O documento discute as tendências globais na educação superior e as implicações para universidades inovadoras. Aborda cinco desafios para instituições contemporâneas: interdisciplinaridade, inovação, inter-institucionalização, internacionalização e informação. A interdisciplinaridade é necessária para lidar com problemas complexos. A inovação requer a criação e entrega de valor para a sociedade. A inter-institucionalização envolve parcerias entre universidades, governo e empresas.
Slides Lição 06, Central Gospel, O Anticristo, 1Tr24.pptx
Universidades Inovadoras
1. Universidade inovadora: desafios e
oportunidades para a educação superior - 5i´s
para IES contemporâneas.
Roberto C. S. Pacheco
Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento
Universidade Federal de Santa Catarina – EGC/UFSC
Instituto Stela – Pesquisador fundador
pacheco@egc.ufsc.br
30 de novembro de 2015.
Seminário de Planejamento Estratégico – UNIPÊ
João Pessoa – PB
2. Agenda
Quem somos
Histórico e Tendências nos sistemas universitários (UE e EUA)
Interdisciplinaridade
Inovação
Inter-institucionalização
Internacionalização
Informação
3. Quem somos – EGC/UFSC
Programa de PG em Engenharia e
Gestão do Conhecimento
EGC/UFSC - 1995-2005
Criado em 2004
35 Doutores de diversas áreas
(Psicologia, Administração, Engenharias, Computação, Semiótica, Educação)
700 candidatos para 60 ingressantes por ano
(30 mestrado e 30 doutorado)
Conceito 5 na CAPES
+ de 200 doutores e + de 200 mestres
CAInter
AVALIAÇÃO
4. Quem somos – Instituto Stela
Grupo Stela
PPGEP/UFSC
1995-2005
Instituto Stela
Desde 2005
11 países
2001-2003
201220082007
5. Breve Histórico
1290 – 1350
Encontros acadêmicos
1810 – Humboldt
Universidade de Berlim
1963
Robbins Report
1999
Acordo de Bolonha
Universidade = Ensino + Pesquisa
Veículo de avanço do conhecimento e de
investigação crítica e não somente lugar de
transmissão de conhecimentos do passado.
Prática é indissociável do ensino e da
pesquisa
Universidades britânicas deveriam ser
menos elitistas. Pesquisa e educação são
indissociáveis. Necessidade de múltiplos
investimentos e planejamento
http://www.educationengland.org.uk/documents/robbins/robbins1963.html
Espaço europeu de ensino superior
Compatibilidade e comparabilidade entre os sistemas de ES
Sistema com graus acadêmicos de fácil equivalência
Baseado em pré-licenciatura e a pós-licenciatura
Incentivar a mobilidade de estudantes
De professores, investigadores e pessoal administrativo
Cooperação inter-governamental
Será o suficiente para as gerações X e Y?
6. 1290 – 1350
Encontros acadêmicos
1810 – Humboldt
Universidade de Berlim
1963
Robbins Report
1999
Acordo de Bolonha
Learning and Teaching in
European Universities
Trends 2015
As políticas nacionais permanecem muito importantes, mesmo depois de muito
esforço de integração como o do acordo de Bolonha.
Deve haver foco na definição de prioridades, uso de TIC, políticas coordenadas,
instrumentos e abordagens comuns (…) com confiança construída entre os atores.
Sursock, 2015
Internacionalização do aprendizado
70% das IES europeias consideram a internacionalização sua principal política: mobilidade, colaboração, atração
de estudantes, aulas em inglês, financiamento adicional,
Tendências (Europa)
Estratégias de e-Learning
Oferecer flexibilidade e oportunidade aos alunos
MOOCs (2014). Gamefication (2016); 3D Printing (2018). Exames online são uma grande tendência
Openness – open data, open content and transparency
Mudanças conceituais no ensino
Metas de Aprendizagem. Cooperação entre docentes.
Aplicabilidade do aprendizado e empregabilidade do aluno
http://www.eua.be/Libraries/publications-homepage-list/EUA_Trends_2015_web
Estruturas organizacionais
Preparação e avaliação de docentes.
Criação de espaços comuns (coworking).
