SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 15
Estado da Arte da
Sociologia sobre o
desenvolvimento
Anete Ivo - UFBA
Supostos
• O esforço da elaboração do estado da arte da sociologia d do desenvolvimento
implica HISTORICIZAR a noção entendendo a Sociologia como parte do projeto
racionalizador da mudança: envolve uma Razão prática da sociologia como agente
da mudança ( a mudança provocada) e portanto movimentos contraditórios entre
saber e poder
• As inflexões da noção do desenvolvimento, seus agentes e temáticas expressam
um “giro teórico epistemológico” na modernidade madura (Beck)
• Fio condutor assumido: o tema do conflito [ padrão distributivo e classes] e o da
integração (trabalho, pobreza e desigualdades sociais)
• Alcance analítico: as questões analisadas permitem gerar um horizonte de
dilemas e desafios críticos assumidos pela tarefa racionalizadora da Sociologia,
que envolve a relação entre ciência e prática; e ciência e política, com
possibilidades de se extrair uma pauta de questões diante das transformações
contemporâneas
Estrutura analítica
Dimensões da análise
• uma reflexão teórica sobre o “campo da
sociologia do desenvolvimento”, com base em
referências clássicas, especialmente no
período de 60-70.
• uma caracterização das temáticas assumidas
como “objetos” da subárea da Sociologia do
Desenvolvimento, dos anos 90 a 2000, com
base numa autodefinição dos pesquisadores
dessa subárea
•uma reflexão de natureza teórica sobre o “campo da sociologia do desenvolvimento”, com base em referências clássicas, especialmente no p
Base de dados
Universo encontrado
• Grupos de pesquisa- 117 Grupos de Pesquisa do CNPq
(GPs) reconhecem a temática do seu grupo como
integrante à subárea , destes apenas 42 referem-se à área
da sociologia. Eles integram um total de 425 pesquisadores
e 324 estudantes ( muitos não são da área de sociologia)
• Pesquisadores-doutores na subárea da sociologia do
desenvolvimento- são 242 pesquisadores e um total de
1.619 projetos de pesquisa. Desses foram eliminados 180
projetos por ausência de informações e 96 pelo recorte
temporal, restrito aos projetos da década de noventa e dois
mil. Resultado final: 1.343 projetos de pesquisa
Alcances e limitações da informação
• Possibilidades - identificar redes de pesquisa e temáticas
pesquisadas; quantificar o total de pesquisadores e estudantes
vinculados à subárea, o nível de formação, a distribuição regional
da formação e local de trabalho nas instituições universitárias, no
presente;
• Limitações
• imprecisão da fonte, pois os líderes informam mais sobre o impacto
do GP que sobre a problemática substantiva da atuação.
• Como a sociologia do desenvolvimento se move em fronteiras
interdisciplinares, parte dessa produção pode estar registrada
como pertencente às “sociologias específicas” ou localizadas na
sociologia rural e urbana.
Antecedentes conceituais da
sociologia do desenvolvimento
• 1. O legado –(intérpretes brasileiros) entre modernidade e modernização:
- Os dilemas da tradição – o “outro europeu” ( Sergio Buarque de Holanda)
- O sistema de dominação colonial – o patriarcado (Gilberto Freire )
- A formação do sistema colonial – setor orgânico e inorgânico ( associado à
Metrópole)
• 2. O projeto nacional desenvolvimentista – anos 50-60 :
• 2.1. Os intelectuais do ISEB - a modernização do Estado nacional e o projeto de
modernização urbano industrial ( pacto entre Estado, elites e trabalhadores
assalariados urbanos). Crescimento econômica e progresso técnico, com
mmodernização das relações produtivas com base no trabalho assalariado
• 2.2. A teoria da dependência ( Fernando Henrique Cardoso e Enzo Faletto, 1970) -
• 2.3. A heterogeneidade do mercado de trabalho (crítica à razão dualista),
Francisco de Oliveira, 1973) Critica ao modelo de substituição das importações
O ciclo conflitivo da transição:
globalização/democracia/trabalho
1970/ 80 – A transição pela via da cidadania: os movimentos
sociais X teses conservadoras da governabilidade (Consenso de
Washington)
1990 - A virada neoliberal – Reforma do Estado
Ruptura : Trabalho/ Proteção / Solidariedade nacional
2000 - Propostas de integração: o combate contra a
pobreza. Duas vias:
a) pobres viáveis - o empreendedorismo das camadas populares
b) extremamente pobres - políticas assistenciais focalizadas
2010 – A crise estrutural do capitalismo
Do combate à pobreza ao combate às desigualdades, via formalização do
trabalho pela via da capacitação.
Paradigmas alternativos
(esforços da transversalidade)
• Novo paradigma solidarista, que reconhece a complexidade sociocultural
e a capacidade de autotransformação dos atores sociais, questionando o
caráter progressivo e universalista do desenvolvimento econômico e sua
legitimidade como expressão nacional;
• Teoria da justiça social – Redistribuição e reconhecimento;
• Teoria das redes – sociabilidades;
• A dimensão do território – desenvolvimento local;
• As teorias de alcance médio – local governance, capital social,
empowerment - novo pacto e arranjos microssociais ( novo
desenvolvimento)
4ª parte - DESENVOLVIMENTO NA ORDEM
MUNDIAL CONTEMPORÂNEA
• . Contexto marcado pela crise histórica e estrutural do capitalismo
(2008), antecedida por um ciclo de crescimento e distribuição de
renda que marcou a ação dos governos dos países da América
Latina, a partir da segunda metade dos anos 2000.
• Explora algumas teses da pauta do desenvolvimento, no presente:
•
