viver (RIBEIRO, 1983, p.43).
A oração contínua também faz parte do cotidiano da Universal em Santa Luz, onde
não é dada praticamente importância nenhuma à leitura da Bíblia, e os fiéis cantam e dançam
incessantemente sem nenhum pudor para louvar a Deus. Não existe nenhuma indicação de
como os fiéis devem se vestir para participar dos cultos, sendo muitos vistos de bermuda e
camiseta, e as mulheres usam batons e acessórios de beleza que igrejas pentecostais mais
tradicionalistas não permitem. A Universal do Reino de Deus é permissiva com relação às
coisas do mundo, e, além disso, funciona de maneira empresarial, age como uma agência de
cura divina. Sobre isso Ricardo Mariano coloca que:
Baseia-se em promessas e rituais para a cura física e emocional, prosperidade
material, libertação de demônios, resolução de problemas afetivos, familiares de crise
individual e de relacionamento interpessoal (MARIANO, 20005, p. 09).
A afirmação de Max Weber de que o dispêndio de riqueza para fins de consumo
próprio era muito facilmente associado à submissão idolatra do mundo (2009, p. 124) não
pode ser aplicada a Universal. Há uma pregação de que o prazer no mundo é um direito do
cristão abençoado, e para isso utiliza-se de elementos dotados de poderes mágicos para
alcançar a benção de Deus. A afirmação de Durkheim de que a religião, por sua vez, embora
não tenha condenado e proibido sempre os ritos mágicos, olha-os em geral de modo
desfavorável (1989, p.75) também não deve ser aplicada à Universal do Reino de Deus, já que
20
22. a mesma reutiliza a magia divina como elemento indissociável da graça de Deus, como os
elementos benzidos e abençoados pelos pastores em geral. Nesse sentido, afirma Ricardo
Mariano, “a Universal institucionalizou denominacionalmente práticas e crenças mágico-
religiosas de inspiração cristã” (2005, p.57).
O grupo de oração Reviver em Santa Luz foi criado em 2001, segundo membros do
próprio grupo, um ano após a mudança da Igreja Universal do Reino de Deus para o prédio
onde se encontra atualmente, próximo à linha férrea e a cerca de cinqüenta metros da Igreja
Católica do município. O grupo de oração reviver funciona em uma das salas da parte
superior da igreja católica, e inegavelmente tem feições pentecostais, pois sua ênfase está na
pura oração e louvor a Deus. O interessante é a relativa proximidade que a mesma está
apresentando em alguns aspectos importantes com a Igreja Universal do Reino de Deus no
município. Comparo o grupo de oração Reviver aqui com a Universal do Reino de Deus por
dois motivos: em primeiro lugar a Universal é a única igreja neopentecostal existente no
município e, em segundo, por sua relativa proximidade física com a mesma.
O local onde são realizadas as reuniões do grupo de oração Reviver, não possui
nenhuma imagem referente a santos ou ao próprio Cristo, sendo um local rústico e amplo.
Isso vai totalmente de encontro à tradição católica que sempre manteve em seus ambientes
imagens de santos católicos e de Jesus Cristo.
Bem, a mudança da Universal do Reino de Deus para um local próximo a Igreja
Católica não foi naturalmente aceita pela comunidade católica. Quando perguntada sobre o
porquê da criação do grupo de oração Reviver no município de Santa Luz, a coordenadora do
21
23. grupo de oração R. M. S. (professora, solteira) integrante do grupo de oração Reviver desde
2001 afirmou a ligação do grupo Reviver com o Renascer6 e disse em entrevista que:
O grupo nasceu da necessidade da oração e da busca constante pela intimidade com
Deus. Diante disso surgiu o convite o para o grupo de jovens da Matriz participar de
um evento em Salvador, o chamado Renascer.7
A resposta dada pela coordenadora do grupo foi um pouco genérica sobre o porquê da
criação do grupo no município, mas outros participantes do grupo de oração deram respostas
bem contundentes com relação à mudança da Universal para próximo a Igreja Católica.
M.S.S. (funcionária pública, casada) integrante do grupo desde 2007 e católica a mais de dez
anos, quando perguntada sobre a reação dos católicos sobre a proximidade das igrejas disse:
Muitos ficaram indignados. Não aceitavam essa falta de respeito. Criou-se aqui um
espírito de revanche entre essas igrejas devido a essa mudança absurda aqui pra
perto da gente. Na época, lembro que muitos foram atrás da prefeitura pra não
liberar o alvará de funcionamento pra essa igreja. 8
Sobre esse fato, segundo informações colhidas com integrantes do grupo Reviver,
houve uma procura de alguns fies católicos à prefeitura, mas não chegaram a formalizar um
pedido. A alegação dos católicos era o extremo barulho que a Igreja Universal provocava
durante os seus cultos. Pessoas ligadas a Igreja Universal comentaram que a Igreja nunca teve
problemas de convívio social naquela localidade, citando alguns problemas com vizinhos em
outras ruas, o que resultou até em pichações da Igreja em anos anteriores. Com relação a
reação dos integrantes da Igreja Universal a essa ação dos católicos, eles qualificam como
meramente ações diabólicas para atrapalhar a verdadeira obra de Deus.
A. S. L (24 anos, dona de casa), há três anos freqüentando o grupo Reviver no
município disse:
6
Renascer é um encontro anual realizado em Salvador pela Igreja Católica a fim de debater problemas e
soluções das Igrejas Católicas nos municípios do interior da Bahia. Esse encontro acontece no período do
carnaval, e é também uma espécie de retiro espiritual durante essa época do ano.
7
Entrevista com R.M.S., integrante do grupo de oração Reviver, realizada no dia 25/07/2009.
8
Entrevista com M.S.S., integrante do grupo de oração Reviver, realizada no dia 28/07/2009.
