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Participação social e desigualdades
nos conselhos nacionais.
CODE 2013
Autoria: Joana Alencar, Igor Fonseca , Isadora Cruxên, Roberto Pires,
Uriella Coelho Ribeiro (IPEA).
Brasília, 18 de março de 2013.
Conselhos nacionais
• Espaço de diálogo entre Estado e Sociedade.
• Espaços públicos vinculados a órgãos do poder
executivo que tem como finalidade permitir a
participação da sociedade:
• na definição de prioridades para a agenda política,
• na formulação, acompanhamento e controle das
políticas públicas.
Questão
• O estudo da composição dos conselhos
nacionais indica se são espaços que permitem a
inclusão de novos atores, contribuindo para a
redução de desigualdades políticas.
• Em quais aspectos os Conselhos Nacionais são
espaços nos quais as desigualdades se
reproduzem ou podem ser reduzidas?
Conselhos e desigualdades
Dois enfoques da literatura:
I) REDUZ - Defendem que os conselhos são
espaços onde grupos sociais historicamente
excluídos do processo político formal teriam
oportunidade de se manifestar, deliberar e
participar das decisões.
II) REPRODUZ - Integrantes muitas vezes
pertenceriam a elites que sempre estiveram no
poder no país – basicamente, homens,
brancos, que possuem escolaridade e renda
bem superiores à média.
Conselhos e desigualdades:
argumento I
• Primeiras análises sobre instituições
participativas (anos 90 e início dos anos
2000) orientaram-se pela afirmação da
necessidade de criação de fóruns
participativos e inclusivos
• Consolidação da democracia, do
aprendizado democrático.
• Democracia participativa X política
representativa tradicional. (potencial de
promover maior acesso ao processo
decisório)
Conselhos e desigualdades -
argumento II
• Não se conhece a qualidade dos processos
de democratização e os efeitos atribuídos à
participação.
• Fóruns tendem a ser ocupados
principalmente por atores que tem
condições de se organizar e possuem
recursos financeiros e de poder.
• Os fóruns participativos tenderiam a
reproduzir as desigualdades já existentes
no ambiente social e político.
Conselhos e desigualdades -
argumento II
• Duas questões orientam as análises
críticas:
• Representação: ausência de autorização
formal da sociedade como um todo –
mecanismos de escolha não garantem a
representatividade.
• Desigualdade deliberativa: relações de
poder nas Ips – reforçam a exclusão ao
invés de estimular relações políticas mais
igualitárias – pode gerar um processo de
elitização.
Objetivo
Analisar se os conselhos nacionais são mais
ou menos propensos à reprodução de
desigualdades políticas manifestas:
- na sociedade e
- na política representativa.
Metodologia
• Fonte: dados extraídos de um survey
aplicado pelo IPEA entre 2010 e 2011,
envolvendo 21 conselhos e 3 comissões
nacionais, totalizando 767 conselheiros
nacionais respondentes.
• Levantamento de informações nos sites do
Senado e Câmara dos Deputados.
Classificação temática
Área
temática
Conselhos n. de
conselheir
os
Políticas
sociais
Previdência social, política cultural, assistência social,
saúde, portadores de deficiência, erradicação do
trabalho infantil, direitos da criança e adolescente,
segurança pública, juventude, direitos do idoso,
combate à fome e direitos da pessoa humana.
331 (43%)
Garantia
de direitos
Direitos da população LGBT, direitos da mulher, povos
e comunidades tradicionais, política indigenista e
igualdade racial.
115 (15%)
Desenvolvi
mento
econômico
Economia solidária, turismo, aquicultura e pesca e
desenvolvimento rural.
140 (18,3%)
Infra-
estrutura e
Meio
ambiente
Conselho das cidades, meio ambiente e o de recursos
hídricos.