– a) A importância de retorno da agenda da década de 70-80, relativas a
classe, estratificação social e mobilidade social, associada ao mercado
de trabalho e desigualdade social, considerando especialmente a
situação do estrato de trabalhadores com rendimentos de até 2
salários mínimos;
– b) o impacto das políticas de transferência de renda e aposentadorias
sobre a formação do mercado interno e a “qualidade da proteção e
cidadania social”.
5ª parte e última parte
• A SOCIOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO COMO OBJETO- apresenta a sistematização
temática dos GPs da subárea da Sociologia do Desenvolvimento:
• Núcleos temáticos GPs:
1. Desenvolvimento agrário ou local (21%);
2. Epistemologia e desenvolvimento (20%);
3. Instituições e regulação (18%);
4. Desenvolvimento e meio ambiente (11%);
5. Trabalho e desenvolvimento (11%);
6. Instituições de socialização (9%);
7. Ciência, tecnologia e inovação (5%);
8. Organizações e mercado (5%).
Análise dos estudos
Esses 8 núcleos temáticos contemplam uma perspectiva transversal e interdisciplinar na fronteira da
Sociologia com a Economia, a Ciência Política e a Antropologia.
Exploram o jogo de interações entre a construção social do desenvolvimento, como resultado da
sociabilidade dos atores em diferentes instâncias (mercado, organizações sociais e políticas
públicas), e a regulação política do projeto de desenvolvimento econômico e social, relativa aos
arranjos entre atores sociais e políticos, públicos e privados, em processos de governança e
pactuação de micro agendas locais.
A sociabilidade dos atores sociais está diretamente atrelada às formas de regulação microssociais,
entre o mercado e a sociedade, através da rede de atores com capacidade estratégica em
diferentes escalas territoriais.
No contexto agrário, os temas gravitam em torno do mercado, dos processos de ruralidade e
identidades de comunidades tradicionais, mas também contemplam arranjos de governança;
No contexto das cidades, predominam os processos de governança urbana ou local, participação ou
descentralização de políticas ou problemas vinculados a riscos, violência e segurança pública, e
as temáticas que se referem à implementação de políticas públicas descentralizadas
As conexões e passagens entre esses âmbitos acompanham um deslocamento da ação coletiva com
base no ator estratégico e na capacitação desses agentes segundo “oportunidades”.
Principais paradigmas
1. Focaliza um empreendedorismo urbano e rural das classes populares de
rendas mais baixas como matriz de um desenvolvimento endógeno, com
base em dois paradigmas centrais:
a) um paradigma institucional, dos arranjos entre atores pela via da
governança, da dinâmica organizacional e da implementação de políticas
descentralizadas; e
b) outro de caráter solidarista, que busca romper com o determinismo das
categorias econômicas sobre a construção das relações sociais, para
observar as trocas econômicas como resultado dos processos de
sociabilidade dos agentes
2. Algumas agências de socialização: a família e a escola, a empresa e as
políticas públicas, bem como as comunidades territoriais tradicionais,
aparecem como matrizes da integração social, condição e oportunidade
de mobilidade dos agentes para os mercados, como no caso da agricultura
familiar ou das políticas voltadas para a inserção produtiva.
Comentários finais
• A mobilização das variáveis societais e culturais como fontes exclusivas
de desenvolvimento pode fetichizar o lugar do conflito inerente as
trocas mercantis, em favor do “mito” do mercado e da “cooperação”,
reorientando a sociabilidade do setor popular como “bens” do
mercado, ou transformando “quaisquer tipos de inserção”
• Sem desconhecer a potencialidade dos empreendimentos solidários e
da microeconomia no fomento ao mercado interno e mesmo na
superação de situações de pobreza, a tese da auto-organização
estratégica do setor popular ativo transforma “os pobres viáveis”,
aqueles inseridos no mercado, em agentes financeiros e consumidores
no âmbito local, pelo acesso ao crédito e ao consumo, assumindo
também os riscos do endividamento no médio prazo.
Alternativas liberais para o desenvolvimento: capital
humano
•A ilusão liberal da “capacitação dos pobres e trabalhadores” constrói uma
justificativa liberal do mercado competitivo moderno, como instituição “justa”
que se basta a si própria sem precisar, portanto, da ação regulatória do Estado
•A via pró ativa dos atores como agentes emancipados pela via da capacitação
transforma as condições injustas da distribuição de renda, de caráter
estrutural em luta “justa” e meritocrática, reforçando a falácia do “mérito
individual”, uma vez que a reprodução dessas desigualdades não significa
déficits pessoais, mas posições desiguais socialmente produzidas.
•O crescimento econômico dos últimos anos permitiu a melhoria da posição de
renda especialmente dos setores situados nos estratos de renda mais baixa da
sociedade. Essa relação foi produzida por uma nova associação entre Estado
social ( pró-pobres) e o mercado, que transforma e controla os trabalhadores
assistidos em massa de consumidores, uma “ classe para o outro” ou, como
chamo um “coletivo de destino” ( Cf. Ivo, Viver por um fio, 2008)
• Em termos da divisão internacional do trabalho, mais uma vez os países
emergentes são chamados a sustentar os riscos e a crise dos países dos
blocos centrais, numa nova posição estratégica na ordem mundial .
Gráfico 01: Distribuição Temática dos
Grupos de Pesquisa (GPs