22
24. Eu acho que todo mundo tem direito de ter sua religião, mas eu não acho certo uma
igreja vim ficar tão perto aqui da nossa. É uma falta de respeito, pois muitas vezes
quando a gente ta fazendo nossa reunião, e quando pensa que não, a gente tem que
parar por que eles ficam cantando lá e atrapalha nossa oração. Por isso eu não acho
certo. 9
Percebe-se assim, que a mudança da Igreja Universal para as proximidades da Igreja
Católica causou reações negativas nos fiéis católicos, que continua sendo elemento de disputa
e discórdia entre os grupos. Com isso, o grupo de oração Reviver não deve fugir à regra sobre
sua criação, pois como é um movimento oriundo da Renovação Carismática Católica, é um
elemento que funciona para barrar o crescimento protestante pentecostal, pois a hierarquia
católica, temerosa de perder sua secular hegemonia na América Latina, chegou à conclusão de
que é preciso agir e com urgência, antes que seja tarde demais, nem que seja copiando as
estratégias da concorrência (MARIANO, 2005, p.14).
Essa aproximação entre as formas de atuação das igrejas pode ser constatada em
diferentes esferas. Começarei fazendo uma pequena análise sobre a preparação dada aos
coordenadores dos grupos de oração local. Essa preparação acontece duas vezes por semana
na Diocese Paulo Apóstolo, órgão ligado diretamente à Igreja Católica, no município de
Serrinha. Foram distribuídos para os coordenadores cinco módulos doutrinários que contém
explicações de como o coordenador(a) deve agir para a formação de um grupo de oração e
como mantê-lo e dirigi-lo depois de formado. Nisso incluem: organização dos ministérios no
interior do grupo (libertação e cura, intercessão, e oração) divisão de funções no grupo,
formas litúrgicas e as finalidades do grupo.
No 1º capitulo do 3º módulo, há um conceito do grupo de oração como própria para a
libertação de drogas ou de bebidas dos mais necessitados, cura física e a conversão de algum
parente ou amigo. A reunião deve ser espontânea e expressiva, onde manifestações como
9
Entrevista com A.L.S, integrante do grupo de oração Reviver, realizada no dia 20/06/2009.
23
25. levantar as mãos, aplaudir, mover-se e até dançar são consideradas dignas de oração do
homem. Estudo bíblico não é recomendado, pois o grupo deve ater-se à prática da oração
contínua e de louvores a Deus em suas mais variadas formas. O coordenador(a) não deve
resistir a mudanças e a utilização da música é louvável para o senhor nas reuniões
(MARIOTTI, 2008, p. 09-31).
Dentro desse aspecto, ressaltando que é um módulo de ensino doutrinário que está
direcionado para todos os membros dirigentes dos grupos de oração, percebe-se de fato como
deve funcionar um grupo de oração da renovação carismática, e que este já se aproxima
claramente das práticas da Universal, não se comportando de maneira tradicional, permitindo
que seus fiéis fiquem mais a vontade durante os cultos. E esse fato se repete em Santa Luz no
grupo de oração Reviver. Em entrevista R. M. S, quando perguntada se existia alguma
restrição ou instrução para o momento de oração, respondeu que:
O momento de oração pode ser de joelhos, sim quando está se adorando ao nosso
Deus, mas também pode ser livremente, pode ser em pé, às vezes as pessoas
preferem ficar de pé, não tem nenhuma restrição não, às vezes a gente vai colocando
e quem estiver disposto a realizar de acordo com o que a gente vai indicando, pode
ficar a vontade.10
Referente à mesma situação colocada acima, A. S. L (24 anos, dona de casa), disse:
Agora depois que eu comecei a participar do grupo de oração, tenho uma visão
melhor da igreja. Por que no grupo de oração você pode pular, dançar, cantar, tudo
para a glória de Deus. Essas coisas eu achava que a igreja não deixava a gente
fazer.11
M.S.S, quando perguntada sobre por que não participou desde o início do grupo de
oração reviver, respondeu:
Eu não gostava. Na minha visão, oração e cantos não aproximavam a gente de Deus
assim, do jeito que eles diziam. Não faziam um estudo da Bíblia, nem nada. Eu
sempre gostei de ver o padre citar versículos da Bíblia, e eu estudava também, coisa
que lá nunca vi acontecer. 12
10
Entrevista com R.M.S., integrante do grupo de oração Reviver, realizada no dia 25/07/2009.
11
. Entrevista com A.S.L., integrante do grupo de oração Reviver, realizada no dia 20/06/2009.
12
Entrevista com M.S.S., integrante do grupo de oração Reviver, realizada no dia 28/07/2009.
24
26. Sobre esse aspecto Carlos Rodrigues Brandão coloca que
No interior de um espaço de experiências, de trocas e de significados, muito
motivados, ocorrem a todo o momento quebras de unidades confessionais;
fundem-se e multiplicam-se tipos de agência divina, de cultos e de crenças, igrejas,
seitas, surtos e consultórios (BRANDÃO, 1986, p. 87).
Com base no ensinamento dos módulos preparatórios para coordenadores de grupos de
oração da Renovação Carismática Católica e nos depoimentos de participantes do grupo
Reviver, percebe-se que, nesse aspecto, há uma semelhança dentro do grupo Reviver com a
Universal do Reino de Deus, no que se refere a uma clara e real preocupação em não manter
algum tipo de ensinamento metodológico sobre orações, favorecendo assim uma maior
entrada de membros com pouca instrução formal, o que se caracteriza como uma prática
pentecostal no interior católico.
Há também uma clara perseguição a membros das religiões africanas por parte do
grupo Reviver no município de Santa Luz. No livro sobre orações selecionadas que membros
do grupo Reviver possuem, existem passagens claras sobre ataques a religiões africanas. Na
oração para libertação de todos os males, diz:
Eu renuncio a toda a invocação do espírito de exu e ogum; de Oxossi e de Iemanjá;
do espírito do caboclo e do preto velho; do espírito de índio, sete flechas, pomba-
gira; do espírito do tranca-rua, de São Jorge; do espírito de São Cosme e São
Damião. Do espírito de São Cipriano, passes espíritas e centros de macumba, a todos
os trabalhos e despachos(Orações selecionadas, 1999, p. 92).
