O documento discute testemunhos de São Pápias e São Ireneu sobre a autoria e ordem dos evangelhos de Marcos e Mateus. Também cita Clemente de Alexandria sobre a tradição da ordem dos evangelhos e como Marcos escreveu seu evangelho. Por fim, resume parte do Cânon de Muratori sobre a autoria dos evangelhos de Lucas e João.
3. São Pápias
θαὶ ηνῦζ' ὁ πξεζβύηεξνο ἔιεγελ· Μάξθνο κὲλ
ἑξκελεπηὴο Πέηξνπ γελόκελνο, ὅζα
ἐκλεκόλεπζελ, ἀθξηβῶο ἔγξαςελ, νὐ κέληνη ηάμεη ηὰ ὐπὸ
ηνῦ θπξίνπ ε ιερζέληα ἢ πξαρζέληα. νὔηε γὰξ ἤθνπζελ
ηνῦ θπξίνπ νὔηε παξεθνινύζεζελ αὐηῷ, ὕζηεξνλ δὲ, ὡο
ἔθελ, Πέηξῳ· ὃο πξὸο ηὰο ρξείαο ἐπνηεῖην ηὰο
δηδαζθαιίαο, ἀιι' νὐρ ὥζπεξ ζύληαμηλ ηῶλ θπξηαθῶλ
πνηνύκελνο ινγίσλ, ὥζηε νὐδὲλ ἥκαξηελ Μάξθνο νὕησο
ἔληα γξάςαο ὡο ἀπεκλεκόζεπζελ. ἐλὸο γὰξ ἐπνηήζαην
πξόλνηαλ, ηνῦ κεδὲλ ὧλ ἤθνπζελ παξαιηπεῖλ ἢ ςεύζαζζαί
ηη ἐλ αὐηνῖο. ηαῦηα κὲλ νὖλ ἱζηόξεηαη ηῷ Παπίᾳ πεξὶ ηνῦ
Μάξθνπ.
πεξὶ δὲ ηνῦ Μαηζαῖνπ ηαῦη' εἴξεηαη· Μαηζαῖνο κὲλ νὖλ
βξαΐδη δηαιέθηῳ ηὰ ιόγηα ζπλεηάμαην, ἡξκήλεπζελ δ'
αὐηὰ ὡο ἧλ δπλαηὸο ἕθαζηνο.
“O presbítero dizia o seguinte: Marcos, intérprete
de Pedro, escreveu cuidadosa, não porém
ordenadamente, as recordações das palavras ou
ações do Senhor. Efetivamente, ele jamais ouvira, ou
seguira o Senhor. Mas, conforme disse, mais tarde
ele conviveu com Pedro, que pregava segundo a
necessidade dos ouvintes, mas não elaborou uma
síntese das palavras do Senhor. Assim, ao escrever
Marcos de acordo com suas lembranças, não
cometeu erros. Tivera o único propósito de nada
omitir do que ouvira, nem impingir algo de falso. É
isto o que Pápias narra acerca de Marcos.
A respeito de Mateus assevera o seguinte: Mateus
escreveu os oráculos divinos na língua hebraica;
cada qual os interpretou como pôde” (Eusébio de
Cesareia, História Eclesiástica, III, 39, 15s).
4. Santo Irineu
ὁ κὲλ δὴ Μαηζαῖνο ἐλ ηνῖο βξαίνηο ηῇ ἰδίᾳ
αὐηῶλ δηαιέθηῳ θαὶ γξαθὴλ ἐμήλεγθελ εὐαγγέιηνπ
ηνῦ Πέηξνπ θαὶ ηνῦ Παύινπ ἐλ Ρώκῃ
εὐαγγειηδνκέλσλ θαὶ ζεκειηνύλησλ ηὴλ ἐθθιεζίαλ·
κεηὰ δὲ ηὴλ ηνύησλ ἔμνδελ Μάξθνο, ὁ καζεηὴο
θαὶ ἑξκελεπηὴο Πέηξνπ, θαὶ αὐηὸο ηὰ ὑπὸ Πέηξνπ
θεξπζζόκελα ἐγγξάθσο ἡκῖλ παξαδέδσθελ·
θαὶ Λνπθᾶο δέ, ὁ ἀθόινπζνο Παύινπ, ηὸ ὑπ'
ἐθείλνπ θεξπζζόκελνλ εὐαγγέιηνλ ἐλ βίβιῳ
θαηέζεην.