Mais conteúdo relacionado

Semelhante a Estado da Arte da Sociologia sobre o Desenvolvimento

Artigo belloni 2002 - ensaio sobre a educação a distância no brasil
Artigo   belloni 2002 - ensaio sobre a educação a distância no brasilArtigo   belloni 2002 - ensaio sobre a educação a distância no brasil
Artigo belloni 2002 - ensaio sobre a educação a distância no brasilJackeline Ferreira
 
Meio século no caminho ao 3ºmilênio
Meio século no caminho ao 3ºmilênioMeio século no caminho ao 3ºmilênio
Meio século no caminho ao 3ºmilênioFábia Tarraf Macarron
 
O urbano contemporâneo e as condições da produção de moradia no Brasil
O urbano contemporâneo e as condições da produção de moradia no BrasilO urbano contemporâneo e as condições da produção de moradia no Brasil
O urbano contemporâneo e as condições da produção de moradia no BrasilCRESS-MG
 
Os limites e as possibilidades da materialidade do projeto ético-político do ...
Os limites e as possibilidades da materialidade do projeto ético-político do ...Os limites e as possibilidades da materialidade do projeto ético-político do ...
Os limites e as possibilidades da materialidade do projeto ético-político do ...pollymarchiotti
 
Políticas Sociais e Ampliação da Cidadania
Políticas Sociais e Ampliação da CidadaniaPolíticas Sociais e Ampliação da Cidadania
Políticas Sociais e Ampliação da CidadaniaVivianne Macedo Cordeiro
 