No município de Santa luz, um membro do grupo de oração Reviver prosseguiu
orando:
Senhor Jesus, eu rogo aqui em teu nome por essas pessoas, peço que cure todo o
coração ferido e atribulado aqui nessa sala, para que o senhor liberte todos dos
espíritos guias, do espírito de Exum e Ogum, do tranca-rua, da pomba-gira, do mau
olhado e de toda a macumba senhor.13
13
Culto do grupo de oração Reviver dia 17/02/2009.
25
27. Quando os primeiros escravos foram deportados para o Brasil Colônia, trouxeram sua
bagagem cultural, inclusive religiosa. Como foram trazidos na condição de escravos, tiveram
que adequar-se a religião dominante, o catolicismo, para assim, evitar atritos. Com isso, os
escravos praticavam suas formas religiosas relacionando o nome de seus deuses com o nome
dos santos católicos. Assim, na umbanda, por exemplo, São Jorge representa Ogum, a virgem
Maria representa Iemanjá, Omolu representa a São Lázaro e a Santíssima trindade representa
a Oxalá. M.S.S., quando perguntada o porquê dessa associação do nome de santos a deuses de
religiões africanas respondeu:
Bem, a gente sabe que muitas pessoas que fazem trabalhos e despachos em casas de
macumbas, utilizam o nome de santos em lugar do nome de seus demônios para
enganar pessoas de bem e fazer acreditar que ali é um santo. Por isso, quando a
gente fala em oração a esses espíritos malignos, não estamos falando de santos e
sim de demônios disfarçados de santos. 14
Pode-se perceber que os integrantes do grupo de oração Reviver, além de reafirmar
sua identidade católica em não negar o culto aos santos, diferenciam pela maneira de orar
quando falam de um santo católico e de um deus da religião africana. Com relação a um deus
Orixá, a oração feita por fiéis católicos repreende o mal e é agressiva, diferente da oração
direcionada a um santo católico, que é uma oração de veneração. Ainda com relação a essa
demonização, a Igreja Católica, desde o início da colonização no Brasil, assumiu essa postura
frente a outras formas de religiosidade, como Rubim Santos afirma:
Na América espanhola, enquanto prática de combate ao demônio, os religiosos
repudiavam com mais ênfases as idolatrias e os sacrifícios. No Brasil, deram-se
muita atenção ás guerras indígenas, porém, consideradas, mais seriamente como
práticas bestiais, o incesto, e o canibalismo. Durante o processo de catequese, os
jesuítas „trataram de convencer‟ os indígenas de que qualquer ritual que invocasse os
mortos poderia trazer as forças malignas (AQUINO, 2000, p. 248).
Percebe-se assim, que semelhante a Universal do Reino de Deus em Santa Luz, ao
demonizar as religiões africanas no município, o grupo de oração Reviver também faz isso
14
Entrevista com M.S.S., integrante do grupo de oração Reviver, realizada no dia 28/07/2009.
26
28. identificando os demônios por seus nomes e qualidades, relacionando as doenças causadas por
esses demônios com seus nomes. Quando perguntada o porquê de sua participação do grupo
reviver de oração, A. S. L, disse:
Eu antes me sentia sozinha, queria achar um lugar onde eu me sentisse bem com
Deus, mas nunca quis ser crente não. Aí foi quando me falaram sobre o reviver e eu
vim participar. Tinha também a questão de meu pai beber muito, aí eu vim para a
igreja libertar ele. 15
A palavra libertação é muito comum no meio pentecostal. Geralmente significa livrar-
se de algum mal espiritual, que prejudica as pessoas e interfere de modo negativo nas suas
relações sociais. Então, sempre quando alguém do meio pentecostal usar o termo “libertar”,
infere a libertação de um mal superior, no caso demônios representados por orixás africanos.
M.S.S., quando perguntada sobre os motivos que levaram a mesma a participar do grupo de
oração reviver, respondeu que:
Primeiramente, eu estava muito fria na igreja. Não sentia a presença de Deus na
minha vida. Os problemas familiares que eu estava passando por causa dos
despachos e trabalhos que faziam para mim e para minha família me fizeram
participar e procurar Deus no grupo de oração. Tinha que livrar minha família da
pomba-gira e do espírito diabólico de Exum. Queria me libertar. 16
Com referência a essa situação de demonização no âmbito doméstico, isso é uma
característica pentecostal, inclusive muito pregada pela Igreja Universal do Reino de Deus no
município. Sobre isso, Maria das dores Campos Machado sustenta:
Identifiquei maior tendência a demonização dos conflitos domésticos nos grupos
pentecostais populares, em que o nível de instrução é baixo em ambos os sexos, e a
passagem pelas religiões afro-brasileiras se mostraram mais freqüente (MACHADO,
1996, p.109).
Outra situação interessante no grupo reviver é sua aproximação a uma agência de cura
divina, em que a maior parte dos fiéis não é fixa. Na verdade, muitos vão ao grupo com o
15
Entrevista com A.S.L., integrante do grupo de oração Reviver, realizada no dia 20/06/2009.
16
Entrevista com M.S.S., integrante do grupo de oração Reviver, realizada no dia 28/07/2009.