Suporte constante aos estudantes
7. 1290 – 1350
Encontros acadêmicos
1810 – Humboldt
Universidade de Berlim
1963
Robbins Report
1999
Acordo de Bolonha
5 Higher-Ed Trends for
2014
Queda de investimento público, mudanças demográficas, tecnologias avançadas e
um Mercado de trabalho cada vez mais complex..
Sophie Quinton, Dezembro de 2013
Redução de recursos impacta na demanda por resultados
Administração Obama solicita o “aprendizado baseado em competências”. Estudantes trocam de espaço da sala de
aula para seu próprio espaço de aprendizagem com acesso a emprego durante o processo de aprendizagem
Tendências (EUA - Cenários)
Carreira e Habilidades Técnicas
High Schools, Colleges e empresas estão se unindo para ampliar as habilidades dos estudantes. Aprendizagem e
acesso a emprego convergiram
Excesso de empréstimos estudantis
Estudantes americanos devem 1 trilhão de dólares. Houve grande queda em credito disponível para a formação.
Colleges devem ser mais efetivo e menos custosos
http://www.eua.be/Libraries/publications-homepage-list/EUA_Trends_2015_web
Efetividade docente
Professores começarão a ser recompensados pela efetividade de seu aprendizado.
Debate: o quanto a avaliação docente deve estar ligada à performance do aluno x segurança de emprego.
Cuidados redobrados com o recrutamento de docentes.
8. Tendências (EUA - Reflexões)
1290 – 1350
Encontros acadêmicos
1810 – Humboldt
Universidade de Berlim
1963
Robbins Report
1999
Acordo de Bolonha
Universidades Inovadoras
Hoje o Desafio da Universidade Tradicional é mudar de modo a
diminuir seu preço e a crescer sua contribuição para os estudantes
e para a sociedade.
Christensen e Eyring, 2014
Liberdade e utilidade
Não são escadas e sim cenários.
IES não podem ficar sujeitas a um modelo único e
hierárquico de avaliação.
Reconhecimento estará na qualidade do egresso
Otimismo cauteloso
É muito difícil para IES tradicionais realizar
inovações disruptivas. Professores motivados são
agentes-chave
Poda e foco
Somente sobreviverão as IES que reconhecerem
seus pontos fortes e realizarem inovações com
otimismo, com desempenho reconhecido por seus
estudantes e comunidade
9. Interdisciplinaridade
1º “I” para Universidades contemporâneas
The world has problems, but universities have departments
Garry D Brewer (1999)
11. Reconhecimento à Disciplinaridade
Disciplinaridade
Foi responsável por
diversas conquistas:
Expectativa de vida
Alimentação
Acesso à informação
...
Esta última já fruto da
multidisciplinaridade
Fonte: Pacheco 2014
http://pt.slideshare.net/rpacheco/4-is-para-a-pg-brasileira
12. Limites da Disciplinaridade
Fonte: Pacheco 2014
http://pt.slideshare.net/rpacheco/4-is-para-a-pg-brasileira
Complexidade
A disciplinaridade é
incapaz de resolver os
problemas complexos
que gerou
Mobilidade
Poluição e clima
Pobreza e desigualdade
...
13. Ampliando os limites da Disciplinaridade
Fonte: Pacheco 2015
http://pt.slideshare.net/rpacheco/coproduo-e-cocriao-em-cincia
Níveis de integração e atores
de conhecimento
diferenciam os três tipos de
interdisciplinaridade
14. Exemplos de IES Interdisciplinares
Montana University Learning Commons
http://www.lib.umt.edu/commons/#tour9
Learning Lab
University of Queensland
https://www.pinterest.com/pin/474074298246476402/
Media Production Center – Columbia College
https://www.pinterest.com/duboisclaire/media/
15. Implicações da Interdisciplinaridade na
Educação Superior
No Plano pedagógico
Novos currículos
Aprendizado não linear (quebra de requisitos)
Aprendizado e Resolução de Problemas
Convivência de múltiplos docentes
Uso intensivo de Web 3.0
Formação empreendedora
Nas estruturas organizacionais
Fim das estruturas departamentalizadas
Fim da hierarquia e da ortodoxia
Mobilidade discente e docente
Contração baseada em competência
https://twitter.com/NewPedagogies
16. Implicações da Interdisciplinaridade na
Educação Superior
Na Pesquisa
Novos frameworks
(ex. Ground Theory, Pesquisa-ação)
Coprodução em ciência
Ciência com a sociedade e não para ela
Avaliação de saída, resultados e impactos
Nas relações com a sociedade
Transdisciplinaridade e Extensão
Relações universidade-empresa
Avaliação de impacto sócio-econômico
Capital relacional da universidade (ex. Portal de Egressos)
17. Interdisciplinaridade no Brasil
CAInter CAPES
370 cursos
Mais de 5% dos formados de PG
PNPG 2011-2020
• Capítulo dedicado à ID
REUNI
• Bacharelados Interdisciplinares
Universidades Interdisciplinares
• UFABC
• UFFS
18. Interdisciplinaridade no Brasil
FOPROP 2015
Interdisciplinaridade entrou na
agenda das IES do País:
