3. TECNOLOGIA E ESCOLA: INTRODUÇÃO E
SISTEMATIZAÇÃO DO USO DAS
TECNOLOGIAS NO DIA-DIA DA
COMUNIDADE ESCOLAR
RAFAEL FABRÍCIO DE OLIVEIRA
ELIZABETH OMEZO YANO
SIMONE APARECIDA DE ABREU MANTECHEVIS
SILVIA APARECIDA RODRIGUES DA SILVA
MÁRCIA APARECIDA DIAS DE OLIVEIRA
4. • RESUMO
Este projeto foi produzido como proposta interventiva ligada ao curso
“Introdução à Educação Digital: Tecnologias na Sociedade e na
Escola”, ligado à Secretaria e Educação do estado de São Paulo. O
projeto está dividido nos seguintes tópicos: RESUMO; INTRODUÇÃO;
REFERENCIAL TEÓRICO; OBJETIVOS; JUSTIFICATIVA; HIPÓTESE
DE TRABALHO; METODOLOGIA; CRONOGRAMA E BIBLIOGRAFIA
PRELIMINAR. Toda estrutura do trabalho foi produzida a partir de
debates e reflexões realizados por meio de interações no fórum da
base E-PROINFO (ambiente digital colaborativo de aprendizagem) do
Ministério da Educação e por e-mails. Alguns pontos foram tratados em
encontros presenciais na Oficina Pedagógica da Diretoria de Ensino de
Itu-SP.
PALAVRAS-CHAVE: EDUCAÇÃO, TECNOLOGIA, INCLUSÃO DIGITAL
5. • INTRODUÇÃO
Este material sintetiza nossos esforços em sistematizar as referências teóricas sobre
o tema, bem como as alternativas, ou plano de ação, no intento de reduzir as
preocupantes taxas de exclusão digital em nossa sociedade, bem como qualificar
cada vez mais a educação sob a ótica institucional escolar. Acreditamos que ao nos
apropriarmos das potencialidades organizativas destes equipamentos, subsidiamos o
apoio de uma educação mais crítica e de autonomia de pensamento aos alunos e
dos interesses das comunidades que lhes são comuns. Isto, sobretudo, pela massiva
presença destes produtos no cotidiano dos alunos e professores, dos conflitos
inerentes gerados por esse processo. Além das possibilidades de concretização de
uma escola mais atualizada com os jovens e a pós-modernidade.
Nosso objetivo não foi encerrar o debate sobre o tema, tão pouco realizar um projeto
engessado, calcado em um design fixo e inalterável. Na verdade, o trabalho é uma
forma mais objetiva de organizar alternativas bem referenciadas e de pôr em prática
alternativas passíveis de contribuírem para uma educação mais democrática e
inclusiva, sob a óptica das novas tecnologias e das possibilidades esboçadas por
esse processo histórico e geográfico.
6. • REFERENCIAL TEÓRICO
O período ou regime de tempo em que se insere a sociedade contemporânea seria iniciado, segundo
Santos (1985, p. 27), após o fim da Segunda Guerra Mundial. Considerado por este autor como o
período técnico-científico-informacional, este processo teria, a partir da segunda metade do século XX, o
poder de alterar profundamente a organização produtiva global por meio de articulação profunda das
ciências, das técnicas e dos meios de informação. Segundo ele, “a tecnologia de comunicação permite
inovações que aparecem, não apenas juntas e associadas, mas também para serem propagadas em
conjunto.” (SANTOS, 1985, p. 27).
As diversas consequências desse processo culminariam numa dinâmica totalmente nova de organização
espacial, onde qualquer fenômeno afetaria toda a humanidade e lugares do planeta. Os resultados e
processos diretamente ligados a esse período revelam, criticamente conforme Santos (1985, p. 28), com
“(...) a criação de novas colônias periféricas no mundo subdesenvolvido; as novas formas de
industrialização com a internacionalização da força de trabalho; e a chegada do capital e tecnologia dos
países adiantados para usar uma força de trabalho mais barata lá onde ela vive, isto é, nos países
dependentes.” (SANTOS, 1985, p. 28).