Fundamentos históricos, teóricos e metodológicos do serviço social unip
Fundamentos históricos, teóricos e metodológicos do serviço social unipFundamentos históricos, teóricos e metodológicos do serviço social unip
Fundamentos históricos, teóricos e metodológicos do serviço social unipArte de Lorena
 
Plan_Específica_História A_11.º_2022_23.docx
Plan_Específica_História A_11.º_2022_23.docxPlan_Específica_História A_11.º_2022_23.docx
Plan_Específica_História A_11.º_2022_23.docxssuserb135181
 
O Serviço Social na cena contemporânea-Marilda Villela Iamamoto
O Serviço Social na cena contemporânea-Marilda Villela IamamotoO Serviço Social na cena contemporânea-Marilda Villela Iamamoto
O Serviço Social na cena contemporânea-Marilda Villela IamamotoRosane Domingues
 
1 o servico_social_na_cena_contemporanea (1)
1 o servico_social_na_cena_contemporanea (1)1 o servico_social_na_cena_contemporanea (1)
1 o servico_social_na_cena_contemporanea (1)Maria Ígia
 
Responsabilidade Social Edfiscal
Responsabilidade Social EdfiscalResponsabilidade Social Edfiscal
Responsabilidade Social Edfiscaltaniamaciel
 
Democratizar a gestão das políticas sociais – um desafio a ser enfrentado pel...
Democratizar a gestão das políticas sociais – um desafio a ser enfrentado pel...Democratizar a gestão das políticas sociais – um desafio a ser enfrentado pel...
Democratizar a gestão das políticas sociais – um desafio a ser enfrentado pel...Isabel Amaral
 
PRÁTICAS RECENTES DE INTERVENÇÕES CONTEMPORÂNEAS EM CIDADES DA AMÉRICA LATINA
PRÁTICAS RECENTES DE INTERVENÇÕES CONTEMPORÂNEAS EM CIDADES DA AMÉRICA LATINAPRÁTICAS RECENTES DE INTERVENÇÕES CONTEMPORÂNEAS EM CIDADES DA AMÉRICA LATINA
PRÁTICAS RECENTES DE INTERVENÇÕES CONTEMPORÂNEAS EM CIDADES DA AMÉRICA LATINAGraciela Mariani
 
Trabalho escrito (reconc. do ss)
Trabalho escrito (reconc. do ss)Trabalho escrito (reconc. do ss)
Trabalho escrito (reconc. do ss)thaisrafael_
 
Resenha trajetórias geográficas - LOBATO CORRÊA
Resenha trajetórias geográficas - LOBATO CORRÊAResenha trajetórias geográficas - LOBATO CORRÊA
Resenha trajetórias geográficas - LOBATO CORRÊAHemily Sued
 
SOCIOLOGIA - CONCURSO SEDUC SP 2023.docx
SOCIOLOGIA - CONCURSO SEDUC SP 2023.docxSOCIOLOGIA - CONCURSO SEDUC SP 2023.docx
SOCIOLOGIA - CONCURSO SEDUC SP 2023.docxMarcosCararaAmerichi
 

Semelhante a Estado da Arte da Sociologia sobre o Desenvolvimento (20)

Artigo belloni 2002 - ensaio sobre a educação a distância no brasil
Artigo   belloni 2002 - ensaio sobre a educação a distância no brasilArtigo   belloni 2002 - ensaio sobre a educação a distância no brasil
Artigo belloni 2002 - ensaio sobre a educação a distância no brasil
 
Meio século no caminho ao 3ºmilênio
Meio século no caminho ao 3ºmilênioMeio século no caminho ao 3ºmilênio
Meio século no caminho ao 3ºmilênio
 
O urbano contemporâneo e as condições da produção de moradia no Brasil
O urbano contemporâneo e as condições da produção de moradia no BrasilO urbano contemporâneo e as condições da produção de moradia no Brasil
O urbano contemporâneo e as condições da produção de moradia no Brasil
 
Os limites e as possibilidades da materialidade do projeto ético-político do ...
Os limites e as possibilidades da materialidade do projeto ético-político do ...Os limites e as possibilidades da materialidade do projeto ético-político do ...
Os limites e as possibilidades da materialidade do projeto ético-político do ...
 