1. Identificar avanços e desafios para
ID no EnsPesqExt
2. Papel das agências de fomento na
promoção da ID
3. Evitar exigir diploma disciplinar em
processos seletivos
4. Promover ID em diversos níveis
5. Avaliação deve valorizar
experiências ID
6. Inter-institucionalização
20. Inovação: O que é?
Inovação
Curtis Carlson
SRI - Stanford Research Institute
Definição completa de inovação que destaca que:
• Inovar é criar e entregar valor
• Quem avalia o valor é beneficiário
• Só há inovação com modelo de negócio sustentável associado
Criação e entrega de um novo valor a um
mercado, com um modelo de negócios
sustentável para produzi-lo.
21. Inovação: Papel da Universidade
Na criação de valor
Recursos humanos qualificados
Conhecimento científico de ponta
Conhecimento tecnológico
Aplicabilidade e resolução de problemas
Mudança de patamares tecnológicos
Formação empreendedora
Na valoração e sustentabilidade
Comunicação com a sociedade
Confiança do consumidor (prestígio)
Relações com setor empresarial
Impacto social da inovação
Empresas
Governo
Academia
Fonte: Pacheco et. al, 2013
22. Inovação: Universidade como beneficiária
Onde inovar na universidade?
Nas estruturas curriculares
Nas estruturas organizacionais
Nos mecanismos de mobilidade docente e discente
Na forma de integração entre docentes e cursos
Nos instrumentos de cooperação (capital relacional)
No ambiente e na cultura organizacional
Nos instrumentos de contratação docente
Na comunicação com a sociedade (marketing, redes sociais)
Fatores impeditivos
Cultura e tradição
Regulação (excessiva) ou Insuficiente (ex. Lei de Inovação x PEC 77)
Supervalorização de seu papel no sistema de CT&I
Impacto social da inovação
Innovation is today the crucial source of effective
competition of economic development and the
transformation of the society. Does this renaissance
extended to educational sector? The answer must
be “not yet”.
OECD Report 2004
24. Inter-institucionalização: O que é?
Inter-institucionalização
Interligação de saberes via parcerias entre as
universidades, organizações do setor público,
empresas e sociedade civil, com benefícios e
impactos à forma com que cada parceiro cumpre
sua missão.
25. Qual é a missão e que responsabilidades cada ator de nossos
sistemas regionais e nacional de CT&I devem assumir?
Suas estruturas e operações atuais estão adequadas?
Como devem ser as relações:
G2B G2U G2G
B2B B2U B2B
U2G U2B U2U
Governo Academia Empresas
B2U Que competências as empresas esperam
receber de egressos das universidades?
Inter-institucionalização: Como fazer?
26. “Não queremos funcionários que façam apenas o que mandam. Eles
podem até se negar a realizar alguma atividade quando avaliam que
não há condições de segurança”,
http://www.elektro.com.br/Default.aspx
Carlos Alberto dos Santos
Gerente executivo de recursos humanos
(...) algo na Perkins já faz parte de sua cultura há tempos: a
capacidade que a organização tem de ouvir os profissionais. (...)
Os líderes são obrigados a responder a todas elas, mesmo as que
não forem aplicadas.
“Nenhuma opinião pode ser ignorada”.
Lucas Rossi, Revista VoceSA 01/09/2012
Tudo é comemorado: do Dia do Operador de Call Center ao
Natal. As mulheres ocupam 30% dos cargos de liderança, um
percentual alto no setor.
