O documento discute os sentimentos e significados da mulher separada na contemporaneidade com base em entrevistas realizadas. As principais conclusões são: (1) ainda existe preconceito contra mulheres separadas/divorciadas, (2) há empobrecimento financeiro após o divórcio, especialmente para aquelas com filhos, e (3) após um período sozinhas, as mulheres tendem a ter maior autoestima e apoio familiar.
1. PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS
PSICOLOGIA SOCIAL I
Profa. Dra. Rosana Carneiro
Alunas: Ana Mara Oliveira / Edilene Bardurco / Kathryn Oliveira
OS SENTINDOS E SIGNIFICADOS DA MULHER SEPARADA
NA CONTEPORANEIDADE
2. O Estigma: Mulheres Separadas/Divorciadas
Na sociedade tradicional e conservadora, a mulher não tem status sozinha, ou seja, fora
do casamento. O casamento “é a única instituição que permite-lhe realizar-se enquanto
ser social” (Del Priore, 1995, pg. 141)
Há certo tipo de preconceito, inclusive por parte de outras mulheres, por exemplo, que
acham que são melhores ou estão em uma posição social mais digna só porque
continuam casadas. (bemseparadas.com.br)
Discriminada pelas amigas, alvo constante de cantadas, a mulher descobre após pouco
tempo de separação que foi exilada pela sociedade. E que não há uma entidade pronta a
lutar por seus direitos. A maioria forma grupos de amigas sem marido. Criam uma vida
social à parte. (WALCYR CARRASCO)
3. OBJETIVOS
Compreender os significados da separação para as
mulheres e seus desdobramentos;
Entender como essas mulheres se vêm e acham que são
vistas pela sociedade, se há preconceito.
Compreender como as mulheres separadas se vêm e são
vistas no ambiente familiar;
Entender quais foram os maiores desafios após a
separação.
4. Perfis
1- Mar, 25 Anos, Psicanalista, não tem filho, 1 ano de casamento.
Separada há 3 anos
5. Perfis
2- Lua, 57 anos, Professora, 2 filhos, 5 anos de casamento, separada há
25 anos.
6. Perfis
3- Estrela, 30 anos, Advogada, não tem filhos, 2 anos de
casamento, separada há 2 anos
7. Perfis
4- Sol, 53 anos, Professora, 1 filha, 12 anos de casamento,
separada há 10 anos
9. O Apoio familiar é maior na contemporaneidade
“(...) no começo foi muito difícil porque há uma vergonha né, ao se separar.
Principalmente com avós, tios mais velhos (...). Em eventos que tá a família inteira,
tipo natal, páscoa, um pouco mais complicado.
“A minha família acompanhou tudo, até por que eu precisava de um suporte
emocional”
Mar
10. O Apoio familiar é maior na contemporaneidade
“... eu me sinto às vezes como uma estranha, então como eu sou filha de pais
assim muito católicos, aquela coisa assim ah você vai ficar casada a vida inteira
né, eu achava isso também , que eu ia casar ter filhos, é aquela coisa assim muito
programada sabe e de repente eu me separei, foi assim, foi muito difícil, até pra
minha família, encarar isso, eu acho que eles me estranharam bastante, eu creio
que eles não acharam que eu iria passar por isso, nem EU (risos)...”.
Lua
11. O Apoio familiar é maior na contemporaneidade
“... Minha família aceitou muito bem, por que meus pais são... eu sou filha do
segundo casamento, então tenho exemplo dentro de casa... então assim, não tive
problemas, todos me apoiaram muito bem no divórcio, nunca tive discriminação ou
alguém falar algo ruim. Enquanto meu pai sempre foi o apoio total ...”.
Estrela
12. O Apoio familiar é maior na contemporaneidade
“... Eu tive apoio de todos, principalmente da minha mãe, ela achava que não era
uma decisão correta, que não devia me separar, mas ela não se opôs fortemente,
ela só deixou claro que ela não achava decisão correta, mas isso não mudou nada
na relação dela comigo...”.
Sol, 53 anos.
14. Há preconceito contra a mulher divorciada/separada
“(...) houve, houve preconceito porque a gente se separou com pouco tempo de casamento”.
“(...) me julgaram porque eu não poderia abandona-lo, porque era na saúde e na doença”.
“ Há um julgamento. Porque a primeira coisa que as pessoas me perguntam é se eu tenho filhos,
porque acham que eu casei porque engravidei, ou se sou evangélica, acham que eu casei porque eu
era muito é (pausa) é por conta da religião, então só de fazerem essas perguntas eu percebo que há
um preconceito. E quando falo que sou divorciada sempre tem um espantamento”.
Mar
15. Há preconceito contra a mulher divorciada/separada
“... Percebe-se, que parece que você não é muito bem vinda, sabe, principalmente quando você
está em um grupo só de casais, todo mundo casadinho e você separou, e eu ouço pessoas até
hoje falarem, não, não, mas na minha família não tem mulher separada...”.
