O documento discute como o coeficiente de importações no Brasil tende a aumentar durante períodos de crescimento econômico devido a descontinuidades técnicas no sistema produtivo, levando a uma maior dependência de importações para atender à demanda por bens de capital e intermediários. Modelos econométricos mostram uma forte correlação positiva entre a taxa de investimento e o coeficiente de importações na economia brasileira entre 2004-2016.
2. Aspectos históricos e conceituais
1. Furtado e “transição” para a industrialização por
substituição de importações;
2. Intervencionismo, seletividade, rentabilidade relativa entre
os setores;
3. Estado desenvolvimentista, acumulação no setor público,
demanda efetiva, acumulação setor privado; articulação
das políticas;
4. Descontinuidades técnicas, mecanismo acelerador,
movimento pró-cíclico do coeficiente de importações.
3. Oferta e demanda agregadas
M + Y = I + A
M são as importações
Y é o produto (PIB)
I são os gastos de investimento
A são os demais gastos
4. Importações induzidas
𝑀 = 𝑞𝐼 𝐼 + 𝑞 𝐴 𝐴
𝑚 =
𝑀
𝑌
=
𝑞𝐼 𝐼 + 𝑞 𝐴 𝐴
𝑌
𝑚 = 𝑞𝐼
𝐼
𝑌 + 𝑞 𝐴
𝐴
𝑌
Este coeficiente de importações corresponde assim a uma média entre os
coeficientes específicos de cada componente da demanda agregada,
ponderada pela participação daqueles componentes no PIB.
Coeficientes específicos sobre os componentes da demanda agregada
𝑞𝐼 é o coeficiente de importações
associado ao investimento
𝑞 𝐴 é o coeficiente de importações
associado aos demais gastos
5. Investimento induzido
• Há uma relação empiricamente observada entre a taxa de
crescimento do PIB e a parcela do investimento em relação ao PIB.
• Com base no modelo do supermultiplicador proposto por Serrano
(1995), podemos assim definir a taxa de investimento líquido:
𝐼
𝑌 = 𝑣. 𝑔 𝑒
𝑣 é a relação capital/produto normal
∆𝐾 = 𝐼 é o investimento líquido
∆𝑌 𝑒
é a variação esperada do PIB
𝑔 𝑒
é a taxa esperada de crescimento do PIB
𝐼
𝑌 é a taxa de investimento líquido
𝐼 = 𝑣. (𝑔 𝑒
. 𝑌)
∆𝐾 = 𝑣. ∆𝑌 𝑒
6. Parcela A/Y
𝐼
𝑌 = 𝑣. 𝑔 𝑒
𝑀
𝑌 + 1 = 𝐼
𝑌 + 𝐴
𝑌
𝐴
𝑌 é a participação dos demais gastos no PIB
𝑚 = 𝑞𝐼
𝐼
𝑌 + 𝑞 𝐴
𝐴
𝑌
Substituindo as duas parcelas 𝐴
𝑌 e 𝐼
𝑌 em:
𝑀 + 𝑌 = 𝐼 + 𝐴
𝐴
𝑌 = 1 − 𝑣. 𝑔 𝑒
+ 𝑚
Dividindo esta identidade pelo PIB (Y) temos:
Dado que:
obtém-se a expressão para o coeficiente
7. Coeficiente de importações pró-cíclico
𝑚 =
𝑞 𝐴
(1 − 𝑞 𝐴)
+
𝑞𝐼 − 𝑞 𝐴
1 − 𝑞 𝐴
. 𝑣. 𝑔 𝑒
Condição para que o coeficiente de importações seja uma função crescente da taxa
de crescimento esperada do PIB:
𝑣. 𝑞𝐼 − 𝑞 𝐴 > 0 portanto 𝒒 𝑰 > 𝒒 𝑨
A condição portanto é que o coeficiente de importações relativo ao investimento seja
maior do que o relativo aos demais gastos.
Isto tende a ocorrer quando se verificam significativas descontinuidades técnicas no
sistema produtivo: estão ausentes ou são insuficientes os setores produtores de bens
de produção.
8. Exemplo
Relação capital/produto: 𝒗 = 𝟏, 𝟐𝟓
Coeficiente de importações do investimento: 𝒒 𝑰 = 𝟎, 𝟑
Coeficiente de importações dos demais gastos: 𝒒 𝑨 = 𝟎, 𝟏
Taxa de crescimento do PIB
0,00
0,02
0,04
0,06
0,08
0,10
0,12
0,14
0,16
0% 2% 4% 6% 8% 10%
Coeficiente de
importações
Taxa de
investimento
10. Substituição de importações
• Requer alterações estruturais no sistema produtivo, em contexto de
crescimento do produto e de acumulação de capital, que
modifiquem a relação entre acumulação e importações;
• Construção de capacidade produtiva interna para atender à
demanda crescente por bens de produção que acompanha,
inevitavelmente, o crescimento industrial e a acumulação de capital;
• Antes de reduzir, trata-se de conter a um prazo mais longo (a curto
prazo, pode ser impossível) a tendência de aumento do coeficiente
de importações elevar-se quando a economia cresce.
11. O caso brasileiro (2004-2016)
• O “crescimento extensivo” no período 2004-2010 ocorreu mediante
grande complementariedade entre a indústria doméstica e as
importações, sem mudança estrutural (Medeiros, 2015);
• A decomposição das taxas de crescimento do PIB mostra importante
aumento do coeficiente de importações ao longo do processo, com
elevada correlação com a contribuição da FBKF (Lara, 2015);
• Análise das importações de bens finais e de intermediários, com
base na MIP, mostra que o conteúdo importado da FBKF é superior
aos demais componentes do gasto (Fevereiro, 2016);
• A desaceleração do crescimento (2011-14) e a recessão (2015-16)
implicaram redução da taxa de investimento e do coeficiente médio
de importações, conforme previsto por López (2004).
12. Contribuição das importações como função da
contribuição do investimento
y = 0,5171x + 0,0003
R² = 0,7616
-3,00%
-2,00%
-1,00%
0,00%
1,00%
2,00%
3,00%
-4,00% -3,00% -2,00% -1,00% 0,00% 1,00% 2,00% 3,00% 4,00% 5,00% 6,00%
13. Referências
• FEVEREIRO, J. B. Nota técnica — decomposição da taxa de crescimento do PIB
pelo lado da demanda: uma metodologia alternativa. Carta de Conjuntura IPEA, Rio
de Janeiro, n. 30, abr. 2016.
• LARA, F. As contribuições à desaceleração do crescimento no Brasil (2011-14).
Indicadores Econômicos FEE, Porto Alegre, v. 43, n. 2, p. 23-40, 2015.
• LÓPEZ, J. Economic crises in Latin America: some considerations in the light of
Kalecki’s theory. In: SADOWSKI, Z.; SZEWORSKI, A. Kalecki’s economics today.
London: Routledge, 2004. p. 201-214.
• MEDEIROS, C. Inserção externa, crescimento e padrões de consumo na economia
brasileira. Brasília, DF: IPEA, 2015.
• SERRANO, F. The sraffian supermultiplier. PhD Dissertation. Faculty of Economics
and Politics at the University of Cambridge. 1995
• SERRANO, F. Tequila ou Tortilla: notas sobre a economia brasileira nos anos 90.
Archetypon, Rio de Janeiro, v. 6, n. 18, set./dez. 1998.
14. NEPE/CEES/FEE
Fernando Maccari Lara (Coordenador)
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