Políticas Sociais e Ampliação da Cidadania
Políticas Sociais e Ampliação da CidadaniaPolíticas Sociais e Ampliação da Cidadania
Políticas Sociais e Ampliação da Cidadania
 
1397 2781-1-sm (1)
1397 2781-1-sm (1)1397 2781-1-sm (1)
1397 2781-1-sm (1)
 
1397 2781-1-sm (1)
1397 2781-1-sm (1)1397 2781-1-sm (1)
1397 2781-1-sm (1)
 
Fundamentos históricos, teóricos e metodológicos do serviço social unip
Fundamentos históricos, teóricos e metodológicos do serviço social unipFundamentos históricos, teóricos e metodológicos do serviço social unip
Fundamentos históricos, teóricos e metodológicos do serviço social unip
 
Plan_Específica_História A_11.º_2022_23.docx
Plan_Específica_História A_11.º_2022_23.docxPlan_Específica_História A_11.º_2022_23.docx
Plan_Específica_História A_11.º_2022_23.docx
 
O Serviço Social na cena contemporânea-Marilda Villela Iamamoto
O Serviço Social na cena contemporânea-Marilda Villela IamamotoO Serviço Social na cena contemporânea-Marilda Villela Iamamoto
O Serviço Social na cena contemporânea-Marilda Villela Iamamoto
 
1 o servico_social_na_cena_contemporanea (1)
1 o servico_social_na_cena_contemporanea (1)1 o servico_social_na_cena_contemporanea (1)
1 o servico_social_na_cena_contemporanea (1)
 
Dede2
Dede2Dede2
Dede2
 
Feb celsofurtado03
Feb celsofurtado03Feb celsofurtado03
Feb celsofurtado03
 
Responsabilidade Social Edfiscal
Responsabilidade Social EdfiscalResponsabilidade Social Edfiscal
Responsabilidade Social Edfiscal
 
Corpo do texto 03
Corpo do texto 03Corpo do texto 03
Corpo do texto 03
 
Democratizar a gestão das políticas sociais – um desafio a ser enfrentado pel...
Democratizar a gestão das políticas sociais – um desafio a ser enfrentado pel...Democratizar a gestão das políticas sociais – um desafio a ser enfrentado pel...
Democratizar a gestão das políticas sociais – um desafio a ser enfrentado pel...
 
PRÁTICAS RECENTES DE INTERVENÇÕES CONTEMPORÂNEAS EM CIDADES DA AMÉRICA LATINA
PRÁTICAS RECENTES DE INTERVENÇÕES CONTEMPORÂNEAS EM CIDADES DA AMÉRICA LATINAPRÁTICAS RECENTES DE INTERVENÇÕES CONTEMPORÂNEAS EM CIDADES DA AMÉRICA LATINA
PRÁTICAS RECENTES DE INTERVENÇÕES CONTEMPORÂNEAS EM CIDADES DA AMÉRICA LATINA
 
Trabalho escrito (reconc. do ss)
Trabalho escrito (reconc. do ss)Trabalho escrito (reconc. do ss)
Trabalho escrito (reconc. do ss)
 
Resenha trajetórias geográficas - LOBATO CORRÊA
Resenha trajetórias geográficas - LOBATO CORRÊAResenha trajetórias geográficas - LOBATO CORRÊA
Resenha trajetórias geográficas - LOBATO CORRÊA
 
SOCIOLOGIA - CONCURSO SEDUC SP 2023.docx
SOCIOLOGIA - CONCURSO SEDUC SP 2023.docxSOCIOLOGIA - CONCURSO SEDUC SP 2023.docx
SOCIOLOGIA - CONCURSO SEDUC SP 2023.docx
 

Mais de AllefFerreiraHillz

Mais de AllefFerreiraHillz (12)

Luiz Henrique Paiva.pptx
Luiz Henrique Paiva.pptxLuiz Henrique Paiva.pptx
Luiz Henrique Paiva.pptx
 
Luciana Oliveira.pptx
Luciana Oliveira.pptxLuciana Oliveira.pptx
Luciana Oliveira.pptx
 
Carlos Chagas.pptx
Carlos Chagas.pptxCarlos Chagas.pptx
Carlos Chagas.pptx
 
Apresentacao BAPI3 da 3ªCODE 20032013.pptx
Apresentacao BAPI3 da 3ªCODE 20032013.pptxApresentacao BAPI3 da 3ªCODE 20032013.pptx
Apresentacao BAPI3 da 3ªCODE 20032013.pptx
 
