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íNDICE
INTRODUÇÃO
11 ANALISE EXTERIOR
ANALISE SINTÁCTICA FORMAL
111 ANALISE DOS ACABAMENTOS
ANALISE SINTÁCTICA ESTRUTURAL
IV ANALISE INTERIOR
V ANALISE SEMÂNTICA DO PISO 1
VI CONCLUSÃO
VII BIBLIOGRAFIA
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INTRODUÇÃO
Esta obra resultou de um concurso efectuado em 1980. No qual o pro-
grama inicial exigia o estudo de quase todo o quarteirão. No programa do
concurso ficava em aberto à opção do arquitecto, manter uma casa apalaça-
da construída nos finais do século passado, constituída por um forte emba-
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samento em pedra, com referência ao "estilo Chão" e que através da escada-
ria se sobe para o primeiro andar (piso nobre) que nos dá acesso a uma
varanda em ferro.
A escolha de conservar a casa, foi o ponto de arranque ao arq. Alcino
Soutinho. Desta acertou a altura, alinhou com o novo edifício, jogou com a
ortogonalidade e a obliquidade com a avenida.
O Palácio Municipal é constituído por uma complexidade geométrica
através de relações espaciais com a envolvente, como também da fragmen-
tação volumétrica com o edifício existente a qual origina um reforço dos limi-
tes de quarteirão.
Ao constituir o edifício com vários corpos Alcino Soutinho atribuiu-lhes
uma relação sígnica a cada um deles, consoante a importância do seu inte-
rior ("Cabeça" à zona de Assembleia e Salão Nobre, "Coração" à zona de
biblioteca, "Corpo" à zona das salas de atendimento e de exposição e "Mem-
bros" à zona dos escritórios).
Numa apreciação global, o percurso aparece simultaneamente singu-
lar e envolvido. Cada corpo possui uma autónoma coerência, da qual
nenhuma dessas coerências prescinde de uma segunda leitura. A expressão
da arquitectura do seu autor é predominantemente cerrada e solidamente
legível, nada é deixado de fora.
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11 ANALISE EXTERIOR
Os corpos desenrolam-se em volta de um pátio interior, o qual faz
"caixa de ar" entre o velho e o novo edifício. Este participa do pátio através
da sua fachada sudoeste que o arquitecto tomou como uma segunda facha-
da pública depois da que se apresenta para a Avenida. A primeira é nitida-
mente visível pela Avenida e perceptível pelo jardim já a segunda encobre-se
no pátio não deixando de se revelar entradas públicas, com o átrio interior.
Sendo a verdadeira fachada de sentido escorço. As árvores do jardim
e da avenida escondem-na. Assim os únicos ângulos que permitem uma a-
preensão do todo da frente do edifício, é apenas duas estreitas vistas a partir
do passeio da avenida (uma de quem caminha para Sul e outra de quem
vem). Mesmo a entrada principal do edifício é feita lateralmente através do
passeio uma pela via de uma rampa que concluí com o convidar o utente a
entrar para dentro através do avançar da arcada, e a outra a convidar, ao
deslocar a arcada para cima do passeio que concluí com o utente a subir as
escadas.
6. 5
Todos estes recuos, deslocamentos e alinhamentos, apresentam-se
como variações subtis que se estendem a todo o edifício, interior e exterior.
Sendo a fachada principal uma analogia ao mar, pois o deslocamento pro-
gressivo da fachada na direcção sudeste (vento que sopra dessa direcção),
resulta uma ondulação que dá uma continuidade da arcada para a fachada
nordeste, e um acentuar do alçado principal.
Por sua vez, o autor reforça este alçado, indo a referências ao
"LOGUS" com o esculpir de uma gravura de alto relevo (João Cutileiro) con-
tando a lenda do " Matisadinho", palavra esta, que originou Matosinhos - ( o
nome da cidade).
A extensão da grande fachada principal manifesta-se diacronicamente
como edifício público, como imagem da cidade e como símbolo para a mes-
ma.
Vendo esta fachada de ângulo enviesado, no sentido Norte/Sul vemos
a verdadeira frente que é um topo, onde se localiza sincronicamente uma
cúpula cujo elemento tem um significado excepcional na Arquitectura; lugar
onde se desenrola a zona da « cabeça" referida anteriormente.
111 A ANALISE SINTÁCTICA FORMAL
-
Objecto de reacção de importância
Objecto de reacção poética
Pórticos externos
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111 ANALISE DOS ACABAMENTOS
o seu revestimento em pedra (mármore amarelo de Negrais), igual às
fachadas, material unificador de todos os corpos interligados indica a leitura
do edifício como um todo, assumindo-se como fachada/pele, apesar da
fragmentação da forma, dos jogos das geometrias e das superfícies.