ἔπεηηα Ἰσάλλεο, ὁ καζεηὴο ηνῦ θπξίνπ, ὁ θαὶ ἐπὶ
ηὸ ζηῆζνο αὐηνῦ ἀλαπεζώλ, θαὶ αὐηὸο ἐμέδσθελ ηὸ
εὐαγγέιηνλ, ἐλ θέζῳ ηῆο Ἀζίαο δηαηξίβσλ.
“Mateus, no entanto, publicou entre os hebreus e
em sua própria língua um Evangelho
escrito, enquanto Pedro e Paulo anunciavam a boa-
nova em Roma e lançavam os fundamentos da Igreja.
Mas, após a morte deles, Marcos, discípulo e
intérprete de Pedro, transmitiu-nos por escrito
igualmente o que Pedro pregara.
Lucas, porém, companheiro de Paulo, deixou
num livro o Evangelho pregado por este último.
Enfim, João, o discípulo que reclinou sobre o
peito do Senhor, publicou também ele um
Evangelho, enquanto residia em Éfeso, na Ásia”
(Eusébio, História Eclesiástica, V, 8, 2-4).
5. “Nos mesmos livros ainda, Clemente cita um dado
tradicional dos antigos presbíteros relativamente à ordem
dos Evangelhos. É o seguinte: os Evangelhos que contêm
genealogias foram escritos em primeiro lugar.
O Evangelho segundo Marcos foi elaborado da seguinte
forma: Pedro anunciava a palavra publicamente em Roma e
explicava guiado pelo Espírito. Os numerosos ouvintes
insistiram para que Marcos, seu companheiro por muito
tempo e, por isso, bem lembrado de suas
palavras, transcrevesse o que ele havia dito. Marcos o fez e
transmitiu o Evangelho aos que lho haviam pedido. Tendo
conhecimento disto, Pedro nada aconselhou que o impedisse
ou estimulasse a escrever.
Por fim, João, ciente de que o lado humano havia sido
exposto nos Evangelhos, escreveu, impelido pelo
Espírito, um Evangelho espiritual. Eis o que refere Clemente”
(Eusébio, História Eclesiástica, VI, 14, 5-7).
Αὖζηο δ' ἐλ ηνῖο αὐηνῖο ὁ Κιήκεο βηβιίνηο πεξὶ ηῆο ηάμεσο ηῶλ
εὐαγγειίσλ παξάδνζηλ ηῶλ ἀλέθαζελ πξεζβπηέξσλ ηέζεηηαη, ηνῦηνλ
ἔρνπζαλ ηὸλ ηξόπνλ·
πξνγεγξάθζαη ἔιεγελ ηῶλ εὐαγγειίσλ ηὰ πεξηέρνληα ηὰο
γελεαινγίαο, ηὸ δὲ θαηὰ Μάξθνλ ηαύηελ ἐζρεθέλαη ηὴλ νἰθνλνκίαλ.
ηνῦ πέηξνπ δεκνζίᾳ ἐλ Ρώκῃ θεξύμαληνο ηὸλ ιόγνλ θαὶ πλεύκαηη ηὸ
εὐαγγέιηνλ ἐμεηπόληνο, ηνὺο παξόληαο, πνιινὺο ὄληαο, παξαθαιέζαη
ηὸλ Μάξθνλ, ὡο ἂλ ἀθνινπζήζαληα αὐηῷ πόξξσζελ θαὶ κεκλεκέλνλ
ηῶλ ιερζέλησλ, ἀλαγξάςαη ηὰ εἰξεκέλα· πνηήζαληα δέ, ηὸ
εὐαγγέιηνλ κεηαδνῦλαη ηνῖο δενκέλνηο αὐηνῦ·
ὅπεξ ἐπηγλόληα ηὸλ Πέηξνλ πξνηξεπηηθῶο κήηε θσιῦζαη κήηε
πξνηξέςαζζαη. ηὸλ κέληνη Ἰσάλλελ ἔζραηνλ, ζπληδόληα ὅηη ηὰ
ζσκαηηθὰ ἐλ ηνῖο εὐαγγειίνηο δεδήισηαη, πξνηξαπέληα ὑπν ηῶλ
γλσξίκσλ, πλεύκαηη ζενθνξεζέληα πλεπκαηηθὸλ πνηῆζαη
επαγγέιηνλ. ηνζαῦηα ὁ Κιήκεο.