Roger Leal.pptx
Roger Leal.pptxRoger Leal.pptx
Roger Leal.pptx
 
Antonio Lassance.ppt
Antonio Lassance.pptAntonio Lassance.ppt
Antonio Lassance.ppt
 
MINICURSO CODE 1 Indicadores sociais Desagregados por Região.pptx
MINICURSO CODE 1    Indicadores sociais Desagregados por Região.pptxMINICURSO CODE 1    Indicadores sociais Desagregados por Região.pptx
MINICURSO CODE 1 Indicadores sociais Desagregados por Região.pptx
 
Regis Bonelli.pptx
Regis Bonelli.pptxRegis Bonelli.pptx
Regis Bonelli.pptx
 
JOANA CODE2013.pptx
JOANA CODE2013.pptxJOANA CODE2013.pptx
JOANA CODE2013.pptx
 
IGOR Apresentacao_CODE2013.pdf
IGOR Apresentacao_CODE2013.pdfIGOR Apresentacao_CODE2013.pdf
IGOR Apresentacao_CODE2013.pdf
 
IGOR Apresentacao_CODE2013.ppt
IGOR Apresentacao_CODE2013.pptIGOR Apresentacao_CODE2013.ppt
IGOR Apresentacao_CODE2013.ppt
 
CLOVIS Apresentacao_Conferencias_CODE_190313.pptx
CLOVIS Apresentacao_Conferencias_CODE_190313.pptxCLOVIS Apresentacao_Conferencias_CODE_190313.pptx
CLOVIS Apresentacao_Conferencias_CODE_190313.pptx
 

