Fernando Pessoa foi um poeta português multifacetado que criou vários heterónimos, personagens literárias com personalidades e estilos distintos. O documento fornece detalhes biográficos sobre Pessoa e descreve seus principais heterónimos - Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos - destacando suas temáticas, estilos e visões de mundo diferentes.
3. Biografia
Fernando António Nogueira Pessoa nasceu em Lisboa, na freguesia
dos Mártires, em 13 de Junho de 1888, filho de Joaquim de Seabra
Pessoa e de Maria Madalena Pinheiro Nogueira.
Foi educado em Durban (África do Sul), em consequência do
casamento, em segundas núpcias, de sua mãe com o Comandante
João Miguel Rosa, cônsul de Portugal nesse local.
Apesar de considerar a monarquia o sistema ideal para um país
imperialista como Portugal, achava-a impraticável no nosso país. Era
um conservador do estilo inglês e completamente antirreacionário.
Assume-se partidário do nacionalismo, anticomunista e antissocialista
e defende a abolição da infiltração da igreja na política.
Cristão gnóstico, opõe-se inteiramente a todas as igrejas organizadas.
É internado no Hospital de S. Luís, com uma cólica hepática, onde
falece a 30 de novembro de 1935.
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4. Biografia
• 1912: publica, na revista A Águia, os artigos sobre “A Nova Poesia
Portuguesa”;
• 1913: escreve O Marinheiro, drama estático; surge a primeira
poesia de Ricardo Reis; dá-se o encontro do grupo de onde surgirá
o Orpheu;
• 1915: saem os n.os 1 e 2 da revista Orpheu;
• 1917: publicação do Portugal Futurista, com poesias de Fernando
Pessoa e o Ultimatum de Álvaro de Campos;
• 1918: publica Antinous e 35 Sonnets;
• 1922/26: na revista Contemporânea, publica vários poemas e
artigos em prosa;
• 1927: inicia a colaboração com a Presença;
• 1934: publica a Mensagem
• 1943: publicam-se as Obras Completas, pela editorial de Luís de
Montalvor;
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5. Fernando Pessoa – ortónimo e
heterónimos
“Fernando Pessoa é uma das personalidades mais complexas e
representativas da literatura europeia do século XX. É como ensaísta
que primeiro se revela, ao publicar, em 1922, na revista A Águia uma
série de artigos sobre “A Nova Poesia Portuguesa”. Afastando-se do
grupo saudosista, (…) vai ser um dos introdutores do Modernismo em
Portugal. O ano de 1914 fica, na biografia interior do poeta, como um
ano decisivo, pelo aparecimento dos heterónimos.”
Dicionário de Literatura, J. Prado Coelho, Porto, Liv. Figueirinhas
Fernando Pessoa (ortónimo)
Alberto Caeiro (heterónimo)
Ricardo Reis (heterónimo)
Álvaro de Campos (heterónimo)
Português 12.º Ano 5
6. Os “Ismos de Vanguarda”
1. Paulismo – remete para a palavra “paul”, que significa pântano,
estagnação da água. Esta corrente tem raízes no simbolismo e no
decadentismo e caracteriza-se pela confusão do objetivo e do
subjetivo, pela expressão do vago e do indefinido, pela subtileza
das sensações sugeridas.
2. Intersecionismo – trata-se de um cruzamento de planos que se
cortam, da interseção de imagens de diferentes domínios da
realidade.
3. Futurismo – afastamento do passado e sublimação do moderno.
4. Sensacionismo – sensação como base de toda a arte.
Português 12.º Ano 6
Fernando Pessoa – ortónimo e
heterónimos
7. Fernando Pessoa – ortónimo
Na poesia ortónima, podemos distinguir duas fases: a tradicional, na
continuação do lirismo português, e a modernista, de rutura com o
passado.
A primeira fase está marcada pelo sebastianismo e pelo saudosismo;
na segunda mostra-se a procura da intelectualização das emoções.
Na poesia de Pessoa, há um grande conflito entre “pensar e sentir”,
entre “felicidade pura e a consciência de si”.
Para o autor, a arte é “o resultado da colaboração entre o sentir e o
pensar”. Para criar a arte, o poeta deve racionalizar o sentimento, daí
a necessidade premente do fingimento. Fingir é inventar conceitos que
exprimem emoções.
Pessoa procura, pela fragmentação do eu, a Totalidade que lhe
permita conciliar o pensar e o sentir.
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8. Temáticas:
– Consciência do absurdo da existência, que leva à melancolia, ao tédio e à
angústia.
– Solidão, antissentimentalismo.
– Ilusão do sonho.
– Ocultismo.
– Fingimento.
Estilo:
– Uso de símbolos.
– Imprevisibilidade.
– Sintaxe simples e linguagem sóbria.
– Verso curto.
– Musicalidade.
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Fernando Pessoa – ortónimo
9. Fernando Pessoa – heterónimos
Etimologicamente, a palavra heterónimo significa “que muda de
nome”. Não confundir com pseudónimo, pois este último implica que a
pessoa seja a mesma, sendo falso apenas o nome. Num heterónimo,
pelo contrário, a obra é concebida como que por outro, “fora da sua
pessoa”. Estes não são mais do que “personalidades fictícias”,
inventadas pelo poeta, para dar resposta à necessidade de expressão
de uma multiplicidade contraditória e avassaladora de sentimentos e
ideias.
