2. A ORIGEM DO NOME
Arcadismo vem da palavra Arcádia – região do
Peloponeso na Grécia – considerada região de morada dos
deuses. Lá habitavam pastores que, além do pastoreio, se
dedicavam à poesia.
As arcádias portuguesas foram grupos de poetas que
queriam redescobrir o equilíbrio e a sabedoria da
antiguidade greco-latina, também chamada de clássica.
Daí, então, o nome NEOCLASSICISMO.
Imagem: Badseed / public
domain
3. ENTENDENDO O CONTEXTO
A luz da razão volta a brilhar forte sobre a Europa
do século XVIII. O cientista olha para o céu e se
pergunta sobre a configuração das estrelas, o
filósofo questiona o direito da nobreza a uma vida
privilegiada. Assim, razão e ciência iluminam a
trajetória humana, explicando fenômenos e
propondo novas formas de organizar a sociedade.
Nesse sentido, como a literatura reflete essas
transformações? Vamos ver?
4. O SÉCULO DAS LUZES
O Iluminismo
Conjunto de tendências
ideológicas, filosóficas e
científicas desenvolvidas
no século XVIII, como
consequência da
recuperação de um espírito
experimental, racional, que
buscava o saber
enciclopédico.
Imagem:Nicolas Lancret / O Balanço, 1730.
5. DEFININDO NEOCLASSICISMO
Foi um movimento literário formado por artistas e
intelectuais que se concentraram no combate à
mentalidade religiosa e à arte barroca através do
resgate do racionalismo e do equilíbrio do Classicismo
do século XVI.
Imagem b:
Samuele Piazza /
Creative
Commons
Licença 3.0
Imagem a: Vincenzo
Camuccini / Portrait
des de:August Grahl
(1791-1868) /
domínio público
6. PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS
1 - EQUILÍBRIO
Os árcades propunham o retorno ao modelo
clássico porque neles encontravam o equilíbrio dos
sentimentos por meio da razão. Essa razão é a força
controladora dos excessos.
No Neoclassicismo, a linguagem simples, sem
muitas figuras de linguagem, combatia, então, os
exageros do Barroco.
7. BUCOLISMO
Inspirados pelo preceito do poeta latino Horácio,
(fugere urbem) fugir da cidade, os árcades
acreditavam que somente em contato com a
natureza o homem poderia alcançar o equilíbrio, a
sabedoria e a espiritualidade.
Em seus poemas, os árcades apresentavam temas
ligados a cenários de vida no campo. No entanto,
os poetas continuavam na cidade e usavam a
natureza como moldura para seus poemas.
8. CONVENCIONALISMO
Frases feitas, clichês, lugar comum. Combate ao
rebuscamento do Barroco.
Os árcades usam expressões como: Campos verdes,
árvores frondosas, ovelhas e gado, dias
ensolarados, regatos de água cristalina, aves que
cantam.
9. Carpe diem – aproveite o dia
Diferentemente do
Barroco que via o carpe
diem como referência à
fugacidade da vida, no
Arcadismo o pastor
chama a amada para que
juntos aproveitem o dia e
os momentos.
Imagem: Anselm Feuerbach / Gastmahl des Plato / domínio público
10. NEOCLASSICISMO EM
PORTUGAL
O século XVIII representou para Portugal o início de um
processo de modernização econômica, política,
administrativa, educacional e cultural. A produção cultural
foi ampla e variada, incentivada pelas academias literárias
árcades.
Manuel Maria du Bocage foi a principal expressão
literária desse período.
11. BOCAGE
Com uma vida marcada por
conflitos e desilusões, sua
trajetória literária começou em
1793, com seu primeiro volume
das “Rimas”.
Poesia lírica = presa aos valores
do Arcadismo (pastores, cenas
naturais);
Poesia satírica = voltada
principalmente contra o
absolutismo político e religioso;
Poesia ecomiástica – destinada à
bajulação;
Poesia erótica – muito
censurada, marcada por uma
linguagem direta, maliciosa,
trazendo, muitas vezes, cenas de
atos obscenos.
Imagem: Autor Desconhecido / Pintura do poeta Bocage /
public domain
12. SONETO DE TODAS AS PUTAS
Não lamentes, ó Nize, o teu estado;
Puta tem sido muita gente boa;
Putissimas fidalgas tem Lisboa,
Milhões de vezes putas teem
[reinado:
Dido foi puta, e puta d'um soldado;
Cleopatra por puta alcança a c'roa;
Tu, Lucrecia, com toda a tua proa,
O teu conno não passa por
honrado:
Essa da Russia imperatriz famosa,
Que inda há pouco morreu (diz a
[Gazeta)
Entre mil porras expirou vaidosa:
Todas no mundo dão a sua greta:
Não fiques, pois, ó Nize, duvidosa
Que isso de virgo e honra é tudo
[peta.
13.