Clemente de Alexandria
6. O cânon de Muratori
O terceiro livro do Evangelho é o de Lucas. Este Lucas - médico que depois da ascensão
de Cristo foi levado por Paulo em suas viagens - escreveu sob seu nome as coisas que
ouviu, uma vez que não chegou a conhecer o Senhor pessoalmente, e assim, a medida que
tomava conhecimento, começou sua narrativa a partir do nascimento de João.
O quarto Evangelho e o de João, um dos discípulos. Questionado por seus condiscípulos
e bispos, disse: “Andai comigo durante três dias a partir de hoje e que cada um de nós conte
aos demais aquilo que lhe for revelado”. Naquela mesma noite foi revelado a André, um dos
apóstolos, que, de conformidade com todos, João escrevera em seu nome.
Assim, ainda que pareça que ensinem coisas distintas nestes distintos Evangelhos, a fé
dos fiéis não difere, já que o mesmo Espírito inspira para que todos se contentem sobre o
nascimento, paixão e ressurreição [de Cristo], assim como sua permanência com os
discípulos e sobre suas duas vindas - depreciada e humilde na primeira (que já ocorreu) e
gloriosa, com magnífico poder, na segunda (que ainda ocorrerá). Portanto, o que há de
estranho que João frequentemente afirme cada coisa em suas epístolas dizendo: “O que
vimos com nossos olhos e ouvimos com nossos ouvidos e nossas mãos tocaram, isto o
escrevemos”? Com isso, professa ser testemunha, não apenas do que viu e ouviu, mas
também escritor de todas as maravilhas do Senhor.
Tertium evangelii librum secundum Lucam. Lucas iste medicus, post ascensum
Christi, cum eum Paulus quasi itineris studiosum secum adsumsisset, nomine suo ex
opinione conscripsit, Dominum tamen nec ipse vidit in carne, et ideo, prout assequi
potuit, ita et a nativitate Iohannis incepit dicere.
Quartum Evangeliorum Iohannis ex discipulis. Cohortantibus condiscipulis et episcopis
suis, dixit: “Conieiunate mihi hodie triduo et quid cuique fuerit revelatum, alterutrum nobis
enarremus”. Eadem nocte revelatum Andreæ ex Apostolis, ut recognoscentibus cunctis
Iohannes suo nomine cuncta describeret.
Et ideo, licet varia singulis Evangeliorum libris principia doceantur, nihil tamen differt
credentium fidei, cum uno ac principali spiritu declarata sint in omnibus omnia de
nativitate, de passione, de resurrectione, de conversatione cum discipulis suis ac de gemino
eius adventu, primo in humilitate despecto, quod fuit, secundum in postestate regali
praeclaro, quod futurum est. Quid ergo mirum, si Iohannes tam constanter singula etiam in
epistolis suis proferat dicens in semetipso: “Quæ vidimus oculis nostris et auribus audivimus
et manus nostræ palpaverunt, hæc scripsimus vobis”. Sic enim non solum visorem sed et
auditorem, sed et scriptorem omnium mirabilium Domini per ordinem profitetur.
10.
Explicação tradicional
As coincidências teriam
origem num esquema
fixo de pregação
As divergências
adviriam do público
leitor de cada
Evangelho
11.
Explicação por modelo
Hipótese de um
evangelho primitivo
Hipótese dos
fragmentos
Hipótese da
tradição oral
Hipótese da
tradução dos logia
13.
Teoria de Christian Hermann
Weisse (1838), dominante entre
os estudiosos
Supõe Marcos como o primeiro
Evangelho e uma fonte Q
(talvez o Mateus arameu)
como suplemento independente
Modelo das duas fontes
15. A hipótese tradicional é
aceitável, mas insuficiente
Os modelos de derivação de
uma fonte comum explicam
melhor as semelhanças
Os modelos genealógicos
explicam melhor as diferenças
Ao todo, há 1.488 hipóteses
variantes!
Teorias “sinóticas”
16. Não é questão de erudição, mas de devoção.
Leia os Evangelhos!