181 (23,6%)
Resultados – Gênero/sexo
Área temática Sexo (em %)
Masculino Feminino
Política Social 58,3 41,7
Garantia de
direitos
45,6 54,4
Desenvolvimento
Econômico
73,9 26,1
Infraestrutura e
Meio Ambiente
73,7 26,3
Total 62,9 37,1
Resultados – raça/cor
Área temática Raça/cor (em %)
Branca Preta Amarela Parda Indígena
Política Social 67,0 10,5 1,9 18,8 1,9
Garantia de
direitos
38,9 35,4 0,9 13,3 11,5
Desenvolvimen
to Econômico
71,9 11,1 1,5 14,1 1,5
Infraestrutura e
Meio Ambiente
77,5 6,9 0,0 13,9 1,7
Total 66,0 13,6 1,2 16,0 3,2
Resultados – escolaridade
Área
temática
Escolaridade (em %)
Ensino
fundamental
Ensino
Médio
Superior
incompleto
Superior
completo
Pós-
graduação
PS 2,1 6,6 7,9 27,5 55,9
GD 4,3 14,8 12,2 24,3 44,3
DE 2,9 10,8 7,9 30,2 48,1
IMA 0,0 6,1 3,3 23,9 66,6
Total 2,1 8,5 7,5 26,7 55,2
Resultados – renda total.
2%
6%
7%
14%
26%
18%
25%
1%
1%
Abaixo de R$ 500,00
De R$ 501,00 até R$
1.500,00
De R$ 1.501,00 até R$
2.500,00
De R$ 2.501,00 até R$
4.000,00
De R$ 4.001,00 até R$
8.000,00
De R$ 8.001,00 até R$
12.000,00
Acima de R$ 12.001,00
Não Sabe
Resultados – renda.
Área
temáti
ca
Renda (em R$ e %)
Abaixo
de 500
De 501
a
1.500
De
1.501 a
2.500
De 2.501
a 4.000
De
4.001 a
8.000
De
8.001 a
12.000
Acima
de
12.000
PS 0,3 5,3 8,0 14,9 28,2 20,1 23,2
GD 7,9 16,7 7,9 17,5 28,9 8,8 12,3
DE 2,2 6,0 7,5 13,4 26,1 14,2 30,6
I M A 0,6 3,3 5,5 9,9 21,0 26,0 33,7
Total 1,9 6,6 7,3 13,8 26,2 18,8 25,4
Distribuição por local de residência
do conselheiros.
Legenda:
azul – 1 a 10
conselheiros,
amarelo – 11 a 20,
verde – 21 a 30,
vermelho – mais de 30.
Considerações finais
• Quando observados de forma agregada, o
perfil traçado de renda e escolaridade
sugerem algum tipo de elitização nesses
espaços.
• Essa perspectiva agregada esconde
situações que apontam em direção distinta,
os conselhos de garantias de direitos e
políticas sociais possuem uma composição
mais plural e diversificada.
Considerações finais
• Essas informações podem indicar um
primeiro passo para uma maior inclusão
política e, consequentemente, de uma
redução de desigualdades.
• A diferenciação observada entre tipos de
conselhos pode ser reflexo de outras formas
de desigualdades – determinados públicos
não têm acesso a conselhos de temas
relacionados ao poder econômico: infra-
estrutura, meio ambiente e desenvolvimento
econômico.

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Participação social nos conselhos nacionais e desigualdades políticas

  • 1. Participação social e desigualdades nos conselhos nacionais. CODE 2013 Autoria: Joana Alencar, Igor Fonseca , Isadora Cruxên, Roberto Pires, Uriella Coelho Ribeiro (IPEA). Brasília, 18 de março de 2013.
  • 2. Conselhos nacionais • Espaço de diálogo entre Estado e Sociedade. • Espaços públicos vinculados a órgãos do poder executivo que tem como finalidade permitir a participação da sociedade: • na definição de prioridades para a agenda política, • na formulação, acompanhamento e controle das políticas públicas.
  • 3. Questão • O estudo da composição dos conselhos nacionais indica se são espaços que permitem a inclusão de novos atores, contribuindo para a redução de desigualdades políticas. • Em quais aspectos os Conselhos Nacionais são espaços nos quais as desigualdades se reproduzem ou podem ser reduzidas?
