1. 01 INcomum
Travessia
com arte
Obras-primas da arquitetura, pontes com propostas e traços
ousados são comparadas a esculturas em diversos países
TEXTO Juliana Duarte
“A ponte não é de concreto, não é de ferro, não é de cimento. A ponte é até onde vai o meu pensamento”. A música
do cantor e compositor Lenine traduz a sensação que se tem ao caminhar sobre pontes que mais parecem esculturas
a céu aberto. O objetivo dos artistas que as criam não é apenas ligar estradas ou facilitar a vida das pessoas, mas sim
fazê-las pensar, imaginar. Com cores, efeitos e desenhos marcantes, esse elemento arquitetônico chama atenção em
diversos países. De funcional, passou a obra-prima e encantou.
o artista tobias rehberger buscou inspiração
no brinquedo mola maluca para compor a
slinky springs to fame, na alemanha
INCOMUM 16 3.indd 2-3 8/31/12 5:12 PM
2. 01 INcomum
para todos os gostos
“Atualmente, há diversas possibilidades para a construção de pon-
tes. O tipo de obra, no entanto, depende da localização e das condi-
ções do espaço”, comenta Alfredo Mario Savelli, professor do curso
de Engenharia Civil, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em
São Paulo. Duas maneiras conhecidas em terras brasileiras são a pên-
sil, sustentada por cabos ou tirantes de suspensão, e a estaiada, na qual
estais ficam presos ao mastro principal e sustentam os tabuleiros que
compõem a base. A cidade de São Paulo conta com um belo exemplo
deste método construtivo: é a ponte Octávio Frias, planejada pelo
arquiteto João Valente Filho (1949-2011). Sua estrutura fica presa à
estais de aço pintados de amarelo e conectados ao mastro principal.
Há também as pontes de concreto e com estrutura metálica, como
a Vlaardingse Vaart, construída na cidade de Vlaardingen, Holanda,
para facilitar a rotina dos ciclistas. Os arquitetos do escritório holan-
dês West 8 planejaram uma estrutura composta por perfis de aço qua-
drados – algumas peças foram retorcidas para dar sensação de mo-
Formas, luzes e cores fazem das pontes verdadeiros cartões-postais em diversos países vimento. Seus 42 metros de extensão são suportados por fundações acima, os estais de aço amarelo da ponte octávio frias criam um jogo de cores
no céu de são paulo. abaixo, a estrutura retorcida da ponte vlaardingse
realizadas nas duas extremidades. A estrutura foi montada e içada até
vaart. na página ao lado, acima, o formato inusitado da calgary’s peace
Bons exemplos não faltam, como os desenvolvidos pelo arquiteto o local, método mais ágil e que não produz entulho. bridge, no canadá. e, abaixo, os arcos imponentes da ponte jk, em brasília
espanhol Santiago Calatrava, o mago das construções em concreto e
aço. A Calgary’s Peace Bridge, no Canadá, se destaca pela estrutura
em formato tubular e armações, que criam tramas surpreendentes.
O traçado também chama atenção na ponte Slinky Springs to
Fame, em Oberhausen, na Alemanha. Lembra da Mola Maluca, brin-
quedo que fez sucesso nas décadas de 1980 e 1990? Ela serviu de
inspiração para o artista alemão Tobias Rehberger, que deu vida a
uma estrutura de 406 metros de comprimento. A passarela cruza o
rio Reno, um dos mais importantes do país, e foi envolvida por uma
grande mola metálica. Outro projeto com status de cartão-postal está
em terras brasileiras: é a ponte JK, em Brasília, planejada pelo arquite-
to Alexandre Chan. Inaugurada em 2002, impressiona pelos grandes
arcos que sustentam a base (dividida em três tabuleiros) com vãos de
240 metros cada, um verdadeiro desafio para a engenharia.
Construídas para a passagem de carros, pedestres ou até barcos, as
pontes são imprescindíveis para o bom funcionamento das cidades,
sempre com traços e formas que encantam.
INCOMUM 16 3.indd 4-5 8/31/12 5:12 PM
3. 01 INcomum
obras-primas
O Rio Ebro, um dos maiores da Península Ibérica, recebeu uma
agradável companhia em 2008. A arquiteta iraquiana Zaha Hadid
planejou o Pavilhão-Ponte Zaragoza, que tem múltiplas funções: en-
trada da exposição, passarela de pedestres e área para mostras. Com
260 metros de comprimento, o viaduto (aberto apenas para pedes-
tres) tem desenho orgânico, estrutura metálica trançada e é o respon-
sável por conectar as duas margens. Pequenos rasgos na fachada, de
tamanhos e formatos diferentes, permitem a entrada de luz natural e
provocam um jogo de sombras em seu interior. A estrutura de cada ponte depende da localização e das condições do espaço
A ponte Steampipe Birmingham tem um propósito parecido: faci-
litar a circulação e contribuir para o entorno com arte, já que parece
um monumento aberto ao público. A construção faz parte de um pro-
jeto de extensão da Universidade de Birmingham, no Reino Unido, e
carrega a assinatura dos arquitetos do escritório britânico MJP Archi- diferentes, sim!
