1. CRESCIMENTO E PRODUTIVIDADE
Notas e conjecturas sobre o médio e
longo prazos
REGIS BONELLI
IBRE/FGV – Rio de Janeiro
Conferência do Desenvolvimento
IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
Brasília, 19 de março de 2013
2. Motivação e Objetivo
Explorar inter-relações entre crescimento e
produtividade
Discutir perspectivas de crescimento
(longo prazo)
3. Estrutura da apresentação
1. Decomposição do aumento da produtividade da mão
de obra
2. Crescimento do PIB e da Produtividade da MO por
grandes setores 2000-2010
3. Desempenho da Produtividade Total dos Fatores
(PTF) 1990-2012
4. Perspectivas
Três modelos
5. Conclusão
4. 1. Decomposição do aumento da produtividade (MO)
(tradicional; efeitos estrutural e produtividade pura, ou tecnológico)
• Y[t]/L[t] – Y[0]/L[0] = P[t] – P[0] =
• = a[i,t].P[i,t] – a[i,0].P[i,0] =
• = P[i,t].(a[i,t] – a[i,0]) – a[i,0].(P[i,t] – P[i,o])
• a[i,0] e a[i,t] são as participações relativas de cada
setor (i) no emprego total nos anos inicial e final de
cada período considerado e P[i,0] e P[i,t] são os níveis
de produtividade da mão de obra nesses períodos.
5. 1. Resultados por décadas
(Ocupação dos Censos Demográficos, ajuste em 1990)
(A) Taxas de Crescimento (% a.a.) 1940 - 50 1950 - 60 1960 - 70 1970 - 80 1980 - 90 1990-00 2000-10
PIB 5,9% 7,4% 6,2% 8,6% 1,6% 2,5% 3,6%
População ocupada 1,5% 2,7% 2,6% 3,8% 3,4% 1,1% 2,3%
Produtividade 4,3% 4,5% 3,5% 4,6% -1,8% 1,4% 1,3%
(B) Decomposição do Aumento da Produtividade
Efeito Estrutural ( Composição) 32% 34% 55% 50% -28% -95% 8%
Efeito Tecnológico (Produtividade) 68% 66% 45% 50% 128% 195% 92%
Soma (total) 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%
Efeito estrutural: importância crescente até 1980 (aumentos de emprego maiores nos setores de
produtividade mais alta)
Inverte depois dessa data: na década de 1980 decréscimo deveu-se à redução da produtividade
em setores com grande peso no emprego; na de 1990, aumento da produtividade resultou de os
ganhos de produtividade (efeito tecnológico) terem superado o efeito composição.
Nos anos 2000 retorna-se ao padrão mais normal das décadas anteriores a 1980, mas os ganhos
estruturais são de pequena expressão relativamente aos de produtividade pura.
Razoável esperar que isso se mantenha no futuro? (Ganhos de mudança estrutural mais
modestos)? Se sim, importância dos ganhos de produtividade internos aos setores ganha
peso
6. 2. Foco em 2000-2010: Crescimento do VA e da
Produtividade do Trabalho
-1%
0%
1%
2%
3%
4%
5%
6%
7%
Taxa média crescimento VA 2000-2010
Taxa média cresc. da produtividade 2000-2010
7. 2. Níveis de produtividade (R$ de 2000) e participações na
ocupação (%), 2000 e 2010
0
20
40
60
80
100
120
PIB
(VA
pb)
Agropecuária
Extr
Mineral
Ind
Transformação
Serv
Ind
Utilidade
Pública
Construção
Comércio
Transp.
&
Armazenagem
Serv
Informação
Interm
financeiros
Outros
serviços
Ativ
Imob
&
Aluguéis
Adm.
Públicas
Produtividade 2000 Produtividade 2010 % Emprego 2000 % Emprego 2010
8. 2. Números do gráfico anterior
PIB
(VA pb)
Agropec
Extr
Mineral
Ind Transf SIUP Constr. Com
Transp. &
Armazenage
m
Serv.