14. Momento histórico do
Neoclassicismo no Brasil
O Brasil no século XVIII
• Centro econômico da Colônia deslocou-se do
Nordeste para o Sudeste (Vila Rica e Rio de Janeiro);
• Uma pequena burguesia letrada, faz ecoar na colônia
as idéias do Iluminismo francês;
• Influenciados pelo Iluminismo francês, pelos ideais da
Revolução Americana (1776) e admiradores de Marques de
Pombal;
• Inconfidência Mineira (1789).
15. Marco inicial:
Publicação das "Obras Poéticas", de Cláudio Manuel da
Costa e fundação da Arcádia Ultramarina, movimento
poético-literário que dá início ao Arcadismo, em 1768.
Marco final:
Publicação do livro de poemas Suspiros Poéticos e
Saudades, de Gonçalves de Magalhães, em 1836.
(Romantismo)
17. Princípios do Arcadismo
Fugere Urben (Fuga da Cidade) –
voltaram-se para a natureza;
Lócus amoenus (lugar ameno) – fugir da
agitação dos centros urbanos;
Carpe diem (aproveite o dia) – aproveitar
o tempo presente;
Áurea mediocritas (áurea
mediocridade) – louvação à vida
equilibrada, espontânea, humilde, em
contato com a natureza;
Inutilia truncat (cortem-se as
inutilidades) – linguagem simples e
objetiva.
18. Produções Literárias no Arcadismo
Poesia Épica
• Cláudio Manuel da Costa (poema Villa Rica)
• Santa Rita Durão (poema Caramuru)
• José Basílio da Gama (poema O Uraguai)
Poesia Lírica
• Tomás Antônio Gonzaga (Poemas As Liras de Marília
de Dirceu).
Poesia Satírica
• Tomás Antônio Gonzaga (Poemas Cartas Chilenas)
19. Tomás Antonio Gonzaga (Dirceu)
Nasceu em Minas Gerais, filho de Portugueses
ligados à mineração. Estudou humanidades no Rio
de Janeiro e Direito em Coimbra. Exerceu cargo de
jurisdição em Vila Rica (atual Ouro Preto), capital
da capitania de Minas Gerais. Aí começou sua
amizade com Cláudio Manuel da Costa e seu
romance com Maria Joaquina Dorotéia de Seixas,
que passaria a ser identificada com A Marília de
seus poemas.
20. CLÁUDIO MANUEL DA COSTA
OBRAS: Obras poéticas (1768) +
Vila Rica (1839)
PSEUDÔNIMO PASTORIL = GLAUCESTE
SATÚRNIO
MUSA = NICE
21. CLÁUDIO MANUEL DA COSTA
(1729 – 1789)
POETA DE TRANSIÇÃO:
UTILIZAÇÃO DE PRINCÍPIOS ESTÉTICOS
DO ARCADISMO
INFLUÊNCIAS BARROCAS: O SOFRIMENTO
INFLUÊNCIA CAMONIANA: GOSTO PELA
ANTÍTESE E PELO SONETO
É RACIONALMENTE ÁRCADE E
EMOTIVAMENTE BARROCO
TEMAS BARROCOS: O DESENCANTO COM
A VIDA; A BREVIDADE DOLOROSA DO
AMOR; A RAPIDEZ COM QUE TODOS OS
SENTIMENTOS PASSAM
22. Lira I
Eu, Marília, não sou algum vaqueiro,
Que viva de guardar alheio gado;
De tosco trato, d’expressões grosseiro,
Dos frios gelos, e dos sóis queimado.
Tenho próprio casal, e nele assisto;
Dá-me vinho, legume, fruta, azeite;
Das brancas ovelhinhas tiro o leite,
E mais as finas lãs, de que me visto.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!
23. Cláudio Manuel (Glauceste Satúrnio)
Nasceu em Mariana, MG, estudou no Rio de
Janeiro e em Coimbra. Em 1768, publicou Obras,
livro de poemas considerado o marco inicial do
Arcadismo brasileiro. Envolveu-se com a
Inconfidência Mineira.
A poesia lírica é a parte mais representativa de
sua obra, principalmente os sonetos. Produziu o
poema épico, Vila Rica, publicado somente em
1839.
24. Sonetos XIV
Quem deixa o trato pastoril amado
Pela ingrata, civil correspondência,
Ou desconhece o rosto da violência,
Ou do retiro a paz não tem provado.
Que bem é ver nos campos translado
No gênio do pastor, o da inocência!
E que mal é no trato, e na aparência
Ver sempre o cortesão dissimulado!
Ali respira amor sinceridade;
Aqui sempre a traição seu rosto encobre;
Um só trata a mentira, outro a verdade.
Ali não há fortuna, que soçobre....
25. TOMÁS ANTÔNIO GONZAGA
(1744 – 1810)
OBRAS: Marília de Dirceu (Parte I – 1792; Parte
II – 1799; Parte III – 1812);
Cartas Chilenas (1845)
PSEUDÔNIMO PASTORIL = DIRCEU
MUSA = MARÍLIA
27. SILVA ALVARENGA (1749-1814)
Considerado como o mais brasileiro dos
árcades, pela sensibilidade rítmica de seus
versos, Silva Alvarenga, cujo pseudônimo
árcade era Alcino Palmireno, ficou conhecido
por uma única obra, Glaura, publicada em
1799, composta de rondós e madrigais
(“composições poéticas que encerram um
pensamento delicado, terno ou
galante/canções pastoris”).