Ursula Alonso Manso, Revista VoceSA 01/09/2012
Exemplo U-B: que competências as empresas esperam?
27. Críticas: universidade no banco dos réus
Parcerias requerem que todos
sejam efetivos.
Em que pese críticas que possam
ser dirigidas a governo e mesmo
ao setor empresarial, é
fundamental que a universidade
tenha autocrítica sobre como
vem desempenhando seu papel
na percepção dos demais atores
sociais.
29. Internacionalização
4º “I” para Universidades contemporâneas
Today a good internationasation strategy positions a
university in the global knowledge production networks.
Andree Sursock (2015)
30. Internacionalização: O que é?
Internacionalização
Processo que visa tornar a universidade uma instituição
internacional tanto em sua formação como na produção
e aplicação de conhecimentos.
31. Internacionalização das IES européias
Intercâmbios de alunos e
professores
Redes internacionais
Atuar em outras regiões
(principalmente Africa)
E-learning, incluindo
MOOCS devem crescer
32. Internacionalização: Como fazer?
Desafio atual
Alto custo econômico
Redução de credibilidade do País
Compreender que resultados vêm no médio e longo
prazos
Mecanismos ágeis
Participação de docentes estrangeiros em aulas por
videoconferência
Participação virtual em eventos internacionais
Internacionalização de eventos por uso da
videoconferência para palestrantes estrangeiros
Atração de talentos internacionais com programas em
parcerias com empresas e outras universidades
(“talent share”)
No Brasil, o maior desafio da internacionalização
surge agora com a crise econômica que se abate
sobre o País. Indicadores de mobilidade, participação
em eventos internacionais, comissões, entre outros.
Será necessário criatividade.
34. Informação: O que e por que
Gestão da Informação
Planejar, desenvolver e utilizar informação são desafios e
necessidades à efetiva tomada de decisão e à operação de uma
universidade. As questões centrais são:
1. Que informações são necessárias?
2. Que informações deve-se gerar e quais se deve acessar?
3. Como gerar, manter, evoluir e descartar?
4. Que soluções devem ser adquiridas/criadas?
5. Que condições de contexto devo respeitar
(ex. MEC/INEP, CAPES, CNPq, FINEP, etc)?
36. Considerações finais
Fatores indutores de mudanças
Interdisciplinaridade
integração de saberes
Inovação
Protagonista do desenvolvimento
socioeconômico
Inter-institucionalidade
Relacionamentos entre universidades,
com empresas, governo e com
sociedade
Internacionalização
Partícipe da rede global de
conhecimento
Informação
Insumo estratégico para que a
universidade realize
adequadamente sua operação e
seu posicionamento estratégico
Efeitos em planejamento estratégico: IES devem considerar o impacto destas 5 dimensões em se
planejamento estratégico, de modo transversal. Como cada “i” afeta o ensino, a pesquisa e a extensão e
de que maneira seus projetos e indicadores fortalecerão e se valerão destas tendências.
37. Considerações finais
Uma universidade inovadora é:
Mantém-se
conectada às
tendências
internacionais em
educação,
pesquisa e
extensão (ex.
Interdisciplinarida
Está sempre
disposta a buscar
melhoria em seus
processos
pedagógicos,
institucionais,
metodológicos e
instrumentais.
Respeita seu
contexto
regulatório, mas
não o utiliza como
bloqueio a
avanços em áreas
ainda não
regulamentadas (e
Busca sempre
desenvolver sua
agenda ensino,
pesquisa e
extensão em
efetiva parceria e
coprodução com
todos os demais
Forma egressos com
competências e
fundamentos
alinhados com as
demandas
contemporâneas de
visão sistêmica e
geradora de valor.
38. Universidade inovadora: desafios e
oportunidades para a educação superior - 5i´s
para IES contemporâneas.
Roberto C. S. Pacheco
Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento
Universidade Federal de Santa Catarina – EGC/UFSC
Instituto Stela – Pesquisador fundador
pacheco@egc.ufsc.br
MUITO OBRIGADO!
30 de novembro de 2015.
