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66
Por Karina Oliani em depoimento a Fausto Salvadori Fotos Andrei Polessi
A médica e apresentadora Karina Oliani coordenou os 23
voluntários que realizaram 2 mil atendimentos de saúde no sertão
do Piauí durante nove dias. “Foi uma expedição que só aconteceu
por teimosia de quem quer fazer a diferença”
Foradazona
“Desde que me formei médica, em
2007, pelo menos uma vez por
ano viajo para algum canto onde possa
doar meu trabalho em projetos sociais.
Já estive em lugares como Etiópia, Ugan-
da, Amazônia, Nepal (logo após o terre-
moto de 2015), Ruanda. Foi para isso que
fiz medicina: ajudar quem mais precisa.
Gosto de sempre me lembrar disso.
Em 2014, conheci a Mariana Serra,
fundadora da Volunteer Vacations (VV),
num almoço em São Paulo. A empatia foi
grande. A VV é uma agência de viagens
que vende pacotes de férias voluntárias e
proporciona uma experiência única para
as pessoas que querem ajudar em diver-
sos ramos, desde tratar de elefantes na
África do Sul até cuidar de crianças em
um orfanato no Quênia. Achei o conceito
dessa empresa genial. Ela permite que
outras pessoas sintam o quanto é bom
fazer o bem.
No almoço, falamos de projetos
sociais e Mariana lançou a ideia de fa-
zer a 1ª Semana Médica VV comigo na
coordenação. Era um desafio enorme.
Por isso mesmo, aceitei na hora. Como
minha especialidade é medicina de
emergência em áreas remotas, queria
viajar para algum local inóspito, de difí-
cil acesso e muito necessitado, que não
tivesse acesso à medicina.
Escolhemos o sertão do Piauí. Eu já
tinha trabalhado ali, num projeto mé-
dico, quando ainda estava da faculdade
de medicina. E a Mariana já havia traba-
lhado com missionários que moram na
região, ligados aos projetos Iris Global
Piauí, Instituto Água Vida e Boutique
dos Sonhos. São pessoas maravilhosas,
que dedicam suas vidas a servir ao pró-
ximo e fazer o bem.
Em setembro, fiz uma viagem para
conhecer a região e definir os locais onde
iríamos atuar. Só para chegar lá foram
dois voos, mais algumas horas de BR e es-
trada de chão. É um dos lugares de maior
pobreza que já vi. Tudo é muito seco.
de conforto
a pediatra Karina Carneiro durante a expedição
que levou médiCos para a população Carente do
sul do piauí. “a gente sempre reCebe mais do que a
gente doa. não vejo a hora de voltar”
68
médicos que topam esses desafios. São
pessoas que se importam com os outros.
Uma surpresa muito legal foi ter reen-
contrado o Victor Bigoli, coordenador do
Projeto Canudos, que eu tinha conheci-
do em outra região do sertão piauiense
em 2006, e poder contar com a ajuda
dele na organização dessa expedição.
Mas outros recursos faltaram na úl-
tima hora, porque estávamos contando
com o apoio dos municípios. Eu tinha me
reunido com os secretários municipais de
saúde e feito uma lista de medicamentos
e equipamentos necessários. Todos disse-
ram que iam me apoiar. Poucos dias antes
da nossa viagem, um dos missionários do
Piauí me ligou e contou que as prefeitu-
ras tinham decidido que não iriam entrar
com nada de remédios ou equipamentos,
apenas cederiam espaços para atendi-
mento. Foi muito triste ouvir isso.
Faltava uma semana para a expedi-
ção e a gente não tinha os recursos. Mes-
mo assim, falei: “A gente vai de qualquer
jeito”. Eu tinha dado minha palavra para
as pessoas do Piauí e também me com-
prometido com os médicos.