Informação
Interm
financ
Outros
serviços
Ativ Imob
& Aluguéis
APU
P (2000)
15,6 4,7 69,3 20,1 105,7 12,3 9,9 15,0 29,3 73,9 15,6 30,7 16,1
P (2010)
17,5 6,9 90,2 22,0 119,6 12,3 11,2 16,1 30,5 114,2 16,0 35,0 15,2
a (2000) 100,00 18,47 0,36 13,34 0,50 6,96 16,61 5,06 1,91 1,26 15,33 5,73 14,47
a (2010) 100,00 14,92 0,37* 12,42* 0,49 7,39 17,47 5,07 2,31 1,16 16,90 5,65 15,84
* Informalidade: em 2010, a PIA registrou 142 mil pessoas na Extrativa
Mineral; o Censo registrou 303 mil; na Indústria de Transformação tem-se
6204 mil pela PIA e 10201 pelo Censo
9. 3. Medida mais geral de produtividade: PTF
Obtida residualmente
PTF’ = Y’ – α(uK)’ – (1 – α)L’
PTF’ e Y’
pode ser escrita como média do crescimento da produtividade do capital [Y’– (u.K)’] e do
trabalho [Y’– L’]
PTF’ = α [Y’– (u.K)’] + (1 – α). [Y’– L’]
PTF’ é´pró-cíclica?
Período 1990-2012; taxas anuais e médias móveis trienais
-5%
-4%
-3%
-2%
-1%
0%
1%
2%
3%
4%
5%
6%
7%
8%
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
Taxa crescimento PIB Taxa crescimento PTF
-2%
-1%
0%
1%
2%
3%
4%
5%
6%
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
Md Móvel Y' Md Móvel PTF'
11. 4. Perspectivas de crescimento (condicionais)
Três modelos / algoritmos
1. Modelo paramétrico (algoritmo baseado em
identidade)
2. Modelo baseado em decomposição do crescimento
Produtividade exógena
3. Modelo baseado em decomposição do crescimento
Produtividade endógena
12. 4.1. Baseado em identidade
(Horizonte:2020)
Y = (Y/L)*(L/PEA)*(PEA/PIA)*(PIA/POP)*POP
Y é o PIB a preços constantes
L é o nível de emprego
(logo, Y/L é a produtividade da mão de obra)
PEA é a população economicamente ativa
(logo, L/PEA é a taxa de emprego, ou o complemento
da taxa de desemprego)
PIA é a população em idade ativa
(logo, PEA/PIA é a taxa de atividade)
POP é a população total
(logo, PIA/POP é a taxa de participação).
13. 4.1. Decomposição de identidade: vantagens e hipóteses
Y = (Y/L)*(L/PEA)*(PEA/PIA)*(PIA/POP)*POP
Vantagem da abordagem: as projeções das variáveis
demográficas, especialmente a população em idade
ativa (PIA) e a população total (POP), são bastante
robustas (e já existem)
Hipóteses
Razão PEA/PIA: mesma taxa de crescimento observada de 2002 a 2010
Razão L/PEA (a taxa de emprego): constante em 0,935, que implica
taxa de desemprego PNAD de 6,5% no longo prazo
PEA e PIA não são conceito IBGE (10 anos e mais), mas 10 – 64 anos
14. 4.1 Resultados dependem de hipóteses para a produtividade
Dadas as hipóteses demográficas, taxa do PIB depende apenas da
produtividade da mão de obra (Y/L); duas hipóteses foram adotadas
(a) produtividade cresce 1,8% a.a.
Ordem de grandeza da de 2002 a 2010 (Y’ = 4% a.a. e L’ = 2,2% a.a.)
(b) produtividade cresce 2,3% a.a , implica salto positivo
Decomposição de ∆Y
Taxas de
Crescimento
Produtividade
Taxa
emprego
Taxa de
atividade
Taxa de
participação
População
Períodos do PIB a.a.
Y/L L/PEA PEA/PIA PIA/POP POP
2002-2010 4,0%
45% 16% 4% 8% 28%
2010-2020 (a) 2,8%
60% 0% 5% 10% 25%
2010-2020 (b) 3,5%
67% 0% 4% 9% 20%
15. 4.1 Memo: taxas e relações observadas
Importância das variáveis demográficas diminui, mas não
muito no caso das taxas de atividade e participação
Peso do componente populacional
Flutuou de 41% a 47% entre 1940 e 1970, sendo de 30% na década de 1970 e
de 58% na década de 1990-2000
Ceteris paribus, quanto mais forte o crescimento do PIB, menor a contribuição
do componente populacional.