Seminário de Planejamento Estratégico – UNIPÊ
João Pessoa – PB
Notas do Editor
Objetivos: discutir tópicos fundamentais para as IES contemporâneas, incluindo Interdisciplinaridade e Transdisciplinaridade, Inovação, Extensão e relação com a sociedade, Formação empreendedora, Inter-institucionalidade e a necessidade das IES estarem conectadas aos sistemas institucionais regional, nacional e internacional (onde mencionarei os sistemas MEC/INEP e CAPES), Estruturas e Cultura acadêmicas que facilitam (ou dificultam) esses elementos.
Atualmente coordenamos o Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento da Universidade Federal de Santa Catarina (EGC/UFSC). O Programa foi fundado em 2004 na área interdisciplinar da CAPES e é composto por três áreas de concentração – Engenharia, Gestão e Mídia do Conhecimento. É formado por quadro docente com professores de 10 departamentos de 7 centros da universidade e trabalha com três paradigmas de conhecimento – autopoietico, conexionista e cognitivista. Em relação à visão que apresentamos sobre inovação e universidade, salientamos a oportunidade que o EGC/UFSC nos trouxe em fazer parte da equipe de avaliação de diferentes organizações, particularmente na CAPES.
Em 2002 fomos o pesquisador instituidor do Instituto Stela, organização sem fins econômicos de pesquisa e desenvolvimento de soluções em sistemas de informação e conhecimento. A exemplo do EGC/UFSC, o Instituto Stela também é originário do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da UFSC (PPGEP/UFSC). Naquele programa o Grupo Stela criou um sistema de secretaria de pós-graduação que integrou os sistemas de CAPES e CNPq e chamou a atenção desse último, que firmou parceria que levou à concepção e criação da Plataforma Lattes do CNPq, que chegou a ser levada a 11 países. O Instituto foi criado com o objetivo era criar uma organização que mantivesse a missão ligada à P&D, mas com a capacidade de governança e profissionalismo que os novos projetos exigiam. Passados 13 anos, o Instituto mantém soluções próprias, ampliou seus projetos com o Estado e tem sistemas de inovação aberta com o setor empresarial.
A história das universidades pode ser divida no período pré e pós a visão Humboldtiana de ensino superior. Na geração anterior, incluindo o período escolástico e as primeiras universidades (como a de Coimbra, de 1290), o ensino se baseava na reunião de pessoas detentoras de conhecimento e na transferência desses conhecimentos em processo de tutoria e aprendizado direto. A partir de Humboldt, na Universidade de Berlim, o ensino superior se fundamentou na tríplice missão da universidade de não só transmitir conhecimentos (ensino), mas também cria-los (via pesquisa) e leva-lo à sociedade (extensão), como parte do ciclo de aprendizagem e formação. Em 1963 o Relatório Robbins criticou o sistema acadêmico inglês vigente que se tornara elitista e caro. Ele redefiniu o papel do ensino universitário no desenvolvimento da nação e garantiu investimentos e ampliação do acesso. Em 1999, como parte do processo integração da Europa, propõe integração de currículos, mobilidade e comparabilidade, entre diversos outros instrumentos de integração.
A EUA (Associação Européia de Universidades) acaba de publicar atualização de seu relatório de tendências no sistema universitário europeu, deduzidas a partir de questionário a cerca de 300 universidades de todo o continente. Entre os diversos resultados desta pesquisa, destacamos a busca pela internacionalização (mais de 70% das IES), as diferentes estratégicas adotadas para o avanço do e-learning, as mudanças conceituais no ensino que estão em curso na Europa e o impacto nas estruturas organizacionais das universidades.
Nos Estados Unidos, além de diversos estudos acadêmicos que discutem o quadro de tendências para o ensino universitário, o tema é de interesse da sociedade e da mídia. Um exemplo está na visão apresentada pela jornalista Sophie Quinton, em dezembro de 2013, que destaca os impactos da redução do financiamento público na necessidade de avaliação de resultados da educação superior, que exige a formação de profissionais de carreira com habilidades técnicas, os efeitos do excesso de empréstimo estudantil passado sobre esta mesma exigência por resultados e, entre as mudanças necessárias, a avaliação docente baseada nos resultados dos alunos.