Comecei a ligar para vários parceiros,
inclusive patrocinadores pessoais meus,
como a Mitsubishi e a Puma. Esses fo-
ram os dois primeiros que aceitaram
entrar. Isso já me deu um alívio. O An-
drei Polessi, meu parceiro e fundador
do Dharma, nosso projeto de ajuda hu-
manitária em localidades necessitadas,
teve a ideia de falarmos com o Gente de
Montanha, que vende pacotes de turis-
mo de aventura e com quem vamos para
o Nepal em abril de 2017 em uma expe-
dição solidária. Os donos e montanhistas
Máximo Kausch e Pedro Hauck também
toparam nos ajudar.
A vibe do projeto fez muita coisa le-
gal acontecer. No dia da viagem, quando
nosso voo pousou em Salvador, na pri-
meira escala, chegou o contrato de outra
empresa que apoiou a gente, a Avon.
Assim que voltei para São Paulo, quando
já tinha terminado a expedição, chegou
A pouca água que existe é barrenta e os
animais defecam nela. As doenças são
básicas e fazem você se perguntar como
deixaram aquela enfermidade chegar na-
quele ponto. Tem gente que fica cego por
algum problema que pode ser facilmente
prevenido, por exemplo. É uma situação
bem caótica, um local que precisa de aju-
da tanto quanto Uganda.
Ao final dessa viagem, juntamente
com o missionário Wellington Peraro,
decidimos levar a expedição para os
quilombos Serra do Inácio, na cidade de
Betânia do Piauí, Batemaré, em Paulista-
na, e nos municípios de Tanque de Cima,
Angical, Escondido e Acauã, que ficam
no sul do estado, a aproximadamente 500
quilômetros da capital, Teresina. Ali, o
serviço público de saúde chega raramen-
te e é oferecido com muitas deficiências.
DESAFIOS INESPERADOS
Nos projetos que faço pelo mundo sem-
pre tive o prazer de conhecer muitos
69Na págiNa ao lado, a médica kariNa oliaNi, que orgaNizou a
expedição, com um garoto piauieNse; mulher carrega água Na dura
rotiNa das loNgas secas que afetam a região; acima, residêNcia
local; e um morador recebeNdo ateNdimeNto oftalmológico
o contrato da Roche para aprovação. No
total, conseguimos cinco apoiadores.
Sem falar nos médicos e amigos que
conseguiam doações e mandavam caixas
para a minha produtora. Nessas horas a
gente percebe que há mais pessoas boas
no mundo. No fim, eu não conseguia
mais entrar lá, de tantas caixas cheias de
mantimentos e medicamentos. Levamos
tudo de carreto até Petrolina, e dali para
os outros municípios usamos as picapes
fornecidas pela Mitsubishi.
Finalmente, fizemos a Missão Médi-
ca VV, entre 1º e 9 de novembro. A ação
envolveu 23 voluntários, entre equipes
médica e logística, além do grupo de
apoio local. Participaram profissionais
de mais de dez especialidades, como
odontologia, psicologia, fisioterapia,
clínica médica, cirurgia, pediatria, oftal-
mologia, ginecologia e infectologia. Para
o dentista, conseguimos um consultório
de primeiro mundo, montado dentro de
uma van emprestada pela ONG Institu-
to Água Viva.
ENTRE VIDA E MORTE
Foi uma expedição que só aconteceu
por teimosia, porque tinha pessoas con-
tando com isso e eu sabia que ia fazer
diferença na vida delas. Durante nove
dias, fizemos quase 2 mil atendimen-
tos. Além de consultas, os moradores
da região tiveram acesso a exames e
cirurgias e receberam medicamentos.
A oftalmologia foi a especialidade mais
requisitada. Pessoas com baixa visão
“pessoas
com baixa
visão
voltaram
pra casa de
óculos”
70
_
As lições de quem ajuda
Alexandre Naime Barbosa, 41, médico infectologista
“O que trouxe dessa viagem foi o valor do pequeno gesto.
As pessoas de lá nunca vão esquecer o que a gente fez e nós nunca
esqueceremos o quanto foi gratificante ver como estavam felizes
com nossa visita. Apesar de toda a pobreza, elas se arrumavam
com as melhores roupas para ir à consulta e nos davam muito afeto. Um pequeno
gesto, como o de explicar como levantar peso para evitar dor nas costas, tem muita
importância na vida delas.”