E vice-versa.
Entre 1940 e 2000 esse componente representou 45% da variação no PIB real.
A taxa média de crescimento populacional estimada pelo IBGE para 2010-20 é
de 0,7% a.a.
Entre 2010 e 2020 o crescimento da PIA = 0,85% a.a. (atual é um pouco maior)
O da PEA entre 0,70 e 0,9% a.a. (idem)
16. 4.1 Conclusão
Crescimento mais dependente da produtividade
Mas mesmo com hipótese de produtividade mais alta, crescimento projetado é
mais lento do que entre 2002 e 2010
Taxa de emprego: pode aumentar mais (taxa de desemprego diminuir mais)?
E taxa de atividade, pode aumentar mais do que suposto?
Mesmo assim, crescimento não se altera muito
Observe-se que o horizonte é de quase 10 anos
Logo, produto futuro será cada vez mais limitado pela
mudança demográfica …
... e pelos ganhos de produtividade,...
que trazem implícito mais capital humano e fixo por trabalhador, tecnologia,
inovação, etc.
17. 4.2 e 4.3: Projeções pela decomposição do crescimento
Y’ = α(uK)’ + (1 – α)L’ + PTF’
Sabendo-se que K’ = (I/K) – δ, manipulação algébrica permite chegar
a
Y’ = PTF’ + αu2v(I/Y) + T onde
u é a utilização de capacidade
v é a relação capital-produto em uso
T = (1- α)L’ – αuδ
Y’ é uma combinação linear da taxa de crescimento da produtividade
(PTF’), da taxa de FBCF (I/Y) multiplicada por αu2v — que tem a
dimensão de um coeficiente angular — e de um termo T
T é a diferença entre a contribuição positiva do trabalho e a
contribuição negativa da depreciação para o crescimento do PIB.
É uma taxa negativa, dados os valores recentemente observados
para as variáveis α, L’, u e δ
18. 4.2 Hipóteses
α = 0,46
u = 0,96 (média do triênio 2010-12 = 0,958)
δ = 0,048
L’ = 1% a.a.
T = – 0,016: o termo T subtrai 1,6% a.a. do crescimento
do PIB determinado pelos demais termos, dado o
crescimento do emprego (L’)
E αu2v ? (coeficiente angular). É preciso arbitrar v (relação produto-
capital em uso)
v cresceu entre 2003 e 2010.
Hipótese: continuará crescendo a partir de 2012 à taxa observada
em 2000-2010 = 0,85% a.a
Com isso, média 2011-2020 = 0,4766
19. 4.2 Memo 1: Medida da utilização de capacidade (u)
Pico de 2008 (0,967) só foi superado antes em 1971 - 1976 (média = 0,976)
Pico absoluto da série ocorreu em 1961 (0,994)
0.84
0.86
0.88
0.90
0.92
0.94
0.96
0.98
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
est
Utilização de capacidade 1989-2012
20. 4.2 Memo 2: Evolução da relação produto - capital em uso
Hipótese para média 2011-20: v = 0,477 Logo αu2v = 0,2
0.43
0.44
0.45
0.46
0.47
0.48
0.49
0.50
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
2018
2019
2020
v
21. Duas possibilidades a partir de Y’ = PTF’ + αu2v(I/Y) + T
4.2. Modelo (a) PTF’ exógena 4.3. Modelo (b) PTF’ varia com Y’
(a) Usa definição
PTF’ = α. [Y’– (u.K)’] + (1 – α). [Y’– L’]
[Y’– (u.K)’] = 0,85% a.a. como
antes
[Y’– L’] = 2% a.a
Resulta em PTF’ = 1,46% a.a.