tects. De acordo com os profissionais responsáveis, a estrutura de aço Para proteger as terras holandesas de invasões espanho-
inox foi escolhida por ser mais resistente e fácil de manter. las e francesas, tão comuns no século 17, líderes da época
construíram fossos no sudoeste do país. Anos depois, em
nesta página, manifestações de arte tomam conta da ponte-pavilhão zaragoza, projeto da arquiteta zaha hadid. na página
ao lado, acima, a steampipe birminghan bridge, que conta com elevadores para o transporte de pedestres e ciclistas, e, pleno século 21, essas barragens ganharam uma função
abaixo, as inusitadas tiger and turtle, na alemanha, e a ponte planejada pelo escritório holandês ro&ad architecten
mais leve e festiva: proporcionar diversão a turistas e mo-
radores locais, pois são rotas de caminhada e ciclismo. É aí
que o escritório holandês RO&AD Architecten entra em
cena: os profissionais responsáveis planejaam uma ponte
inusitada para ligar as duas extremidades do fosso. Feita
com estrutura de madeira impermeabilizada, fica sob a lâ-
mina da água e é imperceptível a quem observa de longe.
Já a escultura Tiger and Turtle (tigre e tartaruga), loca-
lizada na cidade de Duisburg, Alemanha, chama atenção
mesmo a vários quilômetros de distância. Idealizada pelos
artistas alemães Heike Mutter e Ulrich Genth, a ponte não
liga dois pontos, nem ao menos funciona como travessia de
carros ou pedestres: foi criada para proporcionar a mesma
sensação de passear em uma montanha-russa, só que a pé,
sem os carrinhos.
INCOMUM 16 3.indd 6-7 8/31/12 5:13 PM
4. 01 INcomum
Responsável por conectar a cidade de Clermont-Ferrand à
Espa¬nha, a ponte estaiada, planejada pelo arquiteto inglês
Norman Foster, foi construída sobre o Rio Tarn e é conside-
rada uma das mais altas do mundo. Sete pilares de concreto dão
sustentação ao viaduto, que conta com um tabuleiro formado
por oito trechos com estrutura de aço. A vista para a paisagem
ao redor, com campos cobertos por muito verde, é um dos des-
taques e chama a atenção dos turistas.
O oposto à construção de Foster é a inusitada Paik Nam June
Media Bridge, projeto criado pelos arquitetos do escritório co-
reano Planning Korea, comandado pelo diretor criativo Byung
Ju Lee. O local terá mais de um quilômetro de extensão e contará
com cinema, museu e até mesmo uma biblioteca pública. Situa-
acima, a iluminação especial atrai olhares para a webb bridge, na austrália. abaixo, as da em Seul, capital da Coreia do Sul, a construção atravessará
triple bridges, de ny: as construções facilitam a locomoção no terminal de ônibus de
manhattan. na página ao lado, acima, os traços inusitados da futura paik nam june o rio Han e, além de espaços de lazer, contará com pistas para
media bridgem na coreia do sol e, abaixo, a grandiosidade do viaduto millau, na frança
ciclistas, cais para embarcações e placas solares que dispensarão
luzes de metal o uso de energia elétrica. d
O rio Yarra, na Austrália, nunca mais foi o mesmo depois da
construção da ponte Melbourne Webb, planejada pelos arquitetos Construídas para carros e pedestres, as pontes são imprescindíveis para as cidades
do escritório indonésio Denton Corker Marshall. Idealizada para
pedestres e ciclistas, a passarela foi desenvolvida com estrutura de
metal – arcos metálicos estão distribuídos por toda sua extensão e se
concentram em uma das extremidades. À noite, com um jogo de luzes
e cores idealizado pelos profissionais, a ponte ganha vida e se destaca
na paisagem.
Iluminação especial que também atrai olhares para a criação dos
profissionais do escritório norte-americano PKSB Architects em par-
ceria com o light designer Leni Schwendinger. As três pontes, conhe-
cidas mundialmente como Triple Bridge, ajudam a facilitar a circula-
ção no terminal de ônibus de Manhattan, em Nova York. A estrutura
transparente deixa suas cores vibrantes à mostra. Quando anoitece,
cada tom é acentuado com as luzes planejadas por Schwendinger. A
paisagem urbana agradece, bem como os apaixonados por arquitetura.
presente e futuro
Clássico, o viaduto de Millau, no sul da França, conta com apro-
ximadamente 2,5 quilômetros de extensão e 342 metros de altura.
INCOMUM 16 3.indd 8-9 8/31/12 5:14 PM