Karina Carneiro Branco, 45, pediatra
“A viagem foi muito bacana. Me deu uma oportunidade de me
sentir útil, como na época em que eu trabalhava no SUS. Tinha dois
terceiranistas de medicina com a gente e a viagem mostrou a eles
que medicina não é só grana, é se doar. Em alguns momentos foi
frustrante perceber que não podia fazer mais. Como ensinar os locais a lavar as mãos
para evitar verminoses se a maioria não tem banheiro? A gente sempre recebe
mais do que a gente doa. Não vejo a hora de voltar e fazer um pouco mais.”
Andrei Polessi, 42, diretor de arte e do documentário sobre a viagem
“A miséria assusta a gente: ver uma senhora de 74 anos que
cuida de um menino com paralisia cerebral e outros quatro netos
sem nenhuma renda é algo que bate na sua cara. Mas o que mais
me surpreendeu foi conhecer a beleza desse povo. Apesar
das dificuldades, essas pessoas continuam lutando e conseguem manter a esperança,
o sorriso, a bondade. A gente recebeu muito mais daquelas pessoas do que a
gente levou para elas.”
puderam voltar para casa com os óculos
indicados, montados na hora. Foram
entregues os 650 óculos comprados
pelo Dharma, todos feitos de material
reciclado.
Também visitamos pessoas em suas
casas, para atender pacientes com di-
ficuldade de locomoção, que já haviam
sido identificados com antecedência.
Uma senhora de 77 anos recebeu a doa-
ção de um andador levado de São Paulo.
Em pelo menos dois casos, a passa-
gem da Missão Médica fez a diferença
entre a vida e a morte. Teve um homem
diabético, que, quando a nossa médica
chegou na casa dele, estava deitado no
chão, convulsionando, com um pré-coma
provocado por baixa glicemia. A médica
que o atendeu não sabia o que ia encon-
trar e por isso não tinha glicose intra-
venosa naquele momento. A solução foi
colocar um doce embaixo da língua dele
para salvá-lo e depois fazer um transpor-
te rápido para um pronto-socorro, a 2
horas de onde a gente estava, numa ca-
minhonete 4x4 pelas estradas de terra.
E teve o caso de um menininho de
5 anos chamado Juan, que chegou com
um quadro de desidratação muito grave.
71
Ele não urinava havia três dias e a pele,
de tão seca, você puxava e não voltava.
Uma magreza de África, uma coisa bem
triste. Fizemos a terapia de reidratação
oral e, no fim do dia, quando foi voltan-
do à vida, a equipe o levou para um hos-
pital a 3 horas de carro. Ficou internado
no soro mais dois dias até urinar pela
primeira vez. No estado em que o me-
nino estava, sabemos que, se não tivesse
sido atendido por nós, teria morrido.
Só por ter salvo a vida desse meni-
no, a viagem toda já teria valido a pena.
Mas é claro que ajudamos muito mais
gente. Meu propósito agora é começar a
organizar a segunda Missão Médica no
sertão em 2017.
VIDA NOVA
Foram dias intensos e gratificantes. Aju-
dar os outros faz mais bem para a gente
do que para quem está sendo ajudado. É
a lei do retorno: tudo o que você faz de
bom e de ruim volta para você. Se todo
mundo tratasse os outros como gostaria
de ser tratado, esse mundo seria muito,
muito melhor.
Imagino que exista algo em comum
em uma missão médica num local
remoto como esse e as situações que
encaro no esporte, como escalar o Eve-
rest. Numa situação, você está tentando
salvar vidas alheias. Na outra, está arris-
cando a própria vida. Nas duas, existem
grandes desafios. Sou atraída como um
ímã para tudo o que me tira da minha
zona de conforto.