Entre as obras que discutem os pontos de Sophie e v´´arios outros na universidade contemporânea americana destacamos o livro “Universidade Inovadora” de Christensen e Eyring (2014). Ao analisarem a evolução do sistema acadêmico americano e quase obsessiva busca por padrões de qualidade em instituições como Harvard, os autores chegam à conclusão que o sistema se tornou caro e de difícil expansão e resultados. A partir da análise de uma gama de experiências contemporâneas de inovações nas estruturas e missões universitárias, os autores concluem pela necessidade de mudanças. Seu quadro resumo é que o novo sistema só surgirá a partir da mudança de cada universidade, sem um modelo único e hierárquico de avaliação. Indicam ter um otimismo cauteloso em relação à capacidade das IES de aceitarem inovações disruptivas e indicam a necessidade de que as IES se mantenham focadas e criem sistemas de avaliação baseados na percepção de qualidade de sua própria comunidade-alvo.
Interdisciplinaridade pode ser entendida como inter-relações entre distintos campos, disciplinas ou ramos do conhecimento, na busca por novas respostas para problemas prementes (Graff, 2015).
O primeiro ponto que a Interdisciplinaridade deve fazer em relação à organização disciplinar do conhecimento científico está no reconhecimento de seu mérito, relevância e, principalmente, necessidade para a efetiva Interdisciplinaridade. A este reconhecimento chamamos de alteridade (Phillip, Pacheco e Fernandes 2016).
As disciplinas permitiram o avanço do conhecimento científico, foram a base da revolução industrial
Por outro lado, a Interdisciplinaridade não acredita que nenhum problema complexo possa ser resolvido de forma unidisciplinar. Ao contrário, a falta de visão sistêmica está na causa das principais consequências negativas do desenvolvimento tecnológico e científico da sociedade industrial.
A integração de saberes científicos se dá em diferentes níveis e, no caso de uma das visões de Transdisciplinaridade, com novos atores, para além dos científicos. A abordagem multidisciplinar envolve a combinação de saberes de diferentes fontes, sob coordenação e busca de soluções conjuntas. Essas soluções, no entanto, têm pouco impacto sobre as próprias disciplinas, que não chegam a interagir e a se beneficiar em seus próprios fundamentos e métodos.. Quando isso ocorre, tem-se a Interdisciplinaridade, onde as disciplinas não somente resolvem problemas, mas se combinam na criação de novos métodos e visões de conhecimento cientifico. Finalmente, no plano da Transdisciplinaridade, não se tem uma definição de consenso. Frodeman nos oferece uma definição que tem na coprodução entre atores científicos e não científicos uma nova forma de produzir conhecimento e resolver problemas complexos.
Diversas universidades já se utilizam de novos instrumentos, novas formas de ensino e novas estruturas pedagógicas para realizarem suas atividades. Nos exemplos apresentamos três casos de uso do conceito de ambientes de coworking para que alunos e professores convivam em espaços comuns, com múltiplos e concorrentes dispositivos para realização de aulas, bem como atividades de pesquisa e trocas de conhecimento.
As implicações da Interdisciplinaridade são diversas. Entre elas destacamos as mudanças nos planos pedagógico e organizacional. No primeiro caso, é necessário rever a estrutura linear de disciplinas e pré-requisitos, bem como a formação baseada na oferta expositiva de conteúdos, para modelos baseados na resolução de problemas, com currículos dinâmicos e fundamentados no ensino por competências, com uso intensivo de tecnologias da informação e conectividade de alunos com o mundo, buscando uma formação empreendedora na resolução de problemas. Estes e outros aspectos causam impacto nas estruturas organizacionais convencionais, que devem se abrir para a redução de silos departamentais, foco na missão (e não nos meios) e ter seu quadro docente contratado e avaliado sob bases de competências e não de titulação. Diversas comunidades de professores, educadores, pesquisadores e interessados mantém portais de criação e divulgação de métodos e meios de promover a educação superior contemporânea.
A Interdisciplinaridade traz diversas implicações para uma instituição de ensino superior. Na pesquisa, significa estar aberta à combinação de métodos e visões, bem como à adoção de novos e recentes frameworks para realização de pesquisa interdisciplinar. Também significa mudar a posição quanto à relação da ciência com a sociedade. Na visão transdisciplinar baseada na coprodução, a academia não deve apenas fazer ciência para a sociedade, mas também abrir espaço para fazer ciência com a sociedade. Isso implica, também, mudar as relações da universidade com a sociedade em suas atividades de Extensão e nas relações universidade-empresa. A universidade deve ter meios de avaliar o impacto socioeconômico do que desenvolve e, com o tempo, estabelecer mecanismos de criação e avaliação de seu capital relacional institucional.