27
29. intuito de procurar ajuda com relação a problemas habituais e cotidianos, mostrando-se assim
que possui claras feições neopentecostais. R. M. S, com relação os problemas citados pelas
pessoas que procuram o reviver explica que:
Muitas vezes são problemas relacionados com os vícios, ao álcool, violência em
casa, questões de saúde, e buscam no grupo de oração esse auxílio através da oração
e cura. Então eles vem muito no grupo de oração buscar essa força, essa proteção,
esse auxílio.17
Com relação à pergunta de quantas pessoas em média freqüentam o grupo de oração
reviver, R. M. S. respondeu que:
Tem um grupo que sempre participa freqüentemente que são os fiéis, que conduz o
encontro, mas tem o grupo maior de pessoas que vem sempre que precisa de
oração.18
Diante desse quadro, percebe-se então com maior clareza que há sim uma grande
absorção de elementos e da forma de organização da Universal do Reino de Deus por parte do
grupo de oração Reviver, pois funciona como agência de cura divina, expulsando os demônios
e não tendo um grande grupo de fiéis fixos. Entende-se aqui por fiéis fixos um número
relativo de pessoas que freqüentam regularmente em um grupo religioso, ou seja, sempre as
mesmas pessoas (ou a maioria) comparecendo as reuniões por vários motivos, e não havendo
um rodízio significativo de fiéis nesse grupo religioso. Assim, a idéia de fixo exposta aqui não
significa imutável ou permanente, mas apenas com baixa rotatividade de pessoal.
No caso do ingresso de uma pessoa no grupo de oração Reviver resulta de crises do
cotidiano do indivíduo, como: desorientação psicológica, problemas conjugais e familiares,
doenças, alcoolismo ou vícios em drogas e dificuldades financeiras. Para Carranza, nesses
casos “sob a ação do Espírito Santo, recria-se a referência mítica e miraculosa como recurso
17
Entrevista com R.M.S., integrante do grupo de oração Reviver, realizada no dia 25/07/2009.
18
Idem.
28
30. para a solução de problemas e aflições do fies. Prega-se uma nova mensagem religiosa e
sugere-se o conforto espiritual para atrair fiéis” (1998, p. 39).
Conforme dispõe Ricardo Mariano, a igreja Universal funciona como um verdadeiro
“pronto-socorro espiritual”, com o famoso lema “Pare de sofrer”. Assim, as pessoas
atualmente expostas aos meios de comunicação de massas e bombardeadas constantemente
pelos valores da sociedade secularizada, se transformam em indivíduos insatisfeitos e
angustiados que busca no emocionalismo e no misticismo uma saída para seus problemas
habituais e conflitos pessoais. Dentro dessa perspectiva, as religiões como o catolicismo
tendem a perder seus adeptos para as formas de religiosidade em que a crença e o ritual
místico favorecem ao acesso mais fácil ao sagrado como forma de êxtase emocional e mística.
E isso se reflete no município de Santa Luz.
De fato, a clara pentecostalização de segmentos do catolicismo como o grupo Reviver
no município de Santa Luz demonstra que a hegemonia católica está ameaçada
concomitantemente com a ampliação e difusão de outras religiões de matriz cristã, sendo essa
pentecostalização um instrumento usado como forma da reação para a disputa pelo mercado
religioso no município. Desta forma o movimento dos carismáticos emerge como parte de
uma Igreja Católica que esta em plena reestruturação buscando conquistar os novos fiéis e
resgatar os antigos. Sobre isso, Prandi atesta que:
A Renovação Carismática Católica passou a ser vista como um braço muito
operante, a arma procurada para defender e reconquistar os territórios perdidos para
pentecostais, afro-brasileiros, religiões orientais e outras ameaças menores. Apesar
das inovações que poderiam até desfigurar o velho catolicismo, a RCC mostrou que
poderia trazer de volta uma população de católicos que passeavam entre as várias
opções do mercado religioso. Mostrou que poderia de novo encher as igrejas, e
encher as igrejas com muito fervor e devoção (PRANDI, 1997, p. 53).
Mas apesar de absorver elementos importantes da Universal do reino de Deus, o grupo
Reviver também reafirma dogmas católicos. A hierarquização da instituição tenta neutralizar
29
31. a influências de crenças e práticas pentecostais, e se percebe isso no grupo Reviver com a
ampla devoção a Maria e também a obediência ao padre local. Esse reconhecimento de Maria
como sendo a virgem imaculada e mãe de Deus (dogma católico), serve de referência de
identidade própria para que fique clara a diferenciação dos carismáticos com outros grupos
religiosos pentecostais, no que concerne aos dogmas.
Sobre isso, Prandi atesta que “na luta pela distinção e superação dos pentecostais, o
apelo à devoção a Maria tem peso nos discursos dos lideres da RCC... Sabendo reconhecer o
valor que a mãe de Jesus tem para sua identidade” (1997, p. 156). Dentro desse aspecto,
Maria das Dores Campos Machado aponta que a devoção a virgem Maria foi estimulada para
demarcar as fronteiras entre o catolicismo e o pentecostalismo, sendo que em certa medida
reforçar a identidade católica dos carismáticos. A autora coloca que:
Mas naquele estudo, concluímos que a classe de origem dessas mulheres e a força de
alguns elementos católicos, particularmente o marianismo, influenciavam muito
neste movimento (a RCC), levando a um retorno ao universo católico através da
Renovação Carismática Católica (MACHADO, 1996, p. 99).
Também é interessante ressaltar que no início o grupo reviver não teve um amplo
apoio da comunidade católica no município devidos as suas características pentecostais, e até
hoje encontra certa dificuldade em romper com o preconceito com seus membros. A respeito
disso, R. M. S. (professora, solteira) falou que:
No início tivemos dificuldade, bastante rejeição, preconceito aos membros do grupo
de oração, muita indiferença, mas com o tempo nós fomos nos colocando e
mostrando que a oração é essencial e o grupo de oração tem esse objetivo de
interceder, de rezar pela igreja, pelas famílias e por toda nossa realidade.19
Em virtude do que foi mencionado, esse é um fator bastante importante a ser
abordado, percebendo assim que mesmo com a introdução de um novo grupo mais adequado
19
Entrevista com R.M.S., integrante do grupo de oração Reviver, realizada no dia 25/07/2009.
30
32. aos costumes modernos, o tradicionalismo de pessoas ligadas à igreja mostrou-se como uma
forma de resistência e distanciamento do mundo moderno e pluralista atual.