→ Substituindo em
Y’ = PTF’ + αu2v(I/Y) + T
resulta
Y’ = – 0,001 + 0,20*(I/Y)
Crescimento do PIB é de cerca
de um quinto da taxa de FBCF
(medida a preços constantes)
(b) Postula relação entre PTF’ e Y’ (PTF’ pró-
cíclica)
Com dados do período 1990-2012,
PTF’ = – 0,003 + 0,444*Y’
Inserindo em Y’ = PTF’ + αu2v(I/Y) + T
Y’ = – 0,034 + 0,36 (I/Y)
-2%
-1%
0%
1%
2%
3%
4%
5%
6%
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
Md Móvel Y' Md Móvel PTF'
22. Gráficamente (com I/Y entre 0,15 e 0,25)
4.2Modelo (a) PTF’ exógena 4.3 Modelo (b) PTF’ varia com Y’
0.00
0.10
0.20
0.30
0.40
0.50
0.60
0%
1%
2%
3%
4%
5%
6%
0.15 0.16 0.17 0.18 0.19 0.2 0.21 0.22 0.23 0.24 0.25
Tíaxas
de
crescimento
do
PIB
e
da
PYF
Taxas de FBCF (preços de 2000)
Y´'(a) PTF Exógena PTF' (Exógena)
PTF'/Y' (a)
0.00
0.05
0.10
0.15
0.20
0.25
0.30
0.35
0.40
0.45
0%
1%
2%
3%
4%
5%
6%
0.15 0.16 0.17 0.18 0.19 0.2 0.21 0.22 0.23 0.24 0.25
Taxas
de
crescimento
do
PIB
e
da
PTF
Taxas de FBCF (preços de 2000)
Y'(b) PTF Endógena PTF' (Endógena)
PTF'/Y' (b)
24. 4.2 e 3 Conclusão dos exercícios de decomposição do
crescimento
No modelo (a)
Dentro da faixa de I/Y 15% a 25% do PIB este cresceria entre 2,9% e 4,9% a.a.
A cada ponto percentual de aumento da taxa de FBCF tem-se 0,2 p.p. adicionais no
crescimento do PIB (coeficiente angular)
Produtividade representa uma parcela decrescente de Y’ (de 0,5 a 0,3, no exemplo)
Com taxas de investimento de 2008-12 (0,187) Y’ = 3,7% a.a.
Pouco mais altas que no exercício baseado em identidade anterior
Para crescer a 5% a.a de forma sustentada tem que investir quase 25% do PIB
No modelo (b)
Y’(b) aumenta mais rapidamente do que Y’(a): em 0,36 p.p. (que é o coeficiente angular em
(b)), contra 0,20 p.p
taxas PTF’ que correspondem ao crescimento do PIB variam de 0,6% a 2,2% a.a.
Produtividade representa uma parcela crescente de Y’ (de 0,3 a 0,39, no exemplo)
Com taxas de investimento de 2008-12 (0,187) Y’ = 3,5% a.a.
Para crescer a 5% a.a de forma sustentada tem que investir quase 23% do PIB
25. Pergunta:
Mas, se a taxa de investimento é atualmente de cerca de
19% do PIB, por que não crescemos mais do que os
1,8% médios de 2011-12?
Modelos podem ajudar na resposta
Porque a produtividade não cresce
(crescimento baseado nos serviços?)
Nesse caso, é só subtrair 1,5% do resultado do modelo
(a): em vez de crescer 3,7%, taxa de Y’ é de 2,2% a.a.
No modelo (b) Y’ cresce pouco menos do que 1% a.a.
(para PTF’ = 0)
26. 5. Conclusões gerais
Mudança estrutural teve importante contribuição para o crescimento
da economia brasileira até 1980.
Importância tende a ser menor com o tempo: o efeito estrutural
representou apenas 8% do aumento da produtividade da mão de
obra entre 2000 e 2010
Corolário: cada vez mais, o crescimento dependerá dos ganhos de
produtividade internos aos setores
Demografia contribuirá cada vez menos para o crescimento
Exercícios preliminares sugerem crescimento no longo prazo na
faixa de 3,4% a 3,7% a.a., a menos de aumentos substanciais da
taxa de FBCF
Como ir além? Reformas que permitam rápido aumento na
produtividade (mais investimento, inovação e ênfase na educação
de qualidade); aumentar os investimentos em infraestrutura,
públicos e privados, etc.
Projeções dos exercícios são condicionais às taxas de FBCF e
a hipóteses sobre o crescimento da produtividade