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AUTOPSICOGRAFIA                           A dor é uma realidade interior indizível
                                          porque impossível de comunicar ou
O poeta é um fingidor.                    partilhar enquanto tal. O que o poeta
Finge tão completamente,                  faz é "traduzir" (fingir) essa dor em
Que chega a fingir que é dor (1 )         palavras, criando assim um objecto
A dor que deveras sente. ( 2 )            literário: o poema. Uma realidade
                                          subjectiva (dor 2) origina outra,
E os que lêem o que escreve,              objectiva (dor 1), "completamente"
Na dor lida sentem bem, ( 3 )             fingida.
Não as duas que ele teve,
Mas só a [dor ] que eles não têm. ( 4 )
                                          Perante a dor "fingida" (dor 1) pelo
E assim nas calhas da roda,               poeta, os leitores lêem uma outra dor
Gira, a entreter a razão,                 (dor 3). E lêem uma outra dor porque
Esse comboio de corda                     cada um lê à sua maneira, segundo a
Que se chama coração.                     sua interpretação individual. Por isso a
                                          dor 1 e a dor 3 não são coincidentes. A
                                          dor 3 é já outra coisa, é a recriação de
28-2-1929                                 uma imagem de dor, por parte de quem
                                          lê. Essa imagem de dor não é a dor
Este é um poema teorizador da poética     sentida pelo leitor em termos
pessoana, em que se definem clara         emocionais (dor 4) - "a que eles não
mente os lugares da inteligência e do     têm".
coração (sentimento) na criação
poética.
É um texto construído como um
enunciado teórico, uma lei universal,     O coração fornece à razão os
como se pode ver pela utilização          elementos necessários à criação
predominante do tempo presente, do        poética. A relação entre ambos é
nome abstracto "dor", dos advérbios de    contínua e circular. O "comboio de
modo "completamente", "bem" e             corda" ( o coração, a sensibilidade, as
"assim" e pelo desenvolvimento de um      sensações de onde o poema nasce) gira
processo de raciocínio ligado pela        nas calhas da roda para "entreter a
conjunção coordentiva copulativa "e" e    razão" ( imaginação onde o poema é
concluído, na última quadra, com a        inventado).
expressão "E assim".                      A criação poética assim representada
Apesar do carácter universal deste        surge como um acto lúdico assente na
enunciado, trata-se de uma "lei" que o    relação complexa entre PENSAR e
poeta verifica em si próprio através da   SENTIR. São estes os dois pólos entre
introspecção, daí que o título seja       os quais se processa a criação poética
"Autopsicografia".                        pessoana.

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PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
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Dor poética e leitura

  • 1. AUTOPSICOGRAFIA A dor é uma realidade interior indizível porque impossível de comunicar ou O poeta é um fingidor. partilhar enquanto tal. O que o poeta Finge tão completamente, faz é "traduzir" (fingir) essa dor em Que chega a fingir que é dor (1 ) palavras, criando assim um objecto A dor que deveras sente. ( 2 ) literário: o poema. Uma realidade subjectiva (dor 2) origina outra, E os que lêem o que escreve, objectiva (dor 1), "completamente" Na dor lida sentem bem, ( 3 ) fingida. Não as duas que ele teve, Mas só a [dor ] que eles não têm. ( 4 ) Perante a dor "fingida" (dor 1) pelo E assim nas calhas da roda, poeta, os leitores lêem uma outra dor Gira, a entreter a razão, (dor 3). E lêem uma outra dor porque Esse comboio de corda cada um lê à sua maneira, segundo a Que se chama coração. sua interpretação individual. Por isso a dor 1 e a dor 3 não são coincidentes. A dor 3 é já outra coisa, é a recriação de 28-2-1929 uma imagem de dor, por parte de quem lê. Essa imagem de dor não é a dor Este é um poema teorizador da poética sentida pelo leitor em termos pessoana, em que se definem clara emocionais (dor 4) - "a que eles não mente os lugares da inteligência e do têm". coração (sentimento) na criação poética. É um texto construído como um enunciado teórico, uma lei universal, O coração fornece à razão os como se pode ver pela utilização elementos necessários à criação predominante do tempo presente, do poética. A relação entre ambos é nome abstracto "dor", dos advérbios de contínua e circular. O "comboio de modo "completamente", "bem" e corda" ( o coração, a sensibilidade, as "assim" e pelo desenvolvimento de um sensações de onde o poema nasce) gira processo de raciocínio ligado pela nas calhas da roda para "entreter a conjunção coordentiva copulativa "e" e razão" ( imaginação onde o poema é concluído, na última quadra, com a inventado). expressão "E assim". A criação poética assim representada Apesar do carácter universal deste surge como um acto lúdico assente na enunciado, trata-se de uma "lei" que o relação complexa entre PENSAR e poeta verifica em si próprio através da SENTIR. São estes os dois pólos entre introspecção, daí que o título seja os quais se processa a criação poética "Autopsicografia". pessoana.