Ocorre que apesar do grupo Reviver ser parte integrante da Igreja Católica, muito dos
fiéis não conseguiu assimilar as mudanças ocorridas no interior da igreja, resistindo de fato às
novas formas religiosas, aceitando somente o saber religioso do padre, onde não há uma
redefinição rigorosa de identidade confessional, como uma ressocialização atualizadora de
novos códigos religiosos de crenças e práticas rituais. Constata-se, portanto, que houve uma
discriminação do grupo de oração Reviver frente pelos católicos tradicionais no município de
Santa Luz. Sobre isso, Prandi atesta que:
Os dez primeiros anos da RCC no Brasil foram de crescimento e desaprovação, por
ser um movimento leigo e independente em relação à estrutura da igreja. Na própria
estrutura financeira, ela inovava e reafirmava a sua independência e enquanto
aumentava em numero de membros, não recebia o apoio de um vaticano progressista
(PRANDI, 1997, p. 52).
M.S.S. foi perguntada sobre a falta de apoio da comunidade católica ao grupo de
oração reviver no seu surgimento e respondeu que:
Ninguém gostava por que quem dirigia os cultos não era nem o padre, eram pessoas
que nem sabiam da bíblia direito. Mas com o tempo, o povo foi aceitando. O
próprio padre nas missas falava que era um grupo da igreja e que todos que
pudessem deviam participar. Aí, muitos que só escutavam o padre, acabaram
aceitando o grupo na igreja. 20
Com isso, apesar da discriminação sofrida pela comunidade católica, o grupo Reviver
acabou sendo aceito pelos fiéis mais tradicionalistas, pois como se percebe, o papel do padre
foi determinante para a mudança de atitude de muitos católicos para com o grupo Reviver,
pois o padre, chefe maior da igreja local, sabia que o grupo de oração reviver estava
incumbido de recuperar antigos fiéis e absorver novos integrantes, trazendo assim benefícios
para a igreja local. Não foi um processo que ocorreu de maneira aleatória, mas sim teve uma
20
Entrevista com M.S.S., integrante do grupo de oração Reviver, realizada no dia 28/07/2009.
31
33. supervisão da igreja para que a maioria católica aceitasse. Os padres locais que
acompanharam o crescimento do grupo de oração Reviver foram o padre Cícero (2000-2004)
e o padre Jairo (2004-2009).
Segundo integrantes do grupo de oração Reviver, o padre Cícero era o incumbido da
Igreja Católica no momento do surgimento do Reviver, embora não estivesse tão diretamente
envolvido com as atividades do grupo. Sua relação com o grupo carismático, portanto, deu-se
de maneira mais formal, mas este, sem dúvida, apoiava sua expansão no município.
O Padre Jairo, por outro lado, apoiou mais intensamente o grupo. Embora não se
envolvesse diretamente nas reuniões, (já que a atuação do grupo, que como já foi dito, é de
responsabilidade dos leigos carismáticos católicos), o padre sempre incentivou os fiéis a
participar do Reviver, promovendo encontros entre os jovens do grupo de oração, além de
promover jogos e eventos na Igreja local, ligados ao grupo Reviver.
A proximidade entre as instituições religiosas de fato é um elemento que aguça as
tensões entre ambas. Localizada a cerca de cinqüenta metros da Igreja Católica, a Universal
do reino de Deus se configura como uma poderosa concorrente no mercado religioso local, o
que vai exigir da Igreja Católica alguma reação. Essa reação veio com o grupo Reviver, com o
objetivo de impedir a ascensão da Universal na localidade, o que naturalmente lhe
prejudicaria com a dispersão de parte de seus fiéis, que insatisfeitos com os seus problemas
cotidianos, iriam procurar ajuda no pentecostalismo emocional mais próximo, que seria a
Igreja Universal.
Com isso, numa situação de pluralismo religioso, a concorrência inter-religiosa para
cooptar e manter adeptos e fiéis é extremamente acirrada. Assim, o desafio no município é
atrair o maior número possível de indivíduos aos cultos, onde no interior das instituições
(Reviver e Universal) há a pregação e a tentativa de romper com o ceticismo e com as
32
34. barreiras que impeçam o virtual adepto de se entregar a Jesus, de mudar de religião e de se
manter na nova comunidade religiosa.
O Homem pós-moderno encontra-se sem referência segura, apático socialmente e
dando adeus as ilusões, passa a dar valor a tudo que se refere a sensações, como escapismo
para algum tipo de sentido além da realidade. O pluralismo religioso cria um ambiente
propício para a adesão a novas formas de diversificação dos cultos e reuniões, pois a tentativa
agora é manter e conquistar os fiéis, arrebanhando pessoas que procuram a solução imediata
de seus problemas ou de suas exclusões sociais, ansiando satisfação pessoal e buscando uma
peculiar ligação com o divino. Com isso, o sujeito tornou-se um ser fragmentado, plural,
composto de várias identidades, muitas vezes contraditórias e mal resolvidas. É assim, que o
grupo de oração Reviver, pronto para dar atendimento às carências mais latentes do indivíduo,
faz surgir um novo filão religioso no município, reunindo em suas dependências jovens e
adultas, assegurando a vitória divina em meios às atribulações vividas pelo homem na terra.
33
35. CONSIDERAÇÕES FINAIS
De acordo com todas as análises sociológicas feitas acerca do pentecostalismo,
podem-se constatar as mais variadas mudanças que ocorreram no interior desse grupo
religioso. Com o surgimento do neopentecostalismo, em especial a Universal do Reino de
Deus, as promessas e soluções mágicas para os problemas cotidianos passaram a ser usados
frequentemente como instrumentos de cooptação de indivíduos, na maioria das vezes dos
estratos mais marginalizados da sociedade. Essa Igreja apresenta-se com uma estratégia de
ajustamento dos indivíduos pobres na sociedade pós-moderna. Com a teologia da
prosperidade, esses indivíduos não teriam que pagar um preço tão alto com as proibições
legalistas, prescrições e tabus comportamentais para serem considerados eleitos por Deus.