Pessoa ortónimo e heterónimos não são antagónicos, não se opõem,
nem têm um qualquer papel de superioridade em relação aos demais.
São, isso sim, vários autores distintos, várias personalidades
autónomas, surgidas do âmago de um único indivíduo.
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10. Fernando Pessoa – heterónimos
Sobre a génese dos heterónimos, o próprio poeta revela-nos que eles
surgem “com os poemas de que são autores e não previamente”.
Nas palavras de Pessoa, “Aí por 1912, salvo erro, veio-me à ideia
escrever uns poemas de índole pagã. Esbocei umas coisas em verso
irregular (não no estilo de Álvaro de Campos, mas num estilo de meia
regularidade), e abandonei o caso. Esboçara-se-me, contudo, numa
penumbra mal urdida, um vago retrato da pessoa que estava a fazer
aquilo (tinha nascido, sem que eu soubesse, o Ricardo Reis).”
Fernando Pessoa, in “Carta a Adolfo Casais Monteiro sobre a génese dos heterónimos”, Textos de Crítica e Intervenção,
Lisboa, Ática.
Assim se constata que cada heterónimo tem a sua própria
personalidade, as suas próprias ideias e características.
De segui, analisamos cada um dos heterónimos.
da
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11. Alberto Caeiro
“Porque tudo é o que é, e assim é que é.”
Alberto Caeiro era o mestre de todos os outros heterónimos e do
próprio ortónimo. Apresenta-se como um homem simples, ingénuo,
que se entrega às sensações, principalmente as visuais. Para Caeiro,
a realidade é o que se vê, se constata, não é subjetiva. Diz-se
antimetafísico.
A sua obra lembra Cesário Verde, que aliás cita e admira.
Interessa-se pela Natureza, pela linguagem simples e direta, pela
prosa, pela naturalidade, pelas comparações simples e originais.
“A sensação é tudo (…), e o pensamento é uma doença”. Caeiro
dispensa a subjetividade.
Palavras-chave: Natureza, simplicidade, ruralidade, sensacionismo,
ingenuidade, tranquilidade.
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12. Alberto Caeiro
Temáticas:
– Objetivismo: preferência pela exterioridade, comunhão com a Natureza.
– Sensacionismo: sensações visuais e auditivas.
– Refutação da metafísica, da filosofia e do pensamento.
– Ruralidade.
– Paganismo.
Estilo:
– Verso livre.
– Linguagem simples.
– Léxico pobre.
– Estilo discursivo.
– Marcas de oralidade.
Português 12.º Ano 12
13. Ricardo Reis
“Com mão mortal levo à mortal boca / Em frágil taça o passageiro
vinho…”
Ricardo Reis surge como uma pessoa ressentida, sofredora, afligida
pela ideia da morte e do destino cruel.
É resignado, cauteloso, vive uma felicidade relativa, tentando sempre
usufruir do acessível, sem correr demasiados riscos e esforços.
De formação clássica, usa um vocabulário latinizante e um estilo
denso e trabalhado. Revela um tributo à tradição clássica também na
métrica e nas referências mitológicas.
Palavras-chave: dor, morte, classicismo, medo, resignação,
moderação, apatia.
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14. Ricardo Reis
Temáticas:
– Epicurismo: busca da felicidade relativa.
– Estoicismo: felicidade pela apatia.
– Precaridade da vida e fatalidade da morte.
– “Carpe Diem”.
– Intelectualização das emoções.
Estilo:
– Sintaxe complexa.
– Uso de latinismos.
– Estilo denso e trabalhado.
– Seleção cuidada das palavras.
– Verso branco ou solto.
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15. Álvaro de Campos
“Sentir tudo de todas as maneiras.”
É o mais versátil e o mais emotivo dos heterónimos pessoanos.
É, sobretudo, um futurista, um progressista, exaltador da civilização
mecânica do futuro, um sensacionista.
Representa a fase eufórica, a ideia da estética baseada na força.
É o heterónimo que mais evolui, passando da euforia ao ceticismo e
frustração, aproximando-se de Fernando Pessoa ortónimo.
Numa fase inicial (futurista) apresenta um estilo nervoso, agitado,
pujante; na última fase perde o fulgor, a densidade e a velocidade.
Palavras-chave: futurismo, progresso, mecânica, velocidade, avidez
de vida e emoções; frustração, cansaço, ceticismo.
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16. Álvaro de Campos
Temáticas:
– Civilização mecânica, industrial.
– Atitude escandalosa.
– Sadismo e masoquismo.
– Cansaço existencial, frustração.
– Solidão, isolamento.
Estilo:
– Verso livre e muito longo.
– Pontuação expressiva.
– Ordenação caótica das palavras.
– Universo simbólico.
Português 12.º Ano 16
17. Fernando Pessoa
“E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.”
In “Autopsicografia”
Português 12.º Ano 17