Estado da Arte da Sociologia sobre o Desenvolvimento

  • 1. Estado da Arte da Sociologia sobre o desenvolvimento Anete Ivo - UFBA
  • 2. Supostos • O esforço da elaboração do estado da arte da sociologia d do desenvolvimento implica HISTORICIZAR a noção entendendo a Sociologia como parte do projeto racionalizador da mudança: envolve uma Razão prática da sociologia como agente da mudança ( a mudança provocada) e portanto movimentos contraditórios entre saber e poder • As inflexões da noção do desenvolvimento, seus agentes e temáticas expressam um “giro teórico epistemológico” na modernidade madura (Beck) • Fio condutor assumido: o tema do conflito [ padrão distributivo e classes] e o da integração (trabalho, pobreza e desigualdades sociais) • Alcance analítico: as questões analisadas permitem gerar um horizonte de dilemas e desafios críticos assumidos pela tarefa racionalizadora da Sociologia, que envolve a relação entre ciência e prática; e ciência e política, com possibilidades de se extrair uma pauta de questões diante das transformações contemporâneas
  • 3. Estrutura analítica Dimensões da análise • uma reflexão teórica sobre o “campo da sociologia do desenvolvimento”, com base em referências clássicas, especialmente no período de 60-70. • uma caracterização das temáticas assumidas como “objetos” da subárea da Sociologia do Desenvolvimento, dos anos 90 a 2000, com base numa autodefinição dos pesquisadores dessa subárea •uma reflexão de natureza teórica sobre o “campo da sociologia do desenvolvimento”, com base em referências clássicas, especialmente no p
  • 4. Base de dados Universo encontrado • Grupos de pesquisa- 117 Grupos de Pesquisa do CNPq (GPs) reconhecem a temática do seu grupo como integrante à subárea , destes apenas 42 referem-se à área da sociologia. Eles integram um total de 425 pesquisadores e 324 estudantes ( muitos não são da área de sociologia) • Pesquisadores-doutores na subárea da sociologia do desenvolvimento- são 242 pesquisadores e um total de 1.619 projetos de pesquisa. Desses foram eliminados 180 projetos por ausência de informações e 96 pelo recorte temporal, restrito aos projetos da década de noventa e dois mil. Resultado final: 1.343 projetos de pesquisa
  • 5. Alcances e limitações da informação • Possibilidades - identificar redes de pesquisa e temáticas pesquisadas; quantificar o total de pesquisadores e estudantes vinculados à subárea, o nível de formação, a distribuição regional da formação e local de trabalho nas instituições universitárias, no presente; • Limitações • imprecisão da fonte, pois os líderes informam mais sobre o impacto do GP que sobre a problemática substantiva da atuação. • Como a sociologia do desenvolvimento se move em fronteiras interdisciplinares, parte dessa produção pode estar registrada como pertencente às “sociologias específicas” ou localizadas na sociologia rural e urbana.
  • 6. Antecedentes conceituais da sociologia do desenvolvimento • 1. O legado –(intérpretes brasileiros) entre modernidade e modernização: - Os dilemas da tradição – o “outro europeu” ( Sergio Buarque de Holanda) - O sistema de dominação colonial – o patriarcado (Gilberto Freire ) - A formação do sistema colonial – setor orgânico e inorgânico ( associado à Metrópole) • 2. O projeto nacional desenvolvimentista – anos 50-60 : • 2.1. Os intelectuais do ISEB - a modernização do Estado nacional e o projeto de modernização urbano industrial ( pacto entre Estado, elites e trabalhadores assalariados urbanos). Crescimento econômica e progresso técnico, com mmodernização das relações produtivas com base no trabalho assalariado • 2.2. A teoria da dependência ( Fernando Henrique Cardoso e Enzo Faletto, 1970) - • 2.3. A heterogeneidade do mercado de trabalho (crítica à razão dualista), Francisco de Oliveira, 1973) Critica ao modelo de substituição das importações
  • 7. O ciclo conflitivo da transição: globalização/democracia/trabalho 1970/ 80 – A transição pela via da cidadania: os movimentos sociais X teses conservadoras da governabilidade (Consenso de Washington) 1990 - A virada neoliberal – Reforma do Estado Ruptura : Trabalho/ Proteção / Solidariedade nacional 2000 - Propostas de integração: o combate contra a pobreza. Duas vias: a) pobres viáveis - o empreendedorismo das camadas populares b) extremamente pobres - políticas assistenciais focalizadas 2010 – A crise estrutural do capitalismo Do combate à pobreza ao combate às desigualdades, via formalização do trabalho pela via da capacitação.
  • 8. Paradigmas alternativos (esforços da transversalidade) • Novo paradigma solidarista, que reconhece a complexidade sociocultural e a capacidade de autotransformação dos atores sociais, questionando o caráter progressivo e universalista do desenvolvimento econômico e sua legitimidade como expressão nacional; • Teoria da justiça social – Redistribuição e reconhecimento; • Teoria das redes – sociabilidades; • A dimensão do território – desenvolvimento local; • As teorias de alcance médio – local governance, capital social, empowerment - novo pacto e arranjos microssociais ( novo desenvolvimento)