Agora, o enriquecimento e o consumismo passam também a ser frutos de uma fé abençoada.
Apesar de a modernidade possibilitar ao homem um maior controle sobre a natureza
(em particular sobre seu próprio corpo), não resolveu as tensões, ameaças e apreensões
humanas. A angústia existencial do homem continuou como uma incógnita. A própria
modernidade fomentou descontentamentos e o aparecimento das mais variadas formas
religiosas, com o objetivo de aproximação com o sobrenatural. Assim, a competição religiosa
foi acirrada, e consequentemente, a adequação de algumas religiões como catolicismo foi de
fato obrigatória para tentar causar uma retração nas religiões que ameaçam seu poder.
A lógica de mercado tem levado as formas religiosas a desempenhar um papel social
muito ativo, onde o individualismo do mundo moderno produziu uma solidão pavorosa no
homem, levando o mesmo a consumir a própria religião cada vez mais, como uma forma de
compensação das necessidades afetivas. Assim, a Universal do Reino de Deus, o famoso
“pronto-socorro” citado por Ricardo Mariano, ganha cada vez mais adeptos em várias partes
34
36. do Brasil, devido em grande parte pela sua linguagem simples e as promessas com soluções
para os problemas cotidianos, utilizando para isso elementos dotados de poderes mágicos
como instrumento de aproximação com o sobrenatural.
O surgimento das comunidades carismáticas, no início não foram bem aceitas entre
maioria dos membros da Igreja Católica. O maior medo do clero era a perda de poder sobre
esse novo grupo religioso, embora os fiéis tradicionais não aceitassem a nova forma de
devoção propagada pelos leigos. Com isso, percebemos que houve uma discriminação sofrida
pelo grupo Reviver no interior da igreja no municio de Santa Luz. Para resolver esse
problema, os leigos carismáticos têm que obedecer dois dogmas católicos: veneração a Maria
e obediência ao Papa e a santa igreja. O padre local teve papel importante para que a
comunidade católica aceitasse em seu seio o grupo de oração Reviver, reafirmando sempre a
identidade católica do grupo de oração e interferindo a favor do crescimento local do grupo
Reviver.
O grupo de oração Reviver no município de Santa Luz tem de fato, se aproximado de
alguns elementos da igreja Universal do Reino de Deus. O primeiro é a ênfase no exorcismo e
na demonização das religiões afro-brasileiras. São os espíritos malignos e forças demoníacas
que atuam na vida do indivíduo, destruindo-lhe a personalidade e causando comportamentos
desviantes como traição, agressividade física, alcoolismo entre outros vícios.
O segundo é a extrema ênfase dada no espírito santo e no pentecostes. Não existe uma
ordem comportamental de como o fiel deve adorar a Deus. O espírito, portanto, é a presença
sobrenatural nas reuniões carismáticas, que pode ser através de um hino, uma pregação, uma
oração ou até de técnicas corporais como a dança e as palmas, elementos tão presentes na
Universal do Reino de Deus. Também há de ressaltar a pouca importância dada pelo grupo
Reviver a leitura da Bíblia.
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37. O grupo de oração Reviver também funciona como uma agência de cura divina, pois
se propõe a resolver os problemas do cotidiano das pessoas, sendo que não tem um elevado
grupo de participantes fixos. As pessoas vão até o grupo com o intuito de resolver seus
problemas pessoais, a fim de obter um conforto espiritual. O grupo de oração Reviver no
município funciona como um aliado forte para barrar o avanço pentecostal, inclusive da sua
vizinha Universal do Reino de Deus.
A redefinição de valores do grupo de oração Reviver no município obedece à rigorosa
observância ao culto da virgem Maria e a obediência a Igreja Católica, visto que apesar de ser
dirigido por leigos, é um movimento oriundo da igreja, fato que serve como reforço da
identidade católica do grupo na localidade.
O grupo de oração Reviver, semelhante a outros grupos de oração da RCC que se
espalharam por quase todas as paróquias do Brasil, adquire uma expressividade religiosa
ímpar, e apresenta às massas uma novidade religiosa, ou melhor, um retorno ao culto litúrgico
que estava esquecido na origem do cristianismo, mesclando novos e velhos elementos,
conseguindo dar um novo impulso ao catolicismo luzense, sem perder, porém, sua identidade
católica.
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38. REFERÊNCIAS
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movimentos sociais. 5ed. Local: Record, 2006.
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tradução Maria Claro Cescato. 2ªed. SP, Brasília, 2004. P. 553-568.
BOX, Charles R. A idade de ouro no Brasil: dores de crescimento de uma sociedade
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RJ: Vozes, 1994, p. 67 -159.
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Camila Kintzel; organização da edição brasileira Adone Agnolin. 1ª Ed. SP: Hedra, 2005.
MACHADO, Maria das Dores Campos. Carismáticos e pentecostais: Adesão religiosa na
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Paulo Sérgio Pinheiro... et al. 8ª ed. RJ: Bertrand Brasil, 2006.
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protestantismo brasileiro e suas tendências atuais. Trabalho apresentado no simpósio da
XXIII ANPUH na UEPG, 2005.
PRANDI, Reginaldo. Um sopro do espírito: a renovação conservadora do catolicismo
carismático. São Paulo: USP, 1997.
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39. PIERUCCI, Antônio Flávio. “Bye, bye Brasil” – O declínio das religiões tradicionais no
censo 2000. Estudos avançados, Estudos avançados, volume 18, SP, 2004.
RIBEIRO, Berta Gleizer. O índio na história do Brasil. São Paulo: Global, 1983.
SKIDMORE, Thomas. Brasil: de Getúlio a Castelo, 1930-1964. Rio de Janeiro: Paz e terra,
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WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. 4ª Ed. SP: Martin Claret,
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economia e sociedade, Vol I, Ed. Da UNB, Brasília, 1991.