No Brasil, a Interdisciplinaridade tem encontrado atores e fatores em todas as dimensões do arranjo institucional de seus sistemas nacional e regionais de educação superior, ciência, tecnologia e inovação (Philippi, Pacheco e Fernandes, 2016).
O caminho percorrido tem destaques como os 12 anos da área Interdisciplinar na CAPES, que chegou a mais de 370 cursos e já forma 5% dos mestres e doutores do País, o destaque a Multi e Interdisciplinaridade no REUNI, que permitiu novos currículos e formatos de curso, bem como a criação de universidades despartamentalizadas. Mas ainda um longo percurso a traçar para sua consolidação. O Plano Nacional de Pós-Graduação (PNPG 2011-2020) tem a ID
Neste ano, o Fórum Nacional de Pró-reitores de Pós-Graduação e Pesquisa (FOPROP) dedicou-se à análise da Interdisciplinaridade nas atividades de ensino, pesquisa e extensão. Entre 18 e 20 de novembro o FOPROP publicou suas conclusões sobre como se pode avançar ainda mais na Interdisciplinaridade, em sintonia com os objetivos do Plano Nacional de Pós-Graduação (PNPG 2011-2020).
Não há um conceito de consenso para inovação. A mais aceita é a definição da OCDE, que identifica produtos, processos, elementos da estrutura organizacional e o mercado como principais fontes de inovação (ou novidades aplicadas na organização com efetiva melhora percebida por seus beneficiários). Curtis Carlson oferece uma definição mais pragmática e completa para inovação, segundo a qual a inovação visa entregar novo valor para um mercado, mas faz isso com base em modelo de negócios sustentável. Esta caracterização inclui exigências que diferem inovação de invenção e dão ênfase à complexidade do processo de inovar.
Inovação é resultado de um sistema complexo de atores e fatores, que incluem os setores acadêmico e de pesquisa, governamental, empresarial e a sociedade civil organizada. Cada setor tem um papel principal a cumprir para dar ao sistema de inovação condições de produzir resultados de impacto socioeconômico. A universidade cumpre papel central, pois é formadora de recursos humanos e produtora de conhecimentos. Quanto mais conectada aos demais atores cumprir sua missão, melhor será sua contribuição para o sistema de inovação em que atua. Com base na definição de Curtis Carlson, sugerimos fatores que ajudam a universidade a cumprir seu papel na criação de valor e na valoração e sustentabilidade da inovação.
Um fato muito importante a ser observado é que a Universidade não é apenas protagonista do sistema de inovação, como também deve ela ser uma organização inovadora, preocupada em rever processos, melhorar estruturas, reavaliar resultados e a implementar mudanças necessárias ao cumprimento de sua missão sob parâmetros contemporâneos de efetividade. Em 2004 a OCDE publicou um estudo relacionando a sociedade do conhecimento e a inovação e concluiu que o setor acadêmico está entre os que mais necessitam absorver as mudanças em curso na sociedade da informação e conhecimento. Destacamos aqui tanto oportunidades de inovar na universidade como os fatores que têm impedido que isso ocorra.
A inter-institucionalização é um processo pelo qual uma organização amplia os laços de parceria e contratos com outras instituições, podendo ser tanto organizações congêneres (i.e., de seu mesmo setor) como atuantes em outros setores ou espaços geográficos. Para universidades a inter-institucionalização significa ligar saberes com outras organizações e gerar benefícios e impactar positivamente na forma com que essas organizações realizam sua missão.
Novamente, destacamos aqui as missões complementares que universidades, governo e empresa cumprem em um sistema socioeconômico. Desta feita, o fazemos não para destacar a questão da inovação, mas para lembrar que estas relações implicam em expectativas, demandas e ofertas de parte a parte. A criação, manutenção e gestão de boas relações inter-institucionais é um desafio contemporâneo para as organizações universitárias. Demandas de parte a parte podem ser mal-compreendidas ou gerar falsas expectativas sobre o papel de cada um.