  • 9. 4ª parte - DESENVOLVIMENTO NA ORDEM MUNDIAL CONTEMPORÂNEA • . Contexto marcado pela crise histórica e estrutural do capitalismo (2008), antecedida por um ciclo de crescimento e distribuição de renda que marcou a ação dos governos dos países da América Latina, a partir da segunda metade dos anos 2000. • Explora algumas teses da pauta do desenvolvimento, no presente: • – a) A importância de retorno da agenda da década de 70-80, relativas a classe, estratificação social e mobilidade social, associada ao mercado de trabalho e desigualdade social, considerando especialmente a situação do estrato de trabalhadores com rendimentos de até 2 salários mínimos; – b) o impacto das políticas de transferência de renda e aposentadorias sobre a formação do mercado interno e a “qualidade da proteção e cidadania social”.
  • 10. 5ª parte e última parte • A SOCIOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO COMO OBJETO- apresenta a sistematização temática dos GPs da subárea da Sociologia do Desenvolvimento: • Núcleos temáticos GPs: 1. Desenvolvimento agrário ou local (21%); 2. Epistemologia e desenvolvimento (20%); 3. Instituições e regulação (18%); 4. Desenvolvimento e meio ambiente (11%); 5. Trabalho e desenvolvimento (11%); 6. Instituições de socialização (9%); 7. Ciência, tecnologia e inovação (5%); 8. Organizações e mercado (5%).
  • 11. Análise dos estudos Esses 8 núcleos temáticos contemplam uma perspectiva transversal e interdisciplinar na fronteira da Sociologia com a Economia, a Ciência Política e a Antropologia. Exploram o jogo de interações entre a construção social do desenvolvimento, como resultado da sociabilidade dos atores em diferentes instâncias (mercado, organizações sociais e políticas públicas), e a regulação política do projeto de desenvolvimento econômico e social, relativa aos arranjos entre atores sociais e políticos, públicos e privados, em processos de governança e pactuação de micro agendas locais. A sociabilidade dos atores sociais está diretamente atrelada às formas de regulação microssociais, entre o mercado e a sociedade, através da rede de atores com capacidade estratégica em diferentes escalas territoriais. No contexto agrário, os temas gravitam em torno do mercado, dos processos de ruralidade e identidades de comunidades tradicionais, mas também contemplam arranjos de governança; No contexto das cidades, predominam os processos de governança urbana ou local, participação ou descentralização de políticas ou problemas vinculados a riscos, violência e segurança pública, e as temáticas que se referem à implementação de políticas públicas descentralizadas As conexões e passagens entre esses âmbitos acompanham um deslocamento da ação coletiva com base no ator estratégico e na capacitação desses agentes segundo “oportunidades”.
  • 12. Principais paradigmas 1. Focaliza um empreendedorismo urbano e rural das classes populares de rendas mais baixas como matriz de um desenvolvimento endógeno, com base em dois paradigmas centrais: a) um paradigma institucional, dos arranjos entre atores pela via da governança, da dinâmica organizacional e da implementação de políticas descentralizadas; e b) outro de caráter solidarista, que busca romper com o determinismo das categorias econômicas sobre a construção das relações sociais, para observar as trocas econômicas como resultado dos processos de sociabilidade dos agentes 2. Algumas agências de socialização: a família e a escola, a empresa e as políticas públicas, bem como as comunidades territoriais tradicionais, aparecem como matrizes da integração social, condição e oportunidade de mobilidade dos agentes para os mercados, como no caso da agricultura familiar ou das políticas voltadas para a inserção produtiva.
  • 13. Comentários finais • A mobilização das variáveis societais e culturais como fontes exclusivas de desenvolvimento pode fetichizar o lugar do conflito inerente as trocas mercantis, em favor do “mito” do mercado e da “cooperação”, reorientando a sociabilidade do setor popular como “bens” do mercado, ou transformando “quaisquer tipos de inserção” • Sem desconhecer a potencialidade dos empreendimentos solidários e da microeconomia no fomento ao mercado interno e mesmo na superação de situações de pobreza, a tese da auto-organização estratégica do setor popular ativo transforma “os pobres viáveis”, aqueles inseridos no mercado, em agentes financeiros e consumidores no âmbito local, pelo acesso ao crédito e ao consumo, assumindo também os riscos do endividamento no médio prazo.
  • 14. Alternativas liberais para o desenvolvimento: capital humano •A ilusão liberal da “capacitação dos pobres e trabalhadores” constrói uma justificativa liberal do mercado competitivo moderno, como instituição “justa” que se basta a si própria sem precisar, portanto, da ação regulatória do Estado •A via pró ativa dos atores como agentes emancipados pela via da capacitação transforma as condições injustas da distribuição de renda, de caráter estrutural em luta “justa” e meritocrática, reforçando a falácia do “mérito individual”, uma vez que a reprodução dessas desigualdades não significa déficits pessoais, mas posições desiguais socialmente produzidas. •O crescimento econômico dos últimos anos permitiu a melhoria da posição de renda especialmente dos setores situados nos estratos de renda mais baixa da sociedade. Essa relação foi produzida por uma nova associação entre Estado social ( pró-pobres) e o mercado, que transforma e controla os trabalhadores assistidos em massa de consumidores, uma “ classe para o outro” ou, como chamo um “coletivo de destino” ( Cf. Ivo, Viver por um fio, 2008) • Em termos da divisão internacional do trabalho, mais uma vez os países emergentes são chamados a sustentar os riscos e a crise dos países dos blocos centrais, numa nova posição estratégica na ordem mundial .
  • 15. Gráfico 01: Distribuição Temática dos Grupos de Pesquisa (GPs