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FONTES
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2000.
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formação. SP: Loyola, 2008. 1º, 2º, 3º, 4º e 5º modulo.
Orações selecionadas por cura e intercessão, 23ª Ed. Sorocaba, Loyola, out. de 1999.
Descrição densa e observação sistemática da Igreja Universal do Reino de Deus em Santa Luz
e seu culto dia 01/11/2008 e 14/01/2009.
Gravações de cultos da Igreja Universal do Reino de Deus dia 01/11/2008 e do grupo de
oração reviver dia 17/02/2009.
Entrevista com A.S.L., integrante do grupo de oração reviver, realizada no dia 20/06/2009.
Entrevista com M.S.S., integrante do grupo de oração Reviver, realizada no dia 28/07/2009.
Entrevista com R.M.S., integrante do grupo de oração Reviver, realizada no dia 25/07/2009.
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41. ANEXOS
A - Entrevista com R.M.S., integrante do grupo de oração Reviver, realizada no dia
25/07/2009.
1º Há quanto tempo que você faz parte da Igreja Católica de Santa Luzia no Município
de Santa Luz?
Há, já faz tempo... Tem mais de 10 anos.
2º E há quanto tempo você participa do grupo de oração reviver?
Desde 2007 que eu venho aqui no grupo de oração.
3º Quais foram os motivos ou razões que levaram você a participar e freqüentar o grupo
de oração reviver?
Primeiramente, eu estava muito fria na igreja. Não sentia a presença de Deus na minha vida.
Os problemas familiares que eu estava passando por causa dos despachos e trabalhos que
faziam para mim e para minha família me fizeram participar e procurar Deus no grupo de
oração. Tinha que livrar minha família da pomba-gira e do espírito diabólico de Exum.
Queria me libertar
4º Por que você não participou desde o inicio do grupo de oração reviver?
Eu não gostava. Na minha visão, oração e cantos não aproximavam a gente de Deus assim,
do jeito que eles diziam. Não faziam um estudo da Bíblia, nem nada. Eu sempre gostei de ver
o padre citar versículos da Bíblia, e eu estudava também, coisa que lá nunca vi acontecer.
5º Com a mudança da Igreja Universal do Reino de Deus aqui para próximo a igreja
católica, como a comunidade católica reagiu a isso?
Muitos ficaram indignados. Não aceitavam essa falta de respeito. Criou-se aqui um espírito
de revanche entre essas igrejas devido a essa mudança absurda aqui pra perto da gente. Na
época, lembro que muitos foram atrás da prefeitura pra não liberar o alvará de
funcionamento pra essa igreja.
6º Fiquei sabendo que no inicio muitos católicos não aprovavam o grupo de oração
reviver na igreja. Hoje, parece que o grupo de oração reviver não enfrenta mais esses
problemas. Como isso ocorreu?
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42. Ninguém gostava por que quem dirigia os cultos não era nem o padre, eram pessoas que nem
sabiam da bíblia direito. Mas com o tempo, o povo foi aceitando. O próprio padre nas missas
falava que era um grupo da igreja e que todos que pudessem deviam participar. Aí, muitos
que só escutavam o padre, acabaram aceitando o grupo na igreja.
7º Como você explica a utilização e associação de nomes de santo a Deuses africanos
(demônios para os cristãos) nas reuniões do grupo reviver? Você também utiliza isso?
Bem, a gente sabe que muitas pessoas que fazem trabalhos e despachos em casas de
macumbas, utilizam o nome de santos em lugar do nome de seus demônios para enganar
pessoas de bem e fazer acreditar que ali é um santo. Por isso, quando a gente fala em oração
a esses espíritos malignos, não estamos falando de santos e sim de demônios disfarçados de
santos.
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43. B - Entrevista com R.M.S., integrante e coordenadora do grupo de oração Reviver, realizada
no dia 25/07/2009.
Me Fale um pouco sobre como ocorreu a criação do grupo de oração Reviver no
município de Santa Luz e quais foram os reais motivos para que a criação do grupo de
oração ocorresse.
O grupo surgiu da necessidade da oração, e da busca constante pela intimidade com Deus,
diante disso surgiu o convite para o grupo de jovens da Matriz participar de um evento em
Salvador, o chamado Renascer.
Qual a sua rotina e função aqui no grupo Reviver?
Minha rotina é manter o grupo unido, na oração pessoal, na comunidade, na palavra de
Deus, através também da formação, nos encontros de oração, também no acompanhamento e
aconselhamento dos membros, e na partilha pessoal, sempre que necessário, organizar
evento da RCC na Matriz, visitas as famílias, e etc.
Como o grupo está organizado? Existe alguma hierarquia?
O grupo está organizado da seguinte forma: coordenação geral, vice-coordenação geral,
coordenação do ministério jovem, e auxiliares.
Gostaria que você me falasse um pouco sobre como as pessoas ligadas aos setores mais
tradicionais da Igreja reagiram com a criação do grupo Reviver em Santa Luz?
No início tivemos dificuldade, bastante rejeição, preconceito aos membros do grupo de
oração, muita indiferença, mas com o tempo nós fomos nos colocando e mostrando que a
oração é essencial e o grupo de oração tem esse objetivo de interceder, de rezar pela igreja,
pelas famílias e por toda nossa realidade.
Existem vários testemunhos e relatos em várias igrejas cristãs. Aqui na Renovação
Carismática Católica (Reviver) em Santa Luz, existem testemunhos? Qual o significado
do testemunho no grupo Reviver?
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44. É através do testemunho que todos se ativam e despertam outros irmãos a viver experiências
com o amor de Deus. Os fiéis demonstram entusiasmo, perseverança, e uma alegria que os
une e os diferencia dos demais.
Qual o perfil dos fiéis que freqüentam o grupo Reviver aqui no município de Santa Luz
e quais seriam os principais problemas que eles dizem passar e vêm buscar ajuda aqui
no grupo?