A integridade dos espaços internos é preservado de igual maneira à
coerência da tipologia do edifício. Da mesma forma que a verdadeira lingua-
gem arquitectónica é feita pela aplicação de materiais tradicionais ( mármore,
azulejo, madeira e vidro) os quais em vez de transparecer a rigidez da grelha,
resulta uma extrema flexibilidade graças à optimização da estrutura modelar.
Os materiais utilizados na construção quiseram-se significamente por-
tugueses. O azulejo nos espaços de circulação do público, material de gran-
de capacidade de lavagem, que pela sua cor induz-nos logo a um indicio
intencional de nos reportar analogicamente ao mar, relação interior/exterior.
A mármore, pela sua beleza e nobreza, foi destinada ao revestimento
das fachadas e zonas interiores mais importantes. Nas áreas de trabalho foi
adaptada a madeira que pela sua textura e cor, se afigura mais idónea para
os espaços onde aqueles que trabalham se devem sentir cómodos, apazi-
guados e estimulados, através de um ambiente mais íntimo e caloroso pro-
porcionado por aquele material.
111 A ANALISE SINTÁCTICA ESTRUTURAL
-
8. 7
IV ANALISE INTERIOR
o desenrolar dos percursos, são desencadeados pela hierarquia de
espaços, pontuados pela rígida grelha das colunas azuis lobuladas, soltas da
parede até ao tecto abobadado, pelas quais nos induz a uma monumentali-
dade digna de um edifício público.
Se o átrio principal é alto e estreito,
junto à entrada, ele também é baixo e
comprido prolongando-se até ao pátio com
uma altura de "pé-direito" normal, no qual
qualquer cidadão que entra no edifício tem
a tendência de depois de entrar na primei-
ra zona de se dirigir inconscientemente
para a segunda, pois esta é muito mais
acolhedora que a anterior. Alcino Soutinho
tratou este espaço com duas escalas, uma
com a imponência que o edifício requer,
comunicando com os vários pisos e os es-
paços adjacentes de forma aberta, numa
vontade expressa de fazer penetrar o pú-
blico, a outra de recolha e protecção. Este
espaço por sua vez seduz o público a caminhar às sessões da Assembleia
Municipal ou aos acontecimentos no Salão Nobre. Para isso basta subir-se
pelas escadas em linha recta, à esquerda de quem entra.
Escadaria esta constituída por dois lanços que no todo me lembra o
Museu de Alte Pinakother em Munich 1826-1830 de Leo Klenze, que quem
sobe logo o primeiro lanço e encontra o segundo resulta um lembrar de uma
sombra ou repetição, como num desenho de Escher.
Aos planos de sombra sucedem-se os de sombra, como aos de luz os
de luz. Depois há um vasto pano que se estende silencioso, mudo, quebrado
ao fim por vários planos onde as janelas se abrem num recorte rigoroso em
que a sombra e a luz contrastam.
Se através das aberturas (arcadas, portas, janelas, envidraçados),
existe outro sinal inequívoco por parte do autor, no mudar de dimensão, en-
tre a relação/convite no dialogo interior/exterior e vice-versa resulta entre os
dois espaços um segredo ambíguo de um signo de compromissos imediata-
mente simbólicos.
9. 8
V ANALISE SEMÂNTICA DO PISO I
TRIÂNGULO DE OGDEN E RICHARDS
Significado
(pensamento ou referência)
Se eu recorrer ao Triângulo
de Ogden e Richards, através do
símbolo posso explicar na planta a
função pura e simples desse
Símbolo Referente espaço limitado e fazer entender a
(significante) (coisa a que sua delimitação e configuração ao
se refere) leitor.
SíMBOLO SIGNIFICADO REFERENTE
1 Arcada principal dos Arcada que conduz o publico à entra-
Paços do Concelho da principal do edifício.
2 Átrio principal Espaço publico que possibilita o aces-
so a todos os espaços do edifício.
3 Assembleia Municipal Espaço cuja a sua configuração circu-
lar , possibilita a participação dos pre-
sentes e ser assistido pelos muníci-
peso Lugar onde se desenrola as dis-
cussões e decisões politicas do Muni-
cípio.
4 Gabinete do Presidente
da Autarquia Municipal e Espaço reservado, com acolhimento e
Gabinete do presidente privacidade.
da Câmara
5 Sala de Reuniões Espaço interno privado para discus-
sões de problemas.
6 Relações Públicas Espaço com a possibilidade de aten-
dimento ao público.
7 Galeria de Exposições Lugar para actividades culturais.
8 Sala de Espera Espaço de acolhimento ao público no
caso da necessidade de este ter de
esperar.
10. 9
9 Gabinetes Lugar de trabalho dos funcionários.
10 Fotocópias Lugar para equipamento de auxilio aos
funcionários da Câmara.
11 Fiscalização de Obras Espaço de trabalho dos funcionários
do departamento de Obras, com zona
de atendimento ao público.
12 Sala de Desenho Espaço amplo com condições dos
funcionários executarem os trabalhos
de desenho em boas condições.