  • 4. Conselhos e desigualdades Dois enfoques da literatura: I) REDUZ - Defendem que os conselhos são espaços onde grupos sociais historicamente excluídos do processo político formal teriam oportunidade de se manifestar, deliberar e participar das decisões. II) REPRODUZ - Integrantes muitas vezes pertenceriam a elites que sempre estiveram no poder no país – basicamente, homens, brancos, que possuem escolaridade e renda bem superiores à média.
  • 5. Conselhos e desigualdades: argumento I • Primeiras análises sobre instituições participativas (anos 90 e início dos anos 2000) orientaram-se pela afirmação da necessidade de criação de fóruns participativos e inclusivos • Consolidação da democracia, do aprendizado democrático. • Democracia participativa X política representativa tradicional. (potencial de promover maior acesso ao processo decisório)
  • 6. Conselhos e desigualdades - argumento II • Não se conhece a qualidade dos processos de democratização e os efeitos atribuídos à participação. • Fóruns tendem a ser ocupados principalmente por atores que tem condições de se organizar e possuem recursos financeiros e de poder. • Os fóruns participativos tenderiam a reproduzir as desigualdades já existentes no ambiente social e político.
  • 7. Conselhos e desigualdades - argumento II • Duas questões orientam as análises críticas: • Representação: ausência de autorização formal da sociedade como um todo – mecanismos de escolha não garantem a representatividade. • Desigualdade deliberativa: relações de poder nas Ips – reforçam a exclusão ao invés de estimular relações políticas mais igualitárias – pode gerar um processo de elitização.
  • 8. Objetivo Analisar se os conselhos nacionais são mais ou menos propensos à reprodução de desigualdades políticas manifestas: - na sociedade e - na política representativa.
  • 9. Metodologia • Fonte: dados extraídos de um survey aplicado pelo IPEA entre 2010 e 2011, envolvendo 21 conselhos e 3 comissões nacionais, totalizando 767 conselheiros nacionais respondentes. • Levantamento de informações nos sites do Senado e Câmara dos Deputados.
  • 10. Classificação temática Área temática Conselhos n. de conselheir os Políticas sociais Previdência social, política cultural, assistência social, saúde, portadores de deficiência, erradicação do trabalho infantil, direitos da criança e adolescente, segurança pública, juventude, direitos do idoso, combate à fome e direitos da pessoa humana. 331 (43%) Garantia de direitos Direitos da população LGBT, direitos da mulher, povos e comunidades tradicionais, política indigenista e igualdade racial. 115 (15%) Desenvolvi mento econômico Economia solidária, turismo, aquicultura e pesca e desenvolvimento rural. 140 (18,3%) Infra- estrutura e Meio ambiente Conselho das cidades, meio ambiente e o de recursos hídricos. 181 (23,6%)
  • 11. Resultados – Gênero/sexo Área temática Sexo (em %) Masculino Feminino Política Social 58,3 41,7 Garantia de direitos 45,6 54,4 Desenvolvimento Econômico 73,9 26,1 Infraestrutura e Meio Ambiente 73,7 26,3 Total 62,9 37,1
  • 12. Resultados – raça/cor Área temática Raça/cor (em %) Branca Preta Amarela Parda Indígena Política Social 67,0 10,5 1,9 18,8 1,9 Garantia de direitos 38,9 35,4 0,9 13,3 11,5 Desenvolvimen to Econômico 71,9 11,1 1,5 14,1 1,5 Infraestrutura e Meio Ambiente 77,5 6,9 0,0 13,9 1,7 Total 66,0 13,6 1,2 16,0 3,2
  • 13. Resultados – escolaridade Área temática Escolaridade (em %) Ensino fundamental Ensino Médio Superior incompleto Superior completo Pós- graduação PS 2,1 6,6 7,9 27,5 55,9 GD 4,3 14,8 12,2 24,3 44,3 DE 2,9 10,8 7,9 30,2 48,1 IMA 0,0 6,1 3,3 23,9 66,6 Total 2,1 8,5 7,5 26,7 55,2
  • 14. Resultados – renda total. 2% 6% 7% 14% 26% 18% 25% 1% 1% Abaixo de R$ 500,00 De R$ 501,00 até R$ 1.500,00 De R$ 1.501,00 até R$ 2.500,00 De R$ 2.501,00 até R$ 4.000,00 De R$ 4.001,00 até R$ 8.000,00 De R$ 8.001,00 até R$ 12.000,00 Acima de R$ 12.001,00 Não Sabe
  • 15. Resultados – renda. Área temáti ca Renda (em R$ e %) Abaixo de 500 De 501 a 1.500 De 1.501 a 2.500 De 2.501 a 4.000 De 4.001 a 8.000 De 8.001 a 12.000 Acima de 12.000 PS 0,3 5,3 8,0 14,9 28,2 20,1 23,2 GD 7,9 16,7 7,9 17,5 28,9 8,8 12,3 DE 2,2 6,0 7,5 13,4 26,1 14,2 30,6 I M A 0,6 3,3 5,5 9,9 21,0 26,0 33,7 Total 1,9 6,6 7,3 13,8 26,2 18,8 25,4
  • 16. Distribuição por local de residência do conselheiros. Legenda: azul – 1 a 10 conselheiros, amarelo – 11 a 20, verde – 21 a 30, vermelho – mais de 30.