28. SILVA ALVARENGA
A obra Glaura revela um lirismo de inspiração
galante, onde o poeta Alcino celebra a
pastora Glaura, que se esquiva num clima de
galante sensualidade. O refinamento da
galanteria, o detalhismo acentuado e uma
relativa superficialidade temática permite que
se considere o estilo de Silva Alvarenga um
exemplo do chamado rococó (“excesso de
ornatos” - “acúmulo ornamental”).
29. SILVA ALVARENGA
Por outro lado, há quem defenda que
em função de sua espontaneidade e
pronuncia quase sentimental, aliadas
a uma certa melancolia, o poeta deva
ser incluído num espaço pré-
romântico.
30. BASÍLIO DA GAMA (1741-1795)
O ponto alto da obra literária de Basílio da Gama é o
texto O Uraguai, concebido originariamente como um
poema épico destinado a celebrar a vitória militar de
Gomes Freire de Andrade, Comissário Real, contra os
índios da Colônia de Sete Povos das Missões do
Uruguai. Localizadas a leste do rio Uruguai, em região
hoje pertencente ao estado do Rio Grande do Sul,
essas missões agrupavam sete povoações habitadas
por índios guaranis e jesuítas espanhóis.
31. BASÍLIO DA GAMA
O poema épico O Uraguai tem dois
objetivos básicos: a defesa e a
exaltação da política pombalina e a
crítica virulenta aos jesuítas, seus
antigos mestres.
32. O URAGUAI (1769)
No aspecto formal, O Uraguai não apresenta nenhum
esquema estrófico regular; seus versos são brancos (sem
rima) e, ainda que seja possível perceber a divisão nas
tradicionais partes do poema épico (proposição,
invocação, dedicatória, narração e epílogo), essas partes
não seguem as normas estritas do gênero, revelando-se
flexíveis.
33. O INDIANISMO EM O URAGUAI
Elemento temático muito importante: a exaltação da
figura do índio.
O poema O Uraguai, não enfatiza a guerra em si, nem
as ações dos vencedores, nem os vilões jesuítas -
tratados caricaturalmente. Ganham destaque, de fato,
e descrição física e moral do índio, o choque de
culturas e a paisagem nacional. Além disso, o autor
cria passagens de forte lirismo, como a do episódio da
morte de Lindóia.
34. O INDIANISMO EM O URAGUAI
A valorização do índio e da natureza
selvagem do Brasil corresponde, por um
lado, ao ideal de vida primitiva e natural
cultivado pelos iluministas e pelos
árcades. Por outro lado, porém, esses
aspectos, que podemos chamar de
nativistas, prenunciam as tendências da
literatura do século XIX: o Romantismo.
35. Frei José de Santa Rita Durão
Mineiro de Mariana, Minas Gerais. Sua obra
consiste basicamente no Caramuru, poema épico do
descobrimento da Bahia, que narra as aventuras de
Diogo Álvares Correia.
Entre os personagens destacam-se: o português
Diogo Correia, o Caramuru; e as índias Moema e
Paraguaçu. Moema era apaixonada por Diogo, mas é
Paraguaçu quem se casa com ele. Quando os dois estão
indo para Paris, Moema se lança ao mar nadando atrás
do navio e acaba morrendo afogada.
36. O INDIANISMO EM CARAMURU
Em Caramuru, Santa Rita procura apresentar a
natureza brasileira, descrevendo o clima, a fertilidade
da terra, as riquezas naturais. Assim, alia-se à tradição
dos cronistas e viajantes que descreveram a colônia no
século XVI. Interessa-se particularmente pelo indígena,
descreve seus costumes e instituições e ressalta sua
catequese. Visto que Diogo Álvarez, mesmo não sendo
padre, demonstra interesse em conduzir o índio ao
caminho do cristianismo, caracterizando-se como um
consciencioso evangelizador.
37. Caramuru
XLII
Perde o lume dos olhos, pasma e treme,
Pálida a cor, o aspecto moribundo;
Com mão já sem vigor, soltando o leme,
Entre as salsas escumas desce ao fundo.
Mas na onda do mar, que irado freme,
Tornando a aparecer desde o profundo,
-Ah! Diogo cruel! – disse com mágoa,
E, sem mais vista ser, sorveu-se n’água.
(Santa Rita Durão)
38. UMA CURIOSIDADE!
O ARCADISMO brasileiro
foi o primeiro movimento
literário a colocar o índio
como personagem
importante.
A presença do índio (forte
por natureza) na poesia
reflete o ideal do "bom
selvagem" e dá ao
Arcadismo brasileiro um
tom diferente do europeu. Imagem: Jean-Baptiste Debret / Sinal de retirada
1834-39 / domínio público