Sempre gostei de ajudar, e depois
dessa viagem vi que isso vai fazer parte
do meu dia a dia de maneira mais inten-
sa. A gratificação e a alegria que senti
me fizeram perceber o que quero fazer
da minha vida.”
crianças do sul do piauí atendidas pelos voluntários
do grupo (foto colorida) organizado por karina
oliani, que está à esquerda, agachada, de calça roxa,
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Médicos voluntários realizam 2 mil atendimentos em comunidades carentes do Piauí

  • 1. 66 Por Karina Oliani em depoimento a Fausto Salvadori Fotos Andrei Polessi A médica e apresentadora Karina Oliani coordenou os 23 voluntários que realizaram 2 mil atendimentos de saúde no sertão do Piauí durante nove dias. “Foi uma expedição que só aconteceu por teimosia de quem quer fazer a diferença” Foradazona “Desde que me formei médica, em 2007, pelo menos uma vez por ano viajo para algum canto onde possa doar meu trabalho em projetos sociais. Já estive em lugares como Etiópia, Ugan- da, Amazônia, Nepal (logo após o terre- moto de 2015), Ruanda. Foi para isso que fiz medicina: ajudar quem mais precisa. Gosto de sempre me lembrar disso. Em 2014, conheci a Mariana Serra, fundadora da Volunteer Vacations (VV), num almoço em São Paulo. A empatia foi grande. A VV é uma agência de viagens que vende pacotes de férias voluntárias e proporciona uma experiência única para as pessoas que querem ajudar em diver- sos ramos, desde tratar de elefantes na África do Sul até cuidar de crianças em um orfanato no Quênia. Achei o conceito dessa empresa genial. Ela permite que outras pessoas sintam o quanto é bom fazer o bem. No almoço, falamos de projetos sociais e Mariana lançou a ideia de fa- zer a 1ª Semana Médica VV comigo na coordenação. Era um desafio enorme. Por isso mesmo, aceitei na hora. Como minha especialidade é medicina de emergência em áreas remotas, queria viajar para algum local inóspito, de difí- cil acesso e muito necessitado, que não tivesse acesso à medicina. Escolhemos o sertão do Piauí. Eu já tinha trabalhado ali, num projeto mé- dico, quando ainda estava da faculdade de medicina. E a Mariana já havia traba- lhado com missionários que moram na região, ligados aos projetos Iris Global Piauí, Instituto Água Vida e Boutique dos Sonhos. São pessoas maravilhosas, que dedicam suas vidas a servir ao pró- ximo e fazer o bem. Em setembro, fiz uma viagem para conhecer a região e definir os locais onde iríamos atuar. Só para chegar lá foram dois voos, mais algumas horas de BR e es- trada de chão. É um dos lugares de maior pobreza que já vi. Tudo é muito seco. de conforto a pediatra Karina Carneiro durante a expedição que levou médiCos para a população Carente do sul do piauí. “a gente sempre reCebe mais do que a gente doa. não vejo a hora de voltar”
  • 2. 68 médicos que topam esses desafios. São pessoas que se importam com os outros. Uma surpresa muito legal foi ter reen- contrado o Victor Bigoli, coordenador do Projeto Canudos, que eu tinha conheci- do em outra região do sertão piauiense em 2006, e poder contar com a ajuda dele na organização dessa expedição. Mas outros recursos faltaram na úl- tima hora, porque estávamos contando com o apoio dos municípios. Eu tinha me reunido com os secretários municipais de saúde e feito uma lista de medicamentos e equipamentos necessários. Todos disse- ram que iam me apoiar. Poucos dias antes da nossa viagem, um dos missionários do Piauí me ligou e contou que as prefeitu- ras tinham decidido que não iriam entrar com nada de remédios ou equipamentos, apenas cederiam espaços para atendi- mento. Foi muito triste ouvir isso. Faltava uma semana para a expedi- ção e a gente não tinha os recursos. Mes- mo assim, falei: “A gente vai de qualquer jeito”. Eu tinha dado minha palavra para as pessoas do Piauí e também me com- prometido com