1. Um sonho e um pesadelo.
Jorge Marcosi
Durante a campanha presidencial deste ano, ainda no primeiro
turno, depois de desconstruir Marina Silva, a turma do PSDB, animados
com o crescimento do seu candidato, sonharam com a real possibilidade
de derrotar sua opositora no segundo turno.
Era uma chance real! Tudo parecia conspirar a favor do Aécio
Neves. A Dilma enfrentava elevado índice de rejeição. Algumas
pesquisas apontavam para a sua vitória. Durante os debates, nunca um
candidato a reeleição enfrentou um embate renhido, delineado por
acusações contra si. Como se dizia minha Vó D. Luizinha (in memoriam)
– “o que não mata nos fortalece. Nos robustece. Quanto mais se bate
mais endurece o couro”.
Até parece que o tiro saiu pela culatra. As duras críticas feitas
pelo Aécio, virou-se contra ele. A Dilma saía mais fortalecida. A
militância petista entrou em cena. Militância foi o que faltou ao PSDB
e outros partidos. E ela foi decisiva na reta final. Subestimaram a
militância petista.
A direita conservadora, competente quando quer ser, procurou
canalizar para si as manifestações ocorridas em 2013/2014, procurando
convencer toda a sociedade de que o clamor das ruas era o clamor de
toda a sociedade. Os mais animados e afoitos eram taxativos: “Dilma
estava fadada à derrota”.
O TSE começa a divulgar os resultados e o que se percebe –
vitória da Dilma. E, segundo Marcos Coimbraii “ a derrota para Dilma
doeu mais do que a aquelas infligidas por Lula”. O que se viu foi a
manutenção do PT por mais quatro anos no comando do governo federal.
Instala-se pelo país a fora uma dor de cotovelo horrível.
“Parece cômica a queixa dos adversários dirigida à presidenta”.
Ainda utilizando-se das palavras do articulista “a vitória de
Dilma mostra que a maioria da população soube compreender as
dificuldades enfrentadas por ela em seus primeiros quatro anos. Indica
que a desaprovação decorria do bloqueio da mídia conservadora e que
os eleitores não se dispunham a substitui-la por um sentimento apenas
negativo. Revela que a sociedade valoriza e preza o amplo conjunto de
iniciativas colocadas em movimento pelos governos petistas desde
2003”.
Os derrotados, incapazes de conviver com a democracia,
começam, com apoio da ultra direita, a defender o impedimento da atual
e reeleita presidenta Dilma, alegando os mais diveros argumentos que
não resistem a uma verificação séria. Exemplos dos argumentos dos
anti-petistas: houve fraude. Essa atitude é uma tentativa vil de jogar
na lama a credibilidade da justiça eleitoral do país, considerada por
2. muitos, uma das mais sérias do mundo. Outro exemplo, que a urna
eletrônica não é confiável, que prefere a cédula de papel. Outro
absurdo. Volta a eleição com cédula é um retrocesso. Toda a sociedade
vive na era tecnológica. Isto só beneficiaria os velhos chefes locais,
os coronéis, na compra do voto dos eleitores.
Utilizando as palavras de Rita Oliveira
(ritaoliveira@jornaldodia.com.br)iii “Esses derrotados inconformados
com a vontade soberana do povo preferem não enxergar que a maioria
do povo brasileiro, inclusive os mineiros, não quis eleger Aécio Neves
presidente. Que ele liderava a apuração porque os primeiros votos
apurados foram das regiões Sul, Sudeste e Centro Oeste” [...].
Ir às ruas pedir o Impeachment da presidenta legitimamente
eleita nas urnas é golpismo. É um atentado as regras constitucionais e
da democracia. É, no dizer da Rita Oliveira, golpe baixo.
Perguntar não ofende – Por que esses burguesinhos não vão as
ruas protestar, por exemplo, contra o auxilia moradia concedido a um
juiz ou a concessão de ajuda de custo para a educação de seus filhos?
É preocupante a participação, envolvimento de alguns jovens,
seduzidos pelo canto da sereia da mudança, com a defesa do militarismo
ou a volta de uma ditadura para o país, como meio de solucionar os
nossos problemas.
Durante séculos se lutou pela construção e consolidação da
democracia. Agora, depois de uma derrota eleitoral, ouvir o clamor de
alguns setores (minoritário e inexpressivos) da sociedade desejosos,
saudosistas e alienados, à volta de uma ditadura, justamente no
momento que mais se combate, velhas ditaduras pelo mundo afora.
Fica o alerta.
i Professor da rede pública estadual. Licenciado em História pela UFS.
ii Marcos Coimbra – O Brasil e as urnas in Jornal do Dia; 04/11/2014, Opinião, p. 4. Marcos Coimbra é sociólogo, diretor do
Instituo Vox Populi.
iii Rita Oliveira – Golpe baixo in Jornal do Dia; 04/11/2014, Política, p. 5.