  • 17. Considerações finais • Quando observados de forma agregada, o perfil traçado de renda e escolaridade sugerem algum tipo de elitização nesses espaços. • Essa perspectiva agregada esconde situações que apontam em direção distinta, os conselhos de garantias de direitos e políticas sociais possuem uma composição mais plural e diversificada.
  • 18. Considerações finais • Essas informações podem indicar um primeiro passo para uma maior inclusão política e, consequentemente, de uma redução de desigualdades. • A diferenciação observada entre tipos de conselhos pode ser reflexo de outras formas de desigualdades – determinados públicos não têm acesso a conselhos de temas relacionados ao poder econômico: infra- estrutura, meio ambiente e desenvolvimento econômico.

Notas do Editor

  1. Secretarias, ministérios..
  2. Estudos assumem uma postura mais crítica e qualificadora dos processos participativos Não se conhece a qualidade dos processos de democratização (inclusão, envolvimento, transparência) efeitos atribuídos à participação (inovação, distribuição de recursos)
  3. Verificar o potencial de cada tipo de conselho em incluir diferentes grupos populacionais, contribuindo para a redução ou reprodução de desigualdades de representação em relação a gênero, raça/cor, idade, renda, escolaridade e região de residência dos conselheiros. . O primeiro grupo refere-se a políticas que trabalham diretamente com proteção social, ou seja, as ações do Estado para impedir que os cidadãos cheguem a ou permaneçam em situação de risco social O segundo grupo, garantias de direitos, envolve as políticas de promoção social que têm por finalidade prover oportunidades a grupos populacionais historicamente excluídos ou marginalizados A área de desenvolvimento econômico concentra as políticas que lidam com assuntos relacionados ao fomento, regulação, financiamento e estímulo ao desenvolvimento da economia área de infraestrutura e recursos naturais inclui as políticas voltadas à promoção de infraestrutura (como infraestrutura urbana, saneamento básico, energia elétrica, água, telefone, transporte, entre outros) e à preservação do meio ambiente e dos recursos naturais
  4. O número de mulheres é bastante relevante, se comparado com outras esferas de representação. 9,4% exercem cargos de deputada ou senadora no Congresso Nacional em 2012.
  5. Reafirmação da desigualdade racial existente no Brasil. Negros, pardos e indígenas continuam sendo minoria nestas instâncias de participação social. Exceção nos conselheiros da área de “Garantia de Direitos”, onde há leve predominância de conselheiros negros e pardos em relação aos brancos.
  6. A escolaridade dos conselheiros de conselhos nacionais é bem superior à média da população (7,1 anos de estudo). Perfil educacional é bastante semelhante ao observado no Congresso Nacional (80% dos parlamentares com nível superior completo).
  7. Diferença considerável em relação à renda familiar média no Brasil, que é de R$ 2.763,47 (IBGE). De forma geral, tanto conselheiros da sociedade civil quanto do poder público possuem uma faixa de renda bastante alta em comparação com a renda familiar média da população.