Lua
16. Há preconceito contra a mulher divorciada/separada
“... Não, não, pela sociedade não, eu sentia julgada por mim mesma... acho que eu me julguei
mais que as pessoas, eu me condenei muito mais do que as pessoas de fora, eu falo que eu me
auto discriminei, no divórcio, eu tinha vergonha de falar quando eu ia dar meus dados em
algum lugar que eu era divorciada...”.
“(...) pessoas que eu nunca imaginei na vida, algumas me discriminaram bastante, amigas tipo
me discriminaram muito, assim, eu viam isso como um absurdo, eu ter separado, ah porque
agora vc já é separada né? Então já não pode mais fazer algumas coisas. Família e alguns
amigos muito próximos não, mas algumas pessoas sim, me discriminaram bastante ”.
Estrela
17. Há preconceito contra a mulher divorciada/separada
“... Uma amiga me chamou para ser madrinha, e depois na ultima
hora ela cancelou o convite por que eu não tinha um parceiro pra
entrar comigo na igreja, e ai ela preferiu não me manter...”.
Sol
19. Após o divórcio/separação há um melhoramento na
autoestima
“(...) sempre fui muito tranquila com o meu corpo, durante o meu casamento
também. Ai depois que eu me divorciei eu engordei muito, e agooora é que
estou voltando a fazer atividade física, conseguir comer direito, então para
mim é muito estranho, é um corpo que eu não reconheço, apesar de não ser
gorda para a sociedade, pra mim não é o meu corpo. Tem um estranhamento ”.
“(...) eu também fiz muitas tatuagens ao longo do meu luto, acho que nessa
tentativa de me apropriar do meu corpo, porque não era o meu”
Mar
20. Após o divórcio/separação há um melhoramento na
autoestima
“... Nossa! hoje eu estou assim bem mais firme, bem mais segura, por incrível que
pareça, eu sou muito mais velha hoje, mais eu me acho muito melhor hoje do que
eu era antes, tem logica isso, eu me acho mais bonita, mais segura, mais
interessante, mesmo tendo 57 anos..”.
Lua
21. Após o divórcio/separação há um melhoramento na
autoestima
“...Eu consegui saber que eu podia fazer tudo que eu quisesse quando
comecei a namorar de novo, eu entendi que estava solteira, que eu tinha
que refazer minha vida, e que eu podia, eu tinha o poder de conquistar
outra pessoa, que tinha o poder de conquistar novas coisas na minha
vida, então vi que agora dá para seguir, que consigo seguir sozinha e
refazer minha vida, foi nesse momento...”.
Estrela
22. Após o divórcio/separação há um melhoramento na
autoestima
“... Eu me sinto em paz, me sinto bem comigo mesma, acho que isso é mais
importante, é você estar tranquilo com você mesmo...”.
Sol
24. Há um empobrecimento financeiro após o divorcio.
“...Tive que vender meu carro pra (pausa) para pagar as contas”.
“...era muito mais fácil né, eu pagava a metade das contas da casa, depois
da separação eu tive que arcar com tudo sozinha, eu morei com amigos no
começo, e agora, bem recente, é que to morando sozinha, sozinha”.
Mar
25. Há um empobrecimento financeiro após o divorcio.
“... Sim total e completamente, porque eu era totalmente dependente dele, então ai
depois da separação e que eu fui ter que correr atrás, arrumar trabalho, e não foi fácil
mesmo né, por que dois filhos pequenos...”.
Lua
26. Há um empobrecimento financeiro após o divorcio.
“... muito, muito, interferiu muito, meu padrão de vida caiu bastante,
por que ele me proporcionava algumas coisas também, claro, e pela
questão da desestrutura emocional minha, comecei a gastar, então isso
deu uma desestruturada...”.
Estrela
27. Há um empobrecimento financeiro após o divorcio
“... não teve diferença na minha vida financeira, porque eu já tinha minha vida
profissional né, ele também tem a dele, nossa filha é guarda compartilhada, os
custos são divididos, eu não vi diferença nenhuma”.
Sol
28. Conclusões:
Percebe-se, que, em plexo século XXI ainda existe um grande preconceito em
relação as mulheres separas/divorciadas
As entrevistadas que têm filhos relataram que não se separaram antes por
causa dos filhos. E as que não têm filhos falaram que se tivessem filhos não
teriam separado. Ou seja, a mulher ainda vive em um casamento devido aos
filhos.
Nota-se um empobrecimento financeiro após o divorcio. Uma vez que, os
homens ganham melhor que as mulheres, e estas uma vez estando sozinhas,
arcarão com todas as despesas.
As mulheres depois de um período sozinhas têm um enriquecimento no ganho
da autoestima.
A família contemporânea mostrou-se mais acolhedora quanto à separação.