13 Secção de Pesos e Espaço de trabalho dos funcionários
Medidas com zona de atendimento ao público.
14 Arquivo/Geral Lugar de arrecadação de documentos
de consulta imediata, o qual disponibi-
liza a cesso vertical, para melhor con-
sulta.
15 Bar/Cafetaria Lugar de refeições ligeiras para os
funcionários. Espaço com visibilidade
para a entrada principal exterior na
qual do exterior à dificuldade de visibi-
lidade para o interior devido à segunda
fachada (solta) que corta a visão para
o interior.
16 Cozinha
Espaço que possibilita a confecção de
refeições quentes.
17 Sala dos Contínuos
Espaço de descanso dos funcionários.
18 Arquivos
Espaço reservado a arrecadação de
documentos.
19 Ascensores
Lugar de acesso aos vários pisos do
edifício.
20 Sanitários
Lugar para a necessidades fisiológicas
11. 10
VI CONCLUSÃO
Soutinho lidou aqui com um dos mais difíceis exercícios de desenho
arquitectónico: a "expressão" dos interiores numa fachada (arquitectura feita
12. 11
"de dentro para fora") acompanhada pela fixação na forma da fachada em si
(arquitectura "de fora para dentro").
A tarefa foi tanto mais difícil quanto o interior é muito complexo e ela-
borado.
O aspecto de cristalização está, no entanto, permanentemente asso-
ciada arquitectura portuguesa, que por sua vez gera o processo evocativo,
espécie de festa da memória para a mesma arquitectura. E quando falo de
memória é no sentido que lhe dá Eduardo Lourenço " da reactualização
incessante do que fomos ontem em função do que somos hoje ou queremos
ser amanhã"
Já Eduardo Souto Moura nos diz:
« O projecto para a nova Câmara de Matosinhos, 1981,
trata-se do desenho das diferencias, e das diferencias
do desenho entre um saber já seguro (e que dá bem) e
aposta em novas chances.
Se "a atracção por Portugal é a atracção pela diferen-
cia", Matosinhos não pode ser excepção. "Bastardos de
Deuses os Lusitanos, guardam em si, o mistério que
religa ao vital, ao Superior».
Se a arquitectura é a arte de tornar mais nobre os espaços, públicos
ou privados. De lhes dar um sentido que lhes faltava, ou que os re-inventa. A
arquitectura é sempre um princípio de ordem: ela organiza os lugares, dá-
lhes um rosto, uma feição, um princípio de organização em que o tempo se
revê e a história ganha uma dimensão concreta de cruzamento do passado e
do presente, em que os tempos diversos entre si se conjugam.
Uma igreja românica, no seu silêncio severo e áspero, transporta-nos
a uma meditação sobre a sua época e restitui-nos com fidelidade o imaginá-
rio do tempo em que foi erguida. Diz-nos mais do que qualquer compendio
sobre a Idade Média e o seu enigma porque representa o enigma, o único
enigma, que é o tempo e o espírito dos homens no tempo.
É nisto que a arquitectura se reporta a uma dimensão metafísica: pro-
porsionando-nos hoje a forma do nosso sentir futuro. É por aí também que se
entende a sua dimensão de imagem. Comunica no tempo, como um teste-
munho vivo.
Neste caso da Câmara Municipal de Matosinhos, Alcino Soutinho atin-
giu aquilo que suponho ser um ponto alto na carreira de qualquer arquitecto:
a capacidade de projectar uma imagem, um desenho no espaço, um rosto
nítido que se organiza, o princípio de alguma coisa que só depois de existir
constatamos que nos tinha, antes feito falta.
Este edifício pode reporta-nos à apreensão de uma realidade que não
é imediatamente tangível. Neste sentido assemelha-se a um templo. A sua
extraordinária modernidade advem-Ihe da proporção clássica. A arquitectura
13. 12
de Alcino Soutinho ganha a sua dimensão metafísica juntamente pelo facto
de se organizar na plena consciência de que, antes de tudo, toda a verdadei-
ra arquitectura é, ou começa por ser, um puro desenho no espaço.
Porto, 19 de Abril de 1996
VII BIBLIOGRAFIA
• OPUS INCERTUM: Arquitectures à Porto
Pierre Madarga éditeur
14. 13
Bruxellas, 1990
• UMBERTO ECO: A estrutura Ausente
Editora Perspectiva
3a edição, São Paulo - Brasil, 1976
• Lotus Internacional: nO13
Rivista Trimestrale di architettura
• Architecti:
Revista Trimestral - Fevereiro 1989
• Boletim Municipal: Ano VI - N° 19 - Outubro 1987
Câmara Múnicipal de Matosinhos
• Jornal do Arquitectos: nO100
Publicação mensal da Associação dos Arquitectos Portugueses
• Paços do Conselho de Matosinhos
Câmara Municipal de Matosinhos
• Edifício dos Paços do Conselho de Matosinhos
Casa de Serralves