os médicos. Comecei a ligar para vários parceiros, inclusive patrocinadores pessoais meus, como a Mitsubishi e a Puma. Esses fo- ram os dois primeiros que aceitaram entrar. Isso já me deu um alívio. O An- drei Polessi, meu parceiro e fundador do Dharma, nosso projeto de ajuda hu- manitária em localidades necessitadas, teve a ideia de falarmos com o Gente de Montanha, que vende pacotes de turis- mo de aventura e com quem vamos para o Nepal em abril de 2017 em uma expe- dição solidária. Os donos e montanhistas Máximo Kausch e Pedro Hauck também toparam nos ajudar. A vibe do projeto fez muita coisa le- gal acontecer. No dia da viagem, quando nosso voo pousou em Salvador, na pri- meira escala, chegou o contrato de outra empresa que apoiou a gente, a Avon. Assim que voltei para São Paulo, quando já tinha terminado a expedição, chegou A pouca água que existe é barrenta e os animais defecam nela. As doenças são básicas e fazem você se perguntar como deixaram aquela enfermidade chegar na- quele ponto. Tem gente que fica cego por algum problema que pode ser facilmente prevenido, por exemplo. É uma situação bem caótica, um local que precisa de aju- da tanto quanto Uganda. Ao final dessa viagem, juntamente com o missionário Wellington Peraro, decidimos levar a expedição para os quilombos Serra do Inácio, na cidade de Betânia do Piauí, Batemaré, em Paulista- na, e nos municípios de Tanque de Cima, Angical, Escondido e Acauã, que ficam no sul do estado, a aproximadamente 500 quilômetros da capital, Teresina. Ali, o serviço público de saúde chega raramen- te e é oferecido com muitas deficiências. DESAFIOS INESPERADOS Nos projetos que faço pelo mundo sem- pre tive o prazer de conhecer muitos 69Na págiNa ao lado, a médica kariNa oliaNi, que orgaNizou a expedição, com um garoto piauieNse; mulher carrega água Na dura rotiNa das loNgas secas que afetam a região; acima, residêNcia local; e um morador recebeNdo ateNdimeNto oftalmológico o contrato da Roche para aprovação. No total, conseguimos cinco apoiadores. Sem falar nos médicos e amigos que conseguiam doações e mandavam caixas para a minha produtora. Nessas horas a gente percebe que há mais pessoas boas no mundo. No fim, eu não conseguia mais entrar lá, de tantas caixas cheias de mantimentos e medicamentos. Levamos tudo de carreto até Petrolina, e dali para os outros municípios usamos as picapes fornecidas pela Mitsubishi. Finalmente, fizemos a Missão Médi- ca VV, entre 1º e 9 de novembro. A ação envolveu 23 voluntários, entre equipes médica e logística, além do grupo de apoio local. Participaram profissionais de mais de dez especialidades, como odontologia, psicologia, fisioterapia, clínica médica, cirurgia, pediatria, oftal- mologia, ginecologia e infectologia. Para o dentista, conseguimos um consultório de primeiro mundo, montado dentro de uma van emprestada pela ONG Institu- to Água Viva. ENTRE VIDA E MORTE Foi uma expedição que só aconteceu por teimosia, porque tinha pessoas con- tando com isso e eu sabia que ia fazer diferença na vida delas. Durante nove dias, fizemos quase 2 mil atendimen- tos. Além de consultas, os moradores da região tiveram acesso a exames e cirurgias e receberam medicamentos. A oftalmologia foi a especialidade mais requisitada. Pessoas com baixa visão “pessoas com baixa visão voltaram pra casa de óculos”