São jovens que buscam estar perto de Deus, no serviço da Igreja como coral, no teatro,
celebração das missas, buscam o refúgio, o consolo, a proteção na oração, no louvor, na
palavra de Deus. Muitas vezes são problemas relacionados com os vícios, ao álcool,
violência em casa, questões de saúde, e buscam no grupo de oração esse auxílio através da
oração e cura. Então eles vêm muito no grupo de oração buscar essa força, essa proteção,
esse auxílio.
Com relação ao livro orações selecionadas para intercessão e cura, você usa algumas
daquelas orações nas reuniões? Qual seria o objetivo delas?
Algumas orações ministradas são orações de intercessão, pedindo perdão ou proteção de
Deus, súplica ao Espírito Santo, a cura interior, pedindo providência divina de acordo com a
necessidade. A nossa vida é dom de Deus, mas no nosso mundo em que vivemos existe muitos
problemas, muitas tribulações, e é por isso que precisamos estar em constante oração
suplicando a graça de Deus em nossa vida.
Como você se apresenta para a questão da própria libertação ou melhoração no grupo
Reviver? Há testemunhos sobre como acontece essa libertação? O que seria essa
libertação?
Geralmente quando se fala em libertação, se fala em alguém possesso por espírito mal. Nossa
libertação precisa ser dos nossos próprios apegos, sofrimentos sem razão de ser, falta de
amor ao próprio, a falta de perdão, a falta do amor a Deus, a falta de fé, o medo, houve
testemunhos no grupo de oração sobre alguns desses problemas.
O que significa orações em línguas no grupo Reviver? Isso já ocorreu aqui no grupo?
Me fale um pouco sobre isso.
A oração em línguas é uma forma de falar com Deus, é um jeito simples de rezar quando não
temos mais palavras para dizer. Deixamos que o nosso coração cante, louve ao nosso Deus,
como está em Marcos, capítulo 7, versículo 16, falaram novas línguas, em Atos dos
Apóstolos, capítulo 2 versículo 4, diz: todos ficaram repletos do Espírito Santo e começaram
a falar em outras línguas, conforme o espírito os concedia que falassem.
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45. Qual o número aproximado de pessoas que freqüentam o grupo Reviver?
Tem um grupo que sempre participa freqüentemente que são os fiéis, que conduz o encontro,
mas tem o grupo maior de pessoas que vem sempre que precisa de oração.
Com relação à maneira de orar do fiel, há alguma restrição ou instrução por parte do
grupo Reviver?
O momento de oração pode ser de joelhos, sim quando está se adorando ao nosso Deus. Mas
também pode ser livremente, pode ser em pé, às vezes as pessoas preferem ficar de pé, não
tem nenhuma restrição não, às vezes a gente vai colocando e quem estiver disposto a realizar
de acordo com o que a gente vai indicando, pode ficar a vontade.
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46. C - Entrevista com A.S.L., integrante do grupo de oração Reviver, realizada no dia
20/06/2009.
Você já participava da Igreja Católica antes do grupo Reviver?
Não, eu não era membro da Igreja Católica. Na verdade, não ia em nenhuma Igreja, pois não
me sentia a vontade em nenhuma delas.
E as igrejas pentecostais como a Universal do Reino de Deus? Você já foi lá?
Não... Eu não gosto da Universal. É uma Igreja muito manchada. Dizem que os pastores
roubam o dinheiro do povo. Aí eu não ia me sentir bem lá.
Qual a sua visão sobre a Igreja Católica antes de entrar para o Reviver?
Eu sempre achei a Igreja Católica muito fechada sabe?... Assim, é como que você não tivesse
nenhuma liberdade. Até o próprio local me assustava, com os bancos de madeira com os
locais para ajoelhar, eu nunca gostei disso não.
Você participa de algum grupo aqui da Igreja Católica que não seja o Reviver?
Não, só participo do grupo Reviver.
E qual a sua visão hoje, atualmente sobre a Igreja Católica, depois que você começou a
participar do grupo Reviver?
Agora depois que eu comecei a participar do grupo de oração, tenho uma visão melhor da
igreja. Por que no grupo de oração você pode pular, dançar, cantar, tudo para a glória de
Deus. Essas coisas eu achava que a igreja não deixava a gente fazer.
Gostaria de saber quais os motivos que levaram você a freqüentar o grupo Reviver?
Eu antes me sentia sozinha, queria achar um lugar onde eu me sentisse bem com Deus, mas
nunca quis ser crente não. Aí foi quando me falaram sobre o reviver e eu vim participar.
Tinha também a questão de meu pai beber muito, aí eu vim para a igreja libertar ele.
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47. O que você acha sobre a localização da Igreja Universal, junto da Igreja Católica?
Eu acho que todo mundo tem direito de ter sua religião, mas eu não acho certo uma igreja
vim ficar tão perto aqui da nossa. É uma falta de respeito, pois muitas vezes quando a gente
ta fazendo nossa reunião, e quando pensa que não, a gente tem que parar por que eles ficam
cantando lá e atrapalha nossa oração. Por isso eu não acho certo.
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48. D – Foto da Igreja Universal do Reino de Deus (à esquerda) e da Igreja Católica (à direita) no
município de Santa Luz.
Na imagem abaixo Igreja Universal do Reino de Deus e Igreja Católica vistas da Estação Ferroviária
de Santa Luz – Foto tirada por Paulo Viana Cunha no dia 08/02/2008.
Na imagem abaixo Igreja Universal do Reino de Deus e Igreja Católica vistas da Estação Ferroviária
de Santa Luz – Foto tirada por Paulo Viana Cunha no dia 08/02/2008.
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49. Na imagem abaixo Igreja Universal do Reino de Deus e Igreja Católica vistas da Praça Joaquim de
Góes no município de Santa Luz – Foto tirada por Paulo Viana Cunha no dia 08/02/2008.
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