Contudo, quando estas expectativas dos parceiros são compreendidas, pode-se ter oportunidades de reflexão sobre que características cada parceiro utiliza para avaliar a qualidade do cumprimento da missão do outro. No exemplo discutimos o caso de 3 empresas eleitas em ranking brasileiro quanta a melhor empresa para trabalhar. Em cada explicação para estes postos verificamos uma característica de competência esperada pela empresa para egressos da universidade que venham a ser contratados.
Quando a universidade é cobrada por resultados que ajudem o sistema social, econômico, cultural e ambiental em que vive, pode ocorrer de que algumas cobranças não estejam conectadas à missão estratégica de uma universidade. No entanto, é sempre aconselhável conhecer a opinião dos demais setores sobre o papel da universidade e sobre os resultados que ela cumpre em seu sistema socioeconômico. Na apresentação destacamos que este aspecto é denotado por uma autocrítica, que a universidade deve manter em seus sistemas de autoavaliação.
A apresentação destaca exemplos encontrados na mídia sobre a visão que outros atores têm da universidade. Entre os problemas apontados estão um exemplo de conservadorismo com relação a novas tecnologias (EaD), sua autossuficiência como impeditivo à internalização, bem como expectativas frustradas em perfis de competência esperados de seus egressos no mercado (sendo que neste caso, é bom lembrar que nem todas as competências profissionais devem ser criadas exclusivamente na universidade e, principalmente, que nem todas podem ter relação com o ensino superior – um exemplo é o empresário que esperava da universidade a formação de programadores para a linguagem que sua empresa utiiza).
Nesta parte tratamos agora de uma tendência e, também, uma necessidade sobre o processo de avanço das universidades: a internacionalização de seu ensino, de sua pesquisa e, também, de sua extensão.
Consideramos internacionalização o processo que tem por objetivo levar a instituição universitária a um patamar de comparabilidade internacional em seus métodos, processos e instrumentos de ensino, pesquisa e extensão. Trata-se do processo que visa conectar a universidade a uma rede global de produção e distribuição de conhecimentos.
O relatório da Associação Européia de Universidades indica que a ampla maioria das organizações de ensino da Europa mantém ações de internacionalização, que incluem os intercâmbios de alunos e professores com universidades estrangeiras, a participação em redes internacionais de produção de conhecimento, bem como a intenção de atuar em outras regiões para além de seu país. Há muito espaço, ainda, para o avanço de e-learning e uso de MOOCs.
Em tempos de crise econômica, será necessário que as agências de fomento e de acreditação considerem novos parâmetros de internacionalização que não exijam tanto investimento financeiro de parte das universidades, como a viabilização de ida de alunos ao exterior, porque haverá muita dificuldade geral em viabilizar isso.
Nosso último “i” refere-se a um dos principais insumos para a gestão estratégica organizacional de universidades: a INFORMAÇÃO. A questão central refere-se aos processos de Planejamento, Desenvolvimento e Utilização de Sistemas de Informação para o apoio desde a tomada de decisão estratégica até a automação e efetivação e processos da universidade.
GSI – Gestão de Sistemas de Informação é o conjunto de processos de planejamento, desenvolvimento e utilização de sistemas de informação de uma organização, que visa colocar em sinergia sua operação com sua visão e posicionamento estratégico. Especificamente em relação ao contexto de sistemas externos à IES, é importante não somente assumir a integridade de regras e exigências, mas também se ter uma atitude crítica de como melhorar estes sistemas sob a perspectiva de uma coprodução sociedade-governo. É importante que tenhamos um senso crítico de custo e de duplicação de esforços que a grande massa de sistemas de informação tem exigido da comunidade acadêmica e científica brasileira. As IES podem contribuir com sugestões e críticas e com sua representatividade em associações como ANDIFES, ABRUC, ABRUEM colocando na agenda a simplificação e racionalização dos sistemas de informação pela interoperabilidade e cooperação entre eles.
Em síntese, a universidade inovadora e conectada às demandas contemporâneas deve estar informada, ser aberta, empreendedora, parceira e potencializadora tanto de seus egressos como de seus parceiros.
Agradecemos à Universidade UNIPÊ pela oportunidade da reflexão e participação em evento com a presença da Diretora de Avaliação do INEP/MEC, bem como especialistas em temas contemporâneos sobre a construção de visões estratégicas para a universidade inovadora.