  • 3. 70 _ As lições de quem ajuda Alexandre Naime Barbosa, 41, médico infectologista “O que trouxe dessa viagem foi o valor do pequeno gesto. As pessoas de lá nunca vão esquecer o que a gente fez e nós nunca esqueceremos o quanto foi gratificante ver como estavam felizes com nossa visita. Apesar de toda a pobreza, elas se arrumavam com as melhores roupas para ir à consulta e nos davam muito afeto. Um pequeno gesto, como o de explicar como levantar peso para evitar dor nas costas, tem muita importância na vida delas.” Karina Carneiro Branco, 45, pediatra “A viagem foi muito bacana. Me deu uma oportunidade de me sentir útil, como na época em que eu trabalhava no SUS. Tinha dois terceiranistas de medicina com a gente e a viagem mostrou a eles que medicina não é só grana, é se doar. Em alguns momentos foi frustrante perceber que não podia fazer mais. Como ensinar os locais a lavar as mãos para evitar verminoses se a maioria não tem banheiro? A gente sempre recebe mais do que a gente doa. Não vejo a hora de voltar e fazer um pouco mais.” Andrei Polessi, 42, diretor de arte e do documentário sobre a viagem “A miséria assusta a gente: ver uma senhora de 74 anos que cuida de um menino com paralisia cerebral e outros quatro netos sem nenhuma renda é algo que bate na sua cara. Mas o que mais me surpreendeu foi conhecer a beleza desse povo. Apesar das dificuldades, essas pessoas continuam lutando e conseguem manter a esperança, o sorriso, a bondade. A gente recebeu muito mais daquelas pessoas do que a gente levou para elas.” puderam voltar para casa com os óculos indicados, montados na hora. Foram entregues os 650 óculos comprados pelo Dharma, todos feitos de material reciclado. Também visitamos pessoas em suas casas, para atender pacientes com di- ficuldade de locomoção, que já haviam sido identificados com antecedência. Uma senhora de 77 anos recebeu a doa- ção de um andador levado de São Paulo. Em pelo menos dois casos, a passa- gem da Missão Médica fez a diferença entre a vida e a morte. Teve um homem diabético, que, quando a nossa médica chegou na casa dele, estava deitado no chão, convulsionando, com um pré-coma provocado por baixa glicemia. A médica que o atendeu não sabia o que ia encon- trar e por isso não tinha glicose intra- venosa naquele momento. A solução foi colocar um doce embaixo da língua dele para salvá-lo e depois fazer um transpor- te rápido para um pronto-socorro, a 2 horas de onde a gente estava, numa ca- minhonete 4x4 pelas estradas de terra. E teve o caso de um menininho de 5 anos chamado Juan, que chegou com um quadro de desidratação muito grave. 71 Ele não urinava havia três dias e a pele, de tão seca, você puxava e não voltava. Uma magreza de África, uma coisa bem triste. Fizemos a terapia de reidratação oral e, no fim do dia, quando foi voltan- do à vida, a equipe o levou para um hos- pital a 3 horas de carro. Ficou internado no soro mais dois dias até urinar pela primeira vez. No estado em que o me- nino estava, sabemos que, se não tivesse sido atendido por nós, teria morrido. Só por ter salvo a vida desse meni- no, a viagem toda já teria valido a pena. Mas é claro que ajudamos muito mais gente. Meu propósito agora é começar a organizar a segunda Missão Médica no sertão em 2017. VIDA NOVA Foram dias intensos e gratificantes. Aju- dar os outros faz mais bem para a gente do que para quem está sendo ajudado. É a lei do retorno: tudo o que você faz de bom e de ruim volta para você. Se todo mundo tratasse os outros como gostaria de ser tratado, esse mundo seria muito, muito melhor. Imagino que exista algo em comum em uma missão médica num local remoto como esse e as situações que encaro no esporte, como escalar o Eve- rest. Numa situação, você está tentando salvar vidas alheias. Na outra, está arris- cando a própria vida. Nas duas, existem grandes desafios. Sou atraída como um ímã para tudo o que me tira da minha zona de conforto. Sempre gostei de ajudar, e depois dessa viagem vi que isso vai fazer parte do meu dia a dia de maneira mais inten- sa. A gratificação e a alegria que senti me fizeram perceber o que quero fazer da minha vida.” crianças do sul do piauí atendidas pelos voluntários do grupo (foto colorida) organizado por karina oliani, que está à esquerda, agachada, de calça roxa, e que está girando com uma criança na foto no alto