Essa reflexão é endossada pela presença maciça de empresas multinacionais em países
subdesenvolvidos ao longo da segunda metade do século XX e meados do XXI, em que algumas
corporações passam a ter maior poder e controle de territórios que os próprios Estados Nacionais onde
se instalam. Alguns autores, como Castells (2001) e Lévy (2005), assumem haver um novo paradigma
inerente a esse processo, entendido ora pela ideia de paradigma “sociotécnico”, onde um gradativo e
dinâmico aumento da velocidade de inovação tecnológica e uma difusão mais rápida dessa inovação
pela articulação e interface entre “programas de macropesquisa” e “grandes mercados desenvolvidos
pelos governos”, além da “inovação descentralizada estimulada por uma cultura de criatividade
tecnológica e por modelos de sucessos pessoais rápidos” agrupar-se-iam em torno de redes de
empresas, organizações e instituições para formar um novo “paradigma sociotécnico” (CASTELLS, 2001,
p.77). Ora também entendido pelo “paradigma do ciberespaço”, referindo-se a um novo ambiente de
interconexão de pessoas e lugares pela rede mundial de computadores. (LÉVY, 2005, p. 17).
7. • REFERENCIAL TEÓRICO
Para o francês Pierre Lévy (2005) a nova realidade, mediada pelas tecnologias de informação,
passam a exigir um novo papel dos professores. A função docente deve priorizar uma
aprendizagem cooperativa. Segundo este autor “o ponto principal aqui é a mudança qualitativa
nos processos de aprendizagem. (...) Os professores aprendem ao mesmo tempo que os
estudantes e atualizam constantemente tanto seus saberes ‘disciplinares’ como suas
competências pedagógicas. (...)” (LEVY, 2005, p. 171).
De fato, como podemos observar nos estudos de Oliveira e Dias (2010), a educação básica
brasileira, após sua universalização ao longo das últimas três décadas, conquistou importantes
resultados, como inserir quase a totalidade dos jovens nas escolas.
“Percebe-se um aumento nas matrículas no ensino fundamental de 1975 a 1999. No entanto,
essa tendência inverte-se, passando a uma diminuição das matrículas no período que vai de
2000 a 2005. Segundo Adrião e Oliveira (2002) isso ocorre porque se atingiu o nível máximo de
escolarização da população. Assim, em um primeiro momento de obrigatoriedade de acesso a
esse nível de ensino, observou-se um aumento gradativo do número de matrículas, aumento
esse que passou por um posterior processo de diminuição, devido ao fato de a população em
idade adequada já estar inserida no ensino fundamental.” (OLIVEIRA; DIAS, 2010).
9. • REFERENCIAL TEÓRICO
Porém, ainda não atingiu níveis de qualidade suficientes, sobretudo no que se refere a
parâmetros ligados a inclusão digital, ou mesmo, desenvolver plenamente capacidades plenas
de leitura e escrita.
Como observa Edla Ramos (2012), a tecnologia se destaca como uma das mais importantes e
incipientes ferramentas ligada aos problemas estruturais de qualidade na educação brasileira.
“(...) se queremos uma tecnodemocracia, vamos precisar formar os sujeitos para isso.
Precisamos pensar em alfabetização tecnológica para todos, pois quem não compreende a
tecnologia não vai poder opinar sobre o que fazer com ela. Felizmente a sociedade está mais
atenta sobre esta necessidade e tem buscado equipar as escolas; há também muitos projetos
de inclusão digital que buscam ampliar o acesso às novas tecnologias.” (RAMOS, 2012, p. 22).
O paradigma tecnológico ao qual estamos imersos não extinguirá a função docente da escola,
como muitos protelavam até alguns anos. Na verdade, há um deslocamento da função,
segundo as novas perspectivas de aprendizagem e competências, em que as tecnologias
poderão favorecer a requerida qualidade da escola pública no Brasil em sinergia com outras
políticas e ações.
10. • REFERENCIAL TEÓRICO
Para Levy (2005, p. 171) a competência do professor se deslocará,
passando a incentivar o conhecimento aprendizagem, tornando-se
“animador da inteligência coletiva”. Ainda segundo ele, a atividade docente
terá foco na “troca de saberes”, na “mediação relacional e simbólica” e a
condução das aprendizagens necessárias a cada realidade social.
Mesmo com esforços contínuos de inserção da tecnologia no ambiente
escolar brasileiro, Ramos (2012) demonstra a amplitude das diferenças
regionais em relação ao tema, reflexo das próprias diferenças econômico-
sociais do país. Ainda assim, como podemos observar, mesmo estados
mais desenvolvidos, destacadamente São Paulo e Rio de Janeiro, o nível
de exclusão atinge níveis que ultrapassam 80%. Sendo um dos países
mais desiguais do mundo, o Brasil também reflete tal quadro em relação ao
uso e consumo das tecnologias, ainda que a média geral de exclusão
também seja elevada.
12. • REFERENCIAL TEÓRICO
Segundo Ramos, “tentando mudar esta realidade, o governo Brasileiro muito recentemente lançou o
Programa Banda Larga nas Escolas, em parceria com as operadoras de telefonia fixa. O programa
pretende que todos os alunos das escolas públicas do ensino fundamental e médio situadas na área
urbana tenham acesso à Internet banda larga (2 megabits) até o final de 2010.” (RAMOS, 2012, p.
23).
Em São Paulo, o governo estadual, por meio do programa Acessa Escola, implantou laboratórios de
informática promovendo aos alunos da rede pública recursos modernos para ajudar no aprendizado.
Os objetivos são de inclusão digital e de fortalecimento da rede de professores e alunos, constituindo
alternativa no sentido de promover um espaço digital colaborativo. Trata-se, pois, de outra
experiência interessante de incentivar a inclusão digital por meio das escolas, mesmo seus
resultados sendo incipientes até este momento.
Por fim, mesmo com os esforços no sentido de melhor qualificar professores e alunos no uso e
apropriação das novas tecnologias digitais, há diversos entraves e dificuldades reais no
desenvolvimento de um processo mais totalizante entre o ensino público e a constituição de uma
rede cooperativa em torno dos computadores e instrumentos técnicos associados. A marginalização
do corpo docente, submetido a péssimas condições de trabalho, as dificuldades econômico-sociais
por que passam os alunos e seus familiares, o sucateamento dos espaços escolares, a limitação de
recursos investidos nesta área, a ausência de um projeto nacional de desenvolvimento, dentre
outras questões, ainda não permitem a efetivação de uma educação mais inclusiva e compassada
com as novas necessidades do mundo considerado pós-moderno. Não se trata de relegar os
avanços conquistados ao longo dos últimos anos, mas situar a criticidade do quadro atual e também
a própria possibilidade e transformação desta realidade.
13. • OBJETIVOS
• a) Objetivo Geral
Avaliar a relação da comunidade escolar com o uso e apropriação dos recursos
tecnológicos informacionais, propondo iniciativas de inclusão digital e alternativas
metodológicas de ensino e aprendizagem mediados por estas ferramentas.
• b) Objetivos específicos
Estimular a reflexão sobre o papel da tecnologia na sociedade contemporânea,
sobretudo na comunidade escolar;
• Avaliar se o uso das tecnologias digitais é realizado a partir de conteúdos que
corroboram para o desenvolvimento de habilidades e competências fundamentais ao
processo educativo dos atores escolares;
• Traçar alternativas metodológicas de inclusão digital e uso cooperativo da rede
mundial de computadores para melhoria do processo educativo e das condições de
aprendizagem segundo a realidade local de cada unidade escolar dos envolvidos
com o projeto.
14. • JUSTIFICATIVA DO PROJETO
• As conquistas quantitativas na educação brasileira – ampliação das vagas, criação de
unidades escolares, leis referenciando a matrícula dos jovens na educação básica, entre outras
– estão desassociadas em relação ao âmbito qualitativo, que pouco se desenvolveu,
descompassado, portanto, da universalização do ensino básico no país.
• Com a organização social contemporânea assentada em rede, cujo artifício do período técnico-
científico-informacional pode possibilitar novas perspectivas na educação, torna-se
fundamental a mediação e regulação destes instrumentos digitais pelos professores e agentes
escolares. Isso, no sentido de atender demandas coletivas que minimizem as lacunas no
processo de ensino-aprendizagem, dos conteúdos disciplinares, possibilitando o acesso e uso
consciente das tecnologias, contribuindo em seu sentido lato para reduzir as desigualdades em
várias dimensões em nosso território.
• Pesquisas, projetos e trabalhos que incentivem a inclusão digital e o acesso à rede mundial de
computadores a partir de prismas como a ciência, cultura e educação possuem ampla
relevância social, já que procuram subsidiar níveis de qualidade nos processos formativos.
Portanto, seu incentivo corresponde a necessidade de transformação da sociedade, com maior
qualidade educativa e aos processos a ela associados.
15. • HIPÓTESES DE TRABALHO
• Nossa hipótese parte do pressuposto de que o uso das
tecnologias de comunicação e informação no ambiente
escolar propicia transformações qualitativas na relação com
o saber. Estas, como indica Levy (2005, p. 172), prolongam
as capacidades cognitivas humanas, realçando significados,
experiências e a própria natureza dos fenômenos. Ainda
segundo ele “as novas possibilidades de criação coletiva
distribuía, aprendizagem cooperativa e colaboração em rede
oferecidas pelo ciberespaço colocam novamente em questão
o funcionamento as instituições e os modos habituais de
divisão do trabalho, tanto nas empresas quanto nas
escolas”.
16. • METODOLOGIA E TÉCNICAS
• a) Revisão de literatura correlata ao tema do projeto;
• b) Levantamento de experiências anteriores de temas e projetos, avaliando as potencialidades e entraves de cada
um deles, articulando ações que visem a otimização de nossos resultados;
• c) Utilizar o resultado da prova diagnóstica (Secretaria da Educação de São Paulo) de cada escola para traçar
estratégias (Projetos Integrados de Aprendizagem) que se relacionem com as tecnologias, reforçando as
competências que obtiveram piores resultados nesta avaliação;
• d) Quantificar e qualificar os interesses dos alunos e agentes escolares sobre este tema, fazendo uma
sondagem inicial nas escolas que atuam os autores do projeto;
• e) Estabelecer respectivamente o(s) Projeto(s) de Aprendizagem, já que este é “um método de trabalho pedagógico
que foca a busca de soluções para problemas que o aluno escolhe investigar. Nesse processo de investigação, os
conteúdos da aprendizagem são articulados e integrados ao desenvolvimento do projeto.”;
• f) Possíveis Projetos de Aprendizagem devem levar em consideração necessidades como: inclusão digital; uso
autônomo e crítico da tecnologia; fortalecimento dos laços de cooperação; melhoria do processo de ensino e de
aprendizagem.
• g) Os Projetos de Aprendizagem pensados podem ser realizados a partir de diferentes estratégias e práticas: blogs,
redes sociais, páginas da internet, uso de softwares específicos (editor de texto, de filmes, de músicas, e imagens,
entre outros).
• h) Síntese final, com produção de relatório e estabelecimento de conclusões gerais.
18. • BIBLIOGRAFIA PRELIMINAR
• CASTELLS, M. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 2000.
• FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
• LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 2005.
• OLIVEIRA, J. A. ; DIAS, M. I. P. Possibilidades e limitações da literatura infanto-juvenil no ensino de língua portuguesa:
propostas téorica-metodológicas. Monografia. Curso de Letras. CEUNSP: Itu, 2010.
• OLIVEIRA, Romualdo Portela de. O direito à educação. In: OLIVEIRA, Romualdo Portela de; ADRIÃO, Theresa. (orgs.).
Gestão, financiamento e direito à educação. São Paulo: Xamã, 2007.
• OLIVEIRA, Romualdo Portela de; ADRIÃO, Theresa. O ensino fundamental. In: OLIVEIRA, Romualdo Portela de; ADRIÃO,
Theresa. (orgs.). Organização do ensino no Brasil: níveis e modalidades na Constituição Federal e na LDB. São Paulo:
Xamã, 2002.
• RAMOS, E. Por que precisamos usar a tecnologia na escola? As relações entre a escola, a tecnologia e a sociedade. In:
http://eproinfo.mec.gov.br/modulo/Mod085411/img_upload/por_que_precisamos_usar_a_tecnologia_na_escola.pdf. Consulta
em abr. de 2012.
• SÃO PAULO, Secretaria da Educação. Legislação de Ensino Fundamental e Médio. Estadual. Unificação dos
Dispositivos Legais e Normativos relativos ao Ensino Fundamental e Médio. São Paulo: Secretaria de Educação, 2008.
• SANTOS, M. Espaço e método. São